O Estado de S. Paulo
09 Junho 2016 | 03h00
No caso do Brasil, a recessão estimada para este ano passou de 4% para 4,3%.
O crescimento nulo calculado para 2017 converteu-se numa contração de 1,7%.
No topo das explicações apareceram “a elevada incerteza política e as
revelações sobre corrupção” como fatores de redução da confiança de
investidores e consumidores. Dificilmente haverá consenso para reformas até
novas eleições, diria alguns dias depois o economista Jens Arnold, um dos
diretores da OCDE.
Desmentir essa avaliação é o maior desafio para o presidente em exercício
Michel Temer. O tapa na mesa, em seu primeiro grande pronunciamento, foi
uma promessa de firmeza. Falta confirmar essa promessa.
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previsão é que em 2016 haverá contração de 3,4% e que o próximo ano começará com queda de
0,5% no Produto Interno Bruto (PIB)Foto: Arte FolhaPE
As expectativas de recuperação da economia brasileira têm melhorado, mas ainda não será em
2017 que o país vai sair da crise. A previsão é que em 2016 haverá contração de 3,4% e que o
próximo ano começará com queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB). Os dados foram
apresentados pela economista Sílvia Matos no seminário Perspectivas 2017: Economia e Política
em Momento de Mudança, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (FGV/Ibre). As informações são da Agência Brasil.
Sílvia Matos é coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, estudo mensal que contempla
estatísticas, projeções e análises dos aspectos mais relevantes da economia brasileira. "Acho
difícil imaginar uma saída tão rápida dessa recessão. Uma recessão longa, profunda, similar à dos
anos 80 e, sem dúvida, baixo crescimento neste ano", disse.
A economista disse que o movimento de "desinflação", tem ocorrido em ritmo lento e, por isso,
o Banco Central, está sendo mais cauteloso, para não errar na calibragem da economia. "Nesse
momento de transição econômica a gente não sabe quanto de desinflação virá, então o Banco
Central está sendo extremamente cauteloso e, provavelmente, não terá a queda na taxa de juros
esperada pelo mercado, logo, a economia não vai poder se recuperar com a mesma velocidade",
disse.
Sílvia Matos disse que o "calcanhar de Aquiles" da economia brasileira é a política fiscal e que a
trajetória da dívida bruta é insustentável. Ela diz que existe uma agenda de reformas para
retomada dos investimentos e estabilidade das regras. Além disso, é importante sinalizar para
investidores estrangeiros que um novo governo que vai assumir em 2019 vai manter o modelo
econômico.
"Há sempre um risco das reformas e, por isso, é importante a gente passar isso. Mudanças
constitucionais que são difíceis de ser aprovadas para depois ser difícil também de reverter.
Previdência é uma batalha dificílima, mas se o governo conseguir pode até gerar um cenário mais
favorável do que o que a gente está avaliando", diz.
Para a economia acelerar mais rapidamente precisaria ter um crescimento mais robusto do setor
de serviços e não apenas da atividade industrial, mas o momento atual é de redução de despesas
do governo e ainda de consumo das famílias. "Como a gente não tem nada de fora puxando a
indústria e o setor externo não vai contribuir para este supercrescimento, o que poderia vir seria
da demanda interna, mas para a demanda interna vir com uma aceleração muito forte, precisa
ter capacidade de aceleração que viria pelo canal do crédito, que parece ainda estar entupido",
disse após o seminário.
Para 2018, a previsão ainda é de um PIB baixo, em torno de 2%, mas os índices de desemprego
podem ser melhores. "A ideia é que a taxa de desemprego no segundo semestre de 2017 pode
começar a mostrar algum recuo não é nada brilhante, mas é um sinal favorável e poderia
continuar em 2018 esse processo. Mas a gente vai conviver com taxas de desemprego ainda
elevadas, porque antes de contratar, tem espaço para aumento de horas trabalhadas", disse.
A economista destacou que mesmo com as dificuldades provocadas na economia pelos reflexos
da Operação Lava Jato, não existe opção para o país além de fazer as reformas. "Quando a
situação econômica melhora de alguma forma o político é bem avaliado. Está dando os
incentivos corretos. Vamos tentar arrumar essa economia, porque com a crise ninguém ganha,
todos perdemos. É essa visão um pouco mais otimista. Não quer dizer que vamos resolver todos
os problemas em 2017. O cenário de curto prazo reflete esses problemas tão grandes da nossa
economia."