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CONCURSO DA PREFEITURA DE BELÉM - IPAMB

PSICOPATOLOGIA E EQUIPES MULTIDISCIPLINARES

PSICOPATOLOGIA

CONCEITO

A psicopatologia é o ramo da ciência que cuida da natureza essencial da doença


mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas
formas de manifestação.
Para Dalgalarrondo (2008), a psicopatologia pode ser definida como o conjunto
de conhecimentos produzidos sobre o adoecimento mental do ser humano. Segundo
o autor, o papel do psicopatólogo não é julgar moralmente o seu objeto. Ele deve seguir
na busca de observar, identificar e compreender os múltiplos elementos da doença
mental. Além do mais, ele deve rejeitar qualquer tipo de dogma, seja ele religioso,
filosófico, psicológico, ou biológico; pois, o conhecimento que busca permite que seja
revisto, criticado e reformulado constantemente.
O campo da psicopatologia abrange um amplo número de fenômenos humanos
especiais, integrados ao que se chamou historicamente de doença mental. Esses
fenômenos são vivencias, estados mentais e padrões comportamentais que exibem, por
um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos doentes mentais têm
dimensão própria, genuína, não sendo somente “exageros” do normal) e, por outro,
conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um
mundo completamente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”)
A psicopatologia tem grande parte de suas raízes na tradição médica, o que
permitiu, nos últimos dois séculos, uma observação prolongada e cuidadosa de um
considerável número de doentes mentais. Por outro lado, ela nutre-se de uma tradição
humanística; das áreas de filosofia, literatura, artes, psicanálise; que concebe a
“alienação mental” como um pathos do sofrimento mental extremo, além de ser uma
rica possibilidade de observar dimensões humanas que, sem o fenômeno da doença
mental, permaneceriam desconhecidas. No entanto, segundo o autor, apesar de se
beneficiar das tradições neurológicas, psicológicas e filosóficas, a psicopatologia não
deve ser confundida com a “neurologia das chamadas funções corticais
superiores”. A psicopatologia não se resume a uma ciência natural dos fenômenos
relacionados às zonas associativas do cérebro lesado, bem como também não se resume
à psicologia das funções mentais desviadas. Ou seja, é uma ciência autônoma, não
sendo, assim, um prolongamento da neurologia e da psicologia.

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Karls Jaspers afirma que a psicopatologia é uma ciência básica, que pode
servir de auxílio à psiquiatria, sendo essa um conhecimento aplicado a uma prática
profissional e social concreta.
De um modo geral, quando os sintomas psicopatológicos são estudados, existem
dois aspectos básicos que costumam ser enfocados:

 A forma dos sintomas, ou seja, sua estrutura básica, relativamente parecida nos
diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afética etc.)

 O conteúdo, ou seja, aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de


culpa, religioso, de perseguição etc.). Sendo esse aspecto, geralmente, mais
pessoal, relacionado à história de vida do paciente, de seu universo cultural e da
personalidade prévia ao adoecimento.

Existem diversas correntes da psicopatologia. A seguir, serão apresentadas as


principais delas:

Psicopatologia descritiva: essa linha de pensamento interessa-se essencialmente pela


forma das alterações psíquicas, pela estrutura dos sintomas, ou seja, aquilo que
caracteriza a vivência patológica com sintomas mais ou menos típicos.

Psicopatologia dinâmica: interessa-se primeiramente pelo conteúdo da vivência, pelos


movimentos internos dos afetos, desejos e temores do indivíduo. Considera -se a
vivência psicopatológica uma experiência particular, pessoal, não necessariamente
classificável em sintomas antecipadamente descritos. Segundo o autor, uma adequada
prática em saúde mental implica na combinação hábil e equilibrada de uma abordagem
descritiva, diagnóstica e objetiva junto a uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva
do doente e de sua doença.

Psicopatologia médica: essa perspectiva trabalha com uma visão de homem centrada
no corpo e no ser biológico. Abordando o ser humano como espécie natural e universal;
sendo assim, o adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro,
uma disfunção em alguma parte do “aparelho biológico”.

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Psicopatologia existencial: nessa perspectiva, o doente é visto essencialmente como


“existência singular”, como um ser histórico e humano que se constitui por meio da sua
experiência particular e na relação com outros sujeitos. Nessa perspectiva a doença
mental, não é vista como uma disfunção biológica ou psicológica, mas, sobretudo, como
um modo particular de existência.

Psicopatologia comportamental-cognitiva: o homem é visto como um conjunto de


comportamentos observáveis, verificáveis, que são regulados por estímulos específicos
e gerais, e por determinadas leis e determinantes do aprendizado. Unida a essa visão, a
perspectiva cognitivista foca a sua atenção sobre as representações cognitivas
conscientes de cada indivíduo. Sendo que essas representações conscientes são
essenciais ao funcionamento mental, tanto normal quanto patológico. Os sintomas
derivam de comportamentos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e
reforçadas pela experiência sociofamiliar.

Psicopatologia psicanalítica: o homem é entendido como ser “determinado”,


dominado, por forças, desejos e conflitos inconscientes. Na visão psicanalítica, os
sintomas e síndromes mentais são considerados formas de expressão de conflitos,
predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser concretizados, de
medos aos quais o indivíduo não tem acesso. O sintoma é visto, nesse caso, como uma
“formação de compromisso”, um dado arranjo entre o desejo inconsciente, as normas e
as permissões culturais e as possibilidades reais de satisfação desse desejo. A resultante
desse complexo de forças, dessa “trama conflitiva” inconsciente, é o que se identifica
como sintoma psicopatológico.

Psicopatologia categorial: As entidades nosológicas ou transtornos mentais específicos


podem ser entendidos como entidades completamente individualizadas, com contornos
e fronteiras bem demarcados. As categorias diagnósticas consistiriam em “espécies
únicas”, tal qual espécies biológicas, cuja identificação precisa seria uma das tarefas da
psicopatologia.

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Psicopatologia dimensional: perspectiva que se contrapõe à psicopatologia categorial.


Na psicopatologia dimensional existiram dimensões como, por exemplo, o espectro
esquizofrênico, que incluiria desde formas muito graves, tipo “demência precoce” (com
grave deterioração da personalidade, embotamento afetivo, muitos sintomas residuais),
formas menos deteriorantes de esquizofrenia, formas com sintomas afetivos, chegando
até um polo de transtornos afetivos, incluindo formas com sintomas psicóticos até
formas puras de depressão e mania (hipótese esta que se relaciona à antiga noção de
psicose unitária).

Psicopatologia biológica: dá ênfase aos aspectos cerebrais, neuroquímicos ou


neurofisiológicos das doenças e dos sintomas mentais. A raiz de todo transtorno mental
é alterações de mecanismos neurais e de determinadas áreas e circuitos cerebrais.

Psicopatologia sociocultural: visa estudar os transtornos mentais como


comportamentos desviantes que surgem a partir de determinados fatores socioculturais,
como discriminação, pobreza, migração, estresse ocupacional, desmoralização
sociofamiliar etc. Os sintomas e os transtornos precisam ser analisados, segundo essa
visão, no seu contexto eminentemente sociocultural, simbólico e histórico.

Psicopatologia operacional-pragmática: as definições básicas de transtornos mentais


e sintomas são formuladas e adotadas de modo arbitrário, em função de sua utilidade
pragmática, clínica ou orientada à pesquisa. Não são questionados a natureza da doença
ou do sintoma, e tampouco os fundamentos filosóficos ou antropológicos de
determinada definição. Corresponde ao modelo adotado pelas modernas classificações
de transtornos mentais; o DSM-IV, norte-americano, e a CID-10, da Organização
Mundial da Saúde (OMS).

Psicopatologia fundamental: visa centrar a atenção da pesquisa psicopatológica sobre


os fundamentos de cada conceito psicopatológico.

CONCEPÇÕES DE NORMAL E PATOLÓGICO

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O conceito de normalidade é extremamente controverso em psicopatologia. A


fronteira entre o normal e o patológico só não é difícil de ser delineada em alguns casos
como:

- alterações comportamentais de intensidade acentuada e longa duração.


- alterações mentais de intensidade acentuada e longa duração.

O problema é extensivo a todo o campo da medicina: nível de tensão arterial


(hipertensão), de glicemia (diabetes) etc. O estudo do médico e filósofo francês Georges
Canguilhem O normal e o patológico (Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2001) é
uma referência fundamental para o assunto.
O conceito de normalidade em psicopatologia implica também na própria
definição do que é saúde e do que é doença mental, definição que tem repercussões em
várias áreas da saúde mental:

1. Psiquiatria legal ou forense – a determinação de anormalidade psicopatológica pode


ter importantes implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social,
institucional e legal de um sujeito.

2. Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria – de modo geral, o conceito de normalidade


em psicopatologia impõe a análise do contexto sócio-cultural e exige o estudo da
relação entre o fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal
fenômeno emerge e recebe este ou aquele significado cultural.

3. Prática clínica.

Critérios de normalidade:

1.Normalidade como ausência de doença: o primeiro critério que se utiliza é de saúde


como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”. Como diz o velho aforismo
médico: “A saúde é o silêncio dos órgãos”. Normal, desse ponto de vista, seria aquele
indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Tal
critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se em uma
“definição negativa”, ou seja, definiu-se a normalidade não por aquilo que ela
supostamente é, mas sim por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta.

2. Normalidade ideal: a normalidade é tomada aqui como uma certa “utopia”.


Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio” e mais
“evoluído”. Trata-se de uma norma constituída e referendada socialmente. Depende,
portanto, de critérios sócio-culturais
e ideológicos arbitrários. Exemplos de tais conceitos de normalidade são aqueles
baseados na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de determinada
sociedade. Ex: diagnóstico de dissidentes políticos como doentes mentais na antiga
União Soviética.

3. Normalidade estatística: a normalidade estatística é aquela que identifica norma e


freqüência. É um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos
quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral – como peso,
altura, tensão arterial, horas de sono etc. O normal passa a ser aquilo que se observa

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com maior freqüência. Os indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no


extremo) de uma curva de distribuição normal passam a ser considerados anormais ou
doentes. Este é um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o
que é freqüente é necessariamente saudável, assim como nem tudo o que é raro ou
infreqüente é patológico.

Exemplos de fenômenos que podem ser muito freqüentes, mas que evidentemente não
podem a prioriser considerados normais ou saudáveis:

- cáries dentárias.
- presbiopia – vista cansada.
- sintomas ansiosos e depressivos leves.
- uso pesado de álcool.

4. Normalidade com bem-estar: A OMS – Organização Mundial de Saúde – definiu


em 1958 a saúde como o “completo bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente como ausência de doença”. É um conceito criticado por ser muito vasto e
muito impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente. Além disso,
esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico, que poucas pessoas se
encaixariam na categoria “saudáveis”.

5. Normalidade funcional: este conceito se assenta sobre aspectos funcionais e


nãonecessariamente quantitativos. Um fenômeno é considerado como patológico a
partir do momento em que é disfuncional, provoca sofrimento para o próprio indivíduo
ou para o grupo social.
Concepção relativista de normalidade

6. Normalidade como processo: nesse caso, se considera os aspectos dinâmicos do


desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do
tempo, de crises, de mudanças próprias a determinadas faixas etárias. Este conceito é
particularmente útil em psiquiatria infantil e de adolescentes, assim como em psiquiatria
geriátrica.

7. Normalidade subjetiva: aqui é dada ênfase maior à percepção subjetiva do próprio


indivíduo em relação ao seu estado de saúde, à suas próprias vivências subjetivas. O
ponto falho desse critério é que muitos indivíduos que se sentem bem, muito saudáveis
e felizes, como no caso de pessoas em fase maníaca, apresentam, de fato, um transtorno
mental grave.

8. Normalidade como liberdade: alguns autores de orientação fenomenológica e


existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial
(Henri Ey, por exemplo). A saúde mental estaria vinculada às possibilidades de
transitar, com graus distintos de liberdade, sobre o mundo e sobre o próprio destino. A
doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades
existenciais. O psiquiatra Cyro Martins, do Rio Grande do Sul, afirma que, dentro desse
ponto de vista, a saúde mental poderia ser vista como a

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possibilidade de dispor de “senso da realidade, senso de humor e de um sentido poético


perante a vida”, atributos esses que permitiriam ao indivíduo relativizar os sofrimentos e
limitações inerentes à própria condição humana e, assim, desfrutar do resquício de
liberdade e prazer que a existência nos oferece.

9. Normalidade operacional: é um critério assumidamente arbitrário, com finalidades


pragmáticas explícitas. Define-se o que é normal e patológico
a priorie busca-se trabalhar operacionalmente com tais conceitos, aceitando-se as
conseqüências de tal redução prévia. Donde se conclui que os critérios de normalidade e
de doença em psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos
específicos com os quais trabalhamos, e também de acordo com as opções filosóficas do
profissional.

Em alguns casos, pode-se utilizar uma associação de diferentes critérios de


normalidade ou de doença. Esta é uma área da psicopatologia que exige uma postura
permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais.

DESENVOLVIMENTO DA CONCEPÇÃO DE DOENÇA MENTAL

O século XX despede-se legando à humanidade uma velocidade jamais vista, em


termos de produção, reprodução e coletivização de saberes. O acúmulo sem precedentes
de conhecimentos, forjado pelo saber científico, vem possibilitando a ampliação da
expectativa de vida e a melhoria das condições gerais de existência dos seres humanos,
ainda que de forma desigual e iníqua.

Um pressuposto da saúde mental, desde a fundação da Psiquiatria de Pinel, no


nascimento da Medicina Científica do século XIX, é de que a tecnologia de ponta nessa
área tem sido a relação entre sujeitos com histórias singulares, irreproduzíveis e
intransferíveis. Desde sempre, buscou-se uma explicação para o fenômeno do
adoecimento psíquico e possíveis terapêuticas.

Como humanidade, temos nos organizado em convenções. Convenções ou


consensos mínimos são acordos, agenciamentos, códigos universalizadores e
universalizantes que norteiam e dão os limites socialmente aceitáveis, nas relações dos
seres humanos entre si e entre grupos. São as leis, as normas, a ética, a moral e os
conhecimentos postos a serviço da humanidade.

Se, por um lado, a convenção imprime um sentido redutor das manifestações


humanas ao senso comum, de outro, propõe um caráter viabilizador de trocas e de
continências (como continente e não como repressão), delimita aonde é possível chegar,
um tempo, um espaço. A convenção ancora a experiência no campo das realizações e da
possibilidade de repetição, se necessário for, podendo a experiência ou repetição ser um
processo criativo, superador ou, então, meramente reiterativo.

A história da humanidade vem inscrevendo convenções sobre o que é doença e


tratamento, numa dialética mediada pelas condições materiais e objetivas onde práticas

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em saúde podem ser identificadas. No campo da saúde mental, da mesma forma,


podem ser identificados conceitos de adoecimento psíquico e terapêuticas operadas
nos diferentes períodos de desenvolvimento político e econômico e da organização
da sociedade, desde os primórdios até a idade contemporânea.

Os povos primitivos (e representantes desse tipo de organização social


preservado até os dias atuais, como os povos indígenas) admitiam o transtorno
mental como um fenômeno de causa mágico-religiosa identificado como possessão de
espíritos maléficos. Para tal concepção de doença, desenvolveu-se uma tecnologia de
cuidados operada pelo xamã ou sacerdote, com rituais de expulsão de espíritos, rezas e
benzimentos. Dado que à convenção para o conceito de doença harmoniza-se uma
convenção de tratamento, para cada concepção de processo saúde-doença corresponde
uma determinada tecnologia de cuidados. Nos tempos atuais, algumas seitas e rituais
religiosos também aderem a essa concepção de processo saúde-doença mental e operam
com as mesmas tecnologias de cuidados.

Na Antigüidade greco-latina, a concepção de doença mental baseava-se nas


causas naturais. Hipócrates (460-356 a.C.), por exemplo, descreveu a histeria como
deslocamento do útero (hystera, do latim, matriz), um ente de vida própria cujo
deslocamento provocava dispnéia, taquicardia e desmaios na mulher. A tecnologia de
cuidados da Antigüidade greco-romana era composta por massagens corporais, dietas,
passeios e viagens. Incluía matrimônio para virgens e viúvas ou fumegações vaginais
com ervas aromáticas para atrair o útero para o seu lugar (5). Os romanos prescreviam,
ainda, atividades como tratamento. Galeno (cerca de 150 d.C.) afirmava que a atividade
era o melhor médico da natureza. Portanto, para a concepção das causas naturais da
doença, expressa num órgão do corpo humano, o tratamento também era no corpo,
harmonizando ou antagonizando os sintomas com seu curso natural, por meio da atitude
menos invasiva e mais contemplativa do médico greco-romano.

Na Idade Média, ou Idade das Trevas, a convenção sobre a doença mental,


sob influência da Igreja Católica, retomou a concepção mágico-religiosa. Nesse
contexto, as convenções eram ditadas pelas leis da Igreja, não sendo propriamente um
campo de acordos e trocas. Nas relações entre os seres humanos, a lei natural era a
diferença de lugar social (senhor e escravo) que seria superada somente na vida eterna.
A forma de garantir esse equilíbrio era o exercício da caridade (para os senhores) e
submissão (para os não-senhores e escravos). Ora, quem subvertia a ordem natural da
diferença emanada de Deus, era herege ou profanador - louco.

A Idade Média desenvolveu duas tecnologias de cuidado para a loucura: a


Inquisição e o banimento na Nau dos Loucos. A primeira foi uma forma cruel e cruenta
de silenciar os detentores de saberes laicos, que ameaçavam o saber secular aprisionado
pelo clero. Nesse contingente, morreram mulheres do povo que adquiriram
conhecimentos de ervas medicinais, por meio da tradição oral, e exerciam grande
influência popular - as bruxas. Morreram, também, anatomistas, astrólogos, cantores e
poetas que disseminavam, por meio da arte, críticas sociais, além das histéricas,
devassos, pródigos e hereges.

O louco pobre, não errático, caracterizando um outro tipo de despertencimento,


era colocado na Nau dos Loucos e vagava pelos rios europeus até ancorar num lugar

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que o recolhesse ou remetesse novamente à errância (6). Mais uma vez, denota-se
coerência entre concepção do processo saúde-doença e tratamento.

No Renascimento, a concepção de loucura complexificou. O longo período de


repouso das ciências laicas, experimentais, favoreceu o desenvolvimento da filosofia.
No século XVI, o louco era entendido como o sujeito inadaptado ao processo de
urbanização das cidades e da expansão, em todos os campos do saber-fazer. Esse
período pode ser caracterizado como a retomada das conquistas marítimas, da expansão
das fronteiras geo-políticas, o retorno à filosofia grega e o afastamento da totalização da
Igreja Católica. Exemplo disso foi René Descartes (1596-1650) fundador do
Racionalismo moderno e do novo estatuto do homem clássico: o homem da razão (7).

Dessa forma, a existência humana, distinta da existência de Deus, proposta pelo


cogito cartesiano, discriminou, também, duas formas de existência dos seres humanos: o
arrazoado e o desarrazoado. Essa foi a convenção da Idade Clássica para definir a
loucura ou o transtorno mental. Isto é, se a razão humanizou o homem e o libertou da
regência divina, a desrazão diferenciou o desarrazoado do homem humanizado e o
aproximou da animalidade(6).

Em 1656, em Paris, foi fundado o primeiro Hospital Geral, não com função
de tratamento, mas de isolamento e controle social. A finalidade do Hospital Geral
era acolher loucos, lascivos, pedófilos, usurpadores, mendigos, etc.(8). Assim, a
tecnologia para cuidar dos transtornados e outros despossuídos do Renascimento era o
internamento que configurava ao desarrazoado a condição de animalidade.

Cabe ressaltar que a essa tecnologia de cuidados aderia uma prática e uma
representação que perseguiu o que viria a ser a prática de enfermagem até o século XX.
Tratava-se da função de vigilância, punição pelo uso de métodos coercitivos, por meio
da força física ou de instrumentos disciplinadores, como a roda, banhos,
acorrentamento, supressão de luz solar e isolamento (1).

A Revolução Francesa, em 1789, e a Revolução Industrial, na Inglaterra,


consolidaram a passagem do modo de produção feudal para o capitalista, rompendo os
resquícios de uma determinada relação de subordinação entre os seres humanos (senhor
e escravo) e inscrevendo outro tipo de interdependência entre donos dos meios de
produção e donos da força de trabalho. Nesse contexto, a loucura estava associada à
inadaptabilidade do ser humano de incluir-se no mundo produtivo, de consumo e de
acumulação(9). A loucura era confundida com ociosidade.

Guiado pelos ideais Iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, Philippe


Pinel, em 1793, quando foi indicado para Bicêtre, capturou a loucura para o campo
médico, libertando-a da animalidade. É consenso entre autores(5-6,8,10-12) que esse ato e
essa data fundaram a psiquiatria, como campo da medicina moderna, e a medicalização
da loucura, pois, utilizando os métodos da medicina classificatória, Pinel propôs a um
só tempo:

- Uma nosografia - o corpo conceitual de base científica que inscreveu a loucura


nas categorias médicas e a ela deu o estatuto de doença mental, diferenciando-a da
ociosidade;

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- Uma relação específica entre o médico e o doente, onde o primeiro dizia a


verdade da doença pelo saber que tinha dela e poderia submetê-la pelo poder que sua
vontade exercia sobre o doente;

- Um lugar, o manicômio, onde a medicina podia descobrir a verdade da doença,


afastando tudo o que podia mascará-la, confundi-la ou dar-lhe formas bizarras(8).

Essa é a síntese alienista que definiu a convenção de transtorno mental do século


XIX. Ou seja, o louco, diferentemente dos outros excluídos, era passível de tratamento
porque a causa da sua doença era a paixão pervertida. Para uma concepção de doença de
cunho médico-moral, a tecnologia de cuidados do século XIX foi o Tratamento Moral,
que tratava a paixão pervertida do doente por meio da influência da paixão reta do
médico, pelo exercício da disciplina e pelo uso do trabalho do doente como forma de
adaptabilidade e utilidade social.

A SÍNTESE ALIENISTA E SEUS DESDOBRAMENTOS

A síntese alienista foi o divisor das águas da antiga concepção de loucura para o
enquadre deste fenômeno no campo médico. Desde sua constituição, não foi mais
possível uma convenção única para o entendimento do processo de adoecer e tratar.

Um dos desdobramentos da síntese alienista foi o que investiu na busca da


causalidade biológica para compreensão do processo saúde-doença com expressão
moral ou comportamental e na investigação do lugar onde esta se alojava. Essa
perspectiva vem ocupando o pensamento psiquiátrico, desde o século XIX até nossos
dias.

Iniciou com a classificação nosográfica dos transtornos mentais de Pinel e foi


desenvolvida por seu seguidor, Esquirol (1772-1840). Posteriormente, Emil Kraeplin
(1856-1926) desenvolveu uma nosografia baseada no curso natural da doença, a partir
do curso evolutivo dos quadros nosográficos. Ainda no campo da pesquisa médica, Karl
Jaspers (1883-1969) propôs a classificação que deu origem à corrente psicopatológica,
de inspiração fenomenológica, e Eugen Bleuler, em 1911, cunhou o termo esquizofrenia
(cisão da mente) para um grupo de doenças com uma sintomatologia comum(5).

Da mesma forma, as investigações biológicas seguiram-se por todo o século


XIX, com somatistas franceses como Falret (1794-1870), Baillarger (1809-1890), Tours
(1804-1884), precursor da farmacologia, Bayle (1799-1858), Morel (1809-1873) com a
teoria da degenerescência e Magnan (1835-1912), com a teoria da hereditariedade,
todos de tradição racionalista e empirista, além da contribuição do anatomista alemão
Griesinger (1817-1868)(5).

Entretanto, o grande boom dessa vertente, chamada biológica, ocorreu nos anos
90 do século XX, com o desenvolvimento das neurociências e da medicina por imagens.
A possibilidade de investigar as reações neuropsicológicas por imagens, sem
procedimentos invasivos, alimentou, de forma consistente, o ideal da localização da
sede da doença mental (13). No contexto médico, a atualização nosográfica, aliada à
investigação da causa biológica da doença mental, compôs uma convenção aceita

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globalmente como a referência para a classificação dos transtornos mentais, incluída na


Classificação Internacional das Doenças (CID-X) da Organização Mundial de Saúde.

Um outro desdobramento da apropriação médica da loucura, proposto por


Sigmund Freud, no final do século XIX, com a descoberta do inconsciente e a
construção da base teórica da Psicanálise, inaugurou uma convenção para entender o
funcionamento psíquico, dimensão que escapava ao controle da ciência experimental da
razão.

Esse olhar, desenvolvido pelas correntes de pensamento e práticas que


antagonizavam a psiquiatria biológica, como as comunidades terapêuticas, na década de
trinta; a psiquiatria comunitária, na década de cinqüenta (14), a psiquiatria democrática
italiana a partir da década de sessenta e a atual tendência às práticas comunitárias, no
Brasil, possibilitaram a construção do que é hoje chamado de modo psicodinâmico de
compreender o transtorno mental, situando o portador do transtorno numa rede de
relações onde a história, a família, a constituição do próprio sujeito, dizem mais do que
a simples apresentação de sinais e sintomas.

Diferentemente do Tratamento Moral, onde o saber médico dizia a verdade da


doença e submetia a vontade deturpada do doente à sua, pelo poder que tinha sobre
ele(8), essa perspectiva fundou a relação humana entre quem trata e quem é tratado,
colocando ambos como atores do processo clínico(15). Aderido ao modo psicodinâmico
de compreender o transtorno mental, desenvolveu-se uma tecnologia de cuidados,
atualmente denominada Campo Psicossocial(16).

Dessa forma, é possível concluir que o atual estágio de desenvolvimento


tecnológico e teórico na área da saúde admite duas grandes convenções para duas
concepções hegemônicas do processo de adoecimento mental (campo biológico e
psicossocial) e reitera que, para uma determinada concepção de adoecer, correspondem
determinadas formas de tratar, forjadas historicamente, isto é, no desenvolvimento das
condições concretas e materiais desse dado momento histórico.

Grosso modo, admite-se, também, que o campo biológico goza de maior


visibilidade, resolutividade e reconhecimento social, por ter sido construído nos
pressupostos da ciência positiva. Por outro lado, o campo psicossocial demanda a
construção e a consolidação das bases teóricas e conceituais que fundam sua prática,
uma vez que vem sendo forjado num mosaico de referências, na interface com a
filosofia, com as ciências sociais e humanas(17). Essa tarefa é particularmente árdua para
a enfermagem, que vem construindo suas teorias de cuidados e desenvolvendo seus
instrumentos de intervenção, de forma orgânica, com o desenvolvimento da medicina
científica e instrumental.

DIAGNÓSTICOS DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS

Os Transtornos Mentais e Comportamentais são identificados e diagnosticados


através dos métodos clínicos semelhantes aos utilizados para os transtornos físicos.
Esses métodos incluem uma cuidadosa entrevista (anamnese) colhida com o paciente e
com outras pessoas, incluindo sua família, um exame clínico sistemático para verificar

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o estado mental e suas condições orgânicas, testes e exames especializados que forem
necessários. Registraram-se, nas últimas décadas, avanços importantes na padronização
da avaliação mental e emocional, bem como na confiabilidade dos diagnósticos clínicos.

Graças aos esquemas internacionais estruturados e padronizados de entrevistas,


graças às definições uniformes dos sinais, dos sintomas e dos critérios de diagnóstico, é
possível atingir alto grau de confiabilidade e validade no diagnóstico de Transtornos
Mentais. Esses sinais e sintomas foram internacionalmente definidos detalhadamente
para permitir uma linguagem comum e uniforme em todo mundo científico,
imprescindível para o diagnóstico e para as pesquisas. Assim, os critérios de diagnóstico
para Transtornos Mentais foram padronizados internacionalmente de tal forma que,
atualmente, é possível diagnosticar Transtornos Mentais de forma tão confiável e
precisa quanto a maioria dos transtornos orgânicos.

Com a uniformidade dos métodos, critérios e conceitos a concordância entre


dois especialistas em diagnóstico de Transtornos Mentais apresenta médias entre 70 e
90% (Wittchen et al. 1991; Wing et al. 1974; WHO 1992; APA 1994; Andrews et al.
1995). Essas cifras estão na mesma faixa da concordância de diagnóstico dos
transtornos físicos como, por exemplo, a diabete, a hipertensão ou a doença coronariana
e assim por diante.

Como um diagnóstico preciso é requisito essencial para uma intervenção


apropriada, bem como para a dados estatísticos e epidemiológicos precisos, os avanços
nos métodos de diagnóstico vieram facilitar, consideravelmente, a aplicação de
princípios clínicos e de saúde pública na área da saúde mental. Embora a promoção da
saúde mental positiva para todos os membros da sociedade seja evidentemente uma
meta importante, ainda há muito que aprender sobre como atingir esse objetivo.

Fatores Biológicos, Psicológicos e Sociais

Por muitos anos, os cientistas discutiram a importância relativa dos fatores


genéticos versus fatores ambientais no desenvolvimento de Transtornos Mentais e de
Comportamento. Hoje, entre as causas, os determinantes e os agravantes da Doença
Mental a separação artificial dos fatores biológicos, psicológicos e sociais tem
constituído um grande obstáculo ao estudo e compreensão. Na verdade, esses
transtornos mentais são semelhantes a muitas doenças físicas, pelo fato de resultarem de
uma complexa interação de vários fatores.

A evidência científica moderna indica que os Transtornos Mentais e


Comportamentais resultam de fatores genéticos e ambientais ou, em outras palavras, da
interação da biologia com fatores sócio-ambientais. O cérebro não reflete simplesmente
o desenrolar determinista de complexos programas genéticos, nem é o comportamento
humano mero resultado do determinismo ambiental. Já desde antes do nascimento e por
toda a vida, os genes e o meio ambiente estão envolvidos numa série de complexas
interações. Essas interações são cruciais para o desenvolvimento e evolução dos
Transtornos Mentais e Comportamentais.

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A ciência moderna está mostrando, por exemplo, que a exposição a estressores


durante o desenvolvimento inicial da pesonalidade está associada com a hipereatividade
cerebral persistente e o aumento da probabilidade de depressão numa fase posterior da
vida (Heim et al. 2000). É promissor o fato de se haver mostrado que a terapia
comportamental para transtornos obsessivo-compulsivo resulta em mudanças na função
cerebral que podem ser observadas usando técnicas de registro de imagens e que são
iguais aos que se podem obter mediante o uso de terapia medicamentosa (Baxter et al.
1992).

Não obstante, o descobrimento de genes associados ao aumento do risco de


transtornos emocionais continuará proporcionando instrumentos de pesquisa
importantes, os quais, juntamente com uma compreensão maior dos circuitos neurais,
virão trazer novos e importantes vislumbres à fisiopatologia dos Transtornos Mentais e
de Comportamento.

Ainda há muito que aprender sobre as causas e agravantes dos Transtornos


Mentais e Comportamentais, mas as contribuições da neurociência, da genética, da
psicologia e da sociologia, entre outras, desempenham importante papel informativo da
maneira da psiquiatria compreender essas complexas relações. Uma apreciação
cientificamente fundamentada das interações entre os diferentes fatores contribuirá
poderosamente para erradicar a ignorância e pôr paradeiro aos maus-tratos infligidos
pela própria sociedade às pessoas com esses problemas.

1. - Fatores Biológicos

A idade e o sexo estão associados com Transtornos Mentais e


Comportamentais. Já foi demonstrada a associação dos Transtornos Mentais e
Comportamentais com perturbações da comunicação neural no interior de circuitos
específicos. Na esquizofrenia, anormalidades na maturação dos circuitos neurais podem
produzir alterações detectáveis na patologia no nível das células e dos tecidos grossos,
as quais resultam no processamento incorreto ou mal adaptativo de informações (Lewis
e Lieberman 2000).

Na depressão, contudo, é possível que não ocorram anormalidades anatômicas


distintas e o risco da doença pode ser devido antes a variações na responsividade dos
circuitos neurais (Berke e Hyman 2000). Estas, por sua vez, podem refletir alterações
quase imperceptíveis na estrutura, na localização ou nos níveis de expressão de
proteínas críticas para a função normal.

Certos Transtornos Mentais, como a dependência de substâncias psicoativas,


por exemplo, podem ser encarados em parte como resultado de plasticidade sináptica
mal adaptativa. Noutras palavras, alterações das conexões sinápticas, resultantes quer
da ação de drogas, quer da experiência, podem produzir alterações de longo prazo no
pensamento, na emoção e no comportamento.

Paralelamente ao progresso na neurociência, ocorreram avanços na genética.


Quase todos os Transtornos Mentais e Comportamentais graves comuns estão
associados com um significativo componente de risco genético. Estudos do modo de

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transmissão de Transtornos Mentais entre diversas gerações de famílias extensas e


estudos que comparam o risco de Transtornos Mentais em gêmeos monozigóticos
(idênticos), em oposição a gêmeos dizigóticos (fraternais), levaram, porém, à conclusão
de que o risco das formas comuns de Transtornos Mentais é geneticamente complexo.

Os Transtornos Mentais e Comportamentais devem-se, predominantemente, à


interação de múltiplos genes de risco com fatores ambientais. Ademais, é possível que a
predisposição genética ao desenvolvimento de determinado distúrbio mental ou
comportamental se manifeste somente em pessoas sujeitas a certos estressores que
desencadeiam a patologia.

Os exemplos de fatores ambientais poderiam abranger desde a exposição a


substâncias psicoativas no estado fetal, até a desnutrição, infecção, perturbação do
ambiente familiar, abandono, isolamento e trauma.

2. - Fatores Psicológicos

Existem também fatores psicológicos individuais que se relacionam com a


manifestação de Transtornos Mentais e Comportamentais. Um importante achado
ocorrido no século XX e que deu forma à compreensão atual, é a importância decisiva
do relacionamento Com os pais e outros provedores de atenção durante a infância.

O cuidado afetuoso, atento e estável permite ao lactente e à criança pequena


desenvolver normalmente funções como a linguagem, o intelecto e a regulação
emocional. O malogro pode ser causado por problemas de saúde mental, doença ou
morte de um provedor de atenção.

A criança pode ficar separada do provedor devido à pobreza, guerra ou


deslocamento populacional. A criança pode carecer de atenção por não haver serviços
sociais disponíveis na comunidade maior. Seja qual for a causa específica, a criança
privada de afeto por parte de seus cuidadores tem mais probabilidades de manifestar
Transtornos Mentais e Comportamentais, seja durante a infância ou numa fase
posterior da vida.

A comprovação desse achado foi dada por lactentes que viviam em instituições
que não proporcionavam um nível de estimulação suficiente. Embora recebessem
nutrição adequada e atenção física, essas crianças tinham grandes chances de apresentar
graves prejuízos nas interações com outras, na expressividade emocional e na maneira
de lidar com a adaptação às ocorrências estressantes. Em certos casos, verificaram-se
também déficits intelectuais.

Outro achado importante é o de que o comportamento humano e configurado,


em parte, através de interações com o meio ambiente natural ou social. Essas interações
podem resultar em conseqüências desejáveis ou indesejáveis para o indivíduo.
Basicamente, estes têm mais probabilidades de praticar comportamentos que são
recompensados pelo ambiente e menos probabilidades de praticar comportamentos que
são ignorados ou castigados.

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Assim, os Transtornos Mentais e Comportamentais podem ser considerados


como comportamento mal adaptativo aprendido, seja diretamente, seja pela observação
de outros com o passar do tempo. Provas disso vêm de décadas de investigação sobre
aprendizagem e comportamento, confirmadas ainda pelo sucesso da terapia do
comportamento, que usa esses princípios para ajudar as pessoas a alterar padrões mal
adaptativos de pensamento e comportamento.

Finalmente, a ciência psicológica mostrou que certos tipos de transtornos


mentais e comportamentais, como a ansiedade e a depressão, podem ocorrer em
conseqüência da incapacidade de se adaptar a uma ocorrência vital estressante. De
modo geral, as pessoas que procuram não pensar nos estressores ou fazer face a eles têm
mais probabilidades de manifestar ansiedade ou depressão, enquanto as que discutem
seus problemas com outras e procuram encontrar meios de controlar os estressores
funcionam melhor com o passar do tempo. Esse achado levou ao desenvolvimento de
intervenções que consistem em ensinar aptidões para enfrentar a vida.

Coletivamente, essas descobertas contribuíram para a compreensão dos


Transtornos Mentais e Comportamentais. Ademais, constituíram a base do
desenvolvimento de toda uma série de intervenções efetivas.

3. - Fatores Sociais

Embora se tenha estabelecido a associação de fatores sociais, como por exemplo


a urbanização e a pobreza com o desenvolvimento de Transtornos Mentais e
Comportamentais, não há razão para supor que as conseqüências das alterações sociais
para a saúde mental sejam as mesmas para todos os setores de determinado
segmento social. As mudanças geralmente exercem efeitos diferenciais baseados no
status econômico, no sexo, na raça e na etnia.

Entre 1950 e 2000, a proporção da população urbana da Ásia, África, América


Central e do Sul subiu de 16% para 50% dos habitantes daquelas regiões (Harpham e
Blue, 1995). Em 1950, as cidades do México e de São Paulo tinham, respectivamente,
3,1 milhões e 2,8 milhões de habitantes, mas em 2000 as populações estimadas de
ambas eram de 10 milhões de habitantes.

A natureza da urbanização moderna pode ter conseqüências deletérias para a


saúde mental, devido à influência de estressores maiores e de eventos vitais adversos
mais numerosos, como por exemplo o congestionamento, a poluição do meio ambiente,
a pobreza e a dependência comum em uma economia baseada no dinheiro, com altos
níveis de violência ou reduzido apoio social (Desjarlais et al. 1995).

Aproximadamente a metade das populações urbanas em países de renda média e


baixa vive na pobreza, e há dezenas de milhões de adultos e crianças sem teto. Em
certas zonas, o desenvolvimento econômico está forçando um número crescente de
indígenas a migrar para áreas urbanas em busca de uma forma mais viável de ganhar a
vida.

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Via de regra, a migração não produz melhoria do bem-estar social; ao contrário,


resulta freqüentemente em altos índices de desemprego e condições miseráveis de vida,
expondo milhares de migrantes ao estresse social e a um risco maior de Transtornos
Mentais devido à ausência de redes de apoio social. Os conflitos, as guerras e a
inquietação social estão associados com elevação das taxas de problemas de saúde
mental.

A vida real também é cheia de problemas para muitas pessoas. São problemas
comuns o isolamento, falta de transportes e comunicações, e limitadas oportunidades
educacionais e econômicas. Ademais, os serviços mentais e sociais tendem a concentrar
os recursos e a perícia clínica nas grandes áreas metropolitanas, deixando poucas e
limitadas opções para os habitantes rurais que, porventura, necessitem de atenção em
saúde mental.

Um estudo recente sobre o suicídio de pessoas idosas em certas zonas rurais da


Província de Hunan, na China, mostrou um índice de suicídios mais elevado nas áreas
rurais (88,3 por 100.000) do que nas urbanas (24,4 por 100.000) (Xu et al. 2000). Em
outros países, foram informados índices de depressão entre mulheres das áreas rurais
mais de duas vezes maiores do que os das estimativas para mulheres na população geral
(Hauenstein e Boyd 1994) .

Existe uma relação complexa e multidimensional entre pobreza e saúde mental.


Em sua definição mais estrita, pobreza é a falta de dinheiro ou de posses materiais. Em
termos mais amplos, talvez mais apropriados para discussões relacionadas com
Transtornos Mentais e Comportamentais, pode-se entender como pobreza um estado
em que não se dispõe dos meios suficientes, podendo incluir-se nisto a falta de recursos
sociais ou educacionais.

A pobreza e as condições associadas a ela, como é o caso do desemprego, do


baixo nível de instrução, da privação e do desabrigo, não somente estão muito
difundidas nos países pobres, como também afetam uma minoria bastante considerável
nos países ricos. Os pobres e os desfavorecidos acusam uma prevalência maior de
Transtornos Mentais e Comportamentais, inclusive transtornos do uso de substâncias.
Essa prevalência maior pode ser explicada tanto por uma ocorrência maior desses
transtornos entre os pobres, como pela tendência à queda na pobreza dos mentalmente
enfermos.

Embora haja controvérsia no tocante à determinação de qual desses dois


mecanismos é responsável pela prevalência maior de Transtornos Mentais e
Comportamentais entre os pobres, os indícios disponíveis parecem indicar que ambos
são relevantes (Patel, 2001). Esse mecanismo causal, por exemplo, pode ser mais válido
em relação aos transtornos de ansiedade e depressão, enquanto a teoria da queda na
pobreza seria mais aplicável para os transtornos psicóticos e uso de substâncias.

Esses dois mecanismos, porém, não se excluem um ao outro: um indivíduo pode


ser predisposto a Transtornos Mentais devido a sua situação social, enquanto outro que
apresenta transtornos pode estar enfrentando uma privação maior pelo fato de estar
doente. Tal privação inclui níveis mais baixos de aproveitamento escolar, desemprego e,
em casos extremos, desabrigo

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Visando ilustrar melhor as influências da biologia, da psicologia e da sociedade


sobre o desenvolvimento das Doenças Mentais vamos reproduzir aqui a idéia
contribuição do modelo proposto por Smith. Segundo esta, são quatro os mecanismos
de influência, tanto para o desenvolvimento da personalidade quanto, obviamente, para
o desenvolvimento das Doenças Mentais. São eles:

1 - Mecanismo Genético-Constitucional Direto

O mecanismo genético direto sugere uma influência dos genes e/ou da


constituição de maneira direta na formação da Personalidade. Neste caso, a influência
ambiental é muito diminuta e a participação constitucional é quase absoluta. São poucas
as situações que se enquadram neste mecanismo e a maioria delas refere-se aos casos de
deficiência mental, como por exemplo, a Trissomia 21 ou Síndrome de Down, entre
outras.

De um modo geral, são situações onde o patrimônio genético determina uma


configuração especial no indivíduo de natureza decididamente irreversível e imune às
alternativas terapêuticas atuais (grife-se "atuais"). Diz-nos o bom senso que de acordo
com os avanços dos conhecimentos da genética, tais situações tendem a rarear cada vez
mais. A detecção precoce de genes anômalos ou patogênicos e o conhecimento acerca
da penetrância de tais genes prometem um futuro mais otimista na área da genética e da
concepção humana. Entretanto, atualmente tais procedimentos corretivos da formação
constitucional desenvolvem-se, quase exclusivamente, na esfera da prevenção e não do
tratamento.

Falamos em Genético-Constitucionais e não apenas em Genéticos (como propunha


Smith) devido às diferenças entre um acontecimento apenas genético e outro
constitucional. Genético significa, em tese, hereditário. Constitucional, por sua vez,
significa que faz parte da constituição da pessoa (inato), podendo ou não ser genético. A
encefalopatia proporcionada pela toxoplasmose congênita, por exemplo, é
constitucional, mas não é genética.

2 - Mecanismo Genético-Constitucional Indireto

Neste caso, muito embora os traços marcantes da Personalidade possam ser


determinados por fatores genéticos e/ou constitucionais, a atuação decisiva do ambiente
poder alterar o curso do desenvolvimento do indivíduo. Uma surdez congênita, por
exemplo, capaz de determinar uma Personalidade peculiar em decorrência das
importantes limitações de desenvolvimento, será marcadamente atenuada caso o
enfermo possa dispor de recursos especializados de treinamento e educação.

Os genes, neste caso, são herdados como possibilidades de se tornarem ou não


determinantes de características na Personalidade, dependendo do tipo de atuação
ambiental. Um indivíduo que tenha em si uma potencialidade genética de ser alto, por
exemplo, poder terminar seu desenvolvimento com baixa estatura se o meio não lhe
fornecer condições adequadas de nutrição.

Encontram-se, nesta possibilidade, os transtornos emocionais considerados


endógenos pela psicopatologia. É o caso da esquizofrenia, por exemplo, que pode ou

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não se manifestar durante a vida do indivíduo apesar da probabilidade constitucional-


genética. A eclosão franca da doença dependerá de um complexo conjunto de
circunstâncias. Também a epilepsia poderia ser entendida através deste mecanismo,
assim como outras condições psicopatológicas de comprovada concordância familiar.

3 - Mecanismo Ambiental Geral

O ambiente em caráter geral, dentro do espaço sócio-cultural a que pertence o


indivíduo, pode favorecer o desenvolvimento de alguns traços peculiares na forma de
relacionamento para com o mundo. Os estímulos, as solicitações, as oportunidades de
treinamento, as normas de convivência, enfim, todo o patrimônio oferecido à pessoa
através do sistema sócio-cultural e ambiental poderá determinar modalidades
características da pessoa existir.

Será sobre as potencialidades constitucionais que o ambiente desempenhará uma


ação modeladora da Personalidade, ou seja, o ambiente poderá alterar os rumos do
desenvolvimento geral conferindo uma determinada maneira do indivíduo ser. Em
termos psicopatológicos podemos alocar aqui alguns transtornos ditos neuróticos, com
notável predominância dos elementos existenciais sobre os constitucionais.

4 - Mecanismo Ambiental Específico

Encontramos aqui os elementos ambientais relacionados especificamente a


determinados aspectos do desenvolvimento da Personalidade como, por exemplo, a
desnutrição, o alcoolismo, certas infecções, intoxicações, etc. São intercorrências
ambientais que atuam na Personalidade especificamente neste ou naquele aspecto,
como pode ser o caso de um traumatismo craniano, após o qual o indivíduo tenha
passado a apresentar convulsões ou demenciação.

Neste caso podemos detectar UM elemento ambiental específico e responsável


pela alteração no rumo do desenvolvimento da Personalidade. Isso quer dizer que sem
este fator ambiental específico a Personalidade tomaria outro rumo e o indivíduo
apresentar-se-ia na vida com outro desempenho existencial.

Embora a proposta esquematizada por Smith possa facilitar uma reflexão acerca
do problema ambiente-constituição na gênese da Personalidade ou, mais além, na
gênese dos transtornos da Personalidade, isso não deve ser tomado como uma questão
hermética. Tanto para o desenvolvimento da Personalidade normal, quanto da
patológica ou da não-normal, sempre iremos nos defrontar com uma condição
multifatorial. Uma conjunção de vários destes mecanismos de influência.

Na psicopatologia a idéia de causalidade deve ser vista com muita prudência.


Nenhuma situação de desenvolvimento da Personalidade poderá ser determinada,
exclusivamente, por este ou por aquele mecanismo proposto por Smith, antes disso, o
que se vê com mais freqüência é sim uma conjunção de mais de um deles.

Como se vê, atualmente o mais sensato seria admitir uma natureza bio-psico-
social para como origem da Personalidade e o peso com que cada qual desses

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elementos participam na maneira como a pessoa É hoje, aqui e agora, será


extremamente variável e individual.

Outras questões envolvidas

Os Transtornos Mentais podem causar incapacidade grave e definitiva,


inclusive a incapacidade de trabalhar. Não havendo apoio social disponível, como
freqüentemente ocorre nos países em desenvolvimento, não havendo organismos de
bem-estar social organizados, o empobrecimento se verifica com bastante rapidez.

Há indicações também, de que a progressão dos Transtornos Mentais e


Comportamentais é determinada pelo status socioeconômico do indivíduo. Isso pode
ser devido à falta geral de serviços de saúde mental, combinada com as barreiras
enfrentadas por certos grupos socioeconômicos no acesso à atenção. Os países pobres
dispõem de poucos recursos para atenção em saúde mental e, muitas vezes, tais recursos
não estão disponíveis para os setores mais pobres da sociedade.

Mesmo nos países ricos, a pobreza, juntamente com fatores associados, tais
como a falta de cobertura de seguros, nível mais baixo de instrução, desemprego e
situação minoritária, em termos de raça, etnia e idioma, pode criar barreiras
insuperáveis à atenção. O desnível de tratamento para a maioria dos Transtornos
Mentais, que já é alto, mostra-se efetivamente enorme para a população pobre.

Entre os diferentes elementos econômicos, os múltiplos papéis desempenhados


pela mulher na sociedade, colocam-na em maior risco de Transtornos Mentais e
Comportamentais. As mulheres continuam arcando com o fardo da responsabilidade,
associado com as condições de esposas, mães, educadoras e provedoras de atenção para
outros, ao mesmo tempo em que se estão transformando numa parte cada vez mais
essencial da mão-de-obra, constituindo, em um quarto a um terço das famílias, a
principal fonte de renda.

Além das pressões impostas às mulheres em virtude da expansão de seus papéis,


não raro em conflito, elas vivenciam significativa discriminação sexual, concomitante à
pobreza, à fome, à desnutrição, ao excesso de trabalho, à violência doméstica e sexual.

Assim, pouco surpreende que as mulheres tenham acusado maior probabilidade


do que os homens em receber prescrição de psicotrópicos. A violência contra a mulher
constitui um significativo problema social e de saúde pública que afeta mulheres de
todas as idades, de todos ambientes culturais e em todos os níveis de renda.

O racismo também levanta questões importantes. Embora ainda haja relutância


em debater o preconceito racial e étnico no contexto da saúde mental em certos setores
sociais, pesquisas psicológicas, sociológicas e antropológicas demonstraram que o
racismo está relacionado com perpetuação de problemas mentais. A julgar pelos
indícios disponíveis, as pessoas alvo do racismo por muito tempo têm maior risco de
apresentar problemas mentais ou sofrer agravamento de problemas que já existem.
Psiquiatras que estudam a relação entre racismo e saúde mental nas sociedades onde o

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racismo é prevalente, observaram que o racismo pode acentuar a depressão, por


exemplo.

Numa recente resenha de dez estudos de diferentes grupos sociais na América do


Norte, perfazendo um total de 15.000 respondentes, verificou-se uma associação
positiva fortemente estabelecida entre experiências de racismo e angústia psicológica
(Williams e Williams-Morris, 2000).

A influência do racismo pode ser considerada também em nível da saúde mental


coletiva, de grupos e sociedades. O racismo tem fomentado muitos sistemas sociais
opressores ao redor do mundo e através dos tempos. Na história. recente, o racismo
permitiu aos brancos africanos do sul, definir os sul-africanos negros como "inimigos",
e assim cometer atos que, em outras circunstâncias, seriam considerados moralmente
repreensíveis.

As proporções e a rapidez extraordinárias da mudança tecnológica nos fins do


século XX é outro fator associado à manifestação de Transtornos Mentais e
Comportamentais. Essas mudanças tecnológicas, especialmente a revolução nas
comunicações, oferecem tremendas oportunidades para um incremento da disseminação
de informações e emancipação de seus usuários. A telemedicina hoje possibilita
proporcionar tratamento à distância.

Esses avanços têm, contudo, seu lado negativo. Há indícios sugerindo que a
própria mídia pode ter influência sobre os níveis de violência, sobre o comportamento
sexual e sobre o interesse na pornografia. A exposição à violência nos jogos de vídeo
também aumenta o comportamento agressivo e outras tendências agressivas (Dill e Dill,
1998). Hoje em dia, os gastos com a publicidade em todo o mundo estão ultrapassando
em um terço o crescimento da economia mundial. A comercialização agressiva está
desempenhando papel substancial na globalização do uso de álcool e tabaco entre os
jovens, aumentando assim o risco de transtornos relacionados com o uso de substâncias
e condições físicas associadas (Klein, 1999).

Exame do Estado Mental

O Exame do estado mental (EEM) é o processo através do qual o profissional


que trabalha com saúde mental (geralmente psiquiatras e psicólogos) examina
sistematicamente o estado mental de um paciente.

Cada função mental é considerada separadamente de uma forma paralela a um


exame físico. Muito do material do EEM é coletado durante a história clínica. O
resultado do exame e da entrevista clínica são combinados para se formular o
diagnóstico psiquiátrico.

Aparência

O aspecto da pessoa é avaliado, desde a idade, altura, peso, vestuário (se está
limpo, sujo, aspecto bizarro, roupas incongruentes, muito coloridas). A atitude

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dominante durante a entrevista também é alvo de consideração (se desconfiado,


receptivo, evita responder às perguntas, etc)

Comportamento

Como a pessoa se move, posições do corpo (flexibilidade cérea, comum na


esquizofrenia hebefrênica ou hebefrenia), agitação psicomotora. Movimentos anormais
como Coréia, tiques ou tremores também são descritos aqui.

Discurso

Costuma-se separar discurso de pensamento no EEM. No geral, em discurso


descreve-se o volume que a pessoa usa ao falar, fluxo, velocidade. Maneirismos,
sotaques, hesitações (ou bloqueios), tiques vocais são descritos aqui.

Humor e afeto

Afeto é a expressão de uma emoção e humor é o estado emocional do indivíduo,


relatado pelo mesmo. O afeto de uma pessoa pode variar desde depressivo (depressão
nervosa), elação ou eufórico, irritado e normal. Se a sensação que se tem ao final do
exame é de um estado depressivo, tal deve ser descrito em humor. Os vários estados
afetivos demonstram se uma pessoa demonstra uma expansão do seu afeto ou se o
mesmo se encontra restrito (muitas vezes descrito como aplainado ou embotado).
Também é importante notar se o afeto está incongruente (por exemplo um indivíduo ri
ao invés de chorar quando lhe contam uma notícia triste). Aspectos culturais devem ser
considerados.

Percepção

Na percepção é avaliada a sensopercepção do paciente, ou seja, como ele recebe


(sentidos) e percebe (interpretação) o mundo. Descrevem-se aqui fenômenos como
alucinação e ilusão. A natureza de cada experiência deve ser descrita em detalhes.
Alucinações auditivas, por exemplo, são comuns na esquizofrenia enquanto alucinações
visuais são frequentes em doenças orgânicas. Deve-se questionar sobre alterações de
todos os sentidos pois as alucinações podem ser olfativas, cenestésicas, etc.

Alguns dos sintomas de Kurt Schneider de primeira ordem são alucinatórios,


como o eco do pensamento, roubo do pensamento e inserção de pensamentos.
Despersonalização (o indivíduo sente-se irreal) e desrealização (sente o mundo como
irreal) também devem ser descritos aqui.

Também é importante verificar se as alucinações ocorrem na segunda pessoa


(conversa com o paciente) ou na terceira pessoa (conversam entre si) e se comandam o
doente (atos homicidas ou suicidas). Às vezes as alucinações podem ser outros sons
além de vozes, como sinos, latidos, sons de motores, zumbidos, etc. Também podem ser
outros fenômenos visuais como halos ou cores difíceis de descrever. Estas são
chamadas alucianções elementares.

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Alucinações extracampinas são aquelas nas quais o paciente vê ou ouve coisas


fora de seu campo sensorial (ouvir uma voz a 3 km de distância, ver através de paredes,
etc).

Deve-se questionar como a pessoa lida com as alucinações, se são assustadoras,


angustiantes ou prazerosas.

Pensamento

Esta categoria é dividida em forma (estruturação do pensamento), conteúdo (o


tema e o sentido do pensamento) e curso (velocidade e ritmo do pensamento).

Alterações de forma a serem percebidas:

 Fuga de idéias: variação rápida da temática proporcionando um distanciamento


instantâneo (mas conexo) da idéia central sem perder o nexo associativo
 Afrouxamento dos nexos associativos: Perda acentuada do sentido lógico
impedindo a conclusão do raciocínio. Se manifesta sob as seguintes formas:
Desagregação do pensamento; Circunstancialidade (hiperdetalhamento de
informações irrelevantes para o tema); Tangencialidade (o discurso se aproxima
mas não é concluído); Incoerência do pensamento; Concretismo (dificuldade ou
incapacidade de abstração com o discurso retido no campo do imediatismo
literal) Perseveração (paciente persiste nas respostas de forma repetida apesar da
mudança de tema proposta). Muito comum em casos de Esquizofrenia.

Alterações de Conteúdo:

 Idéias obsessivas-compulsivas
 Ruminação do pensamento
 Idéias de evitação fóbica
 Auto-depreciação
 Ideação suicida
 Mitomania ou pensamento mágico
 Queixas somáticas
 Pessimismo
 Delírio

Alterações de Curso:

 Taquipsiquismo: aceleração do pensamento, frequentemente associado a uma


aceleração da fala conjugada. Ex.: uso de anfetaminas/cocaína, síndrome
maniforme
 Bradipsiquismo: lentificação do pensamento. ex.: depressão, demência,
rebaixamento dos níveis de consciência ou torpor.
 Bloqueio ou interrupção do pensamento: Interrupção total do fluxo de
pensamento havendo roubo ou interceptação do mesmo. Ex.: Típico da
esquizofrenia.

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Cognição

Grau de pensamento abstrato (pode estar diminuído na demência e na


esquizofrenia), a educação formal, inteligência, capacidade de concentração são
medidos através de simples exercícios. O mini exame do estado mental é exemplo de
questionário que pode ser aplicado para esta avaliação.

Consciência

O nível de consciência é avaliado: desperto, obnubilado, comatoso.

Consciência do Eu

Consciência psicológica de si mesmo, avaliando se o paciente compreendes as


seguintes características inerentes a sua psiquê:

 Consciência da atividade do eu: todas as vivências sao realizadas e presenciadas pelo


indivíduo.
 Consciência da unidade do eu: percepção de unidade e indivisibilidade do eu
 Consciência da identidade do eu: preservação da identidade e atemporalidade da
mesma, não sendo alterável ao longo do tempo.
 Consciência da oposição indivíduo x mundo: noção de separação intransponível entre
os eventos que ocorrem no mundo ou em outros indivíduos e ele mesmo.

Alterações neste campo podem ser sugestivos de esquizofrenia ou delírio.

Orientação

Questões para saber se o paciente sabe onde está (orientação espacial) e o


dia/mês/ano (orientação temporal). Questionar também se sabe quem é e qual sua
situação (orientação autopsíquica)

TRANSTONOS DE PERSONALIDADE

Os transtornos de Personalidade caracterizam-se pelo comprometimento de


componentes psicológicos básicos e representam desvios extremos ou significativos das
percepções dos pensamentos, das sensações e relações interpessoais de um indivíduo
médio de uma determinada cultura.

Personalidade Paranoica: comportamento de extrema vigilância, sentimento de


desconfiança e perseguição. Sensibilidade diante das contrariedades. Comportamento de
ataque como forma de defesa.

Personalidade esquizoide: Comportamento reservado e introspectivo, retraimento de


contatos sociais e afetivos. Incapacidade de expressar sentimentos, perceber e
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considerar os sentimentos dos outros. Parecem preocupados, constantemente, com


sensação de vazio e tédio. Apresentam uma ideia desvalorizada de si.

Personalidade psicopata: comportamentos que transgridem as leis e regras sociais sem


arrependimentos ou preocupação com outras pessoas, percebidas como ferramentas para
atingir objetivos. A moral é pessoal e egoísta. Baixa tolerância a frustração, tendendo a
culpar os outros. Impulsividade e facilidade em agir, sem refletir ou antecipar a ação.

Personalidade histriônica: manifestações afetivas superficiais, excessiva teatralidade e


dramatização. Estado emocional é oscilante e tende a demonstrar familiaridade com
pessoas que acabaram de conhecer. Utilizam como estratégia a sedução sexual e o
desejo constante de admiração.

Personalidade Obsessiva: Comportamento perfeccionista acompanhado de impulsos


repetitivos. O indivíduo verifica pormenores excessivamente, conduta rígida e aversão a
inovações.

Personalidade borderline: instabilidade emocional e comportamento impulsivo e


imprevisível sem considerar as consequências. Dificuldade em conter impulsos,
estabelecem relações precárias e conflituosas.

Personalidade ansiosa ou esquiva: comportamento hesitante, com recusa a estabelecer


relações. Desejam ser aceitos. Baixa autoestima e hipersensibilidade a críticas.

Personalidade dependente: comportamento passivo e dependente. Sentimento de


desamparo. Agem de forma submissa, com intensa dificuldade em tomar decisões.
Renunciam a expressão de desejos. Suscetíveis à rejeição.

Personalidade Narcísica: Comportamento marcado pela grandiosidade. Exploram as


pessoas para atingir seus objetivos. Buscam ser admirados. Ressaltam suas prórprias
características. Intolerância a críticas.

Transtornos mistos de personalidade: padrão de sintomas e características de vários


transtornos.

TRANSTORNOS PSIQUICOS

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Transtorno de ansiedade: estado de ansiedade crônica e desproporcional caracterizado


por medos ilógicos e excessivos de doenças ou acidentes. Os sintomas são fadiga,
irritação, falta de concentração e tensão muscular, além de sintomas físicos como
sudorese excessiva, tremores, tontura e taquicardia. O diagnóstico deve levar em conta
se o estado de ansiedade causa sofrimento significativo para o indivíduo nas diversas
esferas da vida.

Agorafobia: Medo de sair de casa, multidões e locais públicos.

Fobia social: Medo de situações sociais.

Síndrome do Pânico: crises recorrentes de intensa ansiedade, medo e desconforto. Os


sintomas físicos da crise de pânico (falta de ar, taquicardia, boca seca) aparecem
subitamente, sem causa aparente. A pessoa tem medo de novas crises e das
consequências mais graves como a morte.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): ideias obsessivas recorrentes e


incontroláveis que constituem pensamento e impulsos que invadem a consciência de
forma repetitiva e estereotipada. Apresentam crises de obsessão e compulsão severa
que se manifestam em comportamentos ritualísticos com o objetivo de reduzir a
ansiedade. O indivíduo reconhece o caráter recorrente dos pensamentos, porém não
consegue controlá-los. Há tipos em que predominam as ideias obsessivas e aquelas nas
quais predominam atos e comportamentos compulsivos.

Transtorno de estresse pós-traumático: surgimento de sintomas após a exposição a


um evento estressor. Os sinais podem ser comportamento retraído, evitação das relações
de atividades que possam lembrar o que ocorreu. Pode haver dificuldade de relacionar
os sintomas ao fato vivenciado.

Transtornos dissociativos: comportamentos e atitudes contraditórias. O indivíduo tem


a perda parcial ou total da integração da consciência, identidade, lembranças, memória e
controle dos movimentos corporais. Pode ser causada por eventos traumáticos ou
intoleráveis e relações perturbadas. Pode cronificar-se, com efeitos orgânicos como
anestesias ou paralisias.

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Histeria de conversão: sintomas corporais como paralisias, anestesias, cegueira,


perturbações motoras, perda da fala ou rouquidão. O comportamento não se evidencia
por exames, sendo o sintoma a expressão de um conflito ou necessidade psíquica.

Histeria dissociativa: alterações de consciência, memória (amnésia dissociativa,


esquecimento de dados relevantes por serem traumáticos), ilusões e alucinações.

Transtorno depressivo: humor triste ou irritável e desânimo, fadiga, cansaço,


alterações das ideias, pessimismo, alterações da autoestima. Sintomas relacionados a
vivências de perda (de emprego, status socioeconômico, morte ou algo simbolicamente
importante) com influência também de componentes biológicos e neuroquímicos.
Podem ser induzidos por substâncias ou condição médica. Sintomas persistentes por
pelo menos duas semanas.

Ciclotimia: tem como característica por ao menos dois anos com inúmeros períodos de
sintomas hipomaníacos que não conseguem satisfazer os critérios de um episódios
maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os critérios
para um episódio depressivo maior.

Distimia: é caracterizado por ao menos dois anos de humor deprimido durante grande
parte do tempo, apresentando, também, sintomas depressivos adicionais, os quais não
satisfazem os critérios para transtorno depressivo maior.

Transtorno bipolar: ocorrência de episódios maníacos ou mistos, alternando episódios


de alteração do humor e comportamento com momentos de mania, hipomania e
depressão. O episódio maníaco é marcado por um período de humor expansivo ou
irritável, autoestima exacerbada, necessidade diminuída de sono e distração. Os
episódios mistos são marcados por alternância de humor, com sintomas maníacos e
depressivos, tais como agitação, insônia, alteração de apetite, aspectos psicóticos e
pensamentos suicidas.

Transtorno fictício (síndrome de Munchausen): situação em que a pessoa causa,


provoca ou simula sintomas de doenças de forma compulsiva, através de um processo
de mentira patológica e consciente. A simulação das doenças pode ser provocada na
própria pessoa ou em outra (síndrome de Munchausen por procuração). O objetivo

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maior é satisfazer uma necessidade de assumir o papel do doente ou da pessoa que cuida
do doente, ou ainda atrair a atenção ou afastar terceiros. Alguns sinais característicos:
vontade de submeter-se a procedimentos, personalidade e identidade pouco estruturada,
baixa autoestima e falta de informações da história da doença.

Síndrome de Estocolmo: ocorre em vítimas de situações traumáticas que acreditam ter


desenvolvido um vínculo afetivo com o criminoso, tendo dificuldades em denunciá-lo,
negando a agressão. Ocorre um processo psicológico inconsciente de identificação com
o agressor e idealizando como forma de preservação.

Parafilias: Transtornos do comportamento sexual caracterizados por práticas e padrões


sexuais particulares, exclusivos e lesivos ao indivíduo e parceiros. São fantasias e
comportamentos sexuais humilhantes, com componentes desviantes como crianças e
animais. As pessoas podem não apresentar sofrimento em relação a essa prática ou até
culpa e vergonha por precisarem do envolvimento desse tipo de atividade para sentir
prazer.

Exibicionismo: tendência recorrente de exposição dos órgãos genitais ou masturbação a


estranhos, para chocar o observador.

Voyerismo: compulsão em observar pessoas nuas, mantendo relações sexuais ou


despindo-se, sem que a pessoa observada perceba.

Pedofilia: Preferência por prática sexual com crianças.

Sadomasoquismo: excitação e prática sexual que envolva dor, humilhação ou


subserviência.

Drogadição e abuso – Dependência de álcool e outras drogas psicoativas: a


síndrome de dependência é o conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e
fisiológicos que se desenvolvem após o consumo contínuo de ma substância psicoativa.
Drogas psicoativas são substâncias químicas (álcool, maconha, cocaína, nicotina,
heroína) que alteram funções do sistema nervoso central, produzindo efeitos psíquicos e
comportamentais, modificando humor, consciência, percepção e cognição. A compulsão
é importante componente da dependência, que pode ser psicológica (necessidade da
droga pelo usuário, para atingir a sensação de bem-estar e nível máximo de

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funcionamento) ou física (adaptação orgânica ao uso contínuo da droga). As


consequências da dependência de drogas são diminuição de autoestima, rediução de
interesses, deteriorização de autocuidado, perda de vínculos e depressão. A síndrome de
abstinência ocorre quando aparecem sintomas orgânicos na diminuição ou interrupção
do uso da droga.

Transtornos psicóticos: perda de contato com a realidade e presença de sintomas


psicóticos. Os sintomas que envolvem déficits são considerados sintomas negativos
(ausência ou perda de funções psíquicas na esfera da vontade, do pensamento e da
linguagem, distanciamento afetivo, retração social e lentificação psicomotora). Os
sintomas com manifestações novas e produtivas são considerados positivos, como ideias
delirantes e agitação psicomotora e produções linguísticas com neologismos.

Esquizofrenia: quadro de psicose com disfunções cognitivas e emocionais, alterações


de percepção, pensamento, comunicação, atenção, impulso, desordens emocionais (falta
de afetividade, ambivalência), delírios, alucinações, afastamento da realidade, distúrbios
da fala e sentimento persecutório.

Transtornos delirantes: Ocorrência de delírios persistentes, com certa preservação da


personalidade e do psiquismo.

Paranoias: sentimento de desconfiança persistente, excessivo e mal fundamentado.


Também denominada pensamento paranóico (ou paranóide), consiste em uma psicose
caracterizada pelo desenvolvimento de um pensamento delirante crônico, lúcido e
sistemático, provido de uma lógica interna própria, sem apresentar alucinações.

Alucinação: percepção equivocada do indivíduo de que está vendo, sentindo, ouvindo,


tocando algo que não existe.

Psicose puerperal: pode ser desencadeada pelo parto com início abrupto e sintomas de
confusão mental, agitação psicomotora, angústia, insônia, condutas regressivas,
desorganização, delírios, preocupações excessivas com o bebê e sua saúde, sensação de
que não o ama, desejo de feri-lo ou matá-lo. O puerpério é a fase pós-parto que acarreta
profundas alterações sociais, psicológicas e físicas na mulher.

Transtornos psicorgânicos: transtorno de causa orgânica e identificável (infecções,


traumas físicos, deficiências nutricionais, doenças cerebrais e vasculares, tumores,
disfunções endócrinas) com manifestações clínicas mentais e comportamentais:
dificuldades de concentração, rebaixamento do nível da consciência, alterações de

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humor e psicomotoras, mudanças no estado de alerta, percepção de si e do meio, ilusões


ou alucinações, ansiedade, irritação, alterações de orientação tempo/espaço.

Delirium: síndrome cerebral orgânica com perturbações de consciência, pensamento


atenção, percepção, memória, comportamento psicomotor, emoções e sono.

PAPEL DO PSICÓLOGO NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

É fundamental que haja na área da saúde mental a inter-relação das diversas


modalidades de atuação para atender as necessidades do paciente, e nesse ponto, o
trabalho em equipe multidisciplinar se mostra relevante ao atendimento com paciente e
seus familiares.

O trabalho em equipe é essencial no contexto de saúde mental, onde médicos,


enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, técnicos de enfermagem,
fisioterapeutas e os demais profissionais envolvidos nesse atendimento possam
estabelecer uma integração para que o paciente possa encontrar nesse cenário um
atendimento humanizado e a resposta a outras necessidades do mesmo.
(TAVARES, VENDRÚSCOLO, KOSTULSKI, GOLÇALVEZ, 2012).

Essa integração da equipe para estabelecer um plano de trabalho com cada


paciente se dá através do uso de prontuários pelas equipes de saúde, onde cada
profissional descreve as considerações e relevâncias do paciente e seu adoecimento. É
fundamental que seja aberto um espaço para discussão dos casos de cada paciente.

Segundo Fossi e Guareschi, citado por Tavares et.al.(2012, p. 2):

A equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre profissionais, onde o


paciente é visto como um todo, considerando um atendimento humanizado. Dessa
forma, foca-se nas demandas da pessoa, e a equipe tem por finalidade de atender as
necessidades globais da pessoa, visando seu bem-estar. Para que isso ocorra é
importante que haja um vinculo entre o paciente e os profissionais, que pode ser
considerado no manejo do psicólogo inserido no contexto hospitalar. Tal inserção é
favorável nas instituições quando esse tem a oportunidade e espaço para reuniões entre
os variados profissionais da equipe multidisciplinar, para poder destacar a importância
do reconhecimento do conjunto dos aspectos emocionais do paciente.

O psicólogo tem um papel central na tríade paciente-família-equipe de saúde,


pois exerce a importância da comunicação entre essa tríade, para resultar positivamente
no tratamento e cuidado ao paciente além do suporte aos familiares. O psicólogo
também tem a responsabilidade de organizar e esclarecer sobre a importância das
funções e suas relações exercidas em beneficio do paciente.

Em equipes multidisciplinares compete ao psicólogo: esclarecer sobre acontecimentos


biológicos que provocam mudanças significativas na vida das pessoas; informar sobre

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causas, consequências e tratamento de doenças que os pacientes apresentam; assegurar a


adesão ao tratamento; auxiliar na adaptação à nova condição de saúde; propiciar trocas
de experiência entre pessoas que enfrentam situações semelhantes; criar oportunidades
de contato com a equipe para esclarecer duvidas; comunicar normas e rotinas de
determinada unidade; e avaliar a qualidade dos serviços oferecidos pela instituição.
(TONETTO, GOMES, 2007, p.44)

O psicólogo enfrenta dificuldades para trabalhar em equipe multidisciplinar em virtude


de dois fatores limitadores. Um dele é o reduzido numero de psicólogos e, por
conseguinte, a limitação de tempo, indicados nas dificuldades em conciliar o
acompanhamento às visitas medicas, a discussão de casos e o atendimento psicológico.
O outro é a pouca disposição dos chefes de serviços em conceder espaço ao trabalho de
equipe. (TONETTO, GOMES, 2007, p. 45)

Diferenças entre os termos Inter x Multi x Trans disciplinar ou profissional.

• EQUIPE INTERDISCIPLINAR: quando alguns profissionais de áreas


diferentes discutem a situação de um paciente sobre aspectos comuns a mais de
uma área.

Ex: Psicólogo e médico psiquiatra discutem sobre o surto psicótico de um paciente que
ocorreu no ambiente hospitalar., discorrendo sobre quais motivos podem ter ocorrido
para tal acontecimento.

• EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: quando há vários profissionais atendendo o


mesmo paciente de forma independente entre si.

Ex: Psicólogo presta atendimento psicológico ao paciente que está apresentando


comportamentos depressivos; fisioterapeuta faz exercícios no paciente para melhorar
seus movimentos; médico passa remédios para aliviar a dor.

• EQUIPES TRANSDICIPLINARES: trabalham e definem ações de forma


conjunta, independente da área de atuação.

Ex: Profissionais da saúde preparam uma ação preventiva e educativa sobre a


importância do aleitamento materno.

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BILIOGRAFIA:

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2 ed.,


Porto Alegre: Artmed, 2008

SILVA, Ana Luisa Aranha e; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da. Os nexos entre
concepção do processo saúde/doença mental e as tecnologias de cuidados. Rev. Latino-
Am. Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 11, n. 6, p. 800-806, Dec. 2003 . Available
from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
11692003000600015&lng=en&nrm=iso>. access
on 23 May 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692003000600015.

Ballone GJ - O que são Transtornos Mentais - in. PsiqWeb, Internet, disponível em


www.psiqweb.med.br, 2008

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com
certificado
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/67356/psicologia-hospitalar-
atuacao-do-psicologo-em-equipe-multidisciplinar#ixzz49VeH9mdb

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