Turismo Sustentável
Aula 04
Engajamento de stakeholders
Objetivos Específicos
• Compreender como trabalhar com stakeholders-chave no planejamento para
atingir os objetivos e os resultados do projeto.
Temas
Introdução
1 Engajamento de stakeholders
Considerações finais
Referências
Professor Autor
Eileen Gutierrez
Desenvolvimento de Projetos e Negócios em Turismo Sustentável
Introdução
Os projetos voltados ao turismo sustentável geralmente são criados para tratar ou mitigar
um conjunto específico de fatos que estão colocando um determinado destino turístico em
risco, visando melhorar os impactos ambientais, sociais, culturais ou econômicos do turismo
ou ajudar a reduzir os desafios enfrentados pela atividade turística em determinado local.
O desenvolvimento de um projeto focado em um destino turístico específico é um esforço
complexo, porque os destinos englobam uma multiplicidade de atores sociais, cada um
com seu próprio conjunto de prioridades e necessidades. Tais agentes incluem os governos
federal, estadual e municipal, o setor privado, as associações representativas e de classes, as
organizações não governamentais e os habitantes locais e das comunidades adjacentes.
Neste texto, você vai aprender a: identificar, compreender e desenvolver parcerias com
esses possíveis aliados; gerar o diálogo multilateral; e obter consenso sobre quais devem ser
os principais componentes do projeto. Assim, ao obter o apoio e a adesão necessários desses
possíveis parceiros, os caminhos estão abertos para a implementação de um projeto bem-
sucedido.
1 Engajamento de stakeholders
Engajar parceiros desde o início na avaliação e no planejamento de um projeto de turismo
sustentável é essencial para chegar ao sucesso em curto, médio e longo prazos.
equipe tenha uma maior compreensão sobre a melhor maneira de desenvolver e coordenar
o projeto de turismo sustentável. Facilitará o processo de criação das bases sobre o que deve
ser priorizado, as necessidades e as preocupações mais urgentes, e mostrará quais são os
processos mais desafiadores na relação com cada um desses parceiros. Além disso, cumprirá
o papel de reunir o apoio, a colaboração e a cooperação dos múltiplos agentes que serão
necessários para implementar as atividades do projeto, de acordo com uma visão que esteja
alinhada com as necessidades dos demais atores sociais do destino turístico.
• Obter consenso dos parceiros sobre as principais prioridades que o projeto deve
abordar.
• Decidir quais serão as avaliações e quais delas devem ser realizadas por completo ou
parcialmente e quais devem ser descartadas.
O STI utiliza uma abordagem de baixo para cima altamente participativa em seus projetos
de desenvolvimento sustentável de destinos turísticos. O método do STI consiste em auxiliar os
parceiros locais a identificar questões prioritárias e chegar a um consenso sobre elas, bem como
definir o seu próprio roteiro de sustentabilidade e decidir ações para a sua implementação.
Esse processo resulta em soluções criativas de problemas e compartilha a responsabilidade
de assuntos do projeto com os parceiros dos destinos turísticos, assegurando sua viabilidade
a longo prazo. Além disso, ajuda a estabelecer um cronograma claramente delimitado para o
projeto.
Por exemplo: em um projeto recente, o STI trabalhou com parceiros em Lanzarote, nas
Ilhas Canárias, Espanha, para desenvolver um programa que mudasse o posicionamento de
mercado desse destino de uma breve escapada de fim de semana de sol, areia e mar para uma
oferta mais competitiva. Juntos, os parceiros concordaram que a Carta de Turismo Sustentável
de Lanzarote é o que realmente a diferencia dos concorrentes. O resultado foi a criação de um
cativante Efeito Lanzarote e de uma estratégia nacional de reposicionamento de marca, que
nunca teria acontecido se o processo tivesse sido sugerido e aplicado de cima para baixo. Para
mais informações, acesse a Midiateca.
Segundo Gutierrez et al. (2005), a equipe do projeto deve empenhar-se para garantir
que haja representação e engajamento adequados com parceiros de uma ampla variedade
de organizações e grupos, como:
• público geral;
Os principais interessados serão aqueles que ou vão ser diretamente afetados pelo
projeto proposto ou aqueles cuja adesão e apoio são necessários para a implementação das
atividades do projeto.
Uma abordagem comum para agilizar a participação dos parceiros de vários grupos é
criar um comitê de direção do projeto. Esse grupo geralmente consiste de até dez pessoas,
cada uma representando um grupo de interessados diferente e importante. O comitê irá atuar
como intermediário e mediador, e será o primeiro ponto de contato da equipe do projeto na
solicitação de feedbacks, por exemplo.
A equipe do projeto deve manter estreita comunicação com o comitê de direção durante
todo o processo de planejamento e implementação. Os membros do comitê devem ser
selecionados com base em sua capacidade de representar um grupo específico de parceiros,
no conhecimento da atividade e experiência, na disponibilidade e capacidade de fornecer
informações e no apoio durante toda a duração do projeto.
As reuniões e as oficinas são uma ferramenta comum usada para engajar os parceiros
no desenvolvimento de um projeto de turismo sustentável. Reuniões ou oficinas podem ser
abertas a um número grande ou limitado de pessoas e podem durar desde algumas horas até
vários dias, dependendo do público participante e do objetivo.
Uma audiência grande, aberta e de meia jornada pode ser boa para lançar um projeto
potencial, aumentar a conscientização coletiva e reunir informações variadas para o início da
elaboração da visão, da missão, dos objetivos, dos resultados esperados e das atividades que
devem ser priorizadas dentro do projeto.
As oficinas menores ou de duração de até dois dias são realizadas com grupos seletos
de parceiros-chave que estejam engajados diretamente no projeto para permitir discussões
mais detalhadas, possibilitando obter um bom feedback do que seria possível abordar em
reuniões públicas grandes. Segundo Gutierrez:
Os dois tamanhos de reuniões e oficinas têm suas próprias forças e fraquezas. Antes
de decidir qual abordagem realizar, a equipe do projeto precisará avaliar o tamanho
da área do projeto, entender a localização geográfica do público-alvo (disperso ou
centralizado), definir o cronograma do engajamento e concordar com um orçamento
para qualquer financiamento e mão de obra disponíveis (GUTIERREZ, 2005, p. 20).
Com o local e a hora da reunião marcados, a equipe do projeto deve pensar na pauta
e preparar suas apresentações. É importante que contatos locais estejam envolvidos para
ajudar a dar uma perspectiva e uma visão local para a pauta.
Segundo Gutierrez et al. (2005), a pauta deve incluir, no mínimo, os seguintes itens:
• apresentação do projeto;
• próximos passos;
Para Disterheft et al. (2015), podemos destacar cinco considerações-chave para gerar
diálogos produtivos, que são:
Estratégias para gerar diálogo costumam usar uma combinação de diálogos estruturados
e não estruturados para permitir que membros da comunidade expressem suas opiniões
sobre as oportunidades e as preocupações. Isso permite chegar a conclusões tanto individuais
quanto coletivas.
não estruturado, garantindo que as discussões não percam o foco principal, bem como
gerenciando o tempo de maneira compatível com as necessidades do encontro. O facilitador
deve trabalhar no sentido de democratizar a discussão ouvindo todos os pontos de vista e
impedindo que um indivíduo ou grupo domine a discussão.
mudanças que ocorrerão dentro de cinco a dez anos do início do projeto. Esta é uma parte
essencial da concepção de um projeto sustentável. Em geral, as consequências trazem consigo
valores ou números, a fim de mostrar resultados mais claros e compreensíveis para todos.
Esses valores e números são chamados indicadores. Com projetos sustentáveis, que têm por
característica a geração de resultados muito além da rentabilidade financeira, estabelecer
metas tangíveis para os aspectos ligados às sustentabilidades sociais, culturais, históricas e
ambientais também deve ser pensado. Por exemplo: em termos percentuais, qual será o
acréscimo que geraremos na renda per capita da comunidade em “x” anos? Qual o valor
percentual de diminuição dos índices de analfabetismo que podemos atingir com o projeto
em “x” anos?
• Exercícios de visualização
• Mapeamento da comunidade
• World Café
• Unconferences
Desenvolvida por Weisbord e Janoff, a future search é uma técnica geralmente utilizada
em oficinas de desenvolvimento que envolvem um grande número de parceiros (WEISBORD;
JANOFF, 2010). O objetivo principal da abordagem é reunir representantes do maior número
de grupos possível para:
Os exercícios de visualização têm sido usados como base para muitas abordagens
de planejamento participativo, incluindo a future search. O objetivo de um exercício de
visualização é engajar os participantes em discussões abertas sobre o que aconteceu no
passado, qual é a situação atual e o que visualizam do futuro. O exercício de visualização é
uma técnica amplamente popular, porque é bastante direta e pode ser adaptada para ajustar-
se a quase qualquer contexto.
A análise SWOT, também conhecida como FOFA, é usada com frequência em combinação
com outras abordagens, como os exercícios de visualização. A análise SWOT proporciona uma
estrutura para a discussão do conhecimento e para a opinião dos parceiros sobre Forças,
Oportunidades, Fraquezas e Ameaças (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) do
destino turístico. Esta é uma abordagem forte e voltada para oficinas menores com número
limitado de participantes que sejam altamente engajados.
1.3.6 Unconference
As comunidades anfitriãs serão uma parte crucial desse processo, já que muitas vezes
são as administradoras atuais dos recursos locais, defendendo e protegendo os ecossistemas
e as paisagens importantes do desenvolvimento em excesso ou da degradação. Pode ser
difícil para os residentes permanecerem imparciais ou terem uma opinião formada sobre
determinada atração turística, se ela está ou não pronta para o turismo ou sobre as lacunas
de infraestrutura de serviços em uma área. Por isso, não se deve esquecer de examinar as
respostas com “olhos de lince” (GUTIERREZ et al., 2005).
Ainda segundo Humke (2011), o grupo identificou ameaças diretas, tais como caça
ilegal e desmatamento, e indiretas, como falta de conscientização sobre conservação
entre moradores, alternativas econômicas e monitoramento do parque. O grupo,
então, analisou as relações de causa e efeito entre várias ameaças diretas e indiretas
até decidir que educação ambiental, criação sustentável de empregos, pesquisa e
monitoramento de trilhas seriam as principais estratégias de mitigação do projeto. Para
mais informações, acesse a Midiateca.
Considerações finais
O engajamento dos parceiros é um aspecto crucial de qualquer projeto de desenvolvimento
de turismo sustentável.
Existem muitos tipos diferentes de abordagens que podem ser utilizados para envolver
os parceiros, gerar diálogo e chegar a um consenso geral sobre visão, objetivos e atividades do
projeto. Alguns métodos participativos popularmente usados no desenvolvimento de projetos
voltados ao turismo sustentável incluem: oficinas de future search, exercícios de visualização,
análise SWOT participativa, mapeamento da comunidade, World Café™ e unconferences.
O engajamento efetivo dos parceiros também pode abranger uma série de avaliações
voltadas ao turismo, como turismo sustentável, ambiental, social, cultural e avaliações
econômicas. Tais avaliações também ajudarão a informar aos stakeholders os processos e as
etapas de planejamento do projeto e preencher lacunas de conhecimento.
Referências
BROWN, Juanita; ISAACS, David. The world café: shaping futures through conversations that
matter. San Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers, 2005.
CREST. The case for responsible travel: trends and statistics. Disponível em: <http://www.
responsibletravel.org/resources/documents/2015%20Trends%20&%20Statistics_Final.pdf>.
Acesso em: 26 out. 2015.
DISTERHEFT, Antje et al. Sustainable universities: a study of critical success factors for
participatory approaches. Journal of Cleaner Production, v. 106, p. 11-21, nov. 2015.
FORD, Brian R.; BORNSTEIN, Jay M.; PRUITT, Patrick T. The Ernst & Young business plan guide.
3. ed. New Jersey: Wiley, 2007.
GSTC. Criteria for hotels and tour operators. Disponível em: <https://www.gstcouncil.org/
en/docs/category/40-criteria-for-hotels-and-tour-operators.html>. Acesso em: 29 out. 2015.
GUTIERREZ, Eilleen et al. Linking communities, tourism & conservation: a tourism assessment
process. Washington, DC: Conservation International; George Washington University, 2005.
SUSTAINABLE TRAVEL INTERNATIONAL. Eagle point actively green report. Seattle: Sustainable
Travel International, 2012.
WEISBORD, Marvin; JANOFF, Sandra. Future search: getting the whole system in the room for
vision, commitment and action. San Francisco: Berrett-Koehler, 2010.