DA 6 de dezembro
OBRA
DE ARTE
DE
2013
CARYBÉ
LEITURA ICONOGRÁFICA E
CANDOMBLÉ
ICONOLÓGICA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS MÓVEIS E
INTEGRADOS
Acadêmica
2013
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Apresentação
Ano: 1983
Cidade: Salvador
Suporte: tela
Movimento: Moderno
Local: Ateliê Carybé 1911-2011, Galeria Solar Ferrão / Centro Cultural Solar Ferrão,
Salvador.
País: Brasil
Fatual:
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A obra retrata um ritual dentro do Candomblé, uma roda de dança conhecida por
Xirê, composta de 10 elementos distribuídos de acordo com a Hierarquia Sacerdotal ,
toques pré-estabelecidos, onde são cantadas rezas (Yorubá e Português) as quais
variam de Nação para Nação.Ao dançar, cada Orixá desenvolve sua coreografia, onde
a crença é um processo praticado em sua materialidade e imaterialidade. O significado
do Xirê é trazer o orixá para o convívio da vida cotidiana ou para a festa para que,
juntos, homens e divindades possam fazer uma troca harmoniosa de energia e axé.
Expressional
É possível captar em um ritual de Candomblé a sintonia entre os filhos da casa.
Esta sintonia é revestida de humildade e carinho com a família espiritual escolhida,
pois os laços estabelecidos entre o filho-de-santo e a casa de Candomblé são
espontâneos, não estão afetos apenas à filiação religiosa, mas ao campo das
obrigações recíprocas, ao terreno profundo das emoções e dos sentimentos. Os traços
faciais revestidos de pureza, a coreografia que traz movimento ao corpo ao
reverenciar os Orixás, a beleza do vestuário e adornos, a melodia e palavras que
adentram aos ouvidos, a energia que aflora em cada membro ao cumprir os deveres
que lhe compete para o êxito da missão, autentica a fé.
Ponto
Quanto ao número de pontos que uma superfície contém, pode-se considerar que
nesta tela, os pontos são dispersos.
Linhas
Traçado (cheia); espessura (fina), posição (vertical – simboliza equilíbrio,
espiritualidade e elevação, levemente inclinada – (sugere instabilidade e movimento),
direção (paralela).
Forma
Geométrica, simples, possível de identificar seus elementos, recordar ou até mesmo
reproduzir na imaginação.
Luz
A projeção da luminosidade vem da lateral esquerda, de forma natural ou artificial.
Textura
A textura ótica é o elemento visual que serve de substituto para as qualidades de outro
sentido, o tato. É possível observar textura no padrão representativo da vegetação ao
fundo, nas vestimentas, nos adereços dos Orixás (colares, correntes, pulseiras), nas
guias, nos entalhes das ferramentas, no solo com a areia, nas folhas cobrindo o chão,
na pele das Iabás.
Proporções
É a relação do tamanho de uma parte do motivo à outra parte. Objetos ao fundo,
sempre parecerão menores em relação aos que estão no segundo plano e primeiro
plano.
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Zona de tensão
A obra dividida em zonas de tensão: densa (parte inferior para o meio, com cores
quentes) e tensão fraca (do meio para a parte superior, com cores frias e neutras)
Equilíbrio
É resultante do equilíbrio gráfico, quando todos os elementos (cores, tamanho das
imagens) que a compõe estão organizados de tal forma que nada é enfatizado, dá ao
observador uma sensação de equilíbrio visual.
Movimento
Ao percorrer a imagem com os olhos durante a observação seguindo suas direções
observamos o movimento, criado pela ilusão ótica e isto se deve disposição e
combinação.
Cor
A tela contém as cores, primárias, secundárias, terceiras e neutras com seus
significados específicos:
Cores Terciárias
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Púrpura transmite poder, riqueza. Simboliza a clareza de pensamento.
Cores Neutras
Dimensão
Primeiro plano: Analisando de baixo para cima, é aquele plano que parece estar mais
próximo do observador (extremidade inferior da tela), o solo. Deve ser mais nítido e
detalhado. Nessa fase podemos trabalhar todos os detalhes e usarmos cores mais
quentes. Na extremidade inferior o artista usou cor neutra para representar à areia da
clareira e folhagens soltas pelo chão. A seguir usou cores quentes.
Plano intermediário: Situa-se à meia distância, mais ou menos no meio da tela. Nessa
fase os detalhes irão desaparecendo aos poucos e as cores vão se tornando mais
frias e com mais misturas.
Plano de fundo: É o último plano (extremidade superior da tela). Deve ser trabalhado
com cores neutras para proporcionar a noção de profundidade, o efeito atmosférico.
Elementos Ritualísticos
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O adê (coroa, representando sua condição de antepassados divinizados). Os adês dos
orixás femininos diferenciam-se pelo filá que é um conjunto de fios de contas ou
canutilhos dispostos paralelamente ou entrelaçados que escondem a parte superior do
rosto (em geral olhos e nariz), podem ser feitos de metal (folha de flandres, cobre,
latão, essas peças metálicas podem apresentar uma riqueza muito grande de detalhes
resultados da técnica de puncionar sua superfície). Em geral trabalhados a partir de
uma folha fina, ou de algum tipo de papelão ou entretela bordada com panos, búzios e
outros materiais (contas, canutilhos, lantejoulas etc. segundo as características de
cada divindade). As divindades femininas em geral se apresentam com muitos
braceletes e pulseiras compondo sua vestimenta ritual.
Muitos adês masculinos por força da influência estrangeira assumiram a forma das
coroas européias, como no caso da coroa de metal de Xangô, um dos principais reis
da tradição ioruba e o capacete simbolizando os guerreiros. Em alguns casos usam
máscaras africanas. Usam como adereços braceletes e pulseiras em metal trabalhado
em forma de “copo”, lembram as armaduras típicas dos cavaleiros romanos ou
medievais.
Oxum – Responsável pela união e o amor nas famílias, protetora das crianças, bem
como a riqueza, sincretismo Nossa Senhora da Conceição
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Ferramentas – mão direita leque (abanar malefícios), mão esquerda espelho (reflexo
da verdade), feitos na cor prata.
Guias – conchinhas do mar e contas nas cores: branca, azul ou verde
Adereços – na cor prata impulsas e coroa (adê)
Elementos: águas do mar.
Iansã – divindade dos ventos e tempestades e raios, responsável por cuidar das
Almas. Sincretismo Santa Bárbara
África
As Nações e o Candomblé
Entre os séculos XVI e XIX chegaram ao Brasil entre 4 e 5 milhões de africanos
escravizados de várias Nações. Em sua viagem para o desconhecido o negro perdeu
sua identidade, pois aqui foi escravizado, restando apenas a liberdade de sentir,
pensar e professar sua Fé. A cultura negra vem atuando como uma fonte permanente
de resistência e como mantenedora de equilíbrio emocional do negro no Brasil. Das
diversas etnias trazidas à força para o Brasil como escravos, sobressaíram-se dois
grupos, maioria os Bantu (provenientes do Guiné, Congo, Angola, Moçambique, etc.)
e os Sudaneses ( Ketu, Nagô, Ijexá, etc), entre meados do século XVII até meados do
século XIX, concentrando-se nas regiões da Bahia e Pernambuco.
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Os negros que formavam a Nação de Ketu (nome de um antigo reino da África)
formam a maior e a mais popular Nação do Candomblé, religião Afro-Brasileira,
descendente dos cultos religiosos da região Sudanesas, da cultura Yorubá. Quando
aqui chegaram formaram duas irmandades, a de Nossa Senhora da Boa Morte para
mulheres e de Nosso Senhor do Martírio para homens, assentando o Candomblé. Este
Candomblé busca conservar suas raízes cultuando seus Orixás de acordo com as
origens africanas.
É a religião que tem por base a anima (alma) da Natureza, monoteísta, um único
Deus, embora, em cada Nação tenham nomes diferentes, bem como cultuam as
divindades que representam as forças da Natureza, também, com nomes e rituais
diferentes.
Brasil
Oralidade
Música
As músicas são toques tirados em atabaques, conhecidos por Rum (grande), Rumpi
(médio) e Lê (pequeno), instrumentos que chegaram ao Brasil através dos escravos,
tocados com as mãos ou varetas, dependendo do ritual e a macumba, instrumento de
percussão (reco-reco). São instrumentos sagrados que passam por rituais anualmente
e usados apenas nos rituais. Ao som dos instrumentos são cantadas as rezas (adurás)
para as danças.
Dança
As danças africanas, como em geral as danças populares em muitos lugares do
mundo desenvolvem um movimento circular, anti-horário e, nas coreografias, se
destaca a forma curvilínea. É uma textura de varias camadas de sentidos, a
dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir-las: o olhar, o ouvir, o
sentir, o vibrar, que seriam o lado visível dos movimentos, expressos em outra
dimensão, a espiritual. A característica marcante na dança africana é a polirritmia. O
movimento e o ritmo não podem ser separados. O ritmo tem um padrão fixo, na
polirritmia tem a junção de vários ritmos. Cada parte do corpo movimenta-se seguindo
um ritmo e uma forma diferente de movimento. Por isso o corpo pode ser comparado a
uma orquestra, que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia.
Na coreografia o Orixá representa suas passagens de aventuras mitológicas sobre a
terra.
Povo de Santo
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Os seguidores do Candomblé são chamados de Povo de Santo, ou seja, povo que
cultua os Orixás e formam a família de santo e cada um tem seus deveres para com a
casa e seu sacerdote. Uma família onde existem irmãos, tios, avós como a família
material que todos temos.
Ritual do Xirê
Adentra ao primeiro círculo, o Orixá Ogum com seu toque respectivo, o Adarrum (ritmo
rápido, forte e contínuo marcado junto com o Agôgô). Sua postura corporal é ereta
como um rei, a cabeça é posicionada para o alto e suas feições faciais denotam
virilidade. Movimenta os ombros com dinamismo e os braços com impulsos rápidos.
Mantém suas pernas retas e os quadris com movimento cadenciado. Movimenta os
pés de forma rápida, com trajetórias contínuas e o corpo de forma circular. Ao dançar
simboliza o movimento de abrir caminhos, pois sua tarefa é árdua, vencer demandas e
destruir forças inimigas.
Adentra ao primeiro círculo, a Orixá Oxum com seu toque respectivo Ijesa (ritmo
cadenciado tocado só com as mãos). Sua postura corporal é em círculos, cabeça para
frente mostrando a face, suas feições são suaves, denotam a calma e alegria. Os
ombros têm um movimento contínuo e rotatório, os braços caídos ao longo do corpo,
os joelhos são levemente flexionados e os quadris movem-se de forma suave, os pés
deslizam com fluidez. Ao dançar simboliza graça, mas deixando fluir sua determinação
Adentra ao primeiro círculo a Orixá Iemanjá com seu respectivo toque, Adahum (ritmo
calmo). Sua postura corporal é em círculos, cabeça para frente mostrando a face, suas
feições são suaves, muitas vezes choram para simbolizar suas águas, Seus ombros
tem um movimento contínuo e rotatório, os braços são posicionados na forma de
acolher e conduzir, os joelhos são levemente flexionados e os quadris movem-se de
forma suave, os passos são feitos lateralmente. Ao dançar simboliza o movimento
rítmico das ondas, transmite as riquezas e encantos do mar.
Adentra ao primeiro círculo a Orixá Iansã com seu respectivo toque, Aguerê (ritmo
rápido). Sua postura corporal é ereta, cabeça posicionada para os lados
alternadamente, suas feições são de uma musculatura tensa. Os ombros têm um
movimento contínuo, braços são posicionados para frente, os joelhos são flexionados
e os quadris movimentam-se para trás com a projeção do busto para frente, os passos
são em direção frontal com pequenos recuos laterais. Às vezes, abre os braços e
ergue a cabeça para trás e roda sobre si mesma, desenhando uma espiral com o
próprio corpo. Ao dançar em zigue-zague com impulsos rápidos descreve a
eletricidade e simboliza o movimento do vento como um furacão ou tempestade em
direção aos quadrantes. De forma súbita o movimento se torna fluido e suave e
expressa leveza do ar quando carrega as Almas para o Orum. Quando cessa sua
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dança e se dobra ao chão é sinal que sua curiosidade está aguçada com algo novo e
a grande guerreira prepara-se para lutar. Iansã ao dançar expressa a sensualidade do
ar em movimento.
Salvador/Carybé/Candomblé
Carybé, cujo apelido advém de “mingau ralo”, filho de Oxossi e um obá do Axé
Opô Afonjá, casa de Mãe Stella de Oxossi, veio a falecer durante um ritual. Foi
enterrado no cemitério Jardim da Saudade em Salvador e deixou como legado uma
extraordinária contribuição para a preservação das tradições e memória de um povo, o
resgate da cultura, seus saberes, fazeres, ofícios e crenças, bem como, da cultura
Africana.
Bibliografia
Livros
Filho, Fernandes Portugal – Uso Litúrgico das Folhas no Candomblé – Editora Tecnoprint S.A.,
1987
Filho, Fernandes Portugal - Língua Yorùbá – Editora Madras 2002
História e Cultura Afro-brasileira – ISBN:978-85-63701-34-3 – SBJ 2011
Peres, Vera Regina – Candomblé sem Mistérios – Direitos Autorais 2010
Prandi, Reginaldo – Herdeiras do Axé - Editora Hucitec, USP, 1996
Santos, Edmar Ferreira - O Poder dos Candomblés ( Perseguição e Resistência no Recôncavo
da Bahia)
Verger, Pierre Fatumbi – Orixás
Sites
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http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n29_30_p389.pdf
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https://www.google.com.br/search?q=Linhas+verticais&espv=210&es_sm=122&source=lnms&t
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http://pt.scribd.com/doc/31284774/Esquema-de-Leitura-de-Obra-de-Arte
IPHAN
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=15932&sigla=Noticia&retorno=d
etalheNoticia
Museus
http://www.dgabc.com.br/Noticia/249200/museu-afro-brasil-celebra-centenario-de-carybe
http://bahiamam.org/
http://nacidade.com.br/local/pr/curitiba/local/museu-oscar-niemeyer-218081
http://www.saatchigallery.com/museums/museum-profile.php/Museu+Afro-
brasileiro+Bahia/3712.html
Vídeos
http://youtu.be/Ho4MLoZCKVA
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http://youtu.be/yTD-5Y85HFU
Jornais e Revistas
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq021025.htm
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.128/3687/pt
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http://jornalggn.com.br/video/carybe-entre-deuses-e-sonhos
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