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Edição Especial - 2013


Volume 4
NOS
Copyright © 2013 by ACERP/TV Escola

Diagramação e editoração
Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Imprensa
Gerência de Criação e Produção de Arte

Preparação e revisão:
Magda Frediani Martins

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

T911

TV, educação e formação de professores [recurso eletrônico] : Salto para o Futuro : 20


anos / Rosa Helena Mendonça, Magda Frediani Martins (org.). - Rio de Janeiro : ACERP ;
Brasília, DF : TV Escola , 2013.

4 v., recurso digital


Formato:
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-60972-02-3 (v. 1) - 978-85-60792-03-0 (v. 2) - 978-85-60792-04-7 (v. 3) - 978-85-
60792-05-4 (v. 4) (recurso eletrônico)

1. Educação 2. Educação - Aspectos sociais 3. TV Escola (Programa de televisão) 4. Livros


eletrônicos. I. Mendonça, Rosa Helena II. Martins, Magda Frediani. III. Ministério da Edu-
cação.

13-1708. CDD: 370.981

CDU: 37(81)

15.03.13 20.03.13 043546


Presidência da República

Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica

TV, educação e formação de


professores:
Salto para o Futuro
- 20 anos -

Organização

Rosa Helena Mendonça


Magda Frediani Martins
(Equipe de Educação da TV Escola)

Salto para o Futuro/TV Escola/ SEB-MEC

Rio de Janeiro/ Brasília

2013
Volume 4
NOVOS SABERES PARA A EDUCAÇÃO

Sumário

Apresentação............................................................................................................... 5
Rosa Helena Mendonça e Magda Frediani Martins

4. 1 Novos saberes para a educação do século XXI....................................................... 9


Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini

4.2 Formação de professores para a integração de tecnologias ao currículo no


desenvolvimento de projetos ..................................................... ................................ 26
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida e Maria Elisabette Brisola Brito Prado

4.3 As TIC na educação nos programas do Salto para o Futuro: o passado


e as tendências futuras................................................................................................ 39
José Armando Valente

4.4 Vinte anos de mudanças tecnológicas profundas e superficiais na educação...... 51


José Manuel Moran

4.5 Salto para o Futuro: 20 anos.................................................................................. 60


Alberto Tornaghi
Apresentação

Rosa Helena Mendonça1


Magda Frediani Martins2

A publicação TV, educação e formação de que se produz na escola influencia a socie-


professores: Salto para o Futuro – 20 anos dade, como a escola também é influenciada
comemora a trajetória do programa, ao lon- por tudo o que existe em seu entorno. É o
go de duas décadas, destacando temas fun- caso da chamada cibercultura e de suas tec-
damentais para o debate sobre TV, educação nologias digitais, que proporcionam um flu-
e formação de professores. Esta publicação, xo de informações nunca antes imaginado e
na sua versão digital, está organizada em acabam por exigir da escola uma formação
quatro volumes, expressos nos seguintes ei- crítica que possibilite a seleção e a ressig-
xos: Volume 1 - LINGUAGENS E SENTIDOS; nificação de informações e conhecimentos.
5
Volume 2 - ‘ESPAÇOSTEMPOS’ NOS COTIDIA-
NOS CURRICULARES; Volume 3: TECENDO Diversos autores buscam entender essa inter-
NARRATIVAS; Volume 4: NOVOS SABERES face entre educação e comunicação. O texto
PARA A EDUCAÇÃO. de Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini nos traz o
conceito de infoeducação e inspirou o título
Se, por um lado, é comum ouvirmos dizer deste quarto volume da edição especial.
que as escolas têm dificuldade em mudar
sua concepção, em especial no que se refere Nos textos a seguir, vamos encontrar propos-
à organização dos seus tempos e espaços e tas de autores que problematizam a questão
suas formas de ensinar e aprender, por ou- dos novos saberes para uma educação com-
tro, é inegável que os cotidianos e currículos prometida com a cidadania, com os direitos
escolares são tecidos por pessoas: professo- humanos. As tecnologias não são enfocadas
res, alunos, comunidade. Dessa forma, os como um simples “modismo”, nem mesmo
conhecimentos circulam, ou seja, tanto o podem ser consideradas como “salvadoras”

1 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV Escola (MEC). Doutoranda no PROPED- UERJ.
Organizadora da publicação.
2 Professora, escritora e revisora de textos do programa Salto para o Futuro/TV Escola (MEC). Organizadora
e revisora da publicação.
do processo ensino-aprendizagem. Ao con- educadores superem posturas tradicionais,
trário, os autores problematizam a utiliza- “como a clássica fragmentação dos saberes
ção da “tecnologia pela tecnologia” e insis- em compartimentos estanques que rara-
tem na necessidade do comprometimento mente se comunicam”. Esclarecem que a In-
com o currículo e com a construção de uma foeducação “busca romper com paradigmas
sociedade mais justa e igualitária. científicos e educacionais consagrados pela
tradição disciplinar, adotando perspectivas
A discussão em torno do uso das tecnolo- transdisciplinares, que articulam diferen-
gias digitais, de certa maneira, sempre este- tes saberes e fazeres em redes dinâmicas
ve presente ao longo desses mais de 20 anos de conhecimento e de atuação”. Também
do Salto para o Futuro, sendo que o próprio destacam que a biblioteca escolar vem sen-
programa é um exemplo da utilização das do apontada como instância privilegiada
tecnologias na formação de professores. ao desenvolvimento sistemático das apren-
Para debater tema tão relevante, seguem os dizagens informacionais, e que ela precisa
textos do quarto capítulo desta coletânea. transformar-se em estação de conhecimento.
Estes temas foram abordados por esse auto-
Edmir Perrotti3 e Ivete Pieruccini4, tomando
res nas séries de que participaram no Salto
como referência a obra Os sete saberes neces-
para o Futuro. 6
sários à Educação do Futuro, de Edgar Morin,
apresentam diversas considerações sobre Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida5 e
os desafios do trabalho dos educadores na Maria Elisabette Brisola Brito Prado6 apre-
sociedade da informação e da comunicação. sentam um relevante estudo sobre os cur-
Os autores se reportam à criação do termo sos voltados para a formação de professores
Infoeducação, um conceito muito atual, que para a integração de tecnologias ao currícu-
indica a necessidade de que a escola e os lo no desenvolvimento de projetos, em es-

3 Edmir Perrotti foi consultor da série A aventura de conhecer, com veiculação no programa Salto para o
Futuro/TV Escola (MEC) no ano de 2008. Também participou como especialista convidado dos debates de diversas
séries do programa.
4 Ivete Pieruccini participou como autora de textos da série A aventura de conhecer, com veiculação no
programa Salto para o Futuro/TV Escola (MEC) no ano de 2008.
5 Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida foi uma das consultoras da série Pedagogia de projetos e integração
de mídias, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola em 2003, e participou de diversas séries do
Salto como autora de textos e especialista convidada para os debates. Também foi a organizadora, com José Manuel
Moran, da coletânea Integração das Tecnologias na Educação, editada pela Secretaria de Educação a Distância. Brasília:
Ministério da Educação, 2005 (textos selecionados das séries do Salto para o Futuro). Esse livro está disponível no
formato digital em:
http://tvescola.mec.gov.br/images/stories/publicacoes/salto_para_o_futuro/livro_salto_tecnologias.pdf
6 Maria Elisabette Brisola Brito Prado foi uma das consultoras da série Pedagogia de projetos e integração de
mídias, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola em 2003, e participou de diversas séries como
autora de textos e especialista convidada para os debates.
pecial o Programa Proinfo Integrado, do Mi- o Educom e o Formar, e quais são os prog-
nistério da Educação. Segundo as autoras, nósticos para o futuro dessa área. O autor
“o uso das TIC no trabalho com projetos em comenta que o programa Salto para o Fu-
situações de aprendizagem que ocorrem na turo, do qual participou em diversas séries,
escola se desenvolve desde a década de 1980, teve um papel importante na disseminação
mas a integração entre projetos e TIC vem das ideias sobre o uso das TIC na educação e
caminhando mais na forma extracurricu- sobre a questão da formação de professores
lar”. Para que esta situação se modifique, é para o uso das tecnologias. Defende que tais
essencial que os professores cursistas sejam cursos não podem se restringir à passagem
instigados a elaborar seus próprios projetos de informações sobre os aspectos tecnoló-
de trabalhos para desenvolver em sala de gicos ou ao uso pedagógico da informática.
aula usando as TIC, considerando as carac- Para ele, é essencial que essas informações
terísticas do ambiente social e a viabilidade sejam praticadas, com os alunos, em sala

oferecida pelo contexto escolar. Dessa for- de aula, para que o professor possa, gra-

ma “eles vão ousar romper com as práticas dativamente, “identificar as contribuições

reprodutoras e definir seus projetos pesso- das tecnologias aos processos de ensinar e

ais de trabalho”. As autoras destacam, ain- aprender”. Dessa forma, ele saberá “desafiar

da, que o programa Salto para o Futuro vem os alunos” para que, a partir do projeto que 7

possibilitando que as propostas de cursos de cada um propõe, seja possível atingir os ob-

formação de educadores com o uso das TIC jetivos pedagógicos que foram determina-

sejam disseminadas para todas as regiões dos em seu planejamento.

do Brasil, oportunizando assim a reflexão de


experiências que ocorrem em situações con- José Manuel Moran8 se reporta à introdu-

cretas de sala de aula. ção da educação a distância em nosso país,


principalmente na formação dos professo-
José Armando Valente7 propõe uma reflexão res, possibilitando a incorporação das tec-
sobre o que tem acontecido em termos dos nologias em modelos educacionais que pu-
cursos voltados para o uso das TIC na edu- dessem atender a muitos alunos em lugares
cação, desde os primeiros projetos, como distantes. Destaca, ainda, sua participação

7 José Armando Valente participou como autor de textos e como especialista convidado para os debates de
diversas séries do programa Salto para o Futuro, comentadas pelo autor em seu texto para esta coletânea.
8 José Manuel Moran participou como autor de textos e como especialista convidado para os debates
de diversas séries do programa Salto para o Futuro, comentadas pelo autor em seu texto para esta coletânea.
Organizou, com Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, a coletânea Integração das Tecnologias na Educação, editada
pela Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, 2005 (textos selecionados das séries do
Salto para o Futuro). Esse livro está disponível no formato digital em
http://tvescola.mec.gov.br/images/stories/publicacoes/salto_para_o_futuro/livro_salto_tecnologias.pdf
em muitas avaliações de instituições supe- programa Salto para o Futuro, desde suas
riores na implantação dos seus programas primeiras séries, “que tinham como foco
de educação a distância, assinalando que a formação continuada de professores em
“essa temática também se refletiu em algu- serviço, além de dar apoio à formação de
mas séries do Salto para o Futuro”. Os tex- alunas e alunos de programas de forma-
tos dos boletins dessas séries do Salto foram ção docente para as primeiras séries do
posteriormente organizados em um livro, Ensino Fundamental”. O autor ressalta, em
publicado em 2005, com o título de Integra- especial, que desde 2004, pelo menos uma
ção das tecnologias na Educação9. As quatro série do Salto, por ano, foi dedicada à te-
áreas do livro “englobam as dimensões mais mática das tecnologias e suas linguagens,
importantes da discussão das tecnologias na “quer pela via da discussão diretamente da
educação: Tecnologia, currículo e projetos; cibercultura e das tecnologias, quer focan-
Tecnologias na escola; Tecnologias audiovi- do a convergência das mídias e destas na
suais: TV e vídeo nas escolas; Tecnologias educação”. E acrescenta: “A formação do-
na educação de professores a distância”. cente continuada para uso das tecnologias
Em sua importante análise desse processo, digitais, feita através do Proinfo Integra-
ao longo de mais de 20 anos, Moran conclui do, encontrou importante apoio em séries
que “A inserção na educação das tecnolo- do Salto dedicadas ao tema”. Para o autor, 8
gias conectadas é um caminho importante “esta rede, composta por educadores ativos,
para preparar as pessoas para o mundo atu- especialistas nas mais diversas áreas, técni-
al, para uma sociedade complexa, que exige cos de TV, profissionais de comunicação e
domínio das linguagens e recursos digitais. tecnologia (...) contribuiu para que escolas
(...) Escolas não conectadas são escolas in- se reconhecessem como autoras de um co-
completas, mesmo quando didaticamente nhecimento que não pode ser construído
avançadas. Alunos sem acesso contínuo às em nenhum outro canto”, e que estudantes
redes digitais estão excluídos de uma parte do Ensino Fundamental pudessem “tornar-

importante da aprendizagem atual”. se autônomos, brasileiros que sabem de seu


papel e sua responsabilidade na construção
Alberto Tornaghi convida os leitores para
10
deste nosso país que faz hoje o seu futuro”.
dar um salto para o passado, apresentan-
do um instigante relato sobre a história do As organizadoras

9 Cf. nota de rodapé n. 5.


10 Alberto Tornaghi foi consultor das séries Educação digital e tecnologias da informação e da comunicação
e Escola faz tecnologia faz escola, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola em 2003 e 2004,
respectivamente. Participou de diversas séries do Salto como autor de textos e especialista convidado para os
debates.
4. 1 Novos saberes para a educação
do século xxi

Edmir Perrotti 11
Ivete Pieruccini 12

Infoeducação: um salto para dos processos de construção de conheci-

o futuro mento, iniciou-se nas últimas décadas do


século passado um conjunto de iniciativas
Em Os sete saberes necessários à Educação do que, apesar de geralmente dispersas, foram
Futuro , Edgar Morin, atendendo à solicita-
13
ganhando paulatinamente dimensões e ar-
ção da UNESCO, sistematizou um conjunto ticulações internacionais, implicando ações
de reflexões envolvendo os destinos da Edu- diversas, focadas nas relações indissociáveis
cação neste milênio. Dos sete saberes men- entre Informação e Educação. Sob termino-
cionados no título de sua obra, o primeiro logias, concepções e direções nem sempre 9
se refere ao conhecimento: “é impressio- convergentes, podemos reconhecer, em es-
nante”, diz ele, “que a educação que visa a pecial a partir dos anos 1970, uma mobili-
transmitir conhecimentos seja cega quanto zação crescente e que tem em vista a apro-
ao que é o conhecimento humano, seus dis- priação de saberes informacionais (PERROTTI;
positivos, enfermidades, dificuldades, ten- PIERUCCINI, 2008), diretamente relaciona-
dências ao erro e à ilusão, e não se preocupe dos a esse processo de conhecer o conheci-
em fazer conhecer o que é conhecer (grifo mento a que se refere Morin.
nosso)” (MORIN, 2002, p.13-4).

Presentes e indispensáveis em qualquer tem-


Tendo em vista alertas como esses, que en- po histórico, tais saberes redefiniram-se em
volvem aspectos variados que estão na base nossa época, em suas dimensões teóricas e

11 Docente e pesquisador da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, responsável pela
orientação científica do Colaboratório de Infoeducação – COLABORI (ECA/USP).
12 Docente e pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, coordena o
Colaboratório de Infoeducação – COLABORI (ECA/USP).
13 Optamos por colocar entre aspas títulos de obras e referências a conceitos citados; em itálico, termos em
língua estrangeira e os conceitos por nós especialmente desenvolvidos, em nossas pesquisas sobre a Infoeducação.
Nos títulos e subtítulos não utilizamos itálico, mas negrito.
práticas. Ganharam, especialmente, novas ções semânticas e conceituais que as termi-
características tecnológicas que transfor- nologias adotadas implicam, é importante
maram sua natureza, extensão, modos de reconhecer que as questões implicadas sob
se expressarem e de serem por nós apropria- tais termos, ao ganharem terreno, vão sen-
dos. Em consequência, sob influência não do não apenas assumidas, mas ampliadas e
exclusiva, mas especial da ALA - American aprofundadas, tornando-se cada vez mais
Library Association (Associação dos Bibliote- objeto de estudos, de ações educativas, de
cários Americanos) e da UNESCO, as discus- políticas públicas de educação e cultura, de
sões e iniciativas de toda ordem, envolvendo encontros nacionais e internacionais14.

esses saberes, vêm ganhando extensões ge-


No bojo de tais preocupações, propusemos
ográficas globais, recobertas em inglês pelo
no ano de 2000 (ETÉVE, 2005, p.491), o ter-
termo information literacy, que enfeixa uma
mo Infoeducação para intitular um seminá-
trama extensa de aprendizagens.
rio franco-brasileiro, realizado na Escola de
Comunicações e Artes, da Universidade de
Assim, encontramos atualmente, em espa-
São Paulo. A nomeação sinalizava, de um
nhol, o termo alfabetización informacional
lado, nossa participação nessa mobilização
(comumente substituído pela sigla ALFIN);
geral, de importância fundamental para os 10
em francês, éducation à l´information (edu-
cação para a informação), bem como cultu- destinos do conhecimento; de outro lado,

re de l’information (cultura da informação), indicava que, diferentemente do que vinha

designações que vêm convivendo ou sendo ocorrendo, entendíamos que as questões

utilizadas no lugar de éducation documentai- que nos preocupavam não avançariam se

re (educação documentária); em português, adotássemos perspectivas científicas, infor-

temos “alfabetização informacional” e, mais macionais e educacionais tradicionais, pois

recentemente, “letramento informacional” a problemática das relações entre Informa-

e a expressão “literacia”, utilizada em Portu- ção e Educação fora redimensionada na “era

gal, além de Infoeducação, proposta e defen- da informação”, demandando novos olha-

dida neste trabalho. res e formulações para serem enfrentadas


adequadamente. Em países como o nosso,
Independentemente, contudo, das varia- tínhamos, por exemplo, uma situação con-

14 Na França, o Groupe de Recherche sur la Culture et la Didactique de l’Information (GRCDI), sob a coordenação de
A. Sèrres, realizou, por exemplo, estudos que resultaram em um relatório sob o título Douze propositions pour l’élaboration
d’un curriculum info-documentaire (Doze proposições para a elaboração de um currículo infodocumentário), tendo em vista
orientar a inclusão do tema nos programas nacionais de Educação. Outras iniciativas, no mesmo sentido, são realizadas na
Espanha, na Inglaterra, no Canadá, na Nova Zelândia, na Austrália. Nos Estados Unidos, o governo Obama instituiu, em
2010, um Dia Nacional da Information Literacy, e várias universidades e associações profissionais ocupam-se da questão.
A Unesco vem desenvolvendo também diversas iniciativas nesse sentido.
traditória evidente e que não nos autorizava modelos de formação adequados ao indus-
ignorar o fato de que, de um lado, estáva- trialismo do século XIX já não conseguem
mos, como a maioria dos países, sendo to- dar conta das necessidades de formação
mados de assalto pela superprodução infor- na era pós-industrial, com a emergência de
macional global e, de outro, continuávamos modos de produção assentados sobre o va-
presos a históricas dificuldades de acesso a lor da informação e do conhecimento. E, se
informações relevantes aos processos edu- isso é verdade para as questões econômicas
cacionais e culturais gerais. e sociais que interessam à OCDE, é verdade
também para as culturais que apontam para
A criação do termo Infoeducação indicava,
os processos de construção de sentidos, de
pois, que era preciso superar posturas tra-
participação afirmativa na cultura da infor-
dicionais, como a clássica fragmentação dos
mação em que vivemos.
saberes em compartimentos estanques que
raramente se comunicam, assim como das A Infoeducação associa-se, assim, a esse qua-
ações educativas e culturais que, com suas dro de iniciativas envolvendo relações entre
descontinuidades, transferem aos aprendi- os campos da Informação e Educação, mas
zes a responsabilidade pelo estabelecimento rompe, ao mesmo tempo, com paradigmas
de conexões entre saberes, sem, no entanto, científicos e educacionais consagrados pela 11
lhes fornecer os instrumentos cognitivos e tradição disciplinar, adotando perspectivas
socioculturais necessários para isso. Numa transdisciplinares (CARTA da Transdiscipli-
época de “hibridização cultural” (CANCLI- naridade, 1994), que articulam diferentes
NI, 1995) que, dentre outras característi- saberes e fazeres em redes dinâmicas de
cas, vem se notabilizando pelas rupturas conhecimento e de atuação. Desse modo,
de limites de variadas ordens, por fusões, contribui de forma original para o avanço
aglutinações, articulações e rearticulações da reflexão e das práticas de que se ocupa,
permanentes de linguagens e dispositivos, razão que nos leva a postular o uso do termo
os modos fechados de fazer ciência, de edu- para nos referirmos às preocupações emer-
car, de tratar os processos informacionais e gentes há décadas, mas dimensionadas em
educacionais refletem uma atitude que vai termos diferenciados, críticos e afirmativos
não só na contramão do presente e do fu- em relação à “era da informação”.
turo, como do próprio conhecimento e da
cultura. Como aponta recente relatório da
A Infoeducação e a Escola
Organização para a Cooperação e Desenvol-
vimento Econômico – OCDE (2010), ao tratar Embora seja uma dentre as diversas institui-
dos saberes e fazeres para o século XXI, os ções educativas que devem se ocupar da In-
foeducação, a Escola é um pilar fundamental, Sem deixar de apresentar essa dimensão ins-
indispensável e diferenciado, já que continua trumental, a Informação, em nossa época,
sendo, em nosso mundo, ponto de chegada acabou ganhando também estatuto subs-
e de partida da trama sociocultural comple- tantivo, transformando-se não só em cam-
xa e dinâmica que envolve a apropriação de po sociocultural autônomo, como os acima
saberes de forma sistemática. Por isso, re- indicados, como também em categoria de-
fletir sobre a questão, tendo como pano de finidora de uma era, a chamada “era da in-
fundo o ambiente escolar, pode represen- formação”.
tar um promissor “salto para o futuro”, em
múltiplos sentidos. Em meio à profusão de Tal autonomia e centralidade foram sen-
signos que caracterizam nossa época, tal do gestadas lentamente. Burke (2003), por
reflexão abre caminhos para novas e essen- exemplo, identifica um processo de “explo-
ciais aprendizagens nos contextos escolares, são informacional” em momento posterior
assim como para a renovação desses contex- à invenção da imprensa de tipos móveis,
tos, condição indispensável aos destinos do por Gutemberg, na virada para o século XVI.
conhecimento em nossa época. Esta invenção permitiu a reprodutibilidade
técnica dos objetos culturais em velocidades
e quantidades até então desconhecidas. Se- 12
A explosão informacional guindo os mesmos passos, o industrialismo

Se a informação foi sempre reconhecida do século XIX foi alavanca fundamental des-

como recurso importante às nossas rela- se longo processo, que encontrou nas aspi-

ções com o mundo social e com a natureza, rações do século XX um ambiente cultural

na atualidade ela adquiriu novos contornos especial de acolhimento e desenvolvimento

que lhe conferiram a posição de centralida- dos produtos da técnica e que, como nos

de que jamais usufruiu em outros tempos. lembra Walter Benjamin, em vários escri-

Até pouco tempo, salvo exceções, a informa- tos, colocariam em crise modos tradicionais

ção era definida fundamentalmente como de conceber e tratar a memória cultural.

instrumento, insumo a serviço de fins ex-


No pós Segunda Guerra Mundial, a dissemi-
teriores a ela própria, fossem esses de na-
nação da TV trouxe mudanças talvez mais de-
tureza política, social, cultural, econômica
finitivas ainda dos contornos culturais tradi-
ou outra qualquer. Não gozava, pois, da au-
cionais, permitindo a McLuhan formular, por
tonomia que gozam outros objetos da ação
exemplo, o conceito de “aldeia global” que, à
e da reflexão humanas, como o Direito, as
sua época, produziu os mais variados espan-
Letras, a Filosofia, a Física, a Biologia, entre
tos. Hoje, com a dita globalização, com o sur-
outros.
gimento de outras tecnologias, como o PC, Dado tal quadro, vai ficando longe o tempo
com o desenvolvimento da web, o mundo em que, ao pensarmos em processos socio-
pode não ter se transformado em aldeia, mas culturais cotidianos, tínhamos, como refe-
é capaz de dar instantaneamente dimensões rencial implícito de nossas considerações,
universais a acontecimentos de interesse cir- as relações em sua maioria face a face ou
cunscritos ou meramente locais. diretas entre sujeitos. Assim, se em países
como o nosso, a comunicação oral direta
Paulatinamente, foi se formando, assim, um continua sendo ainda padrão privilegiado e
desenho histórico-cultural que levou mui- extremamente prezado de relacionamento,
tos autores a acatar conceitos como “socie- aos poucos vamos percebendo alterações
dades em rede”, “sociedade da informação”, que impõem novos contornos à oralidade
“do conhecimento”, “era da informação”, e aos processos comunicacionais em geral.
para caracterizar a ordem mundial contem- Nos dias que correm, as modalidades orais
porânea, marcada pela profusão de estímu- diretas vão tendo que conviver, por exemplo,
los sonoros, visuais, audiovisuais, textuais, com inúmeras formas indiretas, mediadas
hipertextuais que invadem, sem cerimônia, por tecnologias tradicionais e avançadas,
territórios individuais e coletivos, levando- dos textos impressos à telefonia móvel e à
nos a ter que redefinir tanto nossos espaços escrita digital via web, entre outros. 13
privados como os públicos, tanto nossos ter-
ritórios físicos como os virtuais e as relações Na escola, as relações face a face ocuparam
entre eles. A “midiatização” (PERAYA, 1999) sempre posição privilegiada nos modos de
crescente da sociedade colocou-nos diante comunicação pedagógicos. Aí prevaleceu
de uma nova ordem simbólica, indicando por séculos o magister dixit, ou seja, o dis-
que a globalização não é apenas um fenô- curso pedagógico centralizado na voz e na
meno econômico de produção e circulação autoridade única dos mestres. Segundo tal
de bens materiais em escala mundial. Ela é, modelo, cabia aos educadores transmitirem,
também, um fenômeno social e cultural de ano após ano, conteúdos consagrados pela
vastas proporções e aspectos, implicando tradição e, aos discípulos, ouvir, memorizar
nossos modos de ser, de estar, de conhecer e e responder, quando interpelados.
nomear o mundo.
Se, sob muitos aspectos, tal ordem discur-
siva persiste na educação escolar, a mono-
Explosão informacional logia do magister dixit vem sendo posta em
e transformações da questão, a partir de diferentes frentes que
comunicação pedagógica incluem desde educadores inovadores a alu-
nos, pais e outros segmentos. Desse modo, sar dos inúmeros problemas que acompa-
se a presença da tradição é ainda significa- nham tais transformações, existe, ainda que
tiva, é forçoso reconhecer, por outro lado, lento, um evidente e importante movimen-
que o mundo mudou e que não há meios to de midiatização da comunicação peda-
de barrar infinitamente a força inexorável gógica no país, tendência que se insere em
dos desejos, das expectativas, das vontades dinâmica mundial no mesmo sentido. Os
de expressão e de participação sociocultural quadros tradicionais de acesso, circulação e
em diferentes contextos. recepção de informações na escola estão se
alterando, se multiplicando, de formas cada
Em consequência, é possível observar no vez mais rápidas e complexas. A voz do pro-
país o lento, mas constante, movimento fessor, como a grande e quase que exclusiva
de introdução de materiais impressos nas fonte autorizada das informações necessá-
escolas de diferentes rias aos processos
graus, de cartilhas e de aprendizagem,
livros didáticos (nem A voz do professor, vem se despolari-
sempre bem sucedi- como a grande e quase zando, e é preciso
dos), de mapas a ou- que exclusiva fonte lidar, de modo até
tras representações então não lidado,
autorizada das informações 14
gráficas diversas. Da com essa nova
necessárias aos processos
mesma forma, temos realidade. Afinal,
o aparecimento em
de aprendizagem, vem se que vozes confe-
nossas salas de aula despolarizando, e é preciso rem autoridade,
dos ditos livros paradi- lidar, de modo até então legitimidade ao
dáticos, dos literários, não lidado, com essa nova conhecimento em
entre outras modali- nossos dias? Qual
realidade.
dades de impressos, o novo lugar dos
distribuídos pelo Esta- mestres? E dos
do, numa evidência de aprendizes?
que a voz do professor já não é reconhecida,
pelas políticas públicas de Educação, como Observadas as diferentes posições diante
fonte exclusiva de informações. No mesmo das transformações e independentemente
sentido, assistimos também à chegada pau- das posições que podem variar do “deslum-
latina na escola de recursos audiovisuais bramento tecnológico” à “tecnofobia”, o
como a TV, os vídeos e, atualmente, compu- debate sobre essas mudanças se impõe e
tadores, conectados ou não à internet. Ape- não pode ser deixado de lado, sob o risco de
perdas irremediáveis para a sociedade em As bússolas cognitivas
geral. Em tal processo, estão em jogo ques-
Sem condições – nem interesse – de proces-
tões humanas fundamentais como nossos
sarmos todas as mensagens que nos che-
destinos e os do conhecimento, da cultura,
gam, em velocidade e quantidades muito
em seus aspectos mais amplos e particulares.
superiores à nossa capacidade de acessá-las,
A “era da informação” não diz respeito ape-
selecioná-las, organizá-las, interpretá-las, es-
nas à emergência de novas formas de produ-
tamos em uma situação paradoxal em que o
zir, distribuir e receber signos. É, sobretudo,
muito pode ser o pouco, o mais ser o menos.
um novo modo de nos definir, de ser, estar e
Dessa forma, mergulhados em imensos oce-
nos relacionar com o mundo.
anos sígnicos, tal como os navegantes que
descobriram novas terras, necessitamos de
Se não temos como desconsiderar tais mu-
bússolas que permitam navegações relativa-
danças, não basta, por outro lado, acatá-las,
mente seguras em meio à profusão e ao as-
como se elas tivessem sua origem no mundo
sédio insistente dos signos. Sem chaves que
natural. Fazer isso seria atitude adaptativa,
nos permitam escolher caminhos e rotas en-
redução da Educação à estratégia de sobre-
tre diferentes alternativas, corremos riscos
vivência em face do inevitável. Ora, educar
permanentes de naufrágios simbólicos. O 15
é também inventar, criticar, sonhar, criar o
oceano de informações que nos rodeia, ape-
novo. Na “era da informação” cabe a nós,
sar da imensidão de suas águas, sem bússo-
portanto, além de ter acesso às informações
las não passa de conjunto vazio, labirinto,
que nos chegam, em volume e rapidez cada
capaz de nos confundir e de criar obstáculos
vez maiores, saber avaliá-las, julgá-las, sele-
intransponíveis à constituição de sentidos.
cioná-las, situá-las em relação à nossa qua-
lidade de vida. Em uma palavra, cabe-nos
É, portanto, fundamental que, desde bem
definir e não apenas sermos definidos pelos
cedo, sejam desenvolvidas pela escola pro-
contextos culturais em que vivemos. Daí a
cessos educativos sistemáticos, destinados
necessidade urgente de incluir a problemá-
ao domínio gradativo das lógicas comple-
tica recoberta pelo termo Infoeducação na
xas de apropriação de informações de nos-
pauta educacional do país e da escola, em
so tempo, consideradas em suas diferentes
particular. Mais do que nunca, como forma
e múltiplas dimensões. Tal domínio se fará
de sobreviver numa cultura superpovoada
por meio de ações orgânicas, metódicas e
de signos de toda espécie, é preciso conhe-
gradativas que, devidamente conectadas às
cer o conhecimento e seus caminhos para
experiências informais cotidianas, irão com-
deles nos apropriarmos.
pondo as condições cognitivas e sociocultu-
rais de que necessitamos para nos orientar- Saberes Informacionais
mos e participarmos afirmativamente dos
Dito isso, podemos afirmar que o objeto da
processos de construção de conhecimento e
Infoeducação são os saberes informacionais e
cultura no mundo em que vivemos.
as dinâmicas de sua apropriação pelos su-
jeitos, considerados em suas dimensões in-
A Infoeducação dividual e social, subjetiva e objetiva, inter-
subjetiva e relacional. Sob o termo saberes
Ao ser concebida como um conjunto articu-
reúne-se, então, um conjunto complexo de
lado de saberes e fazeres, focados nas cone-
habilidades, competências e atitudes que,
xões entre Informação e Educação, tomadas
devidamente descrito e inter-relacionado,
em seus aspectos procedimentais, conceitu-
permite não só a apropriação de tais saberes
ais e atitudinais, a Infoeducação apresenta-se
sob perspectivas operacionais, indispensá-
como modo especial de atuar e de interrogar
veis à sobrevivência nas “sociedades da in-
a informação, de compreendê-la e de parti-
formação”, como também o questionamen-
cipar afirmativamente de seus processos.
to de seus princípios, dinâmicas e processos,
Seus horizontes envolvem não apenas habi-
tendo em vista a compreensão e a atuação
lidades e competências, como a “alfabetiza-
afirmativa na lógica de nosso tempo.
ção informacional”, pois, além do homo fa- 16
ber, está em questão o protagonista cultural
Nesse sentido, os saberes informacionais
(PERROTTI; PIERUCCINI, 2008), o cidadão,
são, ao mesmo tempo, instrumentais e es-
sujeito que mantém atitudes afirmativas,
senciais, transversais e específicos, proce-
criativas e criadoras com os signos. Sendo
dimentais e conceituais, servindo como
assim, pensamento, sentimentos, emoções,
instrumento para que possamos atuar nos
afetos, memória cultural, valores éticos são
mais diferentes campos do conhecimento e
categorias articuladas entre si e que estão
da ação, assim como elementos fundamen-
na base da construção dos saberes, na pers-
tais, chaves para a reflexão sobre a natureza
pectiva da Infoeducação. Seu objetivo não
e o conhecimento e seus processos na “era
é tornar os sujeitos simplesmente “compe-
da informação”. Eles são, portanto, metaco-
tentes”, eficazes nos usos da informação; é,
nhecimentos, isto é, conhecimento sobre os
além disso, contribuir para a formação de
conhecimentos, como reivindica Morin.
indivíduos que saibam dar sentido pessoal
e social às suas competências, e saibam fa- Convém, neste ponto, atentar para a distin-
zer escolhas tendo em vista os destinos e a ção entre saberes informacionais e conteú-
qualidade de vida da coletividade em que se dos informacionais, implícita ao modo como
inserem, assim como da coletividade huma- o termo saberes foi tomado à obra de Mo-
na de que são parte. rin, anteriormente citada. Os sete saberes
ali elencados (MORIN, 2002) – conhecer o que devem se iniciar desde a educação in-
conhecimento; o conhecimento pertinente; fantil, em consonância com as condições e
a identidade humana; a compreensão hu- interesses de aprendizagem de cada grupo
mana; a incerteza; a condição planetária; em particular. Não pretendemos nem po-
a antropoética – referem-se ao próprio ato deríamos oferecer aqui uma lista exaustiva,
de conhecer e não especificamente a con- ou discutir critérios que estão na base de tal
teúdos conceituais ou procedimentais desta categorização. Todavia, é possível com isso
ou daquela disciplina em especial. Trata-se, oferecer referências iniciais e concretas que
portanto, de domínio dos processos concei- podem servir para elucidar questões e formu-
tuais e operacionais que regem a dinâmica lar projetos e programas de infoeducação.
dos “saberes” como condição para deles nos
apropriarmos de forma seletiva, discrimina-
da, inscrita em quadros de referências que Saberes Informacionais
lhes dão sentido. Não se trata de simples-
mente entrar em contato e reter um volume
A) Os dispositivos e os circuitos de infor-
cada vez maior de informações.
mação e cultura:
É fundamental, portanto, não confundir Bibliotecas escolares; bibliotecas pú- 17
conteúdos informacionais com saberes infor- blicas; bibliotecas pessoais; centros de
macionais, pois tal atitude seria reduzir o se- cultura, de memória, de documenta-
gundo termo ao primeiro, sem atentar para ção e de informação especializados;
a natureza da trama complexa que o envol- gráficas e editoras, livrarias, sebos,
ve. Ter domínio dos saberes informacionais é feiras de livros, quiosques, bancas de
o modo de caminhar no sentido de conhe- jornal, museus de arte, de ciência, de
cer o conhecimento e diz respeito aos mais tecnologia, cinematecas, discotecas,
diferentes campos disciplinares, a saberes meios de comunicação e massa, WEB,
plurais, de diferentes ordens e procedências. entre outros.

A fim de dar concretude maior às questões B) A tipologia documentária:


discutidas, elencamos a seguir um rol de
Obras de referência: dicionários, enci-
saberes informacionais a serem trabalhados
clopédias, guias, índices, atlas, alma-
na escola e que foram sistematizados em
naques, bibliografias, catálogos; obras
nossas pesquisas, tendo em vista, sobretu-
literárias: poesia, prosa, teatro; obras
do, sua apropriação metódica, gradual, por
não literárias: didáticas, paradidáti-
crianças, jovens e adultos, em processos
cas, informativas; periódicos: gerais
e especializados; documentos eletrô- contracapa, quarta-capa, orelha, pági-
nicos; objetos tridimensionais: globo, na de rosto, miolo, capítulos, partes,
jogos, entre outros. volumes, tomos, suplementos, apên-
dices, anexos, textos e paratextos, pre-
C) Linguagens e Produtos documentários fácio/ introdução/ apresentação/ pos-
de recuperação de informação: fácio, sumário, tabela de conteúdos e
Elementos/terminologia de busca e re- índices, glossário, referências biblio-
cuperação da informação (sinônimos, gráficas, bibliografia, abreviações, pa-
palavras-chave, termos gerais e espe- lavras-guias); relações texto-imagem:
cíficos); elementos de identificação características, funções, usos; textos
e localização de documentos e infor- literários; textos informativos; textos
mações (número de chamada, títu- metainformativos (verbetes de dicio-
lo, subtítulo, autor, ilustrador, organi- nários, de enciclopédias, notas, refe-
zador, tradutor, apresentador, editor, rências diversas).
local de publicação, casa publicadora,
F) Informação visual, sonora, audiovisual:
data de publicação e de copyright, cole-
ção/série, índices e sumário; catálogos Desenhos, fotos, gráficos, tabelas,
em geral: impresso e informatizado; diagramas, CDs, DVDs, vídeos, filmes, 18
linguagens documentárias: sistemas programação de rádio e TV.
de classificação, Dewey e outros, clas-
ses e subclasses de assuntos, código G) Informação digital/eletrônica:

de classificação, ordenação; sistemas Sites; buscadores, diretórios, portais,


de classificação diferenciados (por co- bibliotecas virtuais, bases de dados
res e símbolos), utilizados na escola, virtuais, chats, blogs, sms, e-books,
fora da escola e em ambientes virtu- textos eletrônicos, hipertextos.
ais.
H) Práticas educativas e culturais:
D) Informação oral:
Oralidade (hora do conto, roda de his-
Informativa, expositiva, narrativa, for- tórias, de leitura, relatos orais diver-
mal, coloquial; direta e indireta; mi- sos, debates, palestras, entrevistas
diatizada. na biblioteca escolar com escritores,
membros da comunidade, artistas
E) Informação escrita (impressa):
locais, entre outras categorias); leitu-
Elementos de composição do livro e de ra-escrita: individual, em grupo; li-
outras publicações impressas (capa, terária, não literária; texto impresso,
texto com imagens, texto eletrônico e J) Organização e gestão de documentação
outros; fontes de informação audio- pessoal (física e digital):
visuais: TV, música, cinema e outras;
Agenda escolar e não escolar; proces-
comunicação eletrônica via web.
sos de registro e organização de in-
formações; construção de arquivos e
I) Práticas de pesquisa (escolar e não escolar);
fichários; organização de documenta-
Processos de identificação e enuncia- ção e acervos de estudo – livros, pe-
ção de necessidades de informação: riódicos, CDs, DVDs e outros; orga-
formulação de questões, de hipóteses; nização de arquivos e de bibliotecas
palavras-chave; estratégias de busca digitais pessoais.
de informação em meios impressos e
eletrônicos; de registro de informa-
ções, de notas e de citações; normas Pedagogia Reticular: saberes
de citação de fontes bibliográficas em redes
(nomeação, utilização e elaboração);
Como a essencialidade e a singularidade dos
elaboração de resumos; organização
saberes informacionais inscrevem-se em qua-
de informações registradas em cate-
dros culturais multifacetados e intrincados, 19
gorias ou capítulos; processamento
as aprendizagens correspondentes são, sem
de informações: seleção, análise, in-
nenhuma dúvida, especiais e singulares. No
terpretação e síntese; ideias principais
entanto, singularidade não significa isola-
e secundárias; informações factuais
mento ou fechamento. Nesse sentido, os
e opinativas: identificação; pertinên-
processos de apropriação dos saberes infor-
cia e fidedignidade das informações:
macionais mantêm relações e articulam-se
critérios de validação; elaboração de
diretamente aos saberes plurais, escolares
plano para trabalho de pesquisa; co-
e não escolares, formais e não formais, dis-
municação de resultados: elaboração
ciplinares e transversais, exigindo vivências
de documento de apresentação de
e experiências amplas e diversificadas dos
trabalhos: escritos – capa, página de
aprendizes. Para tanto, é essencial a criação
rosto; título e subtítulos; sumário;
de situações que os envolvam nas tramas
bibliografia, partes, recursos visuais;
comunicação de resultados: relatos complexas da cultura, de forma gradativa,

orais; visuais ou audiovisuais – cartaz, por aproximações que dependem de tempo,

transparência, gráficos, diagramas, de interações, de relações, de dispositivos

exposições; dramatizações; apresenta- e condições próprias dos aprendizes e dos

ções digitais, dentre outros aspectos. contextos onde vivem.


Daí, como vem ocorrendo em vários países, Universidades e por outras instituições edu-
a importância fundamental de se incluir cativas e culturais, diretamente interessa-
os saberes informacionais nos currículos, das e ligadas à problemática.
planos, programas e projetos escolares, ar-
ticulando-os a ações desenvolvidas por ou-
Infoeducação: aprendizagens
tras instâncias educacionais e culturais que
procedimentais, conceituais,
concorrem para a apropriação dos saberes
atitudinais
em geral, como as bibliotecas públicas, as
bibliotecas digitais, os centros de cultura, Os projetos e programas de Infoeducação de-
museus de arte, de folclore, históricos, de verão enfocar os saberes informacionais em
ciências, dentre outras múltiplas instâncias suas dimensões procedimentais, conceitu-
de produção e veiculação de informação e ais e atitudinais, de acordo, evidentemente,
conhecimento. com condições de aprendizagem dos dife-
rentes grupos etários e níveis escolares. Do
Políticas Públicas, Projetos e ponto de vista atitudinal, não costumam
Programas de Infoeducação ser de grande valia, com crianças da Educa-
ção Infantil ou das primeiras séries do Ensi-
Visando incluir a apropriação dos saberes in- 20
no Fundamental, discursos abstratos sobre
formacionais, em suas variadas dimensões,
o valor de uma biblioteca, de um museu,
nas agendas educacionais, vêm sendo re-
de um livro, ou de práticas culturais como
comendadas, pela literatura especializada, as rodas de histórias, a leitura, a pesquisa
tanto macroações, voltadas à inserção da na Internet, ou outra questão qualquer que
questão nas políticas públicas de Educação poderá fazer sentido para grupos de ida-
e Cultura, quanto microações, como a re- des e graus escolares mais avançados. Com
alização de iniciativas escolares concretas aquelas crianças, a experiência concreta e
que viabilizam e dão objetividade a tais po- o acolhimento que lhes é dispensado pelas
líticas, como a sistematização de saberes e diferentes instituições nas atividades aí de-
experiências profissionais e a produção de senvolvidas constituem a forma de atuação
conhecimentos científicos. São necessárias, pedagógica requerida, pois é pela vivência
assim, iniciativas abrangentes e de grande efetiva que as aprendizagens vão se dando,
porte (macroações) desencadeadas em ge- até chegar-se à conceituação. Em outras pa-
ral pelos aparelhos estatais, como Ministé- lavras, tal como outros saberes, aqui tam-
rios, Secretarias e Departamentos de Educa- bém é importante que sejam observados os
ção e Cultura, e também ações localizadas, níveis de desenvolvimento dos grupos e suas
deflagradas pelas unidades escolares, pelas condições de aprendizagem.
Os saberes aqui referidos são específicos, Dispositivos de Informação
isto é, são informacionais e não de outra e de Formação: Bibliotecas
natureza. Tal especificidade apresenta uma Escolares como Estações do
gama variada de modalidades, cada uma
Conhecimento
demandando aprendizagens especiais, pois
os modos como as informações são produ- Os dispositivos necessários ao desenvolvi-

zidas, veiculadas e recebidas demandam ha- mento de projetos e programas de infoeduca-

bilidades, competências e atitudes variadas, ção na escola são, ao mesmo tempo, disposi-

em função dos dispositivos materiais, das tivos de informação e de formação. Permitem

linguagens e das interações que envolvem. acesso a variadas informações, desenvolven-


do, nesse processo, ações pedagógicas, tendo

Desse modo, diferentes blocos de saberes in- em vista aprendizagens informacionais. Por

formacionais necessitam ser abordados pelos meio de projetos e programas específicos,

projetos e programas, devendo-se definir, a devidamente integrados aos projetos políti-

cada etapa da escolaridade – Educação Infan- co/pedagógicos gerais das unidades em que

til, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensi- se situam, tais dispositivos mesclam função

no Superior –, os aspectos a serem enfoca- informativa e pedagógica, disponibilizam e,

dos, numa gradação que permita até o final ao mesmo tempo, educam para a informa- 21
do Ensino Fundamental um domínio geral ção, num diálogo fecundo e constante.

das questões previstas, com retomada, no


Por uma série de razões, a biblioteca escolar
Ensino Médio, de aspectos que ainda não fo-
vem sendo focada na literatura internacional
ram devidamente apropriados ou de outros
como dispositivo privilegiado para a intro-
que mereçam aprofundamento e sistema-
dução e o desencadeamento sistemático das
tização, sobretudo conceitual. Por tratar-se
aprendizagens informacionais na escola. Em-
de questão nova, muitas universidades, em
bora a problemática implique diretamente
várias partes do mundo, vêm oferecendo a
outros dispositivos, como, por exemplo, la-
seus ingressantes programas nesse sentido,
boratórios de informática e as salas de aula,
como forma de preencher a lacuna que, com
contudo, é a biblioteca escolar que está sen-
o desenvolvimento da questão, poderá ser
do considerada o lócus por excelência de re-
(ou não) superada, em fase pré-universitária.
alização das ações infoeducativas na escola.
O tempo e as práticas dirão! Por ora, as ex-
periências envolvendo universitários vêm se Um fator importante, de ordem prática,
mostrando necessárias e fundamentais, em vem contribuindo para isso: na atualidade,
países diversos como França, Espanha, Cana- as bibliotecas concentram variados recursos
dá, Estados Unidos, Inglaterra e outros. informacionais, sejam os tradicionais, como
os livros, sejam os computadores e as possi- educação da escola, a biblioteca escolar terá
bilidades novas oferecidas pela informação que readequar-se em todos os seus aspectos,
eletrônica. Transformadas em midiatecas, deixar de conceber-se e ser concebida como
elas ampliam possibilidades de aprendiza- simples centro fornecedor de recursos infor-
gem e de autoaprendizagem, oferecem di- macionais e conquistar identidade e espaço
versidade, pluralidade, liberdade de circu- próprios, constituídos no diálogo educativo
lação em horários autônomos, múltiplos e e pedagógico com os demais dispositivos de
flexíveis. conhecimento próprios do cenário escolar.
Em síntese, informar e formar terão que ser,
Se a biblioteca escolar vem sendo aponta-
aí, duas faces de uma mesma moeda: a apro-
da como instância privilegiada ao desen-
priação dos saberes informacionais de nossa
volvimento sistemático das aprendizagens
época, base de construção de conhecimento
informacionais na escola, é preciso, porém,
e cultura.
ressaltar um aspecto fundamental: a litera-
tura é unânime em afirmar que muitos de A primazia que a literatura internacional
seus conceitos e práticas herdados da tradi- vem conferindo à biblioteca escolar é movi-
ção têm que mudar radicalmente. Ela terá, da por razões funcionais e históricas. Assim,
portanto, que se transformar em Estação de mesmo transformada, a biblioteca escolar 22
Conhecimento (PERROTTI; VERDINI, 2008), não tem, necessariamente, exclusividade
dispositivo híbrido que funde informação e na condução do projeto de Infoeducação da
formação num mesmo objeto, constituindo escola. Neste aspecto, não há reservas de
um ambiente pedagógico e cultural, que é domínio para nenhuma área ou dispositivo
e que não é, ao mesmo tempo, somente bi- escolar especial, uma vez que tais projetos
blioteca, sala de aula ou laboratório de in- implicam a instituição escolar em seu todo.
formática. Além disso, em casos como o brasileiro,
dado o número extremamente pequeno de
Nesses termos, a biblioteca/estação do conhe- bibliotecas em nossas escolas, pretender
cimento é um novo dispositivo, que rompe estabelecer reserva de domínio significaria
conceitualmente e na prática com divisões postergar as aprendizagens informacionais,
tradicionais que fragmentaram historica- condição inaceitável socialmente. As crian-
mente os campos de conhecimento e de ças, os jovens e os adultos que frequentam
ação educativa e cultural. Por isso, seja para hoje nossas escolas não podem aguardar ou
realizar a parte que lhe cabe nos programas ficar submetidos a posições corporativas
específicos que formula, seja para responsa- tradicionalistas. Necessitam imediatamente
bilizar-se, orientar os projetos gerais de Info- das bússolas cognitivas a que nos referimos.
Estão sob risco de afogamento nos mares cabeça de uma rede de dispositivos informa-
revoltos da informação, num processo em cionais e pedagógicos que necessitam estar
que a sobrevivência acaba fruto do acaso ou em conexão para levarem sua potencialidade
do talento individual. A informação deixa ao máximo. Bibliotecas escolares, salas de
de ser direito, da mesma forma que o “aca- aula, de informática, de TV e vídeo, bibliote-
so”, aqui, não é natural, mas sociocultural. cas de classe, cantos e salas de leitura consti-
Aqueles que têm a sorte de nascerem em tuem o chão indispensável dos programas e
condições privilegiadas conseguem, às ve- projetos de Infoeducação. São, assim, instân-
zes, herdar antigas bússolas. Mesmo estes, cias que necessitam ser articuladas, em tro-

contudo, estão desprovidos, pois as marés cas e comunicação permanentes. São pontos

mudaram de tal forma, nossa atual ecolo- distintos que integram o corpo aberto e am-

gia cognitiva é de ordem tão distinta, que os plo das infovias próprias da cultura contem-

instrumentos do passado não são capazes porânea e que necessitam ser apropriadas

de dar conta e evitar afogamentos. por nossas crianças, jovens e adultos, como
condição de participação no universo do co-
nhecimento e da cultura.
Assim, se a biblioteca escolar é dispositivo a
ser reivindicado como condição essencial de
Infoeducador 23
melhoria dos processos de ensino-aprendiza-
gem no país; se, por outro lado, pode facilitar A introdução de projetos e programas de In-
e assumir a coordenação e a realização dos foeducação na escola demanda profissionais
projetos de Infoeducação, outras instâncias devidamente preparados para exercer o pa-
poderão igualmente fazê-lo, pois é da natu- pel de infoeducadores, aspecto que, de resto,
reza da informação, em nossa época, repar- encontra-se em discussão em várias partes
tir-se em diferentes pontos de acesso, todos do mundo. De qualquer forma, mais que o
eles com responsabilidade de informar e de domínio da materialidade e das operações
formar. Escolas que possuam laboratórios de específicas de todos os dispositivos escola-
informática, por exemplo, podem deflagrar res de informação e cultura, é indispensável
e coordenar seus projetos a partir daí, bem que o infoeducador tenha domínio dos sabe-
como de outras instâncias educadoras julga- res informacionais, suas lógicas, suas dimen-
das adequadas pelo coletivo escolar, em fun- sões procedimentais, conceituais e atitudi-
ção de seus contextos específicos. nais. Além disso, é essencial que esteja em
condições de orientar, conjugar e coordenar
Por outro lado, seja qual for a instância co- esforços e atividades gerais, envolvendo pla-
ordenadora e deflagradora do projeto de nejamento, desenvolvimento e avaliação dos
Infoeducação na unidade, esta atuará como projetos e programas dos dispositivos espe-
cíficos, como a biblioteca escolar, o labora- apresentam questões e problemáticas até
tório de informática, sala e cantos de leitura, então desconhecidas. Em consequência,
além de outros porventura existentes. vemos surgir também novas áreas de re-
flexão e atuação, como a dos infoeducado-
O infoeducador, nesse quadro, responde pela res. É preciso compreender que, em face
coerência teórica e prática dos projetos e de tais condições, deverá contar menos o
programas. Dependendo do contexto em que apego desmesurado a territórios forjados
atua, poderá estar diretamente vinculado a pelos valores que constituíram os tempos
um dispositivo específico, ou não. O que o passados e mais a navegação compartilha-
caracteriza são os vínculos de interesse com da, colaborativa, pelos novos territórios
a questão, sua compreensão das questões, simbólicos que caracterizam a ordem do
suas atitudes, bem como sua capacidade de conhecimento e da cultura em nossa épo-
dialogar com os demais interessados direta ca. Experiências nesse sentido15 indicam
ou indiretamente nos aspectos em pauta. que, entre a falta e a profusão de mensa-
Profissional de interface, tal como a Infoe- gens de todo tipo que nos assaltam, ainda
ducação, o infoeducador é um terceiro pon- é possível alimentar esperanças e sonhar
to que emerge com a contemporaneidade e com relações criativas e criadoras com a in-
que, em função dos contextos particulares e formação, a cultura e o conhecimento, em 24
suas dinâmicas, vem se definindo ora como diferentes espaços socioculturais. A escola,
profissão, ora como função, ora como ocu- nesse sentido, ao assumir e adotar as pers-
pação, mas sempre como atividade específi- pectivas da Infoeducação, estará dando um
ca e diferenciada. Muitas vezes, com ótimos importante, necessário e inadiável salto
resultados, vem se objetivando como instân- rumo ao presente, permitindo vislumbrar
cia formada por equipes transdisciplinares, promissores futuros.
constituídas por professores, bibliotecários,
técnicos em educação, entre outros.
Referências

Considerações finais
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No limiar de uma nova era, estamos assis- to: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro:

tindo ao aparecimento de necessidades que Zahar, 2003.

15 As pesquisas levadas a efeito por Ivete Pieruccini e apresentadas na tese de doutorado, sob o título A ordem
informacional dialógica: estudo sobre a busca de informação em Educação e por Rosemara Gozzi, em dissertação de
mestrado intitulada Oficina de Informação: conhecimento e cultura na educação infantil, atestam as possibilidades
e resultados das proposições aqui defendidas.
CANCLINI, N. Culturas híbridas: estrategias PERAYA, D. Médiation et médiatisation: le
para entrar y salir de la modernidad. Buenos campus virtuel. Hèrmes, Paris, n. 25, p. 153-
Aires: Sudamericana, 1995. 168, 1999.

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2-6 novembro, 1994 (Redigida por Lima de saberes e fazeres da contemporaneidade.
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cação do futuro. 3ª ed. São Paulo: Cortez;
panhia das Letras, 1993. p. 91 e 114.
Brasília, DF: UNESCO, 2002.
4. 2 Formação de professores para a integração de
tecnologias ao currículo no desenvolvimento
de projetos
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida16
Maria Elisabette Brisola Brito Prado17

Introdução A segunda premissa é que o uso pedagógi-


co das tecnologias, sejam elas quais forem,
Ao nos propormos a tratar de formação não garante melhorias na educação, pois as
de professores para a integração de tecno- potencialidades das TIC se convertem em
logias ao currículo no desenvolvimento de efetivas contribuições ao ensino e à aprendi-
projetos, é preciso deixar claro quais são zagem em atividades curriculares realizadas
as premissas que direcionam nossas ideias. por meio de metodologias que exploram as
Em primeiro lugar, lembramos que as tec- características e funcionalidades das tecno-
nologias, e, especialmente, as tecnologias logias para provocar avanços na aprendiza- 26
de informação e comunicação – TIC não são gem dos alunos. Para isto, é necessário partir
ferramentas neutras, pois se elas fornecem dos conhecimentos que eles trazem de seu
suporte à representação da informação e do cotidiano, o que provoca a flexibilização e a
conhecimento, elas são também estruturan- abertura do currículo, que é reconstruído na
tes do currículo (SILVA, 2001), e, portanto, ação ao integrar os conhecimentos do sen-
seu uso traz implicações tanto nos proces- so comum com o conhecimento científico.
sos de ensinar e aprender como nos aspec-
tos políticos, sociais e culturais envolvidos Até o presente, as TIC não estão incorpora-
no ato educativo. Logo, além das possíveis das ao currículo dos cursos de formação ini-
contribuições que o uso de TIC na prática cial de professores, inclusive nas situações
pedagógica podem trazer à aprendizagem, em que tal formação se desenvolve a distân-
defendemos sua utilização na escola como cia, mediatizada pelas TIC, pois raros são os
política pública de formação de cidadãos momentos dessa formação em que há espa-
para o século XXI. ço para a reflexão sobre as contribuições das

16 Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da PUC-SP.


17 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNIBAN e Pesquisadora colaboradora
do NIED-UNICAMP.
TIC à aprendizagem e ao ensino. Desse modo, to de projetos com o uso de tecnologias in-
as TIC são vistas como suporte à educação, tegradas ao currículo.
sem uma análise efetiva dos modos como
elas estruturam o currículo. Assim, a forma- Para compreender a proposta de formação
ção de professores para a integração das TIC continuada de professores adotada no cur-
à prática pedagógica, e, especialmente, ao so em análise, denominado Elaboração de
desenvolvimento de projetos, fica por conta Projetos, que faz parte do Programa Proinfo
dos programas de formação continuada. Integrado, do Ministério da Educação, apre-
sentamos a seguir os fundamentos teóricos
Para que o professor possa incorporar as TIC que a embasam.
ao seu fazer pedagógico na perspectiva de
currículo que se reconstrói na ação, ele pre-
A reconstrução do trabalho
cisa participar de ações de formação coeren-
com projetos com o uso de
tes com essa concepção, ou seja, o professor
TIC
deve ter a oportunidade de vivenciar em sua
formação os mesmos princípios pedagógi- O uso das TIC no trabalho com projetos em
cos e abordagens que pretende concretizar situações de aprendizagem que ocorrem na
em sua prática pedagógica. escola se desenvolve desde a década de 1980,
27

mas a integração entre projetos e TIC vem


Assim, para a formação de professores volta- caminhando mais na forma extracurricular.
da para a integração das TIC ao currículo por Isto significa que os projetos, bem como as
meio de projetos, é preciso propiciar ao pro- tecnologias e as mídias digitais, na maioria
fessor cursista situações nas quais ele possa das escolas, são periféricos ao desenvolvi-
experienciar o trabalho com projetos com o mento do currículo. Do ponto de vista edu-
uso dessas tecnologias e, ao mesmo tempo, cacional, esta situação nos preocupa, por-
refletir sobre essas práticas, para que possa que embora existam resultados positivos no
identificar tanto as contribuições das TIC à que diz respeito ao envolvimento do aluno
própria aprendizagem e ao desenvolvimento no próprio processo de aprendizagem, os
do currículo, como criar com os alunos si- projetos de trabalho com o uso das TIC têm
tuações de uso das TIC voltadas à melhoria ocorrido de modo pontual, pois a efetiva in-
da aprendizagem. Nesse sentido, este texto tegração depende do preparo do professor,
tem como foco a análise de um curso, sob o do apoio da equipe gestora da escola e da
olhar de seus conceptores, com o propósito rede de ensino, bem como da abertura do
de articular as dimensões: organizacional, projeto pedagógico da escola para integrar
da formação e individual no desenvolvimen- tais atividades.
Isto indica que um projeto de formação deve logias, bem como se sentirem ‘empoderados’
buscar a articulação entre as dimensões in- para ousarem romper com as práticas repro-
dividual e coletiva (BOUTINET, 2002), sendo dutoras e definirem seus projetos pessoais
que a dimensão coletiva se distribui em or- de trabalho. Desse modo, tratamos de um
ganizacional e da formação e a dimensão aninhamento de projetos que se desenvol-
individual está inserida em um ambiente vem em diferentes níveis e, quanto mais co-
social, que lhe atribui valor e legitimação. erência esses projetos guardarem entre si,
Assim, entendemos que um projeto de for- maiores serão as possibilidades de a forma-
mação caracteriza-se pelas dimensões: or- ção atingir a plenitude de suas metas.
ganizacional, da formação e individual, que
se imbricam e se articulam em interfaces Embora o projeto do curso de formação te-
comuns. Logo, o professor cursista que se nha unicidade em termos de concepção e
engaja em um programa de formação o faz princípios na sua criação, por tratar-se de
porque tem um projeto pessoal que encon- uma formação em larga escala, cada tur-
tra aderência com a atuação dos formadores ma constituída pelo formador e professores
e com a proposta de formação, a qual, por cursistas o desenvolve imprimindo também
sua vez, espera-se que seja coerente com a suas singularidades. Esta é uma maneira
dimensão organizacional no âmbito da es- de respeitar a individualidade do formador 28

cola e, em última instância, do sistema de durante a realização do curso e as distintas


ensino. formas de os professores cursistas de uma
mesma turma se apropriarem da proposta
Cabe aos conceptores de um projeto de for- de desenvolver projetos com uso das TIC na
mação constituir uma proposta de forma- sala de aula.
ção aberta, que respeite o espaço de atuação
dos formadores, e estes precisam assumir Isto se evidencia, por exemplo, nas oficinas18
os próprios projetos, conforme seu estilo e de preparação dos formadores que tinham
preferências, o que lhes possibilitará atuar a oportunidade de conhecer o projeto do
no sentido de ajudar os professores em for- curso e fazer o planejamento das ações de
mação a identificarem as possibilidades de formação que seriam desenvolvidas para os
novas práticas pedagógicas propiciadas pelo professores das escolas de educação bási-
trabalho com projetos com o uso de tecno- ca. Durante as oficinas, os formadores ela-

18 Tais Oficinas foram realizadas para os multiplicadores dos Núcleos de Tecnologia Educacional de várias
regiões do país pela equipe de Coordenação Geral de Capacitação e Formação em EAD Diretoria de Produção de
Conteúdos e Formação em EaD do MEC.
boram seus planejamentos considerando a ladas na situação, levando em conta as dú-
proposta do curso tal como foi concebida, vidas, curiosidades e indagações dos alunos
de forma articulada com as características a respeito de problemáticas reais a partir de
de cada realidade. É nesse momento que a seus conhecimentos prévios, valores, cren-
proposta do curso era ressignificada pelos ças, experiências e interesses individuais,
formadores, podendo agregar o encaminha- propiciando a mobilização de aquisições
mento de novas atividades, dinâmicas e res- cognitivas e a construção de estratégias
pectivos materiais de apoio. É interessante para resolver os distintos problemas envol-
que, durante essas oficinas, os formadores vidos em um projeto.
podem se sentir ‘empoderados’ e desenvol-
ver o sentimento de “pertença” em relação Dessa forma, é possível dizer que não é o
ao curso, o que se torna referência para sua professor quem planeja para os alunos exe-
prática na formação dos professores cursis- cutarem, ambos podem ser parceiros e su-
tas e destes com seus alunos. jeitos de aprendizagem, cada um atuando
segundo o seu papel, projeto individual e
Em consonância com a concepção de proje- nível de desenvolvimento, que se articulam
to especificada (BOUTINET, 2002), é impor- com os interesses e projetos coletivos.
tante destacar que os professores cursistas 29
são instigados a elaborar seus projetos de Na perspectiva de confluência entre os proje-
trabalhos para desenvolver em sala de aula tos de formação, dos formadores e dos pro-
usando as TIC, considerando as caracterís- fessores, consideramos que o conhecimento,
ticas do ambiente social e a viabilidade ofe- do ponto de vista técnico e pedagógico, sobre
recida pelo contexto escolar. Nesse sentido, as especificidades e implicações envolvidas
Almeida e Prado (2009) chamam atenção no uso pedagógico de recursos tecnológicos
para que, no trabalho com projetos, o pro- dá ao professor condições de elaborar seus
fessor respeite os diferentes estilos, deci- projetos de trabalho, incorporando de manei-
sões e ritmos de trabalho dos alunos, desde ra significativa a tecnologia aos conteúdos
a etapa de planejamento, escolha de tema curriculares em seu fazer pedagógico.
e respectiva problemática a ser investigada,
respeitando os projetos individuais e trans- Ao utilizar as TIC em atividades curriculares,
formando sua turma de alunos em uma co- podemos vislumbrar as possibilidades de:
munidade de aprendizagem. abertura de espaços, tempos e conhecimen-
tos tradicionalmente trabalhados na escola;
Segundo Almeida (2001), nessas comunida- estabelecimento de conexões entre a escola,
des as questões de investigação são formu- o cotidiano da vida dos alunos e os acon-
tecimentos do mundo; integração do local nhos epistemológicos de cada participante da
com o global; abertura de fronteiras para o ação (ALMEIDA, 2010, p.1).
diálogo e o trabalho integrado entre as dis-
ciplinas escolares. Evidencia-se, assim, que A integração significativa de conhecimento
o currículo envolve tanto os conceitos rela- cotidiano com as disciplinas e respectivos
cionados às áreas de conhecimento como conhecimentos científicos pode propiciar
os métodos, as ex- o envolvimento de
periências prévias alunos e professo-
de alunos e profes-
A integração de tecnologias res em atividades
sores, as atitudes, os ao desenvolvimento do socialmente rele-
valores, os procedi- currículo na escola e na vantes, auxiliando
mentos, as relações sala de aula desperta na interpretação dos
que se estabelecem fenômenos socio-
a consciência sobre as
na prática social (GI- culturais da comu-
tensões entre a organização
MENO SACRISTAN, nidade, bem como
1998), entre profes-
curricular fechada em no resgate da ética,
sor, alunos e os ele- disciplinas estanques, com das artes, da diver-
mentos simbólicos conteúdos previamente sidade e dos valores 30

culturais. selecionados, e o currículo a serem vividos pela


escola por meio de
integrado, aberto às
A integração de tec- uma atuação prática
experiências de vida e
nologias ao desen- e tangível.
volvimento do cur-
ao desenvolvimento de
rículo na escola e na projetos. A ideia é reconstruir
sala de aula desperta a concepção de es-
a consciência sobre cola como espaço de
as tensões entre a diálogo e de criação
organização curricular fechada em discipli- de redes colaborativas com o uso de diferen-
nas estanques, com conteúdos previamente tes linguagens de expressão do pensamento
selecionados, e o currículo integrado, aberto que propiciam a interação entre distintas
às experiências de vida e ao desenvolvimen- culturas, escolas, contextos, pessoas e ob-
to de projetos. Desse modo, é possível iden- jetos de conhecimento, mobilizando pen-
tificar o currículo prescrito e o currículo que samentos criativos, novas aprendizagens e
se concretiza na ação por meio de análises dos busca conjunta de solução para os proble-
registros digitais das intervenções e dos cami- mas do contexto e da realidade.
Trata-se de conceber a escola de Tecnologias Educacionais (NTE/NTM),
em um processo de formação continuada
(…) como memória da humanidade,
que contemple os aspectos operacionais e
como sistema de construção do saber,
técnicos, bem como os pedagógicos, políti-
de enriquecimento moral e social, um
cos, sociais e culturais voltados para a re-
espaço em que se considere cada alu-
construção de práticas inovadoras e signifi-
no como um ser humano à procura de
cativas que privilegiem o desenvolvimento
si próprio, em reflexão conjunta com os
integral dos alunos.
demais e com o mundo que o rodeia (SIL-
VA, 2001, p. 846). Para isto, é preciso conceber uma aborda-
gem de formação que integre o contexto da
Assim, para que o trabalho com projetos
prática do professor na escola e o contexto
usando as TIC seja desenvolvido nas esco-
presencial e virtual da formação, conforme
las na perspectiva da integração curricular
retratado por Almeida; Prado (2007).
torna-se fundamental propiciá-lo também
aos professores das escolas e dos Núcleos

31

Essa característica trimodal que contempla as especificidades de cada contexto pode favore-
cer a formação na ação reflexiva do professor.
Formação na ação reflexiva cesso de aprendizagem dos alunos e da prá-

e online: uma abordagem tica pedagógica que está sendo reconstru-


ída. Conforme palavras de Almeida (2001),
Dentre os vários programas e cursos de for- em relação a esta abordagem,
mação para uso das TIC na educação, desen-
volvidos pelo MEC, um deles é o programa Não se trata de uma formação voltada
Proinfo Integrado, que abarca justamente para uma atuação no futuro, mas sim
um curso com ênfase na temática do tra- de uma formação direcionada pelo pre-
balho com projeto integrado ao currículo sente, tendo como pano de fundo a ação
usando as TIC. imediata do educador. A formação esta-
belece uma congruência entre o proces-
Este curso, denominado “Elaboração de Pro- so vivido pelo professor em formação e
jetos” , tem como foco desenvolver ativi-
19
sua prática profissional (p.121).
dades que integram as dimensões teóricas,
metodológicas e práticas com o uso de tec- A ênfase dada à atividade prática do profes-
nologias, a realidade da escola e o contexto sor é pelo fato de ela constituir-se uma si-
da sala de aula e a reflexão sobre a prática tuação de estudo e de reflexão do professor
com a integração das TIC no currículo das durante o processo de formação (ALMEIDA, 32
distintas áreas de conhecimento. 2001; PRADO e VALENTE, 2002). Essa aborda-
gem de formação na ação desenvolvida de
Trata-se de um processo de formação na forma articulada com a modalidade online,
ação, que segundo Valente (1999) se carac- que enfatiza as interações entre os profes-
teriza pela construção contextualizada do sores e a mediação pedagógica do formador,
conhecimento prático do professor. No en- foi estudada por Prado (2003), mostrando
tanto, a sua viabilização requer o desenvol- que potencializa a ocorrência da reflexão do
vimento de um trabalho compartilhado en- professor sobre a própria prática pedagógi-
tre o formador e os professores e entre seus ca. Nesse sentido, a reflexão sobre a própria
pares, na busca de caminhos para a realiza- prática, na perspectiva de Schön (1992), Zei-
ção do uso integrado dos recursos tecnoló- chner e Liston (1996), favorece a reconstru-
gicos aos conteúdos curriculares. E mais, na ção do fazer pedagógico do professor.
criação de dinâmicas possíveis de trabalho,
que lhes permitam analisar aspectos do pro- No entanto, esse processo de reconstrução

19 O curso “Elaboração de Projetos” que foi criado em 2009, com autoria de Maria Elizabeth Bianconcini de
Almeida e Maria Elisabette Brisola Brito Prado, faz parte do Programa Proinfo Integrado do MEC, em realização no
ambiente eproinfo para multiplicadores do NTE- NTM e professores de escolas públicas do país.
do fazer pedagógico não é simples. A refle- que enquanto isto ocorre – prática contex-
xão sobre a prática é fundamental, mas o tualizada e estudo teórico – cada professor
professor precisa também conhecer os pres- interage no ambiente virtual do curso, com-
supostos que embasam as novas referências partilhando suas reflexões, dificuldades,
de práticas do trabalho com projetos com conquistas com os formadores e seus pares.
a integração das TIC ao currículo e a con- Nesse processo de aprender com o outro,
cepção de projeto que integra as dimensões: relatando e conhecendo diferentes expe-
organizacional, da formação e individual riências, discutindo questões emergentes
(BOUTINET, 2002). apoiadas teoricamente, o universo de refle-
xão e de referências do professor cursista se
Isto significa que a formação na ação que amplia.
contempla o cotidiano do professor deve
também propiciar o estudo teórico, de modo De acordo com a concepção já especificada,
a ampliar a compreensão do professor, para a estrutura curricular do curso “Elaboração
que tenha autonomia e olhar crítico e refle- de Projetos” foi organizada contemplando
xivo na recriação da prática. Com este pro- três eixos conceituais – Projeto, Currículo e
pósito, o curso “Elaboração de Projetos” foi Tecnologias – que se articulam entre si for-
concebido articulando a teoria e a prática mando a espiral ascendente da formação, a 33
de projeto com as TIC de forma integrada qual se desenvolve integrada com a prática
ao currículo, bem como privilegiando situ- concreta dos professores no uso de tecnolo-
ações reflexivas, tanto individuais como no gias com seus alunos.
coletivo da turma, que englobam também
os aspectos estruturais e políticos do siste-
Articulação dos três eixos
ma de ensino.
do Curso: Projeto, Currículo
e Tecnologias
Durante a realização do curso, cada profes-
sor cursista tem a oportunidade de vivenciar Os princípios que permeiam o trabalho com
o trabalho de projeto com seus alunos no projeto surgiram no século XVIII, quando
contexto escolar (prática) e, concomitante-
Pestalozzi e Froebel defenderam a importân-
mente, fazer os estudos teóricos sobre prin-
cia de desenvolver uma educação voltada
cípios norteadores da concepção e metodo-
para os interesses e necessidades das crian-
logia de projetos com o uso das TIC voltados
ças, valorizando a experimentação prática.
para a integração com o currículo.

Nesse sentido, Dewey e Kilpatrick, na década


A grande contribuição da educação online é de 1920, enfatizaram a importância de a es-
cola ser vista como um espaço vivo e aberto e práticas interdisciplinares, que também
para a realidade, defendendo que as crian- possam contemplar a transversalidade20.
ças adquirem experiência e conhecimento Para o aluno pesquisar e estudar sobre uma
pela resolução de problemas práticos, em si- problemática ou questão de investigação,
tuações sociais, destacando-se as propostas ele precisa estabelecer relações significa-
pedagógicas do aprender-fazendo, com ex- tivas entre conhecimentos de áreas distin-
periências em que o aluno pode se envolver tas, de tal forma que se tornem permeáveis
ativamente com a própria aprendizagem. as fronteiras das disciplinas e se propicie a
construção do conhecimento mais global e
Mas foi a partir dos anos 1990 que o con- interdisciplinar.
ceito de Projeto se
evidenciou no cená- Trabalhar com proje-
rio educacional como Uma característica no tos significa explicitar
uma nova dimensão trabalho por projeto uma intencionalidade
apoiada nas ideias de é a possibilidade em um plano flexível e
Fernando Hernández, de desenvolver aberto ao imprevisível.
que propôs um cur- O plano é a espinha
posturas e práticas
rículo integrado do dorsal das ações que 34
interdisciplinares,
desenvolvimento de se complementam no
projetos de trabalho,
que também possam andamento das inves-
repercutindo nas no- contemplar a tigações e descober-
vas propostas e orien- transversalidade tas, que não se fecham
tações curriculares. a uma única área do
conhecimento.
Hernández (1998) chama a atenção para que
o projeto não seja visto como uma opção (...) o projeto rompe com as fronteiras
puramente metodológica, mas como uma disciplinares, tornando-as permeáveis
maneira de repensar a função da escola, o na ação de articular diferentes áreas de
ensino e a aprendizagem. conhecimento, mobilizadas na investi-
gação de problemáticas e situações da
Uma característica no trabalho por projeto realidade. Isso não significa abandonar
é a possibilidade de desenvolver posturas as disciplinas, mas integrá-las no desen-

20 A transversalidade pode potencializar situações que valorizam as relações humanas e sociais mais
urgentes. Trabalhar transversalmente é permitir que o aluno aprenda conteúdos que perpassam por diferentes
áreas curriculares, com vistas à resolução de problemas de forma contextualizada e entendendo a problemática
social e as possibilidades de solução.
volvimento das investigações, aprofun- contribuições ao aprendizado e à constru-
dando-se verticalmente em sua própria ção curricular.
identidade, ao mesmo tempo que esta-
belecem articulações horizontais numa Na situação escolar, as estruturas curricu-
relação de reciprocidade entre elas, a lares instituídas a priori nas “grades curri-
qual tem como pano de fundo a unici- culares” se atualizam e alteram por meio
dade do conhecimento em construção do trabalho com projetos, transformando o
(ALMEIDA, 2001, p.58). currículo prescrito, que é reconstruído em
função das significações atribuídas no con-
Um projeto pode partir de uma questão re- texto da prática socioeducativa. O currículo
lacionada com uma única área de conhe- construído na ação, isto é, o vivido na práti-
cimento e, em seu desenvolvimento, ir se ca concreta, pode ser identificado por meio
abrindo e articulando conceitos de outras da exploração das características interativas
áreas. Quando isto ocorre, fica evidenciado e de registro inerentes às TIC, as quais pro-
que o conteúdo disciplinar deve ser trabalha- piciam:
do numa perspectiva que não se feche em si
mesma, mas que no processo de busca para • Acompanhar e recuperar as trajetórias de-
compreender um determinado fato ou fe- lineadas no desenvolvimento de projetos; 35
nômeno seja ampliado o escopo de relações
• Reconhecer as narrativas curriculares in-
entre as diferentes áreas de conhecimento e
dividuais que expressam as inter-relações
o significado dos conceitos incorporados no
entre informações e conhecimentos com
desenvolvimento do projeto. Por outro lado,
o uso de diferentes mídias e linguagens,
pode ocorrer o inverso, ou seja, iniciar o
os significados atribuídos em ato;
projeto com uma questão mais abrangente
e pouco a pouco ir afunilando em determi- • Identificar os conhecimentos mobilizados
nado conceito de uma área específica para na ação, que se referem tanto aos conhe-
compreender determinadas particularida- cimentos historicamente produzidos e or-
des do fato ou fenômeno em estudo. ganizados em materiais didáticos, como
aos novos conhecimentos construídos pe-
No desenvolvimento do projeto, o professor
los alunos;
precisa estar atento, acompanhar o proces-
so de aprendizagem, ter clareza de suas in- • Possibilitar a abertura de espaços, tempos
tencionalidades pedagógicas e criar condi- e conhecimentos tradicionalmente traba-
ções para que os alunos possam incorporar lhados na escola;
as tecnologias de modo que essas tragam
• Estabelecer conexões entre a escola, o co- integração das TIC ao currículo por meio de
tidiano da vida dos alunos e os aconteci- projetos pode ser um caminho para repensar
mentos do mundo. a escola num sentido mais amplo. No entan-
to, para isto é fundamental focar nas especi-
Nesse sentido, o currículo como constru-
ficidades dos elementos constituintes desse
ção social, política e histórica se constitui
cenário educacional abordados neste estudo,
na própria ação com o uso de tecnologias,
que são as possibilidades e implicações das
aproximando-se da concepção de design
TIC no processo de ensino e aprendizagem,
emergente (CAVALLO, 2003), que incorpora
bem como os conceitos de currículo e de pro-
as mudanças provocadas pelo trabalho que
jeto em suas diversas dimensões.
se desenvolve a partir das problemáticas
contextuais. Essa perspectiva requer uma
Nesse sentido, fica evidenciada a importân-
postura investigativa do contexto imbuída
cia da formação e, consequentemente, de
de ousadia e flexibilidade para lidar com os
desenvolver projetos de cursos que abor-
imprevistos, mas com clareza de propósito.
dam tais elementos e priorizam a formação
Essa postura é metaforicamente compara-
na ação reflexiva de professores, também
da por Cavallo (2003) a um conjunto de jazz
sujeitos e autores de seus projetos de traba-
capaz de improvisar uma música, mas man- 36
lho, envolvendo os demais atores do contex-
tendo a estrutura da harmonia entre seus ele-
to da escola.
mentos e os princípios teóricos de seus estilos
(p. 392). Entretanto, cabe ressaltar que um curso só
ganha vida e identidade própria durante a
A realização do trabalho com projeto e as sua concretização, por isso o papel do for-
TIC na perspectiva de repensar o currículo mador é imprescindível, para que sua ação
e a escola, considerando as características seja sintonizada com os princípios abraça-
da sociedade atual, requer muitas vezes dos na concepção de um curso. No curso
sensibilizar os demais atores da comunida- “Elaboração de Projetos”, o preparo inicial
de escolar para participarem, no sentido de do formador foi feito nas Oficinas e esta
se sentirem coautores deste momento de ação mostrou sua relevância. Mas a ideia
reconstrução, no que se refere às possibili- que propomos é de dar continuidade, ou
dades do uso da tecnologia na educação. seja, propiciar aos formadores que tenham
um acompanhamento de suas ações de for-
mação, para que possam aprimorar com
Algumas considerações
autonomia suas práticas, contemplando o

A formação de professores voltada para a trabalho com projetos integrado com o cur-
rículo. Para a continuidade do aprendiza- putadores portáteis; indicadores de mu-
do, é necessário também oferecer aos pro- dança na prática e no currículo. In: Actas da
fessores a oportunidade de socializar suas VI Conferência Internacional de Tecnologias
experiências com projetos com seus pares de Informação. Braga, Portugal, 2009.
de diferentes realidades, tendo ainda a con-
tribuição de especialistas da área trazendo ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, M. E. B. B. De-

novos olhares desencadeadores de referên- sign Educacional Contextualizado na For-

cias que considerem as potencialidades dos mação Continuada de Educadores com su-

avanços das tecnologias e as necessidades porte em Ambientes Virtuais. In: Actas da


educacionais voltadas para a sociedade do V Conferência Internacional em Tecnologias
século XXI. Nesse sentido, o programa Salto de Informação e Comunicação na Educação.
para o Futuro vem oportunizando a realiza- Braga: Centro de Competência da Universi-
ção deste tipo de ação que pode, de forma dade do Minho, 2007. p. 178-190.
continuada, caminhar junto com as propos-
tas de cursos de formação de educadores e, BOUTINET, J. Antropologia do projeto. 5. ed.

em especial, amplificar entre os professores Porto Alegre: Artmed, 2002.

de todas as regiões do Brasil a disseminação


CAVALLO, D. O Design emergente em am- 37
e a reflexão de experiências que ocorrem
bientes de aprendizagem: Descobrindo e
em situações concretas da escola pública e
construindo a partir do conhecimento in-
a compreensão de seu sentido por meio do
dígena. In: Revista Teoria e Prática da Educa-
debate com especialistas. Eis aí mais um de-
ção. Universidade Estadua l de Maringá, PR,
safio da formação!
v. 6, n. 14, 2003.

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de Inovação Educacional, 1992.

SILVA, B. D. As Tecnologias de Informação e


Comunicação nas Reformas Educativas em
Portugal. Revista Portuguesa de Educação. 38
4.3 AS Tic na Educação nos programas do
Salto para o Futuro: o passado
e as tendências futuras

José Armando Valente 21

Introdução Nesse texto que compõe essa coletânea para


celebrar os vinte anos do Salto, gostaria de
Minha primeira participação no Salto para
fazer uma reflexão sobre o que aconteceu
o Futuro aconteceu em 1998. Desde então,
em termos dos usos das TIC na educação e
tenho participado dos programas pratica-
quais são os prognósticos para o futuro des-
mente todos os anos, desenvolvendo temas
sa área. O Salto teve um papel importante na
como uso das tecnologias de informação e
disseminação das ideias sobre o uso das TIC
comunicação (TIC) na educação especial,
na educação e sobre a questão da formação
formação de professores para o uso das TIC
de professores para o uso das tecnologias.
na educação, integração das TIC, educação 39
Sempre houve uma grande preocupação em
por projeto, educação a distância. Cada uma
mostrar as boas práticas de uso das TIC por
dessas participações foi realmente uma ex-
alunos e professores, que aconteciam nas
periência única e uma surpresa que sempre
escolas dos recantos mais remotos do país.
terminava de maneira muito positiva e agra-
Por intermédio do Salto, ficávamos saben-
dável. No início de cada programa sempre
do de experiências fantásticas que alunos e
tinha aquela expectativa, o ‘friozinho na
professores realizavam e que podiam servir
barriga’. Porém, quando o programa co-
como exemplos para os milhares de profes-
meçava, as perguntas chegando, a sinergia
sores e alunos que acompanhavam os pro-
entre os convidados crescendo, era sempre
gramas.
uma surpresa o anúncio de que estávamos
no último bloco do programa. Uma hora Embora tenha participado de séries sobre di-
passava muito rápido e nunca era suficien- versos temas, nesse texto vou focar na ques-
te para esgotar os assuntos que emergiam e tão do uso das TIC na educação, na forma-
para responder a todas as perguntas e con- ção de professores para o uso das TIC como
tribuições recebidas. parte das atividades disciplinares da sala de

28 Departamento Multimeios e Nied – Unicamp & Ced – PUC-SP.


aula, procurando fazer uma reflexão sobre o como uma disciplina de informática a ser
passado, sobre as tendências futuras e como inserida na grade curricular. O objetivo não
o Salto pode continuar a explorar essa te- é o ensino sobre os diferentes recursos com-
mática. A ideia é mostrar que a implanta- putacionais como processadores de texto,
ção das TIC no sistema educacional público planilhas e internet, mas a integração das
progrediu muito. Foram implantados labo- tecnologias nas práticas de sala de aula em
ratórios de informática na maioria das esco- todas as disciplinas do currículo. Essa preo-
las, formamos muito professores, porém as cupação foi explicitada nos primeiros proje-
TIC ainda não estão integradas às atividades tos, como, por exemplo, o Projeto Educom
curriculares. Com o advento de novas tec- (ANDRADE, 1993) e o Projeto Formar (VALEN-
nologias, como os laptops educacionais, a TE, 1993).
esperança é que essa integração seja realiza-
da. Para isso, são necessárias algumas mu- Embora a integração das tecnologias ao cur-
danças, inclusive do próprio currículo, que rículo sempre estivesse presente nos progra-
foi elaborado na era do lápis e papel. Para mas e projetos do governo nos últimos 20
que a integração TIC-currículo seja possível, anos, a realidade é que essa integração não
o currículo tem que ser pensado para a era aconteceu de modo sistemático. São conhe-
digital. O Salto para a Futuro pode ter um cidos exemplos de um professor que faz essa 40
papel fundamental em ajudar a fazer essa integração na sua disciplina, ou mesmo de
mudança. uma escola que procura trabalhar as TIC de
maneira integrada às atividades curricula-
res, porém, isso é exceção e não regra do sis-
Uso das TIC na educação tema público de educação. A verdade é que

Os projetos sobre o uso das TIC na educação nas atividades de sala de aula ainda impe-

no Brasil sempre tiveram um aspecto muito ra o giz e o quadro e que os computadores,

peculiar. Desde as primeiras discussões so- confinados nos laboratórios de informática,

bre esse tema em 1982, a preocupação tem são usados esporadicamente como adendo,

sido a melhoria do processo ensino e apren- como reforço ou mesmo para o ensino de

dizagem que acontece na sala de aula da es- informática. Em grande parte ainda impera

cola pública. O objetivo que tem norteado a desintegração das TIC ao currículo.

todas as iniciativas de implantação das TIC


na educação tem sido a integração das tec- As razões para essa desintegração são vá-
nologias ao que acontece em sala de aula, rias. Uma que persistiu por muito tempo
auxiliando o desenvolvimento de conteú- foi a falta dos computadores. Realmente se
dos disciplinares e não sendo consideradas a tecnologia não está instalada na escola, o
aluno certamente não terá acesso a ela e, dores PC e o sistema operacional Windows,
portanto, não há como as atividades edu- que começaram ser implantados nas escolas
cacionais contemplarem o uso das TIC. No em meados dos anos 1990. O Windows possi-
entanto, mesmo com a implantação dos bilitou o desenvolvimento de inúmeros pro-
laboratórios de informática e, mais recen- gramas para praticamente todas as áreas do
temente da internet, em grande parte das conhecimento. Com isso, surgiram também
escolas públicas no país, ainda é muito clara outras modalidades e recursos, como a mul-
a dicotomia entre as atividades na sala de timídia, os sistemas de autoria para constru-
aula e as atividades que acontecem nos la- ção de multimídia e, no final dos anos 1990,
boratórios de informática. a disseminação da internet e, mais recente-
mente, no início dos anos 2000, a Web 2.0,
Com relação do desenvolvimento das TIC, com os blogs, vídeo online, my.space etc. No
temos ainda outros agravantes. O desenvol- início de 2010, teve início a instalação da Pro-
vimento das TIC não para, muito pelo con- grama UCA (Um Computador por Aluno) que
trário. Aliada a esse rápido desenvolvimento explora as questões da conectividade e da
tecnológico temos também a falta de tempo mobilidade, prevendo que cada aluno tenha
do professor para poder dominar e compre- na sua carteira, além do lápis e papel, um
ender as novas tecnologias que estão cons- laptop, criando possibilidades interessantes 41
tantemente sendo propostas. do ponto de vista educacional, como vai ser
discutido mais adiante.
Nos anos 1980, a disseminação da informáti-
ca nas escolas brasileiras foi possível graças Essa rápida evolução das TIC tem o lado po-
ao microcomputador MSX, lançado no mer- sitivo de auxiliar a diversificação de estraté-
cado em 1986 pela Sharp (Hotbit) e Gradien- gias e de soluções sobre o que fazer com as
te (Expert). Eram máquinas simples, mais TIC na educação. Por outro lado, ela dificul-
parecidas com um brinquedo do que com ta o processo de apropriação desses recur-
um computador, e as alternativas de uso sos. Se o professor não consegue se apro-
na educação se reduziam à linguagem de priar dos recursos tecnológicos disponíveis,
programação Logo ou ao uso de softwares ele certamente terá muita dificuldade para
educacionais como jogos, tutoriais etc. Essa integrá-los às atividades pedagógicas que
simplicidade encorajou muitos professores acontecem em sua sala de aula. Essa ques-
a se interessarem pelo uso dessas máquinas. tão está relacionada com a formação dos
Porém, essa segurança e conforto foram professores para o uso das tecnologias, tra-
quebrados pelo surgimento dos computa- tada no próximo tópico.
Formação de professores Educação vinculados às Secretarias Estadu-

para o uso das TIC na ais de Educação (CIEd), às Escolas Técnicas

educação Federais (CIET) ou ao Ensino Superior (CIES).


A intenção era a de disseminar os conheci-
A formação de professor para o uso dos mentos sobre informática na educação para
computadores na educação teve um grande outros centros, de modo que a pesquisa e
avanço. Porém, essa formação não tem pro- as atividades nessa área não ficassem res-
piciado as mudanças necessárias para que o tritas aos cinco centros do Educom. Portan-
professor possa fazer uso das TIC integradas to, essa formação pode ser vista como uma
às atividades que desenvolve em sala de aula. ação para atingir um maior número de pro-
fissionais, de praticamente todos os estados
A formação para o uso das TIC teve início no do Brasil.
Projeto Educom, de-
senvolvido em cinco Essa formação foi
Em 2007 teve início o
centros: Universidade realizada por inter-
Federal de Pernambu- Proinfo-Integrado, que
médio de cursos de
co, Universidade Fe- consiste na formação a especialização lato
deral de Minas Gerais, distância, atingindo um sensu (mínimo de 360 42
Universidade Federal número ainda maior de horas), envolvendo
do Rio de Janeiro, Uni- cerca de 50 professo-
profissionais da educação.
versidade Estadual de res, e abrangendo di-
Campinas e Universi- versos conteúdos da
dade Federal do Rio Grande do Sul. Todos es- área de informática na educação. O primeiro
ses projetos trabalharam com escolas públi- curso foi realizado em 1987 e ministrado por
cas e desenvolveram atividades de pesquisa e pesquisadores, principalmente, dos projetos
formação, tanto na universidade quanto em Educom. Este curso ficou conhecido como
escolas, que possibilitaram a realização de di- Curso FORMAR I. No início de 1989, foi reali-
versas ações iniciadas pelo MEC (ANDRADE, zado o segundo curso, o FORMAR II. Ambos
1993; ANDRADE; LIMA, 1993; MORAES, 1997). foram realizados na Unicamp, com estrutu-
ra muito semelhante, apesar de os objetivos
Os conhecimentos desenvolvidos com o específicos não serem exatamente os mes-
Projeto Educom foram utilizados na criação mos (VALENTE, 1999). Outros dois cursos,
do Projeto FORMAR, que teve como objeti- usando o mesmo modelo, foram realizados
vo principal a formação de professores para posteriormente, um em 1992, na Escola Téc-
implantarem os Centros de Informática na nica Federal de Goiânia (FORMAR III) e outro
em 1993, na Escola Técnica Federal de Araca- simultaneamente, um demandando novas
ju (FORMAR IV). Mesmo algumas versões de ideias do outro, como mostram os resulta-
cursos de formação realizados pelo Proinfo, dos dos estudos sobre apropriação das TIC.
criado em 1997 (MORAES, 1997), foram base- Essa apropriação não é simples, requer tem-
adas na estrutura do FORMAR. Em 2007 teve po e acontece em fases.
início o Proinfo-Integrado, que consiste na
formação a distância, atingindo um número O projeto Apple Classroom of Tomorrow
ainda maior de profissionais da educação. (ACOT) propiciou por 10 anos (1985-1995) o
uso massivo de computadores em algumas
Os problemas com esses cursos de forma- salas de aula dos Estados Unidos da Amé-
ção de educadores – gestores escolares e rica. Esse estudo mostrou que o processo
professores – para o uso das TIC na educa- de apropriação dos computadores aconte-
ção, muitas vezes, concentram-se nos as- ceu por fases, sendo que foram identifica-
pectos tecnológicos. Esses cursos partem do das cinco fases (SANDHOLTZ; RINGSTAFF;
pressuposto de que os professores já sabem DWYER, 1997):
como proceder nos seus respectivos ambien-
tes de trabalho e, com o conhecimento téc- • Exposição ou entrada. Primeiro contato
nico adquirido, serão capazes de implantar com os aspectos tecnológicos e aprendi- 43
as adequações necessárias para desenvolver zagem do essencial sobre alguns recursos
suas práticas, agora usando as TIC. Outros disponíveis.
cursos focam fundamentalmente nos aspec-
• Adoção. Uso do teclado, do processador
tos pedagógicos e consideram as tecnolo-
de texto e de alguns softwares educacio-
gias como meros suportes da informação,
nais, tipo instrução programada.
desconsiderando que as TIC estruturam os
modos de pensar, comunicar, lidar com a in- • Adaptação. Começo da integração do
formação e construir conhecimento. computador nas atividades tradicionais,
usando processador de texto, planilha de
No entanto, o domínio do técnico e o domí-
cálculo, recursos de comunicação, como
nio do pedagógico não devem acontecer de
forma de aumentar a produtividade dos
modo estanque, um separado do outro. É ir-
alunos. Trata-se de usar o computador
realista pensar que o professor deve ser um
para fazer com mais eficiência aquilo que
especialista nas questões tecnológicas para
era feito sem ele.
depois tirar proveito desse conhecimento
nas atividades pedagógicas. Os conhecimen- • Apropriação. Uso do potencial das TDIC
tos técnicos e pedagógicos crescem juntos, de modo adequado na realização de proje-
tos interdisciplinares e colaborativos. Co- das técnicas acontece por necessidades e
meçam a aparecer mudanças na prática exigências do pedagógico e as novas possibi-
de sala de aula e na atitude do professor. lidades técnicas criam novas aberturas para
o pedagógico, constituindo uma verdadei-
• Inovação. Professores experimentam no-
ra espiral ascendente na sua complexidade
vos padrões de uso das tecnologias em
técnica e pedagógica. Com isso, o professor
diferentes contextos e são capazes de
pode adquirir uma série de conhecimentos,
adequar o potencial de cada recurso ao
como identificar as contribuições das tecno-
desenvolvimento das atividades com os
logias aos processos de ensinar e aprender
alunos.
e, ainda, saber discernir qual atividade deve
ser realizada por intermédio das TIC e que
Outro resultado desse estudo foi a questão
atividade pode per-
“tempo”. Os profes-
mitir a exploração
sores solicitavam
O currículo atual foi de determinados
tempo para estudar,
elaborado na era do lápis conteúdos e com
tempo para desen-
volver projetos, tem-
e papel. Para que haja que profundidade

po para repensar sua a integração das TIC ao elas devem ser reali-
zadas, considerando 44
prática e tempo para currículo, é preciso que o
a idade e o desenvol-
explorar os recursos currículo seja repensado
vimento intelectual
do computador. O
para a era digital. dos alunos; e saber
processo de apro-
desafiar os alunos
priação da tecnolo-
para que, a partir do
gia e sua integração
projeto que cada um propõe, seja possível
nas atividades curriculares demandaram
atingir os objetivos pedagógicos que ele de-
tempo e aconteceram de modo gradativo.
terminou em seu planejamento.
Isto significa que a formação desse profes-
sor não pode se restringir à passagem de No entanto, mesmo que consigamos a me-
informações sobre os aspectos tecnológicos lhor formação e o maior esforço dos profes-
ou ao uso pedagógico da informática. Mas sores para o uso das TIC integradas às ativi-
essas informações devem ser praticadas, dades de sala de aula, essa integração será
com os alunos, em sala de aula, de modo difícil. Por exemplo, se o aluno dispuser de
que o professor, gradativamente ,possa pas- um laptop em sua carteira, com livre acesso,
sar pelas fases e, eventualmente, atingir a o que ele poderá realizar? Copiar no laptop
fase da inovação. Nesse contexto, o domínio o que o professor colocar no quadro de giz?
Resolver um problema, como ele faz no ca- lhas práticas (WESTON; BAIN, 2010). Ou as
derno? Isso seria empobrecer e subutilizar “inovações” desenvolvidas por meio das TIC
o enorme potencial que as TIC apresentam. “brigam” com o currículo da era do lápis e
Ou seja, um dos fatores que tem dificultado papel, e as tecnologias acabam sendo expul-
a integração é justamente o tipo de ativida- sas da escola, como já aconteceu em algu-
de curricular a ser desenvolvida. O currículo mas escolas dos Estados Unidos (HU, 2007).
atual foi elaborado na era do lápis e papel.
Para que haja a integração das TIC ao currí- No entanto, à medida que as TIC passam a
culo, é preciso que o currículo seja repensa- fazer parte do cotidiano da vida dos alunos,
do para a era digital. vai ficar cada vez mais difícil controlar essa
“briga”! A conciliação parece ser o caminho
mais viável e, nesse sentido, as TIC devem
Currículo da era do lápis
ser integradas aos assuntos curriculares de-
e papel X currículo da era
senvolvidos em sala de aula e deixarem de
digital
ser tratadas como apêndice do que acontece
Como já dissemos, o currículo atual, de to- no processo de ensino e aprendizagem.
das as disciplinas, desde o ensino básico até
o ensino superior, foi desenvolvido para a Por outro lado, as TIC jamais serão integra- 45
era do lápis e papel. Os conteúdos trabalha- das às atividades curriculares se essas ativi-
dos e as atividades desenvolvidas são cen- dades continuarem explorando somente o
trados no uso do lápis e papel para represen- lápis e papel para representar e explicitar os
tar e explicitar os conhecimentos do aluno. conhecimentos do aluno. As TIC oferecem
Os estudos mais recentes usando laptops novas possibilidades que são bastante inte-
na situação 1-a-1, ou seja, o acesso pleno às ressantes e que favorecem a integração às
TIC, têm mostrado que, em geral, os laptops atividades curriculares.
têm sido utilizados para o acesso imediato
à informação, basicamente substituindo as Primeiro, as atividades, os projetos que o
fontes impressas, como o livro; para a pro- aluno desenvolve usando as TIC podem ex-
dução de texto, em grande parte, substituin- plorar novos letramentos e, portanto, as fa-
do o lápis e papel; ou para armazenar in- cilidades que as tecnologias oferecem como
formação, como repositório de informação o uso da imagem, do som, da animação.
digital, substituindo os fichários. Nenhuma Além disso, explorar aspectos hipermidiá-
dessas “inovações” está relacionada com al- ticos, permitindo navegar na informação,
terações do processo de ensinar e aprender. quebrando a estrutura linear e sequencial
O uso das TIC simplesmente automatiza ve- da informação impressa.
Segundo, como fonte inesgotável de infor- e projetos que os alunos desenvolvem são si-
mação sobre praticamente todas as áreas do tuações ideais para promover conversações
conhecimento. Essa pluralidade de olhares e sobre as ações que são realizadas, e sobre
opiniões cria a oportunidade de lidar com as teorias, explanações e ideias que permitem
incertezas, com os questionamentos, com discutir as implicações das ações.
os modelos incompletos ou imprecisos, que
podem ser depurados com a ajuda das tec- Finalmente, as atividades usando os recur-
nologias, dos colegas, do professor ou de es- sos da Web permitem explorar, além de con-
pecialistas. teúdos, os contextos onde esses conteúdos
foram desenvolvidos e como eles podem au-
Terceiro, a presença das TIC, principalmente xiliar na aprendizagem. O contexto é o local
das tecnologias móveis, cria condições para onde as conversações ocorrem. Porém, em
repensar as teorias de vez de ser fixo, ele é
aprendizagem para O contexto é o local onde moldado pelo diálo-
englobar as carac- as conversações ocorrem. go continuamente
terísticas da era da Porém, em vez de ser fixo, negociado entre as
mobilidade, entendi- pessoas e a tecnolo-
ele é moldado pelo diálogo
da não só pelo fato gia. A aprendizagem 46
continuamente negociado
de usar os laptops não só ocorre em um
e os celulares, mas
entre as pessoas e a determinado contex-
também pela mobi- tecnologia. to, como também ela
lidade das pessoas e gera novos contextos
da informação. Shar- por meio da intera-
ples, Taylor e Vavoula (2007) propõem uma ção contínua que acontece com o uso das
teórica que explica a aprendizagem para a TIC. As salas de aulas tradicionais são fun-
era da mobilidade, como processos de vir a dadas na ilusão de contextos estáveis, uma
conhecer por meio de conversações entre vez que são localizadas em um espaço fixo,
múltiplos contextos de pessoas e tecnolo- com recursos comuns, com alguns profes-
gias interativas pessoais. As conversações sores, e um currículo que permite montar
são necessárias para que as pessoas possam bases comuns a serem mantidos no dia a
se informar sobre as informações de que dia. Se algumas dessas características são
outras pessoas dispõem, para externalizar removidas, como deve acontecer no caso da
o que as pessoas compreendem, e com isso aprendizagem na era da mobilidade e no uso
pensar sobre as interações e reciprocamente de currículos flexíveis, então deve ser previs-
construir novas conversações. Os problemas ta a criação de ilhas temporárias de contex-
tos relativamente estáveis. Esses contextos tado presente desde os primeiros projetos
devem ser previstos, devem ser bem defi- desenvolvidos e tem se mantido nos pro-
nidos e flexíveis (LUCKIN et al., 2005). Por jetos atuais, como o Programa UCA de im-
exemplo, os problemas ou projetos a serem plantação de laptops educacionais em cerca
trabalhados pelos alunos constituem parte de 300 escolas. Esse é um aspecto positivo,
do contexto. No entanto, eles não devem se considerarmos que outros países não têm
emergir espontaneamente, mas devem ser perseguido esse objetivo com tanta clareza.
definidos em função do interesse do aluno e
da intenção pedagógica do professor, e ajus- Os resultados conseguidos até o momento
tados para que o nível de dificuldade esteja também podem ser vistos como positivos
de acordo com a zona proximal de cada alu- pelo fato de que, ao longo desses anos, os
no (ou coletivamente, da classe). projetos de formação de educadores para
o uso das TIC possibilitaram a formação de
A passagem do currículo da era do lápis e muitos educadores, praticamente de todas
papel para o currículo da era digital não é as regiões do país. Em qualquer localidade,
simples de ser realizada e implica uma sé- mesmo as mais remotas, é possível encon-
rie de mudanças no espaço e no tempo da trar um professor que passou pelo processo
escola e, ainda, em novos papéis que os pro- de formação do Proinfo ou Proinfo-Integra- 47
fessores, os gestores, os alunos e os pais de- do. Programas como o Salto para o Futuro
vem assumir. Certamente essas mudanças têm tido um papel fundamental na conti-
não acontecem pelo simples fato de as TIC nuidade da formação desses educadores, no
serem inseridas na sala de aula. Elas criam sentido de que eles podem estar em contato
condições para uma educação coerente com com especialistas da área, conhecer o que
as necessidades da era digital e da mobilida- está sendo gestado e as boas práticas que
de. A mudança em si está nas mãos da so- são desenvolvidas.
ciedade e, mais especificamente, nas mãos
dos educadores. Embora tenhamos o lado positivo da ques-
tão, o fato é que ainda não atingimos os
objetivos relacionados à melhoria das prá-
Reflexões e novas tendências ticas pedagógicas nem a integração das TIC

O uso das TIC na educação nas escolas pú- às atividades curriculares de sala de aula.

blicas no Brasil tem avançado e tem manti- Como foi mencionado nos tópicos acima,

do um objetivo único que é a melhoria do esse é um processo difícil, que requer tem-

processo ensino e aprendizagem que acon- po. Vale mencionar que essa dificuldade não

tece na sala de aula. Esse objetivo tem es- é restrita ao nosso país nem ao nosso sis-
tema público de educação, uma vez que a confrontadas com atividades como leitura
integração das TIC às atividades curriculares on-line, navegação por hipertextos ou in-
não aconteceu de maneira sistemática nas teração via telecomunicação móvel. As TIC
escolas particulares, nem mesmo ocorreu introduzem novos modos de comunicação,
em outros países. As escolas particulares permitem a expressão do pensamento por
que dispõem dos recursos tecnológicos, na modalidades como as da escrita, imagem,
proporção adequada para seus alunos, não sonora, tátil e a combinação dessas modali-
necessariamente utilizam esses recursos in- dades, no que tem sido conhecido como os
tegrados às atividades curriculares. O mes- diferentes tipos de letramentos: digital (uso
mo acontece em países com alto índice de das tecnologias digitais ou das TIC), visual
desenvolvimento econômico, social e tec- (uso das imagens), informacional (busca crí-
nológico, como mostram os estudos reali- tica da informação) – ou os múltiplos letra-
zados pela Organização para a Cooperação mentos, como tem sido tratado na literatu-
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por ra (KRESS, 2000).
exemplo, em países como a Finlândia, que
atribuem grande importância às TIC e ao Especificamente com relação à mudança do
seu papel no desenvolvimento do sistema currículo e às questões relacionadas com os
educativo, os alunos não apresentam índices letramentos, entendo que o Salto para o Fu- 48

de utilização das TIC melhores do que em paí- turo, que trabalha com inovações tecnológi-
ses mais pobres, estando também os professo- cas e com diferentes mídias, tem um papel
res ainda longe de incluírem os computadores importante no fomento e na disseminação
nas suas rotinas de trabalho diárias, em clas- dessas ideias. É fundamental poder incen-
se... (GEPE, 2008, p. 29). tivar ações de mudanças curriculares, bem
como a divulgação de atividades curricula-
Assim, temos diversos desafios a serem ven-
res que não são restritas ao uso do lápis e
cidos. Um, bastante complicado, está re-
papel. A televisão e as novas mídias, que se-
lacionado com a mudança do currículo da
rão facilmente agregadas à TV Digital sendo
era do lápis e papel para a era digital. Outro
implantada, poderão facilitar esse trabalho
desafio diz respeito ao acelerado desenvolvi-
e, com isso, contribuir para que essas mu-
mento das tecnologias. A presença das TIC
danças sejam mais rapidamente implanta-
em nossa cultura contemporânea cria novas
das. Essa pode ser uma agenda importante e
possibilidades de expressão e comunicação.
desafiadora para os próximos anos do Salto
A leitura e escrita tradicionais estão passan-
para o Futuro!
do por constantes questionamentos quando
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nal of Technology, Learning, and Assessment,

50
4.4 Vinte anos de mudanças tecnológicas
profundas e superficiais na educação

José Manuel Moran 22

Quando foi lançado o programa Salto para o o computador pessoal, ainda muito caro e
Futuro, eu estava participando da criação do pouco conectado. A Internet estava escon-
Projeto Escola do Futuro da Universidade de dida em poucas universidades, com acesso
São Paulo. Imaginava, no começo dos anos lento, no modo texto, cheio de comandos
1990, que em vinte anos teríamos uma edu- complicados. Ainda não existiam os navega-
cação muito mais flexível, aberta, diversifi- dores gráficos como o Explorer ou o Firefox.
cada, semipresencial, focada de verdade no Mas já prevíamos o grande potencial que a
aluno. Provavelmente os criadores do Salto rede conectada poderia trazer para todas as
para o Futuro também tinham as mesmas atividades humanas.
51
expectativas.
Pessoalmente, passei da máquina de escre-
Do ponto de vista teórico, as ideias se man- ver a um computador primitivo, para jogos
tiveram coerentes. Mas olhando as mudan- com cartuchos comprados para meu filho e
ças reais, constatamos que avançamos muito onde experimentei os primeiros programas
menos. Praticamente se mantém a mesma de texto. No começo dos anos 1990, con-
escola que existia, sua organização curricular segui o meu primeiro computador pessoal
pouco mudou e o professor continua falan- financiado, um 386, com uma conexão ins-
do muito, ainda no centro. O mundo mudou tável à Internet. Em 1994, fiz a grande des-
muito, os processos em todos os campos são coberta da Internet gráfica, no Mosaic, que
muito mais complexos, com interação pro- acessava imagens e sons.
funda entre o presencial e o digital.
O passo seguinte foi poder utilizar um labo-
Há vinte anos não existia o Google, o You- ratório conectado à Internet para fazer pes-
Tube, redes sociais, ipods, tablets. Estáva- quisa e dar aulas. O laboratório em rede me
mos passando da televisão e do vídeo para permitiu experimentar a integração da sala

22 Professor de Novas Tecnologias da USP (aposentado) e Diretor de Educação a Distância da Anhanguera


Educacional.
de aula com o mundo digital. Nele orientava tucional no ensino superior, principalmen-
os alunos em pesquisa de temas, discussão te na formação dos professores, e tivemos
pela Internet, página pessoal como espaço que aprender a incorporar as tecnologias
digital de continuação da aprendizagem. em modelos educacionais que pudessem
atender a muitos alunos em lugares distan-
As tecnologias me ajudaram a ampliar o tes. Participei de muitas avaliações de insti-
conceito de ensinar e de aprender de forma tuições superiores na implantação dos seus
mais colaborativa, com ferramentas sim- programas de educação a distância. E essa
ples como listas de discussão, páginas de temática também se refletiu em algumas sé-
grupos. As tecnologias complementavam o ries do Salto para o Futuro.
que fazíamos em sala de aula, ampliavam a
sua abrangência geográfica e temporal, mo- Em 2005, participei, junto com a Professora
tivavam mais os alunos, embora o modelo Elizabeth Almeida, da organização dos prin-
de organização curricular se mantivesse in- cipais textos sobre tecnologias que o progra-
tocado. Pouco depois, em 1997, experimen- ma Salto para o Futuro produziu como apoio
tei a modalidade semipresencial na pós- e que deram origem ao livro Integração das
graduação, liberando, na minha disciplina tecnologias na Educação23.
regular presencial, os alunos da participação 52
de uma parte das aulas para serem feitas a São quatro as áreas do livro que englobam
distância. Quando orientei um chat a distân- as dimensões mais importantes da discus-
cia com toda a classe, numa viagem pessoal são das tecnologias na educação:
longe dos alunos, consegui sentir o incrível
potencial das tecnologias em rede. A experi- 1. Tecnologia, currículo e projetos
ência do modelo semipresencial apontou as
múltiplas possibilidades de organização de 2. Tecnologias na escola

processos de ensino e aprendizagem muito


mais flexíveis e dinâmicos, adaptados às ne- 3. Tecnologias audiovisuais: TV e vídeo

cessidades dos alunos, dos professores e das nas escolas

organizações.
4. Tecnologias na educação de professores

Ao mesmo tempo, o Brasil ingressava na a distância

educação a distância de forma mais insti-

22 Esse livro está disponível no formato digital em http://tvescola.mec.gov.br/images/stories/publicacoes/salto_


para_o_futuro/livro_salto_tecnologias.pdf
Tecnologia, currículo e rede. Temos as tecnologias mais organiza-

projetos das, como os ambientes virtuais de apren-


dizagem – Moodle e semelhantes – que per-
A primeira área relaciona tecnologias e cur- mitem que tenhamos um certo controle de
rículo, mostrando como a escola pode or- quem acessa o ambiente e do que precisa
ganizar suas atividades de forma mais ati- ser feito nas etapas de cada curso. Além des-
va, participativa, principalmente através de ses ambientes, há um conjunto de tecnolo-
projetos individuais e grupais. As tecnolo- gias, que denominamos popularmente de
gias são apoio, meios, recursos para ensinar 2.0, que são mais abertas, fáceis e gratuitas,
e aprender. Elas podem facilitar a implanta- como blogs, podcasts, wikis, twitter… Nes-
ção de um currículo inovador, mais flexível, ses espaços, os alunos podem ser protago-
personalizado, multiespacial e multitempo- nistas dos seus processos de aprendizagem.
ral. As tecnologias são importantes para que E isso facilita a aprendizagem horizontal,
os alunos em sala de aula e em outros espa- isto é, dos alunos entre si, das pessoas em
ços, dentro e fora da escola, possam fazer redes de interesse. A combinação dos am-
pesquisa juntos e isoladamente, troquem bientes mais formais com os informais, feita
os resultados, produzam textos ou vídeos de forma integrada, nos permite a necessá-
juntos e os publiquem na Internet. O Web- ria organização dos processos com a flexibi- 53
quest é uma das formas mais populares de lidade da adaptação ao perfil de cada aluno.
concretização do trabalho com projetos na
Internet, tanto na educação básica como su- O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 –
perior e sua utilização foi debatida em várias gratuitas, colaborativas e fáceis – façam
ocasiões. parte do projeto pedagógico da instituição
para serem incorporadas como parte inte-
Num sentido mais amplo, informatizar é grante da proposta de cada série, curso ou
mais do que colocar computadores. É co- área de conhecimento. Quanto mais a insti-
nectar todos os espaços e elaborar políticas tuição incentiva o trabalho com atividades
de capacitação dos professores, gestores, colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas
funcionários e alunos para a inserção das se tornarão importantes. Podem ser utiliza-
tecnologias no ensino e aprendizagem de das também para produzir conteúdos inte-
forma inovadora, coerente e enriquecedora. ressantes e deixar para o professor o papel
Os projetos pedagógicos precisam refletir de organização das atividades, de discussão,
essa integração horizontal e vertical com o orientação, apresentação dos resultados e
currículo. As tecnologias digitais facilitam a sua publicação pelos alunos. Com boas pro-
pesquisa, a comunicação e a divulgação em postas no começo de cada semestre, as pos-
sibilidades de motivação dos alunos e pro- ou se são mais uma imposição de alguns
fessores aumentarão, sem dúvida. governantes de plantão. Há uma tensão en-
tre os resistentes e os deslumbrados, entre
os que só veem nelas problemas e os que
Tecnologias na escola
acreditam em soluções rápidas. As questões

A segunda parte do livro foca mais as tecno- apontadas pelos telespectadores ao vivo es-

logias na escola, desde as simples para au- pelham mais os medos, as dificuldades e a

xílio do professor até as mais complexas na falta de infraestrutura do que a comprova-

Web. Há muita ênfase, principalmente nos ção de uma adoção rápida e generalizada.

primeiros dez anos do Salto para o Futuro,


na discussão da contribuição das tecnolo- Há diversas tecnologias para a sala de aula,

gias para melhorar o ensino e a aprendiza- como apoio ao professor, do PowerPoint até

gem. Há críticas das tecnologias, do des- as lousas digitais, com todos os recursos

lumbramento pelos recursos de ponta, pelas interativos. Em muitas discussões do Salto

expectativas irreais de que os equipamentos o foco é o laboratório de informática. Pro-

resolvam os problemas educacionais. Outras curou-se mostrar a utilização de softwares

críticas são ao custo elevado da sua implan- para as diversas áreas e níveis de conheci-
mento: programas educacionais, comer- 54
tação na escola, num país com tantas carên-
cias. Há também uma discussão constante ciais e jogos. A Internet estava começando

da resistência dos gestores e professores à e muitos laboratórios não tinham conexão

mudança, da dificuldade de adoção de novas em rede. Aos poucos, a discussão se cen-

metodologias e recursos, da ineficiência de tra mais na utilização da Internet na escola

muitas capacitações não transformadas em para pesquisa, comunicação, produção, pu-

práticas diferenciadas, por muitos fatores. blicação. Há debates sobre os blogs como

Outras críticas frequentes são dirigidas ao recursos importantes de apoio à escrita, de

deslumbramento de algumas secretarias de acompanhamento da evolução do aluno, de

educação e instituições escolares diante das compartilhamento de ideias. Outra questão

novidades, dos investimentos pesados em que ganha relevância é a colaboração, atra-

equipamentos com a expectativa de obter vés da escrita colaborativa, o wiki ou, mais

resultados no curto prazo, com resultados recentemente, o Google Docs, que permi-

frustrantes. tem compartilhar textos e vídeos em vários


níveis. Uma outra discussão recorrente é

Em momentos diferentes do Salto para o sobre os fóruns e listas na Internet, sobre

Futuro aparece a discussão sobre se as tec- as formas de mediação de um debate virtu-

nologias contribuem para a aprendizagem, al. Bem mais recentemente a discussão foca
também as redes sociais, como o Orkut e o com o computador e a Internet e deixamos
Facebook, suas vantagens e desvantagens de lado a televisão e o vídeo, como se já esti-
na educação. Também merecem destaque vessem ultrapassados, não fossem mais tão
as discussões sobre as ferramentas de co- importantes ou como se já tivéssemos esgo-
municação em tempo real como o MSN e tado seu potencial educativo.
o Twitter, que de um lado agilizam a escri-
ta, mas de outro fomentam uma linguagem As linguagens da TV e do vídeo respondem à
mais coloquial e com menos atenção à nor- sensibilidade dos jovens e da grande maio-
ma culta, o que perturba muitos professo- ria da população adulta. São dinâmicas, di-
res. Há sempre uma tensão entre o uso des- rigem-se antes à afetividade do que à razão.
sas ferramentas para entretenimento e os As crianças e os jovens leem o que podem
ruídos que elas provocam quando são trazi- visualizar, precisam ver para compreender.
das para o contexto Toda a sua fala é
escolar. Em alguns mais sensorial-visu-
As linguagens da TV e
momentos a discus- al do que racional e
são se centra entre
do vídeo respondem à abstrata. Leem nas
proibir ou permitir sensibilidade dos jovens múltiplas telas que
na sala de aula as e da grande maioria da utilizam: da TV ao 55

tecnologias móveis, população adulta. São tablet.


como o celular, suas
dinâmicas, dirigem-se
vantagens e desvan- Os meios de comu-
antes à afetividade do que à
tagens para alunos nicação audiovisuais
e professores. São
razão. desempenham, indi-
muitos os recursos retamente, um papel
e eles evoluem rapi- educacional relevan-
damente, suscitando polêmicas complexas, te. Passam-nos seguidas informações, inter-
com muitas questões ainda em aberto. pretadas; mostram-nos modelos de compor-
tamento; ensinam-nos linguagens coloquiais
e multimídia e destacam alguns valores em
Tecnologias audiovisuais: TV detrimento de outros.
e vídeo nas escolas
A escola desvaloriza as linguagens audiovi-
Outra dimensão importante do livro Integra- suais como negativas para o conhecimento.
ção das tecnologias na Educação é a da TV e Ignora a televisão, o vídeo; exige somente o
do vídeo nas escolas. Estamos deslumbrados desenvolvimento da escrita e do raciocínio
lógico. É fundamental que a criança aprenda Além do vídeo há uma preocupação, em al-
a equilibrar o concreto e o abstrato, a pas- guns momentos, com a televisão como meio
sar da espacialidade e contiguidade visual de comunicação, que precisa ser conhecida,
para o raciocínio sequencial da lógica falada analisada e trazida para debate na escola
e escrita. Não se trata de opor os meios de pela sua sedução, sua força em mostrar va-
comunicação às técnicas convencionais de lores, situações e problemas que merecem
educação, mas de integrá-los, de aproximá- ser mostrados e debatidos de forma trans-
los para que a educação seja um processo versal por todas as áreas de conhecimento.
completo, rico, estimulante. A escola precisa Com a popularização dos celulares, os alu-
observar o que está acontecendo nos meios nos têm muito mais recursos para construir
de comunicação e mostrar isto na sala de seus vídeos, contar histórias, expressar-se
aula, discutindo com os alunos, ajudando-os com imagens, palavras e música.
a que percebam os aspectos positivos e ne-
gativos das abordagens sobre cada assunto. Precisamos, em consequência, estabelecer
pontes efetivas entre educadores e meios de
Os vídeos facilitam a motivação, o interesse comunicação. Educar os educadores para
por assuntos novos. Os vídeos são dinâmi- que, junto com os seus alunos, compreen-
cos, contam histórias, mostram e impactam. dam melhor o fascinante processo de troca, 56
Facilitam o caminho para níveis de compre- de informação-ocultamento-sedução, os có-
ensão mais complexos, mais abstratos, com digos polivalentes e suas mensagens. Educar
menos apoio sensorial como os textos filo- para compreender melhor seu significado
sóficos, os textos reflexivos. dentro da nossa sociedade, para ajudar na
sua democratização, onde cada pessoa pos-
Os vídeos também são um grande instru- sa exercer integralmente a sua cidadania.
mento de comunicação e de produção. Os
alunos podem criar facilmente histórias a
Tecnologias na educação a
partir do celular, do computador, das câma-
distância
ras digitais e divulgá-los imediatamente em
blogs, páginas web, portais de vídeos como Vários programas do Salto para o Futuro
o YouTube. mostraram que a educação a distância está
se transformando de uma modalidade com-
Alguns programas do Salto destacam a uti- plementar ou especial para situações especí-
lização do vídeo na escola, como motivação, ficas em referência para uma mudança pro-
ilustração, conteúdo curricular, como espa- funda na educação como um todo. É uma
ço de criação de histórias e como avaliação. opção importante para aprender ao longo
da vida, para a formação continuada, para Depois de uma década de experimentação,
aceleração profissional, para conciliar estu- o ensino superior a distância encontra-se
do e trabalho. numa fase de crescimento intenso, de con-
solidação pedagógica e de intensa regulação
Ainda há resistências e preconceitos e ainda governamental, com diretrizes bem especí-
estamos aprendendo a gerenciar processos ficas.
complexos de EAD, mas aumenta a percep-
ção de que um país do tamanho do Brasil A EAD é cada vez mais complexa, porque está
só pode conseguir superar sua defasagem crescendo em todos os campos, com mode-
educacional através do uso intensivo de tec- los diferentes, rápida evolução das redes,
nologias em rede, da flexibilização dos tem- mobilidade tecnológica, pela abrangência
pos e espaços de aprendizagem, da gestão dos sistemas de comunicação digitais. EAD
integrada de modelos presenciais e digitais. tem significados muito variados, que res-
pondem a concepções e necessidades distin-
A educação a distância está modificando tas. Denominamos EAD à educação continu-
todas as formas de ensino e aprendizagem, ada, ao treinamento em serviço, à formação
inclusive as presenciais, que utilizarão cada supletiva, à formação profissional, à qualifi-
vez mais metodologias semipresenciais, fle- cação docente, à especialização acadêmica, 57
xibilizando a necessidade de presença físi- à complementação dos cursos presenciais.
ca, reorganizando os espaços e tempos, as
mídias, as linguagens e os processos. Outro Além de ter significados, existem modelos
avanço é a inserção significativa das univer- bem diferentes que respondem a concep-
sidades públicas na EAD, através da Univer- ções pedagógicas e organizacionais distin-
sidade Aberta do Brasil. tas. Temos desde modelos autoinstrucionais
a modelos colaborativos; modelos focados
Numa sociedade cada vez mais conectada, no professor (teleaula), no conteúdo, a ou-
ensinar e aprender podem ser feitos de for- tros centrados em atividades e projetos.
ma muito mais flexível, ativa e focada no Temos modelos para poucos alunos e mo-
ritmo de cada um. As tecnologias móveis delos de massa para dezenas de milhares
desafiam as instituições a sair do ensino de alunos. Temos cursos com grande inte-
tradicional em que o professor é o centro, ração com o professor e outros com baixa
para uma aprendizagem mais participativa interação. E não é fácil pensar em propos-
e integrada, com momentos presenciais e tas que atendam a todas estas situações tão
outros a distância, mantendo vínculos pes- diferentes. Há muito preconceito contra a
soais e afetivos, estando juntos conectados. educação a distância na formação dos pro-
fessores, e também existem cursos de bai- ro de equipamentos tecnológicos em torno
xa qualidade, mas, aos poucos, a educação do professor: lousas digitais, computadores
a distância avança e invade todos os seg- com projetores multimídia... No geral, isso
mentos educacionais. Com tantos recursos, significou manter o professor como o cen-
estamos caminhando para a consolidação tro, aumentou o formato de apresentação
de muitas formas de ensinar e de aprender como o preferido (professor PowerPoint),
mais flexíveis, abertas, personalizadas e co- sem mexer significativamente no formato
laborativas, aproveitando o melhor do pre- das aulas e dos currículos. A instalação de
sencial e do digital. laboratórios permitiu que os alunos desen-
volvessem algumas atividades de pesquisa,
comunicação e pro-
Conclusão
dução, mas em ge-
A inserção na educação das
Olhando esses mais ral como atividades
tecnologias conectadas é complementares,
de vinte anos de Sal-
to para o Futuro, de
um caminho importante sem mexer na estru-

evolução tecnoló- para preparar as pessoas tura curricular.

gica e pessoal, po- para o mundo atual, para


Por outro lado, cons- 58
demos concluir que uma sociedade complexa,
houve mudanças tatamos mudanças
que exige domínio das
profundas e tam- mais profundas: a
linguagens e recursos pesquisa se tornou
bém superficiais.
Mudanças profun-
digitais. fácil, incorporada

das, porque pode- ao cotidiano escolar.

mos aprender em Há uma integração

qualquer lugar, a qualquer hora e de formas crescente entre atividades presenciais e di-

muito diferentes, utilizando as tecnologias gitais, muitos cursos são semipresenciais.

mais convenientes para cada momento. A Há um uso intensivo de recursos para dis-

forma mais diferente é aprender colabora- ponibilizar conteúdo, atividades, interação

tivamente, com o parceiro, com o colega, em ambientes virtuais. A escola se comuni-

com o próximo e distante, com o igual e o ca mais com o mundo e traz o mundo para

diferente, estando juntos e estando conecta- a sala de aula. Nos projetos mais avança-

dos em rede. dos (um computador por aluno) a escola se


transforma em espaço multidimensional,

Houve, infelizmente, mudanças muito mais com diferentes usos do espaço, com o aluno

aparentes do que reais. Aumentou o núme- muito mais ativo e produtivo.


A inserção na educação das tecnologias co- de debates e publicações virtuais. Enfim, da
nectadas é um caminho importante para variada oferta de serviços digitais.
preparar as pessoas para o mundo atual,
Caminhamos rapidamente para poder apren-
para uma sociedade complexa, que exige do-
der em qualquer lugar, a qualquer hora e de
mínio das linguagens e recursos digitais. Em
muitas formas diferentes. Aprender quando
educação não podemos esperar que todos os
for conveniente, com ou sem momentos pre-
outros problemas sejam equacionados, para
senciais, mas sempre com a possibilidade de
só depois ingressar nas redes. Escolas não
estarmos juntos, de aprender colaborativa-
conectadas são escolas incompletas, mes-
mente e de construir roteiros pessoais. Com
mo quando didaticamente avançadas. Alu-
a riqueza de mídias, tecnologias e linguagens,
nos sem acesso contínuo às redes digitais
podemos integrar conteúdo, interação, pro-
estão excluídos de uma parte importante da
dução tanto individual como grupal do modo
aprendizagem atual: do acesso à informação
mais conveniente para cada aluno e para todos
variada e disponível de forma online, da pes-
os participantes. Essas discussões serão pautas
quisa rápida em bases de dados, bibliotecas
frequentes dos próximos vinte anos do Salto
digitais, portais educacionais. Estão fora da
para o Futuro.
participação em comunidades de interesse,
59
4.5 Salto para o Futuro: 20 anos

Alberto Tornaghi 24

O Salto para o Futuro completou vinte anos, se comunica. Mas tudo e todos têm funcio-
em 2011. Vinte anos de experiências, vivên- nado, e muito bem, ao longo de vinte belos
cias, aprendizagens... Merece parabéns. anos. Anos que ligam os sonhos do passado
Quem mesmo? Seria o “Salto” em si, esse às realizações do presente e a novos sonhos
que nasceu programa de TV e que soube ser de futuro. Tudo isso junto formou essa rede
mais do que isso, tornou-se também uma que soube crescer, conectando escolas e
imensa rede de educadores, rede viva e mu- gente dos mais diversos cantos e encantos
tante? Sim, ele mesmo, este programa-rede desse país.
que é composto por quem o fez em cada 60
momento e em cada um de seus aspectos. Para celebrar o muito que aprendemos e en-

O que precisamos celebrar é essa rede he- sinamos ao longo desse tempo, lembrando

terogênea, que reúne seres humanos e tec- de alguns e, com certeza, esquecendo de

nologias de diversos tipos. Os profissionais muitos, convido minhas caras leitoras e os

trazem competências e especialidades varia- caros leitores a dar, junto comigo, um salto

das: educadores, técnicos de TV, jornalistas, para o passado. Nada como o olhar volta-

diretores de TV e de escolas entre tantos do ao passado para nos ajudar a entender o

outros. As tecnologias também são muitas presente e construir nossos saltos para e no

e não devem ser negligenciadas: quando um futuro. Vamos, então, ao passado em bus-

transponder25 para de funcionar, gera dor de ca do que devemos celebrar no presente e

cabeça para muita gente e ninguém mais construir no futuro.

24 Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESA; Coordenador Pedagógico da Oi


Kabum! Escola de Arte e Tecnologia do Rio de Janeiro; Especialista para a área de Ciências Naturais do Salto para o
Futuro de 1992 a 1998; Bacharelado e Licenciado em Física pela PUC-Rio; MSc. e Dr. em Engenharia de Sistemas pela
Coppe/UFRJ.
25 Transponder (corruptela de transmitter-responder) é um dispositivo que recebe, amplifica e retransmite
sinais de rádio ou TV.
Um pouco de passado, um geográfica do que se produzia para forma-

pouco de história ção docente de qualidade.

Começo este mergulho na história pelo con- Fomos convidados, eu e o Prof. Carlos Hi-
vite que me foi feito para participar do Salto, roo Saito27, a participar do projeto escreven-
ainda no início dos anos 1990. do o texto para a área de Ciências Naturais.
O convite vinha com a perspectiva de dar à
Pouco antes da criação do Salto, a Funda- área de ciências a perspectiva de aprendiza-
ção Roquete Pinto havia desenvolvido, em gem ativa com que trabalhávamos no Espa-
parceria com a Organização dos Estados ço Ciência Viva.
Americanos (OEA), o projeto “Onda Viva, as
Alfabetizações na Escola”. O projeto previa a Este projeto contribuiu para inocular na
criação de um sistema multimeios de apoio Fundação Roquette Pinto (FRP) a perspecti-
à formação docente, voltado para professo- va de trabalho integrado em diversas mídias.
res das séries iniciais, e reuniu uma miría- Boa parte dos profissionais da FRP que fo-
de de profissionais de diversas áreas26. Foi ram responsáveis por esta produção vieram
criado um livro (BRASIL, 1990), com textos a trabalhar no Salto em anos subsequentes.
apresentando perspectivas para o ensino em Para mim, nasciam ali parcerias diversas 61
cada área do conhecimento que compunha que deram muitos frutos, entre eles, a parti-
o currículo básico de uma escola voltada cipação no Salto para o Futuro.
para as primeiras séries do Ensino Funda-
mental. Esses textos serviriam de base para
a criação de uma série de programas para TV Nem tão simples assim
e outra de programas de rádio.
Mudanças de governo, naqueles anos politi-
camente atribulados no Brasil, interrompe-
Era um projeto ousado para seu tempo,
ram a produção do “Onda Viva”. O livro foi
já buscando trabalhar sobre o que veio a
publicado, mas levou muitos anos até que
se chamar convergência de mídias. Antes
seus exemplares chegassem às mãos de pro-
mesmo do vislumbre do que viria a ser a In-
fessores de escolas públicas. Algumas séries
ternet, o projeto buscava usar o que podia
de TV e de rádio chegaram a ser produzidas,
trazer maior amplitude para a distribuição

26 Adoraria nomear aqui cada um dos parceiros deste trabalho, mas isso faria o texto longo e pouco
interessante para o leitor. Nomear alguns seria para lá de injusto. Fica o agradecimento explícito a cada um deles
por ter contribuído para esta produção que é uma das sementes do Salto para o Futuro.
27 O professor Saito, hoje pesquisador da UNB na área de ecologia, e eu fazíamos parte da coordenação
coletiva do Espaço Ciência Viva, o primeiro museu interativo de Ciências, Matemática e percepção do Rio de Janeiro.
mas só muitos anos depois. Antes que as perimentar e vivenciar novos olhares. Era a
séries de rádio e TV do “Onda Viva” fossem observação da prática dos educadores em
produzidas, a Fundação Roquette Pinto deu formação que orientava e definia as inter-
início à produção do Jornal do Professor, a venções dos formadores.
primeira experiência de série regular de pro-
gramas de TV que se transformou no Salto Depois de muitos contatos, mais uma vez
para o Futuro (MENDONÇA, 2009). O progra- era convidado a participar do programa.
ma visava apoiar a formação continuada de Agora já se chamaria “Um Salto para o Futu-
docentes que atuavam nas séries iniciais da ro” e previa a participação de cada especia-
educação fundamental, assim como a com- lista em um programa semanal dedicado à
plementação da formação inicial de alunos sua área. Em conversa (amistosa e provoca-
de programas de formação de professores tiva) com a Prof.ª Heloisa Melhado28, típica
para as séries iniciais. Buscava formação em de quem participou de uma experiência que
grandes números, usando a TV como ele- resultou em muitas aprendizagens, ela me
mento de disseminação de conhecimento e desafiou: “Você não é cientista? Não ensina
práticas educativas de sucesso. Ciências pela prática de fazer ciências? Não
é esse o cerne da atuação de vocês no Espa-
Fui convidado a participar deste programa ço Ciência Viva? Como pode afirmar que não 62
indicado por profissionais que participaram funciona algo que nunca experimentou?” O
da produção do “Onda Viva”. Declinei do diálogo permanece vivo em minha memória
primeiro convite (e do segundo e do tercei- como se ocorrido ontem. Foi um chute ami-
ro...) porque não acreditava que seria pos- go e certeiro em minhas certezas precon-
sível uma prática de formação docente a cebidas. Sem argumentos e curioso com a
distância. Acreditava que uma tal formação segurança de minha amiga, aceitei o convite
de qualidade exigia presença, olho no olho, com meus argumentos desfeitos. Fui experi-
toque, a possibilidade de percepção das difi- mentar minha primeira vivência em educa-
culdades dos formandos expressos nos ges- ção a distância.
tos e no olhar. Minha prática de então com
formação de educadores estava fortemente
assentada em experiências presenciais, em Primeiros passos do Salto
que os formandos expressavam suas dificul-
O programa, em suas primeiras séries, fo-
dades no próprio ato de lidar com objetos
cava a formação continuada de professores
e experimentos, com sua forma ativa de ex-

28 A profª Heloisa Melhado integrou a Coordenação Técnico-Pedagógica do projeto Onda Viva junto com Zilda
Benazio Lenz e Virginia Primo.
em serviço, além de dar apoio à formação ção do programa. Em média, a cada progra-
de alunas e alunos de programas de forma- ma, respondíamos a cerca de uma dezena de
ção docente para as primeiras séries do En- perguntas ao vivo e a outras tantas por tele-
sino Fundamental, o então chamado Curso fone ou fax. Por telefone, os cursistas parti-
Normal. Para cada área do conhecimento cipavam do programa ao vivo, apresentando
realizava-se um programa semanal: Língua suas questões e inquietações (TRINDADE,
Portuguesa, Estudos Sociais, Matemática, 1996). Eu começava a experimentar a inte-
Ciências Naturais e Artes. ração a distância, via TV, em formação do-
cente com surpreendente qualidade, o que
Cada programa abordava um tema sobre o me parecia impossível até aquele momento.
qual era produzido um texto para ser dis-
tribuído previamente No início do Salto para
a educadores que as- No início do Salto para o Futuro, os professo-
sistiam ao programa o Futuro, os professores res cursistas apresen-
em telessalas29, onde cursistas apresentavam tavam perguntas e
se fazia o que cha- dúvidas sobre os te-
perguntas e dúvidas sobre
mávamos de recep- mas dos programas,
os temas dos programas, 63
ção organizada. Uma que eram escolhidos
equipe, reunindo dois
que eram escolhidos de de forma centraliza-
especialistas de cada forma centralizada, pela da, pela equipe de
área, produzia os tex- equipe de especialistas da especialistas da TVE.
tos e participava dos TVE. Com o passar do
programas ao vivo. tempo começaram a
Nesses se fazia uma chegar sugestões de
breve apresentação do tema, apresentavam- atividades e propostas de como trabalhar
se alguns vídeos ilustrativos e respondiam- os conteúdos; alguns trabalhos eram envia-
se às questões vindas do campo. Os cursis- dos por correio para que os comentássemos
tas liam e discutiam os textos em conjunto, nos programas ao vivo. Sim, havia interação
sob a orientação de um dinamizador, e pre- e intensa; os professores cursistas começa-
paravam questões para serem apresentadas vam, na prática, a interferir na seleção de te-
e respondidas ao vivo, ou enviadas por fax mas e nas orientações dos programas. Falta
para serem respondidas após a apresenta- de “olho no olho” sentíamos nós, no estúdio

29 Telessala é “um ambiente de recepção organizada, que possibilita a criação de relações recíprocas para
debates: as condições para leitura crítica dos programas de TV, nos quais som e imagem, acoplados a outros
equipamentos tecnológicos, possibilitam informações, conhecimentos e trocas de experiências entre os cursistas”
(SANTA CATARINA, 2009).
e, mesmo assim, só no começo. Os profes- dos vídeos, mas o estímulo ao registro e à
sores viam-nos “olho no olho” e interagiam troca de experiências. Depois de muita dis-
conosco fazendo de nós seus pares. cussão, a direção da TV concordou que ex-
perimentássemos, ainda sem acreditar que
Ainda mais importante era a forma de parti- algum vídeo realizado nas escolas pudesse
cipação ao vivo dos professores que acompa- apresentar qualidade técnica suficiente para
nhavam os programas de forma organizada ser veiculado. De fato, não foi possível uti-
nas telessalas. Ao longo de cada programa, lizar os primeiros trabalhos que nos chega-
entre 8 e 12 perguntas entravam no ar, ao ram, mas, pouco a pouco, a necessidade de
vivo, pela voz dos cursistas: “Olá, aqui fala a cuidados com a gravação foi sendo compre-
professora fulana, do teleposto da cidade tal endida pelos professores e, depois de pouco
e a questão que trago é do grupo”. Ainda sem tempo, começamos a veicular as imagens
“olho no olho”, havia a voz, ao vivo, em ca- que eram produzidas nas escolas.
deia nacional de televisão, que fazia de cada
cursista um professor presente nesta cadeia A rede se ampliava e se consolidava. Não
nacional de educadores; revelava, em cada éramos mais só nós, os especialistas, que
participante, um especialista, tão especialis- escolhíamos e mostrávamos experiências
ta quanto os profissionais da equipe central, importantes na TV: escolas que dispunham 64
explicitando e trocando o que aprendera e do equipamento necessário e que dedica-
construíra com seus estudos e em suas prá- vam tempo para fazer registro cuidadoso
ticas. A rede nacional de televisão viabilizava do que produziam passavam a compartilhar
uma rede nacional de educadores. seus cotidianos em rede nacional. Tecno-
logia acessível aos professores contribuía

Em meados dos anos 1990, as câmeras ama- para que sua produção saltasse os muros

doras de VHS começavam a se popularizar das escolas em que atuavam. Essa rede era

fazendo-se presentes em algumas escolas e composta por gente e por coisas, aparatos

nas casas de muitos educadores. A equipe tecnológicos que viabilizavam a interação e

de especialistas do Salto propôs à direção a troca entre pares.

de educação da TVE que convidássemos os


cursistas a produzir vídeos mostrando ex- O tempo passa, o futuro é
periências interessantes que realizavam em
agora
suas escolas. A direção da TV argumentou
que os vídeos não teriam qualidade técnica Depois de ser, durante alguns anos, organi-
para serem veiculados. Argumentávamos zado como curso de formação continuada,
que não nos interessava a qualidade técnica em 1998, após o lançamento dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) pelo MEC, o Tive a oportunidade de contribuir com o
Salto mudou de formato e de foco. Em lu- Salto em sua nova estrutura criando algu-
gar de trabalhar sistematicamente com al- mas séries com discussões sobre tecnologia,
gumas áreas do conhecimento, passou a cibercultura e educação. Os computadores
organizar séries por temas, seguindo um que chegavam às escolas exigiam a amplia-
dos conceitos que orientou a criação dos ção e aprofundamento das discussões sobre
PCN: os temas transversais. A abrangência sua contribuição para a prática educativa e
de assuntos foi ampliada significativamente a aprendizagem.
sem perda do foco central: ser um espaço de
aprofundamento da formação docente e de
Cibercultura no Salto e
divulgação de temáticas, propostas pedagó-
na escola – A escola na
gicas e estratégias para professores da edu-
cibercultura
cação fundamental.
Na cibercultura, a escola
Desde 2004, pelo me-
Como já não era tem a possibilidade de nos uma série por
mais um curso vol-
registrar e publicar o que ano foi dedicada à
tado para formação
faz, de produzir e publicar temática das tecno-
65
regular nas áreas de
conhecimento tra-
conhecimento sobre o que logias e suas lingua-
gens30, quer pela via
balhadas na esco- é o seu saber específico:
da discussão direta-
la, não necessitava como refletir, disseminar e
mente da cibercultu-
uma equipe fixa de ampliar a produção cultural ra e das tecnologias,
especialistas. A re-
da humanidade. quer focando a con-
organização do Salto
vergência das mídias
trouxe, junto com os
e destas na educação.
novos temas, novos olhares para a educação
e a atuação docente.
Ressalto, em particular, uma discussão sub-

Alguns de nós, professores que participamos jacente a várias dessas séries: a formação

da equipe de especialistas do Salto até en- docente para a cibercultura focando nas no-

tão, voltamos a ele diversas vezes, quer par- vas formas de produzir e comunicar conhe-

ticipando de programas em torno de temas cimentos que chegam à escola e nas trans-

específicos, quer criando séries temáticas. formações que isso pode viabilizar.

30 Pode ser verificado na página em que se apresentam as sinopses das séries do Salto (BRASIL, 2011).
As perspectivas e possibilidades que o cibe- tanto como leitores, como no papel de au-
respaço traz para a interação (entre insti- tores, trouxe para os educadores que atu-
tuições, entre educadores, entre discentes, am em Educação Básica o desafio de novas
entre estes e outros produtores de conhe- aprendizagens, novos estudos com um pro-
cimento etc.) viabilizam a criação de uma dutivo desconforto intelectual. O desequilí-
nova identidade para escola de educação brio, a sacudidela na zona de conforto em
básica: para além da função de reprodução que vivíamos, deslocando-nos de portadores
de conhecimentos historicamente produzi- de conhecimentos e verdades estabelecidas
dos pela humanidade, pode, agora, fazer de para um papel de mediadores (que avaliam o
si um espaço de autoria. Na cibercultura, a que está publicado e discutem com seus alu-
escola tem a possi- nos) e produtores de
bilidade de registrar conhecimento, pro-
e publicar o que faz,
A parceria entre a vocou, em grande
de produzir e publi- tecnologia digital, que número de educado-
car conhecimento viabiliza interação de res, a volta aos estu-
sobre o que é o seu mão dupla, e processos dos. Como exemplo,
saber específico: consistentes de formação, podemos citar o sig-
como refletir, dis- nificativo número 66
vem trazendo mudanças
seminar e ampliar de profissionais das
a produção cultural
dignas de nota em escolas redes públicas, em
da humanidade. A de diversos cantos desse diversos estados do
escola pode, graças país. país, que após parti-
às tecnologias de ciparem dos progra-
informação e comu- mas de formação do
nicação (TIC) e ao Proinfo Integrado,
ciberespaço, sem grande custo, produzir em passaram a produzir blogs e integram às
diversos meios e linguagens e publicar o que suas atividades docentes a produção de blo-
faz em espaço acessível a muitos. Pode tro- gs e assemelhados por seus alunos.
car com seus pares. Pode tornar-se um espa-
ço de autoria. E, porque é autora, a escola Cabe ressaltar que tal produção não decorre
conquista e amplia a autoridade sobre o que unicamente da chegada das TIC e das redes
pensa e faz. às escolas, mas dos processos de formação
que, junto com os aparatos e conexões, che-
A possibilidade de exploração de novas lin- garam aos professores dessas escolas. A par-
guagens (audiovisuais, hipertextuais etc.) ceria entre a tecnologia digital, que viabiliza
interação de mão dupla, e processos consis- Houve séries dedicadas às mídias digitais
tentes de formação, vem trazendo mudan- e seu uso em escolas, educação do olhar e
ças dignas de nota em escolas de diversos tantas outras.
cantos desse país.
A penetração deste trabalho junto a profes-

No Salto, não foram só os temas que se am- sores de todo o país é surpreendente. Ao lon-

pliaram; as práticas e meios de interação go dos últimos anos viajei de norte a sul do

com o campo também mudaram com o ad- país apresentando programas de formação

vento das TIC. docente para uso de tecnologias. Em cada


cidade, em cada encontro, muitos professo-

A participação dos professores nos progra- res vinham comentar os programas, sugerir

mas, que no início se dava sempre por te- temas e abordagens, apresentar o que viram

lefone ou fax, passou a contar com a possi- ser realizado em escolas a partir do que fora

bilidade de trocas mais ágeis pela Internet: discutido nos programas ao vivo.

correio eletrônico para a participação ao


vivo e as páginas do Salto onde são veicula- Esta rede, composta por educadores ativos,

das os textos e os próprios programas são al- especialistas nas mais diversas áreas, técni-

guns dos exemplos mais óbvios. Séries sobre cos de TV, profissionais de comunicação e 67
o uso de tecnologia nas escolas passaram a tecnologia, muita tecnologia, está de para-

ter espaço cada vez maior. Computadores béns. A rede cunhada que viabiliza trocas

chegaram às escolas e, junto com eles, o em direções variadas, em pequena e grande

debate de para que serviriam e de que for- escala, sobre os mais diversos assuntos, fez

ma poderiam contribuir para que a escola muitas escolas mais fortes. Essa rede con-

realizasse de forma mais competente o que tribuiu para que escolas se reconhecessem

já fazia sem eles. A cibercultura, discussão como autoras de um conhecimento que

que se escondia por trás de muitos temas, não pode ser construído em nenhum outro

começava a aparecer na frente das câmeras. canto: como forjar um espaço em que es-
tudantes do Ensino Fundamental possam

Os esforços do Governo Federal de formação construir seu conhecimento, tornar-se autô-

docente continuada para uso das tecnolo- nomos, brasileiros que sabem de seu papel

gias digitais, feitas através do Proinfo Inte- e sua responsabilidade na construção deste

grado, encontraram importante apoio em nosso país que faz hoje o seu futuro.

séries do Salto dedicadas ao tema. E quan-


do falo de tecnologias digitais, não é apenas É um orgulho fazer parte desta rede. Para-
a computadores e Internet que me refiro. béns a todos nós.
Referências MENDONÇA, Rosa Helena. SALTO PARA O
FUTURO: uma trajetória de diálogo. Dispo-
BRASIL. Salto para o Futuro: sinopses, 2011,
nível em
disponível em
http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/
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TRINDADE, Maria de Lourdes de Araújo. Um


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tério da Educação/Fundação Roquete Pinto,
Acessado em 07/03/2011.
1990. 96p.

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