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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
História da América III
Prof. Dr. Mathias Seibel Luce

A VERDADEIRA IDENTIDADE DO POVO MEXICANO EXPRESSA NOS


MUROS DA BURGUESIA: A IMPORTANCIA DO MURALISMO MEXICANO NA
CRIAÇÃO DE SUA IDENTIDADE NACIONAL

Por Adriano da Silva Nunes - Graduando em História

Resumo. O presente artigo tem por objetivo analisar as influências políticas e sociais
existentes nas obras dos três principais artistas do movimento muralistas mexicano, Diego
Rivera, David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco, enfatizando a criação da identidade
nacional elaborada por Siqueiros durante a revolução mexicana, a dita “identidade indígena”;
a presença da ideologia socialista expressa nas obras dos três artistas; e a importância dada
aos murais nos âmbitos educacionais e culturais mexicano e mundial.

Palavras-chave: Muralismo mexicano; identidade nacional; ensino e cultura mexicana.

Introdução
Uma das áreas de estudos que envolve as ciências humanas diz respeito à busca da
identidade nacional dos países colonizados na América Latina. Identidade esta que, devido às
independências, revoluções e novas conjunturas governamentais que se apresentavam e
começavam a estabelecer-se durante o início do século XX, nos países latinos, está ligada à
identidade indígena, que fora muitas vezes negada pelas oligarquias governamentais desses
países.
Outro dado importante, no que se refere à busca da identidade nacional, está
relacionado à criação de heróis da pátria, que ajudam a dar forma ao ideal buscado pelos
1
governos republicanos da época, os quais necessitavam desvincular-se de suas amarras
oligárquicas e dos estereótipos europeus de seus colonizadores. Para contextualizar sobre a
criação do herói republicano, José Murilo de Carvalho 1, em seu trabalho A Formação das
Almas: o Imaginário da República no Brasil, retrata bem a questão da busca de um herói
nacional. Todavia, no que diz respeito ao processo de criação da identidade nacional no
México, durante a sua revolução, a busca de um herói do passado não serve como modelo
para ajudar a idealizar esta identidade, cabendo tal papel às raízes pré-colombianas existentes
e presentes na cultura do país, bem diferente do que é proposto por José Murilo, no caso da
construção identitária do Brasil.
No México, os agentes envolvidos diretamente com a revolução, que proporcionam e
ajudam a compor essa identidade nacional, são homens e mulheres que emergem do povo, na
sua grande maioria mestiços e indígenas, como Emiliano Zapata e Pancho Villa, dois
exemplos de líderes mestiços dentro do cenário revolucionário mexicano. Outro fator que
ajuda a compreender a criação desta identidade nacional está ligado diretamente ao
movimento Muralista, ocorrido já no México pós-revolucionário. Neste movimento, os
artistas buscavam a valorização da população, envolvendo-a nos processos sociais, como a
luta de classes e as teorias positivistas de identidade, as quais não se enquadravam mais na
realidade social, política e cultural do México pós-revolução.
Desse modo, como nos informa Luciana Coelho Barbosa2:

(...) O movimento muralista mexicano oferece um interessante caminho para pensar


essa questão, uma vez que expressa a “busca de raízes” e a tentativa de integração de
um contingente populacional excluído, até então, da narrativa da história nacional
(BARBOSA; 2)

A “busca de raízes” citadas pela autora refere-se diretamente à identidade indígena


negada anteriormente pela elite criolla mexicana, que se identificava muito mais com seus
colonizadores europeus do que com seus antepassados indígenas. É nesse sentido, de
redescoberta do passado negado, que Siqueiros, Orozco e Rivera irão ajudar a construir a
identidade nacional mexicana, retratando a figura indígena dentro de suas obras e utilizando,
como plataforma de exposição, os muros de prédios públicos do país, cedidos pela burguesia
e pelo Estado mexicano, os quais ocupavam o papel de mecenas do movimento Muralista. A
influência artística dos autores citados acima possuía uma mescla da arte renascentista italiana
1
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.

2
BARBOSA, Luciana Coelho. Muralismo e Identidades: representações pré-hispânicas em David Alfaro Siqueiros. Artigo disponível em:
http://pos-historia.historia.ufg.br/uploads/113/original_31_LucianaBarbosa_MuralismoEIdentidades.pdf.
2
com as expressões culturais e artísticas existentes nas artes pré-colombianas, misturado com
uma eminente simpatia aos ideais socialistas e certa intolerância ao avanço do capitalismo, em
um jogo de elementos que ajudavam a compor a identidade mexicana em suas obras murais.
Todavia, com o passar dos anos, enfrentando dificuldades tais quais a perda de espaço
junto às elites, conflitos diretos com seus patrocinadores estatais por expressarem seus ideais
socialistas e, no caso de alguns artistas, por terem entrado para o Partido Comunista, e em
virtude da pontual troca do secretário de Educação, ocorre a escassez de espaços murados
para os artistas poderem expressar seu desgosto contra o sistema capitalista, motivo pelo qual
surge no México o jornal “El Manchete”.
O periódico era composto, basicamente, por artistas sindicalizados que defendiam a
livre expressão das artes em locais públicos, enfatizando que estas deveriam ir para além dos
muros. Até os dias de hoje, no entanto, os murais pintados por estes grandes gênios mexicanos
refletem muito mais do que simplesmente obras de arte; eles contam a história de seu povo,
expressando nitidamente suas vitórias e conquistas, caracterizando seus heróis e algozes,
sendo estudados e valorizados no âmbito cultural como obra de arte modernista, inspirando
novos artistas e servindo como base de estudos para valorização e educação da nação
mexicana. Além disso, os murais são considerados patrimônio nacional na contemporaneidade
e ainda contêm grande importância internacional, como é mencionado por Walther
Boeslterly3, no programa Discutamos México.

Rivera, Siqueiros e Orozco, los tres grandes

Ao nos deparamos com o termo ‘movimento muralista mexicano’, automaticamente


correlacionamos os três grandes artista que fizeram desse movimento artístico muito mais do
que simples obras de arte penduradas nos abastados lares mexicanos e pelo mundo afora.
David Alfaro Siqueiros, José Clemente Orozco e Diego Rivera são estes artistas, pois ao
renunciarem a utilização de cavaletes para desenvolverem suas obras, as quais ficariam
limitadas a uma pequena parte da população mexicana consumidora de bens culturais – a
burguesia –, estes artistas revolucionaram o movimento modernista ao retratarem suas ideias
em muros públicos, podendo assim popularizar sua arte e reverenciar o povo por suas

3
Walther Boeslterly é um restaurador dos murais mexicanos. Ele dedica-se à preservação da arte muralista, que é afetada, muitas vezes,
pelas ações do tempo e por fenômenos naturais, como abalos sísmicos ocorridos na Cidade do México, que acabam por danificar as obras. O
trecho mencionado no parágrafo acima foi retirado da fala de Walther Boeslterly durante sua participação no programa Discutamos México,
disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=pCxmkVhxvjI&hd=1.
3
conquistas durante a revolução mexicana. Com o mecenato do Ministério da Educação e da
elite econômica mexicana, estes artistas conseguiram propagar e popularizar sua arte, não
somente dentro do México, mas também em nível internacional.
David Alfaro Siqueiros nasceu na cidade de Chihuahua, México, em 1898. Obteve sua
formação na academia São Carlos, na Cidade do México, e na Escola de Pintura ao ar Livre,
em Santa Anita, entre os anos de 1911 e 1913. Siqueiros permaneceu no México até 1919,
quando viajou para Europa e, em Paris, travou contato com Diego Rivera e os movimentos
modernistas franceses. Retornou ao México em 1922, quando começou a dedicar-se à arte
mural na Escola Nacional Preparatória. Juntamente com Diego Rivera, organizou diversos
sindicatos e assumiu a direção do jornal “El Manchete”, através do qual deixou expresso seu
ideário político. Foi Siqueiros quem iniciou a busca da identificação nacional baseada na
identidade indígena, dada a constante presença indígena em seus murais. Na maioria das obras
murais de Siqueiros, os nativos são representados como tiranizados pelos colonizadores
europeus, refletindo assim a presença da opressão entre as diferentes classes componentes do
México pós-revolucionário.
Diego Rivera, por sua vez, é presença marcante no movimento muralista, por ser
considerado o expoente-mor dessa nova expressão da arte modernista na América. Através de
seus anos de estudos nas escolas de belas artes europeias, Rivera trouxe consigo a experiência
das técnicas renascentistas italianas e a modernidade da expressão cubista. Todavia, ao
deparar-se com a questão indígena na busca da construção da identidade nacional, Rivera
optou por mesclar suas técnicas modernistas com a arte pré-colombiana. Como Siqueiros,
Diego Rivera possuía um cunho socialista fortemente expresso em suas obras. Rafael
Quinsani4 analisa esta expressão em seu artigo dedicado à obra El hombre controlador del
universo5, de 1934, executada no Palácio de Belas Artes, na Cidade do México. Este mural,
que apresenta diversas características da opressão capitalista existente pela presença dos
Estados Unidos na sociedade mexicana e no mundo, ajudou a configurar o caráter
revolucionário de sua obra. Além de enfatizar e destacar grandes figuras da ideologia
socialista da luta de classes, como Karl Marx e Lenin, Rivera deixa expressamente claros os
seus posicionamentos políticos, iniciando assim um conflito ideológico com os mecenas do
movimento muralista.

4
Rafael Hansen Quinsani é doutorando da UFRGS e autor do artigo A Revolução na encruzilhada: uma análise da arte revolucionária do
muralismo mexicano a partir da imagem: O homem controlador do universo, de Diego Rivera. Outubro/2010, disponível em:
http://www.historiaimagem.com.br/edicao11outubro2010/muralismo.pdf
5
El hombre controlador del universo é o nome rebatizado da obra original Man at the crossroads looking with hope and high vision to the
choosing of a new better future, realizada no Rockfeller Center, em New York, entre os anos de 1932 e 1933, porém sendo desconstruída por
conter a imagem de Lenin, motivo pelo qual representava uma ameaça comunista para as famílias norte-americanas de bem.
4
José Clemente Orozco, como os outros dois artistas, possuía um cunho socialista
muito forte em seus trabalhos, nos quais expressava e enfatizava um desagrado moral pela
sociedade capitalista e opressora existente no México. Seus trabalhos apresentam um caráter
bem mais pessimista e descrente da sociedade, possuindo um tom mais combativo do que os
trabalhos de Rivera e Siqueiros.
Como é analisado por Quinsani6, as obras criadas por Orozco carregam uma agressão
direta à burguesia e ao sistema imperialista que implantava-se no México no período pós-
Revolução. Outra presença marcante na crítica que Orozco fazia à sociedade capitalista e
opressora estava ligada à religião católica, a qual foi responsável pela dizimação da identidade
nacional indígena, identidade esta que ele, Orozco, e seus companheiros, Siqueiros e Rivera,
tentavam resgatar em suas obras.
As obras de Orozco que envolviam direta ou indiretamente as temáticas religiosas
causaram grande desconforto para alguns membros mais conservadores da sociedade
mexicana. Como resultado disso, o mestre mexicano sofreu diversas perseguições e teve
algumas de suas obras depredadas. Para ilustrar a situação de Orozco, note-se o mural Cristo
destruindo a cruz, de 1943, no qual se apresenta a polêmica temática envolvendo elementos
religiosos mesclados com ideologias socialistas de opressão de massas:

Fig. 1: OROZCO, José Clemente. Cristo destruindo sua cruz, 1943. Óleo sobre tela. Museo de Arte Alvar y Carmen T. de Carrillo Gil.
Cidade do México. Versão posterior do mural destruído em 1924. Disponível em: http://img310.imageshack.us/img310/5453/cristo.jpg.
Acesso em: 08 dez 2013.

A construção da identidade dentro de valores culturais revolucionários

6
Ibid. p. 4.
5
Dentre todas as revoluções nacionais ocorridas durante o século XX, nas Américas e
no mundo, a revolução mexicana, sem dúvida alguma, está entre as mais importantes do
cenário mundial. Além disso, o processo revolucionário mexicano encontra seu espaço dentro
do conceito de conflito político, o que envolve a construção do ideal de nação. A busca dessa
construção está ligada diretamente às lutas travadas pela população envolvida no evento
histórico, juntamente com os acontecimentos que antecederam a revolução, os quais dizem
respeito à Independência mexicana e colaboraram para fundamentar a ideia de Estado-Nação
no México. Nas palavras de Rojas (apud QUINSANI, 2010; 5), esta construção operada com
a memória histórica coloca-se em constante atualização e conforma o presente vivido em
favor da legitimação das categorias sociais que dominam os processos produtivos econômico,
cultural e político.
Ao analisar as afirmações de Rojas, que caracterizam a legitimidade da construção da
identidade nacional e destacam os processos culturais, econômicos e políticos que permeiam o
âmbito histórico, chega-se à análise proposta por este artigo, ou seja, investigar os interesses e
as influências, tanto nas esferas do Estado e da burguesia quanto as extensões políticas do
movimento, além da identificação dos artistas pertencentes ao movimento muralista com o
intuito de tentar recriar uma identidade nacional baseada no passado histórico do povo
indígena mexicano.

A identidade nacional construída sob o aspecto da valorização da arte popular é algo


bem característico no México. O movimento muralista representou a proposta de
construção de uma nova identidade pautada na camada subalternizada da população,
com forte vinculação com a educação, na tentativa de romper com a representação
calcada nos moldes europeus. (BARBOSA; 2-3)

Luciana Barbosa vale-se também das palavras de Maria Helena Capelato (apud
BARBOSA; 3), ao dizer que toda e qualquer identidade é construída e a construção dessa
identidade utiliza-se de fontes de diversos setores, sejam eles científicos ou não. E mais:

(...) Pensar a identidade implica, portanto, avaliar o processo de regulação da vida


coletiva, pois o social é produzido através de sentidos e símbolos designando a
relação dos indivíduos uns com os outros e simultaneamente com as instituições
sociais e políticas. (Ibid; 6)

As reflexões propostas por Capelato, Barbosa e por Rojas colaboram na construção do


conceito de criação de “mitos fundadores” dos Estados-Nação, e na compreensão da
construção da identidade mexicana, pois tais mitos são forjados em meio a conflitos e guerras,
6
eventos os quais envolvem a população, fazendo com que esta adquira força para
fundamentar-se dentro da história vigente do país. No caso do México, esta fundamentação
está ligada à ação direta da população mestiça e indígena dentro do cenário de guerra civil
presente na revolução e na busca dessas raízes pré-hispânicas e coloniais presentes nas
produções dos artistas do movimento muralista.
Desse modo, foi possível aos artistas plasmarem em suas obras a verdadeira face dos
participantes da revolução e, assim, moldar sua identidade. Todavia, críticas à legitimidade
dessa identidade mestiça apareceram devido à negação e à degradação do passado colonial
indígena existente no México durante o regime de Porfírio Diaz, e anterior a ele, pois a
identificação e as influências da cultural europeia, latentes entre as classes burguesas
mexicanas, discordavam da representação de índios e de mestiços enquanto sujeitos históricos
e ativos na história nacional mexicana.
O interesse real que os muralistas possuíam ao agregar estas figuras negadas do
passado em um fato tão importante do seu presente estava relacionado diretamente ao
envolvimento da população como um todo – na sua maioria formada por mestiços – no
cenário político da revolução, no qual o índio e o mestiço passavam de agentes esquecidos
pela história, sem qualquer importância além daquela imposta pelos seus colonizadores, a
sujeitos historicamente ativos. Perante essa condição de opressão, os artistas do movimento
muralista poderiam, de uma forma educativa e cultural, apresentar suas críticas ao novo
sistema capitalista e imperialista que começava novamente a oprimir essa população.
No caso de Siqueiros, o artista utilizava-se do passado de opressão colonial existente
na história mexicana, protagonizada pelas metrópoles europeias para legitimar a resistência do
povo mexicano perante as imposições imperialistas dos Estados Unidos, que ali se
infiltravam, e a nova dimensão capitalista que se instaurava no país. Na obra exposta abaixo,
Siqueiros faz correlação da figura do herói asteca frente aos colonizadores espanhóis, aqui
representados na forma de um centauro, demonstrando a resistência e força existentes no povo
mexicano frente a seus invasores.

7
Fig. 2: SIQUEIROS, David Alfaro. Cuauhtemoc contra o Mito, 1944. In: Gênios da Pintura. Abril Cultural: São Paulo, 1968.

Ao que se refere à posição política e ideológica dos artistas do movimento muralista,


já foi expresso neste artigo sua simpatia aos ideais socialistas e sua vinculação direta com o
Partido Comunista. Entretanto, é de relevância absoluta ressaltar as influências dessas
ideologias em suas obras. Quando los tres grandes pintavam um mural, eles expressavam seu
desagrado quanto à submissão e opressão sofridas pelo povo mexicano em relação ao Estado
capitalista moderno e à imposição imperialista norte-americana. Devido, contudo, ao
distanciamento entre a vertente política dos muralistas e os ideais do governo – que nunca
demonstrou agrado ou simpatia por tais ideologias – e também em vista da burguesia
mexicana não concordar com suas representações, no momento da mudança do ministro de
educação do país o movimento acabou por perder os muros públicos, como já mencionado
neste trabalho.
Nesse sentido, é elucidativa, na produção de Siqueiros, por exemplo, o mural que
segue, no qual retrata sua visão sobre a nova democracia:

Fig. 3: SIQUEIROS, David Alfaro. La Nueva Democracia, 1945. Fachada do Palacio de Bellas Artes. Cidade do México. Disponível em:
http://elhurgador.blogspot.com.br/2012/01/manos-la-obra-iii-siqueiros-escher.html. Acesso: 09 dez 2013.
8
Outra obra que expressa a ideologia socialista e a luta contra o capitalismo e contra a
conformidade relativamente ao Imperialismo norte-americano é O homem controlador do
universo, de Diego Rivera, cuja ilustração segue:

Fig. 4: Rivera, Diego. El hombre controlador del universo (Man at the crossroads looking with hope and high vision to the choosing of a
new better future), 1934. Fachada do Palacio de Bellas Artes, Cidade do México. Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/_k-HDh0IzxMw
/THiF6kY3CJI/AAAAAAAAAAc/QTQDQx7vboU/s1600/mural.jpg. Acesso: 08 dez 2013.

Todavia, a presença desse viés político-social nas obras do movimento mural deixou
sua importância tanto para as artes quanto para a educação no México e também no resto do
mundo. Segundo Peter Burke7, as obras patrocinadas pelo governo do México pós-
revolucionário proporcionaram ao povo mexicano e ao mundo uma reflexão sobre os males
do capitalismo, sobre a importância do trabalho e sobre a dignidade dos indígenas – ou seja, a
honra e o orgulho da identidade mexicana criada pelos artistas do muralismo. Por meio desses
murais, os autores enfatizavam o papel da arte como forma de incentivo à “educação e luta”
para o povo.
É importante salientar que a construção da identidade nacional diz respeito a todos os
fatores mencionados acima, nos quais encontramos resistência política e ideológica frente a
uma sociedade capitalista e injusta para com as populações mais carentes, que se importa
apenas com o acúmulo de riquezas por parte de uma pequena elite e esquece a importância
real de sua população. Outro dado que deve ser mencionado é a importância da busca dessa
identidade no passado, a fim de construir no presente o orgulho de ser mestiço e de dar o
devido valor a suas raízes indígenas. Entretanto, como mencionado por Burke, o movimento

7
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004.
9
muralista, além de possuir um importante cunho político-social, continha em suas amarras o
fator educacional que perdura até a contemporaneidade e abre discussões e reflexões sobre o
tema abordado neste trabalho, como pode ser observado no programa Discutamos México8,
produzido pelo governo mexicano no ano de 2010.

Conclusão

De fato, o século XX representou novo marco para a história cultural e artística


contemporânea, legando, por exemplo, o movimento modernista nas artes, com as técnicas
inovadoras do cubismo de Pablo Picasso; o Abaporu, de Tarsila do Amaral; ou até mesmo as
inebriantes obras de arte de Candido Portinari. No entanto, nenhuma das vanguardas artísticas
do princípio dos 1900 conseguiu influenciar tanto uma nação qaunto ocorreu com os murais
pintados no México pós-Revolução.
Como visto nos parágrafos acima, o movimento muralista, por possuir um caráter
social, político-cultural e educacional tão eminente em seus traços, traz consigo o dever de
educar sua população para uma visão crítica da sociedade na qual está inserido. Crítica esta
que se encontra presente até os dias de hoje em sua sociedade, por ideais de luta e igualdade
social para todos frente a um sistema econômico capitalista voltado unicamente ao
crescimento, que promove a valorização de poucos e que demonstra a necessidade explícita
de manter à margem da sociedade trabalhadores e cidadãos de classes sociais mais baixas.
Os murais de los tres grandes têm o dever de conscientizar sua nação no sentido de
orgulhar-se de suas raízes indígenas e de trazer para o presente as lembranças de resistência,
de luta e de honra expressas por estes sujeitos históricos. Muito mais do que meras obras de
arte, os murais mexicanos carregam ideologias, vivencias e experiências de uma população
sofrida, que lutou, e ainda luta, contra o sistema imperialista emergente em seu cotidiano.
Todavia, é sensato ressaltar a importância cultural que o movimento deixou para esse
povo, uma vez que tais obras foram elaboradas em prédios públicos e encontram-se
preservadas e expostas à população mexicana. A intenção que os autores dessas obras
possuíam, de educar o povo para uma luta social, foi alcançada, pois mesmo com o passar dos
anos suas imagens contestadoras contra o sistema capitalista continuam a direcionar e

8
Ibid, p.3
10
incentivar o povo mexicano rumo a este ideal, além, é claro, de embelezar e enriquecer a
cultura latino-americana.

Referências

BARBOSA, Luciana Coelho. Muralismo e Identidades: representações pré-hispânicas em


David Alfaro Siqueiros. Artigo disponível em: http://pos-historia.historia.ufg.br/uploads/113/
original_31_LucianaBarbosa_MuralismoEIdentidades.pdf. Acesso em 02 dez 2013.

BURKE, Peter. Testemunha ocular: História e Imagem. Bauru: EDUSC, 2004.

CAPELATO, Maria Helena R. Modernismo Latino-Americano e construção das


identidades através da pintura. Revista de História, v.153, Segundo Semestre, 2005.

CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o Imaginário da República no Brasil.
São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

QUINSANI, Rafael Hansen. A revolução na encruzilhada: Uma análise da arte


revolucionária do muralismo mexicano a partir da imagem: O homem controlador do
universo, de Diego Rivera. História, imagem e narrativas. n°. 11, Out/2010. Disponível em:
http://www.historiaimagem.com.br. Acesso em 04 dez 2013

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