Heytell Whitney de Souza Silverio (1) (h.whitney15@hotmail.com), Pedro Henrique Barzotto Wirti (1)
(Pedro.barzott@hotmail.com), Alessandra Góis Luciano de Azevedo (1) (alessandragois@gmail.com)
RESUMO: Durante o processo de soldagem, o metal de base sofre mudanças microestruturais que podem
acarretar alterações nas suas propriedades mecânicas. Uma seleção inadequada dos parâmetros de soldagem
pode provocar falta de preenchimento, ocasionando concentradores de tensões e propagação de trinca. É
muito comum na indústria se utilizar o procedimento de soldagem de manutenção para recuperação de eixos
e estruturas. O presente estudo visa determinar os parâmetros de soldagem adequados para a recuperação
de eixos cilíndricos do aço AISI/SAE 4340, analisando e caracterizando a microestrutura da Zona Afetada pelo
Calor(ZAC), da Zona Fundida(ZF) e do Metal de Base(MB). Para as devidas análises, foi necessário realizar o
processo de recuperação em um eixo cilíndrico usinado, fazendo o levantamento dos parâmetros de soldagem
adequados e posterior preparação do corpo de prova para as análises metalográficas. Para isto, fazendo um
corte transversal, passando por um processo de lixamento, polimento e ataque químico com 2% de nital para
revelação da microestrutura. Sendo assim, foi possível verificar a mudança no constituinte da ZAC, dividindo
esta zona em duas regiões, ZAC grosseira e ZAC refinada, alterando sua tenacidade e ductilidade. Observou-
se também que na ZF obteve a microestrutura esperada para este tipo de aço.
ABSTRACT: During a welding process, the base metal suffers microstructural changes that can cause
alterations in its mechanical properties. An inadequate selection of welding parameters can cause lack of
fusion, producing stress concentrators and propagating cracks. It is usual in the industry to use maintenance
welding to recover axles and structures. The present work seeks to determine the adequate welding
parameters for the recovery of cylindrical axles of steel AISI/SAE 4340, analyzing and characterizing the
microstructure of the Heat Affected Zone (HAZ), Fusion Zone (FZ), and Base Metal (BM). To do so, it was
necessary to do the recovery process of an axle by welding, making the welding parameters survey and
posterior preparation of the workpiece for the metallographic analysis. The work piece was cut longitudinally,
sanded, polished and chemically attacked with 2% natal for microstructure reveal. It was possible verify the
changes in the HAZ constituent, splitting this zone in two distinct regions, coarse HAZ and fine HAZ, altering its
tenacity and ductility. It was observed that the FZ had the expected microstructure for the SAE 4340.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O material dos corpos de prova foi o aço SAE 4340, um aço largamente utilizado na fabricação de
eixos, segundo a literatura. A composição química do material adquirido foi comprovada através de
uma análise feita com um espectrofotometro de emissão ótica. A Tabela 1 mostra a composição do
material.
Fe C Si Mn P máx S máx Cr Mo Ni Cu
95,5 0,435 0,271 0,650 0,0196 0,0218 0,777 0,237 1,72 0,180
Para dar início à prática de soldagem, primeiramente foi escolhido o consumível E7018 com
diâmetro de 3,25 mm e com uma composição química de 0,07% de C, 0,41% de Si, 1,10% de Mn,
0,022% de P e 0,009% de S. Este tipo de eletrodo tem o revestimento básico, que geralmente
apresenta as melhores propriedades mecânico metalúrgicas entre todos os eletrodos, destacando-
se a tenacidade. Esse consumível contém elevados teores de carbonato de cálcio e fluorita, gerando
um metal de solda altamente desoxidado e com baixíssimo nível de inclusões complexas de sulfetos
e fosfetos (ESAB, 2005).
Para realizar o procedimento de soldagem foi feito um levantamento dos parâmetros adequado.
O eletrodo revestido tem sua faixa de corrente e tensão a partir do seu revestimento e diâmetro.
Como o processo de soldagem com eletrodo revestido é um procedimento manual, para
encontrar a velocidade de soldagem, que é um parâmetro importante para nosso estudo, durante o
procedimento de soldagem a cada cordão de solda feito, foi cronometrado o tempo gasto e
posteriormente foi medido o comprimento do cordão, desta forma foi possível determinar a
velocidade de soldagem, considerando como sendo a velocidade de soldagem média de cada cordão,
determinada pela Equação 1. A partir da velocidade de soldagem foi calculada a energia imposta
durante a soldagem.
𝐶𝑐
𝑣𝑠 = (1)
𝑡
A Figura 4 mostra a ordem dos passes durante o procedimento de soldagem. Foram depositadas
cinco camadas, totalizando doze passes.
Após a soldagem de manutenção os corpos de prova foram usinados em forma de eixo com as
seguintes dimensões: 46 mm de diâmetro por 90 mm de comprimento. A usinagem dos corpos de
prova, foi realizada na L.M. Tornearia utilizando o “Torno Convencional CDL350B”, com faixas de
rotação de 70 a 1255 rpm. No procedimento de torneamento foi utilizada a ferramenta TNMG 332L-
K, própria para usinagem de aços carbono e aços liga. A Figura 6 mostra o corpo de prova durante
e após a usinagem.
FIGURA 6. (a) Corpo de Prova Durante o procedimento de Usinagem; (b) Corpo de Prova após a
Usinagem
Após a etapa de usinagem, um dos corpos de prova foi cortado para futura análise metalográfica,
o corte foi realizado em uma serra fita. A amostra foi lixada com lixas com granulometria 80 até a
1200, e posteriormente polidas com pasta de diamantes até 1 μm. As fotos das etapas descritas estão
presentes na Figura 7.
FIGURA 7. (a) Corte Transversal do Corpo de Prova; (b) Corpo de Prova após o Lixamento; (c)
Corpo de Prova após o Polimento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Alguns parâmetros de soldagem foram definidos de acordo com a especificação do fabricante, tais
como: corrente, tensão e a eficiência do processo, como pode ser visto na Tabela 2:
100 A 25 V 0,75
O tempo para se concluir cada cordão foi cronometrado, e posteriormente foi medido o seu
comprimento para a determinação da velocidade de soldagem como pode ser visto na Tabela 3.
1,200
1,000
800
600
400
200
00
1.60 1.64 1.83 2.04 2.05 2.17 2.30 2.36 2.71 2.83 2.85 2.90
Velocidade de Soldagem (mm/s)
O aquecimento mais intenso na região fundida da junta, pode promover o crescimento de grão
na ZAC, afetando tanto as propriedades mecânicas, como resistência à tração e a tenacidade ao
impacto da junta soldada. A quantidade de calor ou energia térmica inserida em uma junta soldada
é um dos principais fatores a ser controlado visando reduzir a possibilidade de ocorrência de defeitos
na soldagem, desta forma, a partir da energia imposta na soldagem analisamos a morfologia da solda
e observamos sua influência na microestrutura formada no Metal de Solda e na Zona Termicamente
Afetada. (Modenesi, 2012)
A partir dos consumíveis de Cromo e Níquel equivalente, junto com o diagrama de Schaeffler, é
possível prever o tipo de microestrutura formada no metal de solda e os possíveis problemas
aparentes. Calculamos o Creq e do Nieq a partir da composição química do metal de base e metal de
adição. O cromo equivalente como visto anteriormente é obtido através da somatória dos elementos
alfagênos, já o Níquel equivalente é determinado através da somatória dos elementos gamagênos.
Observou-se que o ponto referente ao metal de solda se situou na região onde compreende a
Ferrita + Martensita (F+M). Segundo Modenesi, esta seria uma das regiões ideais para a zona fundida,
por situar-se fora das áreas problemáticas dentro do diagrama de Schaeffler.
Vale ressaltar que esta foi uma análise teórica, apenas uma previsão da microestrutura que
poderia se formar na zona fundida. Estes resultados serão posteriormente comparados com os
resultados obtidos na análise microscópica.
Para iniciar as análises metalográficas do corpo de prova, primeiramente foi realizado analise
macroscópica, para observar o comportamento da soldagem realizada sobre a extensão da ZAC, o
formato do cordão de solda e a diferença entre as regiões. Observou-se nas Figuras 10, 11 e 12 as
regiões distintas que compõem a junta soldada, onde ilustram as macrografias do corpo de prova,
com a indicação das diferentes regiões presentes no material.
Para melhor entendimento das figuras acima, foram numeradas as regiões de 1 a 4 definindo-as
da seguinte forma: Região (1) – Zona Fundida (ZF) ou Metal de Solda (MS); Região (2) – Zona Afetada
pelo Calor (ZAC) (Grãos grosseiros); Região (3) – ZAC (Grãos refinados); Região (4) – Metal de Base
(MB). Observou-se a partir das macrografias que a ZAC apresentou duas regiões distintas, com grãos
grosseiros próximos a ZF (região mais escura), onde a influência térmica é consideravelmente alta, e
grãos mais finos próximos ao metal de base (região mais clara) onde a intensidade do calor aportado
foi menor. Constatou-se que a extensão da ZAC grosseira, que é a região mais crítica na junta soldada,
foi relativamente pequena, isso ocorreu devido à baixa energia imposta durante o procedimento de
soldagem, validando assim o levantamento dos parâmetros de soldagem. O MB não sofreu alteração
microestrutural, uma vez que não houve influência térmica. Na Figura 33 pode-se observar a região
do pino guia, que foi utilizado para auxiliar no alinhamento da junta durante a soldagem. Percebe-se
que houve influência térmica nessa região, provocando uma alteração na microestrutura, que será
analisada mais à frente.
Para os aços com baixo teor de carbono e baixa liga, a poça de fusão solidifica-se inicialmente
como ferrita, podendo sofrer uma reação peritética com a formação de austenita. Durante o
resfriamento, a ferrita remanescente transforma-se em austenita. Esta, em função das elevadas
temperaturas, sofre um grande crescimento de grão, tendendo a apresentar uma estrutura de grãos
colunares e grosseiros, similar à estrutura original de fusão da zona fundida. Assim, a microestrutura
da zona fundida do metal de solda baixo carbono e baixa liga é resultado do crescimento de epitaxial
colunar do metal de solda solidificado, sendo influenciado pelo estado inicial da austenita, das
condições de resfriamento, bem como do efeito dos elementos de liga (Modenesi, 2011).
Observando a região da ZAC, constatou-se que esta região teve duas zonas, a ZAC grosseira,
situada logo após a ZF, e a ZAC refinada, a região mais distante do metal de solda. Na análise
microestrutural, observou-se que na região de grãos finos, formou-se o constituinte de martensita
fina. Segundo Stein et al. (2005), a martensita fina se dá devido ao pequeno crescimento de grãos
austeníticos. À medida que fomos em direção do metal de solda houve um aumento no tamanho do
grão, caracterizando esta região de grãos grosseiros de martensita, onde a influência térmica foi
muito maior, sofrendo uma mudança parecido com a têmpera, onde o material é aquecido a uma
alta temperatura e com um resfriamento brusco, como era esperado e previsto pela literatura. A
Figura 14 evidenciam estes resultados.
Ainda analisando a ZAC refinada, observou-se a presença de uma segregação, que segundo
Miranda e Lopes (1993), esta segregação é denominada segregação menor ou dendrítica, e está
relacionada com a rejeição para os limites de grão de elementos como o fósforo e o enxofre que têm
uma solubilidade muito pequena no ferro. A combinação deste elemento com outros origina a
formação de compostos que dispondo-se ao longo dos limites de grão originam uma fragilização do
material, uma vez que dificultam a deformação por escorregamento ao longo dos limites de grão. A
Figura 15 mostra claramente este fenômeno.
Ao analisar o pino guia, observou-se que o mesmo também sofreu influência térmica, mas não o
suficiente para fundir o material. Sendo assim, constatou-se uma região de ZAC refinada. As agulhas
em desordem evidenciam a presença de martensita. Os grãos finos de martensita são mostrados na
Figura 16.
Pelo fato do Aço AISI/SAE 4340 se tratar de um aço hipoeutetóide (C < 0,77%), logo, segundo o
diagrama Fe-C, a microestrutura esperada é Ferrita e Perlita, como mostra a Figura 41. Entretanto,
durante o ensaio de soldagem, a região de metal de base não sofreu maiores influências ou
alterações metalúrgicas, pois a sua temperatura ficou estável ou quase estável.
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ADAMS Jr, C. M. Cooling Rates and Peak Temperatures in Fusion Welding. Welding Journal, May,
1958. pp.210s-215s Aguiar, W.M., Farias, J. P., Silva, C.C., Efeito da Técnica da Dupla Camada sobre
a Microestrutura e Tenacidade da ZAC do Aço ABNT 4140 Recuperado por Soldagem.
Apostila de soldagem: Escola de Soldagem L&A – Centro de Formação de Soldadores.
Soldagem por eletrodo revestido. Salvador, 2012. 45p.
ASM, 1990, Properties and Selction: Irons, Steels, and High Performance Alloys, Metals
HandBrook, v. 1, Metals Park, Ohio.
Brandi, S. D, Wainer, E. & Mello, F.D.H. Soldagem: Processos e Metalurgia. Editora Edgard Blucher.
1992.
Bueno, R. S. Análise Microestrutural de Junta Soldada de Aço de Baixa Liga. Novembro, 2010.
Caracterização de um aço AISI/SAR 4340 com diferentes microestruturas -
https://www.researchgate.net/publication/281316273_Caracterizacao_de_um_aco_AISISAE_4340