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Este trabalho objetiva analisar proposições para a caracterização e classificação da ditadura de

acordo com Luciano Gruppi, Franz Neumann e Maurice Duverger. Para tanto, realiza-se a análise
comparativa entre as argumentações Duverger e Neumann, os quais destrincham as diferentes
possibilidades de gênese e desenvolvimento, além dos tipos, variações, que regimes ditatoriais podem
apresentar. Gruppi, apesar de não postular uma teoria geral da ditadura, será aqui invocado como
representante da teoria marxista para fins de reflexão acerca da chamada “ditadura do proletariado”.

A presente discussão busca se desenvolver tendo como base não apenas as ditaduras
modernas, mas que também se estabelecem em países industrializados. Esse recorte é necessário uma
vez que os autores aqui discutidos também se debruçam sobre as ditaduras de tempos passados e/ou
ditaduras modernas em países não/sub-desenvolvidos.

A comparação das argumentações dos autores selecionados estabelece uma ferramenta para
a compreensão aprofundada de suas premissas teóricas e permite o estudo abrangente das diferentes
manifestações da teoria política sobre a estruturação de ditaduras.

Classificações da ditadura

A priori, Neumann identifica “ditadura” como um “governo de uma pessoa ou de um grupo


que se arrogam do poder e o monopolizam, exercendo-o sem restrições” (NEUMANN, 1969, p. 257).
Não obstante, também emprega um pequeno sistema classificatório para deixar sua análise mais clara.
Para esse autor, são três os tipos de arranjos institucionais que as ditaduras empregam ou empregaram
na história:

Quando o Estado ditatorial pode exercer seu poder unicamente a partir controle total dos
meios de repressão, ou seja, as polícias, o exército, a organização burocrática e o poder Judiciário, a
ditadura é classificada por Neumann como “simples”. Essa Ditadura simples ocorre geralmente em
países onde a população não possui uma vida política, e onde a política se concentra nas mãos de
pequenos grupos que estão apenas interessados em se associar ao ditador para fazer aumentar seu
próprio poder. Neumann observa que, nesse caso, as únicas intervenções estatais necessárias na
esfera social são o suborno e a corrupção de alguns poucos indivíduos influentes.

A chamada ditadura “cesarista” pode também se utilizar da coação tal como a ditadura
simples, mas seu diferencial é a tentativa de construir uma base na massa, um apoio popular, para sua
ascensão e/ou para o exercício de seu poder, a partir da construção imagem do ditador como sendo
um herói, salvador, etc. O dito Cesarismo se torna uma necessidade quando a população apresenta
consciência e articulação política, e/ou quando a “moral” democrática se torna universal em todos os
países. Neumann demonstra que, comumente na história, o Cesarismo nasceu a partir da necessidade
de adaptação a situações em que as forças de coação não eram suficientes para se manter o poder, e
o carisma de diversos ditadores era de grande importância para a manutenção do poder.

A terceira espécie de ditadura é a “totalitária”, a qual, além de poder se utilizar dos clássicos
meios de repressão e do cesarismo, tenta ativamente controlar a educação, a economia, os meios de
comunicação, as organizações sociais, ou seja, engrenar toda a sociedade e a vida privada dos cidadãos
ao sistema político. A ditadura totalitária se mostra a forma mais acabada e a que melhor se encaixa
no contexto econômico e social da modernidade, segundo Neumann.

Duverger, por sua vez, propõe duas “classes” de categorização. Primeiramente uma ditadura
pode ser: capitalista, ou seja, estabelecida em um país cuja economia é baseada na propriedade
privada dos meios de produção e que tende a preservar a propriedade privada como base econômica
da sociedade; ou socialista, instaurada em países nos quais a produção esteja em vias de coletivização,
e que busca estender tal coletivização.
Em segundo lugar, pode-se distinguir ditaduras revolucionárias – que tentam a criar uma nova
ordem e acabar com a antiga, seja ela qual for – de ditaduras conservadoras – que tentam proteger a
ordem política e social estabelecida contra uma ameaça de subversão. Cabe observar que o fator
“conservador” pode se apresentar como “reformista”; isso significa que a ditadura “reformista” está
disposta a se desfazer de certas práticas e/ou instituições para manter os componentes mais essenciais
do sistema econômico que deseja preservar (muitas vezes a linha entre ditadura conservadora e
reformista é quase inexistente, tornando difícil a classificação).

Há ainda um terceiro elemento a se levar em conta ao classificar as ditaduras no pensamento


de Duverger, mas que diz respeito especialmente às ditaduras modernas: essas podem ser ditaduras
“de partido único”, fenômeno que ocorre particularmente em países industriais e desenvolvidos da
modernidade, em que o partido único é a instituição primordial de sua estruturação; ou podem ser
ditaduras militares, fenômeno também da modernidade, mas que se constitui em países
subdesenvolvido e sem articulação política das massas, no qual o exército se configura como a única
organização estatal sólida e coesa, consequentemente a única capaz de comandar a máquina pública.
Nesse sentido, a ditadura militar descrita por Duverger se aproxima das ditaduras simples descrita por
Neumann.

Apesar de existirem, ao longo da história, exemplos de ditaduras capitalistas revolucionárias


(ou seja, tentaram estabelecer uma ordem capitalistas quando a mesma ainda não era vigente),
Duverger aponta para o fato de que, em tempos modernos, em razão dos arranjos econômicos liberais
e tecnocráticos vigentes, as ditaduras capitalistas tendem a ser conservadoras/reformistas; não
obstante, apesar de as ditaduras socialistas serem um fenômeno moderno e essencialmente
revolucionárias, Duverger não nega (inclusive afirma ser recorrente) a possibilidade de existirem
ditaduras socialistas conservadoras, ou seja, que não mais fazem avançar a socialização dos meios de
produção e se estagnaram quanto às mudanças socioeconômicas.

O fato de Duverger se utilizar do método marxista para diferenciar ditaduras capitalistas e


socialistas demonstra que esse autor, apesar de possuir críticas aos regimes políticos socialistas,
admite que estes detêm um diferencial ideológico que deve ser empiricamente levado em
consideração – poderíamos dizer que Duverger admite que os regimes socialistas estão, a priori, mais
comprometidos com a sua fundamentação ideológica de expropriação dos meios de produção. Caso
contrário, uma distinção entre socialista e capitalista seria apenas uma abstração propriamente
marxista, a qual seria facilmente rejeitada por um pesquisador como Duverger.

As origens da ditadura

Para Duverger, quando ocorre uma crise social de alta gravidade, capaz de fragmentar o
sistema político, o processo de estruturação de uma ditadura se torna uma alternativa provável para
restaurar a ordem que as instituições sociais não se mostram capazes de gerir. O autor indica o
exemplo dos países industriais que caminham em direção à tecnodemocracia: o advento do
capitalismo moderno induziria ao desenvolvimento da grande indústria racionalizada e do comércio
mundialmente integrado; as pequenas empresas, agricultores, artesãos, que tendem a ser arruinados,
se defendem face à sua iminente destruição. A partir de tamanha fratura no sistema social, uma
ditadura – o fascismo – ganha extrema força.

Duverger ainda argumenta que a crises de legitimidade também é um dos fatores sociais que
engendra uma ditadura. Segundo o mesmo, quando não há consenso absoluto quanto ao “jogo
político” a crise de legitimidade se instaura; nesse caso, se enfrentam diferentes ideologias de
legitimação para estabelecer como dominante certa legitimidade. O efeito dessa disputa é fazer surgir
uma necessidade muito forte de coação, fazendo surgir as ditaduras. Não obstante, a legitimidade é
um elemento particular do sistema social, e, portanto, está sempre associada às suas crises. A maioria
das crises de legitimidade são consequência de uma mudança profunda nas relações de força no
interior do sistema social - nesse sentido, as diferentes ideologias político-econômicas são sistemas de
legitimação mais ou menos racionais de uma certa ordem social.

De forma próxima, Neumann argumenta que, no tangente às relações de classe (lembremos


que Neumann é representante da Escola de Frankfurt, essencialmente marxista, portanto, para ele, as
relações de classe são objeto central para o estudo da sociedade e da política), são três as funções
sociais que a ditadura pode refletir:

A primeira é a tentativa, por parte de classes sociais insurgentes e sem direitos, de


conquistarem reconhecimento de seus interesses e opiniões políticas.

A segunda é o esforço de uma classe social ameaçada de declínio para preservar sua posição e
poder. Ou seja, a ditadura surge como uma tentativa de manutenção do status quo.

A terceira função social que uma ditadura pode representar é a investida de classes sociais
condenadas que desejam mudar radicalmente suas condições socioeconômicas, instaurando um
sistema político que restitua sua antiga dominância (seria o caso dos movimentos fascistas da
Alemanha e Itália, onde classes pequeno-burguesas tradicionais perderam espaço para grandes
empresas capitalistas multinacionais e burocratizadas).

Neumann não deixa claro se essas três situações distintas podem se sobrepor ou
interseccionar. À primeira vista, não parece ser impossível, seja no passado ou no futuro, que um dado
processo de estabelecimento de ditadura represente os anseios de classes sem regalias, mas
posteriormente expresse uma tentativa de preservação do status quo, por exemplo.

Enquanto Neumann descreve as “funções sociais” da ditadura, Duverger expõe as “bases


sociológicas” da ditadura. Em um primeiro momento, “função” e “base” não parecem se referir ao
mesmo objeto. Todavia, se fizermos uma observação mais aproximada, perceberemos que os
exemplos que Duverger oferece para explicar as crises no sistema social são praticamente idênticos às
situações descritas por Neumann como “funções sociais da ditadura”, e que as funções sociais que a
ditadura pode encarnar, seguindo o pensamento de Neumann, são, de modo preciso, consequências
diretas de uma “fratura” na estrutura social. Pode-se concluir que os autores entram em extrema
concordância ao avaliarem os problemas do âmago da sociedade como principais fatores que deem
origem às ditaduras.

O partido único

Tanto Neumann quanto Duverger percebem a extrema importância da existência de um


grande partido governista para a manutenção das ditaduras modernas. Apesar de o primeiro utilizar a
expressão “partido estatal monopolista”, aqui usaremos o termo usado por Duverger, “partido único”,
para nos referirmos a essa instituição descrita simultaneamente pelos dois autores.

Neumann descreve, de forma relativamente genérica, o partido único como sendo uma
ferramenta altamente adaptável à disposição do regime totalitário; o partido teria como função
controlar a burocracia da máquina estatal ao mesmo tempo que administra a sociedade civil –
cimentando elementos da moral e da ordem autoritária dentro do mundo social. O partido se torna
necessário na medida em que os clássicos instrumentos de repressão não são suficientes para
controlar uma sociedade industrial, que é altamente diversificada e possui uma cultura política prévia.
Ademais, as forças armadas e burocracias não são de total confiança e devem ter sua importância na
esfera política neutralizada. Uma vez que todas as Ditaduras Totalitárias modernas nasceram dentro
de regimes democráticos – e a moral democrática é um consenso em países industrializados - esse
partido único teria de assumir a forma de um movimento democrático e cultivar essa fachada mesmo
depois de ter chego ao poder; “cultivar os rituais democráticos, embora despidos de toda a sua
substância” (NEUMANN, 1969, p. 269).
São cinco os fatores que diferenciam o regime totalitário das outras ditaduras, segundo
Neumann: 1) é um Estado policial, que age fortemente contra a vida e a liberdade; 2) não existem
aparelhos ou instituições que agem a favor da disseminação do poder; 3) a presença de um partido
único governista; 4) a não diferenciação entre sociedade civil e Estado, ou seja, politização e cooptação
de todas as organizações da sociedade; 5) confiança no terror como ferramenta corriqueira de ordem. Commented [J1]: tirar essa divisão em números

É interessante notar como o partido único, que por si só já é um desses fatores, está Commented [PB2R1]: hmm fica muito ruim, amor?
Parece que vai ficar difícil de ler sem os números :BB não sei
fortemente relacionado aos outros quatro: A forte repressão, expressa nos fatores 1 e 5, é em grande socorro
parte exercida pelo partido e seus militantes; o partido, como ferramenta estatal, é importante para a
administração do poder altamente centralizado do regime, expresso no fator 2; finalmente, o partido,
como já mencionado, é uma organização política que se infiltra e contamina a sociedade civil,
politizando-a o máximo possível, processo mencionado como fator 4. Percebermos que a análise de
Neumann coloca o partido único como pilar fundamental do estabelecimento e manutenção do regime
autoritário, pilar esse que caracteriza as ditaduras modernas.

A argumentação de Duverger se aproxima dos preceitos de Neumann ao afirmar que o sistema


de dependência no partido único é característica fundamental das ditaduras modernas. Como o
mesmo argumenta, o partido único é instrumento de contato entre o povo e o governante, que tende
a ser impopular no início da ditadura, é instrumento de educação e propaganda que divulga e põe em
prática a doutrina do regime, e agrupa os militantes mais devotos. Além desses princípios que são
igualmente ressaltados por Neumann, Duverger aponta ao fato de o processo de fortalecimento do
partido como ferramenta estatal ter se desenvolvido quase simultaneamente na Itália fascista e na
ditadura revolucionária soviética, o que conota, mais uma vez, como o partido único é característico
das ditaduras essencialmente modernas.

Todavia, Duverger vai além de Neumann e lista um conjunto de características específicas que
diferenciam partidos únicos de ditaduras capitalistas das socialistas.

Os partidos únicos das ditaduras capitalistas modernas que se estabelecem em países


industrializados (que têm o fascismo como seu protótipo) possuem uma característica especial: são
uma milícia privada, armada e organizada militarmente, apoiando o regime materialmente tal como o
exército ou a polícia. A força miliciana desse partido tem como principais objetivos neutralizar e
substituir as forças armadas nacionais (em razão de estas representarem forças tradicionalistas), e
ajudar a inibir a ação das forças políticas de oposição. Esse partido único capitalista tende a se manter
muito fiel à figura do ditador, enxergando-o como uma figura sobre-humana e salvadora. São comuns
juramentos pessoais à sua pessoa, e muito comumente o partido se caracteriza quase como uma seita
religiosa.

O partido único é também para as ditaduras socialistas instrumento fundamental e autêntico.


A diferença reside no fato de os partidos únicos comunistas serem essencialmente estruturados a
partir de sua organização e principalmente de sua ideologia; esses dois princípios são inseparáveis, e
toda a unidade, coerência e disciplina do partido se dão por causa da adesão, por parte dos militantes,
a uma mesma moral e objetivos estratégicos. Nas ditaduras socialistas modernas, o Partido Comunista
constitui o órgão fundamental do Estado, definindo a perspectiva geral de desenvolvimentos da
sociedade, as orientações políticas internas e externas – basicamente, dirige e se torna o Estado. Ainda
de acordo com Duverger, a ideologia racionalista e materialista - e, consequentemente, a organização
- do partido socialista faz com que a mesma se encontre diametralmente oposta à um caráter de fé
religiosa; nesse sentido, o partido socialista é totalmente distinto do partido capitalista.

Um pequeno detalhe é de grande importância para se entender a atuação dos partidos únicos:
Neumann e Duverger veem o exército como uma força potencialmente ameaçadora; ambos enxergam
o partido como uma tentativa de murchar a importância e poder do exército e forças armadas. Essa
pequena congruência é significativa na medida em que mostra como o exército pode, sozinho,
controlar a máquina estatal, aplicar golpes, manter (ou destruir) ditaduras, etc.

A partir da caracterização realizada por Duverger, pode-se perceber que uma das principais
diferenças entre partidos únicos capitalistas e socialistas se dá na gênese de sua estrutura
organizacional: enquanto o fator fundamental que influencia a estrutura de organização do partido
único capitalista/fascista é seu caráter militar, o que o torna uma ordem cerrada e rígida, o fator
primordial à estrutura organizacional do partido único socialista é sua (recém dissolvida)
clandestinidade e sua ideologia, essencialmente “popular” e educativa.

Em última instância, percebe-se como o partido único é uma ferramenta governista utilizada
pelas ditaduras modernas em diversas ocasiões: colabora com a propaganda e doutrinação da
população, age como força de coação contra a oposição política, ajuda a gerir a burocracia estatal e a
centralizar o poder, entre muitos outros. O partido único é, finalmente, a instituição essencial das
ditaduras modernas.

Propaganda e manipulação

Os dois autores também entram em conformidade quando observam a prática de “falsa


propaganda” adotada pelas ditaduras de origem capitalista e conservadora. Para ambos as ditaduras
de tipo não revolucionário se esforçam para mascarar o caráter conservador do próprio regime, pois
é preciso justificar os novos arranjos políticos que foram instituídos, mesmo que não ofereçam uma
mudança social real, além de ser necessário, como ambos identificam, dar ao movimento totalitarista
um caráter democrático, visto que esse é o grande anseio das massas.

Duverger diz ser característica inerente à propaganda de regimes totalitários o forte culto à
personalidade do ditado; de Hitler a Lênin, ditadores são transformados em heróis nacionais, quase
deuses. Nesse aspecto Duverger diverge um pouco de Neumann, pois este não identifica o caráter
pessoal da ditadura como característica definidora do totalitarismo; pelo contrário, argumenta que um
regime totalitário pode ou não ter caráter cesarista. Contudo, essa divergência é diminuída na medida
em que ambos admitem o caráter pessoal e cesarista das grandes ditaduras totalitárias modernas –
como o nazismo, stalinismo, peronismo, etc.

Duverger faz uma observação de suma importância: o nacionalismo é outra base fundamental
da propaganda das ditaduras capitalistas, que além de exaltar o sangue e o passado da nação, forja a
imagem de um inimigo fundamental da nação, como um país próximo, uma ideologia ou até “um
inimigo mais irreal, encarregado de polarizar as angústias e os ressentimentos: os judeus, os negros,
etc.” (DUVERGER, 1988, p. 369).

Essa notável passagem encontrada na análise de Duverger muito se assemelha àquilo que
Neumann chama de “ansiedade” e “medo” na política. Para esse autor, as ditaduras totalitárias veem
a necessidade de substituir a coesão social baseada em interesses racionais, individualistas, por uma
“coesão” baseada em outra identificação, que fortaleça a ditadura e a centralização do poder. Como
resposta a essa necessidade, alguns regimes totalitários, em especial o movimento nazifascista, ativam
as ansiedades e medos das classes médias, tornando-as agressivas e destrutivas com um aval
confirmado por meio da identificação com o ditador.

Crise da modernidade liberal

Neumann e Duverger parecem reconhecer o caráter duplo e ambíguo da economia e política


modernas, as quais tendem, por um lado, à centralização burocrática, monopólio e ditadura, e por
outro lado, ao neoliberalismo, à integração do mercado mundial e à tecnocracia. Ambos também
parecem reconhecer o fato de as ditaduras totalitárias modernas serem respostas diretas à
globalização do sistema econômico liberal – em outras palavras, a ascendência do sistema econômico
liberal, altamente burocratizado e integrado, vem se mostrando a raiz de inúmeras fraturas sociais no
interior de diversas sociedades.

Neumann argumenta que, tratando-se da esfera política, as ditaduras totalitárias seguem uma
direção completamente oposta aos princípios institucionais do liberalismo - como o multipartidarismo,
divisão de poderes entre diferentes instituições - porque seus principais órgãos repressivos e de
controle não são tribunais e burocracias, mas sim a polícia e o partido (militarizado). Duverger, de
maneira análoga, sustenta que o fascismo (protótipo das ditaduras industriais modernas) aparece
como a expressão política da transformação do capitalismo; basicamente, tal regime promove o
“neocapitalismo” moderno e centralizador em detrimento ao “arqueo-capitalismo” liberal. É
enfatizando esse aspecto neocapitalista que o fascismo se auto proclama revolucionário – de fato,
Duverger admite que o fascismo realmente traz mudanças relativamente radicais no sentido
econômico.

Em ambos os autores conseguimos identificar uma construção da ideia de modernidade


marcada pelas contradições políticas; uma constante luta de poderes, interesses e projetos para o
futuro, e, ao mesmo tempo, um fenômeno que se repete em um cenário tão heterogêneo: ditaduras
hegemônicas, burocráticas, violentas e centralizadoras.

Os dois autores também enfatizam o importante papel desempenhado pelo desenvolvimento


tecnológico nas movimentações políticas modernas.

Duverger argumenta que o progresso técnico carrega consigo tanto a faceta da abundância de
bens - que permite a expansão da liberdade e a diminuição de conflitos - quanto a faceta da
racionalização e a planificação - tende a reforçar o Estado mais do que fazê-lo desaparecer. Neumann,
de maneira extremamente similar, diz que a tecnologia em grande escala implica uma dependência da
população de um mecanismo complexo e integrado que só pode ser organizado de forma altamente
burocratizada e hierarquizada (tal como um governo centralizador); e que, ao mesmo tempo, a
tecnologia pode fortalecer a autoconfiança e a consciência do próprio poder de produção, ou seja, um
espírito de cooperação oposto ao totalitarismo. Ora, segundo Neumann, o industrialismo moderno
contém e intensifica duas tendências políticas opostas: a tendência para a liberdade e para a
repressão. O progresso tecnológico dos meios de produção aparece no pensamento destes autores
como fruto do sistema socioeconômico; a tecnologia é, resumidamente, umas das formas sob as quais
o avanço liberal – a tecnocracia – se operacionaliza.

Relação entre ditadura e democracia

Duverger argumenta que, tratando-se de relação que certa ditadura estabelece com a
democracia, há uma divisão clara entre as ditaduras socialistas, que defendem o autoritarismo e a
repressão como método para se chegar à “verdadeira” democracia, e as ditaduras capitalistas
autoritárias, que consideram seu regime como definitivo em detrimento à democracia e ao liberalismo,
que seriam ineficazes formas de organização.

Seguindo a lógica do autor, apreendemos que as ditaduras socialistas prezam por um regime
democrático ao mesmo tempo que tentam conceber uma ordem social totalmente nova; fazem isso
porque veem a democracia liberal como “burguesa”, uma falsa democracia que não oferece liberdades
plenas aos cidadãos. Em contrapartida, as ditaduras capitalistas modernas, que também tentam
produzir uma ordem social totalmente nova, enxergam a democracia, seja qual for sua “vertente”,
como uma má forma de governo. Fundamentalmente, de acordo com Duverger, todas as ditaduras
modernas pretendem acabar com a democracia até então existente, mas a depender de seu caráter
capitalista ou socialista, o fazem com objetivos antagônicos: a primeira tenta exterminar a democracia,
a segunda, edificar a democracia suprema.
Neumann distingue três diferentes configurações que a ditadura pode ter (ou teve no decorrer
da história) de acordo com sua relação com a democracia: primeiramente, a ditadura pode ser uma
ferramenta prevista pelo regime democrático para momentos de instabilidade social; em segundo
lugar, pode ser uma “ditadura educativa”, que se propõe a preparar a sociedade para uma posterior
democracia; finalmente, a ditadura pode ser a pura rejeição da democracia, reconhecendo que essa
última não é suficientemente competente para gerir a sociedade.

Uma observação se faz importante: tanto Duverger quanto Neumann fazem questão de
lembrar que a concepção marxista de ditadura do proletariado é essencialmente educativa e de
preparação; teoria original da ditadura do proletariado prega uma ditadura da maioria sobre a minoria,
simetricamente compatível com a democracia e exercício da vida política por parte das massas.

Apesar de diferentes relações com a democracia poderem ser estabelecias, Neumann defende
a ideia de que toda ditadura moderna tende a significar a negação da própria democracia, ou seja, que
toda ditadura moderna tende a se tornar totalitária. Seu argumento é que, de antemão, todas as
ditaduras com características modernas nasceram sob condições democráticos, e, por conseguinte,
toda e qualquer ditadura vai invariavelmente enfrentar os anseios populares por um regime
democrático; vai precisar então, encontrar alguma medida paliativa que a ajude a conquistar o apoio
de setores específicos que a auxiliarão a governar mesmo sem o apoio ativo das massas.

Ao fundirmos a teorização acima mencionada de Neumann com a teoria da crise de


legitimidade de Duverger, chegamos à seguinte conclusão: toda ditadura, na modernidade, vai
enfrentar o já universal consenso quanto à democracia; por essa razão e em decorrência de sua
natureza repressiva e ilegítima, a ditadura (que em seu início tinha como objetivo ser temporária) não
consegue o apoio espontâneo necessário para formar um novo consenso acerca da legitimidade;
consequentemente, essa ditadura se verá obrigada a utilizar ferramentas totalitárias para ser capaz de
governar: propaganda, repressão à oposição, centralização da burocracia, utilização do partido único
para transformar a sociedade em uma massa política, entre outras.

Em outras palavras, pode-se dizer que o comum totalitarismo no qual as ditaduras modernas
industriais se transformaram é, em grande parte, decorrência da ânsia mundial pela democracia.

Considerações finais

Os diferentes sistemas classificatórios sugeridos por Neumann e Duverger não são


necessariamente excludentes; pelo contrário, parecem tratar dos mesmos eventos com uma
terminologia diferente. Se Neumann pode classificar dada ditadura como totalitária e educativa,
Duverger pode enxergá-la como socialista revolucionária; nesse sentido, as comparações podem ser
infinitas.

Ambos os autores sugerem um caráter hipócrita dos regimes socialistas na medida que esses
se utilizam de meios e técnicas supostamente autoritários para dar cabo às suas “ditaduras
proletárias”; ora, tanto as ditaduras revolucionárias quanto as conservadoras recorrem à violência e
opressão para defender uma ordem - existente ou futura - contrária à violência e opressão. Ao
tentarem argumentar dizendo que se utilizam destes meios para superar obstáculos e criar uma
condição favorável de uma nova ordem, melhor e mais justa, revolucionários e conservadores muito
se aproximam, bem como se aproximam da justificativa romana de ditadura.

É importante salientar uma observação que Duverger faz: dificilmente o método de análise e
classificação de ditaduras não é afetado por certa ideologia; ora, um certo regime pode ser classificado
de diferentes formas. Se o marxismo classifica o nazismo como uma ditadura conservadora capitalista,
o mesmo poderia se auto-classificar como um regime revolucionário; se o stalinismo se vê como um
regime socialista revolucionário, o liberalismo pode o ver como uma ditadura socialista conservadora.

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