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In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais...

Recife: Observatório da
Realidade Organizacional : PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. 1 CD.

Evidencias Teóricas para a Compreensão das Redes Interorganizacionais

Alsones Balestrin
Lilia Maria Vargas

Resumo
O presente estudo busca compilar evidências teóricas sobre o tema “redes
interorganizacionais”, conduzindo a reflexão sobre as seguintes dimensões: as correntes
teóricas sob as quais os estudos sobre redes foram conduzidos; os fatores considerados
determinantes na formação e manutenção das redes interorganizacionais; os principais
atributos estratégicos das redes; as diversas tipologias de redes; e, a importância das redes
para as pequenas e médias empresas.

Abstract
The present study search to compile theoretical evidences on the theme “networks
inter-organizational”, driving the reflection on the following dimensions: the theoretical
currents under which the studies on networks were driven; the decisive factors in the
formation and maintenance of the networks; the main strategic attributes of the networks; the
several typologies of networks; and, the importance of the networks for the small and medium
companies.

Introdução
O presente estudo aborda o tema “redes interorganizacionais”, com o objetivo de fazer
alumas teorizações sobre essa contemporânea forma de configuração organizacional, embora
considerando que o fenômeno social das redes não seja algo recente, pois desde que a
humanidade existe, as pessoas e as organizações sempre mantiveram inter-relações. No
entanto, com a decadência do modelo de produção da grande firma integrada (Perrow, 1992) e
com o advento da sociedade informacional (Castells, 1999), o fenômeno das redes tomou
uma dimensão basilar e revolucionaria na estruturação das organizações e da sociedade.
A reconhecida importância no campo organizacional e social tem demandado um
crescente interesse nas pesquisas sobre o fenômeno das redes, dentro das mais variadas áreas,
como a economia, a sociologia e a política. Porém, é no campo de estudos organizacionais
que o tema vem sendo explorado com maior profundidade.
O termo “rede interorganizacional” será utilizado a partir de uma amplo conceito,
significando um conjunto de organizações inter-relacionadas (Marcon & Moinet, 2000). No
decorrer do estudo, o debate será conduzido em direção à tipologia de redes de pequenas e
médias empresas (PMEs), definida como um grupo de PMEs formado intencionalmente por
empresas orientadas pelo lucro, dentro do qual as firmas: a) são geograficamente próximas; b)
operam dentro de algum segmento específico, potencialmente compartilhando inputs e
outputs; e, c) empreendem inter-relações diretas com outros participantes para específicos
objetivos de negócios (Human & Provan, 1997).
Inicialmente, parte-se de uma reflexão sobre o tema “redes interorganizacionais”,
buscando entender as diversas correntes teóricas presentes em seus estudos; após são
apresentados alguns dos fatores, apontados na literatura, como determinantes na formação das
redes interorganizacionais; na terceira parte são levantados alguns dos atributos estratégicos
das redes; na quarta parte são formuladas algumas teorizações referentes às diversas
tipologias de redes; na quinta parte são apresentadas as características das redes de PMEs; e,
ao final, serão sintetizadas as principais evidências do estudo, bem como, encaminhadas
algumas questões de pesquisa.

1. Redes Interorganizacionais
O termo “rede” apresenta diversos significados e aplicações dentro de diferentes
contextos. Originalmente, se reportava a uma pequena armadilha para capturar pássaros,
formada por um conjunto de linhas entrelaçadas, onde os “nós” dessa rede eram formados
pelas intersecções das linhas (Marcon & Moinet, 2000). No século XIX, o termo rede adquiriu
um sentido mais abstrato, denominando todo o conjunto de pontos com mútua comunicação.
Castells (1999) e Fombrun (1982), definem rede como um conjunto de nós interconectados;
esse conceito amplo permite que o termo “rede” seja utilizado em diversas áreas do
conhecimento.
Dentro do campo de estudos das ciências sociais, designa um conjunto de pessoas ou
organizações interligadas direta ou indiretamente (Marcon & Moinet, 2000). Para Castells
(1999), a intensidade e freqüência da interação entre atores sociais são maiores se esses atores
forem “nós” de uma rede do que se não pertencessem a mesma rede. Observa-se, então, que
as redes intensificam a interação, promovendo uma redução do tempo e o espaço nas inter-
relações entre os seus atores, fatores altamente estratégicos para uma maior competitividade
das organizações do século XXI (Fayard, 2000).
As redes interorganizacionais têm sido objeto de amplas discussões dentro do camplo
de estudos organizacionais. Segundo um levantamento feito por Oliver & Ebers (1998) no
período entre 1980 a 1996, em quatro das principais publicações sobre estudos
organizacionais, observaram um total de 158 artigos que tratavam explicitamente sobre o
tema “redes interorganizacionais”. As publicações estavam distribuídos da seguinte forma:
American Sociological Review (26 artigos), Administrative Science Quarterly (55 artigos),
Academy of Management Journal (34 artigos) e, Organizations Studies (43 artigos). Esses
dados indicam a crescente preocupação em uma melhor compreensão sobre o fenômeno das
redes, tanto no campo gerencial, quanto no campo sociológico.
Para Nohria & Eccles (1992) existem três principais razões para o aumento do
interesse no tema “redes interorganizacionais”: a) a emergência da “nova competição” como
está ocorrendo nos distritos indústrias italianos e no Vale do Silício. Se o “velho” modelo de
organização era a grande firma hierárquica, o modelo da organização considerada
característica da “nova competição” é a rede de inter-relações laterais intra e interfirmas; b) o
surgimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) tem tornado possível uma
maior capacidade de inter-relações entre firmas dispersas; e, c) a consolidação da análise de
redes como uma disciplina acadêmica, não somente restrita a alguns grupos de sociólogos,
mas expandido para uma ampla interdisciplinaridade dos estudos organizacionais.
As redes interorganizacionais são crescentemente importantes na vida econômica, pelo
fato de facilitarem a complexa interdependência transacional e cooperativa entre
organizações. Sua importância é igualmente reconhecida do ponto de viste teórico, pelo fato
de poder ser, e na verdade são, estudadas a partir de diferentes abordagens teóricas (Grandori
& Soda, 1995). Desse modo, os estudos sobre redes oferecem uma preciosa base de
interesses comuns e potencial diálogo entre os vários ramos da ciência social.
As perspectivas teóricas sobre redes incluem conceitos e métodos tomados
emprestados de vários campos de estudos. Isso torna-se evidente a partir das pesquisas de
Oliver & Ebers (1998) e Caglio (1998) ao apresentarem as principais correntes teóricas
utilizadas nos estudos sobre redes, como por exemplo: economia industrial, estratégia,
dependência de recursos, marxistas e críticas, institucional, redes sociais, custos de transação,
comportamento organizacional, ecologia populacional, teoria evolucionária e contingencial.
A abordagem sobre a economia industrial foi utilizada nos estudos sobre redes para
entender como as diferentes classes de custos de produção - economias de escala, escopo,
especialização e experiência – explicam a eficiência das redes. Por exemplo, economias de
especialização e experiência têm sido indicadas como relevantes fatores para explicar porque
uma rede de empresas separadas pode ser superior a uma empresa integrada (Eccles, 1981).
As economias de escala jogam um papel óbvio dentro do acesso de recursos, provisão
conjunta de serviços ou por suportar, de forma conjunta, investimentos em P&D (Turati,
1990). Já, a economia de escopo, pode ser a base para a formação de acordos para utilização
em conjunto de equipamentos e know-how (Teece, 1980).
As teorias sobre estratégia foram utilizadas para entender como as relações
interorganizacionais vão impactar nas estratégias das empresas, bem como, compreender
como os resultados das relações interorganizacionais afetam a posição estratégica e vantagem
competitiva da empresa. Os estudos sob a luz das teorias de estratégia foram utilizados,
sobretudo, por autores como: Porter (1998, 1999, 2000) ao discutir o papel estratégico dos
aglomerados industriais na competitividade das empresas; Jarrillo (1988) ao defender, em sua
clássica publicação sobre estratégia em rede, que as empresas podem alcançar inúmeros
benefícios, entre eles, a contratação de atividades de atores que poderão fazê-las com maior
eficiência do que a própria empresa; Marcon & Moinet (2000) ao apresentarem uma
consistente análise de variados aspectos estratégicos envolvidos na organização por meio de
redes.
A teoria sobre dependência de recursos foi uma das teorias mais utilizadas dentro dos
estudos sobre redes interorganizacionais. Seu foco de interesse foi entender o processo por
meio do qual organizações reduzem suas dependências ambientais utilizando várias
estratégias para aumentar seu próprio poder dentro do sistema. Essa teoria distingue entre
tipos de dependência de recursos (sejam eles materiais ou imateriais) como possíveis
determinantes na formação de redes. Nesse sentido, cabe destacar o trabalho de Pfeffer &
Salancik (1978) que forneceu uma importante contribuição em revisar algumas das
importantes formas alternativas de redes interfirmas como joint-ventures, associações e outras
redes sociais.
A teoria sobre redes sociais (social networks) foi utilizada para estudar como a posição
das firmas dentro de determinada rede poderá afetar a firma individual. Muitos trabalhos sob
essa perspectiva teórica especificaram, por exemplo, como diferentes posições dentro da rede
de relacionamentos afetam as oportunidades dos atores. Nesse sentido, cabe destacar os
estudos de Powell (1996) e Burt (1992).
As teorias marxistas e radicais foram utilizadas para entender, sob a ótica do poder e
da dominação, como as relações são estabelecidas dentro de uma estrutura em rede. Diante
dessa perspectiva, a estratégia em rede não é justificada por qualquer noção de eficiência ou
efetividade, e sim, justificada pelo poderoso mecanismo de poder para a reprodução de elites
e classes dominantes (Whitt 1980). A maior parte dos trabalhos sob essa ótica tem sido
conduzidos no campo da sociologia, como o trabalho de Perucci & Potter (1989).
A teoria dos custos de transação buscou evidenciar a viabilidade econômica das redes.
Sob essa perspectiva a formação e sucesso das redes podem ser explicados pela ênfase na
economia dos custos de transação, ou seja, a redução da ineficiência nas transações da
organização com outros atores econômicos. Dessa forma, as redes podem ser consideradas
como ótimas formas para reduzir a incerteza e o risco inseridos nas transações econômicas da
empresa com o seu ambiente. As principais contribuições surgem a partir dos estudos de
Williamson (1979, 1985, 1995).
A teoria institucional buscou tratar a dependência como um conceito central na
configuração das redes, no entanto, a dependência não é de recursos materiais, e sim, de
recursos de legitimação. Assim, as organizações buscam ganhar legitimidade no momento de
estruturar-se em redes. Esses estudos focam os mecanismos institucionais pelos quais as
relações interorganizacionais são iniciadas, negociadas, desenhadas, coordenadas,
monitoradas, adaptadas e terminadas. Cabe menção ao trabalho de DiMaggio (1983) sobre
as diversas formas de inter-relações formais e informais como forma de evitar a isolação e
buscar legitimação junto ao ambiente institucional.
Já a teoria do comportamento organizacional, conforme Caglio (1998), buscou estudar
questões relacionadas a temas como confiança e cooperação dos atores no momento de
organizarem-se em redes. Acordando com essa perspectiva, organizações escolhem trabalhar
juntas para alcançar, de forma cooperada, mútuos benefícios. Sob essa visão, destaca-se o
estudo de Harrigan & Newmann (1990).
Outras perspectivas teóricas, freqüentemente menos utilizadas, podem ser encontradas
nos estudos sobre redes interorganizacionais, como o caso da ecologia populacional
(Freeman, 1979), a teoria evolucionária (Nelson, 1993) e teoria contingencial (Oliver, 1990).
Cada uma dessas perspectivas, sob as quais as pesquisas foram conduzidas,
produziram explicações muitas vezes complementares e por vezes concorrentes dentro do
campo de estudos sobre redes interorganizacionais. Isso pelo fato dessas teorias adotarem
diferentes paradigmas ontológicos e epistemológicos que condicionaram a leitura da realidade
estudada. Seguindo as reflexões conduzidas por Burrell & Morgan (1979), ao analisar os
diferentes paradigmas de estudos na ciência social, observa-se que dentro do campo de
pesquisas sobre redes interorganizacionais, também foram utilizadas duas amplas posições
paradigmáticas. A primeira, contempla uma visão caracterizada por apresentar uma ontologia
realista e uma epistemologia positivista, conduzindo ao entendimento de que os fenômenos
das redes interorganizacionais são altamente determinados por fatores ambientais; sob essa
concepção paradigmática encontram-se a maior parte dos estudos.
Já, uma segunda corrente de pesquisadores, realizaram seus estudos sob uma
dimensão subjetiva de análise, suportada pela utilização de uma ontologia nominalista e uma
epistemologia anti-positivista. Alguns estudos dentro do campo de redes utilizaram-se essa
posição paradigmática, como por exemplo, muitos dos estudos que buscaram entender
questões de poder, dominação e cultura junto aos atores de uma rede.
Deve-se destacar, que mesmo não sendo uma unanimidade dentro do campo
científico, ao estudar determinado fenômeno, essa diversidade teórica e paradigmática não
deve ser utilizada de forma excludente e sim, de forma complementar. Essa posição
multiparadigmática é defendida por Morgan (1996), ao manifestar que um determinado
fenômeno dentro do campo organizacional, pode ser estudado à luz de diferentes visões
paradigmáticas. Dentro do campo de estudos sobre redes interorganizacionais, Oliver &
Ebers (1998), corroboram essa visão, destacando que as diversas abordagens teóricas
utilizadas nos estudos sobre redes interorganizacionais podem ser utilizadas de forma
complementar. Conclui-se, portanto, que para uma melhor compreensão das redes
interorganizacionais é necessário utilizar múltiplas lentes teóricas e paradigmáticas.

2. Fatores relacionados à formação das redes


Uma das questões de amplo interesse nos estudos sobre redes é entender as condições,
contingências e demais fatores críticos presentes na formação e manutenção das redes
interorganizacionais. Isso certamente é justificado pela própria natureza das redes, que
conforme Morin (1977), são formas complexas de organizações. Mesmo assim, existem
alguns estudos que sinalizam alguns fatores sob os quais as redes interorganizacionais são
estruturadas. Esses fatores poderiam ser amplamente denominados de fatores viabilizadores e
fatores contingenciais.
Como fatores viabilizadores, podem ser indicados os elementos necessários a
formação e manutenção de uma rede interorganizacional. Neste sentido, Castells (1999)
argumenta que a formação e desempenho de uma determinada rede dependerão de dois de
seus atributos fundamentais: a conectividade, ou seja, a capacidade estrutural de facilitar a
comunicação sem ruídos entre seus componentes; e, a coerência, isto é, a medida em que há
interesses compartilhados entre os objetivos da rede e de seus atores.
Para melhor entender o aspecto da conectividade, deve-se considerar o papel
representado pelas atuais TICs, servindo como infra-estrutura responsável pelo considerável
aumentado do fluxo informacional interorganizacional, desenvolvendo assim, a
potencialidade das conexões entre os atores. Quanto à dimensão da coerência, muito da pré-
disposição em cooperar e compartilhar objetivos comuns está relacionado com aspectos
culturais inerentes àquele grupo ou rede de atores.
Segundo Marcon & Moinet (2000), para que uma rede possa ocorrer na prática, três
elementos devem ser combinados: a) recursos a trocar, que constituem a base da rede, como
informação, conhecimento e insumos. Nesse sentido, um conjunto de atores que nada tem a
trocar dificilmente constituirão uma rede; b) info-estrutura, que designa o conjunto de regras
de funcionamento e ética que deverá ser observada entre os membros; e, c) infra-estrutura,
que compõe os meios práticos de ação, tais como: orçamento, local, material, comunicação,
conexão eletrônica, etc.
Como fatores contingenciais à formação de redes interorganizacionais, Oliver (1990)
apresenta seis generalizações determinantes na formação das redes:
a) necessidade – uma organização freqüentemente estabelece elos ou trocas com
outras organizações por necessidade. Essa contingência está sustentada por estudos oriundos,
principalmente, das abordagens de dependência de recursos, enfatizando que a formação de
redes é fortemente contingenciada pelos escassos recursos do ambiente;
b) assimetria - sob essa contingência as relações interorganizacionais são induzidas
pelo potencial exercício de poder de uma organização sobre outra. Em contraste com os
motivos de “dependência de recursos”, a abordagem da assimetria de poder explica que a
dependência de recursos promove as organizações ao exercício do poder, influência ou
controle por parte daquelas organizações que possuem os recursos escassos;
c) reciprocidade – ao contrário da contingência da assimetria dentro das relações
interorganizacionais, uma considerável proporção da literatura sobre redes
interorganizacionais, implícita ou explicitamente, assume que a formação das relações está
baseada na reciprocidade. Motivos de reciprocidade enfatizam a cooperação, colaboração e a
coordenação entre organizações, ao invés de dominação, poder e controle. Acordando com
essa perspectiva, as redes interorganizacionais ocorrem para o propósito de buscar interesses e
objetivos comuns;
d) eficiência - a eficiência é a única dessas seis contingências que apresenta uma
orientação interna, ao buscar uma melhor performance na eficiência organizacional. A
perspectiva dos custos de transação (Williamson, 1985) é consistente com o argumento de que
a eficiência interna é uma questão fundamental para a formação de redes interorganizacionais;
e) estabilidade – a formação de redes tem freqüentemente sido caracterizada como
uma resposta à incerteza ambiental. O ambiente incerto é gerado por recursos escassos e pela
falta de perfeito conhecimento das flutuações ambientais. Incerteza induz organizações a
estabelecer e gerenciar inter-relações para encontrar estabilidade e predicabilidade do
ambiente (Provan, 1984; Stearns et al., 1987).
f) legitimidade – a legitimidade é um motivo das organizações participarem em redes.
Sustentada fundamentalmente pela teoria institucional, a qual sugere que o ambiente
institucional impõe pressões sobre organizações para justificar suas atividades e resultados.
Oliver (1990) argumenta que essas contingências são a causa que induz ou motiva
organizações a estabelecerem relações interorganizacionais, isto é, elas explicam as razões
porque organizações escolhem relacionar-se com outras. Embora cada determinante é uma
causa suficientemente separada para a formação de tais relacionamentos, essas contingências,
geralmente, ocorrerem simultaneamente.
Dessa forma, segundo a perspectiva contingencial, subjacente a formação das redes
interorganizacionais poderão estar as seguintes razões: exercer influência sobre reguladores
(assimetria); promover a coletividade entre os membros por meio do compartilhamento de
informações (reciprocidade); obter vantagens econômicas, como por exemplo, melhores
recursos e fornecedores (eficiência); reduzir incerteza competitiva através de esforços para
padronizar produtos ou serviços de cada ator da rede (estabilidade); ou, melhorar a imagem da
rede e de seus atores (legitimidade).
Outro fator crítico na formação das redes interorganizacionais está relacionado com a
necessidade de flexibilização das organizações, provocado pelo crescente processo de
competição e instabilidade que exige das empresas velocidade e adaptabilidade. Assim, o
modelo de redes surge como uma alternativa às fragilidades da organização do tipo
burocrática. Esse fato, segundo Galbraith (1995), foi forte condicionador das formas
organizacionais em rede. Da mesma forma, Quinn et al. (1996) argumentam que a forma
organizacional em rede prevalecerá como a estrutura dominante por estar adaptada aos
ambientes hipercompetitivos.
Deve-se destacar, também, que três outras características sociológicas estão associadas
com a formação de redes, observadas por Marcon & Moinet (2000), a partir das orientações
de Crozier & Ehrard (1977):
a) uma rede ocorre sobre uma campo de ação coletivo estruturado, assim, para
Crozier & Ehrard (1977) não existe um campo de ação neutro, não estruturado. Nenhum ator
está em posição neutra dentro do campo de ação da rede. Essa característica geral do campo
de ação coletivo conduz a primeira dinâmica da estratégia em rede: a criação de uma rede de
atores procede de uma lógica do “transplante” e não da “plantação em terreno nu”;
b) não existe nenhum modelo universal de rede, logo sua forma é contingente as
características do campo de ação coletivo, dentro do qual ela pretende operar. Para Crozier &
Ehrard (1977), toda solução dos problemas de ação coletivo é contingente e não existe uma
única melhor maneira de fazer. A estratégia não é uma ciência exata. A cultura própria em
cada campo de ação (econômico, social, cultural, político, etc) induz as várias formas
possíveis de redes;
c) a rede é o centro do processo de aprendizagem coletivo que se opera dentro do
campo de ação coletivo, dessa forma, o campo de ação evolui sem cessar ao ritmo da
aprendizagem coletiva que ocorre entre seus atores.
As evidências teóricas apresentadas neste item indicam uma série de fatores que
podem exercer algum tipo de relação com a formação e performance de uma rede
interorganizacional, dessa forma, o entendimento desses fatores é parte fundamental para a
compreensão das redes interorganizacionais.

3. Atributos estratégicos das redes


Para Castells (1999), uma estrutura social baseada em rede é um sistema aberto,
altamente dinâmico e suscetível de inovação. Ainda, conforme esse autor, as redes são
instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada na inovação e globalização,
para trabalhadores e empresas voltadas a flexibilidade e adaptabilidade, para uma cultura de
desconstrução e reconstrução contínuas, para uma política destinada ao processamento de
novos valores, e, para uma organização social que vise a suplantação do espaço e do tempo.
Muitos são os benefícios da configuração em redes apontados pela literatura analisada,
principalmente em relação aos atributos de flexibilidade e adaptabilidade frente a um
ambiente competitivo. Nesse sentido, Marcon & Moinet (2000), apresentam alguns dos
principais atributos das redes que parecem essenciais dentro de uma perspectiva estratégica:
a) Fluidez – significa a capacidade de flexibilidade e adaptabilidade das redes. As
redes se adaptam melhor as novas dimensões do ambiente. Essa propriedade fundamental
permite as redes efetuarem quatro tipos de inter-relações: 1) dentro do espaço – a rede permite
colocar em relação subconjuntos ou unidades geograficamente dispersas; 2) dentro do tempo
– a rede assegura a permanência das ligações entre atores; 3) dentro do ponto de vista social –
a rede permite colocar em relação atores em condições diferentes, sem implicar a mudança
dessa condição; e, 4) dentro do ponto de vista organizacional – a rede pode tornar-se uma
alternativa à forma de organização burocrática;
b) Finalidade – é a razão de ser política, religiosa, filosófica, científica, econômica,
cultural e social das redes. Essa finalidade se encontra por vezes incorporada dentro dos
membros da rede. No entanto, ela é necessária e orienta habitualmente as escolhas da
dimensão ética dentro do qual evolui a rede e inspira seus projetos.
c) Capacidade de realizar economias relacionais - a rede reduz a dispersão de esforços
e permite um ganho de tempo. A interconexão entre os atores significa agilidade.
d) Capacidade de aprendizagem - a aprendizagem não é uma exclusividade das redes,
mas as condições de aprendizagem dentro do contexto específico das redes é particular. A
aprendizagem coletiva apresenta a lógica do ciclo de aprendizagem, ou seja, cada um evolui
em função do outro.
Castells (1999) destaca que o novo sistema produtivo depende de uma combinação de
alianças estratégicas e projetos de cooperação ad hoc entre empresas, unidades
descentralizadas de grandes empresas e redes de pequenas e médias empresas que se
conectam entre si ou com grandes empresas ou redes empresariais. O autor ainda acrescenta,
que nessa estrutura, o mais importante elemento para uma estratégia administrativa bem
sucedida é posicionar a empresa na rede, de modo a ganhar vantagem competitiva para sua
posição relativa.
Ebers & Jarrillo (1998) destacam que por meio de redes interorganizacionais, uma
empresa poderá alcançar e sustentar vantagens competitivas, a partir das seguintes origens: a)
ela poderá ser produzida por aprendizado mútuo que levará a melhor suportar o
desenvolvimento de produtos; b) ela poderá ser alcançada a partir de uma estratégia de co-
especialidade pelo qual firmas membras tornam-se lucrativas em novos nichos de produtos e
mercados; c) ela poderá resultar de um melhor fluxo de informação e melhor coordenação do
fluxo de recursos entre os atores da rede; d) ela poderá originar-se de economia de escala que
podem ser encontradas através de esforços conjuntos de pesquisa básica e outros esforços de
P&D; e, e) ela poderá resultar, também, a partir de altas barreiras que podem proteger os
atores integrantes da rede.
Dentro do universo das PMEs a estratégia em rede poderá representar um fator
altamente crítico, na medida em que essas empresas, muitas vezes, apresentam fortes
limitações de recursos humanos e financeiros para atingir de forma individualizada certos
objetivos. Dessa forma, Human & Provan (1997), a partir de pesquisas realizadas,
identificaram quatro grupos de principais resultados alcançados pelas PMEs organizadas em
redes:
a) trocas interfirmas - refere-se as transações diretas entre as firmas da rede. As
principais inter-relações foram de negócios (compra e venda de produtos entre as empresas da
rede), de informação (informações tecnológicas, de mercado, de produtos, de soluções de
problemas), de amizade (existe um ambiente de trabalho amistoso e de confiança entre os
membros da rede) e de competências (pelo fato de existir um ambiente de compartilhamento
de melhores práticas entre os atores);
b) credibilidade organizacional – diz respeito ao ganho de legitimidade externa pelo
fato das empresas estarem associadas a rede;
c) acesso de recursos – refere-se ao papel das redes no sentido de facilitar para seus
membros o acesso a novos mercados e novas idéias de produtos;
d) performance financeira - alguns firmas descreveram os benefícios econômicos que
alcançaram, dentro de um curto espaço de tempo, após organizarem-se em rede.
Outro relevante benefício das relações colaborativas interfirmas está no favorecimento
ao acesso a grande quantidade de conhecimento. Segundo alguns autores, quanto maior for a
interação interfirmas, maior será o incentivo e oportunidade de compartilhar informação e
conhecimento (Boorman, 1975; Krackhardt, 1992). Essa argumentação também é defendida
por Powell (1998) no momento em que destaca que a localização da inovação é encontrada
em redes interorganizacionais, em vez de firmas individuais.
A estrutura em rede, então, funciona como um importante canal de comunicação em
que cada firma conectada será tanto recebedora quanto transmitente de informação (Rogers &
Kincaid, 1981). O papel das redes interfirmas como um mecanismo difusor de informação e
facilitador de troca de conhecimento pode ser significante no contexto tecnológico (Powell,
Koput & Smith-Doerr, 1996), pois a inovação é freqüentemente uma atividade intensiva em
informação e conhecimento externo à empresa.
Para Ahuja (2000) as ligações colaborativas interfirmas podem ser associadas com
duas distintas formas de benefícios das redes: a) elas podem fornecer o benefício de
compartilhar recursos permitindo firmas combinar conhecimento, habilidades e bens físicos;
e, b) ligações colaborativas podem fornecer acesso a conhecimento, servindo como condução
de informações através das quais novas técnicas são descobertas, novos insights para
problemas são encontrados. Esses dois benefícios podem ser considerados como know-how e
informação. Know-how é o acúmulo de habilidades e experiência dentro de algumas
atividades, geralmente formado por amplo conhecimento tácito e não codificado. Já a
informação, refere-se a fatos codificados, podendo ser mais facilmente transmitida por meio
da comunicação.
Castells (1999) em sua obra “sociedade em rede” argumenta que a atual “sociedade
informacional” apresenta uma forma específica de organização social em que a geração, o
processamento e a transmissão da informação tornam-se as fontes fundamentais de
produtividade e poder sendo que a configuração em rede apresenta-se mais eficaz dentro
desse paradigma econômico. No entanto, Powell (1998) destaca que mesmo com essas
evidências teóricas da importância das redes no subsídio ao processo informacional e de
criação de conhecimento, conhece-se muito pouco sobre como efetivamente o conhecimento é
gerado e transferido dentro do universo das redes interorganizacionais. Observa-se, então, que
as redes possuem vários atributos estratégicos, que são dificilmente encontrados nas empresas
trabalhando de forma individualizada.
A literatura apresenta evidências sobre as vantagens estratégicas das empresas por
meio de redes interorganizacionais. Esses benefícios são reconhecidos por estrategistas como
Porter (1998, 1999, 2000) e exercem uma importancia ainda mais reconhecida quanto se trata
de PMEs, questão que será aprofundada na seção 5.

4. Tipologias de redes interorganizacionais


Existe uma diversidade muito grande de tipologias de redes interorganizacionais, o
que tem provocado uma certa ambigüidade no próprio entendimento sobre o termo. Essa
questão foi objeto da análise de Castells (1999), argumentando que as redes
interorganizacionais aparecem sob diferentes formas, em diferentes contextos e a partir de
expressões culturais diversas. Exemplos disso, são as redes familiares nas sociedades
chinesas; as redes de empresários oriundos de ricas fontes tecnológicas dos meios de
inovação, como por exemplo, no vale do Silício; as redes hierárquicas comunais do tipo
keiretsu japonês; as redes organizacionais de unidades empresariais descentralizadas de
antigas empresas verticalmente integradas e forçadas a adaptar-se às atuais realidades; as
redes internacionais resultantes de alianças estratégicas entre grandes empresas que operam
em diversos países; e, as redes horizontais de cooperação entre PMEs, encontradas no norte
da Itália.
Buscando uma melhor compreensão sobre a diversidade de tipologias de redes
interorganizacionais, Marcon & Moinet (2000) apresentaram um gráfico denominado de
“mapa de orientação conceitual”, indicando, a partir de quatro quadrantes, as principais
dimensões sob as quais as redes são estruturadas, conforme figura 01.
HIERARQUIA (rede vertical)

CONTRATO CONIVÊNCIA
(rede formal) (rede informal)

COOPERAÇÃO (rede horizontal)


Figura 01: Mapa de orientação conceitual para a classificação das redes
Fonte: Adaptado pelo autor, a partir do modelo de Marcon & Moinet, 2000.

Deve-se destacar que em cada um dos diversos pontos do quadrante poderá ser
encontrado um tipo particular de redes, elucidando, assim, a ampla diversidade de tipologias
de redes. Logo, de acordo com as orientações desse mapa conceitual, bem como as evidências
de outros estudos, as redes podem ser amplamente classificadas da seguinte forma:
a) redes verticais: a dimensão da hierarquia – certas redes têm uma clara estrutura
hierárquica. Segundo Marcon & Moinet (2000) essa configuração é utilizada, por exemplo,
pelas grandes redes de distribuição que adotam a estratégia de redes verticais para estar mais
próximas do cliente, como ocorre com as grandes redes de distribuição integradas,
distribuição alimentar e bancos. Geralmente essas relações são do tipo às estabelecidas entre
matriz/filial, onde as filiais possuem pouca autonomia jurídica e de gestão. Dentro dessa
dimensão hierárquica encaixa-se a noção de “empresa em rede” buscando designar as
empresas cuja organização adotam a configuração de rede em razão da dispersão espacial.
Outras redes de subcontratação também podem encaixar-se nessa dimensão;
b) redes horizontais: a dimensão da cooperação - as redes de cooperação interfirmas
são constituídas de empresas que guardam cada uma sua independência mas optam em
coordenar certas atividades específicas de forma conjunta, com os seguintes objetivos: criação
de novos mercados, suportar custos e riscos em pesquisas e desenvolvimento de novos
produtos, gestão da informação e de tecnologias, definição de marcas de qualidade, defesas de
interesses, ações de marketing, entre outras. Essas redes se formam sob a dimensão da
cooperação de seus membros, que escolhem a formalização flexível para melhor adaptar a
natureza de suas relações. Dentro desse modelo de cooperação interorganizacional, existe uma
grande heterogeneidade de formas, como os consórcios de compra, associações profissionais,
redes de lobbying, alianças tecnológicas (Marcon & Moinet, 2000). Em termos de estratégia
em rede, as relações interfirmas formam um ambiente de aprendizagem por meio da
cooperação. Essas relações são complexas dentro das quais os atores concorrentes escolhem
cooperar dentro de certo domínio. Assim, as redes favorecem a concentração de esforços não
privando a liberdade de ação estratégica de seus membros;
c) redes formais: a dimensão contratual – Knorringa & Meyer-Stamer (1998)
argumentam que algumas redes são formalizadas por meio de termos contratuais, que vão
estabelecer regras de conduta entre os atores. Redes como o caso das alianças estratégicas,
consórcios de exportação, joint-venture e franquias são exemplos de redes fortemente
formalizadas.
d) redes informais: a dimensão da conivência – As redes de conivência permitem os
encontros informais entre os atores econômicos (empresas, organizações profissionais,
instituições, universidades, associações) portadores de preocupações comuns. Esses
reencontros permitem trocar experiência e informação sobre as bases da livre participação.
Essas redes de conivência permitem também criar uma cultura de cooperação e de favorecer o
estabelecimento de relações interempresariais mais seguidas (Marcon & Moinet, 2000). Nessa
dimensão, as redes são formadas sem qualquer tipo de contrato formal estabelecendo regras,
agem em conformidade com os interesses mútuos a alcançar, baseados, sobretudo, na
confiança entre os atores.
Outra importante dimensão na formação das redes é a dimensão tempo, em que certas
redes são estabelecidas por um período determinado de tempo (uma joint-venture para
determinado projeto tecnológico), enquanto outras, são formadas para um indeterminado
período de tempo (um rede associativa de PMEs).
De acordo com as contribuições apresentadas neste item, observa-se que dificilmente
existirão duas redes estruturadas de forma idêntica. Assim, o esforço de tentar abranger todas
as possibilidades de redes interorganizacionais em algumas dezenas de tipologias pré-
definidas, não deixa de ser uma forçada simplificação da ampla diversidade e possibilidade de
tipologias de redes. Diante das peculidaridades das redes, o modelo (figura 01) apresentado
por Marcon & Moinet (2000) permite uma ampla classificação das diferentes dipologias de
redes.

5. Redes de PMEs
Não obstante a diversidade nas tipologias de redes interorganizacionais, a grande
maioria dos estudos e pesquisas dentro desse campo (principalmente por autores anglo-
saxões) tem privilegiado os arranjos como joint-ventures e outras formas de alianças
estratégicas entre grandes empresas. Nesse sentido, Human & Provan (1997) argumentam
que, embora as PMEs podem beneficiar-se substantivamente da estratégia em rede, muitas das
pesquisas sobre redes tem privilegiado o estudo da configuração de redes entre grandes
empresas. Com exceção de alguns estudos isolados, como é o caso de Inzerilli (1990) que
usou a perspectiva de custos de transação para descrever como uma base de confiança num
contexto social facilita o sucesso das empresas do norte da Itália. Brusco & Righi (1989) e
Lorenzoni & Ornati (1988) que confirmaram a importância de fatores ambientais para o
crescimento de PMEs por meio de redes. Ou o trabalho de Saxenian (1994) que descreveu a
emergência de uma infra-estrutura dentro dos Estados Unidos para suportar o “estilo europeu”
de sistemas cooperativos.
Para Perrow (1992) o fenômeno das redes de PMEs tem tomado pouco espaço tanto
dentro das teorias clássicas quanto dentro das teorias críticas. No entanto, a forma de
produção representada pela grande firma integrada, defendida originalmente por Chandler,
tornou-se um modelo declinante frente às contemporâneas necessidades de flexibilização.
Perrow (1992) acrescenta que o problema com a teoria de Chandler foi completamente
negligenciar o papel atribuído à confiança e cooperação dentro desse modelo econômico. Já
as teorias críticas (marxistas) lançam uma forte crítica ao modelo capitalista, sendo o foco
maior de preocupação a exploração dos trabalhadores nas firmas. No entanto, pouco falam
sobre o tamanho da firma, as redes inter-firmas, o redesenho da produção, as associações de
negócios, a competição, a eficiência, e a infraestrutura que tornam as redes viáveis. Então,
segundo Perrow (1992), ambas as teorias clássicas e críticas necessitam ser questionadas, pois
ambas negligenciaram o poder econômico de três fatores que ajudam explicar o sucesso das
redes de PMEs: economias de escala por meio de redes; confiança e cooperação coexistindo
com competição; e ao estado de bem estar social causado pelo aumento da eficiência de
setores industriais regionais.
A dimensão da confiança e cooperação, possivelmente, representam um papel central
no sucesso alcançado pelas redes de PMEs, que dificilmente serão alcançadas por outras
formas de redes de grandes empresas e muito menos pelas grandes empresas integradas. Esse
fato foi levantado por Sabel (1991) ao destacar que a confiança nunca poderá ser
intencionalmente criada, e sim gerada a partir de uma estrutura ou contexto adequados. Diante
dessa evidência, Perrow (1992) argumenta que mesmo a confiança não podendo ser criada,
ela poderá ser encorajada por uma estrutura ou contexto que podem ser deliberadamente
criados. Assim, existem algumas características no contexto das redes de PMEs que formam
um aumbiente profícuo na geração de confiança entre as firmas, entre elas: a) as firmas
compartilham e discutem informação sobre mercados, tecnologias e lucratividade, b)
suficiente similaridade entre processos e técnicas das firmas e assim cada uma poderá
entender e julgar o comportamento das outras, c) relações a longo prazo, d) pouca diferença
entre tamanho, poder ou posição estratégica das firmas, e) rotação de lideranças para
representar o conjunto de firmas, f) similar recompensa financeiras para as firmas e
empregados dentro delas e, g) vantagem econômica pela experiência coletiva das firmas, pelo
aumento das vendas e ganhos marginais. Onde existem essas condições a possibilidade da
confiança é aumentada. Sendo que as redes de PMEs maximizam a possibilidade dessas
condições, enquanto o modelo de produção integrada não.
Para um melhor entendimento das especificidades das redes de PMEs é necessário
fazer uma distinção com outros arranjos como joint-ventures e alianças estratégicas. Nesse
sentido, Human & Provan (1997), salientam que as redes de PMEs diferem das joint-ventures
e outras formas de alianças estratégicas entre grandes empresas ao longo de três principais
dimensões:
a) As redes de PMEs são geralmente criadas para fornecer um forum direto de
atividades e relações entre os seus membros. Os membros permanecem independentes,
mesmo trabalhando em atividades conjuntas. Os atores dessas redes perseguem objetivos
comuns por meio de interações coordenadas de dez, vinte ou mais firmas individuais.
Enquanto que joint-venture são, geralmente, formadas por duas grandes empresas;
b) As redes de PMEs promovem complexas e recíprocas interdependências na qual os
seus membros fornecem inputs e recebem outpus uns dos outros. Essas inter-relações são
usualmente coordenadas pelas próprias firmas da rede. Esses mecanismos de coordenação são
geralmente informais e facilitados pela própria dinâmica de interação entre os membros. Já na
joint-ventures a coordenação é exercida por meio de contratos formais;
c) O critério de participação em uma rede de PMEs enfatiza a proximidade geográfica
pelo qual as firmas membras combinam competências centrais para o alcance de objetivos
organizacionais comuns, que de forma individual não alcançariam. Já para as joint-ventures
não existe a necessidade de proximidade geográfica.
Outro fator relacionado à tipologia de rede de PMEs, foi apresentado por Perrow
(1992), ao destacar que essas redes estão cercadas por uma infra-estrutura que é essencial para
sua sobrevivência e para sua economia, como: incentivos de governos locais e regionais;
serviços educacionais; associações comerciais que fornecem informação econômica,
treinamento e serviços de marketing. Esse ambiente, comumente encontrado nos distritos
industriais italianos, ampresentam uma forte contribuição no desenvolvimento de regiões e o
próprio progresso das PMEs.
Deve-se destacar, também, que existem muitas tipologias de redes de PMEs, que
poderiam estar localizadas em diversos pontos do mapa conceitual apresentado Marcon &
Moinet (2000), conforme figura 01. Algumas são amplamente conhecidas, como o caso das
redes verticais de subcontratação, em que as PMEs fornecem serviços e produtos para outras
empresas. No entanto, as reflexões apresentadas neste item dizem respeito as redes
horizontais de colaboração, em que as PMEs unem-se com a finalidade de somar esforços
para determinados objetivos comuns.
Então, para melhor entender a tipologia das redes horizontais de cooperação entre
PMEs, foco deste debate, devem ser observadas as seguintes características: a) congregam um
grupo de PMEs; b) situam-se geograficamente próximas; c) operam dentro de um segmento
específico de mercado; d) estabelecem relações horizontais e de cooperação entre os seus
atores; e) são formadas para um indeterminado período de tempo; f) prevalecem relações de
mútua confiança entre os atores; g) são estruturada sob mínimos instrumentos contratuais que
garanta regras básicas para sua governança.

6. Considerações Finais
O presente estudo buscou compilar as contribuições de diferentes autores de modo a
conduzir a evidências teóricas para uma melhor compreensão das configurações de redes
interorganizacionais. Dessa forma, as principais evidências identificadas foram: a) as redes
interorganizacionais são estudadas por diferentes correntes paradigmáticas (positivistas e não-
positivistas) e perspectivas teóricas (economia industrial, estratégia, dependência de recursos,
marxistas e críticas, institucional, redes sociais, custos de transação, comportamento
organizacional, ecologia populacional, teoria evolucionária e contingencial) permitindo assim,
uma ampla compreensão do fenômeno das redes; b) as redes interorganizacionais são
formadas a partir de pressões contingenciais (necessidade, assimetria, reciprocidade,
eficiência, estabilidade, legitimidade, flexibilidade e competitividade) e feitas possíveis pela
existência de fatores viabilizadores (conectividade, coerência e infra-estrutura); c) as redes
interorganizacionais apresentam atributos estratégicos (fluidez, economias relacionais,
aprendizagem, economias de escala, acesso a recursos tangíveis, acesso a recursos intangíveis,
redução dos custos de transação e credibilidade organizacional) que potencializam a
performance das empresas em ambientes hipercompetitivos; d) as redes interorganizacionais
podem ser classificadas a partir da observação de quatro elementos chaves (cooperação,
hierarquia, contrato e conivência), possibilitando, dessa forma, uma ampla variedade de
tipologias; e, e) a configuração de redes facilita as PMEs a alcançarem e manterem vantagens
competitivas frente as grandes empresas.
Essas evidências teóricas possibilitam uma melhor compreensão das dimensões
presentes na configuração de redes interorganizacionais. No entanto, ao finalizar este
trabalho, busca-se ampliar o debate, a partir dos seguintes questionamentos: As configurações
em rede são afetadas por variáveis do contexto cultural que desencadeiam efeitos
diferenciados em diferentes culturas? A utilização de tecnologia de informação e
comunicação tem promovido e facilitado a formação e performance das redes
interorganizacionais? De que forma a estratégia dos atores poderão afetar a performance das
redes?
Essas questões sinalizam para a necessidade do aprofundamento de temas tais como
cultura, tecnologias de informação e da comunicação e estratégia dos atores nas suas relações
com a abordagem de redes, possibilitando assim, uma melhor compreensão das configurações
de redes interorganizacionais em diferentes contextos.
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