21 - O pós-crise de 2008
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D – A chegada ao sufoco neoliberal
Como a inflação convive com uma recessão isso coloca em causa a lógica
keynesiana para a qual a inflação somente podia surgir em situações de
proximidade do pleno emprego dos recursos e não em fases de recessão e
desemprego, quando existem “factores de produção disponíveis”. Este
fenómeno que se veio a chamar estagflação veio a animar o reacendimento
das teses neoliberais, em experimentação no Chile desde 1973 e, onde
passaram a vigorar todas as liberdades para a acumulação de capital, para a
entrada massiva de capitais externos, para a redução do gasto público,
mormente de conteúdo social, com privatizações e repressão brutal dos
rendimentos e dos direitos dos trabalhadores, sob a cobertura politica de um
regime militar fascista.
O Chile, até então um dos países da América Latina com uma democracia de
mercado estabilizada, passa à situação de laboratório neoliberal. Os gastos
sociais a cargo do Estado, em nada se assemelham ao “modelo social
europeu”; enquanto neste último o Estado geria uma segurança social
generosa, direitos avançados no âmbito da estabilidade no emprego, direito à
greve, segurança na doença e no desemprego, os Chicago Boys, no seu
ensaio chileno, reduzem os encargos sociais às situações de indigência,
subordinam os direitos laborais aos desígnios da rendabilidade das empresas,
precarizam o emprego através de um maior poder dos capitalistas, com
qualquer contestação laboral, altamente penalizada e reprimida. O exemplo
chileno foi replicado na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Paraguai, no
Equador, entre outros, ainda que nem em todas as ditaduras tenham tido o
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mesmo cariz neoliberal mas antes, o domínio oligárquico das classes
abastadas tradicionais, em ligação com militares fascistas.
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Prosseguindo a abordagem sobre a transição de paradigma no capitalismo, a
crise dos anos 70 evidencia a interdependência entre os países ocidentais,
mormente na Europa ocidental, com poucas diferenciações e, por outro lado,
a sua integração coletiva com os países produtores de petróleo, numa lógica
cada vez mais globalizada que não facilitava soluções específicas no âmbito
dos estados-nação. E essa interdependência vai exigir articulação num
contexto competitivo e de grandes desigualdades, com o recurso à guerra
aplicado, então, apenas aos espaços coloniais e neocoloniais.
Gráfico 1
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Não resistimos em divulgar dois episódios anedóticos provenientes do economicismo doméstico. No
princípio da década de 1990, Abel Mateus que entretanto circulou pelo BdP e pela Autoridade da
Concorrência, construiu um fabuloso modelo macroeconómico que anunciou um crescimento do PIB
em… 10%. E pela mesma época, o ministro Braga de Macedo, em comentário à crise recessiva que se
verificava na Europa, referiu Portugal ser um oásis (!)… que no gráfico mostra afinal ter estado seco,
sem dar tâmaras, embora com camelos por lá estacionados.
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Fonte: Pordata
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Na sua boçalidade e arrogância Trump torna isso bem claro ao referir-se recentemente a
“países de merda”
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burocracias. Somente se mostram mais respeitosos perante alguns poucos
países, entre os que detêm algum peso em termos de empresas globais, com
uma dimensão razoável de mercado (população x poder de compra) e um
quadro político relativamente estável; como serão os casos dos maiores
países da UE, dos EUA, da Coreia do Sul, do Japão (mesmo que protegidos
militarmente pelos EUA), da China, da Rússia, da Índia, do Irão, do Canadá e
poucos mais. A própria forma como, no seio da UE, foram intervencionados, a
Grécia, a Irlanda e Portugal, com a monitorização da troika, foi distinta da
atitude face à Espanha, onde a troika não foi introduzida.
Uma das áreas onde se gera e propaga esse pensamento único é constituída
pelas business schools, especializadas em “ciências empresariais” e que
afastaram do ensino a economia, a sociologia, a história, como disciplinas de
compreensão da integração do social com o político, focando-se em
panaceias ideológicas como o empreendedorismo ou a competitividade; ou,
em técnicas como a contabilidade e a fiscalidade, integradas em pacotes
informáticos estandardizados.
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atividades empresariais como gestores de topo ou consultores3; como arautos
no mercado partidário; no bem pago mercado mediático, como opinion
makers, contribuindo com uma mistura de banalidades e falsidades para
formatarem o pensamento da plebe, com oráculos sobre os enigmáticos e
caprichosos desígnios da economia, que contrastam com a bem concreta
economia doméstica, que se cinge ao equilíbrio entre o salário e o pagamento
dos gastos essenciais ou das prestações de dívidas que os bancos tanto
gostam seja constituída.
3
Os consultores de topo são poucos e caraterizam-se por “amarrar o burro à vontade do
dono”. Recentemente a Price (PwC) foi banida da Índia; e, em Portugal, nos casos do BPN ou
do BES, os auditores também “não detetaram” o resvalar das contas (como aliás o BdP que
também utiliza as preciosas empresas de auditoria), mesmo que principescamente pagas.
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pois são elas que criam postos de trabalho”; nessa lógica Portas
reescreveria o Genesis colocando Deus a criar primeiramente o empresário
para depois o ofertar com servos. A dívida pública resulta precisamente da
utilização da classe política para a concretização destas normas
neoliberais, incluindo aí a assunção das perdas e dos efeitos nefastos das
burlas de bancos e banqueiros;
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Uma empresa publica portuguesa, os CTT (serviços postais), ao ser privatizada pelo governo Passos,
foi brindada com uma autorização para o exercício da atividade bancária, transitada gratuitamente
pelo banco público CGD. Percebeu-se bem o negócio; os acionistas – entre os quais a grandiosa
Goldman Sachs – recebia umas centenas de balcões espalhados pelo país onde funcionam os serviços
postais que veriam acoplados serviços bancários. O CEO encarregue dessa mescla serviços
postais/bancários foi um tal Francisco Lacerda, com um salário anual de um milhão de euros,
certamente muitas vezes superior ao da média dos trabalhadores dos CTT. Recentemente, a empresa
apresentou elevados prejuízos e o Lacerda apontou para 800 despedimentos ao mesmo tempo que
distribuía gordos dividendos pelos acionistas; num acto de comovente solidariedade, o tal Lacerda terá
baixado o seu salário para uns miseráveis € 750000, num acto de autoflagelação que cai bem a um
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displicência em regular a qualidade ambiental e em não contribuir para
conter as mudanças climáticas também acontece para que não afete a
rendabilidade e a competitividade das empresas; mesmo que para tal se
torne necessário reduzir a Humanidade a uns 600 milhões de pessoas,
conforme já ventilado no seio dos conclaves Bilderberg.
antigo frequentador da Universidade Católica. Sobre o tema destacamos aqui comentário do jornalista
Nicolau Santos
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enquanto agentes do capital financeiro é convencer a plebe do dever do
seu (impossível) pagamento.
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regulação e da domesticação do trabalho – é o período de domínio
keynesiano na política económica;
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Rossiskaia Gazeta, 20/4/2016
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