Missão
Publicar artigos e ensaios que debatam a conjuntura política e temas das áreas de
opinião pública, marketing político, comportamento eleitoral e partidos.
Coordenação:
Helcimara de Souza Telles – UFMG
Conselho Editorial
Antônio Lavareda – IPESPE Julian Borba – UFSC
Aquilles Magide – UFPE Luciana Fernandes Veiga – UFPR
Bruno Dallari – UFPR Luiz Ademir de Oliveira – UFSJ
Cloves Luiz Pereira Oliveira – UFBA Luiz Cláudio Lourenço – UFBA
Dalmir Francisco – UFMG Malco Braga Camargos – PUC-MINAS
Denise Paiva Ferreira – UFG Marcus Figueiredo – IESP/UERJ
Gustavo Venturi Júnior – USP Mathieu Turgeon – UnB
Helcimara de Souza Telles – UFMG Rubens de Toledo Júnior – UFBA
Heloisa Dias Bezerra – UFG Pedro Santos Mundim – UFG
Silvana Krause – UFRGS
Jornalista Responsável Yan de Souza Carreirão – UFPR
Érica Anita Baptista
EM DEBATE
Periódico de Opinião Pública e Conjuntura Política
Ano III, Número IV, Dezembro de 2011.
SUMÁRIO
Editorial 5-7
Dossiê: ―A sociedade civil no Brasil: reflexões e
perspectivas‖
Opinião
EDITORIAL
A sociedade civil no Brasil: reflexões e perspectivas
Resumo: O artigo considera os avanços das mobilizações e dos movimentos sociais no sentido de projetar as
demandas da sociedade civil nos debates contemporâneos. Nesse caminho, a autora levanta duas discussões, ao
chamar atenção para dois traços da sociedade civil brasileira: os atores “em jogo” e a modalidades de ação
disponíveis.
Abstract: The article considers the progress of mobilization and social movements in order to project the
demands of civil society in contemporary debates. In this way, the author raises two arguments, to draw attention
to two features of Brazilian civil society: the actors "in play" and modes of action available.
uma razoável normalização das rotinas das novas instituições, como é o caso dos
Conselhos Gestores de Políticas Públicas.1 Nos termos do modelo poliárquico
bidimensional de Robert Dahl (1997), trata-se de um regime que promove a inclusão
e possibilita a contestação política por meios conhecidos e por meios inéditos.
Desejo chamar a atenção para dois importantes traços da sociedade civil
brasileira nesse contexto, ambos relacionados à sua diversificação: os atores ―em
jogo‖ e a modalidades de ação disponíveis. No diálogo com o campo mais amplo
de estudos sobre sociedade civil, pontuo a seguir algumas lacunas e tendências
analíticas relacionadas àqueles traços.
Diversificação de atores
Os movimentos sociais que emergiram no processo de democratização provocaram
uma diversificação dos temas e problemas presentes na esfera pública, entre eles, os
movimentos indígenas, de mulheres, a favor dos direitos das crianças e
adolescentes, dos direitos homossexuais etc. Em que pese a distância entre o que
demandavam ou demandam esses movimentos e as conquistas obtidas por eles até
agora, o fato é que a institucionalidade que resultou da transição de regime, com
suas inovações, foi capaz de absorver, em graus variados, temas e problemas
vocalizados por eles.
A inserção dessas demandas na esfera pública e nos próprios centros
decisórios de políticas foi acompanhada pela (re)organização de grupos que
criticam o que consideram as consequências fragmentadoras das demandas pelo
reconhecimento dos direitos daqueles movimentos. Face ao que enxergam
―ameaças fragmentadoras‖, muitos desses grupos reclamam uma revitalização dos
valores integradores da família, da religião e da nação. A Frente Parlamentar
Evangélica, uma das associações civis criadas nesse novo contexto, é um exemplo
da (re)organização desses grupos, que não é fenômeno exclusivo do Brasil.
1Estes não apenas se consolidaram em áreas sociais como Saúde, Assistência Social e Criança e Adolescente, como
vem se espraiando para outras, como meio ambiente, políticas urbanas, cultura etc.
com o/em parceria com o Estado.2 Diante disso, alguns autores alertam para a
necessidade de construir olhares que sejam capazes de considerar a vigência
simultânea de distintas modalidades de ação e de suas correspondentes facetas
relacionais entre Estado e sociedade civil, superando as clivagens de modelos
isolados, que iluminam parcialmente o fenômeno da participação nas sociedades
contemporâneas (PERUZZOTI, 2008).
Por outro lado, para alguns autores, as inovações institucionais que vigoram
hoje em vários países da América Latina, das quais são exemplares os Conselhos
Gestores no Brasil, evidenciam o surgimento de um novo tipo representação
política, exercido via sociedade civil (GURZA LAVALLE e INSUZA VERA,
2010). Eles consideram que a compreensão adequada daquelas inovações e de suas
possibilidades futuras exige reconhecer que elas expressam a pluralização da
representação política nas democracias contemporâneas.
É no contexto desse panorama de diversificação das modalidades de ação da
sociedade civil, na qual suas organizações podem desempenhar funções
representativas, que surge um conjunto de criticas às abordagens que antagonizam
participação e representação política. Vários autores vêm mostrando a inadequação
dessas abordagens para a compreensão seja do funcionamento das instituições
tradicionais de representação (URBINATI, 2006), seja dos arranjos institucionais
que incluem atores da sociedade civil nos centros decisórios de políticas públicas
(GURZA LAVALLE e INSUZA VERA, 2010; PERUZZOTTI e SELEE, 2009).
Nesta perspectiva, a participação de indivíduos em organizações da sociedade civil
e a destas em arranjos institucionalizados são vistos não como modalidades de ação
alternativas ou paralelas à representação política, mas como elementos constitutivos
da própria engrenagem dos governos representativos, que lhes conferem uma
configuração mais plural e descentralizada.
2De acordo com Chambers e Kopstein (2006), essas abordagens relacionais expressam os seis modelos teóricos de
sociedade civil presentes no debate contemporâneo. Ainda que não sejam necessariamente excludentes entre si, cada
um deles, ao conceituar sociedade civil e analisar sua relação com a ordem política, privilegia um tipo de associativo e
arena de atuação.
Referências
ABERS, R.; SERAFIM, L; TATAGIBA, L. A participação na era Lula: repertórios de interação
em um Estado heterogêneo. Trabalho apresentado no 35º Encontro Anual da ANPOCS. Outubro
de 2011.
AVRITZER, L. Sociedade civil e participação social no Brasil. São Paulo, 1999. Disponível em
<http://www.democraciaparticipativa.org.br>. Acesso em: 02 nov. 2010.
CHAMBERS, S.; KOPSTEIN, J. Civil Society and the State. In DRYZEK, J; HONIG, B.;
PHILLIPS, A. (eds.) The Oxford Handbook of Political Theory. New York: Oxford University Press,
2006.
DAHL, R. Poliarquia – Participação e Oposição. São Paulo: EDUSP, 1997.
GANANÇA, A. C. Associativismo no Brasil. Características e limites para a construção de uma
institucionalidade democrática participativa. Dissertação de Mestrado. Instituto de Ciência Política,
UNB, 2006.
GLASIUS, M. Who is the real civil society? Women´s groups versus pro-family groups at the
International Criminal Court. In: HOWELL, J.; MULLIGAN, D. (eds). Gender and civil society:
transcending boundaries. London and New York: Routledge, 2005.
GURZA LAVALLE, A. e ISUNZA VERA, E. Precisiones conceptuales para el debate
contemporáneo sobre la innovación democrática: participación, controles sociales y
representación. In: ISUNZA VERA, E; GURZA LAVALLE, A. (orgs). La innovación democrática
en América Latina. Tramas y nudos de la representación, la participación y el control social. México: Centro
de Investigaciones y Estudios Superiores em Antropología Social, Universidad Veracruzana,
2010.
LÜCHMANN, L. H. H. Abordagens teóricas sobre o associativismo em suas relações com a
democracia. Trabalho apresentado no XV Congresso Brasileiro de Sociologia, Curitiba, UFPR, julho
de 2011.
PERUZZOTTI, H.; SELEE, A. Participatory Innovation and Representative Democracy in
Latin America. In: SELEE, A.; PERUZZOTTI, H. (eds) Participatory Innovation and Representative
Democracy in Latin America. Washington: Woodrow Wilson Center Press, 2009.
PERUZZOTTI, H. Representative democracy as mediated politics: Rethinking the links
between representation and participation. In: Conferência Rethinking Representation: A
North-South Dialogue, 2008. Belaggio, 2008. Disponível em:
http://www.democraciaparticipativa.org/bellagio/bellagio.html. Acesso em: 08 jul. 2011.
URBINATI, N. Representative Democracy: principles & genealogia. Chicago Press, 2006.
Fernando Filgueiras
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
ffilgueiras@fafich.ufmg.br
Resumo: O artigo aborda as perspectivas conceituais do tema da corrupção enquanto fenômeno político e seus
impactos na sociedade civil. O autor destaca o sentimento de desconfiança dos cidadãos em virtude da corrupção no
debate público e salienta os problemas do sistema tradicional de representação, o que faz surgir novos desenhos
institucionais abrindo caminho a outras modalidades de representação política.
Abstract: The article discusses the conceptual perspectives of the issue of corruption as a political phenomenon and
its impacts on civil society. The author emphasizes the feeling of distrust among citizens on grounds of corruption
in public debate and highlights the problems of the traditional system of representation, which gives rise to
new institutional designs paving the way for other forms ofpolitical representation.
3
Accountability societal é um conceito que procura discutir o papel da sociedade civil no controle das políticas
públicas e no processo decisório das políticas. Refere-se, sobretudo, ao processo dês responsabilização de políticos e
burocratas realizado pela sociedade civil.
No que tange à corrupção, uma concepção política de seu conceito deve dar
conta do fato de que ela representa uma ação não pública, que fere o princípio da
representação (WARREN, 2005). Assim, o segredo é característica fundamental da
corrupção e promove o processo de exclusão da cidadania em relação às decisões
públicas. Porém, as democracias contemporâneas têm promovido um processo de
maior combate à corrupção associado a uma crescente disponibilidade de
informações ao público por meio de instituições como controladorias, auditorias e
governo eletrônico. Essa maior disponibilidade de informações ao público
empodera os cidadãos e proporciona elementos concretos para um maior
enfrentamento da corrupção. Quando Warren (2005) afirma que o problema do
controle circunscreve-se à maior transparência e abertura, o controle da corrupção
se torna uma questão de inclusão da cidadania, favorecendo a confiança pública. As
técnicas horizontais do controle público são fundamentais para o fortalecimento
das instituições de accountability. Mas é fundamental que os cidadãos possam
participar em pé de igualdade nos processos de decisão e avaliação de políticas
públicas.
Assim, segundo Warren (2005), o enfrentamento da corrupção exige o
aprimoramento das instituições de controle, o qual exige, por sua vez, o
aprimoramento da representação. Nesta assertiva, a sociedade civil, por meio das
organizações e associações, teria um papel fundamental no controle da corrupção
por meio de uma concepção de accountability societal. O papel da sociedade civil é
fundamental para a maior disponibilidade de informação pública que permita, por
conseguinte, o desenvolvimento dos indivíduos, a constituição de esferas públicas
de julgamento político e a influência nas decisões governamentais. A representação
exercida pela sociedade civil, segundo Warren, tem um papel preponderante no
fortalecimento das instituições de accountability, com o objetivo de diminuir a
incidência da corrupção nas instituições democráticas.
apenas uma das faces do controle por meio das instituições políticas. A estratégia
de fortalecê-la é importante no Brasil, mas precisa estar associada a uma estratégia
maior de aprimoramento das demais instituições de controle, tanto na dimensão
burocrática, quanto na dimensão judicial (FILGUEIRAS, AVRITZER, 2010).
Nesse sentido, o fomento da accountability na democracia brasileira, com o objetivo
de diminuir a incidência da corrupção nas instituições políticas, passa pela inclusão
e criação de instâncias deliberativas das políticas públicas — as quais os conselhos
cumprem bem —, pelo aprofundamento da reforma do Estado e pela reforma do
Judiciário. É necessário, na experiência democrática brasileira, partir da idéia que as
instituições de controle devem ser integradas em torno de uma estratégia de reforço
e instrumentalização do Estado para enfrentar a corrupção e puni-la. Para tanto, é
necessário rever o fluxo dos processos das instituições de accountability com a
finalidade de estabelecer dentro do aparelho estatal uma cultura pública mais
eficiente e pautada no valor do interesse público.
Referências
Cristiana Losekann
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
cristianalosekann@gmail.com
Resumo: O artigo discute dois temas relevantes no debate acadêmico acerca da sociedade civil no Brasil, a saber,
sua capacidade de autonomia no contexto atual marcado pela alta imbricação desta em relação ao Estado. Debate,
também, a necessidade de revisão do conceito e a discussão sobre o caráter “civil” no contexto brasileiro.
Palavras-chaves: sociedade civil; Estado; autonomia.
Abstract: The article discusses two important issues in the academic debate about civil society in Brazil, namely
their capacity for autonomy in the current context marked by high overlap in relation to this state. Debate also the
need to review the concept and discussion of the character "civil" in the Brazilian context.
Key words: civil society; Estado; autonomy.
7 Libertação não implica neste caso em negação completa, total. Se, é possível admitir a relevância e uso do conceito
certamente é porque não está eliminada toda a pertinência dos modelos teóricos desenvolvidos nos contextos
originários específicos.
8 Essa discussão tem ganhado relevância, sobretudo, nos ―estudos pós-coloniais‖. Para ter acesso a uma boa
argumentação ver: Scherer-Warren (2010). Para uma análise desse tema em relação à violência ver: Ballestrin (2010).
9 Segundo Avritzer (2008), em 2008 havia uma estimativa de 10.000 conselhos setoriais no Brasil. Segundo o IBGE
10 O projeto da nova lei da Ação Civil Pública Lei nº 5.139/2009, de autoria do poder executivo, formulado pela
Secretaria de Reforma do Judiciário, propõe importantes mudanças que implicam em ampliação dos direitos
coletivos e na abertura para a participação de novos atores sociais na proposição da Ação, retirando a exclusividade
do MP existente em muitos casos. Hoje uma mobilização de movimentos sociais, organizações, etc. fazem campanha
junto ao legislativo para que o referido PL seja votado com prioridade. Para informações sobre a lei ver:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Projetos/PL/2009/msg238-090413.htm Informações sobre a atuação de
organizações civis na defesa da lei ver: http://revistaafricas.com.br/archives/17035.
11 Este é o caso das demandas de participação de organizações da sociedade civil junto ao MP para a garantia de
publicização das decisões sobre transgênicos produzidas na CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança),
além de ações judiciais que demandam bloqueio e revisão de decisões tomadas pela CTNBio. Esta comissão não
prevê a representação da sociedade civil.
12 Este foi o caso da rede estabelecida entre a comunidade, lideranças e associações locais do Espírito Santo com
organizações internacionais (Conectas e Justiça Global). Através desta rede foi possível, em 2006, realizar denúncia
de maus-tratos e torturas nos presídios deste estado ao Subcomitê para Prevenção da Tortura da ONU. A
internacionalização deste conflito pressionou o governo federal e local para se sensibilizarem às causas demandadas
pelas organizações locais. Para uma boa discussão sobre o tema ver: Ballestin (2010).
13 Para fins desta argumentação nos interessa a complexificação em termo de formas de organização e não em função
do quantitativo das organizações. Para informações sobre o quantitativo de organizações ver: Avritzer (2008).
14 Mescla de artistas e ativistas.
15 Para mais informações: <http://foradoeixo.org.br/institucional>
16 Referência ao Manifesto Antropofágico de Oswald Andrade.
Referências
ABERS, R., TATAGIBA, L., SERAFIM, L. A participação na era Lula: repertórios de interação
em um Estado heterogêneo. Trabalho apresentado no GT4 do 35º encontro da ANPOCS.
Caxambú, 2011.
AVRITZER, Leonardo. Instituições participativas e desenho institucional: algumas considerações
sobre a variação da participação no Brasil democrático. Opinião Publica, Campinas, v. 14, n.
1, June, 2008.
BALLESTRIN, Luciana. Associativismo transnacional: uma proposta analítico-conceitual. Rev. Sociol.
Polit., Curitiba, v. 18, n. 35, fev. 2010.
_________. Com quantas armas se faz uma Sociedade "Civil"? Controles sobre Armas de Fogo na
Governança Global, Brasil e Portugal (1995-2010). Tese de doutorado em Ciência política, UFMG,
Belo Horizonte, 2010.
COHEN, Jean L.; ARATO, Andrew. Sociedad Civil y Teoria Política. México: Fondo de cultura
económica, 2001.
CREADO, Eliana Santos Junqueira et al . Entre "tradicionais" e "modernos": negociações de direitos em
duas unidades de conservação da Amazônia brasileira. Ambient. soc., Campinas, v.11, n. 2, 2008 .
FARIA, Cláudia Feres. Estado e organizações da sociedade civil no Brasil contemporâneo:
construindo uma sinergia positiva? Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 18, n. 36, June 2010.
ROSA, Marcelo. Estado e ações coletivas na África do Sul e no Brasil: por uma sociologia
contemporânea dos países não exemplares. Sociologias, Porto Alegre, n. 20, Dec. 2008.
SCHERER-WARREN, Ilse. Movimentos sociais e pós-colonialismo na América Latina. Ciências
Sociais, Unisinos, v. 46, p. 10-17, 2010
SOUZA, Jessé. A Construção Social da Subcidadania: para uma Sociologia Política da Modernidade
Periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.
Resumo: O presente trabalho pretende argumentar o processo de institucionalização da sociedade civil brasileira
nas últimas décadas. O autor discute não apenas a situação de desmobilização e acomodação que são percebidos
nesse processo, como também lança o olhar a possibilidades de atuação de organizações e movimentos sociais de
caráter contestatório que podem surgir nesse contexto.
Abstract: This work intends to argue the process of institutionalization of Brazilian civil society in recent
decades. The author discusses not only the situation of demobilization and accommodation that are perceived in this
process, but also introduces the possibility of looking at the performance of organizations and social
movements contestatory character that can arise in this context.
Introdução
Recentemente, em novembro de 2011, 51 militantes das organizações
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Trabalhadores
Desempregados, Via Campesina e Consulta Popular divulgaram uma carta-aberta
anunciando sua saída destas organizações e apresentando um conjunto de críticas
às mesmas. Perpassando estas críticas, observa-se um forte questionamento do
―abandono das lutas de enfrentamento‖ por parte das organizações e movimentos
18A tentativa de apresentar uma síntese de um processo complexo em poucas páginas é sempre um risco, ainda mais
se levarmos em conta a significativa diversidade regional brasileira. Tendo presente este risco, desde já o autor se
desculpa pelas inevitáveis simplificações e omissões do presente artigo.
19 De acordo com as pesquisas periódicas que vem sendo realizadas pelo projeto de mapeamento das Fundações
Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos (realizado pelo IBGE, IPEA, ABONG e GIFES), em apenas nove anos
(1996-2005) o número de entidades mapeadas cresceu de 107.332 para 338.168, o que significa um crescimento de
235% em menos de uma década.
20 Ver: <http://www.portaltransparencia.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2011.
21Este processo ganhou grande visibilidade recentemente com as denúncias de fraudes em convênios dos
Ministérios do Esporte e do Trabalho com ONGs, as quais levaram à substituição dos respectivos Ministros.
22Esta é uma característica do sistema político brasileiro pós-redemocratização e que é sintetizada pela expressão
―presidencialismo de coalizão‖ (ABRANCHES, 1988). Isto é claramente ilustrado pela coalizão partidária de
sustentação do Governo Lula, que incluiu: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Republicano Brasileiro (PRB), Partido da
República (PR), Partido da Mobilização Nacional (PMN), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Socialista
Brasileiro (PSB), Partido Verde (PV), Partido Progressista (PP) e Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Referências
Resumo: O presente artigo trata a importância da vida associativa para a democracia e mostra como o Brasil
avançou nesse sentido, apresentando um quadro associativo fortalecido nas últimas décadas o que permitiu, entre
outros, ganhos nas abordagens conceituais acerca do que se compreende enquanto sociedade civil. A autora propõe,
ainda, uma discussão com relação à heterogeneidade no campo associativo.
Abstract: This article discusses the importance of associational life for democracy and shows how Brazil has
advanced in this direction, with a membership strengthened in recent decades which allowed, among other things,
gains in conceptual approaches about what is understood as civil society. The author also proposes a discussion
regarding the heterogeneity in the associative field.
23 Doimo (1995), Gohn (1997), Avritzer (1997). Sobre os Movimentos Sociais Urbanos ver Kowarick (1987) e
Machado da Silva (1986).
24 Conferências: Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio/92); Direitos Humanos (Viena/93); População e
Desenvolvimento (Cairo/94); Desenvolvimento Social (Copenhague/95); Mulher (Beijing/95); Hábitat II
(Istambul/96). Sobre a relação entre sociedade civil e as Nações Unidas, vide Liszt Vieira (2001).
26 Como analisam Gurza Lavalle, Houtzager e Castello (2006, p.46), a representação da sociedade civil está imbuída
da ideia de que os seus atores ―emergem em continuidade ou animados por uma conexão genuína com o tecido
social – ou mundo da vida, como se queira. Essa continuidade pressuposta tende a dissipar a formulação de questões
como em nome de quem e mediante quais mecanismos de controle e responsividade representam as organizações
civis‖.
27Um exemplo interessante é o estudo de Baggetta (2009) sobre os grupos de corais nos EUA. Mesmo sendo grupos
com objetivos bem específicos e distantes de estarem voltados para a criação de oportunidades cívicas, estes grupos
apresentam importante potencial para tal, ao promoverem interação, experiência gerencial e conexão com outras
instituições.
Referências
AVRITZER, L. Um desenho institucional para o novo associativismo. Lua Nova, n. 39, 1997.
BAGGETTA, M. Civic Opportunities in associations: interpersonal interaction, governance experience
and institutional relationships. Social Forces, Volume 88, Number 1, pp. 175-199, September 2009.
CHAMBERS, S.; KOPSTEIN, J. Civil Society and the State. In: DRYZEK, J; HONIG, B.; PHILLIPS, A.
(Eds.) The Oxford Handbook of Political Theory. Oxford University Press, 2006.
COHEN, J. Deliberation and democratic legitimacy. In: BOHMAN, J: REGH, W. Deliberative democracy.
Essays on reason and politics. Massachusetts. Institute of Tecnology, 1999.
COHEN, J.; ARATO, A. Civil society and political theory. Cambridge: The Mit Press, 1992.
DAGNINO, E.; OLVERA, A.J.; PANFICHI, A. Para uma outra leitura da disputa pela
construção democrática na América Latina. In: DAGNINO, E.; OLVERA, A.J.; PANFICHI, A.
(Orgs.). A disputa pela construção democrática na América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
DOIMO, A.M. A Vez e a voz do popular. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
FUNG, A. Associations and democracy: Between theories, hopes, and realities. Annu. Rev. Sociol.. 29:515–
39, 2003.
GOHN, M. G. Movimentos sociais na atualidade. In: GOHN, M. G. (org) Movimentos sociais no início do
século XXI. Antigos e novos atores sociais. RJ: Vozes, 2003.
GOLDSTONE, J. Bridging institutionalized and noninstitutionalized politics. In:
GOLDSTONE, J. (Ed). States, parties and social movements. Cambridge University Press, 2003.
GURZA LAVALLE, A., HOUTZAGER, P. P.; CASTELLO, G. Democracia, pluralização da
representação política e sociedade civil. Lua Nova, n. 67, CEDEC, 2006.
GURZA LAVALLE, A.; CASTELLO, G.; BICHIR, R. M. Atores periféricos na sociedade civil. Redes e
centralidades de organizações em São Paulo. RBCS, v. 23, n. 68, 2008.
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio Janeiro: Tempo Brasileiro, v. 2, 1997.
KOWARICK, L. Movimentos urbanos no Brasil contemporâneo: uma análise de literatura. RBCS, v. 1, n.
3, 1987.
MACHADO DA SILVA, L. Para repensar o paradigma dos movimentos sociais urbanos. ANPOCS, 10.,
Anais... Campos do Jordão, out.,1986.
NOGUEIRA, M.A. Sociedade civil, entre o político-estatal e o universo gerencial. RBCS, v. 18, n.
52, 2003.
PAXTON, P. Social capital and democracy: an interdependent relationship. American Sociological Review
67(2):254-77, 2002.
SCHERER-WARREN, Ilse. Redes de movimentos sociais. São Paulo: Loyola; Centro João XXIII, 1993.
Gabriel Guerra
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
gabriel.guerra.duarte@gmail.com
Resumo: A discussão aqui apresentada permeia a noção de participação da sociedade civil no incremento
da democracia. O autor ressalta que participar envolve a mobilização e a geração de conflitos. Retomando o
“caso USP” ele mostra que a mobilização e geração de conflitos são custos da participação o que pode
distanciar as pessoas desses movimentos.
Palavras-chaves: sociedade civil; participação; democracia.
Abstract: The discussion presented here permeates the notion of civil society participation in the growth of
democracy. The author stresses that participation involves mobilization and generating conflicts. Returning
to the “caso USP” he shows that the mobilization and generation of conflicts are the costs of participation
that can distance people from those movements.
Key words: civil society; participation; democracy.
28 Ver <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1005628-maioria-dos-estudantes-da-usp-apoia-policia-
militar-no-campus.shtml>
29 Ver <http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/remelentos-e-mafaldinhas-da-gap-decidem-
%E2%80%9Cresistir%E2%80%9D-e-a-revolucao/>
Referências
SORJ, Bernardo. A democracia inesperada: cidadania, direitos humanos e desigualdade social. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2004.
Referência