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Museologia e sua reivindicação por um espaço

específico entre os campos disciplinares


A origem da Museologia

?
• Segundo os dicionários franceses, o termo “museologia” não
aparece antes de 1931. Com relação aos ingleses, o termo
demorou a ser utilizado, com exceção de um uso no David
Murray’s Museum, 1904 (AGREN, 1992, apud CERAVOLO,
2004, p. 48).

• Contudo, segundo van Mensch, o primeiro a usar o termo


Museologia foi P. L. Martin, em Praxis der Naturgeschichte
(1869), e o primeiro a usar o termo Museografia foi C.F.
Neickelius, em Museographie oder Anleitung zum rechten
Begriff und nutzlicher Anlegung der Museorum oder
Raritätenkammern (1727).

• Em 1883 o alemão J. G. Th. Von Graesse escreveu o livro


Zeitschrift für Museologie und Antiquitätenkunde sowie
verwandte Wissenschaften, destacando o termo Museologia
(VAN MENSCH, 1992).
• Von Graesse, em seu livro que leva no título o termo
“Museologia”, de 1883, aponta e é constantemente
mencionada como já demarcando uma possível
existência da Museologia já àquele tempo:

“Se alguém tivesse falado ou escrito sobre


Museologia como um ramo da ciência há trinta ou
vinte anos, a única resposta de muitas pessoas
seria um compassivo, desdenhoso sorriso”
(tradução nossa).
• A modernização dos museus e a busca pela
profissionalização do trabalho nessas instituições –
uma revolução nos museus - levou à criação da
Museums Association, no Reino Unido, em 1889. Essa
associação iniciou, em 1901, o Museums Journal, a
primeira publicação para o campo dos museus naquele
país.

• Em 1908 foi oferecido o primeiro treinamento de


profissionais para museus nos EUA, no museu da
Pensilvânia (VAN MENSCH, 1992). Outros países
seguiram o exemplo, com a criação de associações
nacionais dedicadas aos museus.
• Na década de 1920, como aponta Scheiner

Uma das experiências mais emblemáticas do período


foi a criação, em 1927, na Escola do Louvre, de um
Curso de Museografia (2º. Ciclo), primeiro curso na
França com o objetivo de qualificar e formar
conservadores para os museus do país. Por este
motivo, o ano de 1927 ficou conhecido na França
como ‘o ano da Museologia’ (SCHEINER, 2007).

• Cabe ressaltar que, em 1932, foi criado no Brasil, no


Museu Histórico Nacional, o Curso de Museus - o
primeiro da América Latina a realizar o estudo
sistemático das práticas de museus.
• Mensch considera como fase “pré-científica” esse
estágio onde os termos ainda estavam intimamente
ligados ao trabalho de museu. Van Mensch também
identifica que “a emancipação da museologia como
disciplina acadêmica está conectada com o processo
de profissionalização do trabalho de museu” e isso não
é coincidência (VAN MENSCH);

• Nossos trabalhos anteriores destacaram que a


Museologia se desenvolve e “ganha corpo” a partir de
meados da década de 1950, refletindo sobre o Museu,
algumas vezes apresentado como instituição, outras
como fenômeno. Alguns teóricos – como Stránský,
Gregorova, Klausewitz, Maroevic – alinhavam as
discussões apresentando a Museologia como disciplina
científica e não como ciência, como seus antecessores
(Neustupny, por exemplo).
• No Seminário Regional da UNESCO sobre a função
educativa dos museus, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1958,
a Museologia foi definida como ‘o ramo do conhecimento
ligado ao estudo dos objetivos e organização de museus’,
definição adotada em 1974, na 11ª Assembleia Geral do
ICOM, em Copenhague (Dinamarca).

• Na década de 1960 houve uma tentativa de vincular a


Museologia às ciências humanas e sociais, não como saber
específico, porém ligada a áreas como História, Sociologia,
Antropologia, Educação e até mesmo à recém-criada
Ciência da Informação, como afirma Scheiner.

• A autora apresenta como exemplo um simpósio ocorrido na


Alemanha Oriental, em 1964, onde definiu-se a Museologia
como ciência da documentação (SCHEINER, 2005, p. 179).
• Contudo, outro grupo percebeu a Museologia como
ciência independente, “[...] com teoria e metodologia
específicas, variando as concepções sobre seu objeto
de estudo e sobre a existência ou não de um sistema
próprio – o ‘sistema da museologia’.” (SCHEINER,
2005, p. 179).

• Na Conferência Geral do ICOM em Nova Iorque


(1965), concluiu-se que era necessário desenvolver
cursos universitários em Teoria Museológica (VAN
MENSCH, 1992);

• Em meio a este interesse pela construção da


Museologia, surgiu também no âmbito do ICOM, no
início da década de 1970, o interesse em criar um
Tratado em Museologia, com o objetivo de estabelecer
uma terminologia própria para o campo.
• A Museologia começava a ser percebida pelo ICOM como
um novo campo disciplinar - fato evidente no Seminário do
ICOM sobre Formação Profissional para museus, ocorrido
em 1972, onde foi definida como uma “ciência do museu,
relativa ao estudo da história e do background dos museus,
seu papel na sociedade, sistemas específicos de
investigação” (SCHEINER, 2005, p. 180);

• Durante a Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972, o


caráter social da Museologia passou a ser priorizado - e
esta, já reconhecida como um novo campo do
conhecimento, foi oficialmente associada às Ciências
Sociais, passando a ser sistematizada a partir da reunião de
pessoas com o interesse em discuti-la - situação essa que
seria facilitada com a instalação do ICOFOM (Comitê
Internacional para a Museologia, do ICOM);

• Podemos perceber que, com a instauração e fortalecimento


do ICOM, a Museologia enquanto área específica também
se fortaleceu, sendo debatida como tal.
• Stránský - “A teoria museológica e a
museologia têm sua própria história, diferindo
grandemente da história dos museus” (2008, p.
104, grifo nosso);

• A Museologia por sua vez foi criada


sucessivamente, primeiro vinculada aos objetos
e coleções para, em meados do século XX, ser
separada da museografia e posteriormente
tornar-se uma disciplina científica.
• Stránský - por muito tempo museografia tem
sido apresentada como o que agora se refere à
Museologia mas, de acordo com a própria
etimologia do termo, deveria apenas referir-se
aos relatos descritivos do trabalho de museus.

• Assim, grande parte da literatura sobre


museus “é museográfica nesse sentido”
(STRÁNSKÝ, 1980, p. 28): “[...] museografia é
a soma de todo trabalho que não é de caráter
criativo mas que projeta cada criatividade,
trabalhos exploratórios no âmbito das
atividades práticas de museus” (ibidem).
• É possível encontrar trabalhos que abordam
uma história ou origem da Museologia tendo-a
associado à própria história e origem do
Museu, que nada mais é que um anacronismo.
São poucos os campos do conhecimento que
possuem histórias milenares (ou seriam
práticas que hoje são atribuídas a esses?), mas
não é o caso museológico.
Tal diferença influencia fortemente a forma de ver e
analisar o campo. O uso do termo “logia” parece
impulsionar um modo de organizar conhecimento que
passa pela lógica (ou pelo pensamento organizado de
forma científica), muito comum nos outros campos
científicos; e que visa um objeto específico de estudo, que
por sua vez também poderia estar na constituição do
termo – o vocábulo “Museo”.

O termo “estudo de museus” pode abranger teorias sobre


o conceito de museu, mas também tudo que se relaciona
à prática nesse específico universo. Para os autores da
corrente “Museologia”, baseados em seus antecessores,
esta divisão se dá da seguinte forma: “O questionamento
crítico e teórico do campo museal é a museologia,
enquanto que o seu aspecto prático é designado como
museografia” (MAIRESSE e DESVALLÉES, 2010, p. 20).
A nomeação “Museologia” não é exclusiva do Leste
Europeu, pois pode ser identificada em outros lugares
como países da Europa Ocidental (França, Portugal,
Espanha e Alemanha, por exemplo) e nos países da
América Latina, principalmente com representantes no
ICOFOM LAM. Aqui em nenhum momento defendemos
uma unanimidade nesses diferentes espaços em relação
à Museologia e os demais termos.

Esses recorrem aos referenciais dos autores do Leste


Europeu para lançar suas próprias discussões e reflexões
sobre. O único consenso, se assim poderíamos dizer,
seria o de adotar o termo “Museologia” para uma área ou
campo que se debruça sobre o objeto de análise “Museu”.
No entanto, há outra linha de pensamento que se
denomina “Museum Studies”.
Museologia – relação específica entre o Humano e o Real

• Gregorová, baseada em Stránský:

Museologia é a ciência que estuda a relação específica


entre o homem e a realidade, que consiste em colecionar
e conservar intencional e sistematicamente objetos inanimados,
materiais, móveis e principalmente tridimensionais que por sua
vez documentam o desenvolvimento da natureza e da
sociedade e humanidade através do uso cientifico e cultural-
educacional destes (1980, p. 20, tradução nossa).
• Stránský, ao considerar museu como uma
específica forma de apropriação da realidade, e
não a realidade como tal, percebe que se trata de
uma realidade vista de um ponto de vista humano.

• Assim, para esse autor, o objeto de estudo da


Museologia seria uma relação específica com a
realidade; uma forma de apreender as coisas que
definem o “caráter do museu”, que denomina de
musealidade, deve ser o objeto central da
Museologia – sendo esse o diferencial desse
campo em detrimento de outros ramos da ciência,
delimitando ainda sua posição dentro do sistema
das ciências (1987, p. 289).
• Bellaigue também considera como premissa que
“museu é a expressão de uma relação específica entre
o homem e a realidade resultando na preservação de
seu patrimônio natural e cultural objetivando a
pesquisa e a documentação (e o desenvolvimento)”
(1987, p. 59).

• De que realidades esses teóricos estão falando? Se


cada indivíduo percebe a realidade a partir dos seus
referenciais, como seria possível definirmos que certas
relações específicas (segundo nossos recortes) podem
ser chamadas de museu, musealidade ou museologia?

• Assim, é imprescindível apontar que a relação


específica está nos olhos do teórico, e não do humano
analisado, cuja relação é nomeada pelo primeiro.
• Para entender uma possível relação entre o
Humano e o Real, faz-se necessário deslocar o
olhar do Humano observado para o Humano
observador. São os teóricos, a partir de suas
inferências, quem determinam a especificidade
na relação, quem definem o objeto e seus
limites. São os teóricos ou atores de dado
recorte que criam e recriam o Museu;

• Assim, poderíamos afirmar que existe uma


relação específica – mas ela está mais para o
campo do que para o objeto.
Teoria ou teorias?
• Na introdução do pequeno livro “Conceitos chaves da Museologia”,
Mairesse e Desvallées chamam a atenção para o fato de que o
Comitê Internacional de Museologia do ICOM - ICOFOM, desde
seus primórdios, tem se debruçado sobre questões que são
essenciais para o entendimento do conceito de Museu e para a
própria consolidação do campo da Museologia.

• E é neste contexto chamado ICOFOM que teóricos – com


desdobramentos em todo mundo - iniciam um projeto que resultou
no livro mencionado e no Dicionário Enciclopédico de Museologia.
• Ao refletir sobre trabalhos que discutem Museu e
Museologia, principalmente em grupos dedicados a
esse tipo de reflexão, tais como ICOFOM e ICOFOM
LAM, não foi encontrada uma “definição geral” sobre o
que vem a ser Museologia. Mas percebe-se uma
tendência, entre os autores do campo, a privilegiar uma
definição de Museologia que pode ser oriunda da
formação do termo: seu objeto de estudo é o Museu;

• Aqui poderia encerrar-se a discussão, se não nos


chamasse atenção também o fato de que o próprio
objeto de estudo parece comportar muitas e diferentes
definições, especialmente duas que muitas vezes são
postas de forma antagônica: instituição e fenômeno,
gerando uma discussão em torno da natureza do
objeto do campo.
• O ICOFOM, segundo van Mensch, assumiu um papel crucial na
aceitação da Museologia como uma ciência. Contudo, a transição
de uma formulação empírica para uma formulação teórica da
Museologia ainda não está completa, para alguns dos autores
presentes nesse comitê;

• Gluzinski (1983 apud VAN MENSCH 1992) afirma que a


Museologia não pode ser ao mesmo tempo a ciência de dado
campo de atividade e ser esse campo de atividade propriamente
dito;

• Se coloca então em cheque o grande desejo de alguns


museólogos em reivindicar a existência de um campo Museologia.
Para Spielbauer (1981 apud VAN MENSCH 1992), a ideia
fundamental parece ser o fato de que “se a Museologia tem um
lugar na universidade, os museólogos ganharão prestígio, apoio e
posição no âmbito da profissão de museu e da comunidade em
geral”, isto é, a reivindicação pela existência de um campo está
profundamente ligada à reivindicação por um status profissional
ou, até mesmo, por uma necessidade de existência dessa
específica profissão.
• Assim, para van Mensch, “o status de programas de
capacitação em museus muito depende do grau em que o
trabalho de museu é considerado uma profissão e o grau em
que a museologia é reconhecida mais ou menos como uma
disciplina autônoma”;

• Ele aponta que a resistência de curadores de museu em


relação à Museologia ser uma disciplina aplicada pode estar
relacionada à manutenção de seu status quo e ainda afirma
que essas colocações, no âmbito do ICOFOM, muitas vezes
são hostis;

• Um desses defensores, Nair (1986 apud VAN MENSCH


1992), afirmou: “Nós devemos parar de nos preocupar em
definir museologia. Definir museologia e dar a ela uma
conotação espiritual e mesmo metafísica parece ser o hobby
de alguns museólogos. Eles estão perdendo o tempo deles.
Museologia é simplesmente uma ferramenta para uma boa
organização e gerenciamento em museus”.
• Stránský tinha uma ambição: de que para uma
efetiva contribuição teórica da Museologia não
bastariam apenas opiniões e pontos de vistas
individuais sobre o assunto, mas sim um sistema
de conhecimentos fruto de um “amplo esforço
profissional” (2008, p.101). Stránský aponta um
caminho: é preciso “permitir o tempo necessário
para a criação de uma base de publicações”
(STRÁNSKÝ, 2008, p.101).

• Esse autor também pontua a existência de


diferentes termos que referem-se ao mesmo
fenômeno, o Museu: Museografia, Teoria
Museológica, Museística. Mas grande parte desses
termos está ligada apenas à prática, unindo teoria
e prática em torno do mesmo objeto.
• Ainda que se trate de uma organização de
pensamento que de nenhuma forma se propõe
a ser conclusiva e definitiva, sabe-se e é
amplamente aceito que nos países de língua
anglo-saxônica prevalece a nominação do
campo dos museus como “Museum Studies”,
enquanto na corrente francófona (também
presente nos demais países latinos e no Leste
Europeu) o termo usado é Museologia.
“Museum Studies” - um embate teórico-prático em uma
área em ascensão
• Mesmo considerando a existência do termo museologia, desde o final do
século XIX, os termos mais usados, no contexto da língua inglesa, eram
“prática de museu”, “administração de museu”, “trabalho de museu” e
“organização de museu” (AQUILINA, 2011, p. 11);

• Segundo Cushman, nos Estados Unidos surgiu a necessidade de se criar


estudos específicos para museus – “museums studies” – em meio a própria
demanda criada pela proliferação de museus, considerando as seguintes
questões: “os funcionários dos museus deveriam ser experts ou
generalistas? Eles deveriam ser treinados em escolas ou em museus?”
(1984, p. 8, tradução nossa). Lideranças de museus, então, decidem definir
padrões e métodos “para preparar o campo do museu” (loc. cit.).
• Um dos primeiros a estabelecer princípios e
parâmetros para os funcionários de museus foi
George Brown Goode, em 1895 (CUSHMAN,
1984, p. 8) e foi em 1905, na Pensilvânia, que
iniciou-se o primeiro curso específico de
museus (Pennsylvania Museum’s School of
Industrial Art), criado por iniciativa de Sarah
Yorke Stevenson, uma egiptóloga (ibidem, p.
9);

• Em 1908 foi criado um curso de treinamento


para profissionais de museus na Universidade
de Iowa, cujas aulas começaram em 1911
(ibidem, p. 10).
• Na década de 1920 foram criados os dois mais
conhecidos programas de treinamento de museus:
na Universidade de Harvard e no Museu de
Newark, em Nova Jersey. Um dos principais nomes
no ensino em Harvard foi Paul Sarchs e em
Newark foi John Cotton Dana (CUSHMAN, 1984,
p. 12-13).

• Segundo Cushman, a diferença entre os cursos é


que o primeiro formava eruditos e o segundo,
professores, com objetivos diferentes: “Enquanto
Havard enfatizava a História da Arte e sua
especialização, Newark usava o museu em si
como assunto de aula” (ibidem, p. 15 – tradução
nossa).
• Na American Association of Museums, em 1926, foram
decididos e apontados parâmetros para o treinamento
de profissionais de museus, tais como: “O trabalho
teórico pode ser ensinado na universidade, e incluiria
estudos em cultura geral, arte, história e ciência”; O
trabalho prático no museu cobriria a organização de
museus, administração, prédios, finanças, coleção,
gravações, preparação de exposições, arranjos
organizacionais, pesquisa, educação e publicidade”
(CUSHMAN, 1984, p. 16);

• Segundo Teather, um dos primeiros nomes importantes


na articulação do conceito de “Museum Studies” foi
Raymond Singleton (1966-1977) que, em paralelo e
diferentemente de Nestupny, tecia uma linha teórica
mais pragmática sobre o que poderia ser delimitado
como área dos museus (1991, p. 406).
• Para Singleton, o termo “museum studies” abrangeria
os estudos de Museologia e Museografia, porém
possuiria uma amplitude mais abrangente e também
seria de melhor adesão por aqueles que se colocam
em resistência aos termos Museologia e Museografia
(SINGLETON apud TEATHER, loc. cit.);

• Outra questão que favorece o uso do termo, para os


que não admitem a existência de um campo específico
para museus, é que nem todo estudo de museus
(“museum studies”) é necessariamente museológico
(ibidem, p. 408);

• Para Aquilina, a preferência pelos termos “museum


studies” e “museum work” também deriva do fato dos
países que fazem uso desses estarem focados “nas
aplicações práticas da museologia” (2011, p. 15).
• Teather, em sua tese, reforça as premissas acima
apresentadas apontando que a escolha do termo
“museum studies” por alguns se dá porque esses
defendem que o trabalho de museu é puramente uma
técnica.

• Além de mais abrangente, esse termo também seria de


melhor compreensão e “autoexplicativo”, em
contraponto às diferentes concepções de Museologia e
Museografia (1984, p. 3);

• Teather também identifica uma tendência nos países


de língua inglesa de evitar discussões fundamentais
sobre “Museologia” e, em contrapartida, focarem-se em
“aspectos secundários”, tais como os que são
pertinentes às práticas em museus.
• Esta área – museum studies – pode ser interpretada como técnica
ou ciência aplicada (ibidem, p. 4-5). Os programas atuais de
museum studies reconhecem a existência de um campo
embrionário chamado Museologia, mesmo que com relutância
(Teather, 1984, p. 12) – de fato, a ideia de Museologia enquanto
estudo teórico tem sido um “fracasso” para a América do Norte
(ibidem, p. 10);

• A partir das considerações acima, é possível inferir que há uma


forma diferenciada de delimitar uma área de conhecimento para
museus em relação aos que a denominam de “Museologia”. No
caso do museum studies, o que parece é que há uma grande
resistência em se pensar, assumir e legitimar a existência de um
campo específico para museus;

• O que esses especialistas admitem é a existência de um escopo


mais abrangente que incluiria tanto especificidades como a
Museologia (conjunto de teorias sobre museu mas que não
justificaria um campo específico) e as diversas aplicações e
contribuições metodológicas de outros campos encontradas nos
museus.
• O que não é possível inferir, por agora, é como
esse fenômeno acontece de forma tão nítida
nos países de língua inglesa – não se trata
apenas do uso de um termo, de uma tradução,
mas sim de uma ideia, de uma corrente sobre o
que viria a ser a área de estudos de museus.
Nova Museologia – em contraponto à velha?
• O trabalho desenvolvido por Varine e Rivière levou ao conceito
de “Nova Museologia”, no início dos anos 1980. Tratava-se da
proposta de uma Museologia voltada para as relações e não
mais exclusivamente para os objetos, e da construção de um
museu pelo Homem e para o Homem, no qual ele torna-se
parte do que deva ser preservado (SOARES, 2006, p. 79);

• Para van Mensch, havia divergências de opinião sobre


ecomuseu e Nova Museologia no âmbito do ICOFOM. Esse
grupo que defendia a Nova Museologia como foco da política
do ICOFOM foi liderado por Rivière (1992, p. 21).
• Durante o encontro de 1983 Mayrand propôs a
criação de um grupo de trabalho denominado
“museologia comunitária” (Van Mensch, 1992, p.
21). Essa proposta a princípio não foi aceita pelo
board que não queria se debruçar em apenas uma
corrente da Museologia, mas recomendou à
Mayrand preparar uma sessão especial sobre
ecomuseus no encontro que ocorreria em 1984, no
Canadá;

• No entanto esse encontro anual do ICOFOM não


ocorreu no Canadá por falta de ação/interlocução
tanto do ICOFOM quanto do comitê local, o que
pode ter levado, ou propiciado, a realização do I
Workshop Internacional para Ecomuseus e Nova
Museologia em Quebec, no Canadá, nesse ano.
• O fruto principal desse encontro foi o desejo de criar um
novo comitê do ICOM, específico para Nova Museologia,
proposta essa que foi rejeitada (1992, p. 22). Posteriormente
apresentaram uma nova alternativa, com o estabelecimento
do Movimento Internacional da Nova Museologia, em 1985
(Lisboa), que foi aceita pelo ICOM como organização afiliada
(VAN MENSCH, 1992, p. 22);

• Esse ocorrido, a criação do MINOM, pode ter sido favorecido


pelas divergências e incompreensões entre anglófonos e
francófonos ou latinos, como aponta van Mensch citando
Desvallées (1992, p. 22-23);

• Contudo, segundo van Mensch, pessoas consideradas


chave para a Nova Museologia se mantiveram fiéis ao
ICOFOM, como Desvallées e Bellaigue, e outros membros
também permaneceram como membros do ICOFOM (p. 23),
além do fato da Nova Museologia ainda ser um dos temas
de discussão do ICOFOM (1992, p. 23).
Por uma Museologia Crítica
• No livro “Manual de historia de la Museología”, Lorente destaca que
a “museologia crítica” surgiu e se desenvolveu principalmente nas
universidades norte-americanas (LORENTE, 2012, p. 78), como uma
corrente dedicada à análise dos museus mas com interesse em
produzir impacto na prática;

• Dentre seus interesses, estão: a representação de culturas


minoritárias ou periféricas, a impugnação de discursos colonialistas,
propostas de museografias interativas, entre outros. Seu nome
deriva de um movimento muito comum a seu tempo, em diferentes
áreas: antropologia crítica, arqueologia crítica, história da arte crítica,
pedagogia crítica, entre outras, assim como a “nova museologia” a
seu tempo.
• Esse termo – “museologia crítica” tem seu paralelo com a
“antropologia crítica”, para Shelton, e com a “pedagogia
crítica”, para Theater; o próprio Lorente passou a usar o termo
a partir de suas influencias pela “história da arte crítica”
(LORENTE, 2006, p. 28);

• Para Ortega, além de reflexão, a museologia crítica é também


ação (2011, p. 16) e, conforme Hérnandez, a teoria crítica da
ciência e o racionalismo crítico podem ajudar a entender os
fundamentos metodológicos da museologia crítica;

• Hernández considera, entretanto, o fato de que o estudo da


museologia em si é uma realidade relativamente recente
(ibidem, p. 202). Para a autora, a museologia crítica não pode
ser somente uma tentativa de resposta às diferentes formas de
entender museu, mas sim uma tentativa de aproximação à
realidade museal com o objetivo de analisar e supervisionar
tudo que impede seu crescimento e aproximação (ibidem, p.
203).
• Para Lorente, antes de mais nada, a defesa por uma “teoria
museológica” é exaustiva. Ficando no passado e amplamente
difundido pelo Leste Europeu, o que hoje permanece são poucos o
que se dedicam a um “exercício filosófico”, e até mesmo os que hoje
se debruçam por uma possível “museologia crítica” tem como base
suas próprias práticas em museus;

• Em um texto dedicado a diferenciação entre “museologia crítica” e


“nova museologia”, já aponta que a distinção entre a primeira como
resposta anglo-saxã à segunda é reducionista. Não é possível,
portanto, reduzi-las a polos geográficos e momentos cronológicos
sucessivos (LORENTE, 2006, p. 26);

• Inclusive pontua, citando Van Mensch, que o termo “nova museologia”


surgiu pela primeira vez em 1958, nos Estados Unidos, em um artigo
dos americanos Mills e Grove (LORENTE, loc. cit.). No entanto, em
seu trabalho de 2012, ressalta que o termo não tinha o mesmo
sentido que seu correlato francês (idem, 2012, p. 79).
• Diferentemente das demais correntes de outras áreas do
conhecimento que se intitulavam novas (como a Nova História), a
nova museologia não era uma corrente construída por teóricos, e sim
por ativistas intrinsecamente ligados às práticas em museus;

• Já o surgimento do termo “museologia crítica”, segundo Lorente,


baseado na tese de Lynn Teather, surgiu em 1979 na Reidwardt
Academie, Holanda, na seção de Museologia da Faculdade de Belas
Artes, por meio do que denomina “uma forma curiosa de organizar
visitas de estudos de museus” (LORENTE, loc. cit.): em vez de uma
visita de estudos para estudantes de museologia ser conduzida por
um diretor de um museu e/ou chefe de seção, foi estimulado aos
alunos uma visita crítica em que esses estivessem mesclados ao
público;

• Nos parece que, apesar do cunho fortemente prático, a nova


museologia procura também consolidar suas questões no âmbito
teórico, com a criação de um grupo no âmbito do ICOM (o MINOM) e
por ter seus “pontífices reconhecidos”, como delineia Lorente.
• Mesmo considerando que alguns “museólogos críticos” são
continuadores da nova museologia (LORENTE, 2012, p. 80), a
primeira importante distinção que esse autor faz entre ambas
as correntes “nova museologia” e “museologia crítica” é que,
apesar de ambas deterem-se ao social, a primeira está focada
principalmente nos ecomuseus, enquanto a segunda em outros
tipos de museus, principalmente os tradicionais e/ou os mais
em voga na atualidade: como os centros de arte
contemporâneos;

• Um exemplo prático seria o surgimento de exposições que


colocam em questão convicções pré-estabelecidas e os
próprios discursos dos museus, convidando o público para
reflexões críticas sobre essas instituições;

• Nos Estados Unidos também pode ser encontrado o termo


“critical museum studies”, segundo Lorente (2006, p. 31).
O uso do termo museológico

• Segundo o livro “Conceitos Chaves da Museologia”,


(DESVALLÉES; MAIRESSE, 2010, 87p) o termo
museológico é derivado do termo Museologia, enquanto
que, em relação ao termo Museu, é apenas correlato.

• O sufixo logia remete na atualidade a um exercício conjunto


de pensamento que procura ser científico – e mais:
específico, delimitado.
• A partir das inferências acima expostas, que justificam
uma separação da Museologia de uma e apenas uma
visão de Museu, o uso do termo museológico só pode
ser aplicado à Museologia. Sendo assim, prática
museológica seria o exercício que aqui fazemos agora
– o de pensar e refletir sobre Museologia.

• Praticas relativas a museus são práticas de museus,


ou práticas museais, dependendo do entendimento de
museal que se tenha. O uso do termo “museológico”
quando nos referimos às práticas em museus se dá
pela fusão que muitos fazem de Museologia e museu,
confusão essa que pode ser encontrada em grande
parte dos textos que definem Museologia, e que aqui
tentamos romper, usando os próprios autores do
campo.
Referências
• AQUILINA, Janick Daniel. The Babelian Tale of Museology and Museography: A History in Words. In:
International Scientific Electronic Journal, Issue 6, 2011, p. 1-20.
• BELLAIGUE, Mathilde. Museology and the “integrated museum”. In: SYMPOSIUM MUSEOLOGY AND
MUSEUMS. ISS: ICOFOM STUDY SERIES, Helsinki-Espoo, ICOM, International Committee for
Museology/ICOFOM, n. 12, p. 59-62, Sept. 1987.
• BELLAIGUE, Mathilde; MENU, Michel. Museologia e as formas de Memória. In: SIMPÓSIO MUSEUS,
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE. ICOFOM LAM, Cuenca, Subcomitê Regional
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