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Colectânea de Jurisprudência

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JURISPRUDÊNCIA E PARECERES

Tribunal da Relação do Porto, Acórdão 20 Outubro 2005 (Ref.


8158/2005)

Relator: Saleiro de Abreu


Processo: 4901/05
Jurisdição: Cível
Colectânea de Juriprudência, Nº 185 Tomo IV/2005 (Agosto/Outubro)

Sumário
PROVIDÊNCIA CAUTELAR NÃO ESPECIFICADA. Obras no arrendado. Lesão grave e dificilmente
reparável. Natureza e extensão dos danos.
I - O arrendatário tem o direito de exigir que o senhorio lhe assegure, adequadamente, o gozo do locado
para os fins contratados, recaindo sobre este a obrigação de realizar as reparações necessárias.
II - Para o recurso a um procedimento cautelar por parte do inquilino, não basta que o prédio ou fracção
arrendada necessite de obras, ainda que urgentes, sendo também necessário que a sua não realização
imediata ameace causar àquele prejuízos graves e dificilmente reparáveis.
III - Para se aferir da gravidade e da dificuldade tem que se alegar e provar, ainda que indiciariamente, a
natureza e extensão dos danos causados no arrendado, nomeadamente as suas consequências.

J.A.C.G.

Disposições aplicadas:
arts. 11.2.b e 13 RAU (Ref. 63/1990).
arts. 1031.b e 1036 CC (Ref. 1/1966).
arts. 381 e 387.1 CPC (Ref. 2/1961).

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

l - Em 03/05/04, Arminda de S. requereu procedimento cautelar comum contra Júlio A., alegando, em
síntese, que:

- A requerente é arrendatária de um prédio urbano sito na Rua Dr.Henrique Botelho, Vila Pouca de Aguiar,
sendo o requerido o senhorio;

- A requerente exerce ali a actividade de fotografia e venda de artigos fotográficos;

- Em Novembro/Dezembro de 2002, o requerido levou a cabo obras em prédios confinantes àquele, tendo
provocado diversos danos no prédio arrendado, designadamente destruição de telhas e de parte do tecto e
abertura de fendas nas paredes, o que provocou inundações com as águas das chuvas e humidade nas
paredes;

- A partir de então, a requerente não tem podido exercer devidamente a sua actividade, tendo perdido
clientela e, sofrendo de doença crónica pulmonar, tem visto a sua doença agravar-se;

- A requerente receia que o edifício possa ruir, que venha a perder toda a sua clientela e que a sua saúde
atinja um ponto de degradação irreversível.

Concluiu pedindo que seja ordenado ao requerido que proceda de imediato à realização das obras já
aprovadas pela Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar (referidas no documento junto a fls. 40 e segs.) e
que até que as obras fiquem concluídas e o estabelecimento encerrado, o requerido pague à requerente,
mensalmente, o valor correspondente ao salário mínimo nacional.

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O requerido deduziu oposição, alegando que as obras que efectuou em prédios vizinhos não foram as
causadoras dos danos apontados pela requerente, sendo antes da responsabilidade da sociedade "Granjas &
Martins, Lda.", contra quem, de resto, a requerente intentou acção em 21/04/2004, a correr termos no Tribunal
de Vila Pouca de Aguiar.

Concluiu pelo indeferimento da providência e condenação da requerente como litigante de má fé.

Após a produção da prova oferecida, o Tribunal "a quo" considerou indiciariamente provados os seguintes
factos:

1. O requerido encontra-se inscrito na Repartição de Finanças de Vila Pouca de Aguiar como titular do
rendimento respeitante ao prédio urbano, sito na Rua Dr. Henrique Botelho, Vila Pouca de Aguiar, composto de
casa de habitação, com anexo para armazém, a confrontar a norte com rua, a sul com quintal, a nascente com
Câmara Municipal e Bombeiros Voluntários, e a poente com proprietário, assim inscrito no art. 1.980° da
matriz, com indicação de proveniência do art. 748° da mesma matriz;

2. Por escritura pública de 22 de Março de 1977, exarada de fls. 52 a 53, do livro de notas para escrituras
diversas n° B-144 do Cartório Notarial de Vila Pouca de Aguiar, com fotocópia certificada de certidão junta de
fls. 6 a 9 dos autos, cujo conteúdo aqui se dá por reproduzido, Francisco A., declarou nomeadamente dar de
arrendamento a Fermiano Martinho, pela renda mensal de 800$00, pelo período de um ano, renovável, o rés-
do-chão do prédio urbano sito na Rua Dr. Henrique Botelho, em Vila Pouca de Aguiar, que confronta de
nascente com bens da Câmara Municipal, de poente com herdeiros de Bento José de M., de norte com Rua Dr.
Henrique B., e de sul com Fernando J., inscrito na matriz sob o art. 748°, com a área de 25 m2, confrontando o
referido rés-do-chão do nascente com Câmara Municipal, e do poente com um outro rés-do-chão arrendado ao
antigo Grémio da Lavoura de Vila Pouca de Aguiar, tendo no mesmo acto o referido Fermiano M. declarado que
aceitava o contrato nos precisos termos exarados;

3. Por sentença proferida por este Tribunal em 2 de Dezembro de 1993, no âmbito dos autos de processo
especial de divórcio por mútuo consentimentos, que neste Tribunal correram termos sob o n° 100/92, já
transitada em julgado foi decretado o divórcio, e consequentemente a dissolução do casamento celebrado em
14 de Maio de 1977 entre Fermiano M. e a requerente;

4. Na mesma sentença foi homologado um acordo celebrado entre os mesmos, segundo o qual o direito ao
arrendamento comercial da parte do prédio situado na Rua Dr. Henrique Botelho, propriedade de Francisco A. e
esposa, que forma a antiga capela do prédio urbano era adjudicado à requerente;

5. Actualmente, é o requerido que recebe da requerente as rendas respeitantes ao acordo descrito em 3), e
exerce sobre o prédio em questão todas as faculdades inerentes aos poderes de proprietário;

6. Em Novembro/Dezembro de 2002, o requerido fez executar obras no edifício situado a poente da parte do
prédio descrito em 2), obras essas que levaram à danificação do telhado dessa parte do edifício e aparecimento
de fendas nasparedes, por forma a permitir a infiltração de águas pluviais;

7. Em consequência, o arrendado passou a sofrer infiltrações de humidade e destruição de parte do tecto,


com implicações para o exercício da actividade de fotógrafa que a requerente exercia em tal arrendado,
infiltrações essas que assumem o aspecto constante das fotografias de fls. 32 a 34 que aqui se dão por
integralmente reproduzidas;

8. Em 21 de Janeiro de 2003 a requerente vinha sendo seguida na consulta de pneumologia do Hospital


Distrital de Vila Real e Peso da Régua, e sofria de doença crónica, necessitando de medicação diária e boas
condições de habitabilidade na sua situação clinica;

9. A solicitação da requerente, por deliberação da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar de 16 de


Fevereiro de 2004, foi aprovado um orçamento para obras de reabilitação do estabelecimento de fotografia da
requerente, constante de fls. 21 a 24, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, descrevendo as
obras necessárias, com um orçamento final de 6.117 euros;

10. Em 21 de Abril de 2004, a requerente intentou a acção declarativa com processo sumário, que neste
Tribunal corre termos sob o n° 170/04.9TBVPA, contra "Sociedade de Construções Granjas & Martins, Lda.",
peticionando nomeadamente a reparação do telhado do locado descrito em b), por forma a evitar a infiltração
de água da chuva, invocando para tanto defeitos na execução de obras de reparação de tal telhado, que a
autora solicitara à referida sociedade em 1997, mediante contrato.

Com base nesses factos, o M.mo Juiz "a quo" decidiu "condenar o requerido a executar no locado referido em
2), no prazo de sessenta dias, todas as obras necessárias a fazer cessar infiltrações de águas pluviais, e à
reparação dos danos causados por tais infiltrações no interior do locado, concretamente manchas nas paredes e

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abatimento parcial do tecto, podendo tais obras revestir um carácter meramente provisório", indeferindo,
quanto ao mais, a providência solicitada.

Inconformado, interpôs o requerido o presente recurso, tendo terminado a sua alegação com as seguintes
conclusões:

............................................

Não foi apresentada contra-alegação.

Corridos os vistos, cumpre decidir.

II - [...]

B) Alega o agravante que "a requerente não logrou provar que pudessem ocorrer lesões graves ou
dificilmente reparáveis do seu direito" e que "o peticionado pela requerente só tem cabimento em acção de
condenação a propor e ultrapassa o âmbito da uma providência cautelar".

Dispõe o art. 381° do CPC que "sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave
e dificilmente reparável ao seu direito, pode requerer a providência conservatória ou antecipatória
concretamente adequada a assegurar a efectividade do seu direito".

O procedimento cautelar comum (providência cautelar não especificada) depende, pois, da verificação
cumulativa de dois requisitos essenciais: a muito provável existência de um direito e o fundado receio de lesão
grave e dificilmente reparável desse direito (requisito que, como refere A. Geraldes ("Temas da Reforma.do
Processo Civil", III, 83), constitui, nas medidas cautelares atípicas, a manifestação do requisito comum a todas
as providências: o "periculum in mora").

O requerente terá, pois, de invocar a existência de um direito e, como justificação fundamental para a
concessão da tutela cautelar requerida, o receio de lesão grave e dificilmente reparável desse direito.

Para além da invocação de um direito, terá que fazer-se prova que permita concluir, ainda que
sumariamente (no procedimento cautelar, e ao contrário do que acontece na acção principal, uma summaria
cognitio), pela séria probabilidade da existência do direito invocado (aparência do direito) e pelo justificado
receio de que a natural demora na resolução definitiva do litígio causa prejuízo irreparável ou de difícil
reparação (perigo de insatisfação desse direito). (A. dos Reis, "CPC anotado", l, 3ª ed., 625 e A. Geraldes, ob.
cit., 209) - art. 387°, n° 1.

No caso "sub judice", a requerente, enquanto locatária de um estabelecimento de fotografia instalado em


parte de prédio de que o requerido é senhorio, tem o direito a dele exigir que lhe assegure adequadamente o
gozo do mesmo para aquele fim [art. 1.031°, al. b) do CC]. Ou seja, sobre o requerido - não só porque, como
ficou provado, levou a cabo obras em edifício contíguo que levaram à danificação do telhado e aparecimento de
fendas nas paredes do prédio onde se situa o local arrendado, por forma a permitir a infiltração de águas
pluviais e de humidade, e causado, até, a destruição de parte do tecto, mas também atenta a sua qualidade de
senhorio - recai a obrigação de realizar no locado as obras ou reparações necessárias para o manter em estado
de corresponder ao seu destino.

Não está, pois, em causa, o direito da requerente ao gozo do locado e, consequentemente, o de exigir que as
obras de reparação necessárias àquele fim sejam feitas. E sendo embora certo que o locatário, em caso de
mora do locador ou de urgência, pode executar as obras por si, com direito a reembolso (art. 1.036° do CC), ou
recorrer às entidades administrativas [art. 11°, n° 2, al. b) e 13° do RAU], também é verdade que se trata de
meras faculdades legais concedidas aos inquilinos, e não imposições que os mesmos estejam obrigados a
seguir, pelo que a sua preterição em nada prejudica ou diminui a obrigação do senhorio de assegurar ao
inquilino o pleno gozo da coisa locada, para os fins a que se destina, estando obrigado a realizar as obras de
conservação ordinárias que se impuserem para o efeito.

Os procedimentos cautelares destinam-se, em geral, a acautelar o efeito útil da acção de que são preliminar
ou dependência, pretendendo-se defender o presumido titular do direito contra os danos e prejuízos que lhe
possa causar a normal demora da decisão definitiva (A. dos Reis, "CPC anotado", l, 623/627; A. Varela,
"Manual do Processo Civil", 2ª ed., 23).

Ora, no caso em apreço, os danos referidos datam já de Nov./Dezembro de 2002, e o procedimento cautelar
apenas foi instaurado em Maio de 2004. Por isso, atento o lapso de tempo entretanto decorrido, poderia
parecer que a urgência da providência se encontra, desde logo, arredada.

Mas não tem de ser necessariamente assim.

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Com efeito, e por um lado, o recurso aos tribunais não é a única, e muito menos a primeira, via que se
oferece aos cidadãos para resolverem os seus litígios. E ressalta dos autos que a requerente, antes da via
judicial, terá diligenciado junto do requerido e de entidades administrativas (Câmara Municipal, Delegação de
Saúde - vd. fls. 35 e segs.) com vista a que as obras fossem realizadas. Por outro lado, sempre seria de se ter
em consideração que a situação lesiva contra a qual a requerente pretende reagir perdura no tempo e continua
a produzir efeitos, o que poderia justificar o deferimento da providência (vd. Abrantes Geraldes, ob. cit., 88/90;
Ac. da RL, de 19/05/94, CJ, 1994, III, 94).

O que, porém, se pode questionar - como fez o recorrente - é se efectivamente ocorre uma situação de
"fundado receio de lesão grave e dificilmente reparável do direito" da requerente.

Significa este requisito da providência cautelar não especificada que o receio deve ser "apoiado em factos
que permitam afirmar, com objectividade e distanciamento, a seriedade e actualidade da ameaça e a
necessidade de serem adoptadas medidas tendentes a evitar o prejuízo" (...) "pressupondo a iminência da
verificação ou repetição de uma lesão no direito" (A. Geraldes, ob. cit., 87).

Ora, no caso "sub judice", apesar dos danos que se verificam no prédio arrendado, "não ficou provado -
como se escreveu no despacho recorrido - que a requerente tivesse ficado (...) impedida de exercer a sua
actividade comercial no locado e que, por isso, esteja a passar por graves dificuldades económicas".

Como também não ficou provado que, por causa daqueles danos e omissão das reparações, a requerente
tenha vindo a perder clientela e a ver a sua doença agravar-se, como alegou.

Ou seja: sem embargo de se haver provado que a destruição de parte do tecto e as infiltrações de águas e
de humidade tiveram "implicações para o exercício da actividade de fotógrafa que a requerente exercia em tal
arrendado", não se pode concluir que a falta de realização das obras necessárias à reparação dos danos
ameace causar lesão grave, e muito menos dificilmente irreparável, do direito da requerente. Tanto mais que
se desconhece de todo qual a natureza e extensão das "implicações" que os danos existentes no arrendado
tiveram e, sobretudo, terão, na actividade comercial da requerente.

Insiste-se que não basta a mera necessidade de obras no arrendado, ainda que urgentes, para justificar a
intimação do senhorio, em sede de providência cautelar, para as realizar. Será pelo menos também necessário
que se prove, ainda que indiciariamente, que a não realização imediata das obras ameaça causar prejuízos
graves, e dificilmente reparáveis, ao titular do direito. Prova que, "in casu", não se mostra feita.

Como escreve A. Geraldes, ob. cit, 83, "não é toda e qualquer consequência que previsivelmente ocorra
antes de uma decisão definitiva que justifica o decretamento de uma medida provisória com reflexos imediatos
na esfera jurídica da contraparte.

Só lesões graves e dificilmente reparáveis têm a virtualidade de permitir ao tribunal, mediante a iniciativa
do interessado, a tomada de uma decisão que o coloque a coberto da previsível lesão".

Fallo
III - Nestes termos, concede-se provimento ao agravo e, consequentemente, revoga-se o despacho recorrido,
assim se indeferindo a providência requerida e decretada.
Custas pela recorrida, sem prejuízo do apoio judiciário de que beneficia.
Porto, 20 de Outubro de 2005.
Saleiro de Abreu
Oliveira Vasconcelos
Viriato Bernardo

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