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R$ 15

P. 44 COMO O MÉXICO CHEGOU AO


PIOR NÍVEL DE VIOLÊNCIA
DOSSIÊ
PELE
EDIÇÃO

318

P. 52 A DOR E A DELÍCIA DE
PASSAR UM ANO NO ESPAÇO 30%

P. 64 POR QUE A PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL, UM EM CADA


TRÊS TUMORES É DE EDIÇÃO DE
DEIXA OS ALUNOS DOENTES CÂNCER DE PELE P. 25 IPAD

A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO OS FILMES EM 360 GRAUS SÃO O FUTURO DO CINEMA? P. 07 JAN. 18

VOCÊ JÁ CONSEGUIU

AGORA VAI ENCONTRAR

NOS APPS.

NA ERA PÓS-TINDER, NOVOS SERVIÇOS PROMETEM MAIS ROMANCE E MENOS CILADA.


ELES SÃO UM BOM ATALHO, MAS... CALMA, NÃO ENTREGAM A FÓRMULA DO AMOR

P. 31
MUITO MAIS QUE
UMA BANCA EM UM
ÚNICO APP
GLOBO MAIS, CONECTANDO
VOCÊ ÀS REDAÇÕES

EDIÇÕES
DESTAQUES Todas as edições
Os conteúdos mais das principais
relevantes para você, publicações
atualizados 24 horas por do Brasil
dia, 7 dias por semana

FÁCIL DE NAVEGAR
Conteúdo organizado
por publicações, temas
e colunistas MELHOR EXPERIÊNCIA
Leitura adaptada à sua
tela. Você também pode
ler no formato clássico
de revista ou jornal

AS 16 MELHORES PUBLICAÇÕES DO BRASIL EM UM SÓ LUGAR


DA AU TO R A B E ST-S E L L E R C O M M A I S D E 2 M I L H Õ E S D E L I V R O S V E N D I D O S

Um livro obrigatório
para os dias de hoje

Em Mentes ansiosas ,
a psiquiatra Ana Beatriz
Barbosa Silva aborda as
diferentes manifestações
da ansiedade.
Através de sua linguagem
objetiva e acessível,
a autora analisa as causas,
desdobramentos e possíveis
formas de lidar com esse
mal que afeta milhares de
pessoas no mundo.

NAS LIVRARIAS
E EM E-BOOK
PRIMEIRAMENTE
WWW.GALILEU.GLOBO.COM
QUEM FEZ A CAPA

ILUSTRAÇÃO Matheus Muniz

POR GIULIANA DE TOLEDO #318 01.2018

COLABORADORES DO MÊS

Gustavo
vários) dos últimos cinco anos e já Poloni
usou algum app de relacionamento JORNALISTA
vai se ver ali. Vai rir, vai ficar com
pena de si mesmo, talvez até chore. ONDE NASCEU E ONDE MORA
Santo André (SP) e Cidade do México
Aziz Ansari, criador, roteirista, dire-
tor e ator de Master of None, faz um HISTÓRICO
Depois de mais de 15 anos em redações,
retrato sem pudores da experiência alguns inclusive como diretor de
de se expor ao sair pela primeira redação da GALILEU, vive atualmente
vez com alguém desconhecido. como freelancer no México, fazendo o
que mais gosta: apurar e escrever.
Seu mote para começar uma
conversa no aplicativo é: “Indo ao O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Marcas da violência (p. 44)
Whole Foods [famoso supermercado
de comida natural dos EUA], está
precisando de alguma coisa de lá?”.
Pode parecer estranho, mas o pro-
E S TÁ tagonista, Dev, descobre nessa frase Henrique
PRECISANDO um jeito de se diferenciar para as Campeã
garotas em um mar de “Oi, tudo ILUSTRADOR
DE ALGUMA bem?” ou equivalentes. Mas e quan-
ONDE NASCEU E ONDE MORA
C O I S A? do não temos a frase criativa? Ou
São Paulo
pior, quando a tirada inusitada fun-
ciona online, mas o interesse morre HISTÓRICO
Formado na Belas Artes, na capital
com o que encontramos ao vivo? paulista , hoje é designer freelancer.
Para além desse capítulo da sé- Criou o projeto 10CONSTRUIR,
rie, Aziz Ansari dissecou as relações um livro-objeto ilustrado sobre
questões de gênero para crianças.

!
contemporâneas no livro Romance
Moderno, uma das inspirações da O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Sempre que me Pós-graduação da depressão (p. 64)
repórter Isabela Moreira para fazer
S pedem uma indica- a reportagem de capa desta edição
ALÔ,
BILIONÁRIOS
ção de série, digo: — um grande exercício de ouvir com Você já
Master of None . empatia e atenção, coisa em que a mandou um
Até já dei essa dica terraplanista
Isa, assim como Aziz, é mestre.
aqui na GALILEU, no Dossiê Séries,
para o espaço Juliana
O ano começa, e é inevitável hoje? Não? Passos
publicado na edição de setembro. querermos fazer de 2018 uma nova Então assine já
Episódios geralmente curtos, rotei- a petição que a JORNALISTA
chance para sermos mais felizes no
GALILEU criou
ros inteligentes, personagens que amor. Talvez Dev esteja certo. Não ONDE NASCEU E ONDE MORA
para convencer
vemos como amigos nossos — ou, tanto pela parte do supermercado, os maiores Florianópolis e Rio de Janeiro
mais, como nós mesmos. empresários do
mas por perguntar “está precisando HISTÓRICO
ramo espacial
É aí que está todo o problema de alguma coisa?”. Doar-se, e não Especialista em jornalismo científico
a levar os
— e toda a graça — do episódio pela Unicamp, cursa mestrado em
só pedir, pode ser um bom começo. negacionistas
Divulgação Científica na Fiocruz.
Primeiro Encontro, o quarto da para verem a
Já colaborou com veículos como
Terra com os
segunda temporada, disponível na ComCiência, UOL, Vice e Piauí.
próprios olhos:
Netflix. Todo mundo que esteve Giuliana de Toledo — Editora-chefe glo.bo/2AdbcjD O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
solteiro em algum momento (ou gtoledo@edglobo.com.br Pós-graduação da depressão (p. 64)
COMPOSIÇAO
JANEIRO DE 2018

ANTIMATÉRIA MATÉRIAS

P.17 COLUNA
CONEXÕES CÓSMICAS

P.19 LUNETA
À CAÇA DE MATÉRIA ESCURA

P.21 TECHTUDO
S.O.S. CELULAR AFOGADO

P.31 POXA, CRUSH: COMO


ACHAR O AMOR HOJE?

P.07 FILMES EM 360° SÃO P.44 O ANO MAIS VIOLENTO DA


O FUTURO DO CINEMA? HISTÓRIA DO MÉXICO

P.12 SUPERCOMPUTADOR P.52 ENTREVISTA


BRASILEIRO NA PINDAÍBA SCOTT KELLY
P.22 QUEREMOS ACREDITAR NO
RETORNO DE ARQUIVO X

P.24 MAPA MENTAL


CLIMA DE VERÃO

P.13 VIDA LONGA E PRÓSPERA P.58 ENSAIO FOTOGRÁFICO


AOS POLÍTICOS CIENTISTAS CICATRIZES INDUSTRIAIS

P.64 AS DESVENTURAS DA
PÓS-GRADUAÇÃO

P.71 COLUNA
TUBO DE ENSAIOS
HÁ ESPERANÇA
Reunimos
dicas para
P.72 PANORÂMICA
você aprender

P.25 DOSSIÊ
a salvar seu
P.14 CARTOGRÁFICO aparelho após
ANIMAIS EM EXTINÇÃO A PELE QUE HABITO um mergulho P.74 ULTIMATO
CONSELHO
Edição 317
DIRETOR GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOR EDITORIAL: Fernando Luna
DIRETOR DE AUDIÊNCIA: Luciano Touguinha de Castro
Novembro de 2017
DIRETORA DE MERCADO ANUNCIANTE: Virginia Any

POR GIULIANA DE TOLEDO

DIRETORA DO GRUPO CASA E JARDIM, CRESCER, GALILEU, MONET


E TECHTUDO: Daniela Tófoli
É VITÓRIA
REDAÇÃO
DIRETOR DE REDAÇÃO: Luís Alberto Nogueira OU É K.O.?
EDITORA-CHEFE: Giuliana de Toledo
EDITOR DE ARTE: Felipe Eugênio (Feu)
EDITORES: Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES: A. J. Oliveira, Felipe Floresti e Isabela Moreira
DESIGNERS: May Tanferri e Mayra Martins Grupo de conselheiros da GALILEU avalia a edição em
ESTAGIÁRIAS: Giuliana Viggiano e Nathalia Fabro Mendes (texto);
Carol Malavolta (arte) que lançamos campanha em defesa do conhecimento
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aline Batista, Gustavo Poloni, Henrique Januario,
diante de corte de verbas e pós-verdade
Juliana Passos, Leandro Saioneti e Zíngara Lofrano (texto); Augusto Zambonato,
Henrique Campeã, João Pedro Brito, Matheus Muniz, Ricardo Davino e Yumi Shimada
(arte); Monique Murad Velloso (revisão)
COM A FORÇA DE EINSTEIN
E-MAIL DA REDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br O QUE ELES ACHARAM DA CAMPANHA #LUTEPELACIÊNCIA

ESTRATÉGIA DIGITAL
COORDENADOR: Santiago Carrilho
DESENVOLVEDORES: Alexsandro Macedo, Fabio Marciano, Fernando Raatz, Fred Campos, Achei muito relevante a campanha e a
Leandro Paixão, Marden Pasinato, Marvin Medeiros e William Antunes
LARISSA FEREGUETTI ideia de mandar os terraplanistas para o
ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL espaço (no sentido literal, e acredito que
GERENTE: Silvia Balieiro Belo Horizonte, MG
a própria campanha já os manda para o
MERCADO ANUNCIANTE espaço no sentido figurado também!).
TECNOLOGIA, TI, TELECOM, ELETROELETRÔNICOS, COMÉRCIO E VAREJO — Gerente de Negócios
Multiplataforma: Ciro Horta Hashimoto; Executivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg,
Cristiane de Barros Paggi Succi, Jessica de Carvalho Dias e Roberto Loz Junior. BENS DE CONSUMO,
ALIMENTOS E BEBIDAS, MODA E BELEZA, ARQUITETURA E DECORAÇÃO — Diretora de Negócios
Multiplataforma: Selma Souto; Executivos Multiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Fátima Regina Gostei muito. Seria uma boa sugestão
Ottaviani, Giovanna Sellan Perez, Paula Santos Silva e Selma Teixeira da Costa. MOBILIDADE,
LUANA BOMFIM disponibilizar um espaço (no Facebook,
SERVIÇOS PÚBLICOS E SOCIAIS, AGRONEGÓCIOS, INDÚSTRIA, SAÚDE, EDUCAÇÃO, TURISMO, no Instagram ou mesmo no site da
CULTURA, LAZER, ESPORTE — Diretor de Negócios Multiplataforma: Renato Augusto Cassis Si- Cícero Dantas, BA
niscalco; Executivos Multiplataforma: Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos Meyer revista) para as pessoas expressarem
e Priscila Ferreira da Silva; Diretora de Negócios Multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; por que devemos lutar pela ciência.
Executivos Multiplataforma: Dominique Pietroni de Freitas e Lilian de Marche Noffs. FINANCEIRO,
LEGAL, IMOBILIÁRIO — Diretorde Negócios Multiplataforma: Emiliano Morad Hansenn; Executivos
Multiplataforma: Ana Silvia Costa e Milton Luiz Abrantes.
ESCRITÓRIOS REGIONAIS — Diretora de Negócios Multiplataforma: Luciana Menezes Pereira;
Gerente Multiplataforma: Larissa Ortiz. RIO DE JANEIRO — Gerente de Negócios Multiplataforma:
Gostei. Mas acho que mais importante do
que ressaltar aquilo que já foi provado é
Rogerio Pereira Ponce de Leon; Executivos Multiplataforma: Daniela Nunes Lopes Chahim, Juliane
PAULO OCTÁVIO
Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. BRASÍLIA — Gerente mostrar e deixar bem claro quais são os inte-
Multiplataforma: Barbara Costa Freitas Silva; Executivo Multiplataforma: Jorge Bicalho Felix Junior. Carapicuíba, SP resses por trás da pós-verdade e quem ganha
OPEC OFFLINE: Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Bruno Granja. OPEC ONLINE: Danilo Panzarini
e Rodrigo Pecoschi. EGCN — Consultora de Marcas: Olivia Cipolla Bolonha. DESENVOLVIMENTO CO- o quê com essa chuva de desinformação.
MERCIALE DIGITAL— Diretorde Desenvolvimento Comercial e Digital: Tiago Joaquim Afonso. G.LAB:
Caio Henrique Caprioli e Lucas Fernandes. EVENTOS: Daniela Valente. PORTFÓLIO E MERCADO:
Rodrigo Girodo Andrade. PROJETOS ESPECIAIS: Luiz Claudio dos Santos Faria e Guilherme Iegawa.

AUDIÊNCIA
Diretor de Marketing Consumidor: Cristiano Augusto Soares Santos
Diretor de Planejamento e Desenvolvimento Comercial: Ednei Zampese
Coordenadores de Marketing: Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti
E O VENCEDOR É...
DOSSIÊ SOBRE LÍNGUAS FOI ELEITO O MELHOR CONTEÚDO DA EDIÇÃO

Galileu é uma publicação da EDITORA GLOBO S.A. — Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar,
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Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. — Av. Marcos
7,1% Carta da editora
Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP 06543-001
Reportagem sobre
uso de pele de tilápia 7,1% 35,8% Dossiê Idiomas
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nunca é tarde pra dente o tama- prenderam minha
Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. FAX: (11) 3767-7707 estudar, amar e nho do conteú- atenção do início
realizar trabalhos do agregado em ao fim. Deviam
O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de
significativos poucas páginas.” trazer mais dicas
Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário
de Gases de Efeito Estufa — Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de na ciência.” do Dothraki nas
erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a próximas edições!”
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
CASSIANO CORDEIRO ÍTALLO LEAL SANTANA LUCAS MARTINS COSTA
Oriente, SP Paripiranga, BA Imperatriz, MA
07

FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS

ANTI-
MATÉ-
RIA

Se for adotada
pelo público,
a realidade
virtual será uma
das maiores
revoluções pelas
quais o cinema
terá passado

Fig. AZ

EDIÇÃO ILUSTRADORES CONVIDADOS

01.2018
NATHAN 1 AUGUSTO ZAMBONATO (AZ)
FERNANDES 2 YUMI SHIMADA (YS)
DESIGN
MAY TANFERRI
08

OSOMEAIMA-
GEMAOREDOR
A POPULARIZAÇÃO DAS
NARRATIVAS IMERSIVAS
E DA REALIDADE VIRTUAL
O ano é 2044 e o garoto Wade Watts passa seu tem-
po imerso em um mundo ficcional chamado Oasis
para fugir dos desastres que assolam o planeta.
A distopia do livro Jogador nº 1 pode se passar no
futuro, mas tanto ele quanto a adaptação cine-
DÁ UMA “GUINADA DE matográfica dirigida por Steven Spielberg, com

360º” NO CINEMA E estreia prevista para março, mostram uma tec-


nologia que tem sido cada vez mais presente em
O FAZ CHEGAR A UM nossos dias: a realidade virtual. PARA MAIORES
Antes de em-
NOVO PATAMAR A chamada narrativa imersiva tornou-se uma ten-
dência em Hollywood. Os vídeos em 360 graus já
placar, é preciso
saber se os
são usados nos games e na publicidade, mas o cine- vídeos em 360°
passarão pela
ma começa a ter produções que já podem atingir um prova de fogo: o
POR HENRIQUE JANUARIO* público mais amplo e — quem sabe — bons retor- mercado pornô
*Editor da revista Monet nos em bilheteria. Porém, fazer um longa com essa
09

tecnologia ainda é um desafio. “Nós fala- SOZINHO NO CINEMA são usadas diversas câmeras de altíssi-
mos que, quando produzimos um filme Nada de sala de projeção — é o ma qualidade (Ocupação Matilha foi feito
em 360 graus, estamos fazendo seis filmes usuário quem carrega todo o mate- com sete câmeras GoPro gravando em
ao mesmo tempo. Ele é muito mais pareci- rial necessário para a experiência 2K), o material bruto exige processado-
do com um show ou uma peça do que com res e servidores cada vez mais avançados
um filme. Neste ano, vimos o crescimento para a edição. “O maior desafio é a quan-
da realidade virtual rumo a um caminho tidade e o tamanho dos arquivos, que fa-
mais artístico. Depois [da última edição] zem com que computadores rápidos ain-
de Cannes, quando o diretor [Alejandro da tenham problemas em lidar com tanto
González] Iñarritú apresentou um filme conteúdo”, revela Daniel Bydlowski, cine-
nesse estilo, todos os festivais passaram asta brasileiro e artista de realidade vir-
a ter alguma área dedicada ao formato”, tual radicado nos Estados Unidos, que
afirma a produtora Janaina Augustin, da Óculos VR e joystick finaliza o longa NanoEden.
O2 Filmes — que possui um departamen- Dá para dizer que a realidade virtual já
to totalmente destinado às novas telas. está com seu caminho pavimentado para
Vencedor do Oscar de Melhor Diretor o futuro. Contudo, por mais que grandes
por Birdman ou (A Inesperada Virtude da estúdios, diretores e festivais (Veneza e
Ignorância), de 2014, e por O Regresso, Sundance inclusos) optem pelo novo for-
de 2015, o mexicano foi o primeiro mato, a história do audiovisual mostra que
cineasta a exibir um filme em realidade a adesão da indústria de filmes adultos
virtual em Cannes. O curta Carne y Arena Rumblepack ainda é fundamental para sacramentar a
Além dos óculos e do joystick,
mostra de forma crua o esforço de lati- o espectador precisa usar uma
adoção do 360 graus em grande escala.
nos que tentam passar ilegalmente pela rumblepack, mochila que pro- Desde a década de 1970, o mercado
fronteira entre México e Estados Unidos. cessa as imagens exibidas e, em adulto vem definindo os rumos da in-
alguns casos, também vibra.
O diretor reconhece a produção como dústria. Formatos como Super-8, VHS,
uma instalação de arte, mas é difícil não DVD e Blu-ray só foram adotados em
pensar que nasce uma nova forma de exi- larga escala após serem avalizados pela
bir histórias, tanto que a produção será O mercado de realidade indústria pornô. Entre março e julho de
agraciada com uma estatueta especial na virtual e realidade au- 2016, o site PornHub havia recebido cer-
mentada vai ultrapassar
próxima cerimônia do Oscar. o de TV em 2025, movi- ca de 30 filmes em realidade virtual, nú-
“Você traz realidades que as pessoas mentando cerca de mero que subiu para 2,6 mil no final do

US$110 BILHÕES
não dão conta de que existem, das quais primeiro semestre de 2017, o que prova
não querem participar, e você coloca que a narrativa tem potencial.
na cara delas”, diz João Rocha, sócio do Se realmente for abraçada pelo público,
Estúdio Bijari, centro de criação em ar- a realidade virtual será uma das maiores
tes visuais e multimídia que fez Ocupação revoluções pelas quais o cinema terá pas-
Matilha, um vídeo-dança em 360 graus sado. Engatinhando no circuito comercial
que reuniu em cena 70 dançarinos, acro- — a rede de cinemas IMAX conta com
batas e praticantes de parkour, demons- Fonte: Goldman Sachs seis centros dedicados ao formato pelo
trando a importância não só artística mundo —, os filmes em 360 graus subs-
como social do conteúdo imersivo. res com o efeito Bullet Time em Matrix. tituirão a experiência das salas tradicio-
Hoje, quase duas décadas depois, Gaeta nais por pequenas baias individuais em
UMA NOVA ESPERANÇA é um dos responsáveis pelo ILMxLab, que as pessoas usarão um PC no formato
Se hoje existem repartições próprias em divisão de entretenimento imersivo da de mochila, óculos e fones para escolher
grandes estúdios dedicadas às novas lin- Lucasfilm que cria conteúdos de realida- um título/experiência em cartaz. Se em
guagens, elas se devem principalmente de virtual para grandes produções do es- 1896 o público se assustava com a che-
a George Lucas, que no final da década túdio, como as da franquia Star Wars. gada de uma locomotiva nas exibições de
de 1990 foi um dos maiores incentivado- Mas se em 1999 o especialista apon- A Chegada de um Trem à Estação, dos ir-
res do uso de câmeras digitais. A dinâ- tava várias câmeras para um elemento mãos Lumière, hoje é preciso um pouco
mica de filmar sem película e editar em central, hoje ele vê a câmera ocupar o nú- mais de empenho. Como já não tem mais
computadores abriu um mar de opções cleo do set: é ela que é circundada pelo bobo na fila da pipoca, um duelo realista
técnicas. Basta lembrar que, no mesmo cenário e pela ação. No entanto, nem com Darth Vader em Tatooine, por exem-
ano, o supervisor de efeitos especiais tudo corre com essa aparente facilida- plo, poderia ser uma boa pedida para dei-
John Gaeta surpreendeu os espectado- de. Como para os vídeos em 360 graus xar os cinéfilos tremendo de medo.
C
JORNADA PELO
ONHECIMENTO

Marcos e o
supercomputador
Santos Dumont

Marcos, o engenheiro
escolhido pela ciência
Algoritmos desenvolvidos pelo cientista ajudam
os robôs a trabalharem mesmo com falhas
Não fui eu que escolhi a 2000, seguir carreira na pesquisa cien- Aos 28 anos, ele já era doutor em
ciência, foi a ciência que tífica não era o plano inicial de Marcos. Modelagem Computacional.
me escolheu”, costuma dizer Marcos Mas ele soube aproveitar as oportuni- Desde que entrou como iniciante
Todorov quando comenta a jornada dades e hoje, aos 35 anos, após fazer no LNCC, Marcos não saiu mais. E
de estudante de Engenharia de Tele- mestrado, doutorado e pós-doutorado no por que sairia? Afinal, trata-se do la-
comunicações na Universidade Cató- LNCC, está na equipe de profissionais boratório que tem o maior computador
lica de Petrópolis a pesquisador e com dedicação exclusiva do laboratório. da América Latina e um dos mais po-
orientador do Laboratório Nacional Aconselhado por um professor, o tentes do mundo. Desde 2016, o su-
de Computação Científica (LNCC), jovem estudante começou a frequen- percomputador Santos Dumont está à
na mesma cidade da região serrana tar como ouvinte aulas de pós-gra- disposição dos cientistas do LNCC e
do Rio de Janeiro. E olha que essa duação no Laboratório quando ainda também de pesquisadores externos,
jornada está apenas no começo. nem tinha se formado na Engenha- que enviam projetos a serem submeti-
Quando entrou para a graduação, em ria. Era puxado, mas valeu a pena. dos aos comitês de avaliação.
APRESENTADO POR

do cinco artigos em periódicos cientí-


ficos de primeira linha”, elogia o
MANTER O professor Marcelo.
O estímulo à jornada do conheci-
SUPERCOMPUTADOR mento de Marcos, porém, começou
muito antes, na infância. Seu pai Pe-
E AS CONDIÇÕES dro Alexandre Todorov foi o seu pri-
meiro grande incentivador. Técnico
PARA PESQUISA É em contabilidade, Todorov, hoje apo-
sentado, foi funcionário da Petrobras
UM DESAFIO A MAIS” durante 22 anos. Ao lado da mulher,
Noemi, Todorov deu prioridade abso-
luta à educação dos filhos.
“Meu pai sempre esteve muito pre-
sente e investiu muito em educação,
considero isso um ato de heroísmo. Ele
e minha mãe eram exigentes, nunca Superpoderoso
Atualmente, a pesquisa de Marcos permitiram que a gente tirasse notas
Imagine 10 mil notebooks de último
está voltada para controle de sistemas baixas. Ela é professora, estudava com
tipo ligados ao mesmo tempo e
dinâmicos sujeitos a falhas e incertezas. a gente, tinha muito jeito”, diz Marcos.
você terá uma ideia do que é o
Basicamente, busca maneiras de con- Além da cobrança nos estudos, To- supercomputador Santos Dumont,
tornar problemas em sistemas de ro- dorov e Noemi estimulavam a curiosi- que funciona dia e noite e processa
bótica, aeronáutica, redes de comu- dade dos filhos. Livros e revistas sempre em torno de cem pesquisas de uma
nicação e veículos autônomos. fizeram parte do universo da família. vez só em áreas da medicina, como
Marcos e outros pesquisadores tra- zika e câncer, da biologia, da
balham no desenvolvimento de um DE ALUNO A PROFESSOR engenharia, da astronomia e da
algoritmo que permita que um braço O trabalho de orientador é outra fren- meteorologia.
robótico continue a desempenhar te de atuação de Marcos no LNCC. É
suas tarefas mesmo com falha em nessa atividade que ele busca transmi- A chegada do supercomputador
uma das articulações. tir aos alunos a experiência dos últimos a Petrópolis foi um marco na
17 anos. Para o pesquisador, os jovens computação de alto desempenho
OS MENTORES que estão iniciando uma carreira de- no Brasil e um passo importante
Saber ouvir profissionais mais expe- vem estar abertos ao inesperado. “O no avanço da ciência no país.
rientes fez grande diferença na vida jovem às vezes tem o desejo muito for- É tudo grandioso: o SDumont, como
de Marcos, quando estudante. Entre te de perseguir uma coisa e fecha os é chamado, tem capacidade de
esses professores, ele cita Marcelo olhos para as oportunidades. Eu sem- realizar 1,1 quatrilhão de operações
Dutra Fragoso e Elson Magalhães To- pre fui muito levado pelas oportunida- matemáticas por segundo. Custou
ledo, ambos do LNCC; e Oswaldo des”, diz. “Como eu terminei a gradu- R$ 60 milhões e veio da França,
Luiz do Valle Costa, da USP. Marce- ação em Engenharia relativamente onde foi projetado pela empresa
Atos Bull. O transporte de
lo Dutra Fragoso foi orientador de cedo, aos 22 anos, senti que tinha con-
15 toneladas de equipamentos do
Marcos no mestrado e no doutorado dições de, ainda jovem, aproveitar o
porto do Rio para Petrópolis,
e é considerado o “mentor número 1” embalo para já cursar mestrado e dou-
em 2015, mobilizou quatro carretas,
pelo pesquisador. “É muito importan- torado, que concluí aos 28 anos. O que subiram a serra até o
te para o jovem ter alguém que incen- LNCC me oferecia as condições ideais laboratório, no bairro Quitandinha.
tive e possa desenvolver o potencial para essa empreitada. Optei por fazer Para um supercomputador tão
do aluno. Marcos, por exemplo, reve- diferente de muitas pessoas que, ao poderoso, gastos elevados:
lou-se um grande talento, com quali- terminar a graduação, vão para o mer- a manutenção do SDumont custa
dades para exercer liderança, inclusi- cado de trabalho e só mais tarde bus- cerca de R$ 6 milhões ao ano.
ve internacional. Ele tem iniciativa, cam a pós-graduação”, conta. Garantir os recursos necessários
curiosidade, uma persistência enor- Nos planos para os próximos anos, para a máquina é uma
me, rapidez em compreender novas continuar investindo em produção preocupação constante.
ideias e grande capacidade de formu- científica e formação de recursos hu- “Manter o supercomputador e as
lar problemas relevantes com soluções manos e, quem sabe, fazer pós-douto- condições para pesquisa é um
criativas e originais. Quando termi- rado nos Estados Unidos. A Universi- desafio a mais”, diz Marcos.
nou o doutorado, ele já tinha publica- dade de Illinois está entre as preferidas.

PRODUZIDO POR
12

Supercompu-
O POMBO
NÃO É BOBO

tador: ativar
Cientistas mostram que as aves
sabem identificar o conceito
abstrato de espaço e tempo

Pesquisa da Universidade de
Iowa, nos Estados Unidos,
afirma que pombos têm noção
de espaço e de tempo. Em
Tupã, a máquina milionária
experimentos, as aves observa-
que faz previsões do tempo
ram linhas no computador para
no Brasil, corria o risco de se
perceber seus comprimentos e
aposentar sem ter um substituto.
o tempo que elas permaneciam
A solução foi dar um jeitinho...
visíveis. Os pombos “avaliaram”
(bicando símbolos correspon-
POR FELIPE FLORESTI
dentes) que as retas mais longas
tinham duração e comprimento
Hoje, todos os eventos me-
maiores. “A proeza cognitiva

H
teorológicos do Brasil pas-
dos pássaros é agora conside-
sam pelo poderoso Tupã.
rada cada vez mais próxima
Calma! Não substituímos a
daquela dos primatas humanos
ciência pela cosmovisão indígena: Tupã é
e não humanos”, afirmou à
o supercomputador instalado no Centro
imprensa Edward Wasserman,
de Previsão de Tempo e Meteorologia
coordenador do estudo.
(Cptec), o único voltado à previsão
do clima. Com capacidade de realizar
SAIBA MAIS BIT.LY/POMBINEO
258 trilhões de cálculos por segundo,
ele foi adquirido em 2010 como um dos
30 computadores mais velozes do mun-
do. Sete anos depois, não está mais nem
entre os 500 primeiros. “É a história do
carro velho. A chance de quebrar só au-
FORA DA BOLHA menta com o tempo. Com um computa-
Três redes sociais que prometem dor é igual”, conta Gilvan Sampaio, chefe
salvá-lo da mesmice do Facebook de operações do Cptec.
O vigor de um supercomputador dura

Mappa.cc quatro anos. O ideal é ser substituído


Guia de fil- nesse prazo. Mas, até por falta de op-
mes, textos ção, Tupã resistiu. No quinto e no sexto
e palestras
baseados no
anos de vida, a empresa fabricante, Cray
seu perfil Supercomputers, forneceu peças de re- Fig. AZ

posição que lhe garantiram sobrevida.


No entanto, chegou o sétimo ano e esta-

Storia.me va na hora de Tupã encaminhar a aposen- ano e meio, tempo médio de uma licita-
Nessa rede, tadoria. Desde 2014, o Instituto Nacional ção internacional. O valor até foi previsto
as relações se de Pesquisas Espaciais (Inpe), ao qual o para 2017, mas, com o contingenciamen-
dão por meio
de conteúdos
Cptec é subordinado, solicita recursos para to de 44% do orçamento do Ministério
informativos comprar um novo. Sem sucesso. “Nossa da Ciência, Tecnologia, Inovação e
despesa anual está em R$ 14 milhões, e Comunicações, virou lenda. A solução foi
o orçamento previsto para este ano é de dar um jeitinho. Uma atualização orçada
Snapchat R$ 9 milhões. Não temos dinheiro nem em R$ 10 milhões vai garantir a substi-
A rede foi para as contas básicas”, revela Sampaio. tuição de algumas peças — o que dá mais
reformulada
Um novo supercomputador custaria até uma sobrevida ao “deus do trovão”, asse-
e agora traz
uma área só R$ 120 milhões. Em um mundo ideal, o gurando a ele mais um par de anos como o
Fig. YS para mídia processo de compra teria começado há um protetor das causas climatológicas.
13

AMARELO
MANGA
Cientistas usam a fruta para
criar plástico, mas enfrentam
dificuldades para pôr a
inovação no mercado

POR FELIPE FLORESTI

Foram três anos de trabalho


e 30 pesquisadores de quatro
instituições para criar um plástico
biodegradável utilizando caroço
de manga. Maior produtor da
fruta, o Brasil produz 1 milhão de
toneladas por ano. Desse total,
60% vira resíduo. Até então,
ninguém tinha muito o que
fazer com a sobra. “Aquilo vai se
acumulando em um canto. O esto-
que apodrece e gera um grande
problema ambiental”, conta Edla
Lima, pesquisadora da Embrapa
Agroindústria de Alimentos, que
Fig. AZ liderou o projeto. O biocomposto
foi obtido com a mistura de dois

STAR
polímeros orgânicos ao resíduo
e o universo criado por Gene Rod-
da manga: o PHBV (produzido
denberry. A democrata faz parte
por bactérias) e o PLA (obtido
de um grupo cada vez maior de

TREK NA
de moléculas de ácido lático).
cientistas que almejam cargos
Após investimento de cerca de
públicos, estimulados pelo 314
R$ 120 mil, o próximo passo seria
Action, uma organização de “re-

POLÍTICA
transformar o plástico de manga
sistência pró-ciência” que ajuda
em produto. “Criamos uma novi-
cientistas em campanhas políti-
dade. Inovação é quando existe
cas. No caso de Phoenix, a von-
adoção pela sociedade”, diz Edla.
Vulcanologista norte- tade de concorrer a uma vaga no
E é aí que mora o problema.
-americana quer lutar Congresso veio depois dos desca-
A crise orçamentária pegou em
pela ciência e levar os sos de Trump com o meio ambien-
cheio a Embrapa, que suspendeu
valores da série do Dr. te. “Esses caras estão destruindo
novos projetos. “O dinheiro que
Spock ao Congresso todas as proteções ambientais
deveria ser usado em pesquisas
que existiam”, afirmou ela à revis-
está pagando contas de luz e
ta Wired. “É uma tendência que
água”, revela. “A gente tem que
Jess Phoenix é uma geóloga nor- temos que parar agora. Não po-
viver fazendo milagre aqui.”
te-americana que estuda vulcões. demos deixar isso continuar.” Por
Isso já a tornaria uma candidata estudar vulcões, a geóloga já está
única para o Congresso dos Es- acostumada com as brincadeiras
tado Unidos. Mas não é só isso. VIDA LONGA que fazem referência ao planeta
Ela também conta com o apoio E PRÓSPERA do Dr. Spock, Vulcano. Quando
de atores que participaram da Sempre que isso acontece, ela ergue as mãos,
brincam com o
série Star Trek, como Tim Russ, fato de a cien-
fazendo o sinal característico da
Robert Picardo e John Billings- tista estudar série, e responde: “Vida longa e
ley. Foi Billingsley, intérprete do vulcões, ela er- próspera”. “Eu realmente quero
gue a mão e faz
Dr. Phlox (na versão de 2001 a o gesto clássico que as pessos vivam longa e pros-
2005), quem viu a relação entre da série peramente, então diria que essa é
as demandas políticas de Phoenix uma bela mensagem universal.” Fig. YS
14

CARTO- POR GIULIANA VIGGIANO

GRÁFICO

O BICHO VAI PEGAR


O MUNDO PERDIDO
Veja a porcentagem de espécies extintas
nas regiões mais críticas do planeta

Mudanças climáticas e exploração dos recursos naturais


aumentam cada vez mais o risco de extinção de animais

Em 500 milhões de anos, a Terra já passou por cinco períodos de extinção em


massa. Pesquisa da Universidade Stanford mostrou que estamos chegando
ao sexto. O mapa abaixo representa a distribuição de mais de 1,2 mil espécies América África Ilhas do Ásia
Latina Pacífico
perdidas por país — quanto mais escuro o país, mais espécies perdidas. 23% 22% 17% 16%

Fonte: The Search for Lost Species

EM ALTO RISCO
Listamos alguns dos
animais que estão se-
riamente ameaçados
e, provavelmente, já Fig. YS

extintos no Brasil, se-


CUÍCA-DE- ARARINHA- RATO JACU MAÇARICO-
gundo a Empresa Bra- -COLETE -AZUL CANDANGO ESTALO -RASTEIRINHO
sileira de Comunicação Amazônia Caatinga Cerrado Caatinga Mata Atlântica
15

A natureza
fica de luto Fig. YS

Haroldo Palo Jr., um dos maiores E O VENTO


fotógafos da vida natural, deixa LEVOU...
como legado a importância de Bactérias usam moscas
preservar as belezas do Brasil como “ônibus aéreo”, o que
torna o inseto mais nojento
POR GERALDO PEREIRA* do que pensávamos antes

No dia 25 de novembro, a fo-

N
tografia de natureza se des- Elas entram no lixo, andam so-
pediu de um de seus grandes bre cadáveres, passam em es-
mestres: Haroldo Palo Jr., au- gotos e vômito, estão cobertas
tor e editor de obras fundamentais, como de micro-organismos do cocô e,
o guia Borboletas do Brasil (Vento Verde ao fim, pousam na sua comida.
Editora), que contou com a colaboração As moscas são bem nojentas,
de 80 fotógrafos da natureza, muitos deles mas a situação pode ser pior do
amadores — dos quais tenho orgulho de que pensávamos. Especialistas
fazer parte. Ele nos deixou depois de um do Brasil, Alemanha, Singapura
infarto agudo do miocárdio. Engenheiro e EUA, liderados pela geneti-
eletrônico e de computação, dedicou-se, a cista Ana Junqueira, da UFRJ,
partir de 1979, a registrar as belezas natu- estudaram os microbiomas de
rais do Brasil e do mundo, chegando a fa- 116 moscas domésticas de três
zer oito expedições para a Antártida. É um continentes diferentes. Com
caso raro e exemplar de dedicação ao ofí- isso, descobriram que alguns
cio, como quando se empenhou, durante desses bichos levam centenas
11 anos, em registrar o pavãozinho-do-pa- de diferentes espécies de bac-
rá ou pavãozinho-do-pantanal. Não tive a térias de um lugar para o outro,
oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, transmitindo-as às superfícies
mas nos poucos contatos que mantivemos em que pousam. “As pernas e
por e-mail mostrou-se uma pessoa afável as asas mostram a maior di-
e extremamente dedicada. versidade microbiana no corpo
Poucos dias antes de falecer, Palo Jr. fez da mosca, o que sugere que as
uma convocação geral para um novo pro- Fig. AZ bactérias usam as moscas como
jeto, dessa vez sobre as mariposas brasi- ‘ônibus aéreos’”, afirmou ao site
leiras. Recebi uma mensagem sua dizen- Phys o ex-professor de Bioquí-
do que as fotos de mariposas que eu havia mica e Biologia Molecular da
importante legado, dentro da grandeza de
mandado por engano para o projeto das PennState Stephan Schuster.
sua obra, incutir nas pessoas a visão de
borboletas já estavam guardadas e passa- Embora essas informações
que o humano e o natural são partes de um
riam por seleção em breve. Senti alegria, a possam aumentar sua aversão
todo que se complementam. Nas poucas
mesma de quando soube pela primeira vez às moscas (com razão), vale res-
vezes em que retratou o ser humano, não
que teria fotos publicadas. Infelizmente, o saltar que esses insetos podem
o fez com um hiato entre ele e o meio que
tempo foi curto demais... Torço para que auxiliar a ciência. A amostra-
o circunda — manteve-o nativo, de forma
os herdeiros de sua obra sigam com esse e gem de microbiomas de uma
genuína, mostrando que, ao derrubar uma
outros projetos. É somente com a divulga- mosca, por exemplo, pode
árvore, o homem derruba a si mesmo.
ção de trabalhos desse tipo que as pessoas ajudar no estudo do conteúdo
entenderão a importância de ações pre- *Fotógrafo amador da natureza, criador do site Curvelo microbiano de alguns ambien-
servacionistas. Haroldo Palo Jr. tem como Fauna e Flora e membro do Conselho GALILEU. tes mais difíceis de alcançar.
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realização apoio participação


CONEXÕES CÓSMICAS
POR ADILSON DE OLIVEIRA*
17

se comporta como onda ao viajar pelo


espaço e como partícula quando ajuda
a arrancar um elétron em um sensor

AS REFORMAS
fotoelétrico, desses que temos em
portas de shopping center. Da mesma
maneira, partículas como elétrons se

DO EDIFÍCIO
movem livremente em um metal para
transmitir a corrente elétrica, mas
também se comportam como ondas

DA FÍSICA
quando utilizadas para gerar imagens
em microscópios eletrônicos.
Outro fenômeno importante que
a Física Quântica nos apresentou é
Ao longo da história da ciência, quando uma nova o chamado princípio da incerteza,
teoria suplanta a anterior, deve continuar explicando proposto pelo físico alemão Werner
o que a antiga previa e ainda mostrar que vai além Heisenberg, que mostrou ser impos-
sível medir simultaneamente, com
absoluta precisão, grandezas físicas
como posição e momento linear (a
massa do corpo multiplicada por sua
A Física como ciên- A Teoria da Relatividade alterou velocidade) ou energia e tempo.
A cia tem como um os conceitos de espaço e tempo, bem Embora pareçam estranhas essas
dos seus principais como a própria natureza da gravidade. ideias, elas somente podem ser verifi-
objetivos descrever Quando Einstein propôs que todos os cadas na escala nanoscópica, pois os
a natureza de uma fenômenos físicos são os mesmos em fenômenos quânticos dependem da
maneira profunda e fundamental. todos os referenciais inerciais e que a Constante de Planck, que tem seu va-
Ela é um empreendimento humano de velocidade da luz no vácuo é sempre lor na ordem de 10-34 joule/segundo
enorme sucesso. Ao longo da história, constante independentemente do mo- (energia/tempo). Se ela tivesse um
foram construídas diversas teorias fí- vimento da fonte que a emite, o tempo valor igual a 1, esses efeitos fariam
sicas com grande alcance e amplitude, e o espaço deixaram de ser absolutos parte do nosso cotidiano.
sempre validadas pelos “juízes” que e passaram a depender da velocidade Apesar de a Relatividade e a Fí-
são a experimentação e a observação. na qual estamos nos movendo. Ao pro- sica Quântica muitas vezes soarem
Quando uma nova teoria suplanta a por que a gravidade é decorrência da estranhas para nós, elas são muito
anterior, deve continuar explicando curvatura do espaço-tempo devido à precisas e têm sido comprovadas
o que a antiga previa e mostrar que massa, Einstein mostrou que qualquer com grande sucesso, não apenas
vai além, ou seja, explicar novos re- aceleração e efeitos gravitacionais são pela explicação de fenômenos mas
sultados e prever novos fenômenos. indistinguíveis. Mas esses efeitos são também pelos desenvolvimentos
As grandes teorias são construídas observados apenas em experimentos Apesar de tecnológicos. A Física, ao longo da
para explicar e, principalmente, pre- realizados em velocidades próximas a Relativi- história, foi construída como um só-
ver fenômenos físicos. Alguns exem- à da luz, como nos aceleradores de dade e lido edifício que, com a passagem do
plos famosos são a Mecânica Clássica,
desenvolvida no século 17 por Isaac
partículas ou em eventos astrofísicos.
A Física Quântica também modi-
a Física tempo, necessitou de reformas. Mas
os alicerces ainda estão bem sólidos.
Newton, que explicou os movimentos ficou radicalmente alguns conceitos. Quântica
aqui na Terra e no espaço. No século Um dos focos principais foi mostrar muitas
19, o Eletromagnetismo e a Termodi- que a energia e o momento angular vezes
nâmica foram consolidados por James
C. Maxwell, Lord Kelvin e Max Planck,
(quantidade de movimento de um cor-
po girando) não admitem quaisquer
soarem
entre outros. No começo do século 20, valores, mas são discretos, múltiplos estranhas
surgiram a Teoria da Relatividade, de de uma constante fundamental, cha- para nós,
Albert Einstein, e a Física Quântica, mada de Constante de Planck. Tam- elas são
desenvolvida por Niels Bohr, Werner
Heisenberg, Erwin Schroedinger e
bém foi revolucionária a introdução da
ideia de que matéria e energia podem
precisas e * ADILSON DE OLIVEIRA é professor de Física da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

outros que mudaram radicalmente a se comportar tanto como ondas quan- compro- e fundador do Laboratório Aberto de Interativi-

vadas
dade (LAbI), voltado para o desenvolvimento
nossa visão da natureza. to como corpúsculos (partículas). A luz de metodologias para divulgação científica.
18

LU-
NE-
TA
O ESPAÇO É LOGO ALI

POR A. J. OLIVEIRA

O CÉU NÃO
É O LIMITE
Milhares de jovens se apaixonam por
Fig. AZ

Latino-Americana de Astronomia sigam carreiras na ciência, as


ciência com projetos educativos de
e Astronáutica (OLAA), no Chile, olimpíadas científicas têm expe-
astronomia — ameaçados por cortes
para a qual se classificou pelo rimentado cortes de verba, ano
bom desempenho na OBA. “Ha- após ano, devido ao orçamento
via um clima amistoso, pudemos em declínio do CNPq. “Esse apoio
COM GIULIANA VIGGIANO
fazer amigos de vários outros financeiro é muito importante.
países que gostam das mesmas Chegamos a ter mais de 1 milhão
Os olhos do pequeno João Batista brilharam
coisas que nós”, diz a aluna do co- de participantes em alguns anos,
junto com as estrelas na cúpula do planetá-
légio Mater Amabilis. Outra cria mas com a falta de dinheiro para
rio do Ibirapuera. Naquele dia, decidiu que,
da OBA é João Vitor Guerreiro, divulgação, as últimas edições
quando crescesse, queria ser astrônomo.
medalhista de prata na 11ª Olim- têm contado com apenas 700 mil
E cumpriu. Não só se tornou um profissional
píada Internacional de Astrono- jovens”, alerta Canalle.
como apadrinhou um projeto que ajuda a es-
mia e Astrofísica (IOAA), realizada Além de os alunos terem de
palhar esse encantamento entre milhares de
em novembro do ano passado na arcar com as próprias passagens
jovens em idade escolar. Hoje é mais conhe-
À PROVA Tailândia. “Eu já me interessava e gastos de viagem, até a verba
cido como professor Canalle, o coordenador
Faltam recursos pelo assunto, mas participar da de medalhas e certificados está
da Olimpíada Brasileira de Astronomia e As- para financiar Olimpíada despertou ainda mais comprometida. Porém, ainda
tronáutica (OBA) há duas décadas. passagens de
brasileiros que interesse em mim”, conta ele. assim, organização e estudantes
Não fosse a inspiração daquela ida ao pla-
competem em Apesar da importância dessas resistem, alcançando resultados
netário, talvez a jovem Miriam Koga, que cursa olimpíadas iniciativas e do estímulo que dão notáveis. Gente para quem o céu,
o Ensino Médio, não tivesse tido a chance de fora do país
aos jovens brasileiros para que definitivamente, não é o limite.
ganhar uma medalha de ouro na 9ª Olimpíada

Antes de retornar à Estação Es- módulo foram encontradas em na Nasa. Lima estuda micróbios
ELAS NÃO
pacial Internacional, em dezem- amostras, elas voaram de algum extremófilos que sobrevivem no
ESTAVAM LÁ
bro, o cosmonauta russo Anton lugar do espaço e se alojaram no espaço. “Esses boatos não têm
Declaração de cosmonauta gera
Shkaplerov, um veterano dos casco exterior”. Foi a deixa para profundidade, é preciso investi-
boatos de que bactérias aliens
voos espaciais, deu uma longa que alguns sites de credibilidade gar fontes.” Processos naturais da
teriam sido encontradas na ISS
entrevista à agência de notícias duvidosa da imprensa russa co- atmosfera, cápsulas “sujas” ou os
TASS — relíquia da era soviética. meçassem a especular que seriam próprios astronautas podem dar
Sobre um experimento que rea- micróbios alienígenas. “Histórias carona a bactérias superpodero-
lizou na parte externa da ISS, ele semelhantes surgem periodica- sas da Terra até a estação orbital.
disse: “Bactérias que não esta- mente”, adverte o astrobiólogo Fato é que não se pode acreditar
vam lá durante o lançamento do Ivan Paulino Lima, pesquisador em todo ET que aparece por aí.
19

AGENDA
Mosaico Janeiro de 2018

da escuridão d

-
s

1
t

2
q

3
q

4
s

5 6
s

7 8 9 10 11 12 13

14 15 16 17 18 19 20

Astrônomos brasileiros colaboram em experimento Fig. YS


21 22 23 24 25 26 27
que vai ser acoplado ao maior telescópio do mundo 28 29 30 31 - - -
para investigar matéria escura nas primeiras galáxias

TEMPORADA DE SUPER-
1
LUAS ABERTA COM ESTILO
Na primeira noite do ano, teremos
Apenas 5% do Universo é feito da de anos-luz da Terra. Vai nos revelar registros de
uma superlua brilhando lá no céu.

A
substância de que nós e as estre- um Universo infante, com menos de dois bilhões
E o melhor: será a maior e mais perto
las somos compostos. Boa parte de anos de vida. Assim, possibilitará, também,
da Terra em 2018. Feliz ano-novo!
do resto é matéria escura: engolfa uma estimativa bem mais sólida sobre a maté-
as galáxias em grandes halos que as mantêm uni- ria escura naquela época primordial.
das e fazem-nas girar mais rápido. Os astrônomos Isso só será possível porque ele será acopla-
MARTE E JÚPITER DÃO AS
ainda não descobriram de que é feita, mas isso do ao ELT, maior telescópio do mundo, que terá 7
MÃOS EM SHOW NOTURNO
não os impede de fazer algumas perguntas. Ela espelho de 39 metros de diâmetro (o recordis-
Não perca o grande encontro dos
sempre esteve presente ao redor das galáxias e na ta atual tem 10 metros), cuja inauguração é pre-
dois planetas no céu. Estarão tão
mesma quantidade desde o início dos tempos? vista para 2024. O gigante já está em obras no
perto um do outro que será possível
Foram publicados resultados preliminares Observatório Europeu do Sul (ESO), centro de
observá-los juntos com binóculos!
que sugerem haver menos matéria escura no pesquisa astronômica mais produtivo do mundo,
Surgem no Leste, por volta de 3 h.
Universo primitivo que no atual. Só que eles não no Deserto do Atacama. O Brasil tornou-se mem-
são precisos. “É como comparar uma foto tirada bro em 2010 — só que nossos congressistas não
com o celular com outra feita por aquelas câme- oficializam a participação. É preciso pagar uma
É A VEZ DE SATURNO E DE
ras que os fotógrafos usam em dia de jogo de fu- conta de 270 milhões de euros. 13
MERCÚRIO CONVERGIREM
tebol”, diz Thiago Signorini, do Observatório do Cientes de nossas dificuldades econômicas,
Espetáculo no Sudeste cerca de meia
Valongo. “São muito melhores, vão conseguir ti- os europeus deixaram que pagássemos em dez
hora antes do alvorecer: o planeta
rar uma foto com muito mais detalhes.” vezes sem juros. Não adiantou. A mensagem dos
dos anéis e o pálido Mercúrio cola-
O astrônomo integra um grupo de brasilei- astrônomos é clara. “O Brasil não quer ficar de
dinhos. Repare em Marte e Júpiter
ros em um consórcio internacional que está ela- fora, queremos ser um país líder na astronomia
ainda próximos, pouco acima da Lua.
borando um experimento ousado: chamado de mundial e, para isso, é preciso participar de gran-
Mosaic, ele deve determinar com precisão sem des colaborações”, diz Signorini. “Uma comunida-
precedente as massas de galáxias a 12 bilhões de isolada fica para trás.” Ouviram, políticos?
ORA, ORA, SE NÃO É A
31
A SUPERLUA AZUL
Outra superlua fecha janeiro com
chave de ouro. Por ser a segunda do
mês, chamam-na de lua azul, mas
O asteroide Oumuamua tadas pelo estudo da luz que
SEM R:
é um verdadeiríssimo ele reflete. “Lembra objetos
não espere vê-la dessa cor. Alguns

DÚVIDA mochileiro da galáxia: foi nosso distantes do Sol, de gelo, ma-


lugares fora do Brasil terão eclipse!

primeiro visitante interestelar. terial orgânico e silicatos”, diz


Deu para estudar Viaja livre, leve e solto pela Via Jorge Carvano, do Observatório
a composição Láctea e está só de passagem, a Nacional, especialista nesses
LUNETA
do asteroide mais de 100 mil km/h. Com os estudos. Para maior precisão, LIVE SEXTAS, ÀS 17H,
interestelar achado dados coletados, não foi pos- teríamos de trazer um pedaci-
NO FACEBOOK. ASSISTA!

recentemente? sível determinar a composição nho e analisá-lo. Não foi dessa Bata papo ao vivo com especialistas
e outros entusiastas da astronomia.
Marcelo Fávaro, do asteroide-charuto de 400 vez. Quem sabe quando o pró-
via Facebook Live metros. Mas há suspeitas levan- ximo viajante cósmico passar.
20

TECNOLOGIA DESCOMPLICADA

Para não Impressora “de bolso” da HP,


que imita o estilo Polaroid, é a

queimar o filme
mais barata do mercado e pode
ser ótima opção para quem
sente falta de imagens “reais”

POR ZÍNGARA LOFRANO

Pequena notável, a HP
P Sprocket chega ao mercado
brasileiro com visual discreto
e preço em conta para bater de frente
com as concorrentes Polaroid e Fuji-
film. Lançada por R$ 899, a “impres- A qualidade da impressão, porém, po-
sora de bolso” da HP é a mais barata deria ser melhor. Na prática, as cores
do mercado. A manutenção também não ficam muito nítidas, e algumas
é econômica. Não é preciso comprar figuras acabam granuladas.
cartucho e o papel fotográfico custa Já a bateria impressiona: depois de 50
metade do valor cobrado pelas rivais. minutos carregando, foi possível reve-
É possível escolher a imagem e lar 14 fotos. Para imprimir, o usuário
retocá-la antes da impressão — uma precisa ter um smartphone com cone-
grande vantagem em relação às câme- SELFIE NA MÃO xão Bluetooth e instalar o aplicativo
Apesar da falta
ras instantâneas, em que cada clique de nitidez na im- Sprocket. Disponível de graça para An-
corresponde a uma foto na mão. Então, pressão, o equi- droid e iOS, o app possibilita adicionar
se você tiver uma impressora portátil, pamento custa filtros, molduras e emojis. Além disso,
apenas R$ 899 e
nada de queimar seu filme por aí. pesa pouco mais a impressora pode ser levada para lá
O papel fotográfico imita bem o estilo que um celular e para cá com facilidade, já que pesa
que se tornou popular com a Polaroid. pouco mais que um celular.
21

O QUE ACONTE- O QUE FAZER COLOCAR O


CE DURANTE O NA HORA DO APARELHO NO
MERGULHO? DESESPERO? ARROZ FUNCIONA?
O contato com líquido Não tente ligar o Sim. Caso não possa
pode causar oxidação aparelho. Desmonte o levar o celular para re-
nos componentes inter- smartphone ao máximo, paro, o melhor é deixá-lo
nos. Em casos mais gra- tirando o chip e a bate- dentro de um pote de
ves, o aparelho até para ria. Deixe a água escor- arroz cru por, ao menos,
de funcionar. A água rer e seque o dispositivo um dia. O alimento
também pode provocar com um pano. O ideal é absorve a água e ajuda
manchas na tela e danifi- levá-lo a uma assistência a remover a umidade.
car a placa interna, mais técnica para fazer o pro- Essa é uma boa opção
difícil de ser recuperada. cesso de desoxidação. para a hora do sufoco.

Fig. AZ

O CELULAR
CAIU NA ÁGUA: POSSO USAR UM
SECADOR OU
ASPIRADOR DE PÓ?
PROCURE UM KIT
PARA RECUPERAÇÃO
DE ELETRÔNICOS
POSSO AFUNDAR UM
CELULAR RESIS-
TENTE À ÁGUA?

E AGORA?
Calma, o líquido pode provocar
Melhor não. O secador
ajuda a evaporar a água,
mas, se estiver muito
quente, também tira a
Outra alternativa são
os kits para recupera-
ção de eletrônicos.
O produto — um agente
Os aparelhos desse tipo
estão fazendo sucesso.
Sim, eles podem entrar
na água, normalmente
solda de componentes que remove a umidade por até 30 minutos e a 1
oxidação no aparelho, mas existem
internos. Já o aspirador, — promete recuperar metro de profundidade.
dicas simples para não ficar na mão além dos resíduos de qualquer dispositi- Mas os fabricantes
água, pode sugar algum vo. Normalmente, é alegam que a proteção
POR ALINE BATISTA botão ou conector encontrado pelo preço é para acidentes — o
sem você perceber. médio de R$ 20. ideal é evitar afundá-los.

O calor do verão combina com praia e pisci-


na, certo? Mas o celular deve ficar bem longe
dessa combinação. Afinal, ninguém quer ter
dor de cabeça porque o smartphone caiu na
CUIDADO COM O VAPOR D’ÁGUA
água bem no momento de descanso. Porém, se Quem tem o costume de levar o telefone para o
— apesar do cuidado — isso acontecer, saiba chuveiro na hora do banho deve tomar cuidado com
que é possível recuperar o aparelho em casa a exposição do smartphone ao vapor d’água, que
pode, com o tempo, causar oxidação — mesmo se o
com atitudes simples. Se ele tiver rachaduras
aparelho não entrar em contato direto com a água.
na tela, no entanto, o cuidado deve ser redo- Fig. YS O ideal é não levar o dispositivo para o banheiro.
brado. A seguir, entenda quais são os riscos de
deixar o telefone entrar em contato com líqui-
do e veja dicas de especialistas para resgatar o
aparelho que vão além de deixá-lo secando ao @techtudo_oficial /techtudo @TechTudo
sol (o que, inclusive, não resolve muita coisa).
22

Reabrindo “Nós exploramos essa relação pai-filho-


-mãe, e os fãs vão ver mais do William

os arquivos
do que já viram em muito tempo”, afir-
mou o criador. Além disso, o Canceroso
deve retornar em uma forma mais jovem
logo no início, assim como Skinner, que
ganhará um episódio para apresentar
suas histórias do passado. A retomada
também promete revelar detalhes de um
Arquivo X retorna em 2018 com mistério que torna os extraterrestres fá-
mais dez episódios e promete ceis de explicar: a relação entre Mulder
demonstrar que ainda há muito a e Scully. Colegas de trabalho? Amantes?
descobrir sobre o desconhecido Nos vídeos promocionais lançados em
dezembro, a atriz Gillian Anderson de-
clarou que os dois estarão muito mais
POR NATHAN FERNANDES próximos do que estavam em 2016. “Eu
diria que voltaremos ao ponto onde está-
A verdade está lá fora, jun- vamos originalmente, mas sem a tensão

A
to com a 11ª temporada de sexual”, disse a atriz. “Porque nós já fize-
Arquivo X, que se inicia com mos sexo.” Na Comic Con de NY, Carter
episódio duplo no dia 10 de fez questão de esclarecer que os dois são
janeiro, às 23 horas, na Fox. Depois do parceiros profissionais e não românticos,
retorno nostálgico da obra criada por mas que essa relação pode ser explorada
Chris Carter, com seus seis episódios de um modo complexo e interessante.
em 2016, os agentes Mulder e Scully se Outra confirmação é que, assim como
preparam para mais uma aventura em a última temporada, a nova vai termi-
busca do desconhecido. A série, que es- nar com um gancho que garante uma
treou em 1993 e ganhou 16 Emmys, vai 12ª volta. O problema é que Gillian
ter agora mais dez episódios para roubar Anderson já avisou que não preten-
toda a sanidade dos fãs. A nova tempora- de vestir a roupa de Scully novamente.
da deve partir do ponto em que estava a Ainda na Comic Con, a atriz disse que
última, quando Mulder teve de lidar com esta seria sua última participação na sé-
um vírus alienígena e Scully repentina- rie: “Não parece que a gente tenha en-
mente avistou um óvni. tregado tudo o que os fãs estavam espe-
Em um painel na Comic Con de Nova rando da última vez”. A Fox, no entanto,
York, realizada em outubro de 2017, apressou-se em afirmar que a atriz pre-
Carter deu algumas dicas do que po- feriu não comentar sobre um possível
demos esperar. William, o filho do ca- retorno porque estava envolvida em ou-
sal que foi entregue à adoção para o seu tros projetos. Como aprendemos com
próprio bem, por exemplo, vai ter um os próprios agentes, o melhor mesmo
papel de destaque nos novos eventos. Fig. AZ é não confiar em ninguém.

DECIFRE OS Que tal fazer uma jornada pela barcar na leitura de Amahoy, HQ tória com maestria, com a mis-
QUADRINHOS história de um mundo estranho, do ilustrador e designer Thiago teriosa linguagem abrindo um
HQ brinca com mitologia e onde você precisa entender a Egg que apresenta mistérios e pequeno — e prazeroso — espaço
linguagem e leva o leitor a origem mitológica das dife- ação, mas não tem nenhum balão para a subjetividade do leitor.
uma estranha aventura rentes raças para ajudá-las de texto (pelo menos, não em Com mais de 17 anos de merca-
a superar desigualdades e idioma conhecido). Ausência que do, Thiago Egg vem lançando
POR GABRIEL VOGAS*
garantir sua sobrevivência? não faz falta. Com traços mini- webcomics desde 2015, e
*Membro do Conselho GALILEU
Só mais um detalhe: a história malistas, o artista capricha em Amahoy – Livro 1 é a primeira
toda é contada no idioma local. expressões e movimentos dos HQ impressa do paulistano
É isso que você encontra ao em- personagens para conduzir a his- radicado em Vitória (ES).
23

O ADEUS DO
CAMALEÃO
Novo documentário mostra
como foram os últimos
anos de David Bowie

POR HENRIQUE JANUARIO

Há dois anos, David Bowie, um


dos maiores artistas deste e de
outros planetas, tornou-se sauda-
de e som. Agora, também vai virar
documentário. David Bowie: The
Last Five Years estreia no dia 10
de janeiro, às 22 horas, no canal
BIS. Bowie era um cantor que
não se conformava apenas com a
canção e um ator que sabia que o
mundo não era o bastante como
seu palco. A metamorfose era
a marca registrada do londrino
nascido em 1947. Não era possível
prever seu próximo passo, mas
era possível ter certeza de que
Fig. AZ viria coisa boa. O compositor e
intérprete de Starman também

QUANDO O
nunca se restringiu a um estilo:
ele partiu do rock clássico, passou
FICHA Cama de Gato pelo glam rock, influenciou a

MUNDO SUBIU
TÉCNICA Kurt Vonnegut new wave, bebeu da disco music,
aventurou-se pelo drum and bass
Editora Aleph
280 páginas e usou o jazz sem nunca perder a

NO TELHADO
R$ 44,90 identidade. Depois de um hiato de
quase dez anos, lançou o álbum
inédito The Next Day, seguido por
Blackstar. Bowie teve dois dias de
Livro de Kurt Vonnegut é a prova peculiares romances.Publicada originalmente
vida após o lançamento do álbum,
literária de como o humor se faz em 1963 e agora relançada pela Editora Aleph,
mas foi tempo suficiente para
presente mesmo diante do apoca- a obra narra a jornada do escritor Jonah du-
avisar a sala de controle que iria
líptico fim da condição humana rante a produção de um livro sobre o dia em
ao espaço fazer uma jam session
que a arma nuclear foi usada.
com Major Tom e Ziggy Stardust.
POR LEANDRO SAIONETI Só que, em meio à desgraça humana, suas
atenções se voltam para uma pessoa em espe-
Em 6 de agosto de 1945, às 8h15, a bomba cial: o já falecido Felix Hoenikker, pai (ficcional)
atômica Little Boy, lançada de uma aeronave da bomba. Na trajetória em que busca enten-
B-29, explodiu a 580 metros acima do solo der os mistérios por trás do singular cientista,
de Hiroshima, no Japão. Com potência equi- Vonnegut desenvolve uma obra tentadora,
valente a 13 mil toneladas de TNT, a energia na qual fatos históricos e as mais descaradas
liberada pela arma matou, em pouco tempo, mentiras são postos em intencional pé de de- Fig. YS

mais de 70 mil pessoas. Mas esse é um lado da sigualdade a fim de mostrar como a condição
história... O verdadeiro. Já nas palavras con- humana pode se manter indiferente durante o
templativamente subversivas do escritor nor- caos. Sem a pretensão de ser um anunciador —
te-americano Kurt Vonnegut (1922-2007), o muito menos aquele que diz “eu avisei” —, Kurt
mundo encontrou seu fim na mais perturbado- cria um universo que, se não agrada à família
ra normalidade. Ao menos, é essa a sensação tradicional, com certeza será lembrado quando
que passa Cama de Gato, um dos seus mais as trombetas do apocalipse, de fato, tocarem.
24

SOMBRA E ÁGUA FRESCA


Projeto F Os filmes que
se
u Nome
trazem cenas

me pelo
lór
refrescantes

ida
já causam
burburinho antes
A GALILEU separou dicas culturais quentes e

ha
do Oscar e são
maravilhosas como o verão para você se
C
Me
sérios candidatos
divertir e aprender enquanto toma um solzinho à nomeação

POR NATHAN FERNANDES b


Tom oy E su a M

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É do T
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Também
Livro curtinho de ro
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Um Úte
poesia feminista para

anho de
da
queniqu

quem quer refletir


e problematizar
sem precisar sair da b ar ã o
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beira da piscina

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FILMES
LIVROS
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ANIMAÇÃO
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Animação da Pixar que


mostra uma história
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Lava
de amor de milhões
je de anos tem uma
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música fofa que vai
grudar na sua cabeça

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Fig. YS
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ÁLBUNS
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Frequentemente
citado como um
dos melhores MÚSICA SÉRIES
álbuns da
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1966 influenciou anos, Lorelai e
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Pele à mostra e danças Porque o pescador


sensuais. O clipe do parrudo é uma memória
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Ky
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rapper paulista dá que não podemos


ne

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calor só de assistir time Sad deixar morrer
DOSSIÊ PELE
REPORTAGEM NATHALIA FABRO*

ILUSTRAÇÕES RICARDO DAVINO

DESIGN MAY TANFERRI

P E L E
Q U E
H A B I T O

Clima tropical, buraco na camada de ozônio, falta de informação e de


controle sanitário mantêm o Brasil como um dos países com maiores índices
de doenças de pele; aprenda já a se cuidar para aproveitar este verão

proteger o organismo Contudo, as queimaduras sola- O número corresponde a 30%


contra agressões externas, como res podem se transformar no fu- de todos os casos de tumores re-
fungos e bactérias, impedir a per- turo em enfermidades bem mais gistrados no país. Outra taxa que
da de água e manter a tempera- graves, rendendo muito mais que preocupa é a da hanseníase — an-
tura regulada. Essas são algumas marquinhas indesejáveis. tigamente chamada de lepra —,
das funções do maior e mais pe- As doenças da cútis são a quar- doença que causa lesões cutâneas
sado órgão do nosso corpo: a ta causa de incapacitação no pla- e danos nos nervos. Em 2016, o
pele, que corresponde a cerca de neta, de acordo com relatório pu- Ministério da Saúde computou
16% do que marca a balança. blicado em maio do ano passado mais de 28 mil novos casos.
Mesmo tão importante, há com base em registros hospitala- Para diminuir os altos índices
quem negligencie os cuidados res e em pesquisas dermatológi- de doenças, a Sociedade Brasi-
com essa protetora, especialmen- cas feitas entre 1980 e 2013. leira de Dermatologia aposta na
te no verão. O efeito camarão, a No Brasil, a situação está en- conscientização. “Você não coloca
desidratação, as dores, o mal-es- tre as mais críticas. Por ano, são seu coração e pulmão em risco, e
tar e o desconforto passam de- quase 180 mil novas ocorrências cuidar da pele é tão sério quanto
pois de alguns dias — e de boas de câncer de pele, segundo o Ins- cuidar desses órgãos vitais”, en-
doses de cremes tranquilizantes. tituto Nacional de Câncer (Inca). fatiza campanha da instituição.

* Com supervisão de Giuliana de Toledo

25
ATRASO O
O Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de
casos de hanseníase, doença que causa lesões cutâneas e

À FLOR
danos nos nervos. Fica atrás apenas da Índia. Para ter uma
ideia, só em 2016 o Ministério da Saúde registrou mais de 28 mil no-
vas ocorrências da enfermidade no país. No SUS, está disponível trata-

DA PELE
mento gratuito, mas mesmo assim o Brasil não consegue eliminá-la.
“É uma doença parasitária, causada por agentes externos como
insalubridade, más condições de higiene”, explica a dermatologis-
ta Giovana Moraes. A hanseníase, antigamente chamada de lepra,
Doenças infecciosas antigas ainda é provocada pela bactéria Mycobacterium leprae. Sua transmissão
encontram boas condições de ocorre por meio de saliva ou de secreções nasais de pessoas conta-
proliferação no Brasil do século 21 minadas que não estão em tratamento. Para Marco Andrey Cipriani
Frade, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH),
os índices da doença podem ser bem maiores do que os apontados

DO QUE É
FEITO
NOSSO
ESCUDO?
Entenda a
composição das
três camadas
da nossa pele

EPIDERME DERME HIPODERME


A camada externa impede a entrada de Formada por fibras de colágeno, elastina e Composta de células de gordura, mantém
substâncias e a perda de água. Nela ficam gel coloidal — que garantem elasticidade a temperatura do corpo e armazena ener-
as células que produzem a melanina, que e equilíbrio —, a camada abriga vasos san- gia. A espessura varia bastante de pessoa
dá cor. Também é nela que se originam pe- guíneos e terminações nervosas que nos para pessoa. A camada une a epiderme e a
los, unhas, glândulas de sebo e de suor. fazem sentir dor, cócegas, calor e pressão. derme ao resto do organismo.
pelo Ministério. “Os profissionais não estão fazendo o diagnósti-
co por falta de treinamento e formação adequada. Se o médico não COMPANHIAS INDESEJADAS
diagnostica, o paciente não vira estatística”, diz. Celulite e estrias são doenças?
Situação parecida acontece com a leishmaniose tegumentar, infec-
ção que provoca úlceras na pele e nas mucosas das vias aéreas, tam-
A lista de doenças de pele da Sociedade Bra-
bém chamada de úlcera de Bauru. De 2005 para 2015, os casos dimi-
sileira de Dermatologia é longa, com mais de
nuíram 27%, passando de quase 27 mil para cerca de 20 mil. Porém,
70 patologias. Entre elas estão algumas bem
não dá para festejar. Segundo o Ministério, a enfermidade ainda é
curiosas (e inevitáveis): celulite, estrias, ver-
preocupante, principalmente no Norte e Nordeste.
rugas e até o envelhecimento. “É considerada
As condições ambientais dessas regiões contribuem para a prolife-
doença qualquer alteração da normalidade da
ração do vetor da doença — o mosquito-palha, conhecido ainda como
pele, tudo aquilo que interfere no bem-estar do
birigui. As fêmeas passam a carregar o protozoário Leishmania após
indivíduo”, explica o diretor Helio Miot. Enten-
picarem pessoas infectadas. “Entre as zoonoses, essa doença é con-
da, a seguir, como oito doenças agem.
siderada de velho mundo, muito antiga”, comenta Giovana Moraes.

VITILIGO ALBINISMO
Provoca a perda de Desordem genética
coloração da pele em na qual a produção de
determinadas regiões. melanina é insuficien-
Fenômenos autoimunes e te, por isso a pele, os
traumas psicológicos po- cabelos e os olhos não
dem ocasioná-la. têm pigmento.

DERMATITE ATÓPICA DERMATITE


Genética, a doença DE CONTATO
crônica não é conta- Inflamação causada por
giosa e provoca secu- produtos. Pode ficar res-
ra, coceira e vermelhi- trita ao local de contato
dão na pele. ou causar alergia maior.

ECZEMA ESCABIOSE
Provoca lesões como (OU SARNA)
bolhinhas com água, É provocada por ácaro
secreções que formam que procria na pele.

Cuidado com tem nome: dermatilomania. “Os feri- crostas e aumento da As fezes do bicho

os dedos
mentos são causados por compulsão, espessura da pele. causam as lesões.
ansiedade e estresse”, afirma a der-

inquietos matologista Giovana Moraes. O dis-


túrbio também pode estar associado
MANIA DE CUTUCAR A PRÓPRIA ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo
PELE É UM SINAL DE ALERTA (TOC), visto que a pessoa busca uma MELASMA PSORÍASE
pele lisa e “perfeita”. São manchas escuras na Crônica e não contagiosa,
ARRANCAR CASQUINHAS, espremer E agora, doutor? O tratamento é pele, principalmente no sua causa é desconhe-
cravos e espinhas, puxar pelos encra- feito com produtos para amenizar rosto. Afeta mais as mu- cida. Vermelhidão, desca-
vados, coçar picadas de insetos. O ato os machucados, além de terapia. “No lheres e está relacionada mação e surgimento de
de insistir em cutucar — e, consequen- consultório, tratamos a lesão ativa e ao uso de anticoncepcio- manchas espessas são os
temente, machucar — a própria pele indicamos psicólogos ou psiquiatras.” nais e à exposição solar. principais sintomas.
27
COBERTURA
ESPECIAL NÃO PODE
VIR QUENTE
Você sabe que
tipo de pele é o
seu? Confira as
características
Além do sol, agentes químicos, elétricos ou radioativos podem causar
queimaduras. Veja como elas são classificadas por profundidade e tamanho

NORMAL
Com textura aveluda- 1° GRAU 2° GRAU
da, produz gordura Atinge apenas a epiderme. Causa ver- Chega até a derme, e provoca os mesmos
em quantidade equi- melhidão no local e palidez com o toque sintomas do primeiro tipo. A diferença é
librada, sem brilho (sabe quando você aperta e a pele fica que se formam bolhas e a lesão fica com
ou ressecamento. mais clara por uns segundos?). A dor é in- aparência úmida. A cura é demorada:
Possui poros peque- tensa, mas não há produção de bolhas. leva cerca de três semanas.
nos, pouco visíveis.

SECA
Fica facilmente desi-
dratada. Apresenta
poros pouco visíveis,
pouca luminosidade
e tem mais chances
de ficar vermelha e
descamada.

OLEOSA
Por produzir muito
sebo, tem aspecto
brilhante e espesso.
Os poros são dilata-
dos, com maior ten-
dência para formação
de cravos e espinhas.

MISTA
Tem oleosidade e po-
ros dilatados na “zona 3° GRAU O TAMANHO DO RISCO
T” (testa, nariz e quei- Todas as camadas são atingidas, poden- Além da profundidade da queimadura,
xo), com possibilidade do alcançar até o tecido gorduroso e as sua extensão determina a gravidade.
de acne nessa região. terminações nervosas. A pele fica seca, A avaliação médica leva em conta a por-
Bochechas e extremi- enrugada, dura. A cicatrização não é es- centagem queimada do corpo em relação
dades são secas. pontânea e precisa de enxertos. à sua superfície total.
28
Sou eu, bola de fogo, DE OLHO
NO RÓTULO
o calor tá de matar Entenda a diferen-
SOL

ça entre as radia-
BURACO NA CAMADA DE OZÔNIO AUMENTA
ções UVA e UVB
RISCO DE CÂNCER NO HEMISFÉRIO SUL

UMA FOTO DO NADADOR australiano Mack Horton


recebendo uma medalha de ouro na Olimpíada do ADA DE OZÔNIO
CAM
Rio, em 2016, chamou a atenção de um fã extre-
mamente detalhista, que avisou à Federação Aus-
traliana de Natação que uma das pintas no tórax
do atleta poderia ser um câncer de pele.
Dias depois, a suspeita se confirmou e Horton
TERRA
retirou a verruga cirurgicamente. Pode parecer es-
tranho identificar um tumor apenas por uma ima-
gem, mas não tanto para quem vive na Austrália
— o país lidera o índice mundial de casos de câncer UVA UVB
da cútis. Segundo o Cancer Council of Australia, Consegue chegar à ca- Atinge principalmente
66% da população será diagnosticada com a enfer- mada mais profunda, a a derme e é responsável
midade até os 70 anos. Quase 2 mil australianos hipoderme. Causa o efeito pela ativação da vitamina
morrem a cada ano por causa da doença. bronzeado, tão desejado D. Seus efeitos são
O grande inimigo do país — e de todos os do He- no verão, mas — cuidado mais imediatos, causando
misfério Sul, como o Brasil — é o buraco na camada — também leva a envelhe- aspecto de vermelhidão
de ozônio. Na falta desse bloqueio, estamos mais cimento, manchas e cân- e queimaduras. O UVB é
sujeitos às radiações ultravioletas, que causam cer. Sua intensidade varia mais intenso entre
danos à pele. Aprenda, ao lado, a identificá-las. pouco ao longo do dia. 10 horas e 16 horas.

Derme

Hipoderme

TREINE OS A B C D E
PRÓPRIOS
BENIGNO

OLHOS
MALIGNO

Saiba analisar suas


pintas e manchas com
o Método ABCDE ASSIMETRIAS BORDAS CORES DIÂMETRO EVOLUÇÃO
Quando os lados da Em casos benignos, Variações de tons na A pinta não deve ter Observe. Mudanças
lesão não são iguais são uniformes, lisas. mesma pinta/mancha diâmetro maior que de tamanho, forma
é um sinal de alerta. Nos malignos, não. não são bom sinal. 6 milímetros. ou cor são perigosas.
AMIGOS P
Principalmente no verão, estação em
que estamos com o corpo mais à mos-

OU RIVAIS?
tra, não demora a aparecer alguém
para lhe contar que usou uma receitinha caseira
e que foi tudo uma maravilha. Mas o que funcio-
na de verdade? E, o mais importante, o que é se-
guro? Abaixo, a GALILEU explica oito questões
Afinal, chocolate provoca ou não espinhas? Desvendamos
frequentes. Para todas as outras, claro, não he-
essa e outras crenças comuns sobre a pele e seus cuidados
site em procurar um médico dermatologista.

PEPINO NO OLHO? PELE NEGRA DISPENSA PELES ESCURAS TÊM PELE OLEOSA
SIM. Funciona para diminuir PROTETOR SOLAR MENOS DOENÇAS ENVELHECE MENOS
inchaço. “Se as rodelas estão MITO. “A pele negra também MENTIRA. A melanina não VERDADE. “Ela envelhece
geladas, fazem com que está exposta ao câncer de protege contra enfermidades. mais devagar”, comenta Gue-
os vasos se contraiam”, pele”, diz a dermatologista Segundo Guedes, melasmas e des. O óleo cria uma “película”
afirma Iracema Bazzo, der- Cintia Guedes. A recomen- alguns tipos de olheiras, por na cútis, o que impede a en-
matologista do Spa OpperLi- dação é usar protetor solar exemplo, são mais frequentes trada de partículas externas —
fe Mind Detox, de São Paulo. de fator alto, no mínimo 30. em negros e morenos. como da poluição — nos poros.

SOL CONTRA ACNE COMER CHOCOLATE COMER CENOURA ÁCIDO HIALURÔNICO


ILUSÃO. A radiação solar DÁ ESPINHA FAZ DOURAR ACABA COM RUGAS
tem ação anti-inflamatória, MITO E VERDADE. O proble- VERDADE. O betacaroteno MITO. Alguns cosméticos e
então, no começo, o aspec- ma não é o chocolate em si, da hortaliça estimula a pro- procedimentos usam essa
to da acne até vai melhorar. mas todo alimento com índi- dução de melanina. “Mas isso substância, presente no nosso
Porém, deixará a pele mais ce glicêmico alto. O aumento é uma coisa que você precisa corpo, para amenizar a apa-
oleosa e, assim, as espinhas do nível de açúcar no sangue fazer um mês antes de ir para rência das marcas, mas seu
30
vão acabar piorando. contribui para a acne. a praia”, comenta Guedes. efeito é apenas temporário.
A pesquisa foi realizada pela GALILEU em parceria com o site Sexlog. Entre os dias 5 e 12 de dezembro, 17 mil usuários da plataforma (66% perfis de homens, 27% casais e 6% mulheres) responderam a perguntas cujas respostas você verá ao longo da matéria.

31
33%
38%
29%
Já desistiu

mudou de ideia?
de usar aplicativos
de namoro e depois

SOZINHO!
VOCÊ NÃO ESTÁ
Por que
Facilidade de conhecer pessoas

Nos próximos 20 anos, o percentual de casais que se conheceram


você usa
por meio de aplicativos de namoro chegará a 70%, segundo estudo.
aplicativos
Mas isso não significa que o romance esteja mais fácil. Na era pós-Tinder,
e sites de
novos serviços tentam dar ao usuário mais amor e menos cilada
namoro?

PO
Opções de pretendentes

57%
Timidez ao abordar pessoas

27%

CRU
Outro motivo

11%

5%
REPORTAGEM ISABELA MOREIRA ILUSTRAÇÕES MATHEUS MUNIZ

OXA ,
EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO DESIGN FEU

USH Poxa o quê?


Em 2017, um vídeo da
youtuber Nicole Vieira
cantando “Poxa, Crush”
viralizou na internet. Na
canção, ela desabafa so-
bre não ser notada por
seu interesse amoroso
namento simultaneamente. Eu logo en-
trei para essa estatística, instalando e de-
sinstalando diferentes programas, dando
matches que não iriam para a frente, co-
nhecendo pessoas legais e outras nem
tanto e tendo diversas conversas fora dos
apps sobre as mudanças que esses servi-
ços trouxeram para a forma de pensar-
mos em relacionamentos.
Dois anos depois, decidi investigar
essas questões sob as lentes da ciência,
da psicologia e da história da tecnolo-
gia. Spoiler: as respostas não eram tão
simples quanto eu pensava que seriam.

Par perfeito
A maioria dos relacionamentos entre os
“JORNALISTA LOUCA POR SÉRIES meus conhecidos da minha faixa etária
e cultura pop”, digitei e parei por um mo- começou no Tinder. É o caso de Ana Luí-
mento, olhando a tela do celular. Já havia za Bussular, jornalista de 25 anos que co-
escolhido algumas fotos nas quais acha- nheci por meio de uma amiga em comum.
va que tinha saído bem e preenchido mi- A Analu, como todos a chamam, é de Vi-
nhas preferências: homens entre 23 e 30 tória, mora em Curitiba, mas foi em uma
anos que estivessem no meu bairro ou viagem ao Rio, em 2015, que encontrou o
nos arredores, na região do ABC paulista. programador Gabriel Arrais. Estava pas-
Não consegui pensar em nenhuma saca-
da engraçada, então apenas acrescentei
um emoji de um ET e finalizei o processo.
Estava oficialmente no Tinder.
Era o início de 2016, passados três
anos da estreia do aplicativo de namo-
ro no Brasil. Depois de meses ouvindo,
no trabalho, as experiências dos meus TÁ AFIM DE TC?
amigos, decidi instalá-lo no celular. Com As expressões mais comuns em conversas
base na minha localização e nos filtros em aplicativos de paquera
que escolhi, o app me indicou pretenden-
Crush
tes em potencial. Cada um deles apre-
Do inglês “paixonite”, é usado para se
sentava uma ou mais fotos de perfil, com
referir àquele por quem a pessoa tem interesse.
nome, idade e, às vezes, descrições de
quem eram. Se algum me interessasse,
Match
tinha que deslizar a imagem para a direi-
Quando dois usuários se interessam um
ta; se não, para a esquerda. E caso o inte-
pelo outro, rola um match , a combina-
resse fosse mútuo, teríamos um match,
ção que permite que conversem entre si.
ou seja, uma combinação — e, assim, a
possibilidade de iniciar uma conversa.
Ghosting
Após o estranhamento inicial, o aplica-
Cuidado com as assombrações: fazer ghos-
tivo começou a parecer uma espécie de
ting (do inglês, ghost, fantasma) é su-
jogo — ele sim, ele não — do qual eu não
mir sem explicação após trocar mensa-
era uma das poucas jogadoras: o Brasil é
gens ou ter encontros com alguém.
o segundo país que mais usa o Tinder no
mundo, só atrás dos EUA. A popularidade
Real
do serviço fez com que outros, internacio-
“Tá a fim de real?” Em apps gays, signi-
nais e nacionais, surgissem por aqui.
fica “tem interesse em sexo casual?”.
Uma pesquisa realizada pela GA-
LILEU em parceria com o site Sexlog
mostra que 47% dos 17 mil participantes
usam mais de um aplicativo de relacio-
QUESTÃO DE TEMPO
Como os serviços
de paquera
evoluíram ao
longo da história

1930
O cassino Resi, em
Berlim, ganha populari-
dade por instalar telefo-
nes em suas mesas.
Para paquerar, bastava
sando as férias na casa de uma amiga e,
ligar para o número da
após um dia de praia, decidiu baixar o
sua mesa-alvo.
Tinder para tentar conhecer algum cario-
ca antes de voltar para o Sul. Era a quarta
vez que Analu instalava o app. “Sou muita
chata e não curtia ninguém”, conta, rin-
do. Até que chegou a Gabriel e… não foi
amor à primeira vista. “Fiquei um tem-
pão encarando o perfil dele. Passei o ce-
lular para as minhas amigas olharem e ou era apresentada por amigos em co-
decidirmos se devia dar uma chance.” mum. Agora, histórias como a de Analu
Em uma das fotos, Analu percebeu e Gabriel estão virando regra: um levan-
Você já saiu
que Gabriel usava uma camiseta que fa- tamento do site de relacionamentos eHar-
com alguém
zia referência a Dom Casmurro, de Ma- mony em 2014 estima que, até 2040, cer-
que conheceu em
chado de Assis. “Olhos de cigana oblí- ca de 70% dos casais terão se conhecido
sites ou apps
qua e dissimulada”, lia-se. O detalhe era por meio de aplicativos ou sites de namo-
de namoro?
o que faltava para convencer a apaixona- ro. “É uma mudança gigantesca”, comen-
da por livros a deslizar o dedo para a di- ta Silva. “A internet pode ter tremendas
reita — e veio o match. No dia seguinte, vantagens, principalmente para pessoas
uma segunda, conversaram sem parar. que não possuem opções compatíveis e
Marcaram um encontro para sexta, mas disponíveis em seu círculo de relações.
acabaram adiantando para quarta. Desde Posso estar sentado no escritório e ter vá-
ali, engataram o namoro, que sobrevive a rias opções possíveis ao meu redor, mas
distância: ela em Curitiba, ele no Rio. jamais saberia se não fosse a internet.”
Há alguns anos, as opções de Analu es- A saída dos círculos de convivência faz
tariam restritas aos círculos de convivên- ainda com que a configuração da socie-
Fonte: Pesquisa da GALILEU em parceria com o site Sexlog

cia dela. “No começo, pensei que usar o dade comece a mudar. Em estudo reali-
aplicativo para conhecer alguém não era
78% zado em 2017, cientistas das universida-
muito natural. Mas depois percebi que des de Essex, na Inglaterra, e de Viena,
não saía muito, a maioria das minhas ami- na Áustria, sugeriram uma relação entre o
zades conheci na internet, qual era o pro- aumento do número de casais interraciais
blema de tentar?”, confessa. nos EUA em 1995, 2000 e 2014 e a criação
E não costumava ser muito natural do site de namoro Match.com, a norma-
mesmo. Uma pesquisa do psicólogo Ail- lização dos relacionamentos virtuais e a
ton Amélio da Silva, especialista em co- popularização do Tinder, respectivamente.
municação não verbal e relacionamentos De acordo com simulações realizadas pe-
amorosos e professor aposentado do Ins- los pesquisadores, o fato de esses serviços
tituto de Psicologia da USP, mostra que, conectarem desconhecidos faz com que a
há 15 anos, 2% dos casais se uniam por chance de eles serem de raças diferentes
meio de sites de namoro. A imensa maio- seja maior do que se precisassem ter rela-
35
ria já se conhecia antes de se relacionar 22% ções em comum no mundo físico.
Onde tudo acontece
A lógica não se restringe à raça. Para
membros da comunidade LGBTQ, os
aplicativos representam a possibilida-
de de conhecer pessoas com as mesmas
preferências e explorar sua sexualidade,
ainda mais quando vivem em regiões as-
sombradas pela homofobia.
“A tecnologia é uma das nossas me-
lhores aliadas na luta contra o precon-
ceito e a marginalização, porque facilita
os usuários não utilizam seus nomes, e
a distribuição rápida de informações e
sim apelidos ou símbolos que indiquem
ideias e ajuda aqueles que estão isolados
Você conversa preferência sexual, ou seja, as intenções
a formar comunidades”, afirma o norte-a-
com mais de uma são bastante claras”, explica. “Utilizan-
mericano Peter Sloterdyk, porta-voz do
pessoa ao mesmo do esses três aplicativos, senti que não
aplicativo Grindr. Com foco em conec-
tempo em serviços era algo para mim. Neles rola algo mui-
tar homens gays e bissexuais, o app foi
de namoro? to diferente daquilo que eu desejo, que
criado em 2009. Atualmente, tem mais
é simplesmente conhecer um cara legal
de 3 milhões de usuários diários em todo
e tocar um relacionamento. A sensação
o mundo. Desde seu lançamento, outros
é a de estar em um campo de caça.”
dois aplicativos concorrentes nasceram:
o Scruff, em 2010, e o Hornet, em 2011. 11% No início, essa caça até parecia pro-
missora, já que a timidez de Luan dificul-
Na experiência do advogado Luan An-
ta o flerte. Ele usou o Tinder pela primei-
drade, no entanto, quem busca um rela-
ra vez há quatro anos, onde conheceu seu
cionamento sério, como ele, dificilmente
ex-namorado, com quem ficou por três
o encontrará em um dos três apps. “Oi-
anos. Com o término, voltou aos apps no
tenta por cento dos usuários desses apps
início de 2017, mas se frustrou com os
buscam sexo casual”, estima o paulista-
usuários. “No Tinder, há muitos perfis
no de 24 anos. “Salvo raras exceções, 89% com imagens de homens aparentemente
perfeitos, e que derrubam a autoestima
de caras comuns. E dão a impressão de
que, se não nos encaixamos naquele pa-
drão de beleza ou estilo de vida, estamos
fadados à solidão”, desabafa.
Essa escolha baseada na imagem é um
tema que, há alguns anos, chamou a aten-
ção da pesquisadora norte-americana Jes-
sica Strübel, da Universidade de Rhode
Island. “Tinha ouvido alguns dos meus
alunos falando sobre o Tinder e como ele
funciona. Comecei a pensar nessas pes-
36
soas escolhendo potenciais parceiros com
base em uma ou duas imagens”, conta. logo descobri que isso não é uma parti-
Para entender melhor a prática, pediu que cularidade minha. É preciso ter paciên-
centenas de universitários respondessem cia. Na pesquisa realizada pela GALI-
um questionário com perguntas sobre Já deixou de LEU e a Sexlog, 37% afirmaram estar
autoestima. Os resultados foram desa- conversar com há dois anos ou mais em aplicativos e
pontadores, porém não surpreendentes: um pretendente sites de relacionamentos.
aqueles que usavam o Tinder tinham au- sem dar explicação? Após dois anos usando apps como o
toestima mais baixa, além de maior ten- Tinder e o Happn, a frustração também
dência a se comparar aos outros. alcançou o gaúcho Augusto Mengarda,
“Penso que essa lógica está de acordo de 27 anos. Atualmente se preparando
com a nossa sociedade de consumo, na para o doutorado em Engenharia Elétri-
qual você pode ter tudo rápido e fácil à dis- ca, ele entrou nos aplicativos durante o
posição”, reflete Cleusa Kazue Sakamoto, mestrado, quando não tinha muito tem-
psicóloga e professora da Faculdade Pau- po disponível para conhecer pessoas no-
1954
lus de Tecnologia e Comunicação. “Você vas em festas e bares. “Tive vários en-
É fundada a Paimi,
pode até pensar assim em relação a um contros, algumas pessoas com quem saí
primeira agência de
produto, mas não é algo tangível quando mais de uma vez, até por mais de alguns
casamentos do Brasil.
diz respeito à companhia de uma pessoa, à meses, mas nunca cheguei a ter nada sé-
Nas décadas seguintes,
possibilidade de desfrutar com alguém um rio por meio dos aplicativos.”
agências e anúncios de
momento íntimo, trocar afeto e prazer.” Em agosto de 2017, o perfil de Augus-
jornal à procura de pre-
Desviar da superficialidade exige um to foi selecionado pela equipe do Adote
tendentes se tornaram
esforço de todas as partes. Victor Teixei- um Cara para participar da campanha
mais populares.
ra, representante do aplicativo Adote um
51% de inverno do aplicativo. No serviço, que
Cara no Brasil, sugere que os usuários o engenheiro já tinha utilizado algumas
transformem seus perfis em quem eles vezes, as mulheres têm o controle para
são. “Escreva quem você é, coloque as selecionar os candidatos que acham in-
coisas de que você gosta, porque, quando teressantes. “Tudo funciona como uma
encontrar alguém, a pessoa já terá uma boutique, onde as meninas escolhem
ideia de quem você é”, afirma. “Use as fo- (adotam) os caras que elas mais curti-
tos com as quais você se sente à vontade, rem. Os homens criam seus perfis de
e não as que os seus amigos dizem que acordo com suas características e esti-
você saiu bem”, completa Karol Cicca- lo: barbudo, hipster, surfista, geek etc.,
relli, do marketing do mesmo serviço. e ficam disponíveis em nossa prateleira
para nossas doces usuárias”, diz a des-
crição do app na loja do Google. “Se a
mulher achar um cara interessante, pode
‘colocá-lo’ em um carrinho — e ele rece-
berá uma notificação e poderá conver-
sar com ela”, explica Karol Ciccarelli.
Nas semanas seguintes à campanha,
Augusto foi contatado por mais de 1,2
mil pretendentes. A quantidade foi um
Bom, e se a ideia for fugir totalmente pouco demais para ele: “Havia pessoas
da escolha baseada em imagens, também legais, mas não deu em nada. Tinha mui-
existem apps de relacionamentos às ce- ta gente de fora do Rio Grande do Sul,
gas, como Deeper e First. não tinha muito o que acontecer. Foram
tantas mensagens que algumas não con-
A verdade nua e crua segui responder até hoje”. A frustração
A quantidade de opções nos apps traz fez com que ele ficasse mais criterioso,
esse conflito: por que se dedicar a uma
49% conversando por mais um tempo antes
só conversa quando se pode atirar um de chamar para tomar um café e até dei-
pouco para todos os lados? Essa foi uma xando os apps de lado por um período
ideia que demorei a entender. O mais — quando nos falamos, ele estava com
frustrante durante a minha experiência o Tinder desativado e ainda tinha o Ha-
no Tinder e no Happn foi ter várias com- ppn, mas está dando uma chance para as
binações e ser deixada falando sozinha, possibilidades fora da tela, um ciclo pelo
37
prática conhecida como ghosting. Mas qual já passou algumas vezes.
FELIZ POR
ENQUANTO
Entrevistamos Mandy Len Catron, autora de livro famoso por
ensinar como fazer qualquer um se apaixonar por você

ERA UMA VEZ uma líder de letânea fez com que a “prática”
torcida que se apaixonou pelo da escritora ficasse conhecida
técnico do time de futebol ame- mundialmente em questão de
ricano. Assim que ela se formou, dias: durante um encontro com
ele a pediu em casamento e os um colega, em 2014, ela decidiu Jornadas O QUE FAZ COM QUE UMA HISTÓRIA
dois tiveram duas lindas e sau- recriar com ele um experimento possíveis DE AMOR CHAME A ATENÇÃO?
dáveis filhas. Para uma delas, que supostamente faria um se Para o escritor Kurt Muitas coisas, mas principal-
Mandy Len Catron, o relaciona- apaixonar pelo outro. Trata-se de Vonnegut, boa parte das mente duas: a primeira é que
mento dos pais representava a um questionário de 36 pergun- histórias de amor as melhores histórias de amor
história de amor perfeita. tas (entre elas, “Se você pudesse seguem este modelo: nos passam uma sensação de
Mas não era: quando entrou jantar com qualquer pessoa, viva pertencimento e validação — as
na vida adulta, os pais se se- ou morta, quem seria?” e “Como pessoas boas são recompensa-
pararam, e ela, que estava em você acha que vai morrer?”) cria- das por sua bondade, o amor é
um relacionamento no qual não do pelo cientista norte-america- dado àqueles que o merecem.
tinha certeza se queria estar, co- no Arthur Aron e que, segundo o A segunda é que algumas pes-
meçou a questionar tudo o que próprio, já fez até com que par- quisas sugerem que histórias de
sabia sobre amor. A pesquisa so- ticipantes se casassem. Catron romance ativam os sistemas de
bre o assunto toma vida no livro relatou sua experiência em uma recompensa do cérebro, o que
How to Fall in Love with Anyo- coluna do The New York Times significa que, de acordo com a
ne: A Memoir in Essays (Como se e o texto rapidamente tornou- neurologia, assistir a uma comé-
Apaixonar por Qualquer Pessoa: se um dos mais compartilhados dia romântica faz com que nos-
Memórias em Ensaios), publica- da história do jornal. sos cérebros respondam como se
do em inglês no início de 2017. O grande interesse no texto nós estivéssemos nos apaixonan-
Atualmente professora de só confirmou o que a escritora do. É intoxicante...literalmente.
inglês e escrita criativa da Uni- suspeitava: as pessoas não con-
versidade da Colúmbia Britâni- seguem resistir a um romance SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA ACA-
ca em Vancouver, no Canadá, ou a uma fórmula para conquis- BOU VIRALIZANDO NA INTERNET,
a escritora parte das próprias tá-lo. Veja o que mais ela desco- FAZENDO COM QUE MUITA GENTE
experiências para investigar o briu sobre o assunto durante a ENTRASSE EM CONTATO COM VOCÊ.
que a história, a cultura e a ciên- produção de seu livro. QUAL FOI A PERGUNTA QUE MAIS
cia têm a dizer sobre relaciona- LHE FIZERAM DESDE ENTÃO?
mentos humanos. “Sempre tive POR QUE VOCÊ DECIDIU COMEÇAR No começo as pessoas só que-
interesse no amor”, escreveu ela A ESTUDAR O AMOR? riam saber se eu ainda estava
Mandy Len Catron
em entrevista por e-mail à GALI- Eu sempre tive interesse no as- em um relacionamento com o
sugere uma
LEU. “Mas passei a pensar nele sunto. Acho que isso tem a ver homem sobre quem escrevi na
estrutura diferente:
como uma prática. Isso significa com o fato de que o amor me coluna. Agora costumam me per-
que nós podemos decidir como fazia sentir que eu não tinha ne- guntar como fazer o amor durar.
praticá-lo e com quem.” nhum poder ou controle quando Não falo muito sobre isso no li-
O ensaio que dá nome à co- era menina: era frustrante ter vro porque não considero que
que ser passiva e esperar pela essa seja a pergunta mais im-
atenção e validação dos meni- portante sobre o tema, apesar de
nos e, ainda assim, querer essa achá-la bastante interessante.
validação. Acabei escrevendo o Durante a minha pesquisa,
livro que gostaria que o meu eu aprendi que não há garantias
de 20 anos tivesse lido. no amor. Você pode fazer o seu
DICAS DA MANDY
A autora recomendou
algumas de suas obras
favoritas sobre amor,
para entendê-lo em
todas as suas formas

Só Garotos, de Patti Smith


O premiado livro contém rela-
tos emocionantes sobre o rela-
cionamento de amor e amiza-
melhor e ainda assim um rela- de entre a cantora e o fotógrafo DECADA GERAÇÃO. NUNCA FOI TÃOFÁ-
cionamento pode acabar. Em vez Robert Mapplethorpe. CIL CONHECER ALGUÉM COMO HOJE:
de pensar em como fazer o amor BASTA BAIXAR UM APLICATIVO E DAR
Meet the Patels (2014)
durar, acho que ganharíamos ALGUNS CLIQUES. COMO VOCÊ AVALIA
O documentário acompanha o 1965
mais mudando a mentalidade, ESSE MOMENTO E OS COMPORTAMEN-
ator Ravi Patel , o primeiro de Nasce o primeiro ser-
deixando de ver o fim de rela- TOS QUE SURGEM A PARTIR DELE?
uma família de indianos a nas- viço por computador: o
cionamentos como um fracasso Essa é uma pergunta difícil! Com
cer nos Estados Unidos, em Operation Match. Uma
e dando mais valor a outros tipos mais escolhas, há mais expectati-
sua busca por uma esposa. máquina IBM 7090 pro-
de relações: as de curto prazo, vas. Os aplicativos mediam nossas
cessava os dados e dava
as poligâmicas e as complexas Hoje Eu Quero Vol- experiências de forma que possa-
uma lista de candidatos.
estruturas familiares. tar Sozinho (2014) mos ser menos responsáveis uns
O filme nacional conta a his- com os outros. Furar um encontro
EM HOW TO FALL IN LOVE WITH tória de Leonardo, um meni- de última hora ou deixar alguém
ANYONE, VOCÊ FALA BASTANTE no cego que busca independên- falando sozinho não são conside-
SOBRE A IMPORTÂNCIA DE DES- cia e cuja vida muda ao conhecer rados problemas. Achei isso bem
MISTIFICAR OS RELACIONAMENTOS um novo colega , Gabriel. complicado. No mundo ideal, nós
AMOROSOS. QUAL FOI A PRINCIPAL lidaríamos com sites e apps de na-
The Longest Shor-
LIÇÃO SOBRE AMOR E RELACIONA- moro com uma mente mais aberta
test Time (O Mais Lon-
MENTOS QUE VOCÊ APRENDEU DU- e menos expectativas, mas sei que
go Período Curto)
RANTE O PROCESSO DE ESCRITA isso é mais fácil de falar do que de
Considerado um dos melho-
DO LIVRO? fazer — e essas acabam sendo ex-
res podcasts gringos dos últimos
Terminei o projeto com a sen- periências exaustivas emocional-
anos, o programa aborda as di-
sação de que, ao mesmo tempo mente. Acho que a melhor aborda-
ficuldades e maravilhas da ma-
que o amor é uma parte dife- gem é encarar a paquera como algo
ternidade e da paternidade.
rente das nossas vidas, ele pode sazonal: quando você estiver moti-
surgir de diferentes formas. E Next Year, For Sure (Ano vado, pode se jogar nessa atividade,
todas essas experiências amo- que Vem, Com Certeza), e quando cansar, encerra a estação.
rosas são válidas. Passei a ver de Zoey Leigh Peterson Você tira uma folga e continua
o amor mais como uma escolha Publicado em 2017 no Reino Uni- com a sua vida dedicando ener-
ou prática: a de oferecer algo de do, o romance mostra como a vida gia a conexões significativas com
mim a outra pessoa. Pensar no de Kathryn e Chris muda quan- pessoas que já conhece e ama.
amor como prática significa que do, após nove anos juntos, deci- Para mim, essa é uma boa forma
podemos decidir como praticá-lo dem ter um relacionamento aberto. de manter a sanidade.
e com quem. Prefiro essa ideia
do que a de que tenho que ficar
sentada esperando esse gran-
de sentimento me arrebatar.

UM DOS ENSAIOS DO LIVRO É DEDICA-


DO A EXPLORAR AS DIFERENTES FOR-
39
MAS DE ABORDAR RELACIONAMENTOS
“Apesar do inegável sucesso dos apli-
cativos, fica claro que a nova tecnologia
voltada a encontros românticos criou seu
próprio conjunto de problemas”, escreve
o comediante norte-americano Aziz An-
sari no livro Romance Moderno —Uma In-
vestigação sobre Relacionamentos na Era
Digital (Editora Cia. das Letras, 288 pá-
ginas, R$ 47,90). Com a ajuda do soció-
logo Eric Klinenberg, Aziz viajou para di-
versas cidades dos Estados Unidos, bem
como Buenos Aires, na Argentina, Tó-
quio, no Japão, Paris, na França, e Doha,
no Catar, para entender como a tecnolo-
gia está afetando a forma como nos rela-
QUER MAIS, @?
Recomendamos quatro obras que
cionamos uns com os outros.
representam as nuances dos
Ele usou um pouco da pesquisa para
relacionamentos modernos.
roteirizar sua série Master of None, dis-
ponível na Netflix. Em um dos episó-
Não está fácil para ninguém
dios da segunda temporada, o protago-
Em Master of None, conhecemos Dev, um jo-
nista, Dev, vivido pelo próprio Aziz, vai
vem ator que ainda não sabe bem quem é, mas
a vários encontros com diferentes pre-
está em busca de sua cara-metade. Ao longo das
tendentes. Por vezes, o processo parece
duas temporadas, ambas disponíveis na Netflix,
entediante, ainda mais quando ele leva
a série discute, com humor e sensibilidade, como
as mulheres nos mesmos lugares e tenta
é navegar a solteirice em tempos de aplicativos.
conquistá--las com as mesmas cantadas,
como se não fossem diferentes umas das
Tá me ouvindo?
outras. “Encontrar uma pessoa é mais
Considerado um dos melhores podcasts norte-
complicado e estressante hoje do que era
-americanos do momento, o Why Oh Why, dis-
para as gerações anteriores”, afirma em
ponível em inglês no iTunes e no Spotify, mis-
Romance Moderno. Para melhorar a bus-
tura entrevistas sobre como a tecnologia , a cul-
ca, ele sugere que se deve sair mais de
tura e novos comportamentos afetam a paquera
uma vez com a mesma pessoa, assim os-
com crônicas sobre a vida de solteira da própria
dois podem ter uma chance de se conhe-
apresentadora do programa , Andrea Silenzi.
cer melhor e, possivelmente, estabele-
cer uma conexão. “Ao mesmo tempo, é
Oi, sumido
maior a probabilidade de que, uma vez
Cada episódio da série documental Hot Girls
com ela, essa pessoa seja alguém real-
Wanted: Turned On explora um aspecto da in-
mente empolgante”, completa.
tersecção entre sexo e tecnologia. O segundo ca-
pítulo da primeira temporada do programa da
Netflix acompanha a rotina de James, um ho-
mem que conhece mulheres por aplicativos e as
deixa falando sozinhas quando perde o interesse.

Um amor desses, bicho


No livro Ensaios de Amor (L&PM Pocket,
208 páginas, R$ 21,90), o filósofo suíço Alain
de Botton mistura a história fictícia de um ca-
sal que está se apaixonando com ensaios so-
bre os sentimentos envolvidos no processo. Em
seu mais recente livro, O Curso do Amor (In-
trínseca, 256 páginas, R$ 34, 90), o autor traz
novas reflexões, dessa vez sobre o casamento.
preendedor Guilherme Ebisui, então
com 23 anos, teve a ideia de criar um
aplicativo que permitisse que as pes-
soas soubessem com quem podem se
encontrar com antecedência, garantin-
do as chances de acontecer o flerte.
Com a ajuda do amigo Filipe Santos,
de 24 anos, ele criou o Poppin, app lan-
çado em junho de 2016 que, conectado
aos eventos do Facebook, permite aos
usuários ver quem irão encontrar e de-
Juntos pelo acaso
monstrar interesse com antecedência.
O argumento de Aziz Ansari me lembra
Assim como o Tinder, o serviço funcio-
das comédias românticas que adoro as- Você já teve um
na com base em combinações: se houver
sistir: aqueles filmes em que os prota- relacionamento
interesse de ambas as partes, o aplica-
gonistas demoram, mas encontram o com alguém que
tivo possibilita que conversem. “Os en-
que tanto desejam — e que geralmente conheceu em sites
contros demoram muito para serem mar-
estava o tempo todo ali. Em sua tese Os ou apps de namoro?
cados em apps de relacionamentos. No
Formatos das Histórias, o escritor nor-
Poppin, o encontro já está garantido, já
te-americano Kurt Vonnegut definiu al- 56% que ambos estarão lá”, pondera Filipe.
guns padrões, que podem ser represen-
“Nas festas, temos a sensação de que as
tados por gráficos [veja a ilustração na
pessoas querem se relacionar, mas não
página 38] e que tornam as histórias
sabem como quebrar o gelo. O app aca-
interessantes para o público.
ba com essa frustração.”
Para os romances, ele apresenta a es-
Não se trata só de abordar alguém e
trutura “garoto conhece garota”, na qual
44% ser rejeitado, mas de passar por essa
o personagem principal deve encontrar
experiência em público. Foi por isso
uma pessoa incrível, se apaixonar, se de-
que os universitários Rafael Hamoul,
parar com um desafio para poder viver
de 19 anos, Alan Kovari e André Kur-
bet, de 20 anos, criaram o aplicativo
Secrush. “Era um problema que eu ti-
nha desde a adolescência e via meus
amigos com a mesma dificuldade: gos-
1986
tar de uma menina e ter que descobrir
Vai ao ar o Matchmaker.
se ela tinha interesse também pergun-
com, o primeiro site de
tando para os outros. Eu me questionei
namoro do mundo.
se esse intermediário não poderia ser
um app”, conta Rafael. Hoje com 10 mil
esse amor, superá-lo e viver feliz para usuários, o serviço também funciona
sempre. No livro How to Fall in Love with com base em matches. E, sincroniza-
Anyone: A Memoir (Como se Apaixonar do com a conta do Facebook, permite
por Qualquer Pessoa, em tradução livre), que o usuário sinalize seu interesse por
a escritora Mandy Len Catron define as seus amigos, definindo se ficaria, sai-
especificidades que podem ser encon- ria, conheceria melhor ou se não tem
tradas em praticamente toda história de nenhum interesse neles.
amor. Entre elas, a autora destaca o “en- Apesar de a proposta não ter o mat-
contro místico”: “Os melhores encon- ch — cuidado —, isso não significa ma-
tros contêm indícios de forças maiores” chucar-se menos. “A rejeição é uma for-
— como a moça que não usava mais o ça poderosíssima”, explica o psicólogo
Tinder, mas decidiu instalá-lo em outra Ailton Amélio da Silva. “Ao lidarmos
cidade, e quase não deu like em um ra- com seres humanos, estamos pisando
paz, mas decidiu fazê-lo, e assim encon- em ovos: o tempo todo estamos colhen-
trou sua outra metade, por exemplo. do sinais indiretos — estou agradan-
Por mais romântico que pareça, nem do, não estou agradando, será que ele
todo mundo quer depender desse aca- está sendo só educado — e pensando se
so. Ao ver várias pessoas saindo frus- estamos agindo de uma forma que vai
41
tradas de uma festa em 2015, o em- prevenir de sermos rejeitados.”
rice, ela desinstalou os apps e agora,
seis meses depois, está voltando com
mais calma. “Estou selecionando me-
lhor as pessoas com quem conversar.
Tento criar uma amizade primeiro para
depois ver o que pode rolar.”
O especialista em relacionamentos ex- Em How to Fall in Love with Anyone:
plica que o fora tem um grande efeito na A Memoir in Essays, Mandy Len Catron
autoestima, não tanto pelo outro, mas afirma que, das comédias românticas a
pelo que essa decisão dele diz de nós. que assistimos à forma de contarmos
“O medo não é de ter qualidades que o a história de como nossos pais se co-
outro não aprove, é não ser aprovado nheceram, propagamos a noção de que
por ninguém. Quando somos rejeitados o amor é algo que simplesmente acon-
e temos baixa autoestima, não pensamos tece conosco. A ideia de ter algum tipo
que fomos só negados por uma pessoa, e de controle sobre isso, seja dando vá-
sim que não somos bons no geral”, afir- rios matches sem se dedicar muito a ne-
ma. “Mas essa é uma preocupação cons- nhum deles (afinal, se tem que aconte-
tante. O mundo seria completamente di- cer, por que fazer um grande esforço?),
ferente se a rejeição não existisse.” seja se declarando para o crush sem pre-
cisar fazê-lo cara a cara, pode ser cati-
Vestida para casar vante. Mas a tecnologia é apenas um
A rejeição, às vezes, é necessária para en- atalho, não uma fórmula pronta para o
tender quem somos e o que queremos. amor. “O amor não é tão simples quanto
Foi o que aconteceu com Kathlyn Perei- as nossas histórias o fazem parecer”, es-
ra: em julho de 2017, seu namoro — que creve Mandy no livro. “Mas é sua com-
havia começado no Tinder havia quase plexidade que o torna interessante.” 2012
três anos — terminou. “O objetivo da A matéria que estou escrevendo para É lançado nos Estados
vida do meu ex é empreender, e eu des- você, leitor, e a matéria que eu pensei Unidos o Tinder, aplica-
cobri que meu objetivo sempre foi casar”, que iria escrever são bastante diferen- tivo que possibilita aos
conta a universitária de 26 anos. “Não tes. Na minha cabeça, imaginei que a usuários encontrar pes-
quero virar esposa troféu; quero ter uma apuração me daria algum insight que me soas de acordo com sua
família, ficar um tempo casada, antes de faria descobrir como encontrar o que localização e preferência.
ter filhos. Desejo viver a vida a dois.” estou procurando. Neste momento do
Apesar de ser difícil, o término fez texto, contaria como tinha quase desis-
com que a paulistana colocasse vários tido quando, de repente, esbarrei com
aspectos da vida em perspectiva: atual-
mente está estudando Turismo e reava-
liando suas opções no âmbito amoro-
so. Em um primeiro momento, baixou
o Tinder, o Happn e o Adote um Cara.
“Mas eram muitos contatinhos para ad-
ministrar. Sou mais romântica”, reve-
42
la. No fim do primeiro mês de soltei-
1. EM QUAL DESSAS REDES SOCIAIS VOCÊ PASSA MAIS TEMPO?

TESTE: A) Facebook
B) Instagram

Qual é o melhor C) Twitter

app para você? 2. QUAL DESSES EMOJIS TE REPRESENTA?

Agora que já sabe como os aplicativos de namoro


A)
estão impactando a forma como nos relacionamos,
B)
descubra qual deles tem mais a ver
C)
com o que você procura
3. O QUE VOCÊ PREFERIRIA FAZER EM UMA NOITE DE SEXTA-FEIRA?

A) Ficar de boa em casa e assistir a algo na Netflix.


B) Virar a noite na balada.
C) Encontrar os amigos e passar a noite trocando histórias
e bebendo cerveja.

4. NOS APLICATIVOS, VOCÊ…

A) Faz um esforço para conhecer as pessoas que demonstram


interesse em você.
o perfil de Bernardo, um “passageiro B) Até encontra algumas pessoas, mas fica com preguiça de puxar papo.
com nota 4,83 no Uber”, com quem te- C) Dá vários matches, mas não pega ninguém.
ria um encontro marcado, ou que tinha
me apaixonado por um rapaz, um impro- 5. VOCÊ SÓ QUERIA…
vável cover do Noel Gallagher. Não foi o
que aconteceu, e tudo bem. A) Um amorzinho para chamar de seu.
Quando conversei com Mandy Len B) Transar.
Catron, perguntei: “Que conselho você C) Um rolê.
daria a alguém que, como eu, procura
o amor?”. “Tenha ideias mais flexíveis 6. ESCOLHA UMA CANTADA RUIM:
em relação ao amor”, respondeu ela.
“Encontre formas de criar laços com A) Você não é o Google, mas tem tudo o que eu procuro.
as pessoas e buscar a gentileza e a ge- B) Me chama de Will que te levo para o mundo invertido.
nerosidade nos outros. E se o amor se C) Vamos nos beijar até o Brasil melhorar?
desenvolver dessas conexões, maravi-
lha. Acredito que relacionamentos ínti-
mos são o que dão significado para nos-
sas vidas, mas eles podem aparecer em RESULTADOS
diferentes formas. Nossa cultura tende Veja o resultado de acordo com a alternativa que mais marcou no quiz:
a validar somente o comprometimen-
to monogâmico de longo prazo. Isso é + MAIS A, DE AMOR MESMO
bom, mas é só uma maneira de praticar Você parece estar em busca de um relacionamento. Se o crush é al-
o amor.” Muito obrigada, Mandy. Con- guém conhecido, vale usar o Secrush. Se não, tente o Adote um Cara.
tinuo nos apps. Mas, enquanto isso, vou E para os acima de 40, o Coroa Metade é uma boa pedida.
cultivar os outros relacionamentos que
já tornam minha vida especial. + MAIS B, DE BEM CASUAL
Para você, um lance é só um lance. À procura de algo de ocasião, o melhor
caminho a seguir é baixar o Tinder ou, dependendo da sua orientação
sexual, o Grindr.

+ MAIS C, DE CONHECER NOVAS PESSOAS


E de cansado(a) das mesmas caras do seu círculo social. Para seguir além
dos matches que não dão em nada, aposte na geolocalização do Happn e
do Bumble ou nos eventos do Poppin’.
“Não ao silêncio”: mexicana
participa de protesto
contra a morte de jornalista,
em junho de 2017
S D R O G A S , M É X ICO
O L Í T I C A D E G U E RRA À PAÍS
D E Z A N O S D E P C O N F L I T O S N O
A P Ó S Q UA S E Õ ES E S Ó F E Z A U M E N TA R OS
U U S $ 5 0 B I L H
CONSUMI

45
de 43 estudantes em setemb
Movimento contra o desaparecimento
cidade de Iguala e
e no massacre dos jovens que viviam na

M
Morador do pequeno município de Guadalupe, no norte ria riquíssima, pela sabedoria dos po-
do México, Murguía estava preocupado com a onda de vos pré-hispânicos e pelas imponentes
violência na região e ficou receoso de abrir a porta para pirâmides também ficou marcado pela
saber o que estava acontecendo na vizinhança. Quando o violência brutal de seus criminosos.
fez, deu de cara com cinco homens encapuzados e armados. Ain- Houve aumento em praticamente todos
da ouviu um deles perguntar “É este? É este?” antes de levar um os indicadores de criminalidade, como se-
golpe tão forte na cabeça que o fez cair no chão, inconsciente. questro, extorsão, estupro, roubo, furto de
No dia seguinte, depois de voltar a si, soube que narcotrafican- carro e assalto a residências e negócios.
tes da região procuravam o filho de seu sobrinho, e se deparou O número que mais preocupa é o de as-

Imagem: Edgard Garrido/Reuters


com uma situação aterradora: a casa totalmente revirada, as filhas sassinatos. De janeiro a outubro de 2017,
em estado de choque e a mulher desaparecida, além da ameaça 23,7 mil pessoas foram mortas — ou uma
de que toda a família seria assassinada se não deixasse imedia- média de quase 79 casos por dia. Se a
tamente a cidade (de pouco mais de 5 mil habitantes). Naquela contabilidade oficial dos dois últimos me-
mesma noite, acompanhado de 14 parentes, ele cruzou a fronteira ses do ano mantiver o mesmo ritmo, 2017
com os Estados Unidos — onde até hoje vivem exilados em um será lembrado como o ano mais violento
lugar não revelado por questão de segurança. “Por muito tempo da história do país. “O número de assas-
tive esperança de encontrar Isela com vida”, disse à GALILEU sinatos no México aumentou mais do que
Miguel Ángel Murguía, que trabalha com colheita de nozes em um em qualquer outro país da América La-
rancho enquanto aguarda o resultado do processo de asilo. “Mas tina, com exceção da Venezuela”, afirma
já se passaram seis anos e nunca mais tivemos notícia dela.” David Shirk, professor da Universidade
Histórias como a de Murguía e sua família passaram a ser de San Diego, nos Estados Unidos, e es-
perturbadoramente comuns no México. Após iniciar uma pecialista em estudos sobre violência.
política de guerra contra as drogas em 2006, o país Isso não significa, é claro, que uma
46
conhecido pelas paisagens paradisíacas, pela culiná- pessoa será assassinada assim que co-
locar os pés fora de casa. Na capital e em cidades turísticas
mexicanas, é comum ver pessoas caminhando tranquilamente
pelas ruas com câmeras a tiracolo. Mas um olhar mais aten-
to revela que a violência está arraigada no dia a dia do país.
Uma visita a bancas de jornais impressiona pela quantidade
de publicações sensacionalistas, no melhor estilo Notícias Po-
pulares, com fotos de pessoas mortas nas capas.
Difícil imaginar que nem sempre foi assim. Há dez anos, o
México era um lugar relativamente tranquilo, especialmente
quando comparado com seus vizinhos da região — entre eles
o Brasil. Sempre houve criminalidade, claro, mas não em uma
escala endêmica. O curioso é que as coisas começaram a de-
gringolar depois de duas conquistas consideradas positivas
por muita gente. A primeira foi a derrota dos cartéis de drogas
na Colômbia, em meados dos anos 1990. A segunda foi a tran-
sição do México para uma democracia multipartidarista, dez
anos depois. Assim, o tráfico de drogas chegou ao país (que
faz fronteira com o principal mercado consumidor de subs-
tâncias ilícitas do mundo, os Estados Unidos) ao mesmo tem-
po que as instituições locais passavam por uma mudança que
reduziu sua capacidade para encarar esse novo problema.

TRAGÉDIA MEXICANA

O ponto de inflexão para o caos social que tomou conta do Mé-


envolvidos no sequestro
bro de 2014: policiais municipais estariam xico foi a eleição presidencial de 2006. O vencedor do pleito,
protesto na região
e buscavam arrecadar fundos para um
Felipe Calderón, tomou posse em novembro e, cerca de um mês
depois, pressionado pelos Estados Unidos, declarou guerra
contra os narcotraficantes — os vizinhos
do norte não queriam que o país servisse
como um entreposto de maconha, cocaí-
na, heroína e metanfetamina.
Apesar de bem-intencionado, o projeto
tinha um grande problema: falta de plane-
jamento. Como afirmam os especialistas,
para o sucesso de uma empreitada des-
sa magnitude é preciso contar com uma
rede de informação de órgãos de inteli-
gência, preparação dos policiais envol-
vidos nas operações, equipamentos mo-
dernos e, principalmente, coordenação
de esforços em várias esferas do Estado.
O México não tinha nada disso. Para
piorar, a equipe de Calderón não levou
em consideração um fator importante:
a captura dos principais chefes dos cartéis
fragmentaria as organizações criminosas
em grupos menores e mais violentos.
Antes de Calderón havia sete cartéis
atuando no país. Hoje são mais de 400
(veja o mapa na página seguinte). A com-
petição abriu espaço para a disputa pelo
controle do mercado de drogas — conten-
da que costuma ser resolvida à bala.
47
De 2006 para cá, mais de 220 mil
MATAMOROS
(TAUMALIPAS)

Cartel del Golfo


Dairo Antonio Úsuga
David, José Antonio
Romo e Roberto Vargas
Gutiérrez

Trata-se da organização
criminosa mais antiga do
país. Começou fazendo
contrabando de bebida
alcoólica, mas percebeu
que ganharia mais dinhei-
ro se vendesse cocaína.
É conhecida por treinar
crianças para virarem as-
sassinos do cartel.

CULIACÁN (SINALOA)

CIUDAD JUÁREZ Cartel de Sinaloa ZACATECAS (ZACATECAS) Legenda:

(CHIHUAHUA) SEDE
Ismael Zambada García Los Zetas
e Rafael Caro Quintero Nome
Cartel de Juárez Juan Gerardo Treviño Chefes
Principal exportador de Chávez História
Carlos Arturo Quintana e drogas para os Estados
Julio César Olivas Torres Unidos e, durante muito Fundado em 1995 por
tempo, o mais temido ex-integrantes das forças
Tem como símbolo a
do país. A coisa começou de elite do país, o grupo
tradicional caveira do Dia pessoas perderam a vida assim. “A guerra
a mudar em janeiro de conta com uma estrutura
dos Mortos flanqueada
2016, com a prisão de paramilitar para orga- contra os narcotraficantes foi uma tragédia
por duas armas e uma
Joaquín El Chapo Guz- nizar crimes. Hoje, no
folha de maconha. A atua- para o México”, diz David Shirk. “O país
mán, cuja história virou entanto, está em franco
ção do grupo está restrita
série na Netflix. retrocesso por conta de perdeu três vezes o número de norte-ame-
à região de El Paso, um
disputas internas entre ricanos mortos na Guerra do Vietnã. Vi-
dos maiores postos de
os líderes do cartel.
imigração na fronteira das foram ceifadas sem que houvesse um
com os Estados Unidos.
resultado concreto para a população.”
GUADALAJARA (JALISCO) Estima-se que algo entre 25% e 50%
TIJUANA dos assassinatos cometidos no México
(BAJA CALIFORNIA) Cartel Jalisco DESCONHECIDA
Nueva Generación estejam de alguma forma ligados aos
Cartel de Tijuana
Organización cartéis de drogas, e grande parte dessas
Enedina Arellano Félix, Nemesio Oseguera Beltrán-Leyva
Cervantes e Jorge Luis mortes aconteceu durante o processo de
conhecida como A Chefa
Mendoza Cardenas Fausto Isídro Meza Flores fragmentação e de disputa pelo poder.
É o único grande grupo Surgiu de um grupo de e Jose Luis Ruelas Torres
Considerado o grupo mais perigoso do
criminoso do México desertores do extinto Os integrantes do braço país, o Cartel Jalisco Nueva Generación
comandado por uma Cartel del Milenio e, em de matadores do Cartel
mulher. Atua no tráfico menos de uma década, (CJNG) é um exemplo de como a guerra
de Sinaloa resolveram,
de drogas na frontei- transformou-se em um em 2008, criar a própria contra os narcotraficantes ajudou a pio-
ra com San Diego, nos dos mais poderosos do organização. Os funda-
Estados Unidos. Para México. Está presente rar o problema da violência. Até 2010,
dores do grupo foram
manter a hegemonia na também na Europa e na assassinados, e hoje os fundadores do CJNG eram integran-
região, aliou-se ao Cartel Ásia. É um dos principais o cartel está dividido tes de outro grupo, o Cartel del Mile-
Nueva Generación. vendedores de cocaína. em subgrupos que
brigam entre si. nio, e resolveram desertar para dar iní-
cio à própria operação criminosa. Para
48
ganhar músculos e relevância no cenário
nacional, fizeram alianças com bandidos locais e promoveram A família Porras conheceu o lado mais
guerras para conquistar território das mãos dos rivais. Em sombrio da corrupção policial em meados
menos de sete anos, superaram competidores mais antigos e de 2012. No dia 17 de junho, Rodolfo, que
tradicionais no México, como o Beltrán-Leyva e o Sinaloa — produzia leite e seus derivados no povoado
até então tido como o mais temido do país, e que entrou em de Villa Ahumada, no norte do país, saiu
decadência depois da prisão de seu principal líder, Joaquín para fazer negócio numa cidade vizinha e
Loera Guzman, conhecido como El Chapo. não voltou mais. Preocupada, a família par-
A chave para o crescimento do CJNG está na tática de ins- tiu em busca de notícias, e logo descobriu
talar o terror nas cidades onde atua. Nessas regiões, é comum que ele havia sido executado com quatro ti-
encontrar espalhados pelas ruas cadáveres decapitados, muti- ros. Enquanto trasladava o corpo para sua
lados e com mensagens escritas no corpo. Hoje, o cartel está cidade natal, a família foi ameaçada por
presente em mais da metade dos 32 estados do México e con- homens armados na estrada. Só um susto,
trola a venda de metanfetamina e cocaína ao longo de 10 mil pensaram. No dia seguinte ao enterro de
quilômetros da costa oeste do país. Como resultado, destinos Rodolfo, seu filho Jaime foi arrumar as flo-
turísticos como Cancún e Acapulco tornaram-se palco de con- res no túmulo do pai: sobre o jazigo, levou
flitos. Após uma recomendação do governo norte-americano dois tiros na cabeça. Em seguida, chega-
que desaconselhava a visita de turistas a esses locais, cerca de ram recados de que matadores iriam assas-
35 mil reservas em hotéis foram canceladas em questão de dias. sinar um a um os integrantes da família.

DESIGUALDADE E
CORRUPÇÃO

Assim como o Brasil, o México é um país


grande (13º maior do mundo, com 1,9 mi-
lhão de quilômetros quadrados), populo-
so (são 129 milhões de habitantes, a dé-
cima população mundial), religioso (em
todas esquinas há altares para Nossa Se-
nhora de Guadalupe) e cheio de desafios
para os próximos anos. O mais importan-
te é o combate à desigualdade social.
Em alguns bairros nobres da Cidade
do México, como Polanco e Condesa, pa- Manifestante participa de protesto cont
ra a morte de jornalistas: de janeiro a outu
foram assassinados no México por causa bro de 2017, 11 jornalistas
rece que se está andando pelas ruas de de reportagens que têm como foco princ
drogas e a corrupção. O país é considera ipal o tráfico de
um país de primeiro mundo. Pudera: dois do um dos mais inseguros do mundo para
profissionais da imprensa
terços da riqueza do país concentram-se
em apenas 10% da população. Por ou-
tro lado, nos bairros mais afastados do
centro faltam saneamento, eletricidade,
asfalto e todo tipo de serviço público es-
sencial para viver com dignidade.
Apesar da baixa taxa de desempre-
go (em torno de 3,5%), seis em cada
dez mexicanos vivem de trabalho infor-
mal. O salário mínimo é de 2,2 mil pesos
(o equivalente a R$ 383) e mais da metade
da população (ou 70 milhões de pessoas)
vive na pobreza — número que tende a au-
mentar nos próximos anos. Esse contexto
socioeconômico é importante para enten-
der que uma velha conhecida do brasileiro
é outro problema grave do país: a corrup- De acordo com o Instituto Nacional de
Estatísticas e Geografia do México, o núm
saltou de mil em 2007 para mais de 2,7 ero anual de feminicídios
ção. É comum ouvir relatos de políticos e mil em 2016. Durante esse período, mais
foram mortas. Hoje, algo em torno de sete de 22 mil mulheres
policiais mexicanos que recebem dinhei- mulheres por dia são vítimas desse tipo
de crime no país
ro para fazer vista grossa aos malfeitos.
Desesperados, eles procuraram a polícia, LEGALIZE JÁ
mas ouviram que não havia nada a ser fei-
to. Então, pediram ajuda a policiais fede-
rais, e foram levados à Procuradoria Geral Pelo menos no futuro próximo, a violência no México não deve
da República. Lá, decidiu-se que eles não diminuir. Ao contrário. Um dos motivos de preocupação são
poderiam ser protegidos, sendo necessá- as eleições presidenciais, que acontecerão em julho deste ano.
rio pedir asilo aos Estados Unidos. No dia A questão não é se o partido do presidente Enrique Peña Nie-
da viagem, um esquema de guerra foi ar- to continuará no poder ou se dará lugar a um candidato de es-
mado para levar 20 integrantes da família querda, como Manuel Lopez Obrador, e sim como os narcotra-
para El Paso, na fronteira norte-americana. ficantes reagirão ao pleito. O cientista político Mark Ungar, do
As ruas foram fechadas e um helicóptero Brooklyn College, nos Estados Unidos, está trabalhando em um
acompanhou o comboio. Um policial con- estudo para entender como os traficantes se comunicam com
fessou estar com medo porque não sabia o os políticos. “Quando eles se deparam com uma mudança, que-
que os criminosos poderiam fazer. “Nunca rem tirar o maior proveito dela”, afirmou Ungar à GALILEU.
soubemos o que houve com meu tio”, dis- Assim como no caso brasileiro, porém, existem soluções para
se à GALILEU Dianis Porras, de 23 anos, a violência no México. Elas passam por medidas de médio a
que vive no Texas e conta com a ajuda da longo prazo absolutamente distintas da ideia da construção de
ONG Mexicanos no Exílio para tentar a um muro na fronteira com os Estados Unidos, como propõe o
cidadania norte-americana. “Achamos que presidente norte-americano, Donald Trump, ou da continuida-
ele foi vítima de extorsão e não aceitou pa- de da guerra contra os narcotraficantes. Desde que foi inicia-
gar dinheiro aos criminosos.” da, a política de enfrentamento aos cartéis consumiu mais de
US$ 50 bilhões e não diminuiu em nada
o consumo de substâncias ilícitas.
O que realmente pode ajudar a mudar
a situação são políticas públicas bem mais
elaboradas, com programas sociais que
ajudem a tirar as pessoas de situações de
pobreza extrema e diminuam a desigual-
dade social. Além disso, são necessários
projetos para melhorar as instituições de
Justiça a fim de garantir o fim da impuni-
dade. Sem falar, é claro, em políticas de
descriminalização e legalização das dro-
gas, a exemplo de alguns estados norte-a-
mericanos, como Califórnia e Colorado.
Essa última medida faz com que os ci-
dadãos comecem a enxergar o consumo
de drogas como uma questão de saúde,
e não uma pauta de segurança pública.
Mais importante: tira dos narcotrafican-
tes o monopólio da venda das drogas — o
que afeta em cheio as finanças dos cartéis.
A maconha, no entanto, é a menor parte
dessa equação, e ainda não se ouve falar
de planos públicos em relação a drogas
mais pesadas e que movimentam somas
mais significativas de dinheiro, como a
cocaína, a heroína e a metanfetamina. “A
guerra contra as drogas não pode mais
ser vencida com repressão”, diz Rubem
César Fernandes, secretário executivo das
ONGs Iser e Viva Rio. Enquanto isso não
acontece, os mexicanos (e os latino-ame-
ricanos em geral) seguirão se horrorizan-
do com histórias como as de Miguel Mur-
guía e Dianis Porras. A pergunta que se
faz por aqui é: até quando?
O documentário A Liberdade do Diabo,
do diretor mexicano Everardo Gonzáles, rias
para contar suas histó
tornou-se uma das produções mais do documentário vestem uma máscara
Em A Liberdade do Diabo, participantes país latin o-am ericano
ncia no
e garantir seu anonimato diante da violê
comentadas de 2017 por desnudar a
brutal violência pela qual passa o México

SENTADO NA CALÇADA de um café cação com a violência. Não é o mesmo A VIOLÊNCIA PODE SER UMA AMEAÇA
num bairro boêmio da Cidade do Mé- que ver essas séries na Noruega, por PARA O FUTURO MEXICANO?
xico, Everardo Gonzáles comenta os exemplo. Aqui temos mais de 30 mil Claro. Uma vez falei com uma pro-
casos aterradores que precisou ou- pessoas desaparecidas. fessora e ela me disse que é muito
vir para realizar seu último trabalho. difícil formar crianças em bairros
A maior parte do filme se passa em JOVENS QUE VEEM ESSAS SÉRIES violentos do México. Como você diz
uma sala onde uma pessoa mascarada, QUEREM VIRAR TRAFICANTES? ao filho de um matador ou de um
não identificada, tem a oportunidade A sociedade de consumo faz com que traficante de bairro que o tráfico de
de compartilhar os episódios de vio- as pessoas queiram ter poder, dinheiro drogas é moralmente errado? Como
lência no México. “Ainda tenho pesa- e status. É mais sedutor esse cenário convencê-lo do contrário se isso é o
delos com as histórias”, revela. Confira, do que a vida de um simples engenhei- que ele vê em casa todos os dias?
a seguir, a entrevista com o diretor. ro. Na América Latina gostamos dos
bandidos, principalmente daqueles E QUAL SERIA A SOLUÇÃO?
POR QUE FAZER UM FILME SOBRE UM que atingem o governo. O problema é Acabar com o classismo e com a de-
ASSUNTO TÃO COMPLICADO? que os narcotraficantes não atingem sigualdade. Também acho que tem de
Meu trabalho está muito próximo da apenas o governo, mas toda a socie- haver uma renovação moral, só não
crônica, e o cronista fala daquilo que se dade. E isso muda tudo. Quando a so- sei como conseguir isso, porque as re-
passa na sua época. E vivo a época des- ciedade é atingida, é preciso haver uma novações morais sempre vêm acom-
sa violência brutal no México. Queria reflexão maior sobre o tema. panhadas de uma revolução social.
mostrar que o Estado, esse ente abstra-
to, não é o único responsável por essa O FILME MUDOU SUA PERCEPÇÃO COMO AS PESSOAS COMUNS PODEM
violência. Responsabilizar o Estado é, SOBRE A SEGURANÇA NO MÉXICO? REVERTER ESSA SITUAÇÃO?
de alguma maneira, abrir mão da nos- Uma das coisas que mais me marca- O problema é que o sistema é feito
sa responsabilidade. Também somos ram foi perceber que todos somos para gerar corrupção. E esse tipo de
responsáveis — não só pelo silêncio, capazes de cometer atrocidades. No crime tem de ser punido. O policial
mas também pela indolência e porque documentário, a filha de 17 anos de corrupto tem de ser afastado do tra-
somos consumidores de violência. uma mulher desaparecida reconhece balho, e o político deve ser impedido
que, se tivesse a chance, torturaria os de concorrer a um cargo público. No
SÉRIES COMO NARCOS E EL CHAPO, DA sequestradores de sua mãe. A raiva, documentário, um policial federal diz
NETFLIX, PRESTAM UM DESSERVIÇO? o medo e o desejo de vingança geram que preferia executar os criminosos,
Seria como responsabilizar os videoga- esse tipo de reação. Essa menina não fazer ele próprio o julgamento, pois
mes pela violência. O problema é que é muito diferente de nós. Às vezes sabia que, se entregasse o bandido
elas dão ao espectador a sensação de me pergunto o que faria se, pelas à Justiça, ele seria solto por um juiz
que isso só acontece com os outros. circunstâncias da vida, estivesse en- corrupto e, então, tentaria matá-lo.
Não creio que seja um desserviço, mas volvido com grupos de matadores. É A verdade é que somos sociedades
51
o contexto mexicano altera a identifi- provável que eu mataria também. de uma moral muito flexível.
PAPO CABEÇA
COM SCOTT KELLY

“Nosso maior desafio para ir


a Marte não é a ciência dos
foguetes, é a ciência política”

REPORTAGEM
Astronauta Scott Kelly lança livro em que relata
A. J. OLIVEIRA

experiência de passar um ano na estação espacial e


DESIGN
reflete sobre o futuro da humanidade fora da Terra MAYRA MARTINS

david bowie morreu, seres humanos gêmeo (que ficou na Terra), o também
detectaram as primeiras ondas gravita- astronauta Mark Kelly, submeteram-se a
cionais, 1 milhão de refugiados cruza- uma bateria de exames para que os cien-
ram as fronteiras europeias e o Brasil se tistas estudassem os efeitos de estadias
acabava com o hit Aquele 1%, de Wesley prolongadas em microgravidade e desco-
Safadão. Esses são só alguns dos muitos brissem como manter o corpo humano
acontecimentos que abalaram o mundo saudável nessas condições.
entre os meses de março de 2015 e de Sabe-se, por exemplo, que a visão dos
2016. Scott Kelly perdeu todos eles. astronautas é comprometida e que a in-
52
É o preço que se paga por passar um tensa radiação pode provocar danos gené-
ano — ou melhor, precisamente, 342 dias ticos. Sem esse conhecimento, é impos-
consecutivos — fora do mundo. Durante sível mandar missões tripuladas a Marte.
esse período, o astronauta da Nasa hoje “Mas, do jeito que a ciência funciona, es-
aposentado esteve a bordo da Estação pecialmente a ciência da Nasa, a partir do
Espacial Internacional (ISS, na sigla em momento em que se coletam os dados,
inglês), onde foi cobaia de um dos mais levam de três a cinco anos para publicá-
importantes estudos para o futuro da hu- -los”, disse à GALILEU. “Então ainda es-
manidade no espaço. Kelly e seu irmão tamos publicando os resultados.”
Em seu livro Endurance: Um Ano no
Espaço, lançado no Brasil em novembro
pela editora Intrínseca, Kelly mescla uma
narrativa no estilo diário de bordo, divi-
dindo os detalhes da vida na ISS, com as
memórias de sua trajetória pessoal des-
de a infância. Ele conta coisas como as
superstições esquisitas antes do lança-
mento (todo astronauta deve fazer xixi
no mesmo ponto em que Yuri Gagarin
fez pouco antes de entrar no foguete)
e as dificuldades em órbita — os níveis
de dióxido de carbono na atmosfera da
estação talvez sejam a maior delas.
Mas, até entrar na faculdade, antes de
construir uma carreira brilhante na Nasa
e na Marinha, como piloto naval, Kelly
revela que tinha muita dificuldade nos Hubble e, mais tarde, ao voar como co-
estudos. “Esse livro não é apenas sobre mandante do ônibus espacial até a esta-
voos espaciais. É sobre um garoto que ção. Depois, duas vezes na Soyuz, em voos
não conseguia fazer seu dever de casa, de longa duração na ISS. Sinto-me muito
foi inspirado por um livro aos 18 anos e, satisfeito com minhas oportunidades.
18 anos depois, voou para o espaço pela
primeira vez”, diz. “Acho que isso tem QUANDO VOCÊ ENTROU NO PROGRAMA DE
apelo para uma audiência maior.” ASTRONAUTAS, EM 1996, HAVIA A EXPECTA-
O livro inspirador é The Right Stuff (Os TIVA DE QUE SEU GRUPO PODERIA SER O PRI-
Eleitos, publicado no Brasil pela editora MEIRO A IR A MARTE. ISSO NUNCA ACONTE-
Rocco), do jornalista norte-americano CEU. AGORA QUE ESTÁ APOSENTADO, É RUIM
Tom Wolfe, que narra a história dos pri- PENSAR QUE PROVAVELMENTE NUNCA PISA-
meiros astronautas do programa espacial RÁ NO PLANETA VERMELHO?
dos EUA, destemidos pilotos de teste que Não me sinto mal em relação a isso. Sou
pousavam em porta-aviões. Kelly quis ser grato por ter tido as oportunidades que
igual a eles — e conseguiu. Até ligou para tive e estou ansioso por dar apoio para
Tom Wolfe da ISS. Confira nossa conver- que as pessoas possam chegar lá um dia.
sa com o autor de Endurance. Sem arrependimentos.

ANTES DE SE APOSENTAR, EM 2016, AOS ENDURANCE: EM ENDURANCE VOCÊ CONTA QUE, NO INÍCIO
52 ANOS, VOCÊ PASSOU 520 DIAS NO ES- UM ANO NO ESPAÇO DA EXPLORAÇÃO ESPACIAL, OS ASTRONAU-
PAÇO. POUQUÍSSIMOS HUMANOS TIVERAM Scott Kelly TAS ERAM ESCOLHIDOS PELA HABILIDADE DE
ESSA OPORTUNIDADE. COMO SE SENTE A Editora Intrínseca PILOTAR ESPAÇONAVES, MAS HOJE HÁ QUA-
RESPEITO DE SUA CARREIRA? 400 páginas LIDADES MAIS VALORIZADAS. QUAL SERIA “A
Sinto-me privilegiado por ter voado ao es- R$ 49,90 COISA CERTA” [THE RIGHT STUFF, EM REFE-
paço, por ter tido a oportunidade de fazer RÊNCIA AO LIVRO DE TOM WOLFE] PARA A PRI-
isso quatro vezes. Tive uma experiência MEIRA TRIPULAÇÃO EM MARTE?
bem diversificada, como piloto em uma Pessoas que sejam capazes de trabalhar
missão de reparo do telescópio espacial Foto: NASA/Robert Markowitz bem juntas, como um time, que sejam
MOS RESOLVER ANTES DE EMBARCARMOS
EM JORNADAS INTERPLANETÁRIAS. QUAIS
SÃO OS FUNDAMENTAIS?
O que vai nos impedir de ir a Marte ou
desacelerar nossa potencial jornada é o
financiamento para isso. Será caro, va-
mos precisar de pessoas no governo que
reconheçam o valor da ciência, da pesqui-
sa e da descoberta. E creio que este seja
o maior desafio que temos: não a ciên-
cia dos foguetes, mas a ciência política.

SEU LIVRO TAMBÉM DESCREVE O PROBLEMA


DO DIÓXIDO DE CARBONO E A DIFICULDADE
QUE OS CONTROLADORES DE MISSÃO TÊM DE
CONFIAR NO JULGAMENTO DOS ASTRONAU-
Gêmeos Kelly são
cobaias da Nasa:
TAS. COMO MELHORAR ISSO?
Scott (à dir.) passou Não diria que não confiam no nosso jul-
um ano no espaço;
Foto: NASA

Mark (à esq.) gamento. Diria que você está em um lu-


ficou na Terra
gar em que é os olhos, as orelhas e as
mãos de um sistema grande no solo.


É uma perspectiva diferente. Mas o solo
também tem uma perspectiva diferen-
te, e as prioridades que eles têm nem
Espero que a ISS seja sempre são claras para nós a bordo.

só o começo. Precisamos Por exemplo, eles podem ter de levar


em conta a operação do sistema de re-
cooperar para nos aventurar moção do CO2 ao longo de anos, não no

mais longe no espaço” curto período de tempo em que um tri-


pulante específico está a bordo.
Minha prioridade na estação espacial,
pelo menos no começo, era que o ní-
vel de dióxido de carbono fosse o mais
tecnicamente competentes, confiáveis. baixo possível para que eu me sentis-
Pessoas que tenham muitas outras ha- se bem e pudesse fazer meu trabalho.
bilidades além de pilotar. Aqueles pri- Essa pode não ser a mesma priorida-
meiros astronautas com certeza dariam de do centro de controle. Como nossos
ótimos membros de tripulações na esta- recursos no espaço são limitados, eles
ção espacial ou para ir a Marte, mas há provavelmente iriam preferir que o CO2
outros tipos de pessoas aí fora que não estivesse um pouquinho mais alto, até
são simplesmente aquele estereótipo do o limite do suportável. Sim, cada um
piloto militar dos anos 1960 e que tam- tem as próprias perspectivas. Eu certa-
bém poderiam ser ótimos membros de mente escrevi de acordo com a minha,
tripulação. mas também mantive a deles em mente.
Acredito que ter experiência ampla, [Os purificadores a bordo nem sempre dão
com certa profundidade, e ter habilida- conta de deixar o ar limpo. Quando são
de de fazer muitas coisas diferentes são submetidos a altas concentrações de dióxi-
pontos importantes para irmos a Marte, do de carbono, os astronautas costumam
ESTUDODOSGÊMEOS
porque vivendo na estação espacial por ficar irritadiços e perdem o foco. Ambos
Resultados apontam
um longo tempo você não pode chamar os comportamentos podem ser fatais em
que telômeros de
um encanador, um eletricista, um dou- um ambiente estressante e perigoso.]
Scott melhoraram no
tor ou um dentista. É preciso ser muito
espaço — hipóteses
flexível e adaptável. Isso será essencial VOCÊ DIRIA QUE FALTA UM POUCO DE EMPA-
previam o contrário.
para o sucesso deles. TIA NESSA COMUNICAÇÃO?
Genes também volta-
Não diria isso. Falamos de uma situação
ram muito diferentes.
HÁ PROBLEMAS EM ABERTO COM RELA- em que você não está se sentindo o me-
ÇÃO AOS VOOS ESPACIAIS QUE PRECISA- lhor possível, e às vezes tem-se a impres-
são de que as pessoas não se importam. tuações interessantes. Depois, dei se-
Mas acredito que, se você cavar mais guimento com um telefonema. Falamos
fundo, vai perceber — eu percebi depois principalmente sobre como é estar no es-
— que existem, sim, pessoas que se im- paço. Ele ficou empolgado por falar comi-
portam, e com muitas delas não temos go. Conversamos sobre a estação espacial,
sequer a chance de conversar, já que vá- o lançamento, o pouso. E claro que contei
rias discussões são conduzidas nos bas- o quanto o livro dele me inspirou.
tidores e nem chegam até você quando No tempo em que estive no espaço,
se trata de um tripulante no espaço. pensava que escreveria um livro algum
dia, então quis saber como ele chegou ao
NO LIVRO, VOCÊ TAMBÉM DESCREVE MUITO título The Right Stuff. Ele me revelou que
BEM O EXPERIMENTO EM QUE DISSECA ROE- um amigo seu estava passando pelo pro-
DORES. SENTIU ALGUM TIPO DE IDENTIFICA- cesso de tornar-se policial na época em
ÇÃO COM ELES, JÁ QUE FOI OBJETO DE UM ES- que ele estava fazendo pesquisas para o
TUDO MENOS “INVASIVO”, PORÉM SIMILAR? livro. Enquanto conversavam sobre ser
Sim, com certeza. Meus pequenos irmãos policial, Tom disse a ele que tinha mui-
espaciais. Na verdade, irmãs espaciais: to respeito pelo trabalho dos policiais e
eram fêmeas (risos). Parece que os ra- agentes da lei, porque há muitos riscos
tos machos são um pouco agressivos. envolvidos nesses ofícios. E ele disse:
“Quer saber? Esses são os caras com a
VOCÊ PODE NOS CONTAR, POR FAVOR, AS coisa certa”. Foi daí que veio o título.
PRINCIPAIS PESQUISAS E OS PRINCIPAIS
RESULTADOS OBTIDOS ATÉ AGORA COM O TOM WOLFE LHE DEU ALGUMAS DICAS PRÁ-
ESTUDO DOS GÊMEOS? TICAS DE ESCRITA? COMO VOCÊ PLANEJOU
Foram publicados resultados sobre os SEU LIVRO? MANTEVE UM DIÁRIO DE BORDO
nossos telômeros — são essas coisas ge- ENQUANTO ESTAVA NA ESTAÇÃO?
néticas no fim de nossos cromossomos Sim, no espaço eu escrevia em um diário.
que indicam nossa idade física. Os meus Quando voltei, almocei com Tom Wolfe
ficaram melhores no espaço. As hipóte- um dia e falamos um pouco sobre isso. Ele
ses sugeriam que os meus ficariam pio- me deu algumas recomendações, como fa-
res comparados aos do meu irmão, mas, zer o esboço da história — falou que isso
na verdade, melhoraram. é muito importante. Também me sugeriu
Há também indicações de que muitos estipular uma meta todos os dias que eu
dos meus genes estão sendo ligados e des- planejasse escrever: se fosse escrever mil
ligados de um modo muito mais acentua- palavras naquele dia, que eu tentasse me
do do que os do meu irmão na Terra. São manter no prazo. Perguntei como ele es-
coisas interessantes para uma investigação crevia. “Como assim?”, questionou. Em
mais profunda. Mas, do jeito como a ciên- um iPad, computador? E ele me contou
cia funciona, especialmente a ciência da que escreve com um lápis (risos).
Nasa, a partir do momento em que se co-
letam os dados, levam de três a cinco anos EM MUITOS MOMENTOS DO LIVRO VOCÊ
para publicar. Então ainda estamos no DIZ QUE A ESTAÇÃO É BEM MAIS QUE UM
processo de publicação dos resultados. LABORATÓRIO ESPACIAL: É TAMBÉM ONDE
VELHOS INIMIGOS SE ALIAM PARA TRABA-
QUANDO VOCÊ ESTAVA NA FACULDADE, LER LHAR JUNTOS EM ALGO GRANDE, POR TO-
O LIVRO THE RIGHT STUFF, DE TOM WOLFE, DOS NÓS. COMO VOCÊ ACREDITA QUE ESSE
LHE DEU UM OBJETIVO NA VIDA. PARA MIM, EMPREENDIMENTO VAI SER LEMBRADO DA-
COMO JORNALISTA, FOI INCRÍVEL SABER QUI A CEM ANOS?
QUE NOSSO TRABALHO PODE TOCAR UMA 55 Espero que exatamente da forma como
PESSOA TÃO PROFUNDAMENTE. ESTOU você descreveu, um lugar em que anti-
CURIOSO SOBRE A LIGAÇÃO QUE VOCÊ FEZ gos inimigos puderam trabalhar juntos,
PARA TOM WOLFE DA ISS. DO QUE VOCÊS FA- de forma pacífica e cooperativa, por algo
LARAM? COMO ELE REAGIU? que é importante para todos nós. E tam-
Primeiro, eu mandei a ele um e-mail, ar- bém espero que não seja o fim, mas só o
rumei o endereço. Ele respondeu em um começo desse tipo de cooperação, por-
estilo bem Tom Wolfe, com algumas pa- que precisamos disso para nos aventurar
lavras que não existiam e algumas pon- cada vez mais longe no espaço.
RECENTEMENTE, O GOVERNO DONALD Se você conseguir achar uma empre-
TRUMP MUDOU O FOCO DA NASA DE MARTE sa para comprá-la, certamente (risos).
PARA A LUA. ESSE É UM MOVIMENTO ACER- Por que não? Seria algo caro de operar.
TADO NA SUA OPINIÃO? As empresas têm algum tipo de plano de
Sou um grande crente de que, em um negócios, e quando seu investimento é
mundo perfeito, nós voltaríamos à Lua de bilhões de dólares, elas precisam de
e lá praticaríamos como ir para Marte, algum retorno a curto prazo. Não sei,
viveríamos na Lua por um período talvez seja possível.
mais longo. Mas nós vivemos em tem-
pos muito difíceis financeiramente, e em AINDA HÁ POUCAS MULHERES NA EXPLORA-
outras esferas também (risos). Não te- ÇÃO ESPACIAL: APENAS UMA ESTEVE COM
mos uma quantia ilimitada de dinheiro, VOCÊ NA ESTAÇÃO DURANTE A JORNADA DE
e essas coisas são caras. UM ANO. ENXERGA ISSO COMO UM PROBLE-
Para ser honesto, eu não sei qual é a MA? FALTA MAIS ESTÍMULO PARA MULHERES
resposta certa. Por um lado, penso que NO PROGRAMA ESPACIAL?
a Lua seja um ótimo lugar para treinar Acredito que o programa espacial deva
como ir a Marte. Por outro, não temos espelhar a demografia do seu país. É o
tanto dinheiro assim. Acho que mais im- mais justo. Se 51% da população dos


portante do que o destino que escolher- Estados Unidos são mulheres, então
mos é escolher um destino — e então 51% dos astronautas deveriam ser mu-
se agarrar a ele. Não mudar os planos lheres. Inclusive, houve uma classe de
toda vez que tivermos um novo presi- astronautas há algum tempo que era
dente nos Estados Unidos. Porque não é metade de mulheres, metade de ho-
bom para uma organização como a Nasa
ficar mudando de direção e desperdiçan-
Mais mens. É um bom passo nessa direção.

do dinheiro. Os parceiros internacionais importante AS BAHAMAS ERAM SEU LUGAR FAVORITO


DA TERRA PARA SER OBSERVADO EM ÓRBI-
não estão elegendo um novo presidente,
então creio que, para ter uma parceria
do que o TA. ALGUMA VISTA DO BRASIL CHAMOU SUA
internacional boa e forte, é preciso ser destino que ATENÇÃO NO ESPAÇO?
consistente entre um governo e outro.
escolhermos Certamente a costa brasileira. O proble-
ma com os países muito verdes é que a
ESSE INTERESSE RENOVADO PELA LUA DEU é escolher cor verde não é transmitida tão bem pela
INÍCIO A CONVERSAS ENTRE A NASA, A
ROSCOSMOS E OUTRAS AGÊNCIAS VISANDO
um destino atmosfera. Não tão bem quanto o azul
das águas tropicais ou o laranja, verme-
A CONSTRUÇÃO DE UMA “ISS” NA ÓRBITA — e então se lho e amarelo dos desertos. É por isso
DA LUA NOS ANOS 2020. COMO SERIA ES-
TAR A BORDO DE UMA ESTAÇÃO DESSAS?
agarrar a ele” que você nem sempre ouve falar que a
parte leste dos EUA é tão bonita do es-
Você não poderia voltar tão rápido em paço, ou a Europa ou certas partes da
caso de uma emergência. Além disso, os América do Sul. Porque são muito ver-
atrasos de comunicação não seriam tão des. Consigo me lembrar de olhar para o
longos, então ainda seria possível man- Rio de Janeiro, para São Paulo, de como
ter uma conversa pelo telefone. A esta- eram incríveis as águas ao longo da cos-
ção poderia ser reabastecida com supri- ta com as cidades. A Amazônia também.
mentos, mas seria mais complicado. Ir É um lugar muito bonito, espero ter a
até a Lua não é como ir até a órbita ter- chance de visitá-lo um dia.
restre baixa... Mas ainda haveria essa
possibilidade, ao contrário de Marte, ACREDITA QUE NOS PRÓXIMOS ANOS, COM O
onde não seria tão fácil [receber supri- TURISMO ESPACIAL, TER MAIS GENTE CON-
mentos]. Há algumas diferenças [entre a TEMPLANDO A TERRA DO ESPAÇO VAI MUDAR
ISS e o projeto para a órbita da Lua], mas A MENTALIDADE DAS PESSOAS?
não acho que sejam tão grandes quanto Acredito que sim. Essa experiência real-
as pessoas possam imaginar. 56 mente proporciona uma perspectiva úni-
ca, privilegiada de olhar para a Terra, con-
A ESTRUTURA BILIONÁRIA DA ISS REAL- templar o que temos e saber quão especial
MENTE DEVE SER ABANDONADA E DESTRUÍ- é o nosso planeta. Talvez as pessoas pas-
DA DEPOIS DE 2024? VENDÊ-LA A UMA EM- sem a cuidar melhor dele, a considerar
PRESA LHE PARECE BOA OPÇÃO? trabalhar juntas para o bem comum.
Na cúpula da ISS,
Scott Kelly observa
as Bahamas, ponto
do planeta que ele
mais gostava de
ver do espaço
Foto: Scott Kelly/NASA

ANTES DE PUBLICAR SUAS MEMÓRIAS ELES ALGUÉM QUE VIU O FORMATO DO NOS-
NESSE LIVRO, VOCÊ FOI NOMEADO COMO SO PLANETA POR TANTO TEMPO?
“CAMPEÃO DO ESPAÇO” PELAS NAÇÕES Sabe, faço piadas com eles ocasional-
UNIDAS. O QUE TEM FEITO ULTIMAMENTE E mente. Penso que muitos desses terra-
QUAIS SÃO SEUS PLANOS FUTUROS? ACORMAISQUENTE planistas fazem isso por diversão, porque
Tenho promovido bastante o livro des- Kelly diz que a cor é divertido, não acho que eles realmente
de que ele foi lançado, em outubro [nos verde, de países como acreditem que a Terra seja plana. Deve
Estados Unidos]. Faço algumas pales- o Brasil, não parece ser como uma grande piada para eles.
tras abertas ao público, estou trabalhan- tão bonita do espaço Mas acho que muitos deles acreditam,
do em uma versão de Endurance para quanto o azul das sim, que a Terra é plana. Então, quan-
leitores jovens, em um livro de fotos. águas do Caribe e o do esses teóricos da conspiração ques-
Imagino que neste ano terei de começar laranja dos desertos. tionam um dos princípios mais básicos
a pensar mais a longo prazo — que tipo da ciência, que está por aí há centenas e
de trabalho vou fazer diferente do que centenas de anos, o fato de que vivemos
estou fazendo agora. Não sei, talvez eu em um planeta que é redondo, que orbi-
fique satisfeito como estou agora, mas ta o Sol em um Sistema Solar que está
não espero por isso. numa galáxia, que está num Universo...
Quando questionam esse fato científico
RECENTEMENTE PUBLICAMOS UMA PETIÇÃO básico, então questionam todos os outros
PARA CHAMAR A ATENÇÃO DE GRANDES EM- tipos de ciência, como a mudança climá-
PRESAS ESPACIAIS. QUEREMOS QUE, QUAN- tica. Isso é muito perigoso.
DO SEUS NEGÓCIOS DE TURISMO ESPACIAL Eu diria a eles que, se realmente acre-
ESTIVEREM FUNCIONANDO, ELAS LANCEM ditam que a Terra é plana, comecem a
TERRAPLANISTAS NOTÓRIOS AO ESPAÇO... andar em uma direção e, quando chega-
(Muitos risos) Ótima ideia! (mais risos) rem ao precipício, tirem uma foto dele e
mandem para mim. Suspeito que os ter-
... PARA QUE ELES VEJAM QUÃO REDONDA raplanistas nunca vão tirar essa foto e
É A TERRA. PODE MANDAR UMA MENSAGEM que vão ficar andando em círculos pelo
PARA OS TERRAPLANISTAS? O QUE DIRIA A resto da vida (risos).
*Reprodução autorizada pela editora Papadakis, do livro Industrial Scars (2016), de J. Henry Fair
T ER R EL L , CA R O L I N A D O N O RT E, EUA
Diques retêm água contaminada com cinzas volantes — como
são chamadas as cinzas resultantes da queima de carvão

FOTOS J. HENRY FAIR*

EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO

DESIGN JOÃO PEDRO BRITO


C I CATR I Z ES I ND U ST R I A I S

Fotógrafo norte-americano registra em imagens aéreas grandes marcas deixadas pela ação humana

59
60

D I A R I AM EN T E, N ÃO N O S FALTA M N OT Í CI A S e relatórios sobre os impac- produção de energia e cultivo de alimentos. No nível do chão, conta o
tos da ação humana no nosso planeta, mas nem sempre conseguimos ambientalista, seria praticamente impossível clicar o que queria mostrar,
visualizar esses danos. Assim, eles se tornam fatos quase impalpáveis pois esses locais normalmente estão protegidos por cercas, em áreas
para grande parte da sociedade — o que não ajuda em nada na busca de particulares. Veio, então, uma ideia para acabar com esse entrave. “Eu
aumentar a consciência em relação aos nossos hábitos de consumo. estava em um voo comercial, olhei pela janela e vi uma usina hidrelétrica
De fato, não é uma tarefa fácil conseguir registrar essas “cicatrizes”, em um rio, cercada de vapor, com nuvens seguindo a linha do rio. Ocor-
como o fotógrafo americano J. Henry Fair chama as áreas naturais reu-me imediatamente que precisava simplesmente contratar um avião e
devastadas pela nossa exploração para extração de matérias-primas, voar sobre esses lugares para fotografá-los”, diz Fair à GALILEU.
G R AM ER CY, LO U I SI A N A, E UA GO LFO D O MÉXI CO
Represamento de dejetos em refinaria de alumínio. Navio lança jato de água para conter chama provocada
Depois do ferro, ele é o metal mais usado no mundo pela queima de gases em uma plataforma de petróleo
INDUSTRIAL SCARS
de J. Henry Fair
Editora Papadakis
US$ 20 (cerca de R$ 67)
importado
204 páginas

A parceria de Fair com pilotos de avião foi tão importan-


te para o sucesso do trabalho que ele dedica a eles o livro
Industrial Scars: The Hidden Costs of Consumption (Ci-
catrizes Industriais: Os Custos Ocultos do Consumo, em
tradução livre), no qual reuniu as imagens dessa missão.
Atualmente, Fair trabalha em mais um projeto pelos
ares — desta vez, sobre áreas costeiras ameaçadas pelo
aumento do nível dos oceanos. “Grande parte do meu
trabalho tem o apoio dos grupos de pilotos ambientalis-
tas sem fins lucrativos LightHawk e SouthWings. Esses
pilotos são fantásticos, têm um conhecimento essencial
dos locais”, explica. Já nas regiões em que não pode
contar com esse auxílio, a situação fica mais complica-
da. “Nos lugares onde preciso contratar outros pilotos,
muitas vezes seus principais clientes são as empresas
que fazem as coisas que eu quero fotografar.”

S I LVE R CI T Y, NOVO MÉXI CO, E UA


Poço de mina de cobre a céu aberto, cavada com equi-
pamentos elétricos que funcionam como grandes pás

K I R UNA , S UÉCI A
Resíduos da maior mina de ferro subterrânea
do mundo, em funcionamento desde 1898
63
REPORTAGEM JULIANA PASSOS EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO

Necessidade de equilibrar
o tempo e lidar com as
leva pós-graduandos
DESIGN MAYRA MARTINS ILUSTRAÇÕES HENRIQUE CAMPEÃ

orçamento, correr contra


incertezas da carreira
brasileiros ao limite
SOB PRESSÃO
Pesquisa comparou os níveis de estresse de doutoran-
dos com os de outros grupos de estudantes
Estudantes de ph.D. Estudantes de Ensino Superior

População com Pessoas com Ensino


Ensino Superior Superior empregadas

SOB CONSTANTE PRESSÃO


40,81%
27,47%
26,69%
30,21%

INFELIZES E DEPRESSIVOS
30,30%
13,60%
As madrugadas são os momentos em que Fábio* se sente 12,31%
mais confortável para ir ao laboratório. É quando ele não 18,48%
precisa cronometrar o tempo para liberar o equipamen-
to para outros pesquisadores e não se vê tão pressionado PERDEM O SONO PRO PREOCUPAÇÃO
pelos olhares para que seu experimento seja bem-sucedi- 28,33%
do. Se antes não tomava café, agora bebe um litro e meio 18,13%
por dia. Fica gripado com frequência e já teve pneumonia. 17,16%
Desde que começou o doutorado, engordou 17 quilos e 18,13%
está chegando aos cem. Em avaliação parcial, os professo-
res consideraram os dados de sua pesquisa promissores, NÃO CONSEGUEM SUPERAR DIFICULDADES
mas isso não o impede de usar a palavra “fracasso” para 26,11%
descrever seu trabalho. “Quando penso em desistir, lem- 12,00%
bro que é preciso devolver o dinheiro recebido pela bolsa. 10,57%
Só não desisto por causa do meu filho”, conta. 12,69%
Ele saiu de Recife para São Paulo em 2014, aprovado em
processo seletivo da USP com um projeto que foi direto
NÃO TEM PRAZER NAS ATIVIDADES DIÁRIAS
para o doutorado, sem passar pelo mestrado, como permi-
25,41%
te o regulamento. Quando chegou à capital paulista, havia 13,07%
se separado recentemente. Hoje, com o casamento reata- 12,31%
do, sustenta a mulher e o filho pequeno com sua bolsa. 10,88%
O cansaço permanente, a alteração no apetite e o afasta-
mento da vida social que Fábio descreve são sinais de que a
PERDERAM A CONFIANÇA EM SI MESMOS
saúde mental não vai bem. “Além dessas características, o
24,35%
que marca o estado depressivo, ou de desamparo, é uma mu- 7,95%
dança brusca de hábitos. Como aquela pessoa que adora ler 7,56%
e deixa de fazer isso”, explica John Araújo, professor de psi- 10,24%
cobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A saúde mental de universitários, tanto na graduação
Fonte: Estudo Work organization and mental health problems in PhD students
quanto na pós, ainda é pouco discutida no Brasil. O pro-
* Não quis
ser identificado

blema só ganhou mais visibilidade há pouco tempo, após a


notícia de que houve ao menos seis tentativas de suicídio
de alunos de graduação da Faculdade de Medicina da USP
no ano passado e de que um aluno de doutorado do Institu-
to de Ciências Biomédicas da USP se matou no laboratório
em que trabalhava em meados de 2017. Em uma lousa do
local, deixou escrito que estava cansado. “I’m just done”
— algo como “estou farto” — encerrava a mensagem. Um
amigo disse à reportagem da Folha de S.Paulo, sua pesquisa
passava por problemas e não estava rendendo bem.
Assim como ainda falta discussão sobre a questão, faltam
também mais pesquisas sobre a saúde de pós-graduandos.
Em abril do ano passado, saiu um dos poucos estudos na
área. A revista Research Policy publicou um artigo produzi-
do por um grupo de pesquisadores liderados pela Universi-
dade de Ghent, na Bélgica. O texto tornou-se recordista em
downloads no site do periódico. A pesquisa, realizada com
3.659 estudantes de ph.D. — título equivalente ao doutora-
do no Brasil —, na região de Flandres, indicou que a chance
de esses estudantes desenvolverem um transtorno mental

Só não desisto
por causa do
doutorando na USP

meu filho
FÁBIO*

comum, como ansiedade e depressão é de 32%. A avalia-


ção também comparou os pós-graduandos a trabalhadores
empregados com ensino superior — a probabilidade de eles
desenvolverem transtornos é quase três vezes menor.
De acordo com o estudo, os principais fatores de es-
tresse são a incerteza sobre a carreira e a insegurança em
relação às finanças e ao trabalho realizado, além da at-
mosfera de competitividade [veja os gráficos ao lado]. Os
entrevistados tinham média de idade foi de 28 anos, sem
filhos e sem experiência de atuação fora da academia.
Estudos que relacionam a saúde mental com a pós-gra-
67
duação são ainda mais raros no Brasil. A maioria se con-
68
centra na graduação ou em cursos específicos. Em 2013,
André Faro, professor do departamento de psicologia da
Universidade Federal de Sergipe e pós-doutorando em
Epidemiologia e Saúde Mental na Universidade Johns Ho-
pkins (EUA), realizou uma pesquisa com 2.157 alunos de
pós-graduação e alcançou resultados semelhantes aos do
levantamento feito na Bélgica. O perfil dos alunos também
era parecido: idade média de 28 anos e sem filhos. No to-
tal, os estudantes atingiram um nível de estresse na faixa
mediana, mas muito próxima da considerada alta.
O levantamento mostrou que o nível de estresse era
maior entre aqueles que se dedicavam exclusivamente aos
estudos, em comparação com aqueles que trabalhavam ou
tinham passado pelo mercado de trabalho na sua área de
formação. “Esse resultado foi tido como uma surpresa, já
que a dedicação exclusiva é geralmente vista como posi-
tiva. O fato de não ter atuado no mercado em sua área e
a instabilidade financeira foram os principais indicadores
de estresse”, comenta Faro. Quanto à parte financeira, um
complicador está na falta de reajuste das bolsas do gover-
no federal desde 2013. São pagos mensalmente R$ 1.500
a estudantes de mestrado, R$ 2.200 aos de doutorado e
R$ 4.100 aos de pós-doutorado.

MUITO MEME, POUCA AJUDA


No Brasil, os principais espaços para compartilhar as difi-
culdades da pós têm sido grupos nas redes sociais. Lá não
faltam textões que revelam mazelas e situações abusivas,
além de memes para rir da própria desgraça — a GALILEU
se inspirou neles para ilustrar a reportagem. A hashtag
mais frequente nos relatos é #NãoÉNormal, campanha
criada por alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanis-
mo da USP cuja página no Facebook tem 25 mil curtidas.
Em contraste, nos EUA, as universidades já estão mais
preparadas para amparar os estudantes que sofrem nes-
sas fases de formação. O brasileiro Lucas de Camargos,
que está no último ano do doutorado em entomologia na
Universidade de Minnesota (EUA), com bolsa do progra-
ma Ciência Sem Fronteiras, conta que recebeu atendimento
psicológico dentro da instituição. Demorou a admitir, mas
criou coragem para pedir ajuda após meses vendo seu tra-
balho parar de fluir. Atendido por uma psicóloga, descobriu
que estava sofrendo da síndrome de burnout — os sintomas
são parecidos com os da depressão, mas a causa é clara:
o esgotamento está relacionado à sobrecarga de trabalho.
Com o diagnóstico, passou a adotar algumas estratégias
para aliviar o sofrimento: praticar meditação, anotar as
atividades do dia e pontuá-las em relação à sua satisfação
— para não exagerar nos aspectos negativos — e evitar
imaginar o que os outros vão pensar sobre seu desempe-
nho no curso, especialmente seu orientador.
A diferença entre as condições de pressão de bolsistas
brasileiros e norte-americanos, diz Camargos, fica eviden-
te aos sábados e domingos, quando só encontra conter-
râneos no laboratório. Onde estão os norte-americanos
nessas horas? O tempo deles para conclusão dos estudos é
mais flexível e há um maior número de modalidades de bol-
sas, com a possibilidade de acumulação, conta o doutorando.
A necessidade de fazer longas jornadas também foi o
que afetou Amanda*, recém-doutora pela USP. Seu orien-
tador ameaçou cortar sua bolsa se não trabalhasse dez
horas diárias no doutorado, além de declarar que a mater-
nidade seria um problema para a pesquisa e para a carrei-
ra dela. Mas, com o nascimento da filha, o que aconteceu
foi o contrário, diz ela. Ao dividir o tempo, sentiu que seu
projeto passou a se desenvolver de forma mais criativa.
Felizmente, ela pôde contar com a licença-maternidade,
um direito que foi concedido às pós-graduandas em 2013.
Apesar desse benefício, ainda há um longo caminho para
consolidar os direitos dos pós-graduandos, como a inclu-
são de plano de saúde, vale-transporte e férias, comuns
em outras ocupações. “Eu tinha um deslumbramento com
fazer ciência. Sabia que ia comer e dormir quando fosse

NOTA 10 EM DEPRÊ
possível, que ia receber mal, e achava que ia dar conta”,
afirma Fábio. “Mas, quando você chega lá, tem que lidar
com prazos e cobranças, seu corpo não responde ao que
você quer. Você acha que vai dar conta, mas não dá.”

Com ajuda de especialistas, reunimos quatro indica-


dores de que a sua saúde mental pode estar prejudica-
da, além de quatro dicas para aprender a se cuidar

PERDA DE
DESEJO
CANSAÇO
PERMANENTE
SINAIS MUDANÇA
DE APETITE
ADEUS, VIDA
SOCIAL

Você não tem Sente dificuldade


DE O metabolismo A pessoa tende a
mais vontade de
realizar ativi-
para alcançar o
sono profundo
ALERTA muda porque os
mecanismos de
buscar cada vez
mais o isola-
dades rotineiras, e é comum ficar controle dos mento, evitando
nem aquelas que sonolento pelo gastos energéti- procurar os
costumavam lhe resto do dia, sem cos estão amigos e/ou
dar prazer se concentrar desregulados a família

PROCURE
AJUDA
PRATIQUE
EXERCÍCIOS
PARA PONTUE
COISAS BOAS
TENHA UMA
ROTINA

Falar sobre os Atividade


ALIVIAR A Avalie as coisas Estabeleça
seus problemas é
o primeiro passo
física melhora
a atividade
TENSÃO boas e não tão
boas que acon-
horário para o
início e para o
para resolvê-los. cardiovascular, teceram no seu término do seu
Procure amigos, a oxigenação do dia. Assim você trabalho, para
colegas da pós ou sistema nervoso percebe no que evitar jornadas
um profissional e a concentração pode melhorar excessivas

Fontes: John Araújo e Marina Oliveira (coordenadora de laboratório de construção da carreira da Universidade Federal do Triângulo Mineiro)
a página
á i com mais
i dde
2 milhões
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virou livro
www.globolivros.com.br
nas livrarias e em e-book
TUBO DE ENSAIOS
POR DR. DANIEL BARROS*
71

entre as pessoas que compravam algo,


as mais satisfeitas com sua aquisição
eram aquelas que tinham sido expos-

MUITA COISA NA
tas a um número reduzido de sabores.
Quando observo as novas tecnolo-
gias que propiciam relacionamentos

VITRINE, POUCA
hoje em dia, pergunto-me se algo do
gênero não está acontecendo. Não
se trata de saudosismo — não acho

COISA NA SACOLA
que a forma antiga de paquerar fosse
melhor ou pior. Mas talvez fosse mais
talhada para esse nosso cérebro que
é tão cheio de capacidades quanto
A forma antiga de paquerar não era melhor ou pior, de limitações. Na história evolutiva
mas talvez fosse mais talhada para esse nosso cérebro da humanidade, afinal, praticamen-
que é tão cheio de capacidades quanto de limitações te nunca tivemos muitas opções de
relacionamentos. Ficava tudo dentro
da tribo: era aquela meia dúzia e só.
Com a criação das cidades, o ce-
nário mudou um pouco, já que havia
Certa vez, um cirur- curiosos, mas eles compraram menos muito mais gente. Mas, de qualquer
C gião me contou que do que as pessoas às quais foram forma, o contato cotidiano se restrin-
trabalhou com um apresentadas menos alternativas. gia aos ambientes que frequentáva-
médico tão pão- O volume de venda foi dez vezes mos, era quase impossível paquerar
-duro que economi- maior com menos opções. alguém a distância. O progressivo
zava o dinheiro do almoço nos fins Algo parecido pode já ter aconte- desenvolvimento das tecnologias
de semana indo ao supermercado. cido com você. Comigo acontece pelo de comunicação veio complicar essa
Havia tanto produto para degustar, menos em duas situações: em minha equação, e hoje praticamente não há
testar, experimentar que ele enchia biblioteca e diante do menu da Netflix. mais barreiras para o desenvolvimen-
a barriga de graça. No entanto, não Quero escolher algo para ler ou assistir, to do interesse mútuo. O número de
sei o que aconteceu com a saúde dele, e vou passando os olhos pelas possibi- opções de parceiros explodiu, portan-
porque essas amostras grátis estão lidades — que são tantas e me parecem to. E, no fim das contas, ficou mais
longe de ser saudáveis. tão boas — esperando que, a qualquer difícil escolher. São muitas variáveis.
Uma das mais famosas degusta- momento, uma delas me salte aos E sempre parece que alguém melhor
ções de supermercado da moderna olhos. Mas parece que quanto mais eu está a um clique de distância.
ciência comportamental, por exem- olho, mais indeciso fico. Os cientistas Não que tenhamos de abolir as
plo, envolvia geleias e chocolates chamaram o fenômeno de sobrecarga tecnologias — o que, aliás, nem pare-
— quem consegue almoçar isso? cognitiva (cognitive overload): incapaz O número ce possível. Mas vale a pena pensar,
Ela aconteceu nos anos 2000, quando de lidar adequadamente com tantas in- de opções diante das infindáveis prateleiras de
uma dupla de psicólogos americanos formações, o cérebro teria mais dificul- explodiu e pessoas que são as redes sociais, que
resolveu testar se oferecer muitas
opções às pessoas era algo que au-
dade em tomar uma decisão.
Porém, acho que não se trata ape-
ficou mais não precisamos encontrar a melhor
possível. Basta ser boa o suficiente.
mentaria a chance de elas encontra- nas da dificuldade de lidar com as in- difícil
rem alguma coisa de que gostassem, formações. Há também o custo — cada escolher.
adquirindo, então, o produto. vez maior — do que deixamos de fora. Sempre
Duas situações eram armadas: em
um dia, 24 opções de geleia gourmet
Sim, pois no preço das nossas decisões
sempre incluímos, estejamos cientes
parece
eram oferecidas a quem parasse para ou não, aquilo que não estamos fa- que
olhar o stand — e quem provasse ga- zendo, lendo, vendo. O preço do que alguém
nhava um cupom de US$ 1 de des- fazemos é também o que deixamos melhor
conto para a compra. Em outro dia, o
mesmo stand era montado, mas com
de fazer. E se minha escolha não for
a melhor? Quando tenho pouca con-
está a um * DANIEL BARROS é psiquiatra do Instituto de
Psiquiatria do HC–FMUSP, doutor em Ciências

apenas seis sabores disponíveis. O corrência, essa dúvida diminui. Isso clique de e bacharel em Filosofia. Atua com divulgação

distância
científica em vários meios, inclusive como
grande número de opções atraiu mais aconteceu no estudo das geleias, aliás: consultor do programa Bem Estar (TV Globo).
PANORÂMICA
FOTO ANUWAR HAZARIKA

A morte de elefantes em decorrência de choques elétricos tem se tornado frequente na Índia nos últimos anos devido à urbanização de seu habitat. Em dezembro,

72
no vilarejo de Kuruabahi, no nordeste do país, moradores deixaram flores sobre o corpo de um animal que morreu eletrocutado como forma de homenageá-lo.

73
Imagem: Anuwar Hazarika/Reuters Pesquisa: Franklin Barcelos
ULTI-
MATO PARA FAZER A DIFERENÇA
AGORA QUE VOCÊ LEU A REVISTA, DESCUBRA ALGO MAIS

ACREDITA QUE UMA BOA TEM INTERESSE EM APRENDER APÓS REFLETIR SOBRE AS GOSTARIA DE IR MAIS A A ASTRONOMIA INSPIRA
RISADA PODE ALIVIAR AS MAIS SOBRE DOENÇAS FACETAS DO AMOR NO TEMPO FUNDO NAS CONSEQUÊNCIAS ALUNOS A SE TORNAREM
DIFICULDADES DE CURSAR ESPECÍFICAS QUE PODEM DIGITAL, QUER TER MAIS DA POLÍTICA DE GUERRA ÀS CIENTISTAS: QUE TAL
PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL? ACOMETER A NOSSA PELE? REFERÊNCIAS NO ASSUNTO? DROGAS NA AMÉRICA LATINA? OUVIR O RELATO DELES?

Estudo belga aponta Pesquisa da Quase 800 mil


que probabilidade GALILEU com estudantes de todas
de doutorandos Sexlog revela que as regiões do Brasil
terem transtorno 27% dos usuários realizaram o exame
mental é de 32% usam apps por ter da OBA em 2017
mais opções de
pretendentes

O Brasil é o segundo Até outubro de


país do mundo com 2017, 23,7 mil
mais casos pessoas foram
de hanseníase, só mortas no
atrás da Índia México: uma
média de quase
79 casos por dia

PÓS-GRADUAÇÃO JANEIRO ROXO UMA MULHER FANTÁSTICA PLATÔ LUNETA LIVE


DA DEPRESSÃO A Sociedade Brasileira de Drama do diretor chileno Revista lançada pela Plataforma Batemos um papo com o
Página humorística no Facebook Hansenologia criou a campanha Sebastián Lelio explora o Brasileira de Política de coordenador da Olimpíada
faz piada sobre a nada mole vida para alertar a respeito dos amor de uma mulher trans Drogas (PBPD) traz artigos que Brasileira de Astronomia e
de pesquisador. Transforma a perigos da hanseníase, além com um homem mais velho. discutem as perspectivas sobre Astronáutica (OBA) e com
dor em zoeira em temas como de conscientizar a população Recomendado pela entrevistada a atuação do Estado em relação dois jovens medalhistas
publicação de artigos, teses e sobre o tratamento e a cura. Mandy Len Catron, o filme foi ao tema. Está disponibilizada de olimpíadas científicas
a relação com o orientador. Acesse o site para saber mais. indicado ao Globo de Ouro. gratuitamente no site. internacionais. Assista!

bit.ly/2zfEccu sbhansenologia.org.br imdb.com/title/tt5639354 pbpd.org.br bit.ly/2ATx8Vy

Carga pesada Acabou No tranco Anos 80 hoje


Depois da peça de queijo Governo dos EUA As definições de Para a loucura dos
lançada na cápsula enterrou a neutralidade fazer um motor pegar oitentistas, foi anunciada
Dragon, em 2010, Elon da rede, princípio que no tranco foram a pré-venda do Ataribox,

1 MIN.
Musk anunciou outra impedia as teles de atualizadas: propulsores versão repaginada do
carga excêntrica: o intervir no fluxo dos da sonda interestelar console clássico. Por até
próprio carro, da Tesla, dados online. Nada Voyager 1 que não eram US$ 300, sai no segundo
INFORMAÇÕES DE ÚLTIMA HORA
deve voar em janeiro no que os pacotes com acionados desde 1980 semestre deste ano.
foguete Falcon Heavy. WhatsApp grátis já não foram disparados. Estão O hardware é moderno,
Destino: Marte. No façam por aqui, mesmo tinindo e prontos para mas os fãs só pensam
rádio, “Space Oddity”, de com o Marco Civil da o próximo bilhão de nos jogos nostálgicos
Bowie. Chique demais. Internet em vigor. anos espaço afora. que virão gravados nele.
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O QUE VOCÊ TEM DE SABER É QUE
A MINHA VIDA É DIVIDIDA EM DUAS.
HÁ O ANTES E O DEPOIS .
ANTES DE SER ESTUPRADA.
DEPOIS DE SER ESTUPRADA .
ANTES DE ENGORDAR.
DEPOISS DE ENGORDAR .
Com sinceridade imprressionante,
Roxane Gay, autora
a feminista
best-seller do New York Times ,
fala sobre como, após
a sofrer
um abuso sexual aos doze anos,
passou a utilizar seu
s próprio
corpo como um esconderijo
e
contra os seus pio
ores medos.
Ao comer compu
ulsivamente
para afastar os olharres alheios,
por anos Roxane gu
uardou sua
história apen
nas para si.
Até concebe r este livro.

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