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No Filme "Zelig" Woody Allen faz uma Fábula

sobre a Psicologia de Massas do Século XX


quinta-feira, novembro 24, 2011 Wilson Roberto Vieira Ferreira 1 comment

Woody Allen conseguiu transformar o seu filme “Zelig” (1983) em uma narrativa que
se mantém sempre atual: por meio do humor sardônico do gênero pseudo-
documentário conseguiu didaticamente apresentar as origens da cultura narcísica
das celebridades contemporâneas e, através da personagem da doutora Eudora
Fletcher (Mia Farrow) descrever as principais teses do século XX sobre a Psicologia
de Massas.

“Zelig” talvez seja o primeiro filme do gênero "mockmentary" ou pseudo-


documentário. Satírico por natureza, nesse gênero o diretor tem a liberdade de
construir argumentos baseando-se em falsas premissas para, dessa forma, criar um
fato hipotético. O semiólogo italiano Umberto Eco chamaria isso de “verdade
parabólica”: criar uma relação indireta com o real por meio de simbolismos,
paródias, paráfrases etc. É um gênero que ganha cada vez mais força como o
controverso “Borat” (2006), “Cloverfield: Monstro” (Cloverfield, 2008) e “A Bruxa de
Blair” (The Blair Witch Project, 1999).

Mas o filme “Zelig” estava à frente do seu tempo. O pseudo-documentário é


ambientado na década de 1920 e 30 e fala sobre Leonard Zelig (Woody Allen), um
homem pacato e desinteressante que passaria anônimo na história, não fosse a
estranha capacidade de transformar sua aparência na das pessoas que o cercam (na
presença de chineses adquire traços orientais, na presença de judeus transforma-se
num rabino etc.). É o “camaleão humano”, estranho caso que intriga psicólogos,
psiquiatras e neurologistas que não conseguem chegar a um diagnóstico. Com o
auxílio da técnica do “croma key” Woody Allen inseriu seu personagem e outros
atores em imagens reais de cinejornais da época, antecipando técnicas usadas em
filmes como “Forrest Gump” (1994).

Para diluir ainda mais os limites entre realidade e ficção, o filme conta ainda com a
participação de figuras reais do mundo acadêmico como a ensaísta Susan Sontag, o
psicólogo Bruno Bettelheim e o escritor vencedor do prêmio Nobel Saul Bellow, entre
outros.

Partindo desse mosaico de entrevistas, imagens de cinejornais e documentários da


época, com muito humor sardônico, Woody Allen reconstrói da trajetória de Leonard
Zelig, o “homem por trás da lenda” (odiado tanto pela Direita – um judeu que pode
se transformar em índio e negro é triplamente suspeito – como pela Esquerda – um
homem que assume várias identidades só pode roubar postos de trabalho do
proletáriado) . Mas o diretor vai mais além: partindo da ideia de “verdade
parabólica”, ele ilustra de uma forma didática ao longo dos 79 minutos as principais
teses sobre psicologia de massas levantadas pelas vertentes dominantes do século
XX como Freud, Escola de Frankfurt e David Riesman e Lasch.

O Medo da Solidão

Woody Allen começa o filme descrevendo os “loucos anos 20”: o florescimento da


sociedade de massas através da incipiente indústria de celebridades, modismos,
Hollywood e toda uma cultura marcada pelo culto às fortes emoções. Multidões de
anônimos tomam as ruas e dessa multidão, no meio de uma casa de jazz, surge o
“camaleão humano”, um judeu que se transforma repentinamente em um músico
negro: Leonard Zelig.

A psicóloga Eudora Fletcher (Mia Farrow) vai tentar decifrar o enigma Zelig.
Enquanto a comunidade de médicos e psiquiatras submetem Zelig às mais bizarras
experiências envolvendo descargas elétricas e drogas, Eudora acredita na natureza
psíquica da anomalia.
Ela vai montando o quebra-cabeças: filho de uma família em crise com pais
ausentes onde os irmãos acabaram se entregando à prostituição ou contravenção.
Estranhamente Zelig se torna o mais bem sucedido dos irmãos, integrando-se à vida
social. Submetido a sessões de hipnose pela doutora Fletcher, Zelig admite que o
seu mimetismo é uma tática para se sentir seguro. Ele não quer se sentir excluído e,
por isso, se transforma à imagem da pessoa mais próxima para poder se misturar
aos outros.

Claramente a narrativa apresenta as duas principais vertentes da Psicologia de


Massas: a do francês Gustav Le Bon e do austríaco Sigmund Freud. Influenciado
pelas ideias de Mesmer e o “magnetismo animal” do século XVIII, Le Bon acreditava
que o indivíduo em meio à “multidão” perde o raciocínio, a consciência e a
capacidade crítica, tornando-se presa fácil de uma “mesmerização” coletiva.

Ao contrário, Freud vai criar o viés psíquico: mais do que a morte, o que o homem
mais teme é a solidão. O “instinto gregário” é humano, demasiadamente humano: o
medo de não ser amado torna-o um ser mimético, isto é, procura se integrar ao
entorno através da imitação.

Essa ideia simples de Freud vai influenciar as principais hipóteses da Escola de


Frankfurt. Adorno, por exemplo, falava que “na multidão todos nos sentimos mal
amados” (veja ADORNO, Theodor. “Educação após Auschwitz”, In: COHN, Gabriel
(org) Theodor Adorno, São Paulo: Ática, 1988). Todo o fenômeno de massa da
propaganda nazista será explicado por Adorno a partir dessa frustração individual:
multidão cria solidão e frustração. Pessoas mal amadas anseiam pela imitação,
resignação e conformismo como tática de sobrevivência psíquica.

Na década de 1950, no clássico da sociologia “A Multidão Solitária”, David Riesman


vê no século XX a ascensão de personalidades “alter-dirigidas” (isto é, orientadas
para o meio externo) em contraposição aos intra-dirigidos (orientados por valores
éticos e morais internos). Como Riesman escreveu, “Mais do que ser estimado, a
personalidade Ater-dirigida quer ser amada, não necessariamente para controlar os
outros, mas para se relacionar com elas”. Para ele, hoje o triunfo desse tipo de
personalidade é completa.
O historiador e crítico social norte-americano Christopher Lasch viu no triunfo desse
tipo de personalidade o surgimento do Narcisismo na cultura. Ao contrário da visão
tradicional do conceito (Narcisismo como excesso de ego), Lasch vê no fenômeno
narcísico a deflação do ego: o indivíduo tenta corresponder às expectativas que ele
acha que os outros estão tendo dele, obliterando seu próprio ego. Temos um sujeito
com um ego fragilizado, facilmente influenciável e sensível a boatos, fofocas,
modismos, expectativas etc. Por trás dos ideais grandiosos narcisistas (tornar-se
celebridade, ser o garoto mais popular da escola, ter o maior número de seguidores
no twitter etc.) esconde-se, mais uma vez o medo de ser rejeitado e mal amado.

A Celebridade Fetiche

Por isso, “Zelig” chega a ter uma precisão quase sociológica ao descrever o
nascimento do culto às celebridades com a figura do “camaleão humano” que vira a
mania do momento promovida por brinquedinhos e bonequinhos do Zelig, gravações
de baladas de jazz e passos de dança especialmente criados.

É o que Adorno chamava de “celebridade fetiche”: se no passado pessoas tornavam-


se célebres pelos seus gestos, realizações ou empreendimentos, agora são célebres
não porque são dotadas de qualidades socialmente relevantes, mas pela simples
exposição extensiva na mídia. Do “freak show” do “camaleão humano” Zelig aos
vídeos hiperbólicos do YouTube, o padrão parece ser o mesmo: a desesperada busca
de escapar do anonimato da multidão solitária ao confundir a fama com o amor, a
celebridade com a afeição.

Por isso compreende-se por que as celebridades midiáticas não são admiradas, mas
invejadas. No fundo todos sabem que a celebridade nada fez para conseguir a
visibilidade midiática a não ser aplicar o senso de oportunismo. Não inspiram
nenhum repeito ético ou moral, a não ser o invejoso desejo de que “podia ser eu”.

Zelig é filho de uma família deteriorada (“quando meus pais ficavam zangados me
trancavam no guarda-roupas; quando ficavam muito zangados se trancavam comigo
no guarda-roupas”) No seu horizonte o simbolismo do Pai e da Ética desapareceu.
Ter filhos, escrever um livro e plantar uma árvore como formas de realização do Ego
desaparecem para, no seu lugar, ser instaurada a fantasia narcísica de onipotência:
ser “amado” por todos como celebridade, ter o seu gesto bizarro ou qualquer
esquisitice visível por imagens efêmeras.

Por isso, o filme “Zelig” de 1983 continua ainda muito atual. Principalmente porque
encontramos nesse pseudo-documentário as origens das modernas formas
narcísicas de individuação. O espírito de Leonard Zelig ainda habita as atuais mídias
de massa e redes sociais.

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