RESUMO
Este artigo objetivou analisar a viabilidade econômica da irrigação na cultura do
maracujá, em frente à produção não-irrigada em regiões com índices pluviométricos
favoráveis à produção. Para isso, obteve-se o fluxo de caixa para o cultivo do maracujá
em dois sistemas alternativos de produção: não-irrigado e irrigado. Para cada sistema,
calcularam-se os indicadores econômicos Custo Médio de Produção, Valor Presente
Líquido, Taxa Interna de Retorno, Taxa Interna de Retorno Modificada e Benefício-
Custo. Para completar a análise foi realizada ainda a determinação de risco pelo método
de Monte Carlo. De acordo com os indicadores econômicos, mesmo em regiões úmidas,
a irrigação do maracujazeiro, além de ter maiores retornos econômicos, ainda reduz o
nível de risco da atividade, pois o benefício econômico gerado pela elevação na
produtividade é superior aos custos provenientes da irrigação.
Palavras-Chave: Maracujá, viabilidade econômica, Paulínia.
ABSTRACT
This article aims to analyze the economic viability of irrigated cultivation of passion
fruit in comparison with non-irrigated production in regions with favorable pluviometric
indexes for production. For this purpose, it had been obtained the cash flow for
cultivation of passion fruit in two alternative systems of production: non irrigated and
irrigated. For each system had been calculated the economic indexes as, Average Cost
Production, Net Present Value, Internal Return Rate, Modified Internal Return Rate and
Cost Benefit Rate. In order to complete the analysis, it was defined the risk by Monte
Carlo Method. According to economic indexes, even in humid regions, passion fruit
irrigation, besides the greater economic returns, still reduces the risk activity level,
because the economic benefit, generated by higher productivity, is far superior to costs
involved in irrigation.
Key-word: Passion fruit, economical viability, Paulínia.
1 INTRODUÇÃO
1
Doutorando em Economia Aplicada UFV, bolsista do CNPq – Brasil, aredess@yahoo.com.br;
2
Doutorando em Economia Aplicada UFV, bolsista do CNPq – Brasil, matheuswgp@yahoo.com.br;
3
Professora associada da UFV, mfmgomes@ufv.br;
4
Pesquisador da Embrapa Café, rufino@sede.embrapa.br.
produção desde a década de 90, em que o estado do Pará, que produzia mais de 50% da
produção brasileira, cedeu espaço para as demais regiões nacionais, especialmente aos
estados da Bahia e de São Paulo (GONÇALVES e SOUZA, 2006).
Das 479.813 toneladas nacionais produzidas em uma área colhida de 35.820
hectares, a região Nordeste é responsável por, aproximadamente, metade da produção; a
região Sudeste, por cerca de 31,49%; a Norte, por 10,65%; a Centro-Oeste, por 4,08%; e
a Sul, por 2,86% (AGRANUAL, 2008).
Embora a região Nordeste contribua para a maior parcela da produção nacional,
grande parte da produção tem sua origem nas demais regiões do país, em especial, na
região Sudeste, e grande parte é produzida em regiões de clima tropical úmido,
favorável à produção.
No entanto, nessas áreas que possuem temperatura, solos e condições hídricas
favoráveis ao cultivo da fruta, o emprego da irrigação no cultivo do maracujá é
duvidoso, pois nessas regiões as práticas de irrigação são feitas de forma suplementar e
pode-se discutir a sua viabilidade econômica, visto que elevações nos níveis de
produtividade podem não ser suficientes para cobrir todos os custos adicionais de
irrigação.
Para que o sistema de irrigação seja economicamente viável, é necessário que os
benefícios econômicos líquidos gerados pelo seu uso sejam positivos e superiores aos
provenientes da produção não-irrigada, ou seja, que o benefício monetário gerado pela
elevação da produtividade seja maior que a elevação no custo de produção ocasionada
pela implantação e operacionalização do sistema de irrigação.
Nesse sentido, justifica-se a análise da viabilidade econômica da utilização da
irrigação na cultura do maracujá, em frente à produção não-irrigada em uma região
úmida com condições hídricas favoráveis à produção agrícola. Espera-se que, com a
adoção das técnicas de irrigação ocorram elevação e estabilidade da produtividade da
cultura, aumentando os retornos econômicos e diminuindo os riscos da atividade.
A região de Paulínia, localizada no interior do estado de São Paulo, foi escolhida
para as análises por ter um índice pluviométrico favorável à produção agrícola e por
pertencer a uma região tradicionalmente produtora de hortigranjeiros.
5
Para mais detalhes, ver BUARQUE (1991); WOILER e MATHIAS (1996); ROSS (1998); REZENDE e
OLIVIERA (2001).
Probabilidade
Projeto A
Projeto B
Retorno
(K i K )2
i 1
K , (1)
n 1
CV k / K , (3)
n
VPL ( B C )t /(1 r )t , (5)
t 0
Taxa Interna de Retorno (TIR): é a taxa de desconto interna gerada pelo projeto que
torna o VPL = 0, considerando que os fluxos de caixa são reinvestidos pela própria TIR
do projeto. Em forma de equação:
n
VPL ( B C )t /(1 r*)t 0 , (6)
t 0
1
n n t
n (7)
Rt (1 ir )
TIRM t n0 1,
C /(1 i ) t
t 0
t c
n
Bt /(1 r ) t
B/C , (8)
t 0 C t /(1 r ) t
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 3: Resumo dos fluxos de caixa elaborados para o sistema produtivo não-irrigado
e irrigado, Paulínia-SP (valores em R$/ha).
Sistema não-irrigado
Descrição
Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3
Receitas 28.185,19 33.822,22 16.911,11
Preço 1,13 1,13 1,13
Produção 25.000,00 30.000,00 15.000,00
Custos -19.916,34 -14.707,18 -13.522,21
Terra -20.000,00 20.000,00
Lucro Líquido -20.000,00 8.268,84 19.115,04 23.388,90
Sistema irrigado
Descrição
Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3
Receitas 33.822,22 39.459,26 22.548,15
Preço 1,13 1,13 1,13
Produção 30.000,00 35.000,00 20.000,00
Custos -20.588,84 -18.087,36 -13.292,97
Terra -20.000,00 20.000,00
Lucro Líquido -20.000,00 13.233,38 21.371,90 29.255,18
Fonte: Dados de pesquisa.
Tabela 5: Indicadores de viabilidade econômica VPL e B/C, obtidos pelas taxas de juros
alternativas no sistema de produção do maracujá não-irrigado e irrigado, Paulínia-SP.
Sistema de produção
Taxa de juros Não-Irrigado Irrigado
VPL (R$) B/C VPL (R$) B/C
0% 30.426,65 1,16 42.754,00 1,33
5% 25.103,27 1,13 36.240,65 1,30
10% 20.601,09 1,10 30.729,97 1,26
15% 16.760,92 1,07 26.027,48 1,23
20% 13.459,97 1,04 21.983,18 1,20
Fonte: Dados da pesquisa.
Pelo método de Monte Carlo para obtenção dos coeficientes de sensibilidade das
variáveis que causam maiores impactos no indicador VPL, constata-se que a variável
que teve maior poder de influência sobre a rentabilidade do investimento na produção
do maracujá foi o preço, seguido pela produtividade e pelos custos da hora-máquina,
taxa de juros, hora-dia, terra e irrigação, respectivamente (Tabela 6).
A título de demonstração, a elevação de 1% no nível de preço provocou aumento
de 0,87% no VPL do sistema não-irrigado e de 0,86% no irrigado. Já a elevação de 1%
no nível de produtividade promoveu aumento de 0,41% no VPL do sistema não-irrigado
e de 0,44% no irrigado. As demais variáveis exerceram menores efeitos sobre o VPL, e
seus sinais negativos indicam que elevações nos níveis dessas variáveis provocaram a
queda no VPL. Assim, por exemplo, elevação de 1% no nível do custo da hora-máquina
promoveu a queda de 0,18% no sistema não-irrigado e de 0,16% no irrigado (Tabela 6).
100%
85%
70%
55%
40%
25%
10%
-5%
-20000,00 0,00 20000,00 40000,00 60000,00 80000,00 100000,00
Não-irrigado Irrigado
4 CONCLUSÕES
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
R$ 2,00
R$ 1,50
R$ 1,00
R$ 0,50
R$ 0,00
jun/02
jun/03
jun/04
jun/05
jun/06
fev/02
out/02
fev/03
out/03
fev/04
out/04
fev/05
out/05
fev/06
Figura 5 – Série de preços reais do quilo do maracujá referente ao período de fevereiro
de 2002 a junho de 2006, Ceasa de São Paulo
Fonte: AGRIANUAL (2007)