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Mlyumí Edna lko Yoshikawa
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Cristina Maki Endo
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20770
Ensino e apründlãro.m dr lh
preensão e na correção do uso das expressões. É preciso deixar bem claro,
no entanto, que isso não passa de um auxílio no processo de aprendizagem,
principal do aprendízado de uma língua.
e que não consisre na atividade
O ser humano é um animal qu.e faz uso de uma língua, que é um
instrumento de comunicação. Como acontece com outros instrumen-
tos, o caminho mais curto para conseguir manejá-la é tentar usá-la, de
modo objetivo, na prática. Exercícios como os de repetição são eficien- !.2. O proÍessor de língua iaponesa
tes em certas ocasiões, mas o importante ê o aprendiz ter uma atitude
e a linguagem
proativa de querer aprender uma língua ao mesmo tempo em que a usa'
O aprendizado não deve ser de acumulação lenta de itens gramaticâis LEIKO MATSUBARA MORALES
27
No primeiro exemplo, "pasuta" (pasta dc arqr_rivo) corrcsponde a l,lr,rrr,l rrrrtiol'ititt'ios clc dctclr-r-rinaclo país, lr;lsccr)) cl:rí tcrrr.r6s híbr.icl6s c
"fairu" em japonês, mas na língua japonesa padrão pasutã quer dizer rrr.1.1';5111115. ll isso não se rcstringe aos léxicos: mesnlo et matrcira clc
massa como espaguete, fettuccine, penne etc. \ l,r ('ssil r' r'c('usa ou Íàzer um pedido, por exemplo, pode divergir da lín-
'
"Pegashite", por sua vez, deriva de "pegasuru", que é a junção do ver-
1'rr,r rrr,rir|itri|ia padrão. Na sociolinguística, denomina-se comunidade
bo pegar em português conjugado na rerceira pessoa do singular (pega) ,1, l,rl,r tsltccch community) o gÍupo de pessoas que, dentro de uma cer_
com o verbo suru do japonês. Na mesma categoria, encontramos com- r.r r rrrrrtnrirlilde, faz o uso de uma língua particular. E isso não se deve
binações coÍno " s entasuru" (suw aru, verbo sentar) e " cotnpurasuru" (kau, .rl'( ..*i i\ influência da língua local: há casos também de variações que
verbo comprar), e é infinita a possibilidade de formar novos vocábulos .,ilrll('nl pclo contato, em um curto período de tempo,
com os dialetos
híbridos. Esse é o Íeperrório lexical dos falantes de koroniago, e eles se ,lr' Pt'51;1;15 oriundas de diversas regiões. Aí também se inclui o japonês
comunicam dessa maneira livremente no seu dia a dia. E para que isso rrrrsrrilrrr.lo com o idioma local, variação que encontra sua origem na
possa ocorrer, é necessário que tanto o falante como seu interlocutor se- l,r.rt.rrpaÇão do issei em adequar o uso da língua japonesa ao se comu-
jam igualmente bilíngues, pertencentes à mesma cultura local. il r( iil' ('()rrl um nissei ou sansei que não a domine. o professor de língua
Quando frequentava a escoia de japonês, um dia, como a sala de auia r.rl)()r]('sa, que cresceu dentro de uma comunidade nikkei, adquiriu de
estava muito suja, propus à professora que era nativa: Koko wa soulilei wo l, )r'nlil llatural esse japonês rico em variações.
tooshite kara tsukaimashou (Yamos passar primeiro o aspirador e depois A Íl'ase em koroniago " soko ni dru Í)dsuta wo pega shite hon wo irete ku-
usar a sala). "Sakki no nihongo wa okashiiwayo. Souliki wa 'toosu' dewanaku- r/rrsrrÍ" (Pegue a pasta que está aí e coloque o livro dentro), por exemplo,
te,'kakeru' dato omoimasayo" (Soa estranha a coiocação que você acabou ( u r)rrr maneira de falar dos nikkeis e dos isseis radicados há muito tem-
de fazer em japonês. Não se :usa toosu pata ' passar o aspirador", mas, sim,
1,r,rr Brasil (atualmente chamados também de old. commers). Hâvárias
leakeru), corrigiu-me a professora. sem querer, eu tinha traduzido literal- lrrprircses sobre sua origem.
mente para o japonês a frase 'passar o aspirador". Mesmo sendo uma for- A mais antiga delas pode ser encontrada no livro de Tomoo Handa,
ma desviante da língua japonesa falada por um nativo, até enrão ninguém Itttin seileatsu no rekishi (o imigrante japonês), no qual há um ensaio in-
havia me chamado a atenção a respeito. Isso talvez signifique que em ko- tit tLlado "shinimin ro burajirugo" (o novo imigrante e a língua brasi-
roniagtt esse modo de se expressar já tenha deixado de causar estranheza. k'ira). É uma crônica escrita sob o ponto de vista de um imilrante re-
Entre os isseis radicados há muiro rempo no Brasil e os nikkeis é , óm-chegado no Brasil, que faz suas elucubrações a respeito
da ríngua
comum falar dessa forma misturando o português ao japonês. No en- iirponesa faTada por um imigrante antigo, contendo muitas palavras do
tanto, ao ouvir alguém falando assim, é bem provável que um japonês português. Esse japonês, de início, pensou que os imigrantes radicados
recém-chegado não compreenda direito o que se quer transmitir, com- ,o Brasil há algum rempo usavam empréstimos do português em suas
prometendo o entendimento mútuo. Além disso, o que aconteceria se Íirlas por capricho. No entanto, ao passo que se adaptava à vida da comu-
o professor de japonês usasse inconsciente e sucessivamente essa forma .ridade onde morava, ele percebeu que era nada mais do que a inserção
de linguagem dentro da sala de aula? Certamente, os alunos aprende- de palavras do português na estrutura da línguajaponesa. Essa é a ver-
riam um japonês incompreensível ads nativos que não estão familiari são que atribui a origem do koroniago à simples substituição de palavras
zados com o Brasil. japonesas pelas portuguesas.
Como a língua é um instrumento de comunicação, mesmo se tratan- Outra versão diz que l<oroniago é uma "língua nissei,,, ou seja, sur-
do de uma língua padrão, a forma de as pessoas se expressarem muda giu pela preocupação do issei em facilitar a compreensão de sua fala aos
notavelmente de acordo com a faixa etária e a situação. Do mesmo descendentes da segunda geração, que tinham um vocabul ârio rcduzí-
modo, pelo contato que uma 1íngua minoritária tem com a cultura e o do em japonês.
do Japão constituíram a base da koroniago, pelo motivo de ser grande o l),rssor.r a Dt1lízar a língua
japonesa padrão. E, voltando à sua cidade, re-
número de imigrantes oriundos de Kyüshü - tanto que escutamos em , r' l rt' rr <r seguinte comentário: "Antd w a s an Pauro ni ikuy ou ni natte, kidot-
diversas partes do Brasil falas como "Yamada-san ga tabeyoru". Talvez Ittt rrnti' (Depois que você se mudou para São Paulo ficou um pouco pe-
koroniago seja o resultado da evolução de uma língua franca, pois se as rl,rrrtt', não?). Como se pode notar, o japonês padrão nem sempre é aceito
pessoas resolverem cada qual falar no dialeto de sua terra natal, certa- ,lt' lorma unânime pelas pessoas da comunidade nikkei.
mente, não se entenderão. (.)rrando o assunto é aquisição de língua, duas pessoas podem ter tra-
No que diz respeito à linguagem de tratamento, mesmo entre os ;r'rr'rlirrs distintas de aprendizagem do japonês, ainda que as duas sejam
nikkeis altamente profi.cientes em japonês, há aqueles que, não conscien- ',.rrrst'is: porum lado, há aquela que aprendeu o japonês dialetal usado na
tes da relação social "hoúzontal", acabam considerando apenas a'verti- trr i,r (lc origem de sua avó, e por outro aquela que só aprendeu o japo-
cal", produzindo frases como: "Ojiichan gairasshaimasu" (Meu avô vem/ !rrr:, t omo língua estrangeira quando foi estudar numa universidade no
está/vai). Se considerarmos esse uso desviado da linguagem de trata- l,rp,ro. O japonês que elas falam é totalmente diferente. O contato com a
mento como uma nova variação da língua, então isso também ékoronia- Itrrlitrir padrão leva as pessoas a terem diferentes percepções a respeito da
go - uma linguagem muito útil na comunicação dentro da comunidade. Irrrlirrrgr:m, por isso há aquelas que não usam ou não conseguem usar as
Há um episódio interessante que aconteceu com um casal de imi r',rrr.rçÕcs do japonês, outras que só conseguem falar em koroniago.
grantes idosos, enquanto faziam uma refeição com um parente que vie- No tlue se refere ao professor, é desejável que ele seja capaz tanto de
ra do Japão. "Kore wa uchi de katteiru garinha dakara oishii desuyo" (Olha, l,rltr koroniago como o japonês padrão, ernvez de apenas conseguir usar
essa garinha é a que criamos aqui em casa por isso está uma delícia), ,r.. v,rlirrçõres dessa língua.
disse a senhora de idade ao oferecer um cozido de galinha à visita. No A Ii'rrr disso, tem um aspecto àkoroniago que parece responder a cer-
que seu marido logo a corrigiu: "Kore, gainha janai darou,furango darou" r,r,, rrt't'cssidades cognitivas dos falantes. Às vezes, é usada para expres-
(Isto não é garinha, êfurango, oras.). O que é interessante aqui é que tan- r,r r , {)rrt'citos inexistentes no japonês ou, mesmo que conceitos seme-
to a palavra "frango" quanto a palavra 'galinha" são portuguesas, mas llr,rrrtls cxistam, essa variação é usada para complementar o sentido do
o casal as usa de forma inconsciente, certos de que são japonesas. Para r t(' s(' que r expressar. Por exemplo, num texto escrito por um issei, en-
I
os japoneses old commers, koroniago é uma língua que está arraigada no r r rnl lrur()s a palavra zasshu para se referir a um cachorro de raça híbri
seu cotidiano e, portanto, não atentam ao fato de que se trata de uma ,l,r , rnrrs, três linhas abaixo do mesmo texto, apaÍece a palavra biraratta
linguagem que tem sua origem no português. rvrr,r lrrtrr). Supomos então, que o autor usoubirarattapaÍa enriquecer
Alóm disso, há casos de pessoas que, independentemente de quem ,ir'il r('xto. Desse modo,koroniago tambêm é empregadapata dar uma
for seu interlocutor, falam sem se conscientizarem de que há diferen- uu,rr\'rr iucxistente ao japonês, incorporando-se empréstimos da língua
ças entÍe o japonês tido como padrão e aquele falado no Brasil. É bem lr rr r { rilr r('sa. outro exemplo é a expressão nonpuresuta (não presta). Em
provável que os isseis, os nikkeis que cresceram em uma comunidade, r.r'z ,lc rlizcr em japonêsyakunitatanai, prefere-se o uso de nonpuresuta
quando conversam com outros descendentes, se sintam mais à vontade 1,,rr,r crrÍirtizar o sentido de inútil. Talvez dependa de
quem a use, mas a
e compreendidos ao usarem koroniago, no lugar do japonês tido como l,,rl,rvr',r baubundo (vagabundo) tampouco significa apenas alguér:r pre-
guiçoso, mas refere-se, de modo depreciativo, a um homem que não tra. lllltl com os aprendizes de japonês como língua estrangeira, possuem
balha mesmo na idade produtiva.
Hliln rilskrr habilidade interativa de resolver variadas questões pela co-
tltunlruçilo direta com os nâtivos japoneses.
1.2.2. Aquisição de língua dos nikkeis
Diz-se que uma língua de herança, se negligenciada, desaparece natu- l,t,t. l(oronlago - qual a peÍcepção dos nikkeis em relação
ralmente após três gerações. No caso do Brasil, graças à comunidade l a$r Yarlação
nikkei, há pessoas que mesmo sendo sanseis ainda faram o idioma de Mugi das Cruzes há pessoas que falaml-9-'ffi (neezama) quando
lm
seus ancestrais. Esses nikkeis adquiriram a língua japonesa de forma na-
!f reÍbrem à sala de jantar, e l*fitüf (meezakake) quando querem
tural e muitas vezes inconsciente. euando perguntados sobre a ordem, toalha No estado Minas Gerais há pessoas que usam
dllcr de mesa. de
o modo como adquiriram as línguas que sabem, muitos nisseis respon- I / l.tÊ-i (yonotomobe = yofeul nolde] tomobe[aulqlneyel]) para dizer
dem que no lar e com a vizinhança só falavam em japonês e, ao ingres- umÉu
earro". "Sensei, ocafé wo dôzo" (Professora, çlue tal um cafe?) foi a
sarem na escola brasileira, começaram a usar o português época em
- furma como me ofereceram um café após o término de minha palestra,
que ocorria a mudança linguística.
lru certo encontro de professores de japonês. Lembro-me que me sur-
Como essas pessoas usavam o japonês, sua primeira língua, apenâs prrendi com a novidade. O que queÍo dizer com esses exemplos é que a
no ambiente familiar, seu vocabulario ficava cadayezmais restrito, en- prlrpria koroniago sofre variação dependendo da região em que éfalada.
quanto o português se toÍnava a língua acadêmica à medida que au- atual sociedade nikkei do Brasil, em que se observa um processo
I.,la
mentavam as atividades intelectuais na escola brasileira. A escola de dc clistanciamento dos descendentes da língua japonesa, tem aumenta-
japonês não era um lugar onde se estudavam disciprinas ministradas
drr o número de pessoas que sequer falam koroniago. Não podemos ig-
nesse idioma, mas, sim, um local onde se aprendia a leitura e a escrita
norar, por outro lado, que há pessoas que fazem uma imagem negativa
daquela língua japonesa uttlizada na conversação do dia a dia com os dessa variação considerando-a uma "língua feia" ou um "japonês erra-
familiares, ao passo que a atividade intelectual se desenvolvia na escola do que se fala em casa". Durante uma aplicação de prova de nível do
brasileira. como resultado desse processo, o pofiuguês passa a ocupar a
.fuponês, ouvi de alguns estudantes nikkeis que, mesmo sabendo falar
posição de primeira língua que anres era do japonês. hem a língua, teceram os seguintes comentários: 'tenho vergonha por-
Mesmo assim, até meados da dêcada de r9go, antes do movimenro que não sei muito bem esse idioma" ou "hão falo em japonês porque só
de emigração para oJapão como decasségui, os nikkeis eram ainda nu- sei aquele usado em casa" ou ainda que o seu "japonês não é muito bo-
merosos nas vilas e comunidades, participando ativamente dos eventos nito". Como professora, preocupa-me muito o fato de os estudantes, em
das associações culturais e da própria escola de japonês. Além disso, a algum momento, formarem opiniões negativâs a respeito do japonês
relação entre os nikkeis era muito forte e a língua de comunicação uti- que eles usam. Tenho percebido que, enquanto os estudantes não des-
lizada entre eles e os isseis, para solucionar as mais diversas questões do cendentes tentam se comunicar em japonês ainda que cometam muitos
cotidiano, era o idioma de seus ancestrais. erros, os nikkeis se reprimem em emitir perguntas ou opiniões atê mes-
Âinda nos dias de hoje, nas poucas comunidades que mantêm esse mo ern treinamentos de professores, embora saibam se expressar com
tipo de ambiente, as crianças nikkeis se comunicam com os professores desenvoltura nesse idioma. Talvez essa diferença de atitude se relacione
da escola de japonês, com os idosos e com os vizinhos, por exemplo, com o grau de satisfação que esses dois tipos de aprendizes sentem âo
para pedir desculpas ou solicitar alguma coisa, usando a língua japone- usar ojaponês. O aluno não nikkei ao pronunciar qualquerpalavra em
sa. Podemos afirmar que os nikkeis, por essas experiências, em compa_ japonês sente a satisfação de poder falar em uma língua estrangeira. Ao
tural e muitas vezes inconsciente. Quando perguntados sobre a ordem, tlrz.t'r toalha de mesa. No estado de Minas Gerais há pessoas que usam
o modo como adquiriram as línguas que sabem, muitos nisseis respon- I / l. jE ^i (yonotomobe = yo[eu] nolde) tomobelaulonotrvel)) para dizer
''rrrctr carro". "Sensei, qcafé wo dôzo" (Professora, que tal um cafe?) foi a
dem que no lar e com a vizinhança só falavam em japonês e, ao ingres-
sarem na escola brasileira, começaram a usar o português - época em l,r'rua como me ofereceram um café após o término de minha palestra,
que ocorria a mudança linguística. ('nl ('crto encontro de professores de japonês. Lembro-me que me sur-
Como essas pessoas usavam o japonês, sua primeira língua, apenas 1rr t't'rrdi com a novidade.
O que quero dizer com esses exemplos é que a
no ambiente familiar, seu vocabulario ficava cadavez mais restrito, en- l)r(')l)r'ia koroniago sofre variação dependendo da região em que éfalada.
quanto o português se tornava a língua acadêmica à medida que au- Na atual sociedade nikkei do Brasil, em que se observa um processo
mentavam as atividades intelectuais na escola brasileira. A escola de ,lt'tlistanciamento dos descendentes da língua japonesa' tem aumenta-
japonês não era um lugar onde se estudavam disciplinas ministradas ,lrr rr rrúmero de pessoas que sequer falam leoroniago. Não podemos ig-
nesse idioma, mas, sim, um local onde se aprendia a leitura e a escrita n( )r .r r', por outro lado, que há pessoas que Fazem uma imagem negativa
daquela língua japonesa utllizada na conversação do dia a dia com os ,l.ssrr variação considerando-a uma "língua feia" ou um "japonês erra-
familiares, ao passo que a atívidade intelectual se desenvolvia na escola ,[, tltrc se fala em casa". Durante uma aplicação de prova de nível do
brasileira. Como resultado desse processo, o poÍtuguês passa a ocupar a l,rporrôs, ouvi de alguns estudantes nikkeis çlue, mesmo sabendo falar
posição de primeira língua que antes era do japonês. lrCrrr ir língua, teceram os seguintes comentários: "tenho vergonha por-
Mesmo assim, até meados da década de r98o, antes do movimento rpr(' niio sei muito bem esse idioma" ou "não falo em japonês porque só
de emigração para oJapão como decasségui, os nikkeis eram ainda nu- 'i('r ,r(lu(:le usado em casa" ou ainda que o seu "japonês não é muito bo-
merosos nas vilas e comunidades, participando ativamente dos eventos rrrro". ( )omo professora, preocupa-me muito o fato de os estudantes, em
das associações culturais e da própria escola de japonês. Além disso, a ,rllirrrrr nlomento, formarem opiniões negativas a respeito do japonês
relação entre os nikkeis era muito forte e a língua de comunicação uti- ,Iil('('l('s Llsam. Tenho percebido que, enquanto os estudantes não des-
lizada entre eles e os isseis, para solucionar as mais diversas questões do r , rrrlcrr(cs tentam se comunicar em japonês ainda que cometam muitos
cotidiano, era o idioma de seus ancestrais. . r rr )s, ()s nikkeis se reprimem em emitir perguntas ou opiniões até mes-
Ainda nos dias de hoje, nas poucas comunidades que mantêm esse nro ('il1 trcinamentos de professores, embora saibam se expressar com
tipo de ambiente, as crianças nikkeis se comunicam com os professores ,1, :,,'rrvoltur"a nesse idioma. Talvez essa diferença de atitude se relacione
da escola de japonês, com os idosos e com os vizinhos, por exemplo, r,lnr () glar-r de satisfação que esses dois tipos de aprendizes sentem ao
para pedir desculpas ou solicitar alguma coisa, usando a língua japone- rr',,rrc irrilorrês. O aluno não nikkei ao pronunciar qualquer palavra em
sa. Podemos afirmar que os nikkeis, por essas experiências, em compa- 1,r1,,,nrrs s('ntc a satisfação de poder falar em uma língua estrangeira. Ao
conhecida - são captados apenas como ruídos' ,r'r\,()lvâ sem atropelos, elevando a eficácia àaaprendizagem'
Trata sc
mos esses sons repetidamente, depois de um
tempo' isso nos {az reco- sua habilida
o sen- ,1, ll nrr-r Oportunidade para o professor bilíngue mostrar
nhecer as unidades que formam as frases e' consequentemente' ,l{ n):ts, novamente, ele deve atentar ao modo como utilizará eficiet.r-
contato sonoro e de
tido geral. Fazer com que os alunos tenham esse r, r r('r)tt essa língua de intermediação'
importante
modo repetido não é uma prática inútil' mas um processo como' por exem-
I l:i vczes em que o professor fala pausadamente
para a intelecção' ,1, , " / Ílai/ii/desu/ k'a?" (Pe lgte lo lcaderno/
NttoLo/wo/totte/kltt,lasai'
quando se
No entanto, explicações em portupluês são aconselhadas
I
para isso' A pri-
ou dos costumes l , ,,,r" lirelo/bem?). Podemos apontar duas explicações
cluer dar inf-ormações pormenorizadas da gramática rrr.rr,r ó que o professor, não tendo adquirido o
japonês como língua
quando se de-
qo" ,rrr"rlru* d.i"t-irtado uso da língua' assim como .r.rl(r'lril, nãoseia fluente nesse idioma demonstrando
hesitação no
de aprendizagem' O
seja explanar o objetivo de determinado tópico , r, rrtoclo cle Íàlar. A outra explicação ê a de que' mesmo fluente'
o
ter o cuidado de sa-
profissional que ensina uma língua deve sempre de falar ao nível dos alunos' imaginan
português ou o japonês' E l,r,,lt'ssor ajusta a sua fbrma
ber quando e em que medida pocle utilizar o rl. tlUC cles não o entenderão' Trata-se de um ajuste muito Írequente
acreditil-seqr.optoft'sor,emsaladeaula'devafalardeumamaneira de teacher
,, ,'l'r,,.1.r pclr professores de língua estrangeira' chamado
em um nível um pouco aci-
que os aprendizes entendam seujaponês' ou r,r/À'tllla clo pr:ofessor)' E isso não se restringe à velocidade
da fala
seu aprendizado'
ma daqueie em que eles se ellcontram' para alavancar ,1rrr t'nrrtis lenta, engloba também a simplificação
das palavras e da
para o professor' mas isso não o quali-
bilíngue é uma vantagem usar essa prática em
r'r,rnr.itica. Devemos lembrar que, se o professor
Ser
que conseguirá dar ex
fica a ser um bom profissional' Significa apenas , \, ( ss() ou torná-la um hábito, poderá ter dificulclade em
adequar cr
do profêssor bilíngue
plicações e ensinar em português' A competência ,,rr,l linguístico às classes, além do que é um inputdejaponês
artiÍi
línguas' mas' sim' no
não se encontra em sua capacidade de fâlar duas , r,rl .lr )s ltlunos.
clesenvolvimentodahabilidadeemsaberÜtilizaÍessaslínguasdeacor'
do com a situação.
Paulo, i995.
(r3) TereNo, Yuko. Tensão diglóssica na aquisição de línguas: um estudo de 1.3.1. 0 ensino de lín§ua de herança
b íLíngue s nip o -bra silienses. D issertaç ão de mestr
ado - un iversid ade
l(.,,tr. (.xpírulo, gostaria de explicar sobre as diferenças de contextos
de Brasília. Brasília, zooz.
,1, .rP|t'rrdizagem que há entre aprender a língua japonesa no Brasil c
(r4) Taresu, Fumiko. o silêncio na interação entre descendentes e não
,rl,r(,111(.r.9 japonês no dia a dia, como segunda Língua (Lz) noJapão.
descendentes na sala de aula delíngua japoneso' Dissertação de
mestrado - Unicamp. Campinas, 1999.
\rlrlt' o ensino da língua japonesa no Brasii, é possível dividir em
,lrr.r', 1,,r'rtncles perspectivas: uma delas é o ensino como Língua de He-
r ,r r r(, ,r ( r.r r), dirigido aos nikkeis com o objetivo de transmitir a
língua e
,r r rll r f il cl1;s ancestrais, e a outra, como Língua Estrangeira (r'u), como
'
rrrrr,r l,,r'rna de difundir a língua japonesa entle os não descendentes hi-
rrr/.'À'r'rr N«r presente artigo, vamos nos ater ao ensino de ls'
r I ltr.rrsil ó um país que, geograficamente, está muito distante doJa-
pertenciam, e no início tinham como objetivo atender a educação bási ,r.r.r (,r intigrantes falantes de espanhol nos Estados Unidos e em imi-
ca de seus filhos, com enfoque no ensino da língua materna (o japonês), r'r . rr{ \ tlt' rliversas etnias no canadá. costuma-se dizer que a ru tende a
uma.vez que o Brasil era um lar transitório e os imigrantes pretendiam , l
,( r( l( r' r'rrpidamente, após três gerações, se não houver uma interven-
voltar aoJapão. Nas primeiras décadas da imigração em muitos lugares , r. ', r r,rs n() c:aso do Brasil, por ter havido continuidade no processo mi-
onde estavam os imigrantes sequer havia instituições brasileiras de en- l'r rr, )r r{, rro pós-guerra, o japonês foi preservado. Há muitas comunidades
sino, e as escolas comunitárias foram importantes nesse sentido, para ,1, ;,r|,rrt s.s cm que as escolas de língua japonesa foram preservadas, sob
não gerar analfabetismo. r ,r, lrr r rrist ração dos nisseis que herdaram o pensamento dos isseis.
No período pós-guerra, muitos japoneses decidiram permanecer no \', t rirrrrças nikkeis dessa época, na maioria das vezes, falavam o ja-
urasil e as crianças passaram a estudar nas escoias brasileiras. Além dis- 1,,'n,'., no ili;r a dia, de modo que as escolas funcionavam como espa-
so, devido à estabilidade financeira que as famílias já tinham atingido, ,,, . l ll,l l l allctização. Os professores de japonês orientavam as crianças a
cr('sccLr cl número de descendentes que passaram a cursar o ensino su- ilr, rll, rlizrrr c>skan1i, davam ordens para escrever diários todos os dias e
l.rcli«rr. IJ assim, o japonês deixou de ser a língua dominante das crian- r rrlr( nl lrrzer redações. os exercícios nos cadernos das crianças da dé-
çrrs rrikkcis. De um lado, muilos pais acreditavam que enquanto vives- , ,r,l,r ,lt. r()go comprovam esse fato.
scnr no tlrasil, a aquisição da língua portuguesa deveria ser priorizada, ( ):, ( rt(l('rÍ1os contêm registros de que os professores
escreveram pa-
r-orno ttrnrbém, a educação brasileira, mas por outro lado, o sentimento l.rr r,r:, t'rrr vcrmelho, que os alunos formularam frases utilizando tais
dc tÍallsmitir a língua e a cultura dos ancestrais às gerações futuras era l,,l.rr r,rs. (luc os professores corrigiram-nas assinalando com dois ou
igualn-rente forte, o que serviu de motivação para o ressurgimento das rrr ', r irt rrlos sobre as letras que as crianças escreveram. Era comum na
escolas japonesas comunitárias no período pós-guerra. ' l,{,,.r ilrr) professor cuidar de uma sala multisseriada, em que estuda-
Nessa época, havia maior número de escolas brasileiras, a legislação \ ,, ( r'iilr)ç]as de diversas séries e, para
manter o controle sobre elas, o
da proibição do ensino de língua estrangeira estava mais branda, e as l',,,1,'.;sr)r'cntregava-lhes exercícios e tarefas, todos feitos à mão, elabo-
condições de vida em geral dos imigrantes também haviam melhorado, r .r,1,,\ (l(' acordo com o nível de cada um.
o que permitiu que seus filhos frequentassem as escolas brasileira e ja- [.1,r i'poca, r-rão havia sequer máquina de copiar e os exercícios chega-
pone sa, em turnos diferentes. Assim, as escolas japonesas deixaram de \ ,r, ,rs rrLjOs das crianças cheirando a álcool de mimeógrafo. Assim, en-
,1, r, mas era por meio dela que a Comunicação no convívio escolar dos des-
em que um professor ensinava para um só nível'
, nikkeis erarealizada. Podemos ouvir depoimentos nostálgicos
t'rrr.lcntes
Ao entrevistarmos os professores em atividade na faixa etária dos
( r )ul(): "ensinei o valor de plantar as losas, tratando das roseiras junto com
cinquenta anos, há relatos de que a grande maioria frequentou
escolas
um ensino centrado ,rs t'r'ianças", 'na FestaJunina, dançamos cantando a letra ttaduztdapara
coÃnitárias quando criança e que estudou com
rr ;irponês", "quando jogávamos beisebol, as mães faziatn a refeição para
na escrita e na leitura. O motivo de não haver exercícios de conversação
"as mães preparavam o almoço nas excursões escolares", "havia
nas aulas está fundamentado no fato de que a maioria possuía
pleno do- .r l('1te",
uln oltorme piano na escola", 'ho Festival da Terceira ldade, os velhinhos
mínio da modalidade oral da língua. Alguns chegaram a falat que gos-
lr( .n.am emocionados de ver as crianças fa zeterndemonstração de dança".
tavam ranto de ler mangá e livros de romance deixados sobre as estan-
Outros llol rnuito tempo, as escolas japonesas desempenharam a função de tra-
tes das escolas, que aprenderam ojaponês lendo esses gêneros'
o que não acontencia nas escolas
llrar a sensibilidade artística e moral -
acabaram memorizando o conteúdo de livros didáticos de tanto
copiá- I r,r
vidades promovidas por essas associações' Em algumas regiões, o es- , , rnsidcrar o papel social do interlocutor como nos casos de pedidos e
porte constituía a atividade principai e, em outras, o ensino da língua r(.( uslls ou nO uso de expressõeS de tratamento oU expreSsões de eufe-
japonesa. Como normalmente eram os pais que atuavam como treina- nrisnro. Na linguagem de tratamento do japonês falado no Brasil, por
dores ou conselheiros nessas atividades, havia um ambiente linguístico ,.,rr.rnplo, só se leva em consideração ahierarquia vertical absoluta - in-
em que o uso do japonês era imprescindível paÍa a comunicação entre rt'rrra de um grupo - e não atelativização dos grupos entre si, quando
os nikkeis. As crianças que estavam em plena fase de aquisição de lín- un) nrembro de um grupo se dirige a uma pessoa de outro grupo. Nes-
gua estavam imersas em um próspero ambiente linguístico com gran- \(' ( ilso, nem sempre aquele que era considerado superior dentro do seu
des oportunidades de falar em japonês. Os professores cuja faixa etâria f,,l ul)() recebe o mesmo tratamento
quando passa a ser tratado por um
está por volta dos cinquenta anos hoje dizem que a exposição ao japo- rrrr.rrrbro inferior de outro gfupo. São considerações apontadas por Tae
Srrzr.rki na Sua tese sobre a linguagem de tratamento, o que ilustra o fe-
nês era mais ampla do que ao português, a língua majoritária. Somente
agora percebemos o quantb essa êpoca fora profícuapaÍa o desenvolvi- r( )nr()no da simplificação da linguagem.
mento do bilinguismo. l\rr haver poucas ocasiões complexas que requerem atenção ao tipo
, interlocutor, entre as pessoas que aprenderam ojaponês
L' sit uação e de
r onl() r-H, é grande o número daquelas que aplesentam assimetria nas
1..3.2. Do ensino (da língua) de herança para o ensino
,pr,rrr.o habilidades linguísticas - fato que é comprovado em pesquisas
de língua estrangeira
.olrrc o errsino de lu. Eias podem possuir fluência na fala, mas não pos-
A língua japonesa adquirida como língua de herança pelos nikkeis bra- \ulrn o mesmo nível de conhecimento na escrita japonesa. Esses pro-
sileiros, até o final dadêcadade r98o, era diferente dojaponês aprendido lrlrrrras, na verdade, não são propriamente do falante de ln, mas uma
como 1íngua estrangeira como ocorria em diversas partes do mundo, rlrr('stão que afeta os bilíngues em geral.
como também do japonês adquirido como segunda 1íngua (Lz) no Ja- lirrr uma pesquisa rcalizada em 2oo5, com base nos dados do Centro
pão. Nas comunidades locais brasileiras, os nikkeis interagiam frequen- Itr ,rsilciro de LínguaJaponesa, constatou-se que mais de goo/o dos profes-
temente com os nativos e recebiam input da língua japonesa quase que lorts são nativos ou descendentes, do que podemos deduzir que mais
como uma Lz. No entanto, o dia a dia de um nikkei era diferente do de vcz essa tendência Se manteve no caso brasileiro. Em relação à forma
lu t lrl
um nativo residente noJapão e o Llso da língua japonesa se restringia so- (l(' ()ntato
( com a língua japonesa, podemos dizer qule 4oo/o aprenderam o
1,r1rr rrrôs como língua materna ou primeira língua
(248 pessoas);4ro/o como
mente à vida cotidiana. Devido a essa limitação do uso do japonês na co-
munidade, as variações no estilo de linguagem, tal como a de tratamen- Irrrlirrrr de herança (ut) (zsz pessoas); 3o/o coÍno língua estrangeira (lr) (vin-
to, acabaram se tornando escassas. Dessa forma, os descendentes apre- r{'l)('ssoas hinikkei);ro/osáo retornadosbrasileiros que aprenderam ojapo-
rrtis rro -f apão (quatro pessoas) e, ryo/o não responderam (97 pessoas)' Com
sentavam um bom desempenho linguístico do japonês na modalidade
oral usada no dia a dia enquanto que a competência acadêmica na escri- {, .rvilr)ço das gerações dos professores, observa-se uma diminuição da-
Iil('l('s que adquiriram o japonês como língua materna, um
aumeÍrto no
ta e na leitura era mais bem desenvolvida na língua portuguesa. Em ou- '
tras palavras, por mais que a língua tivesse se desenvolvido até um certo nunr('r\) dos que aprenderam a língua como LH e o surgimento de noYos
ponto, poderia estar passando por um processo de estagnação. 1,t'r'Íis de professores não descendentes e retornados
brasileiros.
lissc avanço na geração, pode ser estendido aos aprendizes. Mesmo
Quando o uso da língua se restringe apenas à conversação trava-
da com interlocutores amigos ou conhecidos, a linguagem acaba por I.rrtkr passado pouco mais de meio século após a Segunda Guerra, o
se simplificar devido à falta de oportunidade de se escrevel textos for- nunl(.t'() de aprendizes do Brasil Se manteve nos patamares de zo mil
('!rt,urto, acredito também na importância da formação de professores
alunos. os números em si não revelam muita coisa, já que esses são os
i urrr domínio da gramática da língua para que, por meio de uma boa
mesmos hâ dez anos, mas se analisarmos a composição, podemos ve-
()l !('nta(:ão, seja possível diminuir os encargos dos aiunos que têm de
rifi.car que o número de aprendizes nikkeis diminuiu e, inversamente,
,rplt'rrclcr a língua japonesa.
aumentou-se a quantidade de não nikkeis.
Levando em conta esse tipo de mudança, é esperado que o ensino te-
l)c acordo com a minha experiência, posso relatar que, já na dêcada
nha uma nova abordagem, voltada para LE, mas como é possível fazer rlt' rr)ilo, havia ao meu redor nikkeis que não falavam o japonês, mas que
mostram como a forma de aprender do , , rrrscgLriam compreender o que era dito pelos outros. Foi em r99o, quan-
essa transição? Há pesquisas que
, I r t'ornccei a lecionar para os universitários, que encontrei pela primeira
professor e suas convicções sobre a aprendizagem acabam influenciando
a maneira de ensinar, mas é muito difícil transformaf as clenças
(sistemas vlz cstudantes nikkeis que não compreendiam a língua. Certo dia, esses
recebam os {'st l ldiurte s me perguntaram sobre a diferença entre o uso das partículas
de convicções e valores) de professores. É importante que eles
alunos com a consciência de que a forma de adquirir a lI{ é muito diferen- rur ('.gír por não conseguir sequer compreender o porquê das pergun-
cr,
t,rs, ircirtrei não levando a sério o que aquela dúvida representava' Igno-
te da forma de se aprender a LE. o fato é que, ser professor não é ensinar
r ,r rrrlo o Íàto de que eu não tinha competência de explicar sobre tais tópi-
com base nas suas experiências, mas o verdadeiro professor deve se colo-
r os grermaticais, fiquei boquiaberta com esses alunos. Só depois, quando
car no lugar do aluno, assessorando-o no processo de aprendizagem.
rt' i n sc:revi no curso de formação de professores, me dei conta da minha
Por muito tempo, pensou-se que o ensino de língua japonesa no Bra- rr
de ensino e aptendizagem de r,s. Neste artigo, subtraí propositadamen- l,ol [)('l'te ncer a um grupo étnico, mas porque a escolheu por gostar da
claquele país.
te o termo "língua' e inseri parênteses. A minha intenção foi mostrar I Irr11Lur
'l'r'rrtlic:ionalmente, os nikkeis estudaram o japonês poÍ uma exigên-
que o ensino de japonês do Brasil representou no passado mais afinado
r r,l ('xlcrna, a do meio em que viviam. No caso dos não nikkeis, a deci-
com a educação artística e formação cultural, em detrimento do ensino
.,,r,r tlc cstudar partiu por conta própria. Prevê-se que alunos com esse
da língua propriamente dita. De fato, não se pode negar a importância
de transmitir a cultura japonesa e a formação bicultural dos nikkeis, no 1rt'r'lil irtrrrrentem cada vez mais. Para se ter uma ideia, o vencedor do úl-
si1, e isso não quer dizer, evidentemente, que todos os nikkeis trilharam L g3-g4, ano xxrr, 2oo2.
'l'rimestrale,
o mesmo caminho, Quando observamos em teÍmos numéricos, parece í t) lirrKAzAwe, Lídia Masumi. "Hachijügo shünen wo mukaeta
que o Brasil ostenta uma situação invejável na ârea do ensino da língua lh-rrajiru no nihongo kyôiku" (8o anos de ensino e aprendizagem
em comparação a outros países, mas o fato é que houve também inter- tlc língua japonesa no Brasil). Sekai na rihongo kyôileu: nihongo
rupção entre os períodos pré e pós-guerra. kyôiku jijô hôkoku hen, n. z, pp. 6r-7t, rgg5.
(.1) l(uNo, Mariko. "Nikkei burajirujin no nihongo: nikkei issei no
Com o mabalho de coleta de dados notamos a existência de nikkeis
n ihongo jijô" (O japonês dos brasileiros nikkeis: sobre a língua dos
com um perfil pouco lembrado. São os nisseis e sanseis cujos ancestrais
são imigrantes do período pré-guerra que, em vez de transmitir a cul- rrilçkeis isseis). KokugakuinZasshi, v. ro8, n.rr, zoo7.
tica, graças às colônias formadas por novos imigrantes que vieram no nikkeijin. San Pauro Jinbunkagaku Kenkyüjo, zooz.
pós-guerra. O ensino de língua japonesa do Brasil, na verdade, jâ co-
( .') Nnwa, Takako. Biltnguismo e mudança de código: umaproposta d"e
meçava a se diversificar desde essa época, pois havia várias gerações de tnulise com os nipo-brasileiros residente em Brasília. Dissertação de
nikkeis sobrepostas. Mas, por não ter atendido a essa diversidade, pode- nrcstrado - Universidade de Brasília. Brasília, 1998.
mos dizer que o ensino de japonês como LE acabou não se consolidando.
(X) Nrwn, Yoshikazu. "Burajiru no nihongo kyôiku" (O ensino de
Se analisarmos os relatórios de seminários do final da década de ry7o,
lírrgua japonesa no Brasil). In: Bune;lnu-NrppoN r"Jüsne KyôKAr
suNGo r;ü co.JüsHü NEN KTNENSATJTKKou rrNKÀr. Bumjiru-nihonimin
pode ser observado que alguns poucos professores demonstravam pre-
ocupação em relação à necessidade de ensino de r,s nas capitais, mas no st trgo iii gojil nen. zoo4, pp. t68-r7o.
interior de São Paulo e Patanâ, por exemplo, era esperada a manutenção
(,.r ) Sa sA Michiko Sansedai de kienai 1ar. to wa? Nikkei imin no
Kr,
nihongokeishó (O que quer dizer com a língua japonesa de herança
do ensino de (língua) de herança, já que havia falantes da lu. Havia, ain-
da, discussões que permaneceram no âmbito das questões ideológicas rltrc não desaparece em três gerações? - a continuidade do ensino
ou sobre o objetivo de se ensinar a línguajaponesa, sem reflexões sobre tle língua japonesa dos imigrantes nikkeis). Grupo de Pesquisa
métodos de ensino propriamente dito. rlir I,íngua Materna, Língua de Herança e Ensino Bilíngue.
O florescer da civilização.
'r" r''l('s' esta perspectiva de futuro que curtura tÍaz em si f.i r,rrrrir
'l" "lr.rr'r c tanto- porque, gerarmente, relacionamos o conceito crcs
3. (culture) O fruto ranto material como moral do que o homem veicr rr r'rl'r'r''r rr, acúmulo de costumes,
conhecimentos que vieram sentr,
constituindo ao manejar a naÍureza.Incluem-se, antes de mais nada, r r r r""rr(l()s de geração
a geração. É claro que somos o que
vestimentas, alimentação e moradia, técnicas, estudos, artes, morali_ somos hoje,
Por outro lado, quanclo procuramos a origem da palavra curtura ent mas cul_
rr"'/ r'* i' rrlgo fixo, imutável, ao co,trário,
' está sempre se transforman-
português, veriÍjcamos que ela deriva do latim colo.Damesma maneira, ,1, ,,, .rlgo que pode ser criado.
cuLto. colonizaçao também derivam de colo. o verbo coro significa "cul \', r,r,z-cs, ouÇo a expressão: ..Flores
de cerejeira serão sempre flores
tivar a terra", e a palavra colônia em portugllês, por conseguinte, tent 'l' ' r r.j.i.as, onde quer que floresçam". certamente, na sua essência,
em si o sentido cle "terra de outrem para onde as pessoas se deslocaranr ,,rlrrrr,r rr;r, ó: algo que mude tão facilmente.
IVIas, por exemplo, devi_
a fin-r de culriv:i-la". L-ulns. por sua vez, é o particípio passado de colo, c ,1,,.r rrrllrrô.cia do clima, do
tipo de solo, taTvezr, flà.", qr. flo..rru_
2.1.5.0 que é cultura para o ensino de língua japonesa? rrrrrrrilru nihongokyôiku. Bonjinsha, zooz, pp. v-ix.
. "Kotoba, bunka,
kyôiku: kotoba to bunka wo musubu
E como então, nós, professores, devemos tratar o assullto curtura t:nr rrrlrorrgo kyôiku wo mezashite" (Palavra, cultura, ensino: em
sala de aula? Uma maneira é explicar, acrescentar informações àquikr l,rrst rr tkr ensino de língua japonesa que ligue a palavra à cultura).
que aparece sobre oJapão no livro-texto ou outros materiais. para irrs Ir r /,. r rl o bd t o bunk a w o mu subu nihongo ky ôiku. Bonjinsha, pp. r-ro.
tigar uma profunda compreensão e não apenas aumentar o conheci \ Ir ln, Yayoi. "NihonJqô" ni okeru "Bunka" no kotonatu shiten:
mento do aluno a respeito, porém, só iss. não é suficiente. É soment(, I / r rsrr lirrwd Hide o - shi ni y oru " Bunk a" e no ap pro ach r it o n (U m ponto
pela interação com outras pessoas que conseguimos adentrar o mund«r ,lc v ista diferente sobre cultura como conhecimentos gerais do Japão:
delas, e é assim também que evenrualmente surgem algumas questõcs ,r rt'rrria de approach à cultura de Hideo Hosokawa). Disponível em:
que devemos resolver. E para resolvermos estas questões e nos comuni- I r ttp : //ci.nii. ac jplels / r roo o +68ZzlZ.pdf>, acesso em : ro nov. 2olo.
carmos de forma harmoniosa, ó preciso que conheçarnos bem o mund. N l r rs lupNy, JV.
'Atarashii nihongo kyôiku no tame ni" (Em prol
recíproco. A sala de aula é um dos lugares onde podemos fazer com ,1. trnr novo ensino de língua japonesa). In: TnuJaraN FouNoartoN
quc
o aluno tenha este tipo de descoberta, onde podemos fàzê-ro pensar a l,r ln n rsr-LaNGUAGE lNsrtrutp. Sekai no nihongo kyôiku. r99r, vol. r,
respeito, dar-sc conta disso.
l)l).r t4.
Assim como aprender uma língua estrangeira não significa apenas l'r r r, .[ a raN Foupatlot t. I'í ihongo ky ôjuhô shirizu l r : n ihon j ij ô /nihon
adquririr conhccimento de estruturas e vocabulário, cultura tampouco l,rrnka wo oshieru (Coleção Metodologia de ensino da língua
é
algo cluc se aprende apenas pela aquisição de conhecimentos. Se em t.rl)(mesa rr: ensinando conhecimentos gerais/cultura do Japão)'
sala
cle aula os alunos somente aprendem a respeito da
historia, literatura, co I I rt suji Shobô, zoro.
,hecimentos gcrais sobre o Japão, como pode despo'tar neles o enten- Ynueoe, Izumi. "Ibunkakan komyunikêshon to nihongo
dimento intercukural, o entendimento mútuo? o importante não é im- I'yôshi" ("Comunicação intercultural e o professor de japonês").
por-lhes a cultura japonesa, tampouco apenas fornecer conhecimentos I rr . l,/ihongo kyôikugaku wo manabu hito no tame ni. Sekai Shisôsha,
e
infcrrmações, mas, sim. fàzê-los pensar a respeito dos diver:sos probremas pp. r98-2o9.
-,.oor,
quc surgem quando nos comunicamos com pessoas de culturas difêren- Yn Nnnu, Akira. Ichigo no jiten: Bunka (Dicionário de uma palavra:
tes, pensar de fbrma subjetiva uma maneira de resolvê-ios, mantendo ( iLrltr-rra), Sanseidô, 1995.
ao
mesmo tempo sua própria identic'1ade. E, dessa fornra, o aluno poderá, en_
Êm, criar seu "the thircl place", ou seja, criar ur-na nova cultura.
neses enriquecendo a cultura que ele próprio, como indivíduo, tem. r r pr'; iç11çin5, havia a grande figura do pai, seu modelo e conselheiro de
É impossível para aqueles aprendizes nikkeis que osciram entre a vrrl,r. liste, servindo de agente enculturador, contribuiu enormemente
identidade japonesa e a brasileira optarem por uma delas. por outro lado, 1,,rr ,r ir Íirrmação da identidade
de seu filho, que teve a felicidade de ter
fala-se de uma identidade nikkei, mas se levarmos em conta as considera- .r,, sltr lado um modelo em que podia se espelhar.
( ) rncrsmo livro ainda trata da importância do papel que tanto a esco-
ções da cultura do indivíduo, que enaltece a cultura de cada aprendiz, isso
significa que o importante é que a identidade de cada um deres seja con- l,r r rlrilo a família desempenham nesta questão. A autora cita certa esco-
solidada, libertos da condição de serjaponês, brasileiro ou nikkei. l,r, l,rrrrosa por ser especializada no ensino de crianças que retornaram
.r, l,rpão após terem morado por um período no exterior, onde também
r ,,tU(lrlm crianças nikkeis, em um ambiente em que a maioria dos alu-
2-2.5- A formação da identidade e a função do agente enculturadoÍ
n()s ('r'Lrsceu em meio a diferentes culturas. Este tipo de escola cumpre
A identidade de cada criança é moldada segundo o ambiente que a cer- rrr r r;r i rnportante função na formação da identidade bicultural , fazendo
ca. É claro que ela também é influenciada pela época e sociedade em ,r\ v('zcs de uma comunidade étnica.
que vive, mas acredita-se que sua identidade é construída baseada nas No Brasil, o curso de japonês é ministrado em 45 escolas de ensino
relações que ela tem com as pessoas que a cercam diretamente, seja pelo lrrrrrlamental e médio (segundo pesquisa da r;sl tealizada em zorr), e
convívio no lar ou na escola, como, por exemplo, irmãos, professores, ,llntle elas há instituições que se esforçam para cumprir seu papel na
amigos, que acabam desempenhando a função de agentes enculturado- l, rr rrração bilíngue, bicultural dos alunos, como a escola acima mencio-
res. Porém, é importante ressaltar que ninguém constrói sua identidade rr,rtlrr. Nelas há o ambiente propício paÍa a criança apreender, sem resis-
por imposição de outros, ao contrário, a própria pessoa deve buscá_la rr:nr'iirs, tanto a cultura do Brasil como a doJapão, ou seja, em um senti-
questionando-se como quer ser, qual imagem quer passar. No caso de ,lr r nrais amplo, a cultura que formará sua identidade'
crianças que pertencem a grupos étnicos minoritários, às vezes o pro_ No mundo atual, sem fronteiras, em que a globaltzação avança com
cesso de construção de identidade não ocorre de maneira fácil, pois elas ,r .'lil'usão da internet, logicamente, não é apenas para o Brasil e para oJa-
podem vir a rejeitar essa cukura minoritária, devido à imposição dos lr,r() rlue estas crianças se deslocarão - estão alçando Yoo
para o mundo
pais e das pessoas que se encontram à sua volta. Nessas ocasiões, se pró- rotkr. A cultura é um elemento importante para a formação da criança
ximo a elas existissem agentes enculturadores capazes de orientá-las, ( ( )r'r)o um ser e, certamente, todas as diversas culturas com as quais elas
dizendo-lhes que sua escolha não precisa ser unilateral, essas crianças (.ntl.arão em contato farão parte do processo de construção de suas iden-
passariam por um processo de formação de identidade menos confli- rtrlirdes. E estas crianças, que fizeram da sua as mais variadas culturas e
l),rssaram a seÍ capazes de lidar com diversos pensamentos, visões,
tuoso. Em seu livro, sekiguchi (zoo3) escreve a respeito de brasileiros sem
nikkeis residentes no Japão, e cita o caso de uma criança sansei. por ,ltrvicla, construirão uma sociedade em que diferentes poYos de distin-
questões familiares, ela teve que interromper seus estudos no Brasil e, t.rs culturas viverão mutuamente se entendendo.
vida, algo formidável. Ao mesmo tempo, entretanto, isso gera inevita- ( lrrlt ura é a sabedoriapara se viver de forma agradável. Possuir mui-
velmente estereótipos do tipo: 'porque é japonês tem que agir assim, r,r', tlcstas sabedorias e habilidades é algo, corr, ceÍteza, muito divertido
ou porque aquela pessoa éjaponesa deve ser assado". Na realidade, não i',tí()l'tunado.
existe isso de ter de :usarltasltiporque éjaponês, ou quejaponês só sabe
usar este tipo de utensílio. Muitos dos japoneses usam hashi para fazer 2.3.2. Da competência sociocultural ao letramento cultural
as refeições porque assim acham mais gostoso e agradável. Certamente
logo deixariam de usá-lo se o achassem desengonçado, de pouca pratici Ali,is. diversas coisas são colocadas sob o mesmo mote de'tultura".
dade, ou não sentisseÍnpÍazeÍ em comer usando-o. Não é porque a pes- l)r'srlc música, artes, literatura, os festivais, os eventos que acontecem
soa é de origem nipônica que usa hashi. lor I is os anos, a etiqueta à mesa e comercial, até os aspectos sociocultu-
Em oposição a esta tendência de querer preseryar a cultura peculiar rilrs ('omo o modo de as pessoas se comunicarem e os padrões compor-
de cada povo, surgiu outro modo de pensar, sugerindo que comparti- L| n lcntais são considerados'tultura".
lhemos diversas culturas. No final do século xx, a unificação da Europa "Quando em Roma, aja como os romanos", como sugere o provér-
começou a tomar forma, e em 2oor foi anunciado o Quadro Europeu Co- lrro, rluando vamos a um país estrangeiro, já há muito tempo dizia-se
mum de Referênciapara as Línguas (crrn), que é o guia comum usado para rlrrr' (' necessário aprendermos os aspectos socioculturais deste país, e
a educação de línguas. A questão do plurilinguismo e pluriculturalismo u,r( ) ;lpenas o idioma para que tenhamos um bom convívio com as pes-
aqui advogado é algo que se desenvolveu a partir do multilinguismo e .'o.rs claí. No entanto, foi apenas por volra do flnal dos anos de r98o que
multiculturalismo, mas ao contrário deste último que almeja uma so- \r' l)ilssou a considerar que a competência sociocultural, em outras pa-
ciedade onde coexistam múltiplas línguas e culturas, o primeiro apon- l,rvlas, a capacidade de compreender e dominar as normas de determi-
ta para uma sociedade em que cada indivíduo carrega em si múltiplas rr,rtlir sociedade é mais importante do que a competência linguística, ou
,ic jrr, (-r domínio da gramática e vocabulário. Nesse sentido, é necessário
línguas e culturas. Quando se fala em carregar em si diversas línguas,
culturas, soa como se o objetivo fosse criar indivíduos bilíngues, mul- r,rlrt'r as normas da sociedade japonesa para se ter um bom relaciona-
tilíngues, no entanto, o posicionamento do cprn é de que a pessoa seja rn('nto com os japoneses.
capaz de usar algumas línguas, nem que seja gradativamente, ao invés Mas, ao passo que se pesquisavam situações reais de comunicação,
de se especiaTizar emuma única só. Iolrrm surgindo vários questionamentos. Em primeiro lugar, o fato de
Como parte da educação de línguas estrangeiras, aprender uma cul- (pr('nem todos os japoneses compartilham das mesmas normas. Norma
tura diferente não significa se tornar tolerante às diferenças, mâs, sim, r ;rlg«r que se constitui quando há uma reunião de pessoas, e vai mudan-
apreendê-la como um meio, uma técnica. Assim como aprender a lín- rL r rr<)S poucos à medida que mais pessoas se reúnem sendo tambêm algo
guajaponesa não significa tornar-se tolerante em relação às pessoas que (It(' se transforma com o decorrer do tempo. Por exemplo, em japonês
falam este idioma exótico, da mesma forma assimilar uma cultura não cxistem as formas keigo, ou seja, as formas honoríficas. "Deve se usar
de saber qual ó o melhor tom a usar, mas, para tanto, para realmente
,rrrvir.bcm a Conyersa daquele Com quem estamos falando segundo o
,1r r,' í' csperado de nós, e dizer claramente nossa opinião'
saber qual a linguagem que esperam que usemos em determinada situa-
I importante em uma comuni-
)t'ssa forma, é possível perceber que o
ção, é preciso observar as pessoas que se encontram aí, o que aí se passa.
Ll(,,t( ) ilttercultural não é apenas conhecer os aspectos socioculturais da
É preciso, enfim, "sentir o clima", como popularmente se fala. E, "sen-
de analisar, obsefvar para
tindo o clima", dependendo da situação, também provocamos mudan- lrí.ss()ir com que se fala, mas ter a capacidade
'tlima". De qualquer forma, começamos a perceber que não é ,r,lrvirrhar qual comportamento é esperado de nós, de criar estratégias
ças a este
ter a
possível orientar as pessoas dizendo-lhes que em determinada situação lr,rllr nos precavermos de riscos provocados por mal-entendidos,
o melhor ó agir desta ou daquela maneira, e assim por diante. lr,rl,rlitlade de nos expressarmos com pertinência baseados no que é es-
Por outro lado, há vezes em que a comunicação entre pessoas de cul- 1','r,rrlo de nós.
tsso gerou o conceito deletramento cultural- competência de o indi
turas diferentes não se dá da mesma maneita como ocorre entre pessoas
v t,lr rr relacionar com pessoas de diversas culturas por meio do apren-
I se
de mesma cultura. Por exemplo, me contaram o seguinte caso. Certo
professor universitário convidou à sua residência dois estudantes da In- ,lrr,rtkr da cultura japonesa, diferentemente da competência sociocul-
r r r r .r I r:nfocada apenas a tornar o indivíduo capaz de se relacionar com
donésia. E os dois, como tinham aprendido que quando fossem convi-
CUja pretensão
dados por japoneses deveriam ir apenas as pessoas convidadas, foram l,tp( )ncSeS. Em outras palavraS, nasceu um noYO Conceito
(. l()t.llar aS peSSOaS mais abertas, Capazes de se relacionarem Com um
os dois à casa do professor, sem levar mais ninguém. O professor, por
sua vez, sabia que os estudantes da Indonésia sempre vinham acompa-
Irr,riol número de indivíduos, através do amadurecimento do letramen-
nhados de seus amigos e, portanto, esperava-os com a mesa farta. O to t rrltural de cada um.
uma ou a outra cultura. Irrrrtamente com esta transição, houve também uma mudança den-
Outra questão é. a da identidade: que tipo de pessoa çlueremos ser, rlr cla sala de aula no que diz respeito ao modo de encarar o ato de
r.tltrt'rrr: o que era antes Centralizado no educador, ou seja, o professor é
como queremos ser ou não vistos. A maneira como uma pessoa ê avalia-
lóji lkezu
? I plrrrinrllrrrâlicmn'rrm mndn dÊ nÊnsnr
Ir,l,rl torn csta situação. Na realidade não tinha dito que não empres-
quem planeja, prepara o quc devc scl'cl'rsinado c, Posteriormente' ava-
r,r!!,r () rrparelho de som, ou que não poderia mudar o dia da aula, mas
lia o quanto o aluno aprendeu por meio de notas de provas, passou a seÍ
centralizadono aluno, em outras palavras, é este próprio quem planeja l,,n ('( iir que os alunos tinham interpretado desta maneira. Depois fiquei
',,rl,r'rrtlo que entre os tailandeses, quando se quer pedir algo a alguém,
o que ele pode acrescentar àquilo quejá sabe, e se autoavalia arquivan-
, , rnsirlt'r'a-se mais polido ir direto ao assunto de uma forma a perguntar
do registros de aprendizado e trabalhos que comprovem resultados'
,r,, urtt'nções da pessoa, centralizando as ações nela. Por isso, os alunos
Assim como aprender uma língua estrangeila significa aumentar
r'\l)('r'rtvam de mim respostas tais como: "Não vou usar, mas o que acon-
seu repertório de idiomas, conhecer culturas de outros países significa
rrr lrrl", "Posso mudar, mas por quê?".
também aumentar sua própria cultura. Ao estudar uma língua estlan-
lintrc os japoneses, exceto os casos de amigos íntimos, de familiares,
geira, uma pessoa que ê de poucas palavras t'alvezpasse a falar com elo-
quência, ou alguém que não consegue ouvir o que o outro diz passe a
( ulr (luem temos mais liberdade de falar, em situações em que envol-
\,('rn pcssoas com quem temos de nos policiar, é indelicado ir direto ao
conseguir ouvi-lo com paciência. Dominal uma técnica que até agora
,r:,sur)to sem antes colocar as circunstâncias que nos levaram a isso. É
não possuíamos não ê algo formidável? Letramento cultural significa
rrrrrilo alto o risco de a pessoa pensar que não pode recusar o pedido se
saber habilmente construir relações com pessoas de várias sociedades,
\u,rs intenções são previamente checadas. Ao contrário, os tailandeses
pessoas que possuem diversos valores, saber manter estas relações e,
,r, lr;rnr que a pessoa flca mais constrangida em negar o pedido se escutar
quando for preciso, ter a capacidade de recuperá-las'
.r n t ('s a situação de apuros em que o interlocutor se encontra.
"Pudera!",
Mas, afi,nal, como é possível adquirir este letramento cultural? O so-
cioculturalismo enfatiza a observância do comportamento, das normas lrrt)sci quando ouvi esta explicação. Todos nós estávamos preocupados
ja- r r )ln o mesmo ponto: não se pode fazet um pedido de forma a deixar a
do nativo da língua-alvo, ou seja, no caso de aprendizado da língua
)(,ri:ioâ constrangida em negá-lo.
ponesa, do japonês. Isso, no entanto, só leva os alunos a imitá-lo' Além |
ló1i lkezu 81
2.3. Pluriculturalism0: um modo de pensar
que não sejam de nosso próprio país, ou de nossos pais, rnesmo
que não as dominemos com tanta destreza,não deixam de ser
gua, uma cultura que a nós pertença. Âo expandirmos nosso
conjunto de línguas e culturas, ou seja, elevar nosso letramento
3. Bilinguismo I
ral significa tornarmo-nos pessoas culturalmente ricas,
gradativamente, um sábio em cultura.
E se, nós, cada qual com sua cultura, compreendermos de formal
funda e recíproca estas diferentes culturas e as compartilharmon, ê
mos mutuamente permissíveis, a sociedade em que vivemos
pode evoluir - de uma em que nos sentimos distantes uns dos
para uma em que nos sentimos mais próximos, onde podemos
frutíferas relações.
Bihliografia
xo. Pretendemos, aqui, abordar o tema sob a ótica da aquisição da língua. l,.r:,.rs línguas sem dificuldade alguma. Quando se falava em aprovei-
Em termos gerais, é possível dizer qu:e, no Brasil, os nikkeis que tra r.rnr('nto escolar, porém, não eram raros os relatos de que iam mal so-
baiham como professores de japonês são bilíngues. Na maioria das vezcs in( nt('cm português, tirando notas baixas, que tinham dificuldade em
Lr rrl lcdações, enfim, que sofreram nos seus estudos. Por outro lado,
são pessoas que adquiriram a língua japonesa de forma natural, ouvindo
e falando o idioma em casa e nas escolas da comunidade desde crianças. , l,rs trrurbém enfrentaram problemas em relação aos estudos da língua
Do ponto de vista do processo de aquisição da língua, é possível clas- l,rl)()r)('sa. Para quem tinha de escreyer diários, redações nas escolas de
sificar os bilíngues em dois tipos. Um deles é aquele que desde criança 1,rp,rrôs, a sensação era de que conseguiam dominar esse idioma. À lu,
ouvia a língua japonesa em casa e, assim, veio aprendendo o idioma ,l,r n irlidade, no entanto, em muitos casos verificava-se um baixo nível
concomitantemente com o português - é o chamado bi1íngue simultâ- iL' ploÍ:iciência, pois em sala de aula geralmente não se falavam, não se
neo. O outro tipo é aquele que, já relativamente crescido, passou a fre- l r rliirrm coisas muito complexas dos alunos.
( itrmmins, um linguista canadense, distingue essas duas competên-
quentar escolas de idiomas e estudar o japonês. Este tipo é denominado
bilíngue consecutivo. Gostaríamos aqui de refletir sobre a relação do bi- , r.rr linguísticas, ou seja, a linguagem usada em casa e a na escola: arcs
língue simultâneo e a sala de aula, tomando como exemplo o professor rllrt.sit-lnterpersowtlCommunicative Skills), ou competências de comunica-
nikkei que veio aprendendo o japonês de forma natural dentro de casa. ) inte rpessoal básicas, e caLp (Cognitive Academic Language Proficiency),
',.r(
As crianças, cujos pais são isseis, ou seja, são nascidos no Japão, fa- ,,rr tIrrnínio cognitivo da linguagem acadêmica. A primeira se refere a
lam o idioma de seus ancestrais dentro de casa e, postos os pés fora dela, rlr rr it'lrs comunicativas básicas necessárias para resolver questões do dia
passam a usar o português. À primeira vista, temos a impressão de que ,r ,lrrr, c a segunda à competência linguística assimilada através dos estu-
elas cresceram dentro de um ambiente linguístico ideal para a formação ,l|)s ntl escola para compreender e expressar assuntos abstratos e concei-
de um bilíngue perfeito. Atingir tal desenvolvimento e tornar-se um trr.ris. São duas coisas diferentes, e é justamente aqui que essas crianças
professor bilíngue, porém, não é algo tão simples assim. É preciso su-
,.,' rk'param com o segundo obstáculo. Embora elas não tenham proble-
perar diversos obstáculos de aquisição de língua e de cognição. É ainda r!l,rs ('r-r1 termos de srcs em ambas as línguas, não se pode dizer o mesmo
na infância que o primeiro deles deve ser superado. No caso da criança | il r l ('rrnos de cate, e é necessário que tomem uma decisão a respeito: se
nikkei, o processo é ainda mais complexo, pois, ao atingir a idade esco- v,ro r'onviver com essas dificuldades ou se vão tentar melhorar o domí-
lar, tem que aprender o português. Os dois primeiros anos são de mui rrro t'ognitivo de uma das línguas.
tas dificuldades, mas ao passo que frequenta a escola de ensino obriga- icralmente, os nikkei são vistos como bons conhecedores das lín-
(
tório, ela passa a dominar melhor o português do que o japonês. Isso é ;irr,rs iaponesa e portuguesa pelas pessoas que se encontram à sua vol-
uma tendôncia natural. Até por volta da década de r98o, as chamadas t,r l)rrróm, dentro das comunidades nikkei, nas décadas de r98o erggo,
'tolônias", comunidades de japoneses, eram vistas em várias localida- .nrlrorrr críticas fossem feitas a quem não falasse o japonês, aqueles que
, l, rr rr inavam o idioma não eram reconhecidos - sabê-lo era algo perfei
des, e nelas a comunic4ção se dava em japonês. Era comum que os avós
morassem junto com seus filhos e netos e, portanto, não era de se admi r.rrrr('ntc natural. Por essa razáo,talvez a maioria dos nikkei não se con-
,'r,lt'r'rrva proficiente em japonês, ou melhor, nem cogitava essa questão,
rar que em muitos lares o japonês fosse falado pelas três gerações. Os
filhos de pais isseis, que muitas vezes não falavam o português, desde n('rrr nrcsmo os nisseis que falavam melhor o idioma de seus pais do que
pequenos serviam de tradutores para eles, ou seja, desde cedo desenvol- l uguês. Ao contrário, muitos são os relatos de pessoas que já não se
l)( )r't
.,t'rrtirrrr.r tão seguras do seu conhecimento de japonês, uma vez que não
veram a capacidade de distinguir as línguas que falavam dentro e fora
de casa, de escolher qual delas usar dependendo do interlocutor. r,rrst'guiam escrever redações mais elaboradas, quando assim o profes-
llrsol clcscendente perceber de forma objetiva essa mistura que faz das
Kyou wa gakkou e itte, sorekara, vou para casa de amigo (Hoje, vou para a
'lrr.rs
línguas, uma vez que muitos nikkeis a incorporaram de forma
escola e depois para a casa de amigo). rr,rtrrrrrl. Os aprendizes, poÍ sua vez, talvez acabem se acostumando a
Âo recordarmos de nossa infância, percebemos o quanto falávamos Lr .,t'r' r'sse tipo de mistura como uma estratégia de comunicação, quan-
dessa maneira, começando em japonês e terminando em português. O ,lí l nir( ) conseguem se expressar por falta de vocabulário na língua-alvo.
contrário também ocorria, por exemplo, quando se queria pedir alguma Nt'sst's e asos, é melhor recomendá-los a não misturarem os códigos no
coisa: "Será que dá para você comprar o livro para mim, onegtí (porfavor)?" rrr,'ro rlrr [rase, e a se acostumarem a finalizar a fala na mesma língua
Isso era muito frequente, mas como nossos interlocutores, na maioria das t lll (ltl(' il Começafam.
3.1. Bilinguismo
Leik0 Matsubara Morales I Cristina Maki Endo 89
contrapartida, são c()ntults ()s cas()s cnt Lluc os proÍbss<tr.cs dizcm
E,m Ptr,Ít'ssot'cs tanlbó'r-rl t()ltlassclrl consciência ckls pr<tblcmas qut: cnvelvçr1
algo em japonês, como "nôto wo totte kudasai", para logo em seguida tra- o rrroclr) cle empregar as palavras apropriadamentc.
d:uzir para o português * "pega o caderno aí". Aliás, é comum também Alcm disso, há vários outros pontos a respeito dos queris o pr.Ír,ss,r.
procederem dessa forma quando estão ensinando vocabulário novo: lrrlírrgr-re simultâneo deve tomar cuidado. Ao adquirir o japonês cle Í,r.
logo traduzem tudo sob o pretexto de ganharem tempo. É preciso, no rrr.r ratural, no lar ou na comunidade, sem muitas dificuldades, a pL:ss()a
entanto, que eles percebam que agindo desse modo, na realidade, não ;,,,1|c vir a acreditar, equivocadamente, que é muito fácil Íàlar essc icli,
estão ajudando os alunos. rrrrr t'. clevido a essa ideia preconcebida, não consegue enxergar sua pr.rit i
Como um membro da comunidade nikkei, misturar o japonês e o ( ,r (i(' ensino tampouco como os alunos estão aprendendo. por
excnrpl,,
português para se comunicar não é, de modo algum, algo negativo. Se a (('r'til professora nikkei, ainda sem muita experiência, queixava
sc tlt,
pessoa souber fazer bom uso disso, além de ajudáJa a manter uma rela- rrrr rnenino de sete anos: apesar de ter dedicado dezenas de horas t,rr
ção agradável com o interlocutor, poderá desenvolver sua competência ..rrr,rndo-lhe, ele não conseguia aprender as escritas hiragana e ktrlaktrtrtr
oral e capacidade de se expressar. Mas, como o professor é um impor- r.ilnpouco o vocabulário. "Por que será que esse menino não conscgrrr.
tante modelo para os alunos, é imprescindível que ele faça sua parte em ,r1r'r'nder? Eu aprendi tão rápido quando minha mãe me ensinotr. (.)Lrr.
sala de aula sabendo distinguir o uso misto ou não das duas línguas, .sl.rrnho", lamentava. NoJapão, os filhos de decasséguis passilnr ilr uirl
plenan-rente consciente das diferenças desses usos e dos papéis que de- ,r( ,te pelo mesmo tipo de experiência. para um professor qlrc ,i. rt.
sempenham. Nosso desejo é que esse professor, ao mesmo tempo que ,,lr,r passado por um treinamento, é incompreensível a dificuldatlt.tltrt,
éum conhecedor da koroniago, que veio se formando ao longo dos anos 'r', t'ianças estrangeiras têm em aprender a língua japonesa. l).r.t.ss,r
entre os descendentes, e sem se esquecer que ela é uma preciosa heran- r,rz,rr, é imprescindível que os professores nativos e bilíngues, prrssa.rhr
ça para a comunidade nikkei, seja também capaz de ensinar o japonês l'( )r ('rrrsos de formação e estágios, obtenham diversos conhecinrcr.rtos ,r
padrão, necessário, por exemplo, quando alguém vai estudar ot fazet rr'rP1'i5e da forma de ensinar e de aprender. certamente, o que
sc apr.L,n
turismo noJapão. r l. nt'sse s cursos e estágios pode
conceder ao nikkei, que nunca estLirl()U
Há muitas variações na língua japonesa. A koroniago falada entre os ,, 1.rPrnês como língua estrangeira, uma boa oportunidade de reconsi
nikkei, o modo como os jovens ultimamente se expressam pela internet, ,l, r .r' sltit visão a respeito desse idioma.
o japonês usado em situações formais são algumas delas. Por qual delas t ls nikkeis, por sua vez, ainda que tenham adquirido a língua
cle
optar não depende de quem está falando, mas, sim, do que é exigido ou l,rr rr, ,atural, sentem às vezes que lhes Íàlta vocabuiário, quando
se
esperado pelas pessoas que estão participando do ato comunicativo. Não ( , )l)ilram aos falantes nativos. lsso
'r ocorre porque o que lhes é exigido,
se trata de ensinar uma variação específica da língua dando mais valor a ( ,r r('r'mos de vocabulário, estilo linguístico,
conteúdo, pela comunicia-
ela, em detrimento de outras. O importante é o professor fuzer sua parte ' l, r r li l<ci que os cerca acaba sendo limitado. por que estamos trazencl,
r
em sala de aula, compreendendo muito bem qual "tipo de.japonês" é pos- , ,,.r (lrcstão à tona? Porque acreditamos que, averiguando as possibili-
sível usar em dado momento e com determinada pessoa. A escolha que t!: ,l.r,lr': r' lin-ritações dos professores bilíngues e as reconhecendo, pclclc
fazemos do estilo de linguagem e do vocabulário muda dependendo da .+ r( ,.. n( )\ clcsenvolver e melhorar como profissionais.
g
ll I Ililinprrisnro
por exemplo, árabe, hebraico, hincli. Dessa forma, acredita-
tailarr-rdês,
mos que, ao renorrar sua visão de língua e cultura, e colocando-se na
posição de quem aprende uma língua estrangeira, esse professor poderá
objetivamente rever a importância de se aprimorar nas técnicas de ensi-
no de r-p. Sem dúvida, é uma oportunidade ímpar para compreender as
inseguranças, as expectativas dos aprendizes.
3.2. Bilíngue consecutivo
Bibliografia ALEXANDRE AUGUSTO VARONE DE MORAIS
b) Language, ytower and pedgogy: bilingual children in the Palavras-chave: bilíngue consecutivo, motivação, ambiente de
crossfire. Clevedon, Multilingual Matters, zooo. , r
1
r |t'ndizagem, aprendizagem autônoma, estratégias de aprendi z.r gt' r r r
K. Bilingual education and bilingual special education: a guide for rrrrl {rrrimaçõesjaponesas), em mangá (quadrinhos japoneses) e na cultu-
administrators. Boston, College Hill, rqSz | .r doJapão, e o número de não descendentes que estudam japonês
t( )vcr-n
(6) GnosjeaN, F. Life w ith tw o languages : an intro duction to bilingualism. t.rrrrlrór.n está aumentando. Dentre eles, certamente muitos se tornarão
Cambrigde, Harvard University Press, 19Bz. I'rliru-.cs no futuro. No momento, o ensino de língua japonesa como rín-
() HaRnaens, J. & BI-aNc, M. Bilinguality andbilingualism. Cambridge, l r('stlangeira propõe-se a desempenhar um importante papel.
r,r
Cambridge University Press, zooo. N('stc capítulo, acompanhando a experiência de um estudante que
(B) Wu, Li. "Dimensions of bilingualism". In: The ',r' rr )r',oLl bilíngue crescendo em um ambiente onde não se usa o japo-
bilingualism reader. London; New York, Routledge, zooo. r( ri. (l(rc|o falar sobre como um nào nativo adquire a língua japonesa.
,si'(nome fictício), um não descendente de japoneses, teve seu pri-
-. f
crianças ficaram em polvorosa apontando paraJosé, e ele teve vontade ,,rr peloJapão, é possível sondar diversas possibilidades. Entretanto, isso
de dar meia-volta e ir embora. rrio é algo simples. Um ambiente onde se possa praticar o idioma é im-
Atualmente, muitas pessoas prestam o Exame de Proficiência em l,()r tante para a aprendizagem como língua estrangeira, e para muitos
LínguaJaponesa, mas na década de r98o, diferentemente de outros pa- ( stLrdantes é difícil eÍrcontrar esse ambiente pelos próprios meios. Em
íses do mundo, mais da metade dos candidatos do Brasil eram crianças lrr'rris como o Brasil, onde as chances de conseguir usaÍ o japonês fora
descendentes de japoneses. Em nosso país, o ensino da línguajapone- ,l;r silla são poucas, é importante que o professor ofereça oportunidades
sa começou a partir de sua transmissão para os filhos dos imigrantes. ,lt' uso e que dê dicas para que os alunos possam encontrá-las.
Em certo sentido, esta era uma característica do ensino de japonês no
Brasil. Hoje em dia, ê cada vez maior o número de estudantes adul- 3.2.4. EstratéSias de aprendizagem e crenças
tos e não descendentes, comoJosé. Considerando que a quantidade de
candidatos não descendentes no exame de proficiência de nível N5 está ,\ti' agora, muito discorri sobre o encontro deJosé com a língua japonesa
aumentando, se fosse hoje em dia, José certamente não teria se sentido , s, rbre o ambiente de uso da língua. No entanto, como será que ele de-
tão envergonhado. .t rrvolveu as quatro habilidades da língua (ler, escrever, ouvir e falar)?
Após sete anos de estudo do idioma, José foi ao Japão pela primeira lnicialmente, ele começou a estudar sozinho a escrita, utilizando um
vez. Ao longo de quase um mês de estadia, ele vivenciou a língua e a lrvlo clidático de língua pátria. Posteriormente. ingressou em um curso
culturajaponesa em conjunto com estudantes de outros países. Âo re- ,lc jrrponês e assimilou vários métodos de aprendizagem.
tornar ao Brasil, teve aulas com duas professoras nativas. No décimo No início, ele frequentou um curso aberto à comunidade estudantil
ano de estudo, ele foi escolhido para um programa de estágio técnico e , rt'ccbeu aulas de duas professoras nisseis. A maioria dos alunos da clas-
foi aoJapão novamente. ',,' r'r'rr dcscendente de japoneses. Nas aulas, as professoras utilizavam o
Desta vez, ele ficou um ano no país e vivenciou intensamente a so- l,rl,r rnôs e o português e, em yez de um livro didático, eram distribuídas
ciedade japonesa e os seus costumes. Imerso no idioma z4 horas por dia, l.llrirs de atividades. Apresentavam-se as estruturas gramaticais e, em
continuou os estudos enquanto observava tudo ao seu redor. Gradativa- ',r'r,rrida, eram feitas as explicações em português. Depois disso, eram
n-rente começou a ganhar mais coragem e passou a "experimentar falar ,, ,rIrzrltlos exercicios orais.
se m medo de errar". A pror-rúncia e a entonação do japonês também me- losc tinha o perfil do aluno que quer compreender de maneira logica
lhoraram durante ersse pt:rí«rclo. .r (' llulLlr';l da língua. Para ele, era oportuno poder ouvir em portugr"rês
as explicaÇões sobre a esrrutLl'a rkr.jaPorri,s. 'lirmbón-r pociia firzcr pcr (i,rr.clarçã, a, mcckr dc crrar, Sakoda (zooz) dtz cluc ''cla.lcslra
guntas ao professor em sua língua nativa c sentia-se tranquilo clurantc Írr'rrra que um bebê não aprendc a irndar sem carir nenhuma
vc.z, (\
a aula. Em adição aos exercícios em sala de aula,
José também realizava ,r1,r't'rdiz de uma segunda língua jamais dominará essa língua
scm i-I.,
exercícios de escuta e repetição e exercícios de pronúncia no laboratóri<r r( s ('orreter erros". Acredito ser muito importante
que o profess.r cliga
de linguagem. Ele ouvia as palavras e as pronunciava repetidamente. rss() aos aprendizes, mas dependendo da pessoa,
mesmo sabenclo clis-
Ele também fazia exercícios de conjugação verbal e flexão de adjetivos. sr, às vezes ela inconscientemente busca a perfeição nas redaçõe s
c ,a
A professora corrigia a pronúncia de acordo com a necessidade.
l'r'.rúncia e não consegue progredir na capacidade de conversaq:i,r,.
José ainda tem na memória o exercício de flexão do adjetivo atatakai Nt'stcs casos, o professor e o aprendiz precisam analisar junt.s,
p«rr
('Quente", no sentido agradável). Ele tinha dificuldade para reproduzir rrrt'i, de acerto e erro, qual é a estratégia de aprendizagem mais aclc
as formas atatakakatta e dtataleakundkatta. e as repetia inúmeras vezes (lUir(la ao aprendiz.
até conseguir. José também teve dificuldade para discriminar os sons Ncl caso deJosé, ele mesmo sentia que havia problemas no sc.tr
r.rrrcr,
em japonês. os sons prolongados (p. ex., koukou ) e os sons glotais com rlC irp|endizagem, e se incomodava com isso. Desejava
pausa (p. ex., gakkou) eram difíceis. Apercepção da variação do rom na
;iit ter oprlrtruritl;r
,l.s rk: usar o japonês fora da sala de aula e desenvolver.mais a c:rput.icirr
EI
fala também era complicada. Até hoje há ocasiões nas quais ele hesita na ',i 1,' ,1. conversação, e tateava em busca do seu modo de aprerrclcr..
'
hora de falar. sem opções para praticar ojaponês aprendido em sala de I liste é com ceÍteza o ponto importante quando procuranr()s
Í [)( )r. . r r,l
aula, só lhe restava repetir em casa em frente ao espelho. r sl'.lógia que se encaixe no nosso perfil. Miyazaki (zooc)) aP.rrrir t;rrt.
Para memorizar kanli e vocabulário, ele comprou dicionários e livros 'l),r'ir
I
o aprendiz que progride com dificuldade, analisar cas.s tlt.srrr.t.s
e estudava sozinho. Em um espaço de tempo relativamente curto, ele me- ',,, rlc rnétodos de estudo e refletir sobre
a propria maneira cle cst.tl;r' i,,
morizou uma grande quantidade de vocábulos e dekanji. por outro lado, ciúrvida, uma forma eficaz de automonitoramento. Entretart(),
"r'rrr ,(.lll
as habilidades da expressão oral e da compreensão auditiva deJosé quase ''( rrprc a prescrição que dá resultado para
uma pessoa tambénr Í.urci,
não progrediam. como falava lentamente, sentia a necessidade de ir a lo- ,,r ('()r11
Outra. É preciso que o aprendiz concentre-se na tarefâ dc clcsc«l
cais onde pudesse falar e ouvir o japonês. vendo isso, o professor ensinou- l,r'rl a estratégia que se encaixa na sua forma de aprendizado.,,
lhe diversas frases do tipo travalínguas em japonês. praticando constan- l),
ponto de vista do estudo autônomo, ele acrescenta ainda que ',no
temente com os trava-línguas, ele passou a falar com mais raprdez.
Ir()('csso de aprendizagem, é imprescindível que se tenha a capacidade
No nível intermediário japonês, quantidade de vocáburos,kanji
de a e 'l. t'xrrminar com precisão a própria forma de aprender. É preciso trei,
novas estruturas gramaticais aumentou de forma esmagadora, eJosé co- ,,rr)('nto para experimentar diversas formas de aprendizado e
descobrir
meçou a sentir essa sobrecarga. As expressões de onomatopeia e mimese ,r(1.('la que se encaixa no próprio perfil. será que o
autocrescimento ad-
também eram um problema. No nível intermediário, sua professora era r r r.k r clesta prática não se liga ao estudo autônomo?,,
r
falante nativa e falava rápido. José não conseguia discriminar as palavras No caso deJosé, como gosta dekanji, ele foi capaz d,epensar sobre
e sofreu muito. Para enfrentar este problema, ele tentava deduzir o sig- , l r't'r'sris estratégias e podemos
considerar que obteve sucesso. Entretan-
nificado das palavras baseando-se no contexto geral da fala, mas às vezes i r,, restavam os probiemas em termos de conversação e de prátic:r
,1i11çlx
I
errava o significado. Apesar dos fracassos, continuou a estudar.
'1, Ir'rrrúncia. A estadia noJapão certamente foi uma boa oportu.icla
I
I
José se preocupava excessivamenre cotrl a perfeição da linguagem e, I ,lr', rrrrrs, se ele tivesse ficado no Brasir, quais seriam as possibilidaclcs)
por isso, fàlava muito poLrco durante as aulas. Tinha receio de errar na \ t r:r l,,e,te, com a internet e a transmissão
via satélite, é possível ouvir
frente dos outros colegas
e sentia-se pressionado. como resultado disso, 1r1"rri's com faciLldade, mas na década de r9go, era preciso pensar cm
sua capacidade de conversação quase não progredia. lils alternativas.
r )r r I
sim. ao escrever em japonês, ele tambem procurava evitar a repetiçi() ,lrsst's topiccts com um sentimento renovado.
de palavras. sr.José não tivesse tido a chance de ir aoJapão, talvez ele ainda não
Com isso, muitas yezes a professora 7he dizia que as redações eran'r , ,,nscgurisse usaf o estilo informal. Como apenas uma pequena parcela
difíceis de se entender. SegundoJosé, esse é um problema que ele ainda ,l,rs t'studantes de japonês consegue ter a oportunidade de ir aoJapão, o
enfrenta hoje em dia. 1,r.,,Íi.ssor tem de pensar em alguma forma de
introduzir esses assuntos
cepções radicalmente difêrentes, e, quando ele escrevia em japonês, r,rlvcz não se torne capaz de escrevel textos de nível mais elevado em
sempre restava em algum trecho a influência do português. Para com- ;.rponês (tais como relatórios e teses) peio fato de não conseguir usar o
pensar isso, ele passou a ler diversos tipos de livros. , stikr Íbrmal.
Deste modo, ao longo do tempo, as cÍenÇas (ideias preconcebidas) lialando sobre a forma de emprego das palavras (estilo de lingua-
(beliefl de José foram se modificando. Ito (zoo9) explica que "os apren- riCrrr), cito aqui o episódio de uma japonesa de nome Yuri (nome fictí-
dizes de língua japonesa possuem uma determinada imagem a respeito ( r()/, casada com um americano.
do aprendizado de língua estrangeira. (...) Essa imagem foi construída (lerta vez, a criança do casal fez w1;r,a travessura e a mãe interpelou
de modo consciente e inconsciente, e pela experiência, e reside literal- ,, rnarido para que the desse uma bronca. O pai voltou-se para a criança
mente como crença na mente dos aprendizes. (...) É importante enten- | rlisse em japonês: "Ano ne, akui wo hataraleasete wa ikemasen yol" (algo
der que as crenças não são entes imutáveis, sempre existe a possibilidade , , rrtro "olha, não pode fazer coisa ruim", mas em estilo bastante formal).
t rrrr pai japonês nativo dirta " damer'" ou "koral" (algo como
"não pode!",
de elas se transformarem."
'Pa|a!"). Depois daquele episódio, Íicou combinado que Yuri daria as
lrroncas em japonês e o marido daria as broncas em inglês!
3.2.5. Estilo de linguagem
O estilo de linguagem se altera de acordo com a pessoa com quem se
Nos últimos tempos, são muitos os alunos que Élostam de mangá e ani- l.rlrr. A esposa deJosé é japonesa e, quando eia conversa com as amigas
mê. No caso de José, ele não tinha o costume de ler mangá. Lia mais rrriris próximas, ao dizer "sim" em japonês, ela diz"un" eÍnvez de"hai"'
romances e livros da sua área de especialização. Âlém disso, como sem- ( lt'rto dia, José também participava da conversa e, quando sua esposa
pre estudara o "estilo educado" do japonês (formas desu e masu), tinha llrc fêz uma pergunta, ele respondeu que "sim" usando "hai". Ao ouvir
dificuldade para se adaptar ao japonês de "estilo informal", como "-shi- rsso, a amiga da esposa feztrnabrincadeira, pois responder assim para a
o marido.
nakya" ("tem de fazê..."'1 ,"nanshitenno?" ("o que cê tâfazendo?"),"kat- Pr.ripria esposa noJapão passa a impressão de que ela domina
Outro exemplo é o do uso de leeigo, a "linguagem polida". Ela é em-
tokuyo" ("vô dexá comprado") .
Nas conversações, a única Íorma de aiduchi (inter.leições do tipo "ah pr.cgacla para expressar respeito em relação ao ouvinte, mas dependen-
é?!", "puxa!", "verdade?", para sinaiizar ao falante que se está acompa- ,kr c1a situação também é usada para indicar que o falante quer distância
l!
nhando a conversa) que ele usava era "soudesw lea?" ("ah é?!") e não con- t,
,I I cluvinte. Certa vez,.iosé discutiu com a esposa. Na hora do jantar, ela
seguia se expressar em estilo informal. Levando-se em conta que o Ja- $ llrc disse em keigo: Douzo meshiagatte ("coma, por favor", mas com um
tom de desdém). José, que não conhecia esse uso de keigo achou tudo
denabasugakushfrryoku (O aumento da capacidade de aprendizado
muito estranho...
com base em tarefas). Bonjinsha, zoog,pp. z8-49.
Deste modo, é denominado gengo register ("estilo de linguagem,,) a
(+) Mryaz,rxr, Satoshi. "Jiritsu gakushü shien no tame no tâsuku to
variação do emprego das palavras dependendo do ouvinte, do assunto e
gakushü sutorateji" (Tarefas e estratégia de aprendizado para o
da postura naquela situação.
suporte ao aprendizado autônomo). In Mrazerr, Satoshi. Tasuku
de nobasu gakushüryoku (O aumento da capacidade de aprendizado
3.2,6.0 encontro com a língua japonesa: 26 anos depois com base em tarefas). Bonjinsha, zoog,pp.rz-2í.
(, §l rone, Kumiko. Nihongo ky ôiku ni ik asu .dainigengo sh{,ttoku kenkfi
Relembrando a trajetória deJosé, ele teve muitos professores. professo-
(Pesquisa de aquisição da segunda língua aplicada ao ensino de
res nativos e não nativos. Professores gentis e rigorosos. cada um deleo,
japonês). aLc, 2ooz, p. rÍ.
ao seu modo, deu suporte à aprendizaeem de japonês de José. E, ainda l
Bibliografia
105
como língua de herança, t5t\t t'tãr» rcsp,ndcranl, l(zr como língua estran,
3.3.2. As escolas japonesas do Brasil
geira, e f/ofoi educado noJapão.
Como pode ser observado por essas informações, aqui no Brasil
quando se pensa no perfil de professores de línguajaponesa, não é pos
sível apenas separar em nativos e não nativos: é preciso considerar tam
T
I
li,rst'rrtla nas inÍbrmações acima, gostaria de refletir a respeitcl da nranci
r,r (()nl() o ambiente linguístico interfere na aquisição, quando se Íàla
, rrr t'nsino de língua de herança. Antes de mais nada, é preciso considc
I
bém os descendentes e os não descendentes. Mesmo porque nesses úl- r.r (lu(' havia vários tipos de escola de japonês. Resumindo as infornra
timos anos, os filhos dos trabalhadores, que parriram para o Japão a , , ,r's olrridas por fontes bibliográficas e entrevistas, pode-se dizer quc clc
partir da segunda metade da década de r9go, tornaram-se adultos e es- r,)('o.t rL)9o havia os seguintes modelos:
tão retornando para cá. Falar a respeito da aquisição de línguas dessas
pessoas é uma questão extremamente complexa. Se, por um lado, há as r list'.lars, cuja dimensão varia muito, que também funcionavam c,nr,
que retornam com o japonês e o português igualmente desenvolvidos, 1rt'rrsionato. As classes eram homogêneas (existem poucas escolas. dt.s
chegando a ingressar em faculdades brasileiras, por outro, há aquelas st'ripo atualmente).
que apresentam dificuldades em ambas as línguas. Âlém disso, há os ca- ' lrst'rlas administradas por associações que visam ajudar os nrr:nrbr.,s
sos dos bilíngues cuja língua dominante é o japonês e, pois, apresentam ,l.r crmunidade, as chamadas associações culturais. As classcs t.r';rrrr
melhor competência nesse idioma, apesar de sua nacionalidade brasi- d rrrrltisseriadas, e as aulas ocorriam diariamente ou duas a tr'ôs vt'zt.s
leira. Recentemente, mesmo no curso de Formação de professores de l)( )l' scmana.
LínguaJaponesa, promovido peio centro Brasileiro de LínguaJaponesa r list'rlas com número reduzido de alunos. As aulas eram dad;rs rr:r
desde 1985, vem aumentando o número de pessoas, com esse perfil, que 't.
si,li'rrcia do professor nos moldes de uma aula de reforço.
procuram pelo curso. A línguajaponesa desses regressantes é superior 1 list'olas em que há a presença de professores enviados do Japão. I )r.
à dos não descendentes e descendentes residentes no Brasil não apenas v r.l, ao vínculo com a província de origem dos membros da corrrtr n i
no que diz respeito à proficiência linguística, mas rambém do ponro de ,l,rtlc, recebem cooperaÇão das prefeituras, do governo japonês, arr.a
vista da sua variação, ürna vez que está atuaTizada em termos de voca- vi's ti«r envio de professores.
bulário e linguagem dos jovens. , list'olas administradas por grupos religiosos doJapão.
Atualmente, pelo uso da tecnologia de informação, criou-se mais um
ambiente paÍa a aquisição da língua japonesa: o virtual. Além disso, o ,'\ ; rr:n, por sua vez, concede auxílio por meio de envio de professores
contato entre as pessoas passou a ser realizado de maneira mais frequen- , 1,,\'( ns voluntários (shinia Borantea e Seinen Borantea) às comunida-
te, ultrapassando fronteiras, assim como ficou mais fácil para nós obter- , l, ', rr r;rr r brasileiras, o que tem ajudado muito na revitalização linguísti-
mos coisas materiais e informações. Desse modo, a aquisição de língua , .r ,1, , 1,rporrês rresses locais.
vem se expandindo no ambiente da internet, não se restringindo aos la l',)r'()Lttro lado, atualmente, cursos de japonês são também ofereci-
res, às salas de aula e às comunidades como antigamente. Entre os nikkeis ,1,,', .rs (-Lrrtros de iínguas de escolas públicas, como ocorre no estado
residentes no Brasil, são muitos os que adquiriram o japonês através de ,1, lr.r, l)irrrlo, assim como em escolas particulares como disciplina obri,
mangá e anime e, por vezes, essas pessoas carecem de uma variação so- l'.rr , )r r.r ( )u ()ptativa. Além disso, do ponto de vista organizacional, há es-
ciolinguística, não conseguindo usar com propriedade, por exemplo, a , ,,1,r,, tlt' lí.gua japonesa que, mesmo afiliadas às associações culturais,
linguagem de tratamento. Todavia, para se tornar um profissionar de en .,r,, Í111.11,,'";r'amente independentes, como também há aquelas que sãc.r
sino de língua japonesa, é preciso aumenrar o contato com o japonês de r,l* rrr rst'rrtlas por apenas um professor sem receber suporte da comuni-
diversas Íormas e incorporar um amplo leque discursivo desse idioma. ,l,r,l, l Iri irirrcla o caso da Aliança cultural Brasil-Japão, escola de Iíngua
porrc do liasil. (lrrlr trnr I'ristrilico dc n-rais dc n're itl
japor-res;r de ntaior I{t'rlizirr,:ircs cle gilrcanrs policsportivas, cxposiçircs cic clcscrrlr,s t,
século, foi fundada segundo ideal dilàrcnrc dils escolas con-runitárias, ,rlrlrrs artísticas, evt:lrtos quc recebiam o apoio de toda a comuniclatlr.
tendo como objetivo ensinar o idioma como língua estÍangeira, tanto ( ()nro () clas associações de senhoras, de idosos, de jovens
-
são algrnrs
para descendentes como para não descendentes, mas esse perfil de esco ('\('nrplos de atividades que as escolas de japonês promoviam para inlt^
la não será aqui abordado. i,r'iu' as pessoas da região. A começar pela diretoria, quem organiz;rva t.
Apesar da crescente diversificação pela qual as instituições de ensino lr,lt'r'rrva essas atividades eram os funcionários, professores, pais c alirrs,
de 1íngua japonesa têm passado, até a década de ry9o essas mesmas insti- ( t()Llos vinham com sua família participar desses eventos. E geralr.nen
tuições eram sempre tidas como escolas étnicas voltadas aos descenden l(' ('r'am os membros da própria comunidade que ocupavam os cargos
tes. E, pode-se dizer que eram escolas comunitárias adminisradas pelas .rtlnrirristrativos dessas escolas. Além dessas atividades, todos os an()s
comunidades nipo-brasileiras em seu próprio benefício. A grande rnaio-
l,r'ornoviam-se excursões, acampamentos entre as escolas da regiãO, crn
ria dos professores em atividade adquiriu o japonês como língua de he- ;,r',rl dos quais toda a comunidade se empenhava para arrecadar fund«rs,
rança em escolas como essas. oferecer uma educação cultural, artística . , apoio das associações de senhoras, formadas pelas mães desscs rrltr
e moral para os nikkeis era uma de suas peculiaridades. E as aulas não r)( )ri, sempre se fez presente.
eram centradas na conversação, mas, sim, na leitura e na escrita. euan- l)essa forma, eram muitas as oportunidades que as crianças tinltlrrrr
to à educação cultural, artística e moral, eram oferecidas aulas como ,lt'cntrar em contato com falantes da língua japonesa e, por iss<1, t'r.rr
dança japonesa, piano, coral, teatro e pintura, mas por vários motivos, a 1'r'rurde o input que recebiam desse idioma, além de terem a op()t.runr
ênfase dada a uma ou outra atividade variava de escola para escola. por tlrrrlc de ser corrigidos quando cometiam algum erro. Mas, nessrr i.1ro
conta disso, professores da capital eram às vezes enviados especialmen- ( .r, Ínesmo os japoneses da primeira geração já estavam familiariziltL rs
te ao interior. O japonês era ensinado como é a língua pátria no Japão e ( ( )rn o português, pois residiam no Brasil há algum tempo e, certalr.t(,1)
não é exagero afirmar que, para os aprendizes, a sala de aula era um lo- r(', r.rsavam koroniago. Os nisseis, por sua yez, poÍ serem bilíngues, scrrr
cal para "escreverjaponês". As crianças dessa época não tinham proble- ,lirvida, usavam o português e o japonês alternadamente(codeswitching).
mas de conversação tanto que, nas escolas, bastava focar o ensino da (de) sir ,ão se sabe ao certo até que ponto o uso dessas variantes ocorria dc.
codificação dos caracteres ideográficos. Havia também aulas de caligra- lonna consciente nas salas de aulas e na comunidade.
fia, tanto que em ry76 foi organízado um evento denominado "Kakikata () Ohanashitaikai (Concurso de orarória), que se iniciou em 1955, é
chikaradameshi taikai" (Concurso de habilidade da escrita). rrrrr cxemplo de evento que ultrapassava as fronteiras regionais. Nessc
Por outro lado, os aprendizes às vezes tinham de reler inúmeras ve- ,rrro, reuniram-se na cidade de São Paulo r5o alunos oriundos de muni-
zes oIivro didático ou escrever exaustivamente um texto ate que o ti- , ipios próximos como Santo André, São Bernardo, São Caetano, e tam
vessem memorizado. Em resumo, nas salas de aula de língua de heran- l,i'nr de cidades do interior como Marília e de outros estados, como do
ça, os aprendizes basicamente tinham de escrever diários, redações e rror-tc do Paraná. Outro evento inter-regional eram os campeonatos es-
sentenças, eram corrigidos em relação à ordem dos traços da escrita e ao portivoS de beisebol, atletismo e sumô, muito populares na época.
uso de partículas, e aprendiam a usar o dicionário para que pudessem No Brasil, antes mesmo de a Exame de Proficiência em LínguaJapo-
estudar de forma autônoma. rr,'sir, claborada pela Fundação Japão, começar a ser aplicada, já exisri.r
Os professores, por sua vez, que não sabiam muito bem o que fazer .r lixame de Japonês ABC, elaborada por professores da região do AI](l
em sala de aula, apenas mandavam os alunos copiarem os textos do li- ,lr'.Sã<r Paulo. Essa prova, cujos níveis variam de 9 a r, continua scncl<r
vro didático. Fato que nos faz perceber que nessa época o livro didático .r;,lit'rrda nos dias de hoje. Nos níveis avançados, a tradução de texros cnr
era a tábua de salvação para muitos professores. ;,rponôs para o português também é um item de avaliação. Prestar cssa
108 3.1]. 0 ensino (lc língila (lír herança e 0 amhi0Ite liníltístico I rriL,r Àtr.rrrrrr!rí, Àr,,,.rr,., {
prova tornoLl se unra lrctit pa|a ()s (,str.t(l.lntr.s clc jlporrôs, ÍàtO qLlc pas .rlitlttat rltle Íiri clctrtrrt dcssc c«rtttcxto clllc o ensino clc língr-ra clc lrt'r.urrçrr
sou a motivá-los a continuarenr conr scus estuclos do idioma. Da nresma ',r'r'slrr[rclcccu.
forma, quando a Exame de Proficiêr'rcia em Lí.gua Japonesa comeÇoll N:r tlcchda de r98o, era grande o número de famílias da r:ot-t-runiclrrrk.
a ser aplicada aqui no Brasil, os recjntos onde essa prova era realizada rrr1,, l-rmsilcira que se encontravam numa situação financeira cst/rvcl,
ficavam lotados de r-rikkeis. E quase não se viam aduitos prestando o ní- r rrjos íilhos haviam alcançado um alto grau de instrução. No Brasil
r
vel 4, na época o nível mais elementar. Ao contrário, havia crianças que ,1,:;sl pcríodo, cresceu também o número de nikkeis que passararnr il
prestavam o nível r, o último graLl em termos de dificuldade. Isso reflete ,,lotrlr-seus filhos em escolas particulares para evitar as públicas, crrj,r
a alta competência em língua japonesa dos descendentes dessa época. rrr','r'l tlc cnsino decaia. Dentro desse contexto, os pais dessas crianças-ji'r
como rrão havia um currículo unificado para o ensino de língua de r.r( ) ,rs incentivavam tanto como antes em relação aos estudos da língul
herança, no início eram adotados livros didáticos usados no ensino fun- t.rl)( )ncsil. Coincide justamente com a época em que os professores clas
damental do-fapão (Editoras Tôkyoshoseki e Mitsumura). porém, a par r".r olrls c'le japonês começaram a se queixar unanimemente: "os alurros
tir do momento em que o conhecimen'co linguístico do aluno não mais r,r,, Íirzem mais lições de casa", "quando se aproxima a época do vcsrr
acompanhava o conteúdo do material, a venda de iivros didáticos eiabo- l,rrl.u., cles faltam às aulas ". Isso revela que os nikkeis passaram a tlru.
rados no Brasil e voltados às classes multisseriadas começou a cÍescer. l,r r,,r'itl:rde aos estudos do ensino brasileiro. Em outras palavras, t'lt.s
como era de se esperar, esses livros, quc têm sua origem no ensino de l',r\s.u'iun a integrar cadavez mais a sociedade brasileira.
língua de herança, tinham como exercício cenrai a prática da escrita. A ( ) cnsino de língua de herança não sobrevive apenas de boas irrtt.n
maneira de ensinar variava conforme a escola e o professor. Mas quando , ,,r's Não basta adquirir uma língua
- é preciso fazer certo esfbrç«l prrr,.r
se pensa qlle no ensino de língua de herança era comum o professor ter de rr,rnt(" la, para não ser esquecida. Por esforço leia-se aqui ter tâÍr(() r.(,
dar aulas para ciasses multisseriadas, talvez não houvesse outra maneira a ( I I r s( )s l-rumanos como materiais. As crianças que aprendem uma língrr;r
não ser fazer com que eles praticassem a escrita, numa tentativa de apren- ,ll Irt'r'ança, ou seja, uma língua minoritária, por se encontrarem ('n1 r.('
drzado autônomo. Assim sendo, mes,,ro depois que o perfil clos aprendi, , ',\,r (' rl n-rajoritária, num determinado momento de suas vidas terão rlt'
zes muclou, ou seja, o japonês não mais poderia ser ensinado como língua , ,l)r.n
l)()r uma delas. No final, a língua dominante se define dependcrr
de herança, mas, sim, como língua estrangeira, a escrita continuou a ser ,1, tlt'slr;r importânciapara o falante, da relação com seu trabalho, <ltr
privilegiada em relação às ourras três habilidades linguísticas, , nr,r( ). da afetividade. É quase impossível repetir duas experiências lin-
Dessa forma, há relatos de pessoas que, mesmo depois de terem fre- l,rristit'as e, por isso, as línguas competem entre si. Aquela mais usada
qucr-rtado uma dessas escolas por dez anos, não progrediam nos estudos ,,u ,r nxlis útil tende a permanecer. E para não permitir seu desapareci-
de japonês, pois nas aulas os professores só asfaziam escrever frases, di- ,r( nt() r)atural, é preciso haver enga.jamento.
ário ou consultar o dicionário. Por outro lado, ouvem-se casos de crian- ( l )nscquentemente, as escolas de japonês que não conseguiram res
ças que já ti,ham certo domínio do idioma, e em dois anos conseguiram l,()nrl('r'iis novas demandas do tempo, começaram a Íêchar suas por-
desenvolver ainda mais essa sua competência. r.r' As tlue conseguiram se adaptar às exigências do tempo, transf-or
Acredita-se que nesses casos, mais do que a influência exercida pela rr,rr.u)) sc em escolas de ensino fundamental e médio, mantendo o.j;r
escola, isso seja fruto do apoio familiar, ou seja, do empenho dos pais. I'(,n( s ( ()nro uma das disciplinas. Essa realidade está muito distantc dos
Hoje, com o passar do tempo, é possível enrender objetivamenre o que ri nil)()s ('nt que as crianças ficavam meio período nas escolas de japonôs
se quer dizer com isso. Àqueia época, havia uma firme parceria entre a , l, ,lrr ,rrrtkl se somente ao aprendizado dessa língua
- época em qr,rc clas
família, a escola e a comunidade, sendo a escola de japonês uma das ati- ,l,r, rrtli:rrn sc dir.ertindo. O fechamento dessas escolas ao mesmo tcnl
vidades postas em prática e sustentadas por essa parceria. E é possível l',, ,rlrorrtrr para a dissipação das comunidades nipo-brasileiras.
ll..l. 0 elsinrr ri0 lÍngua dr_. herança rt 0 il[]l)i0nl{r li0Íltistico llikrrl\.4;rl:;rhirr;r l\,4orrhr; tL7
3.3.3. A aquisição natural da língua de herança l{t'torttattdo () c'lLlc colrrctrtci rro capítr-rlo antcrior', atlLri no l}'asil, atí,
e o ambiente linguístico vr)t('ilnos atrás, em divcrsas regiões havia conrunidades rrikkcis qt-t('s('
l.r'nlrlllrr'l nos períodos pré e pós-guerra. A estrutura familiar abrangiu
Na comunidade nikkei, usa-se japonês não somente para a conversação
o
I r(rs gcrações, e era grande o número de lares em que o japonês cra Lrsa
do dia a dia, mas também na forma de comunicação escrita, como pode ,l, lrrrsicamente para a comunicação com os avós que moravam jullt()s.
ser visto nos jornais e revisras literárias da comunidade (Jornal Nikkei, ,'\ l;rrrrília, a comunidade e a escola desempenharam funções importalr-
São Paulo Shinbun etc.). E manter um bom relacionamento interpesso-
t('s l)rlra a promoção da aquisição natural da língua. Para se formar un-r
al foi sempre algo relevante para ela. Dessa forma, devido às constantes
l,rlirrgue com alto nível linguístico nas duas línguas, logicamente, é inr
interações entre seus membros, os descendentes dominam habilmente
l){ )r't a nte que a pessoa assim deseje, mas também é necessário haver um
expressões linguísticas normalmenre consideradas de difícil aquisição
.rrrlricnte linguístico como a comunidade nikkei.
para os estudantes estrangeiros, tais como o emprego dos verbos de be-
l{ccentemente, conheci uma professora nikkei da terceira geraçà«r
nefício, das expressões de pedido ou de agradecimento. Por outro lado, ,lo t'stado de Minas Gerais. Apesar de ter acabado de completar vinte
como a língua muda de acordo com as condições e necessidades de uma ,rrros de idade, é extremamente fluente em japonês, inclusive nas habi-
dada comunidade de usuários, é possível também observar na comuni
lr,l,rtlcs de leitura e escrita, que correspondem ao nível 1do Exame clc
cação entre nikkeis o uso de expressões honoríficas diferentes das utili
l'r'oÍir:iência em LínguaJaponesa. Ao lhe perguntar como era seu alnl
zadas noJapão, a mistura do português no uso dos pronomes pessoais,
l)r('nlc linguístico, eis que ela me responde que não havia japoneses ncnl
muitos empréstimos lexicais, a alternância de códigos. ,r:;sociações japonesas na região onde morava, por isso, seus pais, ao tt,
Em comparação com outros estrangeiros, os nikkeis que aprende- nr('r'crn que seus filhos esquecessem a língua de seus ancestrais, empc
ram o japonês nas escolas de língua japonesa e na comunidade, inrera- rr lr.rllrr-se em ensinar-lhes. A importância de os pais quererem prese r.
gindo com seus membros, têm uma competência linguística notável. \,,il urna língua é um fato comprovado em diversas pesquisas de casos.
Mas no que se refere aos registros formais, por exemplo, quando são lrslrt'cialmente quando há o apoio familiar na infância, isso já é um bom
exigidos a se apresentarem publicamente em workshops de seminários
1,,rrto de partida em direção ao bilinguismo.
de professores, verifica-se entre eles uma certa retração: evitam se expor
I)or outro iado, há exemplos de sucesso de revitalização de escolas
em público, e sempre acabam pedindo ajuda aos jovens volunrários en- ,lt jrrponês que estavam definhando, uma vez que as crianças já não ad-
viados do Japão, que são nativos. Essa postura pode até ser vista como ,Iril't'r-n naturalmente o idioma em casa ou na comunidade. Nessas es-
uma falta de autoconfiança, mas, na realidade, não dominam esse tipo , ,,l,rs, vemos não apenas descendentes, mas também não descendentes
de discurso e, mesmo que queiram fazer uma apresentação, não sabem ( .,1 u(lando o japonês. A vontade de querer estudar a língua
e a cultura
como agir. Como no seu dia a dia essas pessoas quase não tiveram a
t,rl)()r)csas por simplesmente gostar delas não reside na cor da pele ou
oportunidade de vivenciar situações parecidas, é possível dizer que não ,1,s olhos. Há comunidades em que, graças à presença e atuação dos jo-
adquiriram esse tipo de uso da linguagem. vcrrs v<rluntários da;rca ou, de new commers, desencadeou-se um proces-
Para cada umas das línguas de um bilíngue, há o que se chama de ',, , tlt' r'cvitalização das escolas de japonês. Mas, por outro lado, há rela-
domínio e, mesmo que ele use o japonês no dia a dia tanto quanto um t,s rlt'r1ue, logo após o regresso desses voluntários aoJapão, as escolas
nativo, quando esse domínio muda, sua fala sofre diferenças qualitati- .,, ,rlrrrrrl por encerrar suas atividades. Isso ocorre poÍque, diferentemen-
vas em termos de léxico e discurso. E isso não se restringe apenas aos t, ,lrrs condições da fase inicial da imigração, atuar como professor de
nikkeis pode ocorrer mesmo entre narivos japoneses que tampouco 1.r1,orrôs r.rão é uma atividade que pode ser feita por qualquer pessoa: ó
estejam habituados a falar em público. rrr"r lsslllio que haja um ambiente em que se possa trabalhar como pro-
de língua japonesa no Brasil). Sekai no kyôiku no hensen (A mudança no ensino de língua japor.ru
nihongo kyôik;: nihongo ,ro
kyôiku jijô hôkoku hen, n. z, pp. 6r_7t, r9e5. llrasil a partir dos mareriais didáticos). Dissertação de mesrrado
(z) -
HaNoa, T. "Burajiru niokeru nihongo no mondai Universidade de Waseda. "fóquio, zoo5.
r,, (Os
problemas da língua japonesa no Brasil). rrz) \.[614l.lass, Âkiko Kurihara & yosuxawa, Mayun_ri Edna Iko.
Gengo seikatça, vol. r, n.
zq6, pp.zs-Bt, r98o.
"llurajiru no nihongo kyôiku
wo meguru genjô to tenbô,,
(A situação atual e a perspectiva do ensino de líng.ra japor.resa
no
Lt4 3.3.0 ensino de língua de herança e o ambiente iinguístico
1r" i.rtrHtFF
Como será que aprendemos uma língua esrrângeira? E como será que
I gnrinada? §em dúvida, estas duas perguntas estão relacionadas umâ a
Antecipo, contudo, que não há uma resposta única e fechada para
questões, embora haja muitos estudos sendo realizados na área.
O que é possível dizer ê que cada professor rem sua própria crença
üll relação ao processo ensino-aprendizagem. Crenças que provêm de
fitr vlsão do que é a língua, de seus val«:res, dos estudos reóricos, de sua
ffópria experiência como aluno, de suas experiências em sala de aula,
& rcus conhecimentos especializados e práticos. Obviamente que ro-
flor possuem estes tipos de crenças, mesmo aqueles que não possuem
lfpcriência em sala de aula. Além disso,elas são dinâmicas, sendo mol-
áldog constantemente com a experiência e influenciando o modo como
o professor conduz sua aula. Gostaria de elucidar como isso ocorre na
pltlca, tomando como exemplo a experiência em sala de aula de uma
professora de japonês no Brasil e, ao mesmo rempo, comentando dife-
r€ntes conceitos referentes ao ensino de língua estrangeira. primeira-
mÊnte, gostaria de apresentar o perfil dessa professora.
,r,,,,1.1, tlt'cnsino clc língua fap()ncsa que ela vivencioll cra o dc r.J conro
A proÍ-e ssora Ana, uma brasileira nikkei, crrcsccu ouvilrdo e fàlando o j.rpt,
r rr Isst'nroclclo de ensino é Íocado basicamente na escrita c na lcitur.a,
nês, seja em sua casa, seja na comunldade nipônica à qual pertencia. Entretatr-
to, seu contato com a língua portuguesa ocorreu quase de forma concomitante ,
, ', l)rírli'ssrlr scmpre usa o japonês para passar as instruções aos alunos.
r r tlr':;t rrvolvimento da habilidade oral não é enfattzado, pois o Llso co-
por conta dos amigos da vizinhança e por ter frequentado o ensino Íbrmal des-
de a pré-escola. Ela frequentou uma escola dejaponês que havia no bairro onde rrrrrr rt .tlrvr» da língua já ocorre no seio familiar. Tampouco há explicação
morava até os seus dezesseis anos e, aos dezessete, começou a lecionar a língua ),r ,r r r,rl ir';tl, pois considera-se que o aluno já tenha conhecimento da gra
japonesa nessa mesma escola. Tinha vinte alunos com um perfil semelhante ao l|r.rrr(.r tluc fora adquirido de forma inconsciente. No entanto, esse tip()
seu: eram descendentes dejaponeses da segunda. ou terceira gelaçào e usavam ,l, r r rsi rro cxige do professor um excelente conhecimento da língua, e dr>
o japonês dentro de casa e na comunidade. Nessa época, suas auias eram repro- ,rl,r( n(lrz rrm alto grau de concentração e autonomia nos estudos.
duções daquelas que teve na infância: em uma classe multisseriada (classe em li então, entender no que consiste a aprendizagem do ja
rrtcr.r'ros,
que alunos com níveis diferentes de proficiôncia linguística estudam na mesma rrl perspectiva da prnfessora Ana. Antes de mais nada, é prcciso
1,, 'rrr:s
sala) os alunos faziam leitura de textos, construção de sentenças com vocabu- , l, r r,r l r'laro que, para os alunos deia, estudar o japonês não se trata dc
lário novo e treino exaustivo dos ideogramas. A1ém disso, havia diversas ativi- ,l,r, n,lt r rrma língua estrangeira (r,r) porque a 1.1 é sua língua matcr.ni.l.
dades extracurriculares relacionadas à culturajaponesa. A 1íngua utilizada, não
lr ,rrt rr rlc pesquisa de aquisição de língua há alguns esrudos quc rlili'
I
somente nâs suâs aulas, mas na escola como um todo, era o japonês.
r( nr r.un acluisição de aprendizagem e, dentre esses,
um representiltiv()
, ,,,1r Iinguista norte-americano Stephen Krashen. Para ele aqurisiçrio
A primeira língua (língua materna - nt) de Ana é o japonês, ou seja, rr l( r( s(^r\ língua adquirida de forma natural e inconsciente, tal conro
trata-se da língua que foi adquirida em primeiro lugar, de forma natural; assimilaram o japonês. Não é necessário o estudo clas
\ rr.r c st'us alunos
é a língua que ela foi capaz de usar mesmo sem ter estudado seu funcio- r' r,r,rs l)iu'a saber usar a língua. Por outro lado, a aprendizagem errvol
namento, sua estrutura gramatical ou seus aspectos fonéticos. Esta forma ,, .r , onsciência e o conhecimento formal. É precliso um esforço cons
de adquirir a língua é chamada de aquisição natural. Além disso, a língua , r, r ( l )( )r' parte do aluno para entender o sistema linguístico, as regras
rr
japonesa (ry) também é sua língua de herança (rn). Entende-se por LH a r,r ,u r r,rlir.uis. De uma forma geral, então, é possível dizer que quando se
língua dos imigrantes que rrem sendo herdada de geração em geração, e I rl,r .nr rrqLrisição pensa-se em LM ou L2, e quando se fala em aprendiza-
carrega em si os valores culturais destes povos. Os pais da professora Ana, l'r lrl l)('llsil se em LE.
considerando importante dar continuidade à língua e à cultura de seus ( l()nr() os alunos da professora Ana já adquiriram a LJ em seus res-
ancestrais, resolveram usar somente cl japonês dentro de casa. ,, r r r\,os larcs, ela não necessita ensinarlhes como a língua funciona ou
|
O português, por sua vez, sendo a língua oficial e majoritária do país , ( ,r r( ) usil la em um contexto de comunicação. Seu objetivo é aprimorar
em que ela nasceu, e por ser o idioma que adquiriu subsequentemente rr lr lr,illlcltto. Como, por exemplo, o aumento do repertório de voca-
ao japonês, sua primeira língua (Lr, é considerado sua segunda língua I'rrl.rr ro t' o conhecimento acerca dos ideogramas, bem como o aperfei-
(Lz). A Lz é uma língua de sobrevivência que é adquirida após a LM. Em ,,,.lln( t)t() cla capacidade de escrever. Essa forma de ensinar, com uso
outras palavras, trata-se da língua majoritária e necessária para se viver' ,r,,r,, de método direto que, quando se trata de língua
',lrl r.1, é chamada
no país. No caso da professora Ana, é possível dizer que ela adquiriu sua , lr I rr' r .r r)(a, pode ser considerada a mais adequada maneira de conduzir
segunda 1íngua (Lz) também de forma natural, pois seu contato com o ,rrr,t ,tul;1.
português ocorreu desde pequena.
Em relação à forma de conduzir a aula, a professora Ana colocou em
prática o que ela acreditava ser o ato de ensinar, porém, a experiência e o
T
4.t.2. O novo aprendiz ttlrts clcsct]volvcnl ct'rta troçi«r clo c1r-rc ('otr nlio c()r'r-ct().
Urlr ()str.as plrlir
v'irs, podern não sabcr ao ccrto quais fllranr as rcg.as vi.lirclas,
nras tôlrr
Após alguns anos lecionando, eis que entrâ na classe de Ana um aluno ,r [r'r'cepção do que é natr-rral ou não na língua. como a r,i f<rra:rrlqLriritla
novo com um perfil completamente diferente dos outros: sem ascendência ja tlt' íirrma natural pela professora Ana, ela não conseguiu explicar
sr_ras
ponesa e sem nenhum conhecimento da ry. Felipe tem quinze anos. Durante r'('gras, mas tinha noção do que não era natural
na q.
os primeiros meses, a professora priorizou o ensino de hiragana e katakana e
tudo seguia ranquilamente. os problemas começaram a surgir quando Felipe
passou a usar o livro didático que todos usavam em sua turma. 4.1.3. A língua japonesa como língua estrangeira
o aluno conse-
guia ler todos os fonogramas, mas não entendia o significado das palavras, so-
A professora Ana, ao perceber que o mesmo método de
licitando a todo momento a ajuda da professora . contudo, mesmo se quisesse ensino não po-
rlcria ser aplicado ao aluno novo, acabou achando que a memo
explicar algo, eia não tinha conhecimento gramatical e não viu ourra soiução úzação c
rrs atividades de repetição poderiam ajudar
anão ser traduzir diretamente as palavras para o português. na sua aprend.izagem. Entre-
r;lnro, essaprática de repetição é uma técnica que vem
Num dos primeiros rextos do livro, Felipe percebeu que, em algumas oca- sendo utilizada
lrá muito tempo. Surgiu em meados do século
siões, il (ha) s ^ (he) não eram pronunciados como havia há pouco tempo xx, numa época em que se
aprendido. Apesar de a professora Ana ter explicado que, quando esses fono- rrcreditava que a aquisição de uma língua poderia ser alcançada
por meio
gramâs desempenham papel de partículas, a pronúncia muda, ele começou cla imitação e da repetição. priorizava-se a pronúncia
e ignorava-se a ex-
a fazer umâ pergunta atrás da outra - "para que servem essas partículas?", plicação gramatical. o professor era aquere que fornecia o rnodelo corre-
"Quantas partículas existem na r-1?", "Como elas funcionam?" deixando-a ro da língua, e ele tinha defazer as práticas de repetição
- em com os alunos
apuros' E ela que nunca tinha pensado sobre essas questões acabou por res- para que estes pudessem imitá-lo com precisão. coiocando-se
de lado a
ponder: 'A língua japonesa é assim, não é preciso pensar nessas coisas '. rruestão se essa técnica foi boa ou não, pode-se dizer que jâfoi
um gran-
Anteriormente, a professora jâhavía sido questionada sobre as particulas de avanço Ana ter percebido que há diferença em ensinar
a um aprendiz
pelos seus outros alunos, mas não eram dúvidas relacionadas à gramática e, .1ue estuda a LJ como Lr. e ensinar a um outro cuja
rv e o japonês.
sim, perguntas sobre seu uso. Sendo assim, na maioria das vezes, após dar
vários exemplos, eles compreendiam. percebendo que o modo de ensino que
Durante meses, a professora Ana continuou aplicando esse método
estava aplicando até então não era adequado ao aluno novo, ela resolveu fazê- que, de
alguma forma, surtiu efeito na aprendizagem de vocaburário
lo decorar palavras, sentenças e trechos do livro. Felipe deveria ler os textos, e sentenças pron-
tas do aluno novo, mas se deparou com outro probrema:
imitar a pronúncia da professora efazer uma apresentação oral do texto que Feripe, apesar de saber
"dizer" o que tinha memorizado, não sabia
tinha sidcr decorado. cada vez que a pronúncia soava estranha ou a ordem das usar a 1íngua para ,.conversar,,com
alguém Além disso, ourro fato percebido pela professora Ana
palavras na sentençâ era trocacla, ela o corrigia incessantemente. é o de que Feripe
Íicava muito nervoso quando tinha de fazer speeches (apresentações
orais). Tudo
isso deixou a professora frustrada. se a memorização
e a repetição não são efi-
A proposta de ensino como LH não funcionou para Felipe. para ele, a cazes para fazer com que o aluno domine o uso da iíngua,
afinal, o que mais
LJ era uma Ls totalmente desconhecida. curiosamente, seus questiona- posso fazer? - questionou-se. primeiramente, tomou cuidado para não pressio-
mentos acabaram também sendo os da professora Ana. Redirecionar, de nar Felipe. Fez com que ele realizasse as memorizações seguin<1o
seu próprio
forma consciente, o olhar sobre as regras da língua é muito importante ritmo e os speeches eram feitos somente quando ere se sentia preparado.
Decidiu
quando se considera o mecanismo de aprendizagem. tarnbém, r-ra medida do possível, deixar de usar o português
com ere. Achou que
De acordo com Krashen, aqueles que adquirem naturalmente uma quanto mais ele escutasse o japonês, mais ere iria se familiarizar
com a língua.
Além disso, ela passoua usar paravras mais Íáceis de serem compreendidas,
língua não possuem uma percepção consciente das regras dessa ríngua, fa-
lando mais devagar e com o uso de muitos gestos.
seguido memorizar muitas palavras e sentenças, mas não conseguia ;rrorluçii«r ol'al.
usá-las dentro de um contexto de conversação. Uma aula baseada em listas considcraçõcs do linguista norte-americano, dc algunrir Íirt ttt,t,
repetições e memorizações não passa de uma aula que pratica a forma e t,rrrrbôm íbram criticadas. Uma destas críticas é sobre a distinção crrtlc'
a pronúncia da língua. Quando Felipe imitava e reperia as falas da pro- ttlrcndiz(gem e aquisiçã0, pois é difícil de provar empiricamentc qttattclo
fessora Ana, o que será que ele conseguia compreender? Mesmo que, ()(()r'r'c cada uma delas. Outra diz respeito à importância dada ao ín1tul
antes dessas práticas, os significados das palavras ou das sentenças tiyes r r r nl r:rial linguístico que o aluno recebe), mas que não é dada no lrlcsltt( )
sem sido explicados, não será que e1e, por ficar muito preocupado em llrrrLr a() output (material linguístico produzido pelo aluno), no proccsso
pronunciar com precisão, deixasse de prestar atenção ao sentido do que ,lt' clcscnvolvimento da língua.
estava "falando"?
Esclareço que o livro didático usado por Felipe era voltado aos falan-
4.1,.4. Negociação de sentido
tes de japonês. Os textos tinham sentido para os aprendizes que adquiri
ram a LJ como LM, mas para aprendizes como Felipe, tratava-se de uma
I)assados dois semestres, Feiipe conseguia entender melhor o quc as p('ss( )
enumeração de letras ou sons sem sentido. Além disso, sentenÇas como ,rs Ílrlavam em japonês, mas sua produção oral ainda deixava a de se-jnr'. Ilt's1r,tt
41ül-á'L \ (o céu é azul) ou iâ]üÊt, \ (o mar também é azul), que apa- ,lirr:isperguntas daprofessoraAnaquase sempre emportuguês, c qtt:tntlo tts,t
reciam no livro, quando seriam efetivamente utilizadas em uma con- r,,r o iaponês parecia inseguro, mesmo quando conseguia produzil'sotttt ttlt l.t
modo de dar aula. A decisão da professora Ana em considerar o ritmo l,r ,,lcssora, consequentemente, sua habilidade auditiva se desenvoiveu.
do aluno, evitando pressioná-lo e usando a r-1 de modo fácil e compreen- ( rrrrtuclo. não e porquc ouvimos muito uma língua que conseguint()s
sível pala o aprendiz. possui pontos em comum com a hipótese do input I.r l.i la. Se isso fosse verdade, só de ficar escutando diariamente uma es-
(insurmo) de Krashen. De acordo com essa hipótese, é necessário que o t.rt,io r.lc rádio lussa poderíamos sair falando russo. Obviamente quc c
profe ssor use uma iinguagem simples e compreensível para o aluno, e o i lt t'xtl'clnâ importância você escutar a língua que está estudando, rnrts
contato deste com a língua-alvo deve ocorrer de forma natural para que r.ro i' s<lrrente isso que vai promover sua aquisição.
ele possa adquirila. Desse modo, é possível chamar a atenção do apr:en- Mrritos estudos demonstram que é necessário expor o aprendiz :\ lírr
diz à mensagem ou ao conteúdo do que se quer passar, e não à forma da r,,u,r rrlvo de maneira compreensível, mas que apenas isso não é o suficicntc
palar,rzr ou à estrutura grarnatical. Além disso, para Krashen a Íluência l).rlir p1'()nrover sua aquisição. Para tanto, destacam a importância da prrr
não pode ser ensinada, pois ela é adquirida com o tempo, devendo,se ,lrrr ir r lingr-rística do aprendtz (output) e a interação com outros falante s.
L24 /1. l . I or n;l; ilc r;lsino ctn uma sala d0 aulíl Ayako /\kirtttirtc L25
Uma parte dos pesquisaclolcs qr-re lirca nas produções dos aprendi-
l, )r'l i.ír,l '/(O que ê ensokul)
zes dâ importância às interações em que ocorrem negociações de senti-
f' . i{r1r!'? )-/.,,n.lÍa,"ll,l{arÁà 'í'fitt )trtl ll zoI*.r., (Ah, ensokul Às ve,zc's,r
do através da interrupção do fluxo de conversação. Essas negociações de
i,í Írl(' r)i() viaja com o pessoal da escola?)
sentido são constituídas por autocorreções e por heterocorreções, ou seja,
I , l"1rlrÀL/r'rtít'. . . passeio? (Viagem colx o pessoal da escola... é passeio?)
correçóes feitas pelos interlocutores, quando a mensagem ou a intenção
r. "r, c,t). +lt,)^ I:-íÉt:l'l«tÍl zaaL, b/s,,;f':?( É, trrm seria uma pc
do falante não é transmitida com sucesso. Checar se o interlocutor com-
,
lrr('n,r viagem que a gente faz corno pessoal da escola, entendeu?)
preendeu ou não, confirmar o uso correto de certa palavra, por exemplo, |
' | ,(,, rI rb. t>ltr-:f:" (Entendi mais ou menos.)
assim como pedir esclarecimentos são estratégias utilizadas nestas nego- 1.. i ,,!tr.44.. Iy,à+t§.D^L^'',r#[tPlaycenrefl.'íÍ-:>t:ot"']c4,,L)1x.t. l-,t
ciações. Por interação entende-se a troca mútua de mensagens, e acredita- \' 'l{aycentertraTt->'kot. k-i1[aí-r(à/lO" (Olha. Esre ano eu fui com o pcs
se que é por meio dela que a aprendizagem é promovida, uma yez qle ',r r,rl tlrr cscola para o Playcenter. Fui ao Playcenter coÍn os professores c conr nr('uri
nas negociações de sentido em situações reais de comunicação o apren- r r rlt girs. Fui a um ensoku.)
diz deve se atentar tanto ao contexto, quanto à forma e ao significado da tr -,, *>fl,-:>f:-" íXLÉ,8ül?lol:" (Ah. Entendi. Eu tambêm fui a unr crr.rolrrr.)
,1,,
língua. Nesse movimento interativo, ele acaba sendo exposto ao modelo 1; t' l':-l-y->f:O? (Para onde você foi?)
linguístico correto do interlocutor e, ao mesmo tempo, vai realizando sua lr rj I-)U ,lull?t'-,>ft,.!," (Fui ao dobitsuin.)
(
própria testagem do que é ou não possível na língua-alvo. ti r- (,\-)f, \,\r? íí1. ?fu" (Dobitsuin? Que é isso?)
No caso de Felipe, talvez tenham faltado oportunidades para que eie lr rjOi-)rl'f.< é/'&r7r"r4À->,iY7"ú:tLr:*ã&, (Tembastarrtt- r/ohit.srr. l.t'.r,,
pudesse interagir com a professora Ana, mas ao mesmo tempo, talve.z 1ior'rl;t. Tem cobra também.)
ele não tivesse urn arsenal linguístico suficiente para isso. Antes de pen- lr ]i 1,t 'ó?(Tem cobra também?;
sar em alguma atividade comunicativa, é aconselhável que a professora
I' r/',, lLü*:lz\õ. (Sim. Tem cobra também.)
,.;' t''1.\ioà,/via" (Você quer dizer doubutsuen-zoológico-, não?)
pense numa forma de organizar a língua japonesa para que possa ser
lr ,' ),, DiU. Di-5-':ZÀ,. (Isso.Doubi, doubutsuen.l
apresentada de forma simples e sistematizada a ele.
lr r'lr)f 11. h\rt'.,>f:?(Yocê entendeu o que é ensoku?)
1: /,,, *'>lt'-;fi," bDlt:L i" (Sim, entendi. Obrigado.)
t
Como professora Ana era multisseriada, não era possíve1 focar toda
a classe da
a atenção somente no Felipe. Mesmo considerando que os outros alunos tivessem
Na conversação acima, é possível dizer que houve uma interação
unr perfil independente, ou qr.te seus estudos fossem focados na leitura e na escrira,
ela deveria responder a suas diversas dúvidas, ensinar-lhes a ordem de escrita dos rrrúrtua e uma negociação de sentido de forma natural. Kenji, que de-
ideogramas, bem como corrigir o que ihes fora solicitado a escreverem. Por outro st'rnpenhou o papel de facilitador na aprendizagem de Felipe, só pelo
lado, Felipe sempre requisitava a arenção de Ana com suas inúmeras perguntas. Íirto de ter ajudado o amigo, certamente, ficou satisfeito com isso. Na
Alem disso, até aquele momento, parecia que as aulas estavam muito centradas na rcrrlidade, porém, enquanto revia seu conhecimento da língua japone-
professora. fazendo com que e1a tivesse de dar a toda hora instrr,rções aos alunos. sir, iro mesmo tempo desenvolvia sua consciência metalingtístrca(mettt-
Dessa forma, Ana teve a ideia de fazer com que Felipe estudasse junto com Kenji linpuistic awareness, ou seja, o conhecimento consciente que se tem de
- amigo da mesma idade. Kenji era um menino com bom desempenho escolar
seu
tIctcrminada língua).
que normalmente terminava as lições antes do restante da classe e, quando não
tinha o que Íàzer, parecia às vezes ficar entediado com isso. Assim sendo. a profes-
Quando Kenji explicou o significado de É,8 (ensoku) para Felipc,
r)i() teria ele tomado consciência da palavra e acionado diversos meca-
sora the pediu que respondesse às dúvidas de vocabulário que Felipe tinha. Ambos
rrismos de pensamento? É possível dizer que isso o fez pensar de forma
foram instruídos a usarem somente o japonês. Por serem amigos, as conversações
produzidas pelos dois soavam natnrais para a professora Ana: t.onsciente a q, adquirida de modo inconsciente, comparar com o por-
L26 4.1 . lol ttr,ts tle ensrno cm .,il,r s,rlil (lrr ilillil
Ayako Akaminc L27
tuguês e analisar as duas lír'rguras. scgr-rrci<.r cstucliosos, íàzer
aÍlorar esra
consciência pode ajudar no desenvolvimenro da habilidade lr.tsstttl sc LInl sttltcslte clcsclc quc o livro dirlático ll()vo cor,,cç()Ll 1
linguística s(,r.slr
dos aprendizes. lr.',rrl.. A P'.Íbssora A,a pcrcebcu que o dcscn-rpcnh'oral clc Fclipt tirlrr*rt.
llr.r.rtl. t'spccialmente no quesito p.ecisão. Ao falar, ele c.nseguia pr..tltrzir
,,,ilr rlriris confiança. Ana,iulgou que, certamente, â opoftuniclacle cic convr.r.
4.1.5. Abordagem comunicativa ..r r ()nr l(cnji também inÍluenciou o desempenho de Felipe.
lrrlrctâr-lto, se autes ela achava que o livro didático era perfeito, agr>ra rrrlo
A profàssora Ana percebeu outro problema em relação à aprendizagem
de l,( ils.rvir da mesma forma. como se tratava de um material clestinaclo aos t.s
LJ de Felipe Reparou que ere n-ral tinha conseguido assimirar tr,rrg.ir.s residentes noJapão, havia muitas situações e vocab,lári, 11ur. rri.
o conteúdo do
livro didático. De acordo com Felipe, era rudo muito difícíl pera grande l,rrr,r, rr.ruitr» sentido ao brasileiro Felipe. por conta disso, ela passou a i.st,r.ir.
quan-
tidade de vocabulário, e também não entendia o uso de muitas
construções 1'.rl,rvt'rls c sitr-rações relacionadas ao universo estudantilbrasileiro, c()nr() tilr)r
frasais. Após conversar com a coordenadora e com outros l" rr rrrud.u as situações abordadas nos
professores da esco- diáiogos. Mesmo assim, ach<>Lr t1rrt, r,r
1a, Ana resolveu trocar o livro didático. por
recomendação dos colegas, adotou r,rr,r rrr rlJis rtividades comunicativas.
um que era voitado ao ensino dejaponês como segunda língua,
ou seja, era um
iivro elaborado para esrudantes estrangeiros que vivem no
Japão. Ao forheá- l )r'ssa forma, ao preocupar-se com os tipos de situaçõcs abrr.tl;rtl,s
lo, observou que o sylrabzs (plano de ensino) era organizado por
estruturas e
funções da língua como: realizar âutoapresentações, pedidos, rr,,s tli/rlogos, o uso da língua, a competência comunicativa, ir P|rÍt.s
compras, convi_
tes etc. Para ela, que nunca tinha visto um material parecido, ',,r',r Ana comeÇava a enveredar para um ensino de língua c.rr irrl,rsr.
era como se um
mundo novo se abrisse à sua frente . Nunca havia pensado que rr,r r'orr.runicação.
a LJ pucresse ser
organizada dessa forma: os capíturos pareciam evoluir, parrindo A cl-ramada Abordagem comunicativa, conceito de ensir-r, (1.(. r(,.r
de estruturas
mais simples e básicas para as mais complexas. Além disso, , , rnr. <lbjetivo o desenvolvimento da competência
havia também su- comunicativu clr. r r,,
cintas explicações gramaticais. Achou ter conseguido um bom ',rrr'sirr na década de ry7o priorizando uma comunicação que Í:rça st,n
rivro didático e
Felipe, do mesmo modo, adorou. Um novo caminho se abria_ rrrLr, . não a grarnática ou a estrutura da língua. Em outras palavr.as,
rr,rt,r ric de uma forma de ensino em que aaprendizagem ocorre pclo
Tratava-se de um livro com syrlabus' estruturar e funcionar, rrs, r t'fàtivo da iíngua, considerando-se as condições, circunstâncias
e as
que tra-
balha tanto a forma da língua com exercícios de repetição e r.lrrçõcs sociais, de modo que o aprendiz possa tanto transmitir o qure
de substi-
tuição, como também o uso dela para um determinado fim, ,k s.ja, como também compreender a mensagem de seu interlocutor.
através de
diálogos baseados em situações próximas às da nossa realidade. Nt'ssa visão de ensino, o livro didático é somente mais um recurso que
os diá-
logos contidos nesse material foram elaborados baseados ;,,,tk' auxiliar a aprendizagem, e não um manual que deva ser seguido
no vocabulá-
rio e nas estruturas apresentadas no capítulo correspondente. .r. 1r[' da letra. A meta do ensino comunicativo é desenvolver a com-
|t ri'rrcia comunicativa do aprendiz, e este "aprende a língua usando a
lirrsrra". Canale e Swain (caNar,r & swArN, rggo; ceNar_r,
ryg3) dividem
.r (.()nrpctência comunicativa em quatro dimensões: a gramatical
1o sa-
l,r'r's.b.e lí,gua), a sociolinguística (o saber var-iar o uso da
as regras da
Iirrgrra de acordo com o contexto e com os participantes envolvidos na
Ementa do plano de ensir-ro. por exemplo, o sylrabus estruturar , ,rrrtrnicação), a discursiva (o saber estruturar o discurso
é un'r programa de es de forma coc-
tudo organizado tendo como loco as estrutt-rras gramaticais.
r('ntc) c a estratégica (o saber usar estratégias para resolver os problema s
ainda não era nada fácil para ele. A profbssora Ana sempre fazia atividades re- .rl,rcrrclizagem.
lacionadas ao conteúdo dado em aula, mas era exigido que ele pensasse caute
losamente sobre a estrutura da 1íngua. Ele tinha de ser pruclente na escolha das
4.1.6. Foco na forma
palavras. A cada fala produzida, tinha que colocar em prática tudo o que havia
aprendido até então. Às vezes, estava certo que determinada forma que usara
i\ perrgunta: f llE Il ldà L Êf ll'l (o que você fará amanhã?), Felipe respon-
estava correta, mas não estava; outras vezes não conseguia Íàiar nada. Tam- '4t:Mlfr.l,'*.-4-l (Amanhãnãoireialugarne'
,t,,rr: lllllíiD:ü:ü1t'àf'tl/..
bém passou por sit*ações em que tinha de usa. alguma palavra ou estrutura
rrlrrrnr. Estudareiem casa). Ao receber ofeedbuck da plofessora Ana, Felipe per-
que ainda não havia aprendido. Mesmo assim, Felipe não se sentia incomoda-
,, lrcrr que tinha errado o uso perguntou-lhe a diferença entre
das partículas e
do. Pelo contrário, via isso como algo positivo.
(de) e fial (ni). Como na fase inicial dos estudos de Felipe, a proÍêsso-
r.r Arn não conseguiu responder a esta pergunta. Eia chegou a consultar as
Voltando a falar sobre interação, quando o aprendiz conversa, tro- , r;rlicações gramaticais do livro didátlco, mas infelizmente não havia nada a
cando informações com um interlocutor mais proficiente, ao mesmo , r,l)(,i1o disso. Constava apenas que a partícula ti:l indica ponto de chegarda
tempo em que ele entra em contato com o modelo correto da língua, , ,lrt ç:io do desloc.rmertto. Disse a Felipe. entào. que pesquisaria a rcspeilo. c
ele tem também a chance de se autocorrigir ou ser corrigido. Em ou- , lr'pois responderia sua pergllnta.
tras palavras, quando ocorre a negociação de sentidos pela interação, o
aprendiz recebe o input e, ao mesmo tempo, há a oportun idade de fazer Nalo teria Felipe feito esse tipo de pergunta porque queria compre-
os ajustes de sua propria fala, como também ter sua fala ajustada pelo ,r(l('r'nlelhor a gramática da língua japonesa ? Pensemos, então, um
outro. Â hipotese interacionista de Long Gq8:) dá importância principal- l,(,u(() il respeito do papel da gramática em sala de aula. Se seguirmos
mente a essa negociação de sentidos. Swain (1985) enfatiza ainda que é .r ,rlilnração de Krashen de que a aquisição da língua ocorre natural-
a ação do aprendiz em tentar produzir a língua corretamente de modo r r!( r)r (', desde que haja a exposição suficiente a um input compreensível,
que o interlocutor compreenda sua mensagem que contribui para a pre- ,r llrrrnirtica não precisaria ser ensinada. Por outro 1ado, há estudiosos
cisão da forma linguística, promovendo a aquisição da língua. Krashen ,q,r, ,lt'lcndem que chamar a atenção ao aspecto formal da língua é uma
afirma que o importante é o aprendiz receber un't input compreensível, rrr,rrrt'ir':r eficiente de ensinar, ou que é melhor ensinar a gramática por-
mas os dois pontos de vista citados acima focam também a importância ,l|1' ,r ('orxpetência gramatical é uma das competências comunicativas.
da negociação de sentidos e da atividade de produção. I l, t'rrsino baseado em "foco na forma" proposto por Long e Robinson
Quando o aprendiz somente recebe urn input compreensível não é ir,rol'i), () aprendiz é induzido a prestar atenção na forma e dela ter cons-
necessário que ele preste atenção à forma linguística, pois o principal , r, n(.iir (consciousness raising) durante as atividades comunicativas (co-
objetivo é compreender a mensagem. Entretanto, para que o aprendiz rrrrrrricirção com negociação de sentido). Para tanto, o professor recorre
possa transmitir o que deseja, é exigido dele um esforço consciente. Ao ,,, rr'Íirr'çr) do input (Íbrnecendo input ern grande quantidade ou enfati-
tentar elaborar as falas corretamente, ele recorre ao conhecimento que ',u r(l( ), ('n1tom mais alto, a parte da qual o aprendiz deve se conscicnti-
tem da 1íngua no momento da produção: vocabulário, gramática olr ex- . ,rr ), lrrz o aprendiz perceber seus erros quando fala, através defeeàbacks
pressões. Caso não consiga achar o material iinguístico adequado, pcr- rrrpli1 i1115, oll então usa formas mais explícitas apontando inctlrrt'çõcs
ou realizando explicaÇa)es grelmaticais. Aqui, o objetivo principal não .rl,rlrrtl iz,.l as clivcrsas cor-rdiçõtes quc o cercam. Não existe um método
é a aprendtzagem de gramática, mas, sim, o aumento da percepção do ,1, ,'rrsino Ítt-rictt c absclluto, tampouco um roteiro ideal de aula' Da mes-
aprendrz em relação a determinada forma linguística dentro de um con- rr r.r lornrrr que não existe uma classe igual à outra, não pode haver uma
dizado de gramática permite ao aprendtz sistematizar o seu conheci- .,, ,r i' auxiliar o crescimento do aprendiz. Espera-se que ele continua-
mento da língua, como também o auxilia na sua comunicação. Espe- rr('ntc observe seus alunos, que duvide de suas ceÍtezas e reflita, que
cialmente para aqueles que estudam a U como LE, o conhecimento gra- r',,ru(lc e prossiga sempre pesquisando.
matical é indispensável.
Contudo, é preciso er.fatizar que a gramática deve ser abordada den- (lom o passar do tempo, na escola onde a professora Ana trabalhava, fo-
tro de um contexto e trabalhada dentro de um iimite. Para que a aula r.rrrr surgindo mais alunos com o mesmo perfil de Felipe. Ana se deparou com
não fique apenas centrada em explicações gramaticais, é importante ,,urr.irs dúvidas, e novos desafios foram aparecendo. Para poder auxiliar seus
que o professor apresente ao aprendiz a forrna (estrutura, gramática), o .rlr rrrrrs cle decidiu recomeçar o estudo sobre o ensino de
forma mais eficaz, ela
sentido (conceito) e o uso (função) de maneira equilibrada. 1.r,onês como LE e seu processo de aprendiz"gem. É árduo o caminho escolhi-
Diferentemente de Felipe, há alunos que não gostam de explicações ,l,, professora Ana, e ela apenas se encontra no meio de seu processo de
Pcla
gramaticais, outros que preferem descobrir como funciona a 1íngua por r I ( s('in-rento como professora de língua japonesa.
dedução. Se há aprendizes que são mais visuais, há outros que são mais
auditivos. Levar em consideração estas características individuais ao
planejar as aulas é um ponto primordial. Dessa maneira, o professor, BiblioSrafia
ao se dar contâ desta diversidade de características, poderá auxiliar cada (r ) ALÀ,rsroa FIr-rro, J. C. P. Linguística dplicada, ensino de Línguas e
aprendiz no seu processo de aprendrzagem. comunicação. Campinas, Pontes Editores e Artelíngu a, 2oo5.
,.,r Cannrr, M. "From communicative competence to communicative
4.1.7. Resumo language pedagogy". In: Rrcnenos,J. C. 8{ Sculuor R.W.' (eds.).
l,anguage and communicatíon. New York, Longman, 1983.
Quando Felipe começou seus estudos de r.1, a professora Âna teve de ( t) CaNar,r, M. & Swarrs, M. "Theoretical bases of communicative
fazer ajustes no seu modo de ensinar de até então. Mudou o livro didá- approaches to second language teaching and testing". Applied
tico, eiaborou atividades que desenvolvem a competência comunicati- Linguistics, rG), pp. r'47, tg9o.
va, fez Felipe estudar a t-1 junto com seu amigo Kenji, como também (,t) Dor, E.T. "O ensino de japonês no Brasil como língua de
pesquisou a respeito das paltículas para poder responder às questões irnigração". Estudos Linguísticos xxxv, pp. 66-75, zoo6.
gramaticais. Foi uma sucessão de tentativas e erros. Mas, se a professora (,;) Gass, S. & SprrNrpn, L. "Input, interaction and output".ln'- Second
Ana conseguiu realizar mudanças na sua maneira de ensinar, ao refletir language acquisition: an introductory course. Mahwah, Lawrence
constantemente sobre isso, foi porque ela foi capaz de mudar , de for- Ilrlbaum, 2oor, pp. z5g-3o9.
ma flexível, suas crenças, seu modo de pensar. O processo de ensino e ((r) KnasurN, S. Principles andpractice in secondLanguage acquisition-
aprendizagem é algo que se transforma conforme as características do Oxford, Pergamon, 1982.
L34 4.1. Fonnas do cnsin0 em uma sala de aulâ Ayako Akaminr: 135
0) LaRssN-FnpEMAN, D. Techniques and principles inlanguage teaching.
Oxford, Oxford University Press, zoo3.
(8) LoNc, M. H. Native speaker/non-native speaker conversation and
the negotiation of comprehensible input. Applied Linguistics, v. 4,
n.z, 1983, pp. rz6-r4t
(s) LoNc, M. H. & RonrNsoN, P. "Focus on form: theory, research and
practice". In: Doucnr, C. & Wrr-uaNs,J. Focus onforminclassroom 4.2. Erros
s ec ond l"angu age ac qui sition. C ambridge, C ambridge Un iversity
Pontes Editores, zoo5. ,rlrlr:ndizes. Falamos em erros como se fossem uma coisa única mas, rla
vclclade, há vários tipos deles. A pesquisa dos tipos e causas dos crros
tkrs aprendizes é chamada de "análise de erros".
Vár:ios pesquisadores vêm analisando esses erros há muito tempo.
( irrrtlcr (1967) pensou neles dividindo-os em "erro" (error) e "equívoco"
um erro é algo que ocorre repetidamente. Por
{rrri.slake). Segundo ele,
cxcrnplo, se um aprendiz sempre diz: "Ja, ashita made" (tradução literal
rlt' "até amanhã") em vez de dizer "Ja, matd ashita." (forma correta dc
tlizcr"'até amanhã"), isto ê considerado um erro. Em outras palavras, (:
ilrtc|pretado como tal porque o aprendtz sempre utlliza a expressão irl
( ( )r'rcta achando que está correta.
outro 1ado, consideremos o caso de uma pessoa que sabe distin-
I)r>r
yi r i r o Lrso, por exemplo, dos verbos "hajimaru" (começar - verbo intran-
r
Tanaka: Ah, mado ga... shimete inaindesune. (Ah, a janela (não está)... r rrr.rl I )c quem você ganhou?)
(ele) não fechou, né?)
,\1rlcr-rdiz: "xHaha gmoraimashita." (A minha mãc gartlrott.)
Maria: Sô, Joze-san ga mado wo shimete inaindesu. (É, o sr. José não fe- l'r'rrÍêssor: "Ah, okâsannoburausulTano?" (Ah, a blusa ('tlrl stt.l rrr,tt'i)
chou a janela.) Alrrcrrdiz: "Iie, watashi no desu." (Não, é minha.)
Neste caso, Tanaka queria dizer "Mado ga shimatte inai" (A janela não tltha nimordimashita" 1çur6ei da minha mãe.) cra () qr.r(' rr irl)r('rr
está fechada.). Mas como começou a frase dizendo "Mado ga...", a frase ,1r., tltrcria dizer na realidade, mas no lugar da partícLlla
"lti", rt,',tlrott
acabou ficando gramaticalmente incorreta. Partindo-se do pressuposto ,r.,,rrr.lo a partícula'ga". Se ele percebesse e corrigisse ar Íl'asc llrt ltol rt,
de que ele é japonês e é óbvio que saberia discernir o uso de "... ga shima-
r.,r, scria considerado um "equívoco". Porém, se ele sempÍ'c Llsa gil
ru" (fechar - verbo intransitivo) e "...wo shimeru" (fechar - verbo transiti- ,r) n)vós de "ni", isso seria considerado um "erro". Dessa Íirrnlat, atl st'
vo direto), o exemplo acima seria o de um "equívoco". rt.,rlizar uma análise dos erros que os aprendizes cometem, ó diflcil
, Lrssi Íicá-los categoricamente.
Caso z: Erro (utilizar uma forma incorreta pensando que está correta)
Maria: "Moshi moshi, ah, sakki, denwa ga ochite shimatta node, hanashi
ga tochi ni natte shimatta no ne. Sumimasen!" (41ô, ah, agorahâ pouco, o 4.2-2. Tipos de erros
teleÍbne (a linha) caiu e a conversa ficou pela metade, né?) lrolrlc os tipos de erros, Richards (rgZr) diz que há os interlinguais e os
Tanaka: "??? Ah, juwaki no hô wa, daijôbu na no? Koshô
sô desu ka. De, rrrr lrrlinguais. Quando a língua materna do aprendiz influencia sua Pr()-
shindkattd nol" (Ah, é mesmo? E o seu telefone, tudo bem? Nâo que- ,lrrt;iro na língua-alvo, pode-se dizer que é um caso de erro interlingr-rll.
brou?)
lr t lnrrado também de interferência, e é o que ocorre no caso 2, nlcll
Maria: "Ee, daijôbu desu yo. Daaatte, mondai wa juwalei dewa nakute, , r,rrlrclo anteriormente. Abaixo, Veremos alguns exemplos em qtlc s('
denwasen datta kara ne. Wakaru?" (Sim, tudo bem. Afinal, o problema
1,, r't'cbe a interferência da língua portuguesa.
não era o telefone mas a linhal Entende?)
Tanaka: "???"
lJtrsu o tsukamu. (Basu ni noru. Subir no/pegar o ônibus.)
4.2. Frros
L4ayttmi I rlnrr lko Yrrslrik;rw;r
cimellto da língua estrangci.ir/scgurrcra rírgr-ra cometc.rd, crros, e qLrc ,.,rrrscgr-rindo dar a resposta colrctit -. cstc ó Lrm ponto quc rrcrccc r-rri
estes erros são provas de que eles estão progredindo na ,i;rtkr. L)cpendendo das circunstânciers, é mclhor que o profi:ssor clcsignc
aquisição desta
língua. Afirma ainda que, no processo de aquisição de uma língua ()s pâres de acordo com o nível dejaponês dos aprendizes.
es_
trangeira, cometer erros é algo inevitável. A última maneira é a forma mais utilizada para se corrigir qucsrócs
Este modo de pensar se difundiu, mas em um momento entre rlt'provas e tarefas de casa. como todos os aprendizes participam cll pr.o
as dé-
cadas de r98o e rggo, a importância da análise de erros foi questionada, t t'sso, é possível que todos pensem juntos a respeito das dúvidas clLrc sLlr.
justamente por se posicionar favoravelmente à produção giram, ao mesmo tempo em que o professor também consegue vcrificar.
de erros por
parte dos aprendizes. Ellis (1996), porém, defende sua utiridade ( )s pontos fracos, o
e im- que cada um não entendeu. sob este ponto de vistrr, (,
portância. Ele enfatiza que, com os dados obtidos de uma pesquisa
cujo lrossível afirmar que esta maneira de corrigir os erros seja muito eÍicaz.
objeto de estudo é, por exemplo, um determinado item gramatical, como foi mencionado anteriormente, hoje em dia, os "erros , (.r)r g(.
é
possível classificar os erros cometidos pelos aprendizes e isso não são considerados algo ruim. A questão não é dividir cnr '(-()r.r.(.
é de gran-
de valia para o ensino de língua estrangeira. 'al,
t()" ou "incorreto" as frases que os aprendizes produzem rra língrrrr ,lv,.
vejamos, então' como a anárise de erros pocle ser trabarhada nas au- () que se considera hoje é que se elas estiverem próximirs i)s
rrlilizrrtl;rs
las de língua japonesa. gcralmente nessa língua , jâ estâ de bom tamanho.
Quanto às maneiras de se corrigir os erros, podemos citar as seguintes: os aprendizes sempre estão num processo de ap*lxirrrrrq.ri, tlir lirr
gr"ra-alvo. E, desse modo, por se encontrarem entre sua língrrir lll.rl(.r.n,r
r. o professor aponta o erro que o aprendiz cometeu e lhe ensina a for- .]ue é o ponto de partida e a língua-alvo, o ponto dc chcgutllr, () (lr(.i.
ma correta; produzido pelos aprendizes nesse processo é chamaclo clt. " irrrt,r.l írgt r,r".
z. o professor informa ao aprendiz que há erÍos e o faz procurar; Na interlíngua incluem-se os chamados "erros" proprianrt,rt. tlitrs,
3. o professor aponta o erro que o aprendiz cometeu e o faz corrigir; rrras é tida e tem sido pesquisada como uma língua peculiar. ckrs ir1.rr.r.rr
4' o profes sor faz com que os aprendizes corrijam entre si as redações, clizes, com regras próprias, que não existem nem na língr-ra ,rar(,r.r.r.,
as falas uns dos outros; ncm na língua-alvo.
5. o professor comenta em auia os erros em comum que vários aprendi por outro lado, ainda que o modo de pensar,
a nomenclatura mucJc,
zes cometeram e pede para que todos pensem sobre a resposta , que não muda é o papel do professor de orientar e auxiliar os apre.di-
correta.
zespaÍa que seujaponês contenha cada vez menos erros.
Dizem que a primeira maneira é a mais comumente utilizada, mas O próximo artigo ffatará, da interlíngua com mais detalhes.
como os aprendizes não participam do processo de correção dos
erros,
é possível que alguns deles não prestem atenção nisso e,
consequenre_ Bibliografia
mente, não é considerada uma forma muito efrcaz. Neste ponto,
as se-
gunda e terceira maneiras pedem a participação ativa dos aprendizes (r) Conosn. "The significance of learners'errors',. In: Rrcsenos,Jack
e,por esta razão, são consideradas as mais eficazes para a correção dos C. Error Analysis: perspectiyes on Second Language Acquisition. t. ed .
erros. Porém, no final, é necessário dar urnfeedback aos aprendizes Essex, Longman, rg74, p.19-54 (Originalmenre, foi publicado na
em
relação aos itens que foram detectados como erros. Na quarta reyista International Review of Applied Linguistics (rner), v. 5, no.
maneira, 4,
os aprendizes irão se corrigir mutuamente e, como estarão pp. t6r-r7o, 1967.)
prestando
atenção uns nos erros dos outros, espera-se que eles acumulem (z) Eurs, R. The study of secondlanguage acquisition. r. ed. Oxford,
conhe-
cimento' No entanto, o professor deve verificar se os aprendizes Oxford Univeisity Press, 1994. (Tradução em japonês: Dai nigengo
estão
4.2. Erros
Maytrrrri I rlnir lko Yoshikawir
shíttoku josetsu: gakushfisha gengo no kenkyi,L. Trad. de Tomoko
Kaneko. r. ed. Tóquio, Kenkyüsha, ryg6).
(:) Ic nrxewe, Yasuko. A diction ary ofJ ap ane s e Langu age le arner's er ro r s.
Tóquio, Bonjinsha, 1997.
(q) KoveNecr, Kaoru. Language acquisition theories for teachers of
Japanese.3Â Corporatíon, zoo4, pp. 54-56.
(s) MuKaI, Yfiki. Á inteflíngua dos aprendizes brasileiros delíngua 4.3. lnterlíngua
japonesa como LE, com enfoque no uso de partículas WA e GA. Tese de
doutorado - Unicamp. Campinas, zoog, pp. Í7-2r.
I LTIKO MATSUBARA MORALES
4.2. Erros
clas, sctldo rlnr Íi:trôtttcrro bcrrr rlirrirnico. Nas pt'stltrisas
atrra.is so[rr.r.rs
, ,,ilrr ) n(,,'rrso rlo.jlp«rnôs t'clo p«u-tr-rgLrôs, a 1r.ansÍôr.i'ncia rrcglrlrvrr
erros, plofêssores e pesquisado.cs.ão rcalizar.n julganrcntos i,rrr.rrs
a pâr.tir-(l(.
I r, rl ,lt ()(()l lcl'. () Íàt«r dc os-iapor-rcscs trchalc'n cliÍicil a t:onjugrrçrio
uma análise unilateral sobre eles, mas buscam compreenclcr fazcnclr rlos
perguntas diretas aos aprendizes e usam suas respostas como
'' tlr,:r tl{) })()r'tLlguês ocorrcr pol'qt-tc na língua jirponcsa nio cxistt, lr rnrr
formas clt.
entendimento dos erros. ' l.rrr,..t il.ts clc'sirtôncias verbais de acordo conr a pcss()a. I jrn corrtr.irpur-l irlrr,
4.3. lnterlíngua
mar muito cuidado. Por excmprkr, no.japor-rês, os acl.jctivos qlr.: cxpÍcs-
sam sensações como itai e kayui (estar com dor e estar com coceira, res-
pectivamente) assim como aqueles que expressam volição como hoshii
(estado de querer) possuem a restrição de uso, podendo ser usados ape-
nas para si próprio (eu). Adjetivos que expressam senrimentos como ka-
nashii e ureshii (estar triste e estar alegre, respectivamente), bem como
I
,i
, l r z r' l
t.rrrlrr.r'rri,
tt, t t í l- ü.t'tI jíI''t!: lt: lüüútL-c 1,' á l (Aquclc rrabal hucl rr.
l,ü t t) t- t'
4.11. lntr;rlínrtua
t1,11/\1\ft-;-Cl^lrl:l (Amc gt luLte,
quências), que são estranhas na língua alvo.
A estratégia de aprendizagem do item
komuua- (lhovcu e sní'ri corrsc
lrr.r..i.rlrica superior, mas pode ser usado cntre amigos, por scr unril (.x
aprendeu em diversas situações. Em outras palavras, ele está aplicando l)r('ssr'lo de informalidade. Se a expressão chegar aos ouvidos cio in1cr.
as hipóteses que ele mesmo formulou a partir do que aprendeu. O as- l,t rrt,r'.japonês, este poderá interpretar literalmente e pensar "Mas t'rr
,,r{ ) (lLrcro trazer nada...". O ideal é reformular para t- L"( itL- ,i( / r:
pecto que difere esse tipo de erro com o da generalizaçáo citada no item
l.
z é que o primeiro não se trata de um fenômeno universal, mas sim, "i I (Você não poderia fazer o favor de...?).
algo provocado pela formulação de hipótese individual de cada apren-
t) cpisódio que descreveremos a seguir ocorreu numa ccrtll cntr.('
r rslir cle emprego. Apesar de o candidato ter se formado enr l.,t'tnrs
diz, podendo, desta forma, variar de indivíduo para indivíduo. ,l,r
1,,rri's em um curso de nível superior, e terrealizado unr progr.anrir tlt,
Por exemplo, ao pedir para um aluno do nível intermediário ou
rrrtclcâmbio de um ano no Japão, este chegou cerca de trintrr nrinrrl,s
avançado escrever uma redação, há casos em que o texto produzido
,rr|irsiado para a entrevista. Ao entrar na sala ofegante , par-t'cirr r'()rrsitlt.
não corresponde à ideia por conta do uso de expressões prolixas, poden-
r,il (lue tudo estava perdido e deu um grande suspiro. Ao obst,r.v.rr',,
do dificultar as correções. Por elaborar o texto baseado em raciocínios
.slrrtk; do candidato, um dos entrevistadores perguntor.l st' t'slrrv.r lrrrlr r
complexos, o aprendiz acaba por produzir expressões muito difíceis de
lr.r, c o candidato lhe respondeu: "Estou muito cansacl,". I)t:p,rs, r.lr.
serem entendidas. , ()r))plementou: "por causa de um dilúvio, todos os semhíirrrrs (,slnv,un
Tais erros revelam a peculiaridade de cada aluno, por isso, é de {lu('l)r'ados". os moradores de são Paulo sabem que a cidrdr.sr»ll.t. rrrlt.rr
muita utilidade o professor atentar para as estratégias de aprendiza- ',,r virriação climática ao ponto de afirmar que em um sír cliir prtlt. st. vt.r
gem não somente na produção textual escrita, como também na con- .r:i (lLlatro estações do ano. Dependendo do horário, podc cair.rrr»ir rt.rrr
versação. Conhecendo algumas estratégias que o aprendiz adota com
l'('\lirde repentina e a cidade ficar totalmente congesriorrad:r. l': rrrrr,r si
frcquência, há como intervir no momento certo c orientá-lo de manei- t r r.rçrio compreensível para o morádor paulistano, mas há de scr. lcrrr [rr.rr r.
ra apropriada. t rt' tais atitudes e palavras não causaram boa impressão.
lr
() atraso nos compromissós não deve ser visto como algo pr.rsitiv«r
4.3.3. Erro de natureza pragmática ,'rrr rrcnhum país, mas creio que os brasileiros tendem normalmentc
.r st'.justificar logo no início sobre o motivo do atraso. Apesar de nessa
Os erros podem ser divididos em grandes grupos como os gramaticais. lrstiÍicativa poder estar implíciro o senrimenro de pedido de desculpas
semânticos e pragmáticos. Os erros mais fáceis de serem percebidos pe- ,r, interlocutor, para os japoneses pode parecer uma explicação pouc()
los falantes da língua-materna, mesmo que não sejam professores, se- r,rrvincente, correndo-se o risco de causar incômodo ao interlocutor.
riam os de natureza gramatical e semântica. Os erros gramaticais cor- N,r ct.rltura japonesa, espera-se que quem está atrasado peça apenas dcs-
respondem àqueles relacionados às flexões dos verbos, ao uso de parti r r rlpas para expressar consideração pelo incômodo causado.
culas, entre outros. O erro semântico também é facilmente identificado, lir"ros como esses relacionados ao emprego da língua, isto é, os crr.s
pois a palavra não {az sentido no curso da conversação. Entretanto, os 1'r',rgnráticos, possuem uma estreita ligação com as diferenças nos r11()
erros pragmáticos, ou seja, os emos relacionados ao emprego das pala- ,l.krs socioculturais (expectativa) e devem ser usadas formas lingr,rísti
vras, são mais complexos pois. mesmo percebendo haver alguma coisa (,rs irdcquadas, já que somente o conhecimento gramatical não é sr-ríi
( i(',tc para o êxito da boa comunicação. Esse tipo de erro não é
estranha, é difícil saber como e onde realizar a correção. visto
r lu{rls.Wr ''-i1rr..ryEt'
Bibliografia
4.4. Erros de risco
G)
(z)
FuNoeçÃoJapÃo snd
em: <http://www.fi
SÃo paur.o. MeeruMagajin,no.3z. Disponíve1
sp.org .br I lingta / arquivo_pt.htm>
SrLrNruR, L. (tg7z). "Interlanguage,,. lRaL, vol.lo, no. pp. 2ag-4Í.
I JÔJI IKEZU
3,
*
knô ame ga.fo;ta dakara.
-+ Kinô amega imashita. (Ontem, choveu, por iseo,
faltei.)
L2 4,3. lntertÍngua
de comportamento. Esses são perigos«rs, pois p<tdem causar incômodo a
,lrlcrt'rrlt's, ();lccnto rccai cnr sílabas clistintas, dcpcntlcntlo rlrr
or-r sc'ja,
outrem, ou podem até mesrno destruir um relaci<tnamento pessoal por r,1'r,r{):\ tlrral o fàlante pertença. um exemplo paradigmirtico clisso c rr
denotarem grosseria. Nesse capítulo, colocarei em foco esse tipo de er, ,lrl.r .rrçr no rnodo de falar entre os nativos de osaka e os dc 'liirluio l'i
ros que pode úazer fatores de risco. 1,,,.,sivr'1, n() cntanto, que a palavrakaki, que pode ser a Íiuta carltr i otr
Há aproximadamente dez anos, graças à cooperação de uma orga-
t, rrrrr riPo rlc ostra, provoque algum mal-entendido porque ambos pt'r.
nízação sem fins lucrativos de Tóquio, tive a oportunidade de observar, r.r( ('r) rr() fflesmo campo lexical, há muitas pessoas que gostanl clcssirs
com fins de pesquisa, um diálogo entre um aprendiz e uma professora, r1',rr,r|iirs c são alimentos considerados saudáveis. outros parcls rlc' pir
que se travava em uma sala de aula do curso de japonês. Reproduzo l,rr r,rs rlrrt'oÍêrecem o mesmo risco provocado por o.jisan t ojii.s,rrr si,:
abaixo parte desse diálogo. ,,/,,rrrur (tia) I ob(tdsan (avo) ebyôin (hospital) I btyôin (salã«r clt'bt,k.z;r).
'ir', ;r.r'cxemplo, interpelarmos por obasan uma senho.a clr. lp'rxirrr,r
Aprendiz: Senshú, kuni kara ojísan ga leimashita. (Meu tio chegou na ,l,rrrrt'rrtc cinquenta anos que seja muito sensível, ela poclc rrr'hru. t1ur, Íirr
semana passada.) , lr,rrrrrrt]ir de obaasan, e ficar extremamente magoada. l)t.nsrrrrrlt) n('ss,r
Professora: Ara sô? Taihen datta deshô? Ojiisan , oikutsu nano? (Ah, é? ;,, ,ssilriIiclade, certamente, esse tipo de eÍÍo ÍÍaz nruitt>s r.ist-os.
Deve ter sido uma viagem cansativa para ele, não é mesmo? euantos
anos seu avô tem?)
4.4.2. Problemas sociolinguísticos
Aprendiz: 4z-sai desu. (42 anos.)
Professora: Ara, sore ja "QJ[§!L" (avõi) ja nãkute, "1jj§!A" (tio) ne. (Ah, t.)r,ris são, afinal, os erros que oferecem riscos? Os ntais
[x.r.(.(.1)t ivt.rs s.r,,
então não é "glliSS!". é "ojisan". cerro?) ,"',l, Slamática e de pronúncia. aqueles provocad.s (lr.riur(l(,,rl1,,rrr.rrr r,.
Aprendiz'. Hai. qi;gn (ele queria dizer "tio") desz. (Sim, ojisan .)
( nqilrr:l ao falar ou ao ouvir, assim como os usos ecluivot'utlos rlr. lor.rrr.r:
rlc lrrltârrento. Por outro lado, eu acho que é uma Íàltrr clt.gr.irrrtlt.z,r ,lr.
Perceberam qual foi o mal entendimento que houve entre os dois? O , ,rrrçi1{r alguém ficar irritado com etros cometidos por cstl.ang('ir..,s. ( it.
aprendiz queria dizer que era seu tio (ojisan) que rinha vindo ao Japão, r.rlrncnte, não são erros que possain ser considerados pcrigosos. ( )s p1'r i
e a professcrra entendeu que tinha sido seu avõ (ojiisan). O que causou r,( |s( )s, ao contrário, sâo justaryente aqueles difíceis de
se rent not arlos.
esta confusão foi o acento da palavra ojisan, que deveria ser plano, mas o Quando eu tinha acabailo de começar a dar aula de japonôs, r'cpr.r.
aprendiz pronunciou a sílaba-li mais forte, fazetdo com que a professo- .rr.li rrm aluno que não tjnha trazido a lição de casa. "Kinô wa arubdíltt
ra entendesse que este som fosse prolongado. Nesse caso, se na sílaba ji .\',,t isogashikattakdra, dekimasen deshita" (Ontem eu estava muito artarc
recai um acento ascendente, e na sílaba seguinte um descendente, mes- Í,rtl, c<rm o bico que estou fazendo, por isso não conseguifazer a Iição
mo que este som não seja prolongado, os japoneses o reconhecem como ,lt' r'irsa), foi sua justificativa. "o seu bico não tem nada a ver com a lição
tal. No caso do diálogo acima, a professora percebeu o erro do aprendiz rlt'r'rrsâ", repreendi-o. Em outra ocasião, certo aluno me disse: "Byt)ki
porque perguntou a idade de seu tio, mas, aparentemente, não conse- ,ltrtttndesu kara, shusseki ni shite kudasai yo" (Eu estava doente, por isso
guiu detectar o mecanismo do erro, o porquê do mal-entendido. ,,r() rl1c dê falta, vai!). Fiquei muito irritado com o arrevimenro: "etrc
Dificilmente erros de acento causam grandes problemas de comuni- ,,r'a dc pau!". Se bem que, seja qual fosse a justificativa não iria abora'
cação. Se, por exemplo, num refbitório pedirmos urnháshi (pauzinhos ,r srur Íàlta.
para comer), ninguém rrará um hashí (ponte) porque a palavra foi pro- I Iir algum tempo, assisti a um comercial de televisão de um dctcr.
nunciada incorretamente. De fato, não se têm notícias de tais mal-en- rrrirrado curso de.inglês noJapão, anunciando vagas para proÍi:ssor.cs:
tendidos, porque uma mesma palavra pode ser pronunciada de modos "t\ttrtltt wa eigo ga dekimasuka. Kodomo
ga suki desuka. Nara, dôshite httjimc
L54
mds(nk,].." (Vclcô sabe inglôs) (lOst;r rlt't'r'iailç;rs? []rrtr-ro, p()r.rlLlc nã«r,.:O-
meça a dar aulas?). Isscl era clito por um artista jerporrôs e soava arrogallte
e impositivo. "Se eu sei falar inglês e se cu gosto de crianças,
que tenho que ser professor de inglês?", irrirava-me.
Esses fatos são insignificantes se vistos isoladamente. Mas se persis-
tirem podem nos impregnar de uma desagradável sensação. De início,
causa-nos desconforto, mas irão são poucos os casos em que, no final, fa-
por que ó l
:l
I
i
tttttit. scttlclhatltc à cl«r.japtirtôs, c h1t e xprcssõcs ccluivalcr.rtcs ir /rrrr-tr ç
I',r'rr tla'cxplicaç:ões s,brc algo, parcce que a.xprcssão mais
,,),/('.\lrlir,'rl (p.r essa razão), que é justamente a.iunção clas
r.s. lir, japorrês, esta expressão também tem o mesmo uso, nlas
BibliograÍia
Bibliografia
1?t
Braine (.zoro 3-4), por sua vcz, r'crrctc à ôrÍase clada pcro Ii.guisra
l)cp<limento z
chomsky ao fato de o falante nativo ser dotado de certa autoridade em
relação à sua língua materna e, pois, ser um inÍbrmante ideal para
ques,
tões relacionadas à gramárica. E cita casos reais que ocor.rem no Na infância, frequentei uma escola de japonês. A profêssora só Íirlav:r t,rr
ensino
i:r1r111-1i5. os alunos não entendiam quase nada do que ela dizia. Mesnr. rrssirr.
de língua inglesa em alguns países do Leste Asiático, onde algumas
es- rrirguém fazia perguntas. copiávamos na íntegra o livro didhtico e Íàzíarrr.s
colas preferem contratar falantes nativos sem experiência docente,
no txcrcícios dekanji inúmeras vezes. Graças a isso, eu acho que mcr.«rrizt,i ,s
lugar de professores locais, não nativos, mesmo que estes possuam
cer- À'airli que aparecem até o
nível z da prova de proficiência, aproximaclrnr(.rr(,.
tificação para o ensino da língua inglesa.
Porém, não me lembro de ter praticado a conversação cm srlr rl. arrlu.
Em que aspectos, então, o professor não nativo sobressai? Será que
o A professora estava sempre de costas para nós, escreventli .s cxcr.cicirs rr,
fato de ter aprendido certo idioma como segunda ríngua ou ríngua
es-
I qr-radro negro. Qr,rando tínhamos dúvidas, perguntávamos ir. c.lt.gu (). (-()r)
E
trangeira não conta a favor? sultávamos o dicionário. Às vezes, ao falar, e1a misturavu algr"rnras
I)irlirvr.irs
cnr portuguêsr mas o português dela era estranho, c rrírs rrr'hivru)l()s nrulr,l
#t
5.2.2.0s pontos fracos de um professor nativo graça disso.
fr
14'
Havia também aulas de origami (dobraduràs enr papcl), tlt,st.rrlro r
Primeiramente, façamos algumas reflexões a respeito dos depoimentos I to. sinceramente falando, eu achava isso muito.nrais r,1ivt.r.tiil, tl. tlrrr
abaixo, feitos por dois estudantes de língua japonesa. japonês.
5.2.3. 0s méritos dos professores nativos e não nativos Como é possível perceber, a diferença crucial entre o professor na
tivo e o não nativo reside no fato de como eles aprenderam a língua ja-
Primeiramente, é necessário definir estes dois perfis distintos, antes de
serem feitos quaisquer tipos de comparações e discussões a respeito. [)onesa. O professor nativo adquiriu o japonês de modo inconsciente ,
como língua materna, enquanto que o não nativo o adquiriu de modo
Neste texto, definimos como professor não nativo aquele que tem o por_
('onsciente, como língua estrangeira. Ou seja, o grande diferencial en-
tuguês como língua materna (primeira língua). ourra premissa é que ele
contra-se no fato de o professor ter passado ou não pela experiência de
tenha um nível de proficiência em japonês mais avançado que os arunos
rrprendizado da língua-alvo.
para os quais ensina. Neste perfil também se encaixam os professores
Não há como discutir a supremacia do nativo ou do não nativo, sc
bilíngues consecutivos. os bilíngues simultâneos, por sua yez, são aqui
cstivermos tratando de professores que não tenham passado pelo prcl-
considerados professores nativos. Estão fora desta discussão os professo-
cesso de estudos do uso e da gramática da língua japonesa. No entanro,
res cuja primeira 1íngua era o japonês, mas que acabaram por aprimorar
sc estivermos falando de pessoas que igualmente se preparam, cstudrrnt
l)r'nsar no que se deve ensinar e como realizar isso são tarefas do edu-
.. rrrl«rr. Contudo, como vimos no capítulo 4, o conteúdo e o método de
vontade de aprender, efazê-Lo se sentir assim tambémfazparte do pa- ',, lrrlnra uma rede, a quem fazer o convite, ou seja, nrnr irrr,rgirr.lnr l)r)r
pel do professor. , ,rr,lt' clcvem começar. Nessas situações, há como pedir coopr'r'ir\.r( ) ,r ( )r
Sob esse ponto de vista, ou seja, do ensino centrado no aluno, educar l,,rr)s ('omo a FundaçãoJapão e a Agência de Cooperaçiro lrrtt'r'rr,rr'rorr,rl
não significa formar o aluno atrayés do ensino, mas auxiliar, dar apoio ,1, r l,rpãcl [rce), que têm como objetivo dar suporte a escolrrs t, pl olt.ssr r
ao seu aprendizado. Parece ser fácil dizer "dar apoio", mas é possível r , s. lissas organizações prestam auxílio em diversas regiõt's ckr rrrrrrrrL,,
pensar sobre várias coisas a respeito disso. Por exemplo, orientar os alu- rrrrlrrrlsionando o ensino da q, seja através do envio de cspt'cialistls ()u
nos diretamente em sala de aula, aconselháios a respeito de formas de r', rlrrrrtários a vários lugares para cooperar com grupos dc cstudos, sr. j.r
aprendizagem são ações de apoio, assim como explicar-lhes o uso efi- 1,,,r rucicr darealtzaçáo de eventos como concursos de oratória, or-r, rrirr
ciente da biblioteca e da inrerner. Além disso, promover oportunida- ,1.r, t onr auxílio financeiro para pesquisas e doações de livros.
des de contato com a língua, como sessões com visitantes para as quais Antcs de pleitear algum desses auxílios, porém, é preciso atenrar a
se convidam japoneses a fim de conversarem com os alunos em sala r n ) .rspecto. Os que são oferecidos pelas instituições públicas japonesas,
de aula, orientação (orienteering), atividade em que, com um mapa em ( ()nl() il FundaçãoJapão e aJrcA, almejam que o professor alcance sua in-
mãos, os alunos devem cumprir algumas "missões" em bairros onde há ,lr';,t'rrclôncia como profissional, ou seja, o sLlporte é oferecido até que o
concentração de nipônicos,homestay em lar de família japonesa. Aplicar r ( )rl)() docente local seja capaz de caminhar com suas próprias pernas e,
provas de proficiência, organizar concursos de oratória, de redação e de l)( )r'liurto, é provisório. Caso a escola persista em continuar com a reali-
karaokê também são, certamente, ações de apoio, visto que oferecem :,rt,,io dc eventos, com sua gestão totalmente dependente dos professorcs
oportunidades para os alunos mostrarem os frutos de seus estudos. , rrv irrdos doJapão, dos materiais doados, do subsídio, cedo ou tarde chc-
Desse modo, quando se fala em apoio à aprendizagem, percebe-se r',rr',i unr dia que não será mais possível prosseguir com a preparaç:ão dc
que o que é esperado do professor nos dias de hoje não é que ele, frente rrrrr rrnrbiente de excelência para os aprendizes. Para que esses ajustes n()
a frente com os aprendizes, simplesmente ministre boas aulas, mas que ,rrrrlrit'ritc de aprendizagem de japonês sejam feitos e possam se mantcl",
atente para o ambiente que envolve estes aprendizes e o harmonize. Ou I rlt'«'xtfcrlrâ importância que cada um dos professores de I-1 tenha orgu-
trrr':r irtó cntão desconhecida é algo divertido, que dá muito pr.azcr. Iror.
5.3.3. Cada qualcomo um membro da sociedade ,ut r'() lâdo, proporcionar aos aprendizes a alegria de, por excmplcl, cnrl.ilr.
( nr ('()ntato direto com o universo dos anime
e mangás, aprendizcs cssr,s
A sociedade é constituída por pessoas de diversas profissões. Tende-se (1il('rrtó então dependiam de dublagens e traduÇões,
a é também Lrnrrl (-()n
pensar que a formação das futuras gerações seja assunto de órgãos t r rlrtrição que o professor de
liga- ry pode fazer à sociedade.
dos à educação ou de políticos, os quais planejam e definem as Ii de minha convicção que o ensino de r-; pocle contribuir nruit. rrr;r is
diretrizes
gerais. Mas é ouvindo a opinião da sociedade, ou seja, dos vários
profis- l),r'il a sociedade. cabe à próxima geração pensar a respeito clisso. Crs
sionais que a compõem, que as pessoas ligadas a esses órgãos julgarão t.r'ia de terminar este texto, desejando que todos voc:ês sc crrrl.rt,n[r.rrr
o que é necessário, verificarão quais são os projetos dos políticos, rro tnsino da língua japonesa sentindo orgulho do que Iirzt.rr.
e defi-
nirão quem deles deve ser o executante. E quem escolhe esses políticos
são esses diversos profissionais, membros da sociedade. sem
a opinião
dos profissionais na ativa não nascem boas políticas, muito menos
Bibliografia
po-
dem ser executadas- (l) NInoNco Kvôlru ssrsaru Mesutae puneN Kgrurvirxnr. Ní/r,rrr,rir,
Ao ouvir o que várias pessoas me contam por este Brasil, aparente- kyôiku de tsukuru shakai'. watdshitachino mitori zl (A s.t'it.tl,rrlr. ,1rr.
mente ainda há muitos que não consideram o trabalho do professor construímos pelo ensino de lingua japonesa: () ,()ss() (.s(lr(.rr.r)
de
U uma profissão: acham que qualquerjaponês ou descendente que tenha Tóquio, Koko shuppan, 2oro.
adquirido a ry de forma natural possa dar conta do recado. por outro rado, t ).) Snruazu, Taku. G engo s eisaku to shite,. nihongo no u k.y ri,,',r l /r r,
.l r
mesmo entre as pessoas que ensinam a11,hâ aquelas que não
se acham atta ka: kokusai bunka kouryú no shien (como oco..(' u rr rl i íi sirt,r
nem no direrto de se considerarem profissionais, pois prestam serviços da língua japonesa como uma política linguística: a .rrrr-gt'rrr tLr
como voluntários. Talvez estejam sendo modestas, mas quem daria intercâmbio cultural inrernacional). Tóquio, Hitsuji sh,bô, z,r,.
ouvi-
dos a pessoas que assim se sentem? somente o profissional
consciente de
seu trabalho é quem pode oferecer um bom ambiente de aprendizado
aos
aprendizes, quem pode sinalizar à sociedade o que eles necessitam.
Imaginemos que, se em certa comunidade Íbr criado um curso
de ry e
aí se formarem aprendizes, essa comunidade passará a
ser um rugar onde
se fala esse idioma, ainda que aí não vivam japoneses
ou nikkeis. Como
mencionei no capítulo r, aprender uma língua é uma maneira
de ampriar
nosso mundo. Ao mundo particular do aprendiz soma-se
o universo da
Atualmente, com a difusão da internet, é possível acessar um
r-"J.
vastís-
simo universo relacionado à ry, de toda parte do mundo. por meio
das
pessoas que aprendem o japonês, informações a respeito
desse universo,
de sua cultura desaguarão em tal comunidade, enriquecendo_a.
E, certa-
mente, haverá pessoas que aproveitarão essas informações para
fazer ne-
gócios, outras que as usarão para pesquisas, estudos, como, por exemplo,