RIO DE JANEIRO
2012
PRISCILA LOPES BOMFIM MUNIZ
RIO DE JANEIRO
2012
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO
1
John Sloboda é Professor de Psicologia da Universidade Keele, no Reino Unido. É conhecido
internacionalmente por seus livros sobre a psicologia da música, que incluem "The Musical Mind"
(1985), "Exploring the Musical Mind" (2005) e "Psychology for Musicians" (2007). Seus interesses
de pesquisa incluem o estudo da performance musical, a resposta emocional à música, as funções
da música na vida cotidiana e de aprendizagem e aquisição de habilidades na música.
2
Faith Maydwell nasceu na Austrália Ocidental, na cidade de Perth. Pós-graduada em 1982 pela
Universtity of Western Australia, sua experiência musical como pianista inclui atividades de
acompanhamento, gravações solo, piano na orquestra (West Australian Symphony Orchestra),
artigos, conferências e workshops. Leciona leitura à primeira vista, harmonia e pedagogia do piano
na West Australian Academy of Performing Arts e na Universtity of Western Australia.
12
Devemos ter em vista a situação do professor que, não raras vezes, recebe
alunos mal preparados que, durante a fase inicial do ensino, não foram
orientados de maneira conveniente. Isto o obriga a ministrar, mesmo a
alunos do curso superior, conhecimentos básicos que lhes deviam ter sido
transmitidos pelo primeiro mestre. (ALENCAR, 1944, p.3)
3
Dr. Robert Pace ocupou o cargo de chefe do departamento de piano na Universidade de Columbia,
lecionando na Teachers College, Columbia University em Nova Iorque, ensinando nesta instituição
desde o início da década de 1950 até 1995. Nascido no Kansas, EUA, foi professor de muitos
autores de livros sobre pedagogia do piano. Foi diretor da National Piano Foundation de 1963 a
1977 e formou a International Piano Teaching Foundation, a fim de promover as teorias de
aprendizagem que defendia. Disponível em:<http://www.renoweb.net/LSMS/pace.html.> O “Pace
Method” inclui volumes dos livros: Theory Papers, Finger Builders, Creative Music e Music for
Piano, também editado em português.
13
4
“It seems that music-reading skills do not necessarily develop in parallel with performance abilities. In
fact, there can be a considerable discrepancy between these two abilities.”
5
O termo pianista especialista foi adotado por André Távora Kacowicz em sua dissertação “O pianista
co-repetidor e a arte do acompanhamento: seu significado e importância no cenário musical atual"
(2011), como sinônimo de pianista acompanhador e correpetidor, expressando sua forma de
compreensão sobre o papel que desempenham estes pianistas.
6
“Probably more intermediate piano students give up their piano study because of reading problems
than for any other single reason. People don't give up activities that they enjoy. But if each piece
presents a learning prospect to be dreaded, the result is predictable.”
14
7
A observação participante é caracterizada, por Laville e Dionne (apud RAMOS, 2005, p. 98), como a
“técnica pela qual o pesquisador integra-se e participa na vida de um grupo para compreender-lhe o
sentido de dentro”. Nesta estratégia, o pesquisador se infiltra em uma determinada situação por
meio de uma participação direta e pessoal.
15
8
Georg Joseph Vogler, também conhecido como Abbé Vogler (1749 - 1814), foi um compositor
alemão, organista, professor e teórico. Inventou um sistema de dedilhado para o cravo, uma forma
de construção para o órgão e um sistema de teoria musical fundada sobre a de teoria de Valotti.
Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Georg_Joseph_Vogler>. Acesso em: 22 ago. 2011.
9
“He took the first movement prestissimo, the Andante allegro, and the Rondo even more prestissimo.
He generally played the bass quite differently from the way it was written, inventing now and then
quite another harmony and melody. Nothing else is possible at such a tempo, for the eyes cannot
see the music nor the hands perform it. […] And wherein consists the art of playing prima vista? In
this: in playing the piece in the tempo in which it ought to be played, and in playing all the notes,
appoggiaturas and so forth, exactly as they are suppose that the performer had composed it
himself.”
16
Segundo Mozart, portanto, a leitura à primeira vista deve ser fiel à partitura no
que diz respeito ao andamento, às notas escritas da melodia e do acompanhamento.
Acrescenta que a leitura à primeira vista, como arte, deve estar atrelada à
expressividade e ao “bom gosto”, de modo que a execução soe como se o próprio
intérprete fosse o autor da obra.
Outros depoimentos nos possibilitam compreender a importância atribuída a
essa capacidade de leitura, como o encontro entre W. A. Mozart e Hummel. Para
Mozart, era importante saber se Hummel, seu futuro aluno, possuía essa aptidão:
Aos oito anos de idade, Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) fez uma
audição para Mozart. Após Hummel ter tocado algumas peças de Bach,
Mozart colocou diante dele uma composição própria para testar sua leitura à
primeira vista. O pai de Hummel disse que “ele se saiu muito bem”. Logo
depois Nepomuk mudou-se para a casa de Mozart, tornando-se seu aluno e
sendo tratado como uma criança da família. (SCHENK apud MAYDWELL,
10
2003, p.3, tradução nossa)
10
“When Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) was eight he auditioned for Mozart. After he had
finished a few pieces of Bach, Mozart put before him a composition of his own to test his sight
reading. Hummel’s father said, “It came off quite well”. Shortly after Nepomuk moved into Mozart’s
home becoming a student and treated like a child of the family.”
11
“I cannot describe my astonishment when I happened to be so fortunate as to hear the immortal
Wolfgang Amadeus Mozart playing before a large company of people. Not only did he vary with
great skill what he was playing, but he extemporized very as well.”
17
12
“I was amaze by the talent with which nature had equipped him. I gave him a few things to sight-
read, which he did, purely by instinct, but for that very reason in a manner that revealed that Nature
herself had here created a pianist... [...] Since I made him learn each piece very rapidly, He finally
became such a great sight reader that he was publicly capable of sight-reading even compositions
of considerable difficulty; and so perfectly as though He had been studying them for a long time.”
13
“My father had no intention whatever of making a superficial virtuoso out of me; rather, He strove to
develop my sight-reading ability through continuous study of new works and thus to develop my
musicianship.”
18
para fazê-lo; ao passo que, da segunda vez, ele sempre adicionava algo para sua
própria satisfação. (SCHOENBERG, 1987, p.176).
Além de Mendelssohn, Grieg também escreveu depoimentos acerca da
leitura à primeira vista de Liszt, quando o ouviu tocar, à primeira vista, o manuscrito
de seu Concerto para Piano em lá menor. O primeiro encontro de Grieg com
Mendelssohn foi em 1868, quando Grieg levara consigo uma de suas Sonatas para
violino e piano:
Você deve ter em mente [Grieg escreveu] que, em primeiro lugar, ele nunca
tinha visto nem ouvido a sonata e, em segundo lugar, que era uma sonata
com uma parte de violino, ora acima, ora abaixo, independente da parte do
piano. E o que Liszt fez? Ele tocou tudo, da raiz ao ramo, violino e piano.
[…] A parte de violino estava no meio da parte do piano. Ele estava,
literalmente, em todo o piano, sem perder uma nota, e como tocava! Com
imponência, beleza, como um gênio, com uma compreensão singular. Eu
14
acho que ri como uma criança. (apud SCHOENBERG, 1987, p.176,
tradução nossa).
14
“Now you must bear in mind [Grieg wrote] that in the first place he had never seen nor heard the
sonata, and in the second that it was a sonata with a violino part, now above, now below,
independent of the piano part. And what does Liszt do? He plays the whole thing, root and branch,
violin and piano. [...] The violin part got its due right in the middle of the piano part. He was literally
all over the whole piano at once, without missing a note, and how he played! With grandeur, beauty,
genius, unique comprehension. I think I laughed - laughed like a child."
15
“… true virtuoso and excellent organist, as well as ingenious composer, particularly of fugues. His
impressive sight-reading made him extraordinarily famous, nothing appearing impossible or too
difficult for him.”
19
Não foi apenas Wagner que declarou palavras elogiosas a respeito das
notáveis habilidades musicais de Saint-Saëns. Hans Von Büllow classificou-o como
a maior mente musical do seu tempo e um leitor e músico superior a Liszt. Após
ouvi-lo tocar à primeira vista o manuscrito de Siegfried, de Wagner, Büllow declarou
que nunca tinha ouvido tal leitura de partituras à primeira vista. Relatou que
dificilmente um efeito havia sido perdido e que Saint-Saëns parecia, intuitivamente,
compreender a estrutura completa da obra, reproduzindo-a sem um segundo de
hesitação sequer. (SCHOENBERG, 1987, p.282).
Alguns podem considerar que somente a primeira vez em que uma peça
desconhecida é lida ou tocada seja de fato uma leitura à primeira vista,
enquanto outros podem permitir que a definição de leitura à primeira vista
18
englobe também certas passagens após uma preparação mais extensiva.
(LEHMANN e McARTHUR, 2002, p.135, tradução nossa).
16
Andreas C. Lehmann é doutor em musicologia com especialização em educação musical e
professor, desde 2000, de Musicologia Sistemática na Hochschule für Musik, em Würzburg,
Alemanha. Trabalhou como associado de pesquisa no Instituto Psicológico da Universidade
Estadual da Flórida e foi professor de psicologia na Escola de Música de Música na mesma
Universidade.
17
Vitoria McArthur é PhD em Educação Musical com ênfase na pesquisa em pedagogia do piano,
pela Florida State University. Prossegue seu trabalho em biomecânica (ciência do movimento) e
psicologia motora.
18
“Some might consider only the very first time one reads or plays through an unfamiliar piece to be
true sight-reading, while others would allow the definition of sigth-reading to encompass play-
throughs after more extensive preparation.”
20
19
Sam Thompson é professor titular de psicologia na University of East London (UEL). É mestre em
psicologia da música pela University of Sheffield e PhD em psicologia pela Royal Holloway,
University of London. Contribuiu para a realização de pesquisas sobre experiências subjetivas em
ouvir música e abordagens psicológicas para ansiedade de desempenho. Mantém grande
interesse na relação entre o envolvimento com a música e os aspectos de bem-estar psicológico.
20
“Ability at sight-reading involves the capacity to play the music accurately and fluently (i.e. without
pauses or breaks in the musical flow) at an acceptable tempo and with adequate musical
expression.”
21
“[...] relies heavily on reading the score, generating adequate fingering, and executing
corresponding motor responses in a smooth fashion at or near performance tempo.”
21
O autor defende que a idéia geral da obra não deve ser prejudicada em
detrimento da atenção aos detalhes. Tal pensamento está vinculado ao último dos
cinco fatores apontados pelo autor como “essenciais para se levar em conta e
manter sempre em mente” (RUBINSTEIN, 1950, p.9):
1) O tom na qual a peça está escrita e sua relação com o teclado;
2) O compasso em que a peça está escrita;
3) O tempo/andamento indicado na peça;
4) Fidelidade ao que os olhos vêem, sem suposições;
5) Manter o movimento sempre à frente (forward motion),
independentemente de quaisquer erros que possam ser cometidos.
22
“We will call sight-reading the execution — vocal or Instrumental — of longer stretches of non - or
under-rehearsed music at an acceptable pace and with adequate expression. Some people also
label this ‘playing by sight’ or ‘prima vista’.”
23
“Sight-reading is not supposed nor expected to offer a performance finished in all details; therefore,
a finished performance should not be the objective of the sight-reader. [...] The objective of the
sight-reader should be to give a general Idea of the piece that is being read. While the attention to
musical details is of utmost desirability in sight-reading, such details should not be paid for by the
sacrifice of general outline.”
22
24
“the ability to read and perform music at first sight, i.e., without preparatory study of the piece.”
23
no teclado (grifo do autor). Isso permitiria uma breve análise visual sem qualquer
reforço auditivo ou tátil antes da real execução. (PACE, 1999, p.1).
Pianista Solista
Camerista
Pianista de Conjunto
Pianista de
Orquestra
Vocal
Instrumental
Pianista Acompanhador
Coral
Dança
Vocal
Correpetidor
Instrumental
Professor
músico poder tocar ou cantar a música pela primeira vez o mais próximo possível da
sua execução ‘realística’, o que exige bagagem técnica do executante.” Por outro
lado, os pianistas 4 e 9 definiram a leitura à primeira vista como uma interpretação
que não precisa, necessariamente, obedecer a todas as indicações e notas escritas
na partitura, devendo expressar com clareza os elementos mais importantes da
composição, de forma a ser o mais fiel possível às indicações do compositor.
Acrescentaram que se deve identificar o que é mais importante dentro da música
para que o ouvinte tenha uma noção da música que está escrita, o que será possível
por meio do conhecimento e da vivência musical do intérprete. “A compreensão do
caráter, frases, dinâmicas e respirações devem ser mais importantes do que tocar
todas as notas”, esclarece o pianista 6, que definiu a leitura à primeira vista como: “a
compreensão e realização musical de uma partitura num curto espaço de tempo”.
Os pianistas 1 e 4 ressaltaram ser importante uma vivência prévia. Pode-se
observar a relação entre as opiniões dos teóricos de base e as respostas fornecidas
pelos pianistas entrevistados: os dois lados consentem que existe relação entre o
conhecimento adquirido, a vivência musical do intérprete e o desenvolvimento e a
proficiência da capacidade da leitura à primeira vista.
Assim como em Ramos (2005), foram encontradas, nos depoimentos,
referências a uma análise ou leitura prévia feita imediatamente antes da leitura da
partitura no instrumento: “... após a leitura mental da partitura antes de emitir
qualquer som, executar o mais acuradamente possível a maior quantidade de
detalhes da obra” (pianista 1); “a leitura interna ocorre antes da leitura sonora
durante toda a execução” (pianista 3); “a leitura prévia da partitura deve ser utilizada
como recurso para reconhecimento do gênero musical e priorização dos aspectos
melódicos, harmônicos e rítmicos.” (pianista 7).
O pianista 8 relatou que quando “olha a partitura já sente como deve soar”. E
para o pianista 9, numa boa leitura à primeira vista o intérprete deve perceber,
reconhecer e realizar internamente os elementos musicais sem o uso do
instrumento, ou seja, deve tomar decisões interpretativas no contato visual antes
mesmo de tocar as notas e imaginar, também internamente, o resultado sonoro
antes de ser produzido. Observa-se, portanto, que esses pianistas associam a
leitura da partitura a um trabalho mental.
Sob outro aspecto, os pianistas 4 e 5 ressaltaram uma relação
intérprete/ouvinte, cuja compreensão musical refletiria o nível de execução por parte
27
do intérprete, tal como se pode perceber nesta frase do pianista 5: “uma boa leitura
à primeira vista é a realização de um texto musical desconhecido para o pianista que
se torna compreensível ao ouvinte.”
O contato por entrevista com esses profissionais e suas respostas foi
relevante para nossa pesquisa, uma vez que, além de fornecerem suas próprias
definições sobre o tema, mencionaram suas estratégias no emprego da habilidade
de leitura à primeira vista.
28
27
“[...] sight-reading is not a unitary skill but should rather be regarded as a collection of subskills that
can be discussed and studied separately.”
28
“’Audiação é a tradução de “audiation”, termo criado por Edwin Gordon em 1980, que consiste na
capacidade de ouvir e compreender musicalmente o som, quando ele não está fisicamente
presente’ (CASPURRO, 2007: 6). Dar sentido ou significado a uma peça que estamos lendo é, por
conseguinte, audiar as alturas e durações que são essenciais à nossa compreensão musical.”
(RISARTO e LIMA, 2010, p.49)
29
“The training of a true musician concerns listening, singing and moving. It includes inner hearing
and audiation skills, discrimination, memory, continuity in movement and rhythmic control,
recognition of rhythmic, melodic and harmonic patterns, cognitive understanding, and awareness of
tonality. Trully superior training promotes musical imagination, improvisation, musical decision-
making, and joy in perfomance; thus inspiring a highly personal involvement with music.”
29
30
Wilhelm Martin Keilmann (1908-1989) foi pianista, mestre-capela, regente e compositor, além de ter
estudado violino. Nasceu na Alemanha e, como professor, desenvolveu intenso trabalho
pedagógico. Criou uma notável classe de piano, fato que lhe deu grande notoriedade, a ponto de
ser chamado para lecionar piano e composição no Conservatório Richard Strauss, em Munique,
onde trabalhou de 1959 a 1975. Nesse período escreveu seu método de leitura à primeira vista
para piano e outros instrumentos de teclado, traduzido do alemão para o inglês por Kurt Michaelis,
em 1972. (RISARTO e LIMA, 2010).
31
“The present method, based on practical experience, affords to teacher and pupil thorough
guidance in acquiring the faculty to sight-read precisely and correctly in the course of regular
lessons.”
32
Thomas Wolf: flautista e psicólogo. Motivado por sua dificuldade em ler à primeira vista as peças
que repentinamente eram colocadas à sua frente na orquestra onde trabalhava, entrevistou quatro
pianistas experientes sobre as suas habilidades de leitura à primeira vista. Os resultados e a
análise da pesquisa foram registrados em artigo citado neste trabalho. (WOLF, 1976).
33
A denominação “pianista especialista” neste trabalho, como já citado, representa o pianista de
orquestra, camerista, acompanhador ou coach (preparador).
30
Com a prática, pode-se aprender a tocar uma peça em qualquer tom, mas
uma leitura à primeira vista fluente implica em um conforto mental no que
diz respeito à audição, à visão e ao tato, ao ir de um acorde para outro, ou
de uma tonalidade para outra; implica em ações tomadas corretamente sem
um esforço deliberado, sem um cálculo laborioso, e sem hesitação.
35
(RUBINSTEIN, 1950, p. 20, tradução nossa)
34
“The tendency of the teacher is to confine the student to those keys that contain only a small
number of sharps or flats, at least in the early years of study. There is justification up to a point for
this tendency, but in many cases it is carried far beyond the bounds of necessity and is more the
dictate of dogma than of wisdom. […] As a matter of practical common sense, a key involving six
sharps or flats is no more difficult than one involving none, the basis is facility in all of them
consisting of a sense of tonality and a recognition of key.”
35
“With practice one may learn to play a piece in any key, but fluent sight-reading implies mental
comfort with regard to the aural, the ocular, and the tactile in going from one chord to another, and
from one tonality to another; it implies action taken correctly without conscious effort, without
ponderous calculation, and without hesitancy.”
36
“Being able to read in any key is an essential component of good reading, and the analogy here
might be that of teaching children to swim before they develop a fear of water.”
32
37
“Facility in playing notes in close formation requires an intimate knowledge of scales; facility in
playing notes in wide formation requires an intimate knowledge of the triad, dominant seventh,
diminished seventh and other seventh chords in root positions and inversions. Such facility is the
result not only of tonal knowledge, but also of its essential physical counterpart, fingerings. Without
correct and automatic finger reaction, tonal command is left hanging in the air by a tenuous thread.
[…] Pianistic knowledge can be acquired only by learning which fingers belong on certain keys in
certain tonalities, and being consistent in applying that knowledge.”
38
Francisco Xavier Baptista, compositor português que viveu durante a segunda metade do séc. XVIII
em Lisboa. Não há dados sobre a data de seu nascimento, porém documentos mencionam a sua
morte no dia 10 de outubro de 1797. (Das obras impressas que dele se conhecem, foram
impressas somente doze sonatas e uma modinha para duas vozes e cravo.)
33
partitura permite que o leitor já presuma os desenhos ou as notas que vêm a seguir,
evitando que o mesmo leia “nota por nota”. Dessa forma, o leitor passa a enxergar a
partitura priorizando os desenhos formados pelas notas, e não isoladamente cada
nota que os compõe.
A seleção dos compassos 1-8 e 24-40 dessa Sonata pode ser observada nas
figuras 1 e 2:
39
“Without an ability to sight-read, students must re-decipher the musical notation with each new
piece, often resulting in countless hours of laborious repetition.”
36
passagem musical, o aluno deve olhar para os dedos e nunca para a música.
Segundo Sá Pereira, desta forma corrige-se a leitura e desenvolve-se fortemente o
senso de localização no teclado e a percepção auditiva.
Neste mesmo sentido, durante a leitura à primeira vista, o ouvir a música
parece fornecer um tipo de mecanismo de verificação. A audição permite ao músico
ter a certeza de que a transferência da informação dos olhos para os dedos foi
suave e precisa, e assim o olho fica liberado para passar para o próximo cluster
significativo. (WOLF, 1976, p.154).
3.1.2 Dedilhado
40
“Piano performance represents a particularly interesting case in the physical domain of performance
because very large numbers of alternative fingerings may exist for virtually any passage of music.”
37
uma boa leitura à primeira vista, o aluno deve aprender a olhar sempre adiante para
poder tomar decisões corretas acerca do dedilhado, já que este poderá estar
relacionado ao fraseado e às notas subsequentes. O autor fornece alguns exemplos
musicais que ilustram estas abordagens (figuras 3-6):
41
Richard Parncutt é professor de Musicologia Sistemática na Universidade de Graz, na Austria.
Ensina e atua como pesquisador em musicologia e psicologia da música.
42
Cognição: Cognitione, que significa a aquisição de um conhecimento através da percepção. É o
conjunto dos processos mentais usados no pensamento e na percepção, também na classificação,
reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de
determinados sistemas e soluções de problemas. De uma maneira mais simples, podemos dizer
que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação
captada através dos cinco sentidos. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Cogni%
C3%A7%C3%A3o.>
40
43
Pianistas como Busoni e von Bülow adotaram ao extremo esta ideia, recomendando que peças
inteiras, em diferentes tonalidades, fossem tocadas com o mesmo dedilhado. (PARNCUTT, 1997,
p. 375)
41
44
“Such facility is the result not only of tonal knowledge, but also of its essential physical counterpart,
fingerings. Without correct and automatic finger reaction, tonal command is left hanging in the air by
a tenuous thread. [...] Pianistic knowledge can be acquired only by learning which fingers belong on
certain keys in certain tonalities, and being consistent in applying that knowledge.”
42
Como o maestro, ele deve ler mais que uma pauta ao mesmo tempo; mas, como
outro instrumentista, precisa coordenar o movimento dos dedos a partir do material
lido na partitura. (WOLF, 1976, p. 145).
Boris Goldovsky, que à época tentava implantar um método de ensino de
leitura à primeira vista, acreditava que ao lado do conhecimento dos padrões, havia
fatores mais importantes que levavam o pianista a ser ou não um bom leitor à
primeira vista. Afirmou que era preciso mudar o foco: para chegar ao cerne da
questão, a preocupação deveria estar voltada menos para o que o músico via na
partitura e dedicar-se mais atenção ao processamento cognitivo, que permite ao
intérprete transformar a imagem visual em um ato muscular. (WOLF, 1976,
p.152,163).
Palmer (1997, p.116) também explana sobre a habilidade motora/performance
sob o ponto de vista psicológico. Defende que falar, escrever e executar música
estão entre as formas de habilidades mais complexas de ação serial produzidas pelo
ser humano. Acrescenta que teorias seminais sobre o controle motor geralmente
usam a performance musical como o maior exemplo de habilidade motora.
Quando questionados sobre os detalhes de como é conhecer uma peça e
tocá-la bem, os músicos profissionais, em sua maioria, contam que “experimentam
uma mistura de tipos diferentes de imagens mentais, antecipatórias dos movimentos
físicos feitos por eles. Ouvem notas nas imagens mentais auditivas, vêem notas em
termos de vários desenhos abstratos, sentem as notas como antecipações
musculares.” Jourdain aponta que, para a maioria dos músicos, parece que o lugar
de maior destaque é ocupado pelas imagens mentais cinestésicas – “um desfile
fantasmagórico de antecipações musculares.” (JOURDAIN, 1998, p. 291-292).
Sloboda (2008, p.111-115) relaciona o processo da aplicação de variações
expressivas na leitura à primeira vista com três estágios principais:
1) a formação da representação mental da música a partir do exame da
partitura, a qual identifica os elementos que devem ser marcados de forma
expressiva durante a execução, como a repetição de padrões, a subdivisão de
unidades ou a estrutura métrica representada;
2) o acesso a um “dicionário” de variações expressivas, análogas às
marcações estruturais identificadas na peça;
43
Sobre este conceito, Sloboda conclui que uma leitura à primeira vista fluente
exige duas sub-habilidades: um grau elevado de habilidade de representação, para
que o músico seja capaz de rapidamente construir um plano apropriado de
execução, e um grau elevado de habilidade em programação motora – para que o
músico seja capaz de executar uma sequência motora fluentemente, por inteiro, na
velocidade apropriada. (SLOBODA, 2008, p.117).
Com relação à associação entre a partitura e os movimentos motores gerados
por ela, Ronkainen e Kuusi (2009, p. 454) descreveram os resultados da sua
pesquisa que abordava o teclado e suas conexões com os processos visual, auditivo
e cinestésico45. Alguns dos pianistas participantes disseram que podiam ver e
reconhecer os acordes da partitura tonal apresentada. Este reconhecimento incluía o
acorde associado às teclas no teclado e, em conjunto com o padrão significativo
45
Cinestesia: “Conjunto de sensações pelas quais se percebem os movimentos musculares.”
Disponível em:<http://www.dicio.com.br/cinestesia/>; “É o sentido do movimento corporal e da
tensão muscular, provocados pelas forças mecânicas que influenciam os receptores nos músculos,
nos tendões e nas articulações. A cinestesia - literalmente, "sensibilidade ao movimento" - é um
dos nossos sentidos fundamentais. [...] informa, em suma, a respeito de todas as ações motoras.
Além disso, é responsável pela sensação de tensão e de esforço muscular. Os estímulos físicos
para as sensações cinestésicas são forças mecânicas que atuam sobre os receptores localizados
nos músculos, nos tendões e nas articulações do corpo. À medida que os músculos funcionam,
modificando as posições das partes do corpo, diversos padrões de pressões, nesses receptores,
fornecem a informação essencial para a orientação da ação motora. Há uma grande interação
entre essas sensações cinestésicas e outros aspectos de nossa experiência perceptual.”
Disponível em:<http://www.portaldapsique.com.br/Dicionario/C.htm.>
44
Muitas vezes, Leschetizky pedia ao aluno para fazer uma lista de todos os
acordes, bem como de grupos de notas, a fim de criar uma imagem deles
em sua mente, estudá-los e, ao mesmo tempo, moldar a mão de acordo
com esta imagem, antes de tocar as teclas. Ele chamava isso de “fisionomia
da mão”. (NEWCOMB, 1921, p.128, tradução nossa.)
46
Theodor Leschetizky (1830-1915) nasceu na Polônia e era pianista, professor e compositor.
Aprendeu com o pai as primeiras lições de piano e estudou em seguida com Czerny, em Viena.
Aos 18 anos era um virtuoso conhecido em Viena e além dela. A convite de seu amigo Anton
Rubinstein, foi para St. Petersburgo para ensinar e foi um dos fundadores do St. Petersburg
Conservatory of Music, em 1862. Em 1878 ele retornou a Viena e começou a criar o que seria uma
das mais eminentes escolas particulares de piano na história. Leschetizky ensinou até aos 85
anos, falecendo em Dresden.
47
Ethel Newcomb (1875-1959) foi aluna e assistente de Leschetizky. Escreveu o livro “Leschetizky as
I Knew Him”.
45
48
“Inexpedient movements are not the cause of technical deficiency, but one of its symptoms. To
know the sense and purpose of a movement is the first condition for its natural flow. Consequently,
technical practice should always be joined with musical practice, with study of interpretation. […]
The muscle sensation connected empirically with purposeful movement is much more important for
technical development than the perception of movement form. Virtuosity is achieved, not because
of pre-established knowledge of the forms of movements, but thanks to the practiced ability to
anticipate the movement suitable to each given case and convenient for each individual.”
49
Professor de Música e Educação Musical na Inglaterra, Canadá e Austrália. Tem, no seu currículo,
a pesquisa das tradições da arte musical da música ocidental, desde a música medieval até a
música de vanguarda do século XX, assunto no qual é PhD pela London University. Já escreveu
sobre Percepção Musical, Música e Cultura, Currículo Musical e a distinção musical entre
educação e entretenimento.
46
50
“Tonal intervals and key distances are connected by a relationship which makes one an
indispensable part of the other.”
47
relacionadas à leitura à primeira vista. Para estes autores, o padrão dos movimentos
51
“sacádicos” pode ser um medidor de velocidade do processamento mental. Em
meio às competências correlatas em música, modelos de movimentos oculares-
sacádicos provaram ser de central importância para a leitura musical, em especial
para a leitura à primeira vista. É por esta razão que estudos do movimento dos olhos
na leitura musical têm uma longa tradição. O estudo comparativo entre músicos e
não-músicos feito por Kopiez e Galley mostrou que durante a execução de tarefas
visuais-motoras simples, músicos profissionais produzem movimentos sacádicos
mais rápidos, mais eficientes e com mais movimentos antecipatórios em relação a
não-músicos. Várias pesquisas enfatizam a antecipação do conteúdo visual da
partitura, a fim dos músicos anteciparem as ações motoras necessárias para uma
boa performance.
De acordo com Jourdain (1998, p.285), quando o músico lê a uma distância
de visão normal, a área de visão coberta pela fóvea 52 é um círculo de
aproximadamente 2,54 cm de diâmetro na partitura. A fóvea absorve informações
por um quarto de segundo e depois pula para a próxima fixação. A área de 2,54 cm
é suficiente para cobrir um compasso numa pauta, mas não as diversas pautas com
que se defrontam pianistas e regentes. Apesar da expectativa ser a de que as
fixações dos olhos se movam constantemente para adiante, dificilmente isso chega
a ocorrer. Os movimentos dos olhos seguem a estrutura da música, focalizando os
pontos cruciais e musicalmente significativos, procedendo de maneira variada, ora
com deslocamentos verticais, ora horizontais.
Ilustrando o movimento dos olhos durante a leitura à primeira vista, Jourdain
(1998, p. 285-286) apresenta dois exemplos musicais: o primeiro com uma melodia
apoiada por acordes, no qual os olhos seguem um movimento padrão “para-cima-e-
para-baixo”; e o segundo é um exemplo contrapontístico com duas vozes se
movendo paralelamente, no qual os olhos trabalham indo para trás e para frente
(figura 7).
51
“Movimentos sacádicos são movimentos rápidos dos olhos realizados entre fases de fixação.”
(GRUHN et al. apud RODRIGUES, 2007).
52
A fóvea é um pequeno ponto no centro da retina que possui a acuidade necessária para a
identificação de objetos. Abrange apenas cinco por cento do campo visual. O restante da retina
distribui apenas o borrão da visão periférica. (JOURDAIN, 1998, p. 284).
50
A leitura à primeira vista ao piano é uma tarefa que envolve uma série de
sobreposições perceptivas, processos cognitivos e motores. Uma leitura de
qualidade requer o desenvolvimento de habilidades como o reconhecimento de
padrões, previsão e a habilidade de gerar e utilizar representações auditivas.
51
A configuração das notas em uma partitura deve ter a mesma função que as
letras para o leitor num texto de linguagem literária. Ambos, notas e letras, são
partes da construção de uma unidade maior. É essa unidade maior, não as notas ou
letras, que é usada pelo leitor ou músico. Em música, notas são análogas às letras:
assim como o leitor que procura palavras e não letras, o músico não lê nota por
nota, mas procura por padrões musicais familiares. (WOLF, 1976, p. 145).
O texto a seguir serve de exemplo para a visão global tanto do leitor (literário)
quanto a do músico:
músico trabalha com essas grandes estruturas, tem tempo de considerar todos os
atos musicais, antes mesmo de serem executados. Desta forma, “não é mais
acossado pela aglomeração de notas nem sua atenção pulverizada por uma
explosão de detalhes.” (JOURDAIN, 1998, p. 291). A obtenção do fortalecimento
dessa profunda hierarquia motora gerada pela partitura acontece, porém, somente
após a sua prática assídua.
A leitura à primeira vista impõe restrições em tempo real, o que demanda a
utilização de mecanismos cognitivos, segundo Lehmann e Ericsson (1996). Estes
apontam que as exigências do trabalho de memória são notavelmente diferentes
entre os pianistas solistas e os pianistas acompanhadores. Durante uma
performance sem estudo prévio (numa leitura à primeira vista), o pianista deve
identificar rapidamente os padrões musicais e gerar um plano adequado de
execução, usando a notação como parâmetro e antecipando a continuação da
música. Em contraste, a performance previamente ensaiada é baseada na
recordação livre e no conhecimento da sequência em que as notas acontecem.
(LEHMANN e ERICSSON, 1996, p. 4, 6).
Vale ressaltar mais uma vez que o reconhecimento destes padrões deve vir
acompanhado do conhecimento prévio das estruturas musicais, como afirma
Solomon, quando destaca a relevância do conhecimento da gramática musical:
“Necessita-se estar muito familiarizado com o reconhecimento formal, intervalos,
tonalidades, escalas, acordes, estrutura melódica, e análise visual.” (SOLOMON
apud RAMOS, 2005, p. 55). Portanto, pode-se considerar que:
55
“During a performance, musical structures and units are retrieved from memory according to the
performer’s conceptual interpretation, and are then prepared for production and transformed into
appropriate movements.”
56
“The ability to perform with little or no rehearsal may be regarded as a reconstructive activity that
involves higher-level mental processes.”
55
3.3.2 Intervalos
Os leitores mais hábeis não processam a melodia nota por nota. Durante as
fixações realizadas pelos olhos na partitura, há um grande número direcionado às
áreas entre as notas, onde não há informação disponível (GOOLSBY apud SAXON,
2004, p.24). Por esta razão Saxon orienta a que se dê mais ênfase aos intervalos ao
invés dos nomes das notas, no momento da leitura. Há evidências de que os olhos
não olham diretamente para cada nota; em vez disso, olham entre as notas para
medir os intervalos.
Assim como Saxon (2004), Keilmann já enfatizava a leitura por meio de
intervalos em seu método de leitura à primeira vista, “Introduction to Sight Reading”
(1972, p.16-21). Nele, o autor orienta o intérprete a utilizar alguns “atalhos” na hora
da leitura dos intervalos, sejam eles harmônicos ou diatônicos.
As notas que formam o intervalo de 2ª só podem ser escritas uma ao lado da
outra e, portanto, é um intervalo claramente visível.
3.3.3 Acordes
a)
b)
a)
b)
57
“Eye-movement data also show that, with increasing familiarity with the music fixations become
shorter and eye movements longer, presumably because part of the information is already known.
(…) Larger perceptual spans point to larger chunks in memory, which means that the players can
devote more attention to the solution of other performance problems, for example, reassuring
themselves of unclear passages or planning fingerings and jumps.”
61
Estudos têm demonstrado que uma boa leitura rítmica tem uma alta
correlação com o sucesso da leitura à primeira vista. Muito da informação musical é
codificado na métrica e no ritmo, e a informação de tempo é o que move a música
adiante.
Neuhaus58 declara que a performance musical desprovida de um núcleo
rítmico, da lógica de tempo, é apenas um ruído musical. O aluno que não tem, como
seus fundamentos, uma completa compreensão do tempo e do ritmo da obra, muda
o tempo sem nenhuma razão musical, pois a interpreta sem uma concepção prévia
(1993, p.31).
58
Heinrich Neuhaus (1888 - 1964), pianista e professor nascido na Ucrânia. Escreveu o livro “The art
of piano playing” (1933). Uma das coisas em que ele acreditava era a de que um pedagogo deve
antes de tudo ser um professor de música, o que significava levar o aluno a compreender a arte
musical, suas ideias e conteúdo emocional. Ele costumava dizer: "Primeiro você tem que saber o
que tocar e, posteriormente, como tocar.”
59
“This feeling for time is very apparent in some pianists, for instance when sight-reading four-hands.
One who is only a pianist will, when faced with a difficulty, slow down, stop, correct himself, repeat;
while the musician who feels that ‘everything flows’ […] will rather leave out some detail, omit
playing something but will never stop, will never lose the rhythm, or lose his place.”
60
Abby Whiteside (1881-1956), professora de piano americana que defendia a atitude de ter o braço
como maestro de uma imagem musical concebida em primeiro lugar na mente.
63
vista. Segundo a autora, só pessoas que trabalham sob a influência do ritmo são
capazes de realizar proezas na leitura à primeira vista.
Segundo Maydwell (2003), existem três áreas que devem ser trabalhadas
simultaneamente para o desenvolvimento da leitura à primeira vista: a leitura guiada
(tocar a mesma música junto com os alunos); a orientação no teclado (a execução
dos sinais usando movimentos motores que independem da necessidade de olhar
para o teclado); e a leitura dos símbolos musicais (o rápido reconhecimento do
material na partitura). Quando defende o método do aluno tocar junto com o
professor (seja a dois pianos ou abaixo ou acima do aluno, no teclado), a autora
aponta os benefícios de se tocar a dois: além do aluno não poder correr nem ficar
para trás, o mesmo se sente muito mais confortável ritmicamente quando apoiado
no professor. Desta forma, com o ritmo e o tempo seguros, o aluno tem mais tempo
para refletir em questões musicais expressivas. Entretanto, Maydwell salienta que
não usa este método isoladamente, pois tem consciência da necessidade da
independência rítmica do aluno e a tem como um importante elemento no
entendimento da linguagem musical (MAYDWELL, 2003, p.14-15).
Recordamo-nos que, no início de nossos estudos musicais (entre sete e oito
anos de idade), as primeiras peças ao piano eram feitas a quatro mãos com o
professor, tanto em aula como em apresentações. Faziam parte do repertório obras
e reduções escritas para piano a quatro mãos de Diabelli, Mozart, Haydn, Béla
Bartók e composições avulsas. Citamos este fato por acreditar na relação existente
entre a prática deste tipo de execução e o desenvolvimento do senso rítmico,
assinalado como sub-habilidade na proficiência da leitura à primeira vista.
Sá Pereira (1933) declarou que a deficiência de leitura é uma das mais graves
causas dos erros cometidos pelos alunos. Sugere que esta deficiência deve ser
remediada pelo estudo intensificado de solfejo e teoria elementar (o que inclui o
aspecto rítmico), além da harmonia.
64
Quanto aos erros de ritmo, também esses denunciam logo um ensino inicial
mal conduzido, no qual o aluno aprende a conhecer os valores
teoricamente, a ponto de saber responder às perguntas que lhe faça o
mestre, sem ter entretanto criado automatismos na concepção das
proporções existentes entre certa unidade de tempo e as suas subdivisões.
(ALENCAR, 1944, p.15,16)
Devemos ter em vista a situação do professor que, não raras vezes, recebe
alunos mal preparados que, durante a fase inicial do ensino, não foram
orientados de maneira conveniente. Isto o obriga a ministrar, mesmo a
alunos do curso superior, conhecimentos básicos que lhes deviam ter sido
transmitidos pelo primeiro mestre. (ALENCAR, 1944, p.3)
vencidos e evitados se houver uma análise prévia da partitura para observação das
informações relevantes e para realização de um breve ensaio mental (McPherson
apud ZHUKOV, 2006, p.3). Figuras rítmicas menos frequentes devem ser
observadas e “resolvidas” mentalmente antes de serem executadas.
Dra Katie Zhukov baseou-se nos estudos de McPherson (1994), Salzberg e
Wang (1989) e Colley (1987) para catalogar atitudes práticas a serem tomadas
antes da execução à primeira vista de novos materiais em aula, pelo professor e
aluno. São elas: considerar o compasso; discutir a escolha do andamento; fazer uma
“varredura” da música juntos, professor e aluno, observando ritmos incomuns tais
como quiálteras, notas muito lentas ou rápidas, ligaduras e pausas; vocalizar o ritmo
enquanto se marca os tempos com os pés ou as mãos; fazer as leituras das mãos
direita e esquerda pelo professor e aluno, respectivamente, e vice-versa; por fim,
permitir que o aluno toque o exemplo musical.
Assim como a organização métrica serve como guia para a atividade motora,
serve também como um guia visual. Em muitas situações, não há necessidade de
“contar” os tempos de fato, pois a própria disposição das notas na partitura e a
relação entre as notas de uma pauta e outra indica o momento em que devem ser
tocadas, auxiliando inclusive a manter o tempo.
No Mikrokosmos n.39 (figura 18), por exemplo, o aluno pode se ater apenas
ao movimento das notas e não a somente “contar” os tempos de cada nota, já que a
disposição das notas na partitura demonstra claramente o “encaixe” das mesmas em
cada compasso. Mais especificamente nos compassos 5 e 6, o leitor poderá se
guiar apenas pelas semínimas tocadas pelas mãos direita e esquerda,
respectivamente, e onde as notas se “encaixarem” visual e metricamente, poderão
ser executadas sem a preocupação da contagem dos tempos das mãos
individualmente. Este recurso pode ser usado em diversos níveis de leitura. Muitas
vezes, basta assinalar rapidamente com um traço vertical o encaixe dos tempos ou
das subdivisões dentro do compasso, durante uma leitura prévia da partitura, para
haver a garantia de uma leitura precisa e segura.
Assim como Maul (1938, p. 43) afirmou que o pianista pode “sentir” o ritmo
independentemente de qualquer esforço ou análise apesar desta capacidade ser
relativa ao grau de musicalidade do indivíduo, Whiteside igualmente defende a
capacidade do executante sentir o ritmo e ouvir as notas. “Sentir o ritmo é uma das
metades de uma linda performance. A outra metade é a imagem auditiva da
música.”61, afirmou. (1997, p.7, tradução nossa)
Abby Whiteside aponta que o ritmo é algo que vai além do processo de atingir
as teclas. Sob a premissa de que o ritmo tem uma relação corporal com o braço e o
torso do pianista, afirma que a principal dificuldade em tocar piano é fazer esta
relação física acontecer de forma clara. Atribui esta dificuldade à confusão de
métodos estabelecidos que abordam as formas adequadas de acertar as teclas, mas
não dão a ênfase devida ao desenvolvimento do “ritmo emocional” - uma união do
ritmo com a “emoção”. Sobre este aspecto a autora faz uma comparação entre a
performance solo e a performance com orquestra. Alega que, ao contrário de
quando toca acompanhado por uma orquestra, quando o pianista toca sozinho, é
vítima dos seus próprios hábitos. Se estes hábitos não têm o objetivo de aperfeiçoar
o “ritmo emocional”, então o intérprete se concentrará muito em detalhes, o que
acarretará numa performance igualmente presa a detalhes. Haverá a persistência
em trechos inadequados, e certamente com clímaxes demasiados na obra. O
resultado final será uma performance sem inspiração. (WHITESIDE, 1997, p.11).
Este conceito pode ser aplicado tanto à performance de uma obra ensaiada quanto
à execução de uma leitura à primeira vista.
“Sentir” o ritmo da música parece ser consenso entre estes dois autores e
Joan Last (1981). Em seu livro, que aborda tanto a prática como o ensino de piano a
jovens pianistas, Last alega que a condução rítmica da peça deve ser sentida logo
nos primeiros compassos:
61
“Feeling the rhythm is one half of a beautiful performance. The other half is the aural image of the
music.”
69
O aluno deve “sentir” o ritmo dos dois primeiros compassos. Uma vez que
isto tenha sido feito, é mais provável que haja uma performance rítmica do
inicio ao fim. Ao preparar alguém que é fraco neste sentido para uma prova,
é um bom método escolher um número de exemplos e apenas ouvir os
62
primeiros quatro compassos de cada um. (LAST, 1981, p. 84, tradução
nossa).
Como a leitura deve ser feita da forma mais fluente possível, deve-se apontar
para o aluno que o tempo é tão importante quanto a melodia. “Tocar uma nota
errada é um erro, mas voltar e quebrar a sequência rítmica é outro.” 63 (LAST, 1981,
p. 84, tradução nossa).
62
“The pupil should ‘feel’ the rhythm of the first two bars. Once this has been felt there is more likely to
be a rhythmical performance throughout. When preparing anyone who is weak in this way for an
examination, it is a good plan to pick a number of examples and just hear the first four bars of each.”
63
“... to play a wrong note is one mistake, but to go back, and so break the rhythm, is another.”
70
64
O currículo em anexo (2008) apresenta a disciplina de Transposição e Acompanhamento ao Piano
como sendo obrigatória para o Curso de Piano durante os quatro primeiros períodos do curso.
Porém, o currículo de 2011 exige que o aluno de piano curse esta disciplina apenas nos dois
primeiros períodos do curso, sendo os períodos III e IV optativos.
71
nas aulas teria que ser acessível porque, de outra maneira, ele ficaria paralisado ao
ter que ler uma peça do início ao fim. Os alunos 2 e 3 cursavam o VII e o III período
do bacharelado em piano, respectivamente, e de igual forma temiam o fato de ter
que ler qualquer obra à primeira vista na frente do professor ou de seus colegas.
Vale, então, salientar que o aspecto emocional do leitor é um fator preponderante
para uma boa execução à primeira vista. É preciso ter calma e não ser acometido
por qualquer tipo de ansiedade no momento da produção do movimento estimulado
por uma imagem mental, neste contexto, o do reconhecimento da notação musical.
(RUBINSTEIN, 1950, p. 9).
Dificilmente os alunos têm uma abordagem teórica ou prática sobre esse
tema durante seus estudos musicais ou acadêmicos. Embora a realização da leitura
à primeira vista provocasse nos alunos participantes certo “bloqueio”, eles admitiam
que o desenvolvimento dessa habilidade era importante e, por essa razão,
mostraram-se interessados por aperfeiçoá-la.
O aluno 3 tinha como objetivo trilhar uma carreira solo. Segundo ele, o
desenvolvimento da leitura à primeira vista possibilitaria o aumento do seu repertório
e uma maior participação em concursos de piano, uma vez que têm sido exigidas a
leitura (e a execução) de música de conjunto e de música contemporânea em um
curto prazo de tempo. Além disso, poderia capacitá-lo para a música de câmara,
atividade nunca antes exercida por ele.
O aluno 4 era aluno do Curso de regência da UFRJ e cursava piano como
matéria complementar. Julgava que “um músico completo é aquele que domina as
três áreas: a prática pianística, a regência e a composição.” Por essa razão, além de
se dedicar ao estudo da composição e da regência, reconhecia que era necessário
aprimorar sua capacidade de leitura ao piano para estar apto a ler um repertório
maior, além de poder acompanhar outros músicos ao piano.
Diferentemente dos outros alunos participantes desta experiência, o aluno 5
possuía um histórico musical que propiciara o desenvolvimento da sua leitura à
primeira vista ao piano. Cursava o último ano do Bacharelado em Piano e, de forma
empírica, desenvolveu estratégias de leitura ao piano. Gostava de ler à primeira
vista, especialmente as peças que apresentassem desafios. Era aluno do 3º período
da matéria “Transposição e Acompanhamento ao Piano”.
O aluno 6, assim como o aluno 4, não estava inscrito na matéria
“Transposição e Acompanhamento ao Piano”. Estudava Composição e, embora esta
74
Dos seis alunos, cinco informaram ter iniciado seus estudos musicais
tardiamente, comparados à maioria dos pianistas, uma vez que começaram aos 18,
20 e 23 anos de idade. Relataram, ainda, que não tiveram uma orientação
suficientemente adequada no início do seu aprendizado.
O aluno 1 começou seus estudos de piano de uma forma mais sistemática -
“mais séria”, usando suas palavras - aos 20 anos. Quando isso aconteceu, já teve
como exigência aprender o repertório que faria parte da prova do Vestibular para o
Curso de Piano na UFRJ. Isto quer dizer que o aluno não passou por um processo
gradativo de aprimoramento técnico. Ingressando no Curso de Graduação em Piano,
prosseguiu tocando sempre músicas com nível de leitura muito mais avançado do
que a sua bagagem musical e técnica permitiam. Esse aluno não passou por etapas
de repertório próprias ao estudo pianístico de níveis básico e intermediário.
Aprendeu, por exemplo, um estudo de Chopin antes de tocar Moskovsky ou
Clementi; Prelúdios e Fugas de Bach, antes de estudar Invenções a duas e três
vozes.
Assim como o aluno 1, o aluno 2 classificou a orientação musical do início de
seus estudos como deficiente ou insuficiente, acrescentando que iniciou tardiamente
os seus estudos de piano, pouco antes de ingressar na faculdade, com
aproximadamente 22 anos de idade.
O aluno 3 começou os estudos de piano aos 18 anos. Nessa época, já tocava
piano, sem saber ler nota alguma em uma partitura. Ele ouvia e reproduzia ao piano
qualquer obra sem usar o recurso da leitura, apenas usando seus recursos auditivos
e sua capacidade de memorização. Possui ouvido absoluto. Durante um ano foi
impedido pelo seu professor de tocar o repertório pianístico, apenas fazendo
“exercícios de técnica”, popularmente conhecidos como “mecanismo”. Esse fato
imediatamente nos remeteu ao que foi relatado por Leonhard Deutsch, que aos oito
anos de idade, era ávido por tocar peças que lhe agradassem e por ampliar seu
repertório, mas era tolhido por seu professor. Embora acreditasse em seu potencial,
75
este professor o confinava a estudar umas poucas obras, para que as aperfeiçoasse
até seu limite máximo:
Como um jovem estudante de piano, Deutsch não era estimulado a ler novas
obras e, consequentemente, a desenvolver seu próprio gosto musical e leitura ao
piano. Esse fato influiu na sua capacidade de leitura à primeira vista, impulsionando-
o mais tarde a escrever um livro dedicado ao assunto.
É possível que muitos professores tenham receio de que o fato de ler muitas
peças interfira no bom aprendizado do repertório regular do aluno. Entretanto,
Deutch (1950, p.10) contradiz essa forma de pensar ao defender que a leitura à
primeira vista não entra em conflito com o estudo do repertório. Ao contrário, um
bom leitor à primeira vista não apresentará dificuldades para aperfeiçoar uma peça -
será mais estimulado a fazê-lo.
O aluno 4 começou a estudar piano pouco antes de ingressar na faculdade,
aos 23 anos. Estava no terceiro ano do curso de composição e cursava piano como
matéria complementar. Sua memória era basicamente auditiva.
O aluno 5 começou a estudar piano na Igreja Batista aos dez anos de idade e
desde essa época tocava música de câmara e acompanhava os hinos cantados pela
congregação. O aluno relatou que desde cedo aprendeu a improvisar durante a
leitura, pois não executava somente as quatro vozes das partituras, mas sempre
65
“I was kept many weeks on a piece before I was allowed to glimpse a new one. Also, I had to go
through all my completed pieces regularly in order to build up a ‘repertoire’ and keep it intact. Very
likely I would have given up had I note day run across an album of classical piano pieces which a
visitor had left in our home. […] I succeeded with two easier pieces: Fantasy in D minor, by Mozart,
and Mazurka in G minor op. 67 no.2, by Chopin. […] During the next lesson I played these pieces
exultantly for my teacher. He did not share my elation! In fact he was somewhat nonplussed. He
sharply criticized my wretched performance and declared that these pieces were far beyond my
technical ability and that I must wait at least two years more for such music.”
76
“preenchia” os espaços de tempo das notas longas. Na Igreja, era sempre solicitado
para acompanhar peças de repertório sacro para coro, solistas e instrumentistas. No
curso de Graduação, já havia tocado com instrumentos de sopro, de cordas, e
acompanhado cantores em obras de diferentes estilos musicais. Sobre este aspecto,
conclui-se que a quantidade de repertório está relacionada à proficiência da leitura à
primeira vista, o que reforça as conclusões de Lehmann e Ericsson (1996). Nota-se,
porém, que o resultado inverso também ocorre, isto é, quanto maior a capacidade de
leitura, mais obras o pianista terá em seu repertório.
O aluno 6 estava inscrito na matéria órgão-B como estudante de composição
na UFRJ. Os conceitos aplicados aos alunos de piano podiam ser aplicados no
órgão, por serem comuns aos instrumentos de teclado.
66
“Para Hughes, o instrumentista pode optar entre três formas de memorizar uma obra musical:
através das memórias auditiva, visual e cinestésica. A memória auditiva é aquela pela qual
ouvimos mentalmente uma composição, antecipando eventos da partitura durante a execução. [...]
A memória visual, por sua vez, pode gravar a imagem da partitura impressa, com detalhes tais
como o número da página em que está um determinado trecho ou a sua localização exata na folha.
Além disso, este tipo de memória pode proporcionar a visualização de acordes no teclado ou da
posição das mãos e dos dedos ao tocar. A memória cinestésica [...] é a memória dos dedos e dos
músculos, ou seja, a memória tátil. No caso do instrumentista, relaciona-se com a automatização
dos movimentos necessários à execução.” (WILDT, CARVALHO, & GERLING, 2004, p. 4).
78
Antes de o aluno 1 ler pela primeira vez o Drill A, de Douglas Riva (figura 22),
foi orientado a fazer uma leitura prévia do exercício.
a)
b)
a)
b)
67
[…] “they are so beatifully crafted and graded. Many manuals designed especially for sight reading
are less than inspiring. In contrast, within these pieces we have ‘real’ piano music full of imaginative
contructions, using a variety of compositional methods that lead to the fingers being technically
independent.”
87
Na quinta aula, o aluno 2 teve como tarefa a leitura da peça Schön Rosmarin,
de Fritz Kreisler (figura 29), para violino e piano.
89
o
Figura 30: Prelúdio n 6, c. 1-6
Fonte: VILLANI-CÔRTES, 2000, p.21.
A peça “Liebesleid” (figura 31), de Fritz Kreisler, foi usada com o mesmo
objetivo, na quinta aula do aluno 1. Fixamos nossa atenção à leitura da primeira
parte apenas, visto que, a partir do compasso 17 o aluno apresentou dificuldades na
fluência da leitura ante as mudanças de padrões rítmicos.
91
o
Figura 32: Prelúdio n 5. c. 1-8.
Fonte: VILLANI-CÔRTES, 2000, p. 19-21.
o
Figura 33: Prelúdio n 5, c.1.
Fonte: VILLANI-CÔRTES, 2000, p.19-21.
reconhecer sua repetição. Dessa forma, o resultado será o de uma obra musical lida
como um jornal que não é “soletrado”, mas sim visto e compreendido por meio de
relances de palavras e frases (1972, p. 12).
Ao abordarem um repertório desconhecido, os alunos eram instruídos a olhar
para a partitura como se fosse um quadro. Em seguida deveriam narrar com as suas
palavras o que viam. Isto é, os alunos deveriam perceber o que lhes chamava a
atenção na partitura. Desta forma, focalizavam a sua atenção em determinadas
passagens que apresentassem algum tipo de dificuldade ou em motivos de caráter
melódico ou rítmico que se repetiam, negligenciando aspectos da partitura
aparentemente mais simples em termos de leitura. A visualização em graus de
prioridade de atenção, como em camadas, era outro recurso exemplificado.
Poderíamos fazer a comparação desses níveis de atenção com a lente de uma
câmera, que filtra ou foca algo em primeiro plano, enquanto o restante da imagem
fica em segundo plano, com uma imagem mais “embaçada”. Todo este processo era
feito em instantes, antes do aluno executar a música ao teclado. Era a chamada
“leitura prévia”, termo discutido por Ramos (2005) em seu trabalho.
Tomemos como exemplo o exercício n.25 (figura 35) lido na primeira aula dos
alunos 1 e 2.
nem da leitura individual de todas as notas dos acordes. Portanto, a atenção deveria
estar voltada para a mão direita, que formava uma linha melódica constituída por
intervalos, ora com graus conjuntos ora disjuntos. Além disto, a repetição dos
padrões rítmicos facilitava a observação de outros aspectos, que não o ritmo.
Com relação à leitura prévia ou mental da partitura, foi observado que o aluno
3 não percebia os elementos que deveria tornar importantes na leitura. Na peça Drill
A, em mi maior, de Douglas Riva (figura 36), o foco de atenção na leitura prévia da
primeira parte deveria estar nos movimentos da mão esquerda, visto que o desenho
da mão direita apresenta intervalos de terça consecutivos e padronizados. Usando
novamente a figura da câmera, podemos comparar o desenho desta mão com a
imagem “embaçada” e fora de foco, enquanto a mão esquerda teria o foco mais
nítido e preciso da lente. A mão esquerda deveria ser orientada pela questão
harmônica, uma vez que nos quatro primeiros compassos encontramos uma função
harmônica predominante para cada um deles: I – V – I – V. Em seguida, o leitor
deveria prestar atenção aos movimentos da mão direita, cuja linha melódica culmina
com acordes quebrados (arpejos) acompanhados por encadeamentos harmônicos
na mão esquerda nos dois últimos compassos.
97
O Drill C (figura 42) foi material de leitura à primeira vista para os alunos 1 e
3. Durante a execução desta peça, o aluno 3 perdia a fluência na leitura ao tentar
executar todas as indicações de articulação e de dinâmica contidas na partitura,
como staccatto e sinais como p, f e cresc.
Sentir o ritmo de uma obra a ser lida à primeira vista antes de executá-la é
condição fundamental para uma leitura de qualidade e diversas considerações sobre
este aspecto já foram citadas no presente trabalho.
A experiência de sentir o ritmo antes de tocar foi feita com todos os alunos. O
aluno 3 foi o aluno que sentiu maior dificuldade de realizá-la; embora não
apresentasse dificuldades em sentir internamente os movimentos das mãos e dos
dedos fora do teclado, não tinha a mesma facilidade com a compreensão rítmica. Na
leitura de um trecho de Papillons, de Robert Schumann (figura 45), o aluno
demonstrou muita dificuldade em reproduzir o ritmo da música, fosse cantando ou
falando metricamente, apresentando erros de ritmo durante a execução.
esquerda nos dez primeiros compassos, para simplesmente “encaixar” a mão direita
nas notas executadas pela mão esquerda.
O número de encontros com cada aluno foi variado, mas suficiente para traçar
seus perfis, identificar as suas necessidades e dificuldades, detectar as lacunas de
aprendizado e analisar os resultados. Além das observações já relatadas neste
capítulo, a experiência junto aos alunos de bacharelado da UFRJ convergiu para os
seguintes resultados gerais:
1) O processo de leitura ao piano está diretamente relacionado ao histórico da
formação musical dos alunos. Os alunos com alguma deficiência de leitura ao piano
foram unânimes em reconhecer que houve lacunas no seu estudo musical e que
algumas etapas de sua formação foram omitidas. Constatamos que os alunos que
não possuíam uma leitura satisfatória foram aqueles que não tiveram um processo
de aprendizagem que propiciasse o desenvolvimento dos aspectos musicais e
cognitivos apontados ao longo deste estudo. Apesar disso, os alunos se viam
108
O número diferenciado de aulas por aluno foi um fator que atuou sobre os
resultados obtidos. Destacamos as seguintes observações sobre o trabalho
individual com cada aluno na aplicação das estratégias básicas para a leitura à
primeira vista:
1) O aluno 1 demonstrou possuir senso rítmico suficiente para obter fluência
no texto musical, mas não possuía a noção espacial do teclado compatível com tal
fluência, tendo necessidade de alternar o olhar entre o teclado e a partitura por
diversas vezes.
109
decorá-los em seguida - nunca lia uma seção inteira da música, por exemplo.
Porém, naquele momento, era muito estimulador se sentir apto e desafiado a ler
uma página inteira de uma obra para piano.
Em compatibilidade com os resultados observados, o aluno 2 ressaltou cinco
aspectos resultantes do seu processo de aprendizado durante as aulas: a) a prática
de escalas e arpejos lhe proporcionou uma maior conscientização da espacialidade
do teclado, facilitando o deslocamento das mãos e gerando soluções para a escolha
do dedilhado; b) passou a visualizar a partitura como um gráfico e a observar as
distâncias entre os intervalos, ao invés de olhar nota por nota; c) tomou consciência
do “comportamento das mãos”, imaginando antecipadamente a sua posição no
teclado antes de tocar, evitando movimentos desnecessários perante o seu
deslocamento pelas teclas pretas e brancas, por exemplo; d) considerou informativo
e relevante o texto sobre as diferentes atuações do pianista; e) ressaltou a
importância e o resultado da leitura dos métodos para iniciantes sugeridos, como a
“Escola Preparatória de Piano op.101”, de Ferdinand Beyer. Além disso, o
aluno informou-nos que havia dado continuidade à prática da leitura à primeira vista
mesmo após aquele período de aulas. Declarou-nos também que tão importante
quanto os recursos apreendidos, foi a coragem adquirida para se sentar ao piano e
ler algo novo.
3) Um dos aspectos observados no comportamento do aluno 3 era a sua
dificuldade de manter a concentração. A sua leitura à primeira vista não era tão
“ruim” quanto ele declarara, porém a sua falta de concentração era acentuada em
situações de cobrança, como em sala de aula, na presença da professora. O aluno
demonstrava preocupação extrema com o seu desempenho, e por esta razão se
sentia desconfortável ao ter que ler algo à primeira vista publicamente, já que não
havia sido treinado para isso.
Este aluno podia tocar todas as escalas ao piano, porém parecia não ter a
consciência de sua estrutura, por ao executá-las automaticamente. Reconhecia que
houve lacunas no seu estudo musical e que muitas etapas do processo de
aprendizado haviam sido negligenciadas. Demonstrava muita dificuldade em
reproduzir em voz alta o ritmo da peça, fosse solfejando ou falando metricamente.
Devido à sua dificuldade de leitura rítmica, apresentava erros rítmicos na execução
da peça. Apesar de reconhecer as suas limitações de leitura, o aluno praticava o
repertório solo do semestre exaustivamente, sem reservar tempo de seu estudo para
111
a prática nas áreas nas quais tinham menos proficiência, como era o caso das
leituras à primeira vista.
4) O aluno 4 teve poucas oportunidades de aulas em relação aos outros
alunos. A despeito disto, foi relevante para o resultado a percepção do encaixe
visual das notas da partitura, pois no momento em que reconheceu que a escrita
podia auxiliá-lo neste sentido, apresentou maior fluência rítmica na leitura à primeira
vista.
5) Como observado anteriormente, o aluno 5 teve uma formação musical
diferenciada dos outros alunos. Desenvolveu a sua capacidade de leitura à primeira
vista ao piano quando era criança, devido ao contexto musical e às circunstâncias a
que era submetida. Apesar disto, a questão rítmica mereceu atenção durante as
aulas, pois o aluno ainda não possuía a consciência do papel condutor e
fundamental que o ritmo pode ter, inclusive quando o piano exerce a função de
acompanhador. No sexto encontro pudemos notar uma maior fluência de leitura,
pois o aluno passou a olhar a partitura em níveis, percebendo blocos e deixando de
ler nota por nota. O conhecimento prévio das estruturas facilitou o reconhecimento
visual, cinestésico e auditivo. Anteriormente, o aluno não era capaz de reconhecer
qualquer agrupamento e atribuir-lhe um significado coerente.
Este aluno tinha domínio das escalas, seus arpejos e dedilhados. Pôde-se
relacionar tal domínio à facilidade na escolha do dedilhado na leitura à primeira vista.
6) Devido ao pouco número de aulas, enfatizamos, com o aluno 6,
primordialmente o primeiro conceito: o domínio das escalas e arpejos. O aluno
considerava difícil a escolha do dedilhado a ser empregado em uma peça lida pela
primeira vez e relatou que nunca exercitara escalas ou arpejos em qualquer
tonalidade. Disse que tinha o hábito de ler nota a nota, embora sem necessidade.
Reconheceu que se enxergasse o conjunto das notas em uma escala ou
reconhecesse as distâncias intervalares poderia ler o conjunto ou desenho, sem
“soletrar” cada frase musical da partitura.
Se nos indagarmos sobre qual foi a lacuna no estudo e na formação deste
aluno que provocou uma deficiência no dedilhado, podemos presumir que foi a
ausência do repertório iniciante do estudo de piano, que trabalharia, por exemplo,
peças baseadas na posição dos cinco dedos, bem como o reconhecimento de
padrões na partitura.
112
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a leitura à primeira vista ao piano é uma habilidade que pode
ser treinada e adquirida. A formação e a vivência musical, portanto, podem propiciar
ao pianista o desenvolvimento das capacidades necessárias e inerentes a esta
leitura. Por outro lado, embora o processo de leitura esteja diretamente relacionado
ao histórico da formação musical do aluno, percebemos que o estudo e o ensino
sistemáticos da habilidade da leitura à primeira vista não têm sido abordados com a
mesma ênfase dada ao estudo do repertório solo de piano.
Propomos como estratégias básicas para o desenvolvimento da leitura à
primeira vista o domínio de escalas, arpejos e dedilhados, a ação motora e domínio
espacial do teclado desencadeados pelo estímulo visual, o reconhecimento de
padrões e unidades e a compreensão rítmica da obra. Porém, quanto maior a
fundamentação teórico-musical do pianista, maiores serão sua compreensão
analítica e possibilidades para aplicação dos recursos apresentados neste trabalho.
A capacidade de leitura à primeira vista ao piano vem a ser necessária em
diversos campos de atuação musical e profissional e, nesse caso, caberia às
instituições de ensino, bem como aos professores, criar subsídios nos cursos de
piano para a preparação de estudantes para diferentes áreas de atuação musical e
pianística.
Os dados coletados demonstraram que o aprimoramento da leitura à primeira
vista acontece por meio da prática de um repertório diversificado. Pesquisas
demonstram que o número de horas despendido em atividades de acompanhamento
ao piano, assim como o tamanho do repertório nesta área são indicadores de
proficiência na leitura à primeira vista. Entretanto, simplesmente tocar sempre o
mesmo tipo de repertório não significa melhorar a qualidade da performance. O
pianista pode tocar obras musicais à primeira vista ao longo do tempo, mas se estas
peças não apresentarem novos desafios de leitura, não serão a causa de maior
proficiência nesta habilidade. O pianista que desenvolve a sua capacidade de leitura
ao piano é aquele que enfrenta desafios e toca peças de nível cada vez mais
exigente.
A leitura à primeira vista não entra em conflito com o estudo do repertório;
pelo contrário, pode servir de estímulo para que o aluno aprenda um maior número
de obras, já que é uma habilidade que oferece acesso à literatura musical de
113
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APÊNDICES
124
MODELO ENVIADO:
Prezado pianista,
2) O que você considera uma boa Leitura à Primeira Vista ao piano, ou seja, o
que caracteriza uma boa leitura à Primeira Vista (ao piano)?
125
PIANISTA 1
PIANISTA 2
PIANISTA 3
PIANISTA 4
Oi Priscila,
Tenho o maior prazer em te responder. Na verdade nunca tinha parado para
pensar friamente no que ocorre em uma leitura à primeira vista... Algo que foi
fazendo parte do meu universo por causa de circunstâncias... Mas foi ótimo, parei
um pouco para pensar, e espero que possa contribuir com a sua pesquisa somente
pelo que percebi em minha prática. Aí vão meus pensamentos:
exemplo), se o pianista tem uma noção de harmonia vai saber adequá-los ao estilo
da música proposta.
Muito importante também é não perder a pulsação, principalmente se o
pianista estiver fazendo o papel de acompanhador.
130
PIANISTA 5
Não sei se posso te ajudar, vou responder sem pensar muito no assunto.
Talvez escreva algo que não tenha pensado muito bem.
Considero o talento como parte integrante, mas sem sentido se não estiver
integrado com as habilidades adquiridas.
132
PIANISTA 6
Olha, vou tentar responder a sua pergunta. Isso não é tarefa muito fácil pra
mim, acredite! Já fui sondado várias vezes para dar cursos de leitura à primeira
vista, mas não sei ao certo como eu poderia fazer isso. Na verdade, sempre
acreditei que o meu processo de leitura deve-se ao fato de que eu fui alfabetizado
primeiro para ler notas, e não palavras, pois comecei a estudar piano com três anos
e meio de idade e só ingressei na escola regular aos sete anos. Então, sempre tive
uma facilidade maior para ler partituras, ao contrário de livros. Por isso, acho difícil
encontrar ou falar sobre um método de leitura. De qualquer maneira, vou tentar
responder suas perguntas e peço desculpas se minhas respostas não forem muito
claras.
me chamou mais a atenção aqueles alunos que até "engoliam" uma nota ou outra ou
um ritmo ou outro, mas que, no primeiro momento em que colocavam uma partitura
para ler, preocupavam-se única e exclusivamente no "fazer musical". A
compreensão do caráter das obras, de suas frases, dinâmicas, respirações, etc.
pareciam ser mais importantes, naquele momento, do que apenas tocar todas as
notas. Daí, passei a ter a certeza de que, esses alunos eram, na verdade, aqueles
que tinham uma leitura à primeira vista melhor. Aqueles que haviam aprendido a ler
todas as notas e ritmos da forma mais correta possível, apesar de terem lido em
tempo recorde, demoravam muito para "musicalizar" corretamente o texto - coisa
que muitos deles sequer conseguiam, mesmo depois de muitos meses tocando a
mesma obra. Ao passo que aqueles que já liam com a compreensão musical correta
do texto, em muito pouco tempo, colocavam notas e ritmos no lugar - e as obras já
estavam "de pé". Assim, penso que, da mesma forma como acontecem com os
atores que têm em mãos um determinado texto para ser representado, faz-se
necessário o entendimento do “enredo”, do personagem, das situações, etc. para
que as palavras não sejam ditas de forma "oca" ou simplesmente faladas "de cor".
Não é melhor ator aquele que lê e decora mais rápido, mas sim, aquele que, numa
primeira leitura, já sabe exatamente o que fazer com aquele personagem do texto
que encontra-se em suas mãos. Não penso, honestamente, que com o texto musical
a coisa seja muito diferente disso.
134
PIANISTA 7
Acho interessante que você esteja pesquisando este assunto, pois creio que
não haja muita literatura em português a respeito, não é mesmo?
PIANISTA 8
PIANISTA 9
ANEXOS
140
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ANEXO A – GRADE CURRICULAR DA HABILITAÇÃO PIANO - UFRJ (2008)
68
Disponível em: <http://www.musica.ufrj.br/index.php?option=com_content&view=article&id=122%3A
piano&catid=36&Itemid=83. Acesso em: 05 set 2001.
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