EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO
CENTRO DE CAPACITAÇÃO FÍSICA DO EXÉRCITO E FORTALEZA DE
SÃO JOÃO
(Centro Marechal Newton de Andrade Cavalcanti)
1. FUNDAMENTAÇÃO
Como qualquer outro sistema mecânico, o corpo humano pode estar estável ou
instável, sendo capaz de suportar uma taxa limitada de sobrecarga física interna e/ou
externa com características agudas ou crônicas (BRIDGER, 2003). O ato de ficar em pé
e parado, conhecida tecnicamente por posição “quasi-estática” ou “ortostatismo”, pode
causar alterações fisiológicas prejudiciais ao organismo e/ou agravar patologias.
Cabe ressaltar que uma das principais causas de desmaio por permanecer em
posição ortostática é a síncope vasovagal, que se caracteriza por uma diminuição no
aporte de sangue ao cérebro, pela abrupta diminuição na frequência cardíaca e na
pressão arterial devido à ativação incorreta do nervo vago, no sistema parassimpático.
Esse tipo de desmaio (síncope) pode ocorrer em qualquer idade, mas normalmente
acomete mais aos indivíduos jovens e sem outras doenças. A síncope vasovagal é
normalmente precedida de sintomas como suores frios, palidez e visão em túnel
(MEDOW, 2008).
Outro fator que contribui para o mal estar durante formaturas prolongadas é o
calor. O corpo humano busca regular a temperatura interna, por meio de ajustes, como o
aumento do fluxo sanguíneo para a pele e da taxa de suor, para permitir a dissipação de
calor para o ambiente circundante, por meio da evaporação e da convecção,
principalmente. Entretanto, esses ajustes termorregulatórios aumentam o estresse
fisiológico e podem levar à desidratação (RACINAIS, 2012). Quanto à troca de calor,
deve ser levado em consideração que, para a termorregulação ser efetiva, deve
equilibrar a interação entre a superfície da pele, a roupa e o ar ambiente. Assim, o papel
da roupa, como uma barreira interativa, afeta muito o equilíbrio térmico (GOLDMAN,
2001). No caso dos militares, o uso de equipamento e do fardamento, muitas vezes de
emprego especial cuja composição dificulta ainda mais a transferência de calor,
prejudica muito essa troca, adicionando carga térmica, pois impede a dissipação do
calor metabólico gerado e aumenta a taxa metabólica de transportar o peso adicional
(POTTER, 2015). Assim, as formaturas militares prolongadas no calor, ainda mais
quando a tropa está equipada, favorecem a ocorrência de insolação e outras doenças
relacionadas ao calor, já que o estresse térmico pode não ser compensado (POTTER,
2017).
A coluna vertebral também pode ser afetada, em longo prazo, pela permanência
excessiva na posição em pé e imóvel, com o aparecimento de deformidades pela
sobrecarga nas estruturas vertebrais, antecipação de lesões discais e até artrose da
coluna, o que ainda pode ser agravado em caso de formaturas com equipamento e
armamento pesados (HOOGENDOORN, 2000), particularmente se o militar apresenta,
simultaneamente, pouca resistência muscular na região do tronco e baixo
condicionamento aeróbio (TAANILA, 2012).
3. MEDIDAS PREVENTIVAS
Dessa forma, como atividade meio para o desenvolvimento de todos esses atributos
coletivos e individuais, o comandante militar deve estar atento para que seu uso respeite a
essência e o espírito de sua criação, e que esse fundamental instrumento para a formação
militar não seja desvirtuado, trazendo como consequências a obtenção de resultados inversos
daqueles acima transcritos de nosso Manual de ORDEM UNIDA.
Assim, por ser uma atividade que, caso mal planejada e conduzida, pode vir a gerar
ou agravar lesões músculo-esqueléticas e vasculares, comprometendo a saúde e a
operacionalidade da tropa, coube ao Centro de Capacitação Física do Exército e ao Instituto
de Pesquisa da Capacitação Física do Exército apresentar este Parecer, com a finalidade de
propor medidas que, reforçando os aspectos marciais que a tropa deve exercitar, previna os
malefícios para a saúde e a operacionalidade, quando tal ferramenta é usada de forma
incorreta.
6. REFERÊNCIAS
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