A carta aos Hebreus foi escrita visando especialmente os crentes judeus, donde
o seu nome. É importante sempre lembrar disso para compreender o seu conteúdo,
pois muitas coisas apenas concernem aos judeus. Na falta desta compreensão surgem
distorções e erros, mesmo até à heresia da teologia da substituição, que sustenta que a
igreja tomou o lugar dos judeus nas promessas feitas aos seus patriarcas... Hebreus não
deixa de ter ensinamentos proveitosos também para os crentes em geral pois, como os
demais livros da Bíblia, é divinamente inspirado e proveitoso para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça (2 Timóteo 3:16).
Os crentes judeus dentro de Israel sofriam perseguição severa por causa da sua
fé, e muitos eram tentados a voltar ao judaísmo, pensando que podiam abrir mão da
sua salvação provisoriamente até que a situação se abrandasse, para depois aceitar o
senhorio de Cristo novamente e com isto apagar o pecado de apostasia. Hebreus
esclarece que não existia essa opção. Para os judeus “salvar” ou “salvação” pode ter por
objeto a morte espiritual, mas também a morte física, e só assim se compreendem
alguns trechos do livro.
O versículo 6:6 é crucial e uma interpretação errada tem sido usada por alguns
como base para a doutrina da perda da salvação. O que o autor está dizendo é que, aos
crentes que possuem esses cinco privilégios espirituais evidenciando que são
verdadeiros crentes, é impossível cair e, portanto, de ser renovados para
arrependimento. A razão da impossibilidade é que, para perderem a sua salvação e a
receber novamente seria necessário que o Filho de Deus fosse crucificado de novo. Pela
sua ação, os que caiam manifestavam sua rejeição de Jesus como Cristo, colocando-se
junto aos outros judeus incrédulos da sua geração. O verdadeiro crente não tem a opção
de voltar atrás e terá que prosseguir. Se for negligente, será disciplinado nesta vida ou
dará contas do seu proceder no tribunal de Cristo. Não perderá a sua salvação.
4. Contra o pecado voluntário (10:19-31):- “Se voluntariamente
continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da
verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”, portanto devem ser seguidas as
exortações dos versículos 22 a 25. O castigo pelo pecado voluntário é a expectativa
terrível de juízo. Trata-se de uma condição de continuidade, não de um pecado isolado.
No caso daqueles judeus, seria voltar ao judaísmo e continuar nele intencional e
permanentemente. No Velho Testamento não havia sacrifícios possíveis para alguns
pecados, como adultério, assassínio e blasfêmia, mas o culpados tinham que sofrer a
pena de morte. Novamente, não se tratava de morte espiritual. Os crentes judeus
daquele tempo que voltassem ao judaísmo, cometendo apostasia, teriam como castigo
morte física (v. 28-29), morte na destruição de Jerusalém em 70 d.C. (v. 25 e 27) e
perda das recompensas no tribunal de Cristo (v. 35-36).
Enfim, repetimos, essas advertências têm em vista evitar sérios castigos neste
mundo e prejuízo no porvir. Embora dirigidas aos cristãos judeus no início do
cristianismo, têm aplicações para o crente no presente. Não se cogita na perda da sua
salvação e da sua vida eterna, que são garantidos pelo nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo em Sua Palavra para todo aquele que ouve a Sua Palavra e crê em Deus (João
5:24). A vida eterna não é passível de morte.
R David Jones
Fonte: < http://www.bible-facts.info/artigos/ascincoadvhebreus.htm>