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APOSTILA – OAB – Professora Cristiane Dupret

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APONTAMENTOS MAIS IMPORTANTES – PARTE GERAL DO CP

1 - PRINCÍPIOS

- PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA


Segundo este princípio, o Direito Penal deve ser a ultima ratio e nunca a prima ratio,
só devendo intervir quando os outros ramos do Direito não conseguem solucionar o conflito.
Um exemplo recente da utilização deste princípio foi a revogação do crime de adultério (art.
240, CP), pois tal conduta pode ser perfeitamente solucionada na esfera do Direito de
Família. Geralmente este princípio é dirigido ao legislador.
O Direito Penal deve ser tido como subsidiário, ou seja, a última medida a ser adotada
quando os demais ramos do Direito não bastam para solucionar a lesão a um determinado
bem jurídico tutelado.

- PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE
Limita ainda mais o poder do legislador, esclarecendo quais as condutas que podem
ser incriminadas pela lei penal.
Possui 4 funções principais:
A) proibir a incriminação de uma atitude interna (dessa forma, não se pune o que o
sujeito pensa, ainda que seu pensamento seja dirigido a algo criminoso, a não ser
que exteriorize lesando algum bem jurídico);
B) proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor
(ex.: a auto lesão, a tentativa de suicídio por quem quer se matar, e ainda se
discute a validade do art. 28 da Lei no 11343/06);
C) proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais (evitando dessa
forma o Direito Penal do autor);
D) proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico
(condutas que deixem a comunidade insatisfeita, mas que não afetem bens
jurídicos tutelados).
Podemos ainda mencioná-lo como Princípio da ofensividade. Consoante tal princípio, é
indispensável que haja “pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem
jurídico penalmente protegido”.

- PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL


Sua consequência principal deve ser a descriminalização, pelo legislador, daquelas
condutas que por uma evolução social ou mudança de costumes a sociedade passa a
tolerar, não vendo mais as condutas como agressivas a determinado bem jurídico tutelado.
É óbvio que ainda que se possibilite ao aplicador da lei utilizar o Princípio da
adequação social, este deve ser utilizado com razoabilidade. Vejamos a decisão abaixo, que
bem demonstra que não é em qualquer situação que podemos utilizá-lo:

- PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA

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Por este princípio, o que apresenta insignificante desvalor da conduta ou do resultado


não merece a sanção penal.
Ocorre resistência quanto à sua aplicação nos crimes com violência ou grave ameaça,
ou ainda nos crimes relativos a drogas. É geralmente empregado no furto. Há farta
jurisprudência acerca do tema.
Inaplicável o Princípio da insignificância ao delito de roubo (art. 157, CP), por se
tratar de crime complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o
fato de que a subtração de coisa móvel alheia ocorra “mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, a demonstrar que visa proteger não só o patrimônio, mas
também a integridade pessoal. (STF – AI-AgR 557972 / MG – MINAS GERAIS – 07-
03-2006)
Para a incidência do Princípio da insignificância só se consideram aspectos
objetivos, referentes à infração praticada, assim a mínima ofensividade da conduta
do agente; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada
(HC 84.412, 2a T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). A caracterização da infração penal
como insignificante não abarca considerações de ordem subjetiva: ou o ato
apontado como delituoso é insignificante ou não é. E sendo, torna-se atípico,
impondo-se o trancamento da ação penal por falta de justa causa. (STF – HC
77.003, 2a T., Marco Aurélio, RTJ 178/310) (AI-QO 559904 / RS – RIO GRANDE DO
SUL – 26-08-2005)
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART.
12, DA LEI No 6.368/76 E ART. 333, DO CP. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. ATIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA.
I – O trancamento de ação por falta de justa causa, na via estreita do writ,
somente é viável desde que se comprove, de plano, a atipicidade da conduta, a
incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria
ou de prova sobre a materialidade do delito, hipóteses não ocorrentes na espécie
(Precedentes).
II – O Princípio da insignificância está estritamente relacionado com o bem jurídico
tutelado e com o tipo de injusto. Dessa maneira, não pode ser utilizado para
neutralizar, praticamente in genere, uma norma incriminadora. Se esta visa as
condutas de adquirir, vender, guardar, expor à venda ou oferecer é porque alcança,
inclusive, aqueles que traficam pequena quantidade de drogas. Recurso desprovido.
(STJ _ RHC 18198/BA – Quinta Turma – Min Felix Fischer – 20/03/2006)
Deve-se ter grande cuidado com a aplicação deste princípio no crime de furto, tendo
em vista a existência do furto privilegiado, ou seja, de pequeno valor, art. 155, § 2o do CP.
Não se deve confundir insignificância com pequeno valor.
O furto de pequeno valor, previsto no art. 155, § 2o do CP, prevê a existência de um
furto privilegiado se o criminoso é primário e a coisa furtada é de pequeno valor. A
jurisprudência vem entendendo como de pequeno valor a quantia de até um salário mínimo:
No crime de furto, há que se distinguir entre infração de ínfimo e de pequeno valor,
para efeito de aplicação da insignificância. Não se discute a incidência do princípio
no tocante às infrações ínfimas, devendo-se, entretanto, aplicar-se a figura do furto
privilegiado em relação às de pequeno valor. (STF – HC 84424 / SP – SÃO PAULO-
07/12/2004)

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I – No caso de furto, para efeito da aplicação do Princípio da insignificância, é


imprescindível a distinção entre ínfimo(ninharia) e pequeno valor. Este, ex vi legis,
implica eventualmente em furto privilegiado; aquele, na atipia conglobante (dada a
mínima gravidade).
II – A interpretação deve considerar o bem jurídico tutelado e o tipo de injusto.
III – Ainda que se considere o delito como de pouca gravidade, ta l não se identifica
com o indiferente penal se, como um todo,observado o binômio tipo de injusto/bem
jurídico, deixou de se caracterizar a sua insignificância. No caso concreto, o valor da
res furtiva não equivale, em linhas gerais, aproximadamente, a uma esmola, não
configurando, portanto, um delito de bagatela.
Recurso especial desprovido. (STJ – REsp 909357 / DF – RECURSO ESPECIAL –
2006/0268988-7 – Relator Min. Feliz Fischer – Quinta Turma – 14/06/2007)
Como diferenciar no caso concreto a aplicação do Princípio da insignificância, que
conduz à atipicidade material do fato, do furto de pequeno valor?
Imaginemos que um sujeito subtrai uma caixa de bombons de uma grande loja. Na
primeira vez se reconhece o Princípio da insignificância. O sujeito pratica a conduta por
várias outras vezes, sendo denunciado como autor do crime de furto em continuidade
delitiva. Deveria o magistrado reconhecer como no caso anterior o Princípio da
insignificância? A nosso ver não. Alguns sustentam que a aplicação do Princípio da
insignificância deve levar em consideração o desvalor insignificante do resultado. Neste
exemplo, continuaríamos a ter insignificante desvalor do resultado, mas não podemos ter a
conduta do sujeito como insignificante. Isso não impede de nos utilizarmos do furto
privilegiado. Condena-se o sujeito, podendo o magistrado, consoante o § 2o do art. 155,
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou aplicar
somente a pena de multa.
Outro exemplo: o sujeito abre a carteira de alguém para subtrair dinheiro. Ao abrir,
depara-se com a quantia de R$ 550,00, mas retira apenas R$ 50,00. Neste caso, sua
conduta e o resultado dela são tidos como insignificantes. Se o sujeito abrisse a carteira
com a finalidade de subtrair todo o dinheiro, se deparasse com a quantia de R$ 50,00, que
era tudo que a vítima possuía, e retirasse esses R$ 50,00, a nosso ver já não mereceria
aplicação o Princípio da insignificância, mas admitir-se-ia o furto privilegiado. Então, deve a
distinção ser analisada de acordo com o caso concreto.

- PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL


Previsto no Art. 5o, XLV da CF.
Também denominado Princípio da intranscendência ou da pessoalidade, ou ainda
personalidade da pena. Somente o condenado, e mais ninguém, poderá responder pelo fato
praticado. A pena não pode passar da pessoa do condenado.
Este princípio justifica a extinção da punibilidade pela morte do agente. Resta óbvia a
extinção quando estamos tratando da pena privativa de liberdade, mas o Princípio da
responsabilidade pessoal faz com que, mesmo tendo o falecido deixado amplo patrimônio, a
pena de multa não possa atingi-lo, pois estaria passando da pessoa do condenado para
atingir seus herdeiros. Sendo assim, sempre estará extinta a punibilidade, independente da
pena aplicada, quando ocorrer a morte do agente.

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- PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS


Previsto no Art. 5o, XLVII da CF.
Atende ao Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1o, III da CF). Não são
admitidas as penas de morte (salvo os casos previstos na própria CF), as de caráter
perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis.
A Constituição Federal estabelece em seu art. 5o, XLVII:

Não haverá penas:


a) De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX;
b) De caráter perpétuo;
c) De trabalhos forçados;
d) De banimento;
e) Cruéis.

O art. 84, XIX estabelece que compete privativamente ao presidente da república:

declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo


Congresso nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo
das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente,a mobilização nacional.

- PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
Impede a responsabilidade penal objetiva. Em síntese, ninguém pode ser punido por
um crime se não agiu com dolo ou culpa.
Encontra amparo legal no art. 18, parágrafo único do CP:

Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

- PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Na análise de qualquer norma de natureza penal, devemos no primeiro momento
verificar se há desrespeito a qualquer dos princípios, sejam eles previstos implícita ou
explicitamente na Constituição.
O Princípio da legalidade está insculpido no art. 1o do CP e no art. 5o, XXXIX da CF,
estabelecendo que nenhuma conduta pode ser considerada criminosa e nenhuma pena pode
ser imputada ao agente sem que lei anterior à conduta traga a previsão da conduta
criminosa e a pena cominada. O referido princípio é apontado como base estrutural do
próprio Estado de Direito, pedra angular do Direito Penal como um todo, abrangendo a pena
cominada pelo legislador, a pena aplicada pelo juiz e a pena executada.
não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Este Princípio costuma ser mencionado por meio da expressão nullum crimem, nulla
poena sine lege, esta última citada por grande parte da doutrina como construída pelo

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professor alemão Paulo João Anselmo Feuerbach, em 1801, em seu Tratado29. Nilo
Batista30 contesta a fórmula acima referida, afirmando que ela não consta da obra de
Feuerbach, mas sim articulações dessa fórmula. São as seguintes, consoante o insigne
mestre:
Nulla poena sine lege
Nullum crimem sine poena legali
Nulla poena (legalis) sine crimine
Francisco de Assis Toledo destaca que embora Feuerbach tenha tido o mérito da
construção da fórmula latina, o Princípio da legalidade já se encontrava na Magna Charta
Libertatum (séc. XIII),31 no bill of rights das colônias Inglesas da América do Norte e na
Déclaration des droits de l´home et du citoyen, da Revolução Francesa, de onde se difundiu
para os demais países.32 Abaixo o texto que consagra o princípio na Declaração Universal
dos Direitos do Homem e na Convenção Americana sobre Direitos humanos,
respectivamente:

Art. XI, 2: Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que,
no momento, não constituam delito perante o direito nacional ou
internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela
que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Art. 9o: Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o
direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável
no momento da perpetração do delito.

2 – LEI PENAL NO TEMPO

Embora a lei penal exista desde a sua promulgação, só será obrigatória com a
publicação oficial. Em vigor, passa a surtir efeitos no presente e para o futuro. Chama-se
vacatio legis o período de tempo entre sua publicação oficial e o início de vigência.
Antes de falar em lei penal no tempo, temos quer ter a noção de vigência da lei –
todas as normas jurídicas.

O Artigo 2 º LICC – permanece em vigor

Ocorre que pode existir um tempo entre a publicação e a vigência da lei, é o que
chamamos de vacatio legis.

De acordo com a LICC, se a lei nada falar, ela entrará em vigor em 45 dias. Mas,
pode a lei dispor sobre o prazo de sua entrada em vigor.

Esse período de tempo da vacatio legis é o período que a lei não tem eficácia, é o
período de tempo em que o ordenamento e os operadores estão adequando o sistema
vigente para a entrada em vigor daquela lei. Então, quanto mais complexa a lei, mais
tempo levará para que ela entre em vigor.

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Depois que ela entra em vigor, via de regra, ela deve vigorar por prazo
indeterminado, sendo revogada por outra lei a revogue expressamente.

Essa vigência da lei até que outra a modifique ou revogue encontra exceção nas leis
temporárias ou excepcionais, porque elas mesmas possuem um prazo de vigência, elas são
auto-revogáveis, seja pq na lei temporária já tem um prazo determinado, por isso elas são
chamadas de temporárias, seja pq nas leis excepcionais elas só vão vigorar enquanto
durarem determinadas situações específicas. Então, não vigorará até que outra lei a
revogue ou modifique pq ela se auto-revogará.

OBS : Ab-rogação – revogação total

Derrogação - revogação parcial

Essa revogação das leis – artigo 2 º parágrafo 1 º LICC - pode ser expressa ou
tácita.

Ocorre que foi editada Lei complementar 95 que estabelece que a revogação tem
que ser expressa. Então, a partir do advento dessa LC 95, a revogação deverá ser expressa
e não mais tácita porque sabemos que o legislador brasileiro não tem hábito de analisar os
diplomas existentes. Então a LC 95 veio para conscientizar o legislador que ele precisa
revogar expressamente aquilo que contraria o diploma que ele está editando.

Irretroatividade e retroatividade da lei penal

O conflito temporal de normas pressupõe uma seqüência de leis penais e rege-se


pelo princípio constitucional da irretroatividade:

Art. 5o. XL da CF

“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”

O parágrafo único do art. 2o. do CP preconiza a aplicação da lei posterior aos fatos
anteriores, desde que essa nova lei de qualquer modo favoreça o agente.

Só não terá aplicação a lei nova se o agente já houver cumprido a pena.

De acordo com a súmula 611 do STF, o juiz da execução poderá aplicar a lei benéfica
quando já tiver ocorrido o trânsito em julgado.

Conceito de lei mais benéfica

Não é necessariamente somente aquela que diminui a pena. Deve ser aferida no caso
concreto, analisando causas de diminuição, causas de justificação, causa de exclusão da

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culpabilidade, lapso prescricional mais curto, melhores condições para concessão do


sursis, liberdade condicional,...

Dessa forma, resolve-se o caso hipoteticamente, conforme uma e outra lei, para se
aferir qual é a mais benéfica ao agente.

Tempo do crime

O art. 4o. do CP adotou a teoria da ação ou da atividade, sendo o tempo da infração


penal tanto o da ação como o da omissão, independente do momento do evento.

O momento da conduta, comissiva ou omissiva, será, portanto, o nosso marco inicial


para todo tipo de raciocínio que se queira fazer em sede de extra-atividade da lei penal.

Espécies de extra-atividade

retroatividade e ultra-atividade

Exemplo:

Alguém, na direção de veículo automotor, praticou homicídio culposo, em maio de


1997, ocasião em que ainda não havia entrado em vigor o Código de trânsito (lei 9503/97
de 23/09.97). Os autos foram conclusos para sentença em outubro de 1997. Qual norma
vai se aplicar à espécie? O CP, que nesse caso, possuirá ultra-atividade, uma vez que é lex
mitior, pois pune o homicídio culposo com pena de 1 a 3 anos, diferentemente da Lei
9503/97, que traz uma pena de 2 a 4 anos.

Crime permanente e crime continuado

Em novembro de 2003, o STF editou o verbete 711:

“a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a


sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”

Lei temporária ou excepcional


lei temporária é aquela com tempo de vigência pré determinado. Lei excepcional é
aquela que terá vigência durante certa situação tida como excepcional.

Encerrado o período de vigência, as leis são tidas como revogadas, ocorre auto
revogação.

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Tais leis são ultra-ativas, possuem em comum a ultra-atividade gravosa, para que se
impeça a impunidade, pois frente a uma curta vigência, seria muito difícil conseguir punir o
agente que praticou o fato se fosse considerar que a lei temporária ou excepcional não o
poderia alcançar após a sua revogação.

3 – LEI PENAL NO ESPAÇO

Lugar do crime
Três teorias disputam o tratamento da determinação do lugar do crime:

- teoria da atividade
- teoria do resultado
- teoria mista ou da ubiqüidade

Nosso CP, no seu artigo 6o. adotou a teoria da ubiqüidade, ao considerar praticado o
crime no lugar em que ocorrei a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde
se produziu ou deveria se produzir o resultado.

Princípio da territorialidade
O princípio da territorialidade está contido no artigo 5o do CP, que determina a
aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, Tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

Princípio da Extraterritorialidade

Tal extraterritorialidade da lei penal pode ser condicionada (caso de adoção relativa
do princípio da extraterritorialidade) ou incondicionada (adoção absoluta do princípio da
extraterritorialidade). Será incondicionada quando a aplicação da lei penal for independente
do advento de qualquer condição. Ao contrário, nos casos de extraterritorialidade
condicionada, a aplicação da lei penal brasileira dependeria do advento de determinada
condição.

As hipóteses de extraterritorialidade incondicionada estão previstas no art. 7o, I, do


CP, que abrange o princípio da defesa, real ou de proteção (alíneas a,b e c) e princípio
cosmopolita (art. 7o, I, d).

Conceito de território nacional


A princípio seria o solo, mas ele não se basta a isto, seria também o subsolo, rios,
lagos, lagoas. No sentido Jurídico, além do seu sentido estrito, território também englobaria
o mar territorial e o espaço aéreo.

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território em sentido estrito – solo, subsolo e águas fluviais e lacustres (rios e lagos),
todos lImitados pelas fronteiras políticas.

mar territorial –Em âmbito internacional, o mar territorial é a faixa ao longo da costa
que compreende 12 milhas. Conceito dado pela Lei nº 8617/93 (combine com o art. 5º do
CP)

Espaço aéreo –Teoria da soberania sobre a coluna atmosférica – tem uma


delimitação correspondente à projeção do país (território em sentido estrito e mar
territorial) no espaço. É ilimitada para cima, ou seja, toda a seção atmosférica.

Art. 5º, § 1º do CP: Aqui já se tem a aplicação da Lei brasileira fora do conceito lato
de território nacional. Trata-se de uma ficção do que seria também território brasileiro, ou
seja, uma extensão, por ficção, do território nacional em sentido lato. Seriam os navios e
aeronaves públicos ou a serviço do governo brasileiros onde quer que se encontrem e os
navios e aeronaves privados ou mercantes brasileiros em alto mar ou aeronaves no espaço
aéreo correspondente . Neste último caso (privados e mercantes) Só vão ser extensão do
território se estiverem em alto mar, ou seja, no mar de ninguém, fora do mar territorial de
outro Estado ou no espaço aéreo correspondente. Vão ter a aplicação da Lei da Bandeira
que ostentam.

Se estiverem em território de outro país, será aplicada a Lei de onde eles estiverem.
Se estiverem em alto-mar e forem estrangeiros, será aplicada a lei de seu território. Logo,
considera-se território estrangeiro e o princípio será da extraterritorialidade (art. 7º.)

Na hipótese de extraterritorialidade incondicionada (artigo 7º, I do CP), o agente


será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Se
já tiver sido condenado no estrangeiro, aplica-se o artigo 8o, que determina que a pena
cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Tal regra evita a dupla punição do agente
pelo mesmo fato.

5 - TEORIA DO CRIME

INFRAÇÃO PENAL

DISTINÇÃO ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES PENAIS

Nosso CP não adota o critério tripartido, adota o critério bipartido, diferenciando crime
de contravenção. Delito é sinônimo de crime.

As contravenções também são chamadas de delitos-anões

Infração penal é conceito amplo, que abrange os crimes e contravenções.

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Em síntese:

Infração
penal

Crime
contravenção
(delito)

Distinção entre crime e contravenção:

Crime - infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.

Contravenção – infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples
ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

OBJETO MATERIAL E OBJETO JURÍDICO

Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. Pode se confundir,
muitas vezes, com o próprio sujeito passivo do crime.

Já o objeto jurídico é o bem jurídico tutelado pela norma.

Ex.: crime de furto – o objeto material é a coisa furtada. O objeto jurídico é o


patrimônio.

CONCEITO DE CRIME PRETERDOLOSO OU PRETERINTECIONAL

É espécie de crime qualificado pelo resultado.

Há dolo no antecedente e culpa no conseqüente. Exemplo: lesão corporal seguida de


morte – artigo 129, parágrafo 3º do CP.

CONCEITO DE CRIME

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Pelo conceito analítico de crime, podemos defini-lo como fato típico, antijurídico e
culpável.

Crime
Fato:

Antijurídico
Típico Culpável
Excludentes da ilicitude ou
Elementos: Elementos da culpabilidade:
antijuridicidade:

-Legítima defesa
-Conduta -Imputabilidade
-Estado de necessidade
-Nexo causal -Potencial consciência
-Exercício regular de direito
-Resultado da ilicitude
-Estrito cumprimento
-Tipicidade em sentido estrito -Exigibilidade
(previsão legal) do dever legal
de conduta diversa
-Consentimento do ofendido

FATO TÍPICO

CONDUTA – A conduta pode ser comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa.

Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista no tipo.

Vontade não se confunde com desejo. Na vontade, o sujeito quer o resultado delitivo
como consequência de sua própria ação e se atribui alguma influencia em sua produção.

Artigo 18, CP

“salvo os casos previstos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
senão quando o pratica dolosamente”

Dessa forma, o dolo é a regra; a culpa é a exceção.

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Pela teoria da vontade, dolo é tão somente a vontade livre e consciente de praticar a
conduta descrita no tipo.

Pela teoria do assentimento, dolo é também a assunção do risco de causar o resultado,


ainda que não se trate de vontade direta do agente.

Podemos visualizar na primeira teoria, o dolo direto e na segunda, o dolo eventual. Estas
são as duas teorias adotadas pelo nosso CP. É o que se depreende do artigo 18, I, do CP.

de 1o. grau

Dolo direto de 2o. grau

O dolo direto de 1o grau é aquele em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos, já
o dolo direto de 2o grau é conhecido como aquele em relação aos efeitos colaterais,
representados como necessários.

Ex.: matar o presidente, colocando uma bomba no avião.

Fim proposto – matar o presidente

Meio – colocar a bomba no avião

Efeitos colaterais necessários – matar os demais passageiros

Em relação aos demais passageiros, haverá dolo direto de 2o. grau.

Dolo eventual – o agente não deseja diretamente o resultado, mas assume o risco de
produzi-lo.

É necessário distinguir o dolo eventual da culpa consciente. Na culpa consciente, o


resultado até é previsível, mas o sujeito não assume o risco de sua produção, porque
acredita sinceramente em sua habilidade, tendo como certo que o resultado não vai se
produzir.

NEXO CAUSAL E RESULTADO:

Há a classificação dos crimes em relação ao resultado:

- Crime material: o tipo descreve a conduta e o resultado. Para a consumação


de um crime material é necessária a realização tanto da conduta quanto do resultado.
Exemplo: art. 171 do CP.
- Crime formal: o tipo descreve a conduta e o resultado. A diferença é que no
crime formal, basta a realização da conduta para haver a consumação do crime, por

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isso, é também chamado de crime de "consumação antecipada", a modificação do


mundo exterior não vai acontecer necessariamente, mas pode até ocorrer, sendo, neste
caso, apenas um exaurimento do crime. Exemplo: crime de extorsão art. 158 do CP, de
acordo com a súmula 96 do STJ.
- Crime de mera conduta: o tipo só descreve a conduta. Não há descrição do
resultado. Ex. art. 150 CP . A semelhança com o crime formal é que em ambos, basta a
prática da conduta para o crime estar consumado.

Relação de causalidade

Teoria da condição (conditio sine qua non)

O nosso Código Penal, no art. 13, trata do nexo de causalidade. Dispõe que o
resultado de que depende a existência do crime somente é imputável quem lhe deu causa
e dispõe que causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Para saber o que é causa é necessário um processo de eliminação hipotética, método


indutivo hipotético de eliminação. Do contrário, tudo será causa, levando a uma
responsabilidade penal infinita. Portanto, causa é toda a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido da maneira como ocorreu. Causa de um resultado é toda
condição que, suprimida mentalmente, faria desaparecer o resultado. É esta a teoria
adotada, mas existem outras teorias que tentam definir o que é causa.

Não basta dar causa, é necessário ter agido com dolo ou culpa. Ex: amigo A
pendurado num galho prestes a cair num abismo, o amigo B ao tentar ajudar, esticando
a mão, faz com que B, que está pendurado solte o galho que acaba caindo. Deu causa?
Deu, mas não há responsabilidade penal porque não há dolo, nem culpa.

Concurso de causas

Quando só há uma causa, resolve-se pelo art. 13, caput, mas se houver um concurso
de causas?

As causas são definidas pela doutrina em:

- preexistentes

- concomitantes

- supervenientes

Exemplo: pessoa que leva um facada, depois um tiro, depois toma veneno? Qual são
as causas preexistentes? E as supervenientes? Dependerá do ponto de referência
adotado. Ex: Com relação ao veneno, o tiro é preexistente.

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No entanto, antes de aplicar a regra, verifica-se se é a exceção – art. 13, parágrafo 1º.
– causa superveniente relativamente independente, que causa o resultado por si só, pois
neste caso, ela exclui a imputação pelo resultado. Ex.: o agente levou um tiro, depois foi
levado ao hospital, onde houve um incêndio e ele morreu. Estabelecido o ponto de
referência (o tiro), o incêndio está depois (é uma causa superveniente), o agente só morreu
no incêndio, porque estava no hospital, porque levou o tiro (relativamente independente),
mas o incêndio mata por si só. Desta forma, estamos diante da exceção, não aplicamos a
regra. O agente só responde por tentativa de homicídio, considerando que tinha o dolo de
matar.

TIPO CULPOSO
Consoante o artigo 18, II, CP, diz-se o crime culposo:

“Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligencia ou imperícia.

Dispõe o parágrafo único:

“salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, senão quando o pratica dolosamente.”

imprudência, imperícia e negligência

imprudência – conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu
dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. A imprudência e um
fazer algo.

Negligência – é um deixar de fazer algo que a diligencia normal impunha que fosse
feito.

Imperícia – quando ocorre inaptidão, momentânea ou não, do agente para o


exercício de arte ou profissão. Está ligada à atividade profissional do agente.

Imputação objetiva e crime culposo

A teoria da imputação objetiva, em síntese, aproxima-se da seguinte assertiva


conceitual: “só pode ser objetivamente imputável um resultado causado por uma ação

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humana (no sentido da teoria da condição), quando a mesma cria para o objeto protegido
uma situação de perigo juridicamente proibida e o perigo materializa-se no resultado típico”.

A imputação objetiva traz para o delito culposo mais um elemento: a evitabilidade.


Não basta a conduta, resultado, nexo, previsibilidade e inobservância do dever de cuidado.
Se presentes todos esses elementos, mas percebe-se que o resultado ocorreria de qualquer
maneira, pela teoria da imputação objetiva, o agente não deve ser responsabilizado.

Essa teoria gira em torno da ideia de uma situação de risco para o bem jurídico
tutelado. Para que haja a imputação, o agente deve criar ou incrementar um risco proibido
ao bem. Além disso, esse risco tem que ser realizado no momento do resultado, para que
seja possível a imputação. Se o risco for permitido, ou ainda se o agente não criar um risco
ou diminuir o risco, ele não deve responder pelo resultado.

A imputação objetiva também faz com que o agente não responda nos casos de
aplicação do princípio da confiança. Exemplo: o agente (médico) confia que sua
instrumentadora vai agir corretamente e ela não age. Ele não deve, em regra, responder
pelo resultado causado por ela durante a cirurgia.

ANTIJURIDICIDADE OU ILICITUDE

LEGÍTIMA DEFESA

Agressão:

O primeiro requisito para o reconhecimento da legítima defesa é a existência de uma


agressão injusta atual ou eminente. Primeiro é preciso que nós estendamos o alcance da
palavra agressão. O que é a agressão que dá ensejo à legítima defesa?

Ela tanto pode advir de uma ação como de uma omissão. Um exemplo de uma legítima
defesa advinda de uma conduta omissiva é aquele em que um carcereiro deixa de cumprir
um alvará de soltura. É uma agressão injusta praticada com omissão.

Essa agressão também pode surgir tanto da conduta dolosa como da conduta culposa.
Uma agressão culposa é de exemplo mais difícil. Podemos tomar por exemplo o caso do
motorista de ônibus que conduza o veículo em alta velocidade colocando em risco iminente
a integridade física dos passageiros. É possível que eles reajam a essa agressão injusta e
iminente, visando paralisar o veículo retirando as chaves ou a empregar os meios físicos
para conter aquele motorista de forma a forçá-lo a conduzir em velocidade aceitável.

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Quando falamos em agressão surge a idéia de reação violenta, o que não é


necessariamente verdade. Pode surgir a legítima defesa de reações não violentas como por
exemplo um furto. Não há violência ou grave ameaça, mas autoriza a legítima defesa.

A agressão como requisito para a legítima defesa surge tanto de atividades comissivas,
tanto de atividades dolosas como de atividades culposas. Tanto de condutas violentas como
de condutas não-violentas.

Injusta:

O segundo elemento necessário para a configuração da legítima defesa é que essa


agressão se mostre injusta. Isso será essencial para o estudo da legítima defesa putativa
que veremos logo adiante. A noção de injustiça está ligada à noção de ilicitude. Quando
dizemos que a agressão é injusta queremos dizer que ela é uma agressão não amparada na
lei. Toda vez que alguém cometer uma agressão não amparada pela lei, estará autorizada a
legítima defesa. Se o agente realiza uma agressão autorizada pela lei, aquele que é
ofendido não pode reagir em legítima defesa, pois ela exige que a agressão seja injusta, isto
é, que não seja amparada na lei.

Eu vou saber se uma agressão é justa ou injusta avaliando se ela está amparada ou não
no ordenamento. É possível que a lesão corporal eventualmente causada a um cidadão
louco seja acobertada pela exclusão da ilicitude pela legítima defesa? Quando nessas etapas
de indagação do crime vai se aferir a questão da sanidade mental do agente? Na
culpabilidade, a imputabilidade é seu primeiro elemento. Se eu digo que a injustiça da
agressão é aferível segundo a licitude ou ilicitude daquela conduta, eu tenho que
forçosamente concluir que os inimputáveis praticam agressão injusta, só não serão
culpáveis. Assim, é perfeitamente possível a reação contra agressão de inimputáveis (sejam
loucos, menores, sejam aqueles que atuam em erro de proibição que também é uma causa
de exclusão de culpabilidade, sejam os que atuam em coação moral irresistível). Enfim,
nenhuma daquelas situações de exclusão de culpabilidade impede a reação em legítima
defesa, porque a despeito de inculpáveis, essas pessoas praticam conduta ilícita. Isso
porque a antijuridicidade segundo a ótica formal é aferível em uma relação de contradição
entre o que o agente fez e o ordenamento, sem considerações acerca de sua capacidade
individual. A capacidade individual do agente só vai ser indagada em sede de discussão
sobre imputabilidade.

Atual ou Iminente:

A agressão além de injusta deve ser atual ou iminente. Atual é aquela agressão que já
está acontecendo e iminente é aquela que está para acontecer. A reação em legítima defesa
deve sempre ter o caráter de cessar a agressão, seja a que já começou ou aquela que está
para começar.

Quando tratarmos de uma reação a um fato futuro ou pretérito, não poderemos falar em
legítima defesa. Aquela pessoa que reage contra um inimigo que prometeu no futuro matá-
la não está agindo em legítima defesa pois não é atual nem iminente a agressão. Da mesma

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maneira não age em legítima defesa quem reage a uma agressão já cessada. Quem apanha
em um bar, vai até em casa para pegar uma arma e voltar no local em que estava para
atirar em quem o agrediu não está agindo em legítima defesa.

Que se volte contra direito do próprio ofendido ou de terceiro:

O segundo requisito à legítima defesa é que essa agressão injusta, atual ou iminente,
se volte contra direito do próprio ofendido ou de terceiro. Isso dá ensejo à distinção entre
legítima defesa própria e legítima defesa de terceiro.

O terceiro requisito é o uso moderado dos meios necessáriosNesse requisito entram


dois aspectos: necessidade e moderação.

O que é um meio necessário que autoriza a legítima defesa? Genericamente é aquele


meio disponível para a defesa. Qual o meio disponível para a defesa? Seriam aqueles que eu
tivesse a minha disposição naquele momento para exercitar minha defesa. Segundo o
professor Rogério Greco, mesmo que a arma seja o único meio disponível portanto
necessário, ela não poderá ser usada se esse uso representar uma grave desproporção com
a agressão. Digamos que um fazendeiro paraplégico está no meio de suas matas quando
um invasor está colhendo os frutos de uma de suas árvores. Nesse caso, Greco afirma que
mesmo que a arma fosse o único meio de defesa que ele tem, a arma representa uma
grande desproporção. Capez discorda desse entendimento dizendo que se o conceito de
meio necessário é o suficiente ou disponível para a defesa, não se pode restringir o uso da
arma quando ela seja o único meio disponível. O que vai importar nesse caso é saber se
houve moderação ou não.

E quando houvesse vários meios disponíveis?

Como um dos elementos que caracteriza a legítima defesa é a moderação, se existirem


vários meios disponíveis, ele deve empregar o menos lesivo entre aqueles que se mostrem
eficazes à defesa. Não se espera que ele utilize um meio inócuo.

Além de ser necessário, é preciso que o uso desse meio seja moderado. Como nós
medimos a moderação no uso dos meios? Ela é medida com a comprovação de que o
agente fez tudo o que podia para se defender e só isso. Enquanto restar evidente que há
uma possibilidade de agressão, a vítima deve poder reagir e portanto estará em legítima
defesa. Quando as evidências do caso concreto demonstrarem que cessou a agressão e
portanto não há mais uma agressão injusta contra ele, qualquer exercício de atividade
“defensiva” extrapolará a legítima defesa e permitirá a punição do agente. Uso moderado,
portanto, significa usar daqueles meios necessários até a cessação daquela agressão
injusta, a partir dali se ele continuar agindo responderá pelo excesso.

Finalmente o último requisito necessário para a legítima defesa é o ânimo de defesa.


Para que a pessoa seja beneficiada por uma causa de exclusão de ilicitude, é preciso que ela
demonstre que além dos requisitos objetivos (que em nosso direito são os do artigo 25), ele
estivesse atuando com a intenção de defesa. O ânimo de defesa é o último requisito da
legítima defesa.

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Existe uma discussão sobre a admissibilidade do concurso de motivos. O que é concurso


de motivos? Há hipóteses em que o agente além do ânimo defensivo tem também um
motivo concorrente. É o caso do agente que se defendendo de uma agressão injusta,
aproveita-se da ocasião para se vingar daquela pessoa que a está agredindo. Nesse caso a
concorrência desse outro motivo, que não o de defesa, afasta a legítima defesa? Havendo
moderação na reação, ou seja, se o agente observar os requisitos do artigo 25, ele deve ter
a legítima defesa reconhecida, ainda que concorra com o ânimo defensivo um motivo torpe.
É claro que se ele se exceder, mesmo que não haja motivo concorrente, vai responder pelo
excesso. A concorrência de motivo diferente do ânimo defensivo, não impede o
reconhecimento da legítima defesa.

O excesso afasta a legítima defesa.

ESPÉCIES DE LEGÍTIMA DEFESA

Legítima Defesa REAL – É aquela em que concorrem todos os requisitos de ordem


objetiva e subjetiva.

Legítima Defesa PUTATIVA – Assim como o delito putativo é o delito falso, a legítima
defesa é aquela que só existe na cabeça da vítima. Ela acha que está se defendendo de uma
agressão e não está. O problema aqui é saber qual o tratamento a ser dado à legítima
defesa, pois se digo que ela é uma situação em que o agente acha que está se defendendo
e não está, estou me referindo a uma situação de erro. Portanto a legítima defesa putatitva
é uma situação de erro.

Esse erro é de proibição ou de tipo? Importa responder a essa pergunta porque o


tratamento que a lei dá para eles é diferente. O erro de tipo está no artigo 20 do CP. No
erro de tipo o agente vê mal a realidade. Toda vez que estivermos diante de uma situação
em que concluirmos que o agente errou ao ler mal a realidade, estaremos diante de um
caso de erro de tipo. Qual o efeito do reconhecimento do erro de tipo? Ele vai sempre
excluir o dolo (é uma das poucas regras que não comporta exceção), porque a própria
noção de erro é uma noção incompatível com a noção de dolo. O que é o dolo? É a atuação
com consciência e vontade. O que é o erro? É a falsa leitura da realidade. Quem atua com
dolo não pode estar em erro e quem atua em erro não pode estar atuando com dolo. Assim,
toda vez que tivermos uma situação com erro de tipo, esse erro excluirá o dolo. Se esse
erro se mostrar vencível, superável (você incidiu em erro, mas se você tivesse prestado um
pouco mais de atenção não teria incorrido nesse erro), a punição do agente será na
modalidade culposa (se houver, pois sabemos que o delito culposo é excepcional).

O outro tipo de erro essencial é o erro de proibição. Nele ao contrário do que ocorre com
o erro de tipo, não há uma falsa leitura da realidade, ele sabe o que está acontecendo, ele
lê a realidade corretamente. O problema do agente no erro de proibição está no juízo que

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ele faz sobre o que é permitido ou proibido. Então a consequência do erro de proibição não
é afetar o dolo. O dolo no erro de proibição fica intacto porque o agente tem consciência e
vontade acerca dos fatos O problema no erro de proibição é a consciência sobre a ilicitude.
Esse é o motivo pelo qual o erro de proibição é tratado na culpabilidade. O segundo
elemento da culpabilidade é a potencial consciência da ilicitude. Se eu digo que no erro de
proibição o agente se equivoca com relação ao que é permitido e o que é proibido, o erro
dele versa sobre a ilicitude do fato. O erro de proibição que está lá no artigo 21 do CP, vai
ter seus efeitos em sede de culpabilidade. Quais serão os efeitos de se reconhecer um erro
de proibição? Se esse erro era invencível, isso é, se eu digo que você errou mas qualquer
um na sua situação também erraria, esse erro é invencível e em função disso exclui-se a
potencial consciência da ilicitude. Como a potencial consciência da ilicitude é um elemento
da culpabilidade exclui-se também a culpabilidade. Sem a culpabilidade não há crime.
Quando esse erro de proibição se mostrar um erro vencível (você errou em relação ao que
era permitido ou proibido, mas você devia ter tomado um pouco mais de cuidado), não se
exclui a culpabilidade, apenas atenua-se a pena.

ERRO DE TIPO ------------------------------------------EXCLUI O DOLO

ERRO DE PROIBIÇÃO (invencível) -------------------- EXCLUI A CULPABILIDADE

ERRO DE PROIBIÇÃO (vencível) -----------------------ATENUA A PENA

Quem atua em erro de proibição atua dolosamente, ou seja, com consciência e vontade.
O problema está na leitura do que é lícito ou ilícito.

Exemplo: Uma vizinha chega para mim e diz que está fazendo uma obra em casa e
pergunta se eu me importo em guardar uma caixa aonde ela guardava suas joias e eu
aceito por confiar nela e por considera-la minha amiga. No dia seguinte sou surpreendido
quando policiais tocam a campainha com um mandado de busca e apreensão atrás da caixa.
Ao abri-la (ela estava fechada como me havia sido entregue), encontram drogas
pesadíssimas guardadas. Eu explico que eu não sabia que o material que eu guardava em
casa era material entorpecente. Eu não sabia estar praticando o artigo 12 da Lei 6368. Esse
erro é de tipo ou de proibição? Esse erro é de tipo. Eu tinha feito uma leitura incorreta da
realidade. Eu imaginava que guardava joias, mas na realidade guardava material
entorpecente. Definir se o erro é evitável ou inevitável vai depender da análise do caso
concreto.

Situação diversa é a do holandês que vem passar férias no Brasil e reserva um quarto
em um hotel em Copacabana. Maravilhado com as belezas da cidade, assim que chega
veste-se e vai para o calçadão da praia e lá chegando, senta-se confortavelmente em uma

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cadeira e acende um cigarro de maconha. Passa uma patrulha que enxerga e o prende
imediatamente. Ao ser preso o holandês explica que não sabia que era proibido fumar
maconha no Brasil, pois em seu país era permitido. Esse erro é de tipo ou de proibição? É
um erro de proibição porque a leitura que ele fez da realidade não está equivocada. Ele
sabia onde estava, ele sabia o que carregava, ele sabia que aquilo era entorpecente e ele
fumou porque quis. A leitura equivocada dele deu-se com relação à licitude de seu ato. Se
era evitável ou não, vai depender da análise do caso concreto.

Nosso CP adotou a teoria limitada da culpabilidade Essa teoria faz uma distinção
entre as modalidades de erro. Quando agente erra seja com relação à realidade,
acreditando que há uma situação fática que não existe, esse erro dele será um erro de tipo.
Ora se o erro de um agente acerca dos elementos de um tipo permissivo é erro de tipo,
significa dizer que aquele que atua em descriminante putativa poderá incorrer no chamado
erro de tipo. Existe entretanto uma outra hipótese em que o erro será de proibição.
Segundo essa teoria quando ele será de proibição?

Erro de proibição indireto - Quando o agente atua amparado por uma causa de
permissão inexistente. É o caso por exemplo daquele sapateiro que coloca uma placa em
sua loja dizendo que a mercadoria que não for resgatada em trinta dias será vendida para
cobrir os custos. Aquele sapateiro acha que pode fazer isso, mas não pode. Não existe
nenhuma autorização legal para isso. Se ele efetivamente vender o sapato que alguém
deixou lá para consertar, ele pode estar praticando um delito. Ele estará em erro de
proibição. Ele acredita estar amparado por uma causa de justificação que não existe. Ele
pode, por exemplo, achar que está amparado pelo exercício regular do direito.

Outra hipótese de erro de proibição indireto é aquela em que o agente excede os limites
de uma verdadeira causa de exclusão. Alguém por exemplo está efetivamente em legítima
defesa, porém, por analisar mal os requisitos, acredita que pode agir para além do
necessário para sua defesa. Ele acha que a partir do momento em que se viu agredido pode
reagir e que essa reação não precisará parar no momento em que a agressão que sofria for
interrompida.

Desvios causais:

“A” reage a uma injusta agressão de “B” e acaba atingindo “C”. Estando caracterizada a
legítima defesa de A com relação à B, esse desvio no curso causal, indo atingir C, vai
implicar na punição de A?

Não, porque ao lado dos erros essenciais existem quatro modalidades de erro acidental.
São chamados erros acidentais, pois irrelevantes. Não trazem relevância à punição do
agente.

O primeiro é o erro sobre o objeto:

Esse é aquele que incide no objeto material do delito. A coisa ou pessoa sobre a qual
recai a ação delituosa. No crime de furto o objeto material é a res furtiva. Querendo furtar

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uma bolsa, me equivoco e furto uma bolsa parecida. Esse erro é irrelevante, pois o art. 155
diz “furtar coisa alheia”, qualquer que seja essa coisa alheia, não importando a que o
agente efetivamente desejava furtar.

A segunda modalidade é o erro sobre a pessoa:

Nessa modalidade o equívoco do agente não está sobre o objeto material, mas na
pessoa que o agente deseja atingir. Há um erro sobre a identificação da vítima. O agente
acredita estar diante da vítima pretendida, quando na verdade está diante de uma outra
pessoa. Esse erro também é irrelevante, já que o CP, por exemplo, no crime de homicídio:
“matar alguém”, matar qualquer pessoa, não importa quem, por tal motivo esse erro é
também irrelevante.

A terceira modalidade é o chamado erro na execução: arts. 73 e 74 do CP.

O erro na execução é um erro que também atinge a vítima, mas tem uma diferença. No
erro sobre a pessoa, o agente confunde as pessoas, enquanto que no erro de execução há
um desvio no curso causal, a vítima pretendida também está na cena delituosa, mas o
agente erra na execução. Não há equívoco quanto à identidade da vítima.

Os arts. 73 e 74, c/c o art. 20, § 3º, pregam a irrelevância desse erro. Nessas hipóteses
considera-se a conduta que o agente desejava praticar e não a que foi praticada. No
exemplo que foi dado, mesmo que A atinja C, se estava acobertado por legítima defesa,
ainda assim deve ser reconhecida esta, sendo, portanto, excluída a ilicitude de sua conduta.

O resultado diverso do pretendido é a quarta modalidade de erro acidental.

A diferença do erro na execução para o resultado diverso do pretendido é que no


primeiro ocorre um desvio no golpe. Desvio no curso causal. Exatamente o que o ocorre no
segundo, mas nesse se acaba por praticar crime diferente do pretendido. No resultado
diverso do pretendido há um desvio no golpe, que acaba resultando um desvio no crime.
“A” pretendendo atingir uma pessoa acaba por atingir um objeto, ou vice-versa. Nessa
hipótese se o agente estiver sobre o amparo da legítima defesa, ao atingir um objeto, da
mesma forma deverá ser reconhecida a excludente da ilicitude.

ESTADO DE NECESSIDADE

O estado de necessidade reside em uma colisão de dois interesses legítimos. Poder-se-ia


dizer que no estado de necessidade não há ninguém errado. Todos os personagens agem
licitamente. O problema é que uma causa humana ou proveniente da natureza pode
desencadear um fator de perigo. Em razão dessa situação de perigo e reconhecendo o
Estado que não pode estar presente em todos os momentos e lugares, permite-se que
todos os interesses em jogo se confrontem para que saia um deles vencedor.

No estado de necessidade, em regra, nenhum dos personagens envolvidos na luta pela


defesa do seu interesse provocou o perigo. De qualquer maneira, ainda que algum dos

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personagens seja o causador da situação de perigo, terá o direito de defender o seu


interesse.

São requisitos para o estado de necessidade:

A existência de um perigo atual:

É importante se determinar a noção de perigo. Na legítima defesa, o legislador fala em


“agressão injusta”, no estado de necessidade o legislador fala em “perigo atual”. O perigo é
um estado antecedente ao de dano. Quando o legislador diz que surge o estado de
necessidade em qualquer situação de perigo, ele não está exigindo que o agente já se
encontre em situação de dano ou lesão a seu interesse. Pode-se dizer que o perigo é a
iminência de dano. Presente este dano iminente o agente pode invocar o estado de
necessidade.

O perigo deverá ser atual. Na legítima defesa o legislador usou as expressões “atual ou
iminente”. No estado de necessidade o legislador só usa a expressão “atual”. Na verdade o
legislador trocou a expressão, que na legítima defesa é agressão, pela expressão “perigo”.
Portanto, perigo é ameaça de dano.

2 - não provocação voluntária do perigo:

Quanto a esse requisito existe discussão na doutrina sobre o que significa a expressão
“voluntariamente”. Para a maioria da doutrina essa expressão do art. 24 significa dolo.
Portanto, substituindo-se a expressão voluntariamente por dolosamente, chegar-se-ia a
conclusão de que aquele que provocou dolosamente o perigo, não poderia se valer do
estado de necessidade.

3 - inevitabilidade do comportamento lesivo:

O estado de necessidade decorre de um confronto de dois ou mais bens jurídicos,


estando todos tutelados pelo ordenamento. Um dos requisitos para se caracterizar o
instituto é a necessidade de que quem o alega, somente o faça se não tiver outro meio de
afastar o perigo. Esse requisito difere da legítima defesa. Na legítima defesa, ao contrário,
não se têm dois interesses legítimos, em que um terá que ser destruído para que se
preserve o outro, mas um legítimo e o outro não. Em razão dessa distinção, o legislador não
exigiu do agente que ele pudesse de outra forma enfrentar o perigo, ou seja, presente a
agressão injusta, a vítima poderá sempre reagir, ainda que ela pudesse fugir do local.

No estado de necessidade isto não ocorre. Se a fuga é um meio para que se evite a
causa do dano, o agente deve se afastar do local. No estado de necessidade há um maior
rigor do legislador, pois todos os bens envolvidos são tutelados pelo ordenamento. Se todos
são tutelados, só deve se chegar a uma situação de estado de necessidade quando não haja
outro meio de se salvar o bem jurídico. Esse requisito faz surgir a hipótese de estado de
necessidade recíproco, o que não é possível na legítima defesa.

4 - inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado:

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Esse requisito pode ser resumido na proporcionalidade na ação. É necessário que ao agir
o agente sopese, avalie os interesses em jogo, ou seja, para que se salve um objeto
patrimonial, não se pode sacrificar a integridade física ou a vida humana. Aqui, como na
legítima defesa, é preciso que se faça uma avaliação dos bens em perigo, para que se saiba
que o bem preservado seja, no mínimo, de igual valor ao bem sacrificado.

5- é idêntico ao da legítima defesa, no que diz respeito à titularidade do direito a ser


preservado:

Também nesse instituto pode-se alegar estado de necessidade na defesa de interesse de


direito próprio ou de outrem. Alguns autores entendem prudente que nos casos de bens
disponíveis, o agente só atue mediante expressa anuência do titular do direito, que pode
eventualmente preferir suportar o dano.Outros autores, por exemplo, como Fernando Capez
acham que não há a necessidade de se aguardar o consentimento do titular do bem dos
bens disponíveis, pois sempre há uma presunção de interesse do titular na preservação de
seus bens, portanto, qualquer um poderia agir na defesa desse interesse alheio e
disponível.

6 - finalidade de salvamento:

A finalidade de salvamento decorre da estrutura da teoria do delito. Como as causas de


justificação estão impregnadas pelo aspecto subjetivo, também nelas é preciso que se
comprove a finalidade valorosa. Se o que importa para que se puna alguém, é que a
conduta se mostre desvalorada, também para se isentar a conduta deverá ser valorosa.
Esse requisito revela a necessidade de se indagar se o agente, além de preencher os
requisitos de ordem objetiva, também tinha a finalidade de salvamento, ou seja, pretendia
agir em Estado de necessidade.

Há um exemplo do cachorro que late a noite toda, e o vizinho atira para matá-lo,
descobrindo-se que por coincidência o animal estava para morder uma criança. Nessa
situação não se pode afirmar ou reconhecer o estado de necessidade, pois a despeito de
cumprir os requisitos de ordem objetiva, a finalidade do agente não era de salvamento,
portanto, recusa-se a doutrina a reconhecer o estado de necessidade nessas situações.

7- ausência de um dever de enfrentar o perigo:

Só pode alegar o estado de necessidade a pessoa cuja função não tinha, dentre as suas
atribuições, a obrigação de enfrentar situações de perigo. O art. 24, §1º dispõe que essas
pessoas não podem alegar em seu benefício o estado de necessidade, devendo enfrentar o
perigo. Em regra, o bombeiro ou policial não podem, a pretexto do perigo inerente àquela
atividade, recusar-se.

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ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

O estrito cumprimento do dever legal decorre de uma noção de harmonia no


ordenamento. Nenhuma norma deve conflitar com outra. As normas vigentes em um
ordenamento devem ser compatíveis. Não se pode admitir que em um mesmo ordenamento
haja uma norma que determine a atuação de um agente público para cumprir um dever
legal, e outra que considere essa atuação uma prática criminosa.

A primeira exigência é que seja um agente público ou particular em exercício de função


pública. A segunda exigência é que o dever seja emanado de lei ou norma de amplitude
geral. Não pode se escorar nesse instituto, uma pessoa que diz estar agindo por
determinação a uma norma de natureza privada.

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

O exercício regular de direito parte do mesmo pressuposto de harmonia no ordenamento


jurídico. Não se pode admitir que no mesmo ordenamento, de um lado se permita o
exercício de um direito e de outro se puna o exercício, pois viola uma norma penal. Aquele
que exercita regularmente um direito, não pode ser punido por esse exercício.

No exercício regular do direito se tem uma aplicação mais ampla que o estrito
cumprimento do dever legal. Nesse, a norma deve ter caráter genérico, só podendo
alcançar os agentes públicos ou particulares em função pública. No exercício regular do
direito não há essa restrição, portanto, pode alegar exercício regular de direito não só
aquele que exercita um dever outorgado por lei, como pode também alegar o exercício
regular de direito aquele que o faz em decorrência de uma convenção particular. É o caso
das lesões provenientes de competições desportivas ou intervenções médicas e cirúrgicas.

Algumas observações devem ser feitas. É preciso que o exercício seja regular. Se o
agente extrapola o que a norma autoriza, irá responder pelo excesso. Outra questão diz
respeito às condutas culposas, não é somente aquele que extrapola dolosamente a norma
que será punido, mas também o que extrapola culposamente...

Ofendículas

Ofendículas são aparatos predispostos para a defesa em regra do patrimônio (elas


podem ser usadas para a defesa de qualquer direito). Quais são os eventos desses
chamados ofendículos? São os cacos de vidro, as pontas de lança no alto de muro, as
grades, enfim tudo aquilo que de alguma maneira se preste à defesa do patrimônio e que
possa como o próprio nome diz ofender aquele que pretenda causar uma lesão a esse
direito.

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O complicador no que tange as ofendículas é a definição de sua natureza jurídica. Tem


duas correntes doutrinárias. Alguns autores entendem que as ofendículas são uma hipótese
de exercício regular de direito, ou seja, aquele que predispõe defesa mecânica ou física para
a tutela de seus interesses está no exercício regular no direito, por exemplo, de defesa de
sua propriedade.

Para outros autores, isso é legítima defesa. Essas hipóteses de ofendículas são hipóteses
de legítima defesa pois eles só atuam na ocorrência de agressão. O caco de vidro ou a
ponta de lança no alto do muro só vai ofender aquele que pretenda lesionar seu direito.

Não há entre essas duas correntes uma que se possa dizer que seja majoritária. A
doutrina está dividida com relação à natureza jurídica das ofendículas. Só há uma
convergência nesse assunto que diz respeito aos chamados aparatos predispostos. Qual a
diferença entre os aparatos predispostos e os outras ofendículas? A doutrina cita o exemplo
dos aparatos mecânicos ou elétricos que atuam na ocorrência ou na iminência de uma
agressão (cerca eletrificada, portas com maçaneta eletrificada, etc.). Nesses casos, em que
os aparatos são ocultos e só atuam no caso de uma efetiva agressão, a doutrina é unânime
ao afirmar que a hipótese é de legítima defesa pré-ordenada.

É claro que nessas hipóteses há que sempre ressalvar a ocorrência de excesso. O agente
que predispõe esse tipo de aparato e dá ensejo à ocorrência de um resultado contra alguém
que não estava pretendendo lesionar o seu direito, vai responder pelo crime. Irá responder
pelo crime aquela pessoa que eletrifique um muro ao redor de sua propriedade, apesar
desse muro dar acesso à parte externa (calçada), na ocorrência de um incidente como o de
uma velhinha que tropeça e cai em cima do muro vindo a morrer eletrificada. O agente vai
responder pelo resultado que ele causar, a título de dolo ou culpa, conforme as
circunstâncias. De qualquer forma, tendo esse resultado atingido o inicial agressor, ocorrerá
a legítima defesa pré-ordenada. Qualquer tipo de aparato de defesa que atinja terceiro
inocente, quem o colocou ali irá responder. Um exemplo dessa hipótese é aquele em que
uma pessoa coloca um arame farpado ao redor da piscina de sua casa o que acaba por
provocar ferimentos em crianças que tentavam entrar para nadar (não há agressão injusta
das crianças). Ele responderá pelo menos a título culposo pela lesão que ele causar às
crianças. As ofendículas só vão isentar seja como exercício regular de direito seja como
legítima defesa quando se voltem contra o agressor injusto.

CULPABILIDADE

Primeiramente, cabe diferenciar os momentos em que se afere a culpabilidade no direito


penal.

Podemos falar do princípio da culpabilidade, pelo qual ninguém responde por um crime
sem ter agido com dolo ou culpa, que pela teoria finalista estão presentes na conduta, sem
os quais, ocorre a atipicidade.

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Pode-se falar ainda da culpabilidade como circunstância judicial a ser avaliada na


primeira fase de determinação da pena, permitindo a consideração de diferentes graus de
reprovação, que deverão ser utilizados pelo juiz para fixação da pena-base.

Por fim, e em seu aspecto mais amplo, considera-se a culpabilidade como fundamento
da pena e elemento integrante e essencial do crime. A doutrina majoritária e
esmagadora considera a culpabilidade como elemento do conceito analítico de crime,
embora ainda haja posições em sentido contrario, principalmente por parte de Damásio de
Jesus.

Considerando a culpabilidade como elemento do conceito de crime, aquele que adquire


produto de crime praticado em concurso com um inimputável, responde por receptação?

Esse é um dos principais argumentos da corrente que não adota a culpabilidade como
elemento do crime, mencionando que nesse caso o agente não responderia pela receptação.
No entanto, adotando-se a teoria da acessoriedade limitada, para que haja a participação,
basta que o fato seja caracterizado como um injusto penal, ou seja, um fato típico e ilícito,
para que o partícipe seja chamado a responder.

1 – elementos da culpabilidade

- imputabilidade
- potencial consciência da ilicitude
- exigibilidade de conduta conforme o direito

DA INIMPUTABILIDADE

artigo 228, CF

artigo 27 do CP

As normas acima dispõem acerca da inimputabilidade do menor de 18 anos, fixada


por caráter puramente biológico, estabelecendo que a eles se aplica a legislação especial.
Tal lei a ser aplicada é o estatuto da Criança e do Adolescente – lei 8069/90.

A prova da menoridade, a princípio, se dá por documento hábil. Na dúvida, pode ser


solicitado exame médico ósseo, para comprovação da idade do agente.

O ECA, em seu artigo 2o, define que criança é o ser humano com até 12 anos
incompletos. Adolescente é aquele a partir dos 12 anos completos até os dezoito anos
incompletos.

Criança e adolescente não praticam crime, mas ato análogo a crime, denominado de ato
infracional. As consequências desse ato são diversas, conforme se trate de criança ou
adolescente. À criança que pratica ato infracional, se imporá medida protetiva (artigo 101

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do ECA). Ao adolescente que pratique ato infracional, se imporá medida sócio educativa
(art. 112 do ECA).

Ressalte-se que o ECA, em seu artigo 104, parágrafo único, adota a teoria da atividade,
igual à adotada pelo art. 4o. do CP. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Dessa forma, se o agente
pratica o fato típico, quando tem 17 anos e 11 meses, mas o resultado só ocorre quando ele
já tem 18 anos completos, a ele não se aplicará as disposições do CP, pois na época da
prática do ato ele era considerado inimputável.

A doença mental, consoante o artigo 26, caput do CP, é causa de exclusão da


imputabilidade, assim como o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, sempre
que em virtude dessas situações, o agente for inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Não se deve confundir o caput do artigo 26 com o seu parágrafo primeiro. O caput trata
de inimputabilidade, ao passo que o parágrafo primeiro trata da semi-imputabilidade. No
primeiro caso, o agente fica isento de pena. Ele é absolvido e a ele é aplicada uma medida
de segurança. No segundo caso, o agente é condenado, mas pela semi-imputabilidade, a
pena é reduzida.

Diz o artigo 28 que a emoção e paixão não excluem a imputabilidade penal. Quis o
CP possibilitar a punição dos chamados crimes passionais.

Embora não sejam causas de inimputabilidade, o CP não deixou de os valorar. A violenta


emoção é prevista como circunstancia atenuante (art. 65, III, c, CP) quando o agente
comete o fato sob a influencia de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima.

O artigo 28, II, CP, dispõe que não excluem a imputabilidade a embriaguez
voluntária ou culposa, pelo álcool ou substancia de efeitos análogos.

Primeiramente, para conseguirmos visualizar se a embriaguez pode ou não excluir a


imputabilidade, faz-se necessário analisarmos todas as hipóteses de embriaguez:

Embriaguez voluntária – é aquela em que o agente quer beber com a finalidade de se


embriagar

Embriaguez culposa – o agente bebe voluntariamente, mas ele não tem a intenção de se
embriagar, embora inobserve o seu dever de cuidado e acabe se embriagando. Ele bebe
voluntariamente e fica bêbado culposamente.

Embriaguez preordenada – o agente bebe para ficar embriagado, para cometer o crime.

Embriaguez patológica – é causada por doença. O agente está bem, até que ingere certa
quantidade (pequena) de álcool ou substancia de efeitos análogos. Não está embriagado,
mas age como se estivesse. O exame médico legal dá negativo.

Embriaguez proveniente de caso fortuito – caso fortuito é o evento atribuído ao acaso.

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Embriaguez proveniente de força maior – força maior é a que provêm do homem. É


utilizado certo constrangimento em face do agente para que ele fique embriagado.

Agora que já vimos cada caso de embriaguez, analisemos suas conseqüências:

Embriaguez voluntária e culposa – artigo 28, II – não isentam o réu de pena

Embriaguez preordenada – é circunstancia agravante – art. 65, II, l, CP

Embriaguez proveniente de caso fortuito ou forca maior – se for completa e ao tempo da


ação, o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento, ficará isento de pena – art. 28, parágrafo
1o.

Se o agente não possuía a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de


determinar-se de acordo com esse entendimento, a pena será reduzida de um a dois terços.

Quanto à coação irresistível, prevista no artigo 22 do CP, ela pode ser física ou
moral. A primeira é chamada de vis absoluta, ao passo que a segunda é chamada de vis
compulsiva.

A coação física irresistível exclui a vontade, tornando o fato atípico. Vimos que o
dolo é a vontade livre e consciente. Se há uma coação física irresistível, não se pode falar
em vontade livre e consciente.

Já a coação moral irresistível exclui a culpabilidade, pela falta de um de seus


elementos, qual seja, a exigibilidade de conduta conforme o direito (chamada de
exigibilidade de conduta diversa, por alguns). Nesse caso, a vontade do agente é viciada,
sendo punível apenas o autor da coação. Trata-se de autoria mediata.

Em caso de obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal, só é


punível o autor da ordem. Já se a ordem for manifestamente ilegal, também é punível o
inferior hierárquico. O subordinado só será punido se percebe que a ordem constitui um ato
ilícito, diante das circunstâncias por ele conhecidas. Se presentes indícios suficientes para
que ele perceba a ilicitude e ainda assim, ele não percebe, também será responsabilizado.
Cumprindo ordem manifestamente ilegal, o subordinado responde em co-autoria com o
superior hierárquico.

CONCURSO DE CRIMES (dentro do tema Penas)

1 - Concurso Material – art. 69

Quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão (pluralidade de


condutas) pratica dois ou mais crimes (pluralidade de crimes). Os crimes podem ser
idênticos ou não. Adota o sistema do cúmulo material.

O que seria pluralidade de condutas? Como diferenciar pluralidade de


condutas da pluralidade de atos?

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Conduta é comportamento humano voluntário voltado a uma finalidade –


conceito finalista.

Quando um agente dá cinco pauladas em uma pessoas ela pratica uma


conduta dividida em cinco atos.

2 - Concurso Formal – art. 70

Distingue-se do material porque aqui há uma única conduta e com ela o agente
pratica vários crimes idênticos ou não. Será homogêneo se os crimes forem idênticos ou
heterogêneo se diferentes.

O formal próprio adota o sistema da exasperação – art. 70, 1 parte. O legislador


aqui foi mais brando porque a vontade do agente não foi a de realizar vários resultados. O
que justifica o tratamento mais brando do que no concurso material é a unidade de
desígnio, ou seja, de querer realizar um só resultado e não vários. O abrandamento não
ocorre em razão do agente atuar com apenas uma conduta enquanto que no material ele
realiza várias.

Regra: os dois crimes tem que ocorrer a título de culpa. ex.: no trânsito atropela e
mata duas pessoas. Também quando o primeiro crime decorre de dolo e o segundo de
culpa, como ocorre na aberratio ictus ou aberratio criminis com duplo resultado.

Se o agente tiver desígnios (vontade/desejo/ fim almejado/ objetivo) autônomos, ou


seja, atuar com dolo em cada um dos crimes querendo praticar vários resultados, o
concurso será o impróprio/imperfeito e o sistema a ser adotado será o do cúmulo
material – art. 70, 2 parte. A regra então é que será impróprio quando os crimes são todos
dolosos. Pergunta-se: esse segundo crime também abrange o dolo eventual? Doutrina:
para Capez e Patrícia Glioche será impróprio se houver dolo, seja ele direto ou eventual;
para Fragoso só será impróprio se houver dolo direto em todos os crimes.

Por que que em um assalto dentro do ônibus o agente responde em concurso formal
próprio? Para a doutrina, se o agente assalta várias pessoas ele tem dolo em assaltar cada
uma delas, e portanto o concurso deveria ser impróprio com cúmulo material, o que é
bastante grave. Tecnicamente esse é o entendimento correto. Ocorre que por questões de
política criminal a juris utiliza-se de um jogo de palavras para aplicar o sistema da
exasperação, afirmando que o dolo do agente é de assaltar o ônibus e não de assaltar
várias pessoas, portanto, não haveria desígnio autônomo. Entende-se que há única
conduta com vários atos – isso quando o agente anuncia o assalto para todos. Se o agente
senta ao lado de um passageiro e rouba-o, depois senta do lado de outro e assim vai indo,
pratica crime continuado e não concurso formal.

Em um edifício entende-se que ao entrar em cada uma das unidades o agente


pratica uma conduta. Portanto ele pratica crime continuado.

3 – Multa

Art. 72: as penas de multa nos concursos não sofrem a exasperação, ou seja, são
aplicadas distinta e integralmente. Aplicação do sistema do cúmulo material mesmo nos
crimes formais próprios.

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4 - Crime continuado – art. 71 CP

Requisitos:

i) Mais de uma ação ou omissão

ii) Pratica dois ou mais crimes da mesma espécie: o que são crimes da mesma
espécie? Majoritário: são crimes que protegem o mesmo bem jurídico, a vida, o patrimônio
etc.

No STF são da mesma espécie aqueles previstos no mesmo tipo.

iii) Mesmas condições de tempo: a doutrina e juris estabelecem como parâmetro 30


dias.

iv) Mesmas condições de lugar: proximidade. Em Estados diferentes não haverá


continuidade. Mas se dentro de um mesmo Estado, em Municípios diferentes poderá haver
ou não.
v) Modus Operandi: se o agente atua com parceiros diferentes nos crimes, o modus
operandi já não é o mesmo.

Parte da doutrina entende que o elemento subjetivo é desnecessário. Outra parte


da doutrina exige o dolo total também chamado de programação inicial. Ainda que não
haja a programação inicial, se o crime seguinte decorrer do primeiro haverá continuidade,
também quando o agente se aproveita das circunstâncias do primeiro para efetuar o
segundo, ex, o agente vai roubar um cofre e lá dentro há um bilhete dizendo que o resto do
dinheiro está em outro Município e o agente vai lá furtá-lo. Desconsiderar esse elemento é
incentivar o delinqüente habitual. A continuidade foi feita para beneficiar o delinqüente
eventual devendo o habitual ser punido mais severamente e não o contrário.

Art. 71, par. 1: permite ao juiz que triplique a pena se os crimes forem dolosos,
contra vítimas diferentes e praticados com violência ou grave ameaça. Pode ser aplicado no
roubo continuado por ex.

DAS PENAS

DOSIMETRIA DA PENA
O art. 68 dispõe acerca do cálculo da pena, estabelecendo o critério trifásico para sua
aplicação.
A dosimetria da pena, ou seja, sua aplicação, deve ser feita de acordo com o critério
traçado pelo art. 68 do CP. Primeiramente são consideradas as circunstâncias do art. 59, as
denominadas circunstâncias judiciais. Posteriormente, as circunstâncias agravantes e
atenuantes (circunstâncias legais genéricas – art. 61 a 66 do CP), e por último as causas de
aumento e de diminuição.

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A pena base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59, em seguida serão
consideradas atenuantes e agravantes (pena intermediária) e por último, as causas de
aumento e diminuição. Expressamente, o código adotou o critério trifásico.
O critério é trifásico.
Passemos à análise de cada uma das fases da dosimetria da pena, a serem realizada
pelo magistrado ao proferir uma sentença condenatória:

4.1. 1a fase – pena base

Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta


social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra
espécie de pena, se cabível.

O caput do artigo elenca as circunstâncias judiciais. Passemos a analisar cada uma


delas:
• Culpabilidade
Aqui, o juiz considera a maior ou menor reprovação. Nunca se deve confundir a
culpabilidade como elemento essencial do conceito de crime com a culpabilidade a ser
utilizada na dosimetria da pena.

• Antecedentes
Só tem maus antecedentes o que foi definitivamente condenado, mas cuja
condenação não tenha gerado reincidência, porque se gerou, ela será considerada na 2a
etapa (súmula 241 do STJ – proíbe considerar reincidência e maus antecedentes como
circunstância agravante e judicial, simultaneamente). Ver súmula 444, STJ – Não se pode
considerar como maus antecedentes processos e inquéritos em andamento. Desta forma, só
pode haver a consideração de maus antecedentes quando presente uma sentença
condenatória transitada em julgada que não possa ser utilizada como reincidência.
Quando uma condenação com trânsito em julgado não configuraria reincidência? Nas
seguintes situações:
– o agente pratica um crime de furto, alguns meses depois pratica um crime de
roubo. Na sentença condenatória pelo crime de roubo, não se pode reconhecer a
reincidência, pois consoante o art. 63 do CP, é reincidente aquele que pratica novo
crime depois de ter transitado em julgado a sentença que o condenou por um crime
anterior. No nosso exemplo, o agente praticou um crime depois de ter praticado
outro, mas não depois de ter sido condenado pelo primeiro. Imaginemos, então,
que a sentença condenatória pelo furto tenha transitado em julgado durante o
processo em que o agente respondia pelo roubo. Neste caso, pode o magistrado
reconhecer a existência de maus antecedentes. Se não houver sentença transitada

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em julgado no momento em que o juiz aplicar a pena do roubo, não poderia ele
considerar o processo em andamento como maus antecedentes;
– o agente já possuía uma sentença condenatória transitada em julgado quando da
prática do novo crime, porém já se passaram mais de cinco anos da extinção da
pena. Consoante o art. 64, não estaria configurada a reincidência, podendo o
magistrado reconhecer os maus antecedentes;
– se a sentença condenatória anterior, transitada em julgado, houver condenado o
agente por crime militar próprio ou crime político, pois também consoante o art.
64, II do CP não se pode considerar como reincidência;
– no caso de sentença condenatória transitada em julgado, mas condenando o sujeito
por uma contravenção penal, exceto no caso da prática de nova contravenção, pois
neste caso ele será reincidente pelo art. 7o da Lei de Contravenções Penais (DL
3.688/41).

• Conduta social
É o comportamento no meio social, na família, no trabalho. Considera-se como o
agente se comporta no meio social no qual vive, sua conduta para com os demais.

• Personalidade
Pela doutrina, é a síntese das qualidades morais e sociais do indivíduo.

• Motivos do crime
Tudo aquilo que impeliu a atuação do agente. No entanto, deve ser feita uma
ressalva: se a motivação foi fútil ou torpe, ela deve ser considerada como agravante e não
na pena base, pois expressamente previstas no art. 61, II, a do CP. Se for de relevante
valor social ou moral também será considerada na 2a fase, como atenuante.

• Circunstâncias
É o modus operandi. Não se pode dar uma mesma pena a um roubo de banco e a um
roubo de um relógio na rua. O magistrado deve analisar em que circunstâncias o crime foi
cometido.

• Consequência do crime
Deve ser considerada como aquela que extrapola a normal do tipo. N

• Comportamento da vítima
O magistrado pode analisar se a vítima colaborou para a prática do crime. Se perceber
a presença desta circunstância, poderá diminuir a pena base.

2a fase – pena intermediária – circunstâncias agravantes e circunstâncias


atenuantes
Estabelecida a pena base, o juiz parte do quantum fixado para considerar, na segunda
fase, as agravantes e atenuantes.

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As circunstâncias agravantes estão elencadas nos arts. 61 e 62 do CP. Os arts. 63 e


64 traçam regras acerca da reincidência. As circunstâncias atenuantes estão elencadas nos
arts. 65 e 66 do CP. No Código Penal, não existem agravantes ou atenuantes previstas fora
deste rol. No entanto, algumas leis especiais trazem agravantes e atenuantes para os
crimes definidos nesta lei. Podemos citar a Lei no 11.343/06, que possui algumas
agravantes específicas para o crime de tráfico de drogas, por exemplo. Estas circunstâncias
também são consideradas pelo magistrado na fixação da pena intermediária.
Na segunda etapa, a pena também não pode ficar abaixo do mínimo ou acima do
máximo. O enunciado 231 da Súmula do STJ veda que a pena, na fase intermediária, fique
abaixo do mínimo. Logo, se abaixo do mínimo não pode, devemos entender que muito
menos poderá ficar acima do máximo.
Qual é o quantum para agravar ou atenuar a pena nesta fase? Não há na lei, caberá
ao juiz no caso concreto a tarefa de aumentar de x ou y, de acordo com seu prudente
critério, dentro da proporcionalidade.
Ressalte-se que o CP, no art. 67, dispõe acerca das circunstâncias que preponderam,
ou seja, aquelas que o juiz deve dar um peso maior em relação às demais existentes. Estas
circunstâncias são as que dizem respeito ao motivo, à personalidade e à reincidência. A
menoridade, por exemplo, é considerada como preponderante, dentro da personalidade. E
se o réu é reincidente e menor de 21 anos? Alguns sustentam que prepondera a
menoridade e desconsidera pela reincidência. Também há quem entenda que o juiz teria de
aumentar pela reincidência, dizendo de quanto, e depois diminuir, pela menoridade, dando
maior valoração à menoridade, o que obedeceria a preponderância, mas não excluindo as
outras. O entendimento majoritário é no sentido de que a menoridade prepondera sobre a
reincidência, embora esta não deva ser deixada de lado.
Para a prova, a agravante mais importante é a reincidência:
I – Reincidência
A reincidência é conceituada pelo legislador no art. 63 do CP e no art. 7o da LCP (DL
3.688/41).
Só é reincidente aquele que voltar a delinquir após já ter sido condenado no Brasil ou
no estrangeiro por crime com decisão transitada em julgado. Pela LCP, aquele que voltar a
praticar contravenção penal após o trânsito em julgado de sentença condenatória pela
prática de contravenção no Brasil ou crime no Brasil ou no estrangeiro.
Em nosso código, o réu é reincidente ou primário. Quem não é reincidente é primário.
Alguns chamam aquele que não é reincidente, mas tem maus antecedentes, de
tecnicamente primário.
O art. 64 estabelece o que deve e o que não deve ser considerado para efeito de
reincidência. No inciso I estabelece a partir de quando não mais se considera a reincidência.
Vamos entender o que dispõe este artigo: já vimos que, a princípio, o agente é considerado
reincidente quando pratica novo crime após o trânsito em julgado de sentença que o tenha
condenado por crime anterior no Brasil ou no estrangeiro. No entanto, se decorridos cinco
anos do cumprimento ou da extinção da pena, o agente não pode mais ser considerado
reincidente. Imaginemos que alguém tenha sido condenado a uma pena de reclusão de
cinco anos pelo crime de roubo. Transitada em julgado, o condenado começa a cumprir sua
pena. Não é a partir deste momento que contaremos os cinco anos, mas sim a partir do
momento em que o condenado cumpre esta pena. Sendo assim, quando cumprida ou

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extinta a pena, por qualquer motivo, passa-se a contar o período de cinco anos, após os
quais não mais poderá ser considerada a reincidência. Continua o inciso: “computado o
período de provas da suspensão ou do livramento condicional”. No livramento condicional, o
cidadão às vezes tem seis anos de condenação. Ele é solto após o cumprimento de um terço
da pena, por ser primário e portador de bons antecedentes, mas está em liberdade
condicional. No período em que ele está solto, a pena acaba quando acaba o prazo do
livramento. Mas para efeito de reincidência, leva-se em consideração todo o período de
prova, por quê? Porque ele está solto nesse período. O que se quer dizer é: se estiver solto,
após extinta a pena, e não delinquiu durante cinco anos, em tese, está ressocializado, então
perderá a mácula da reincidência. Como o que vale é o período que o agente está solto e
não voltou a delinquir, e como no livramento condicional o período que ele está solto
também é considerado, o mesmo raciocínio é estabelecido em relação ao sursis (suspensão
condicional da pena).

3a fase – causas de aumento e causas de diminuição


Após fixar a pena intermediária, o juiz parte do quantum fixado para aumentar (ou
majorar) a pena ou reduzi-la (diminuí-la ou minorá-la).
Sempre que estivermos diante de expressões que configurem o aumento ou a
diminuição da pena por meio de quantum determinados, estaremos diante de causas que
devem ser consideradas na terceira fase da aplicação de pena. Diferente da qualificadora
(que estabelece uma pena própria, só que mais elevada que a do tipo básico) ou do
privilégio (que estabelece uma pena própria, porém menor), esta pena será o ponto de
partida do juiz para começar a dosimetria da pena. Logo, não há de se confundir causa de
aumento com qualificadora e privilégio com causa de diminuição. As causas de aumento e
de diminuição estão espalhadas ao longo do Código Penal e podem estar presentes também
em leis especiais.
São alguns exemplos de causas de diminuição: art. 14, II; art. 16, art. 21, 2a Parte;
art. 26, par. único; art. 28, § 2o; art. 29, § 1o; art. 121, § 1o; e art. 155, § 2o do CP.
São alguns exemplos de causa de aumento: art. 121, § 4o; art. 168, § 1o, art. 157, §
2o, I a V do CP.
Na terceira etapa, aplicando causa de diminuição ou causa de aumento, não há
qualquer impedimento para que a pena fique abaixo do mínimo ou acima do máximo. O
entendimento que existe na 2a etapa não existe na 3a.
Considerando todas as circunstâncias, passando pelo sistema trifásico, o magistrado
irá achar a pena da condenação. Achando-a, ele irá para o art. 59, que em seu inciso III
determina o regime inicial de cumprimento de pena, ainda na sentença. Esse regime inicial
será aplicado de acordo com o art. 33, §§ 2o e 3o. Se a pena já encontrada for superior a 8
anos, o regime inicial é o fechado. Acima de 4 até 8, se o réu é primário, semi-aberto e até
quatro, réu primário, o regime é o aberto. Isso pode ser mudado de acordo com o § 3o, de
acordo com as circunstâncias do art. 59.
Fixado o regime inicial, o magistrado irá observar o art. 59, IV, e verá a possibilidade
da substituição da pena privativa de liberdade por outro tipo de pena. Ele tirará a pena que

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já fixou e substituirá por outra. Mas o juiz deve observar a fixação do regime (art. 33, par.
4º) ,.
O próximo passo é verificar se é cabível a substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos ou multa (art. 44). Caso não seja cabível, o juiz verifica a
possibilidade de aplicação do sursis (art. 77). Necessariamente, nesta ordem!

DETRAÇÃO PENAL
Art. 42 do CP
O tempo em que o agente ficou preso provisoriamente ou internado deve ser
incondicionalmente abatido do tempo de cumprimento de pena fixada na sentença.

ESPÉCIES DE PENAS

Espécies
de penas

Pena privativa Pena de


de liberdade multa

Reclusão Prisão
Reg. fechado, simples
semi-aberto ou aberto contravenção

As espécies de penas estão expressamente elencadas no art. 32 do CP.

6.1. Penas restritivas de direito


As espécies de penas restritivas de direito estão elencadas no art. 43 do CP. São elas:
• prestação pecuniária;
• perda de bens e valores;
• prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
• interdição temporária de direitos;
• limitação de fim de semana.

Ressalte-se que a prestação pecuniária, espécie de pena restritiva de direito, não deve
ser confundida com a multa. A multa também pode ser uma pena alternativa, substitutiva,
mas não é espécie de pena restritiva de direito, a qual pode ser convertida em prisão. A
multa não pode, são penas diferentes.
O tipo penal, pelo menos dentro do CP, não prevê pena restritiva de direitos. O tipo só
descreve a pena privativa de liberdade e a multa como pena principal (diferente da

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substitutiva). Já a pena restritiva de direito é sempre substitutiva. O juiz, na sentença


condenatória, não pode aplicar pena restritiva de direito sem aplicar a privativa de
liberdade, porque a privativa é descrita no tipo, exceto no caso de leis especiais, como a Lei
no 9.605/98, que prevê penas restritivas de direito como penas principais para a pessoa
jurídica.
Para que seja possível a substituição, devem ser observados os requisitos do art. 44
do CP.

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser
feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um
ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena
restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente
recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime.
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade
quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No
cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta
dias de detenção ou reclusão.
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro
crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar
de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior.

A pena restritiva de direito não é autônoma? É autônoma no sentido de que só ela


será aplicada, mas não há cominação. Qual seria o tempo de cumprimento? Diz o art. 55
que ela dura o mesmo tempo da privativa de liberdade. Essa é a regra, mas há exceções. O
art. 55 permite que a prestação pecuniária e, por questões óbvias, a perda de bens e
valores tenham duração diversa da fixada para a pena privativa de liberdade que será
substituída. Além disso, excepciona o § 4o do art. 46, que estudaremos um pouco adiante,
no que tange à prestação de serviços à comunidade.

Requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito
Art. 44, I

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A primeira parte do inciso I se refere ao crime doloso, porque no crime culposo,


independente da pena, o sujeito pode obter a substituição. Se o crime for doloso a pena
deve ser de até quatro anos, e o crime tem que ser sem violência ou grave ameaça à
pessoa.
E no caso de tráfico ilícito de entorpecentes? É possível a substituição da pena
privativa de liberdade pela pena restritiva de direito nos crimes hediondos ou assemelhados
a hediondos?
Sim, o STF declarou a inconstitucionalidade da proibição prevista no art. 44 da Lei
11343/06.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei
são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e
liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de
direitos.

Inciso II
Se uma pessoa praticou um crime doloso, foi condenada com trânsito em julgado, e
depois praticou outro crime doloso, pela redação do inciso II não caberia a substituição,
mesmo que o crime anterior tivesse sido punido só com multa, mas na verdade a regra
virou exceção, pois o § 3o abre possibilidade para a substituição quando houver a
reincidência, exceto no caso de reincidência específica, ou seja, reincidência na prática de
mesmo crime. O reincidente genérico fica a critério do juiz.
Inciso III
É um requisito subjetivo, em que o juiz irá analisar se a pessoa merece ou não a
substituição.

As circunstâncias do art. 44 são cumulativas.


E se o juiz aplica a pena restritiva, transita em julgado. O condenado é intimado a
comparecer na VEP. Quando ele começa a cumprir, começa a sua pena. Essa pena restritiva
de direitos pode voltar a ser privativa de liberdade? Pode. O nome técnico é conversão, cuja
possibilidade é tratada no § 4o. A pena restritiva pode ser convertida em pena privativa de
liberdade.
Já a multa jamais pode ser convertida em pena privativa de liberdade.

Espécies de penas restritivas de direito


– prestação pecuniária
A prestação pecuniária é dinheiro que o condenado vai pagar para a vítima e seus
dependentes, ou para entidade com destinação social. No entanto, ela pode consistir em
prestação de outra natureza. Exemplo: cesta básica.
Prestação pecuniária é a mesma coisa que multa?
Não. A multa é paga ao Estado.

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– perda de bens e valores


Está disciplinada no § 3o do art. 45.
Na perda de bens e valores, o condenado perde bem ou valor seu, próprio. O detalhe
é que ele perde bem ou valor que obteve licitamente na vida, de forma correta.
O patrimônio obtido com o crime também é perdido, mas como efeito da condenação
(art. 91, inciso II, b, é como se fosse um confisco), mas não como pena restritiva de direito.
Esta espécie de pena restritiva de direitos não tem a mesma duração da pena
privativa de liberdade.

– prestação de serviços à comunidade ou entidade pública.


Está descrita no art. 46 do CP. É aplicável às condenações superiores a seis meses de
privação de liberdade. Já temos aí uma característica especial para a prestação de serviços
à comunidade. A lei a vincula às penas privativas de liberdade superiores a seis meses.
Cada hora de prestação de serviços corresponde a um dia de condenação. O juiz deve
converter a pena privativa de liberdade em dias, para saber quantas horas deverá trabalhar.
Ex.: um ano e um mês de privativa de liberdade. Quantas horas essa pessoa terá de
trabalhar? 395 horas. Se cumprir uma hora por dia, ela irá terminar no mesmo tempo da
pena privativa de liberdade.
Vejamos o § 4o:
Ela pode, por exemplo, cumprir duas horas por dia, e aí irá terminar em 6 meses e 15
dias.

– interdição temporária de direitos


Para a interdição temporária de direitos não há exceção, ela dura o mesmo tempo da
pena privativa de liberdade.
As espécies de interdição temporária de direitos estão elencadas no art. 47 do CP.
As três primeiras são chamadas de especiais, porque só podem ser aplicadas em
determinados casos, já a do inciso IV é comum ou geral, podendo ser aplicada em qualquer
caso.
Vejamos as especiais:
I – proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de
mandato eletivo;
II – proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
As espécies acima só podem ser aplicadas no caso do art. 56, ou seja, quando o crime
for cometido no exercício de profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que
houver violação dos deveres que lhes são inerentes.
Vejamos a diferença para o art. 92, I, que dispõe acerca da perda de cargo, função
pública ou mandato eletivo: nele, temos um efeito civil da condenação. Se é efeito civil, é
uma perda do exercício do emprego, cargo ou função, é para sempre. Já no art. 47 dura o
tempo da pena privativa de liberdade, fica sem exercer durante aquele período.
A prevista no inciso III – suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir
veículo – também é especial, porque só é aplicada no caso do art. 57 – crime culposo de

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trânsito. Pensamos logo no código de trânsito, e lá a pena de suspensão é pena principal.


Conclusão: não se aplica o art. 47, III e o art. 57. Estaria revogado? Alguns defendem que
sim. Na prática, esses artigos estão esvaziados, pelo disposto no código de trânsito.
O inciso IV é uma interdição genérica, pode ser aplicado a qualquer crime, desde que
tenha alguma finalidade prática, que esteja ligado de alguma forma com a prática do crime,
pois só assim estarão presentes as finalidades da pena.
O local que não poderá ser frequentado pelo condenado dependerá do crime que ele
cometeu. Baile funk é um lugar que geralmente os juízes proíbem, pela grande ocorrência
de tumultos, assim como torcida organizada, etc.

– limitação de fim de semana


Está prevista no art. 48 do CP.
Essa pena dura o mesmo tempo da privativa de liberdade.

Ressalte-se que o juiz, na fase de execução, pode modificar uma pena por outra, se o
condenado passa a não poder mais cumprir uma determinada.

Multa substitutiva
Existe ainda a possibilidade de o juiz substituir a pena privativa de liberdade por
multa, mesmo que não exista cominação de multa no tipo, o que é o caso da multa
substitutiva, que entra no lugar da pena privativa de liberdade.

Quando o juiz pode substituí-la pela multa?


Vejamos o art. 60, § 2o do CP: será possível quando a pena privativa de liberdade que
o juiz aplicou, após o sistema trifásico, for de até seis meses (incluindo seis meses). Esse
artigo trata da multa substitutiva, mas ele é complementado pelo art. 58, parágrafo único.
Ver o art. 44, § 2o, que fala em um ano. No entanto, deve-se ressaltar que o art. 44 exige a
ausência de violência ou grave ameaça, o que não ocorre no art. 60, § 2o. Sendo assim, ele
não é de total inutilidade, apenas será difícil encontrar um crime com violência ou grave
ameaça que o juiz aplique uma pena de até seis meses, mas, em tese, é possível ainda a
aplicação do art. 60, § 2o.
Imaginemos dois exemplos distintos:
Alfredino é condenado pelo crime de lesão corporal leve (art. 129, caput), a uma pena
de oito meses de detenção.
Justiniano é condenado pelo mesmo crime, mas a uma pena de detenção de seis
meses. Justiniano poderia se beneficiar da substituição, pois incidiria o disposto no art. 60,
§ 2o do CP, que não exige o requisito do inciso I do art. 44 (não ter sido o crime cometido
com violência ou grave ameaça), mas Alfredino não poderia beneficiar-se da substituição,
pois o art. 44, § 2o, que dispõe que o juiz pode aplicar uma pena restritiva de direito ou
multa, exige o cumprimento de todos os requisitos constantes do art. 44, inclusive não ter
sido o crime cometido mediante violência ou grave ameaça.
A natureza jurídica dessa multa é de multa substitutiva, não multa cominada no tipo.

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E se o tipo penal tiver cominação de multa?


Imaginemos que a pessoa praticou um crime que tem cominação de pena privativa de
liberdade e multa, o juiz aplica o sistema trifásico e acha uma pena de quatro meses na
privativa, fixa o regime inicial aberto, vê que pode substituir a pena, substitui por multa.
São duas multas, porque a natureza jurídica delas é diferente. Uma é substitutiva, outra é a
cominada no tipo. O juiz aplica as duas, fixa a quantidade de dias-multa, o valor para cada
dia-multa, e depois, na hora de pagar, há a soma dos valores encontrados em cada uma
delas.
A soma das duas multas só será possível se o crime estiver previsto no CP, pois se
estiver previsto em leis especiais, há a incidência do enunciado 171 da Súmula do STJ, que
diz que é vedado ao juiz substituir a privativa de liberdade por multa quando o tipo penal de
uma lei especial também tiver cominado a pena de multa. A contrário senso, se estiver no
CP, pode substituir.
Uma vez aplicada a multa, seja substitutiva ou não, ela não pode ser convertida em
pena de prisão. É considerada dívida de valor, deverá ser executada, e não pode, em
hipótese alguma, ser convertida em prisão.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (SURSIS)

CAPÍTULO IV
DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA
Requisitos da suspensão da pena
Art. 77 – A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2
(dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde
que:
I – o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, autorizem a concessão
do benefício;
III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste
Código.
§ 1o – A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do
benefício.
§ 2o – A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro
anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado
seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a
suspensão.
Art. 78 – Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1o – No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à
comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art.
48).

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§ 2o Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de


fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem
inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo
anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
Art. 79 – A sentença poderá especificar outras condições a que fica
subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação
pessoal do condenado.
Art. 80 – A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem
à multa.
Revogação obrigatória
Art. 81 – A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I – é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;
II – frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua,
sem motivo justificado, a reparação do dano;
III – descumpre a condição do § 1o do art. 78 deste Código.
Revogação facultativa
§ 1o – A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre
qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por
crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos.
Prorrogação do período de prova
§ 2o – Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou
contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o
julgamento definitivo.
§ 3o – Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la,
prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado.
Cumprimento das condições
Art. 82 – Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se
extinta a pena privativa de liberdade.

1. NATUREZA
Medida descarcerizadora que tem por finalidade evitar o aprisionamento daqueles que
foram condenados a penas de curta duração.
Quanto à natureza jurídica da suspensão condicional da pena, não há consenso entre
os doutrinadores. Atualmente a doutrina majoritária vê no instituto em exame um direito
público subjetivo do condenado (ver arts. 156 e 157 da Lei no 7.210/84 – LEP), havendo
ainda quem sustente tratar-se de faculdade do magistrado.

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A suspensão condicional da pena (sursis) está prevista no art. 77 do CP, e para que
sua concessão seja possível, é necessário que o agente tenha respondido por um processo
e tenha sido condenado, pois a pena que será suspensa é aquela em concreto aplicada na
sentença. Este instituto não se confunde com a suspensão condicional do processo previsto
no art. 89 da Lei no 9.099/95, pois neste último não haverá o processo, logo, não será o
agente condenado. O MP, ao oferecer a denúncia, propõe sua suspensão condicional, com
base na pena mínima em abstrato, que deve ser igual ou inferior a um ano.

2. REQUISITOS
O art. 77 do CP elenca os requisitos objetivos e subjetivos necessários à concessão da
suspensão condicional da pena.
Os objetivos são: no chamado sursis simples, a condenação a pena privativa de
liberdade não superior a dois anos e, no sursis etário ou sursis humanitário (§ 2o, do art. 77
do CP), a condenação a pena privativa de liberdade não superior a quatro anos.
Os subjetivos são: a) que o condenado não seja reincidente em crime doloso; b) que a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias, autorizem a concessão do benefício.

3. ESPÉCIES
– Sursis simples
Art. 77, caput.

– Sursis especial
É a modalidade prevista no art. 78, § 2o do CP. Se o condenado tiver reparado o
dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 lhe forem
favoráveis, o juiz poderá substituir a prestação de serviços à comunidade ou a limitação de
fim de semana por cumulativamente: proibição de frequentar determinados lugares;
proibição de ausentar-se da comarca onde reside sem autorização do juiz e comparecimento
pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

– Sursis etário
Art. 77, § 2o. É aquele concedido ao maior de 70 anos de idade que tenha sido
condenado a uma pena privativa de liberdade não superior a quatro anos. Nesta hipótese, a
pena poderá ser suspensa por quatro a seis anos.

– Sursis humanitário
Art. 77, § 2o. Esta modalidade de suspensão condicional da pena foi uma inovação
trazida pela Lei no 9.714/98, permitindo ao condenado uma pena não superior a quatro
anos valer-se do sursis pelo período de quatro a seis anos, desde que razões de saúde
justifiquem tal suspensão.

4. CONDIÇÕES

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As condições do sursis podem ser legais ou judiciais. Aquelas são determinadas pela
própria lei; nestas, o texto legal deixa a determinação à discricionariedade do juiz que,
contudo, deverá observar que sejam sempre adequadas ao fato e à situação do condenado.
As condições legais diretas estão previstas nos parágrafos do art. 78 do CP. Para o
sursis simples, as do § 1o, quais sejam, a obrigação de prestar serviços à comunidade ou
submeter-se à limitação de fim de semana e, para o especial, as do § 2o, que devem ser
cumulativas.
O condenado pode recusar a concessão do sursis e submeter-se ao cumprimento da
pena, sendo que, a recusa, ou mesmo a aceitação desse benefício, não impede o direito de
recorrer, no prazo legal, em virtude do Princípio constitucional da ampla defesa.

5. PERÍODO DE PROVA
O lapso temporal em que o beneficiário tem a execução da pena suspensa chama-se
período de prova. Com a reforma penal de 1984, o período de prova normal foi estabelecido
entre dois a quatro anos. Para a hipótese do sursis etário ou do sursis humanitário, esse
prazo será de quatro a seis anos, pois, nesse caso, tal benefício pode alcançar condenações
a penas privativas de liberdade de até quatro anos. No caso de contravenções penais, o
período de prova será de um a três anos (art. 11, DL 3.688/41 – “Lei das Contravenções
Penais”).
De acordo com o que prescreve o art. 160 da Lei no 7.210/84, o período de prova só
começa a correr depois do trânsito em julgado da decisão condenatória.

6. REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA E FACULTATIVA


6.1. Revogação obrigatória
Os casos de revogação obrigatória encontram-se elencados no art. 81, caput do CP.
Revoga-se o sursis se ocorrer nova condenação por crime doloso, apenas após ter
essa sentença condenatória transitado em julgado. Ressalte-se que a mera prática de outro
crime tem apenas o condão, consoante art. 81, § 2o do CP, de prorrogar o período de
suspensão enquanto o sujeito é processado por outro crime ou contravenção. Ficará
prorrogado o período de prova até o julgamento em definitivo, ressaltando-se que o mesmo
ainda poderá sofrer prorrogação, mesmo que já transcorrido por inteiro, desde que ainda
não tenha sido declarada a extinção da pena.
Outra causa que dá origem à revogação obrigatória é quando o beneficiário frustra,
embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a
reparação do dano. Sendo assim, não é o mero fato de frustrar a execução da pena de
multa ou de não reparar o dano que obriga à revogação, mas sim esses fatos sem motivo
que os justifiquem.
Revoga-se ainda, obrigatoriamente, o sursis quando o beneficiário descumpre a
condição imposta de prestar serviços à comunidade ou de submeter-se à limitação de fim de
semana.
Quando revogado o sursis devido à condenação por novo crime doloso, o sujeito dará
início ao cumprimento de ambas as penas.

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Rogério Greco assim leciona:


Contudo, se for condenado a uma pena de multa ou, mesmo, a uma pena privativa
de liberdade que foi substituída pela pena de multa, entendemos que, mesmo
havendo essa nova condenação por crime doloso, tal fato não terá o condão de
obrigar a revogação.94
Pode ser ainda que, designada a audiência admonitória, o condenado sem qualquer
justificativa não compareça a ela. Neste caso, assim dispõe o art. 161 da LEP:

Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte)
dias, o réu não comparecer injustificadamente à audiência admonitória, a
suspensão ficará sem efeito e será executada imediatamente a pena.

6.2. Revogação facultativa


Os casos de revogação facultativa do sursis estão previstos no § 1o do art. 81 do CP.
Vimos que é causa de revogação obrigatória se o beneficiário descumpre a condição
de prestar serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana. Caso o beneficiário
descumpra qualquer outra condição fixada na sentença, a revogação será facultativa.
Nos casos de ser condenado por crime culposo ou por contravenção, a pena é
privativa de liberdade ou restritiva de direitos. Sendo assim, se o beneficiário for condenado
a estas infrações penais com pena de multa, não é caso de revogação.
Sendo caso de revogação facultativa, a lei possibilita ao magistrado, no § 3o do art.
81, que em vez de decretar a revogação, prorrogue o período de prova até o máximo, caso
este não tenha sido fixado.

LIVRAMENTO CONDICIONAL

CAPÍTULO V
DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
Requisitos do livramento condicional
Art. 83 – O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a
pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente
em crime doloso e tiver bons antecedentes;
II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime
doloso;
III – comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena,
bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à
própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração;

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V – cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por


crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes
dessa natureza.
Parágrafo único – Para o condenado por crime doloso, cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará
também subordinada à constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinqüir.
Soma de penas
Art. 84 – As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se
para efeito do livramento.
Especificações das condições
Art. 85 – A sentença especificará as condições a que fica subordinado o
livramento.
Revogação do livramento
Art. 86 – Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a
pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:
I – por crime cometido durante a vigência do benefício;
II – por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código.
Revogação facultativa
Art. 87 – O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado
deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for
irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não
seja privativa de liberdade.
Efeitos da revogação
Art. 88 – Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e,
salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior
àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o
condenado.
Extinção
Art. 89 – O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar
em julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime
cometido na vigência do livramento.
Art. 90 – Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se
extinta a pena privativa de liberdade.

Trata-se de medida de política criminal, que se consubstancia em cumprimento de


parte da pena em liberdade. Não deve jamais ser confundido com progressão de regime.
O pedido de livramento condicional deverá ser dirigido ao juiz da execução, que, após
ouvidos o MP e o Conselho penitenciário, concederá o benefício se presentes os requisitos
do art. 83 do CP.
Estabelece o art. 112 da LEP, cuja redação foi alterada pela Lei no 10.792/03:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma


progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto
da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário,

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comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que


vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do
Ministério Público e do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de
livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados
os prazos previstos nas normas vigentes. (grifo nosso)

1. REQUISITOS DO LIVRAMENTO CONDICIONAL


Os requisitos para a concessão do livramento condicional estão elencados no art. 83
do CP, o qual sofreu alteração pela lei de crimes hediondos (Lei no 8.072/90), que acabou
por incluir o inciso V, que prevê a possibilidade de livramento condicional em crimes
hediondos.
Os requisitos para a concessão do livramento condicional dividem-se em objetivos e
subjetivos.

1.1. Objetivos
O primeiro requisito diz respeito à pena aplicada na sentença; para que se torne
possível a concessão do benefício, ela deve ter sido superior a dois anos.
Além da pena fixada na sentença, outro requisito diz respeito ao cumprimento de
parte da pena privativa de liberdade para que o condenado obtenha o livramento
condicional. A parcela de pena a ser cumprida varia de acordo com a existência de
reincidência e de acordo com o crime praticado.
Poderá o condenado obter o livramento condicional com o cumprimento de mais de
1/3 da pena, se não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; mais da
metade, se o condenado for reincidente em crime doloso (se o crime for culposo ou
contravenção, o livramento condicional pode ser obtido com o cumprimento de mais de um
terço da pena); ou mais de 2/3 em condenação por crime hediondo e equiparados a
hediondos, se não houver reincidência específica em crimes dessa natureza. No que tange a
essa última hipótese, surge controvérsia acerca da expressão “crimes dessa natureza”.
Alguns sustentam que diria respeito ao mesmo tipo penal, ou seja, se o agente pratica um
homicídio qualificado, é condenado com trânsito em julgado e posteriormente pratica um
crime de tráfico, por este posicionamento teria direito ao benefício. Outros alegam que a
expressão diz respeito a qualquer crime hediondo ou equiparado a hediondo. Para esse
segundo raciocínio, no exemplo acima não haveria possibilidade de concessão do benefício.
Há ainda os que sustentam que se o primeiro crime for hediondo, para que seja vedado o
benefício, o segundo crime também deve ser necessariamente hediondo. O mesmo
ocorreria com os equiparados a hediondos. Sendo assim, se o primeiro crime for uma
tortura e o posterior à sentença condenatória transitada em julgado for um tráfico, o sujeito
não teria direito ao livramento condicional. Já se o segundo crime fosse um homicídio
qualificado, ele faria jus, pois o primeiro crime não seria da mesma natureza, uma vez que
teríamos um crime hediondo e um apenas equiparado a hediondo.

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Hipótese também controvertida se apresenta quando um sujeito é primário mas


portador de maus antecedentes. Vejam que ele não se encaixa no inciso I do art. 83 (mais
de um terço da pena), pois tem maus antecedentes, mas também não se encaixa no inciso
II (mais da metade da pena), pois não é reincidente. Em quanto tempo deve o condenado
obter o livramento condicional? Não se pode permitir que a lacuna deixada pelo legislador
seja objeto de prejuízo para o condenado. Dessa forma, mesmo sendo portador de maus
antecedentes, o mesmo deve obter o livramento condicional com o cumprimento de mais de
um terço da pena (regra mais benéfica), pois não se poderia exigir o cumprimento de mais
da metade da pena não sendo ele reincidente.

1.2. Subjetivos
Os requisitos subjetivos também devem ser observados para a concessão do
livramento condicional.
Deve o condenado apresentar comportamento satisfatório durante a execução da
pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto (demonstrando que a pena estava cumprindo sua
função ressocializadora). Deve ainda ter procedido à reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo (A falta de ajuizamento de ação reparatória não ilide a obrigação
de reparar o dano). Quando o crime for cometido mediante violência ou grave ameaça, deve
haver constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinquir.

2. CONDIÇÕES
Para que seja possível a concessão do livramento condicional, faz-se necessário o
preenchimento de algumas condições, previstas no CP e na LEP.
O art. 85 do CP estabelece que a sentença especificará as condições a que fica
subordinado o livramento. Tal disposição é repetida no art. 132 da LEP, que estabelece no
seu § 1o algumas obrigações a que deve ficar subordinado o livramento. São elas: obter
ocupação lícita, no prazo razoável, se for apto para o trabalho, comunicar periodicamente
ao juiz sua ocupação, não mudar do território da comarca do juízo da execução sem prévia
autorização deste.
Já o § 2o do mesmo artigo estabelece algumas condições facultativas: não mudar de
residência sem comunicar ao juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de
proteção, recolher-se à habitação em hora fixada e não frequentar determinados lugares.

3. MODIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES


O juiz de ofício, a requerimento do MP ou mediante representação do conselho
penitenciário, e ouvido o liberado, poderá modificar as condições especificadas na sentença,
consoante art. 144 da LEP.

4. REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

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As hipóteses que provocam a revogação do livramento condicional estão previstas nos


arts. 86 e 87 do CP. Ela pode ser obrigatória ou facultativa. Será obrigatória se o agente for
condenado por crime cometido durante a vigência do livramento condicional e por crime
anterior à concessão do benefício; e será facultativa se o condenado deixar de cumprir as
condições ou no caso de condenação irrecorrível por crime ou contravenção à pena que não
seja privativa de liberdade.
Quanto aos efeitos da revogação, devemos analisar o disposto no art. 88 do CP. Com
a análise deste artigo podemos saber se o período em que o condenado esteve em liberdade
será computado ou não no cumprimento do restante da pena.
Imaginemos duas hipóteses distintas:
Tício e Caio foram condenados a uma pena de seis anos de reclusão. Cumpridos mais
de dois anos, ambos foram liberados. No entanto, quando já estavam livres há dois anos,
ambos foram condenados, mas com uma diferença: Tício foi condenado por crime praticado
antes da concessão do livramento condicional, e Caio por crime praticado após a concessão
do livramento. O tratamento para eles não será idêntico. Tício cumprirá a pena do novo
crime e o restante da pena do primeiro crime, sendo abatido o tempo em que ficou em
liberdade condicional. Se Tício ficou preso dois anos e ficou em liberdade mais dois, ele
cumprirá apenas dois anos desta pena. O mesmo não ocorre com Caio, pois o crime pelo
qual ele foi condenado foi praticado após a concessão do benefício. Caio traiu o voto de
confiança que o Estado depositou nele ao lhe conceder o livramento condicional. O tempo
que Caio ficou em liberdade não será abatido da pena. Sendo assim, ele volta para cumprir
todo o restante da pena, sendo abatido apenas o tempo em que efetivamente ficou preso,
ou seja, dois anos.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Extinção da punibilidade

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº


7.209, de 11.7.1984)

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato


como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos


crimes de ação privada;

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VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto,


elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se
estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um
deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante
da conexão. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prescrição antes de transitar em julgado a sentença

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença


final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito


anos e não excede a doze;

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro


anos e não excede a oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e


não excede a quatro;

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou,


sendo superior, não excede a dois;

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um)


ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).

Prescrição das penas restritivas de direito

Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os


mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prescrição depois de transitar em julgado sentença final


condenatória

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença


condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos
fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o

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condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito


em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso,
regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter
por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada
pela Lei nº 12.234, de 2010).

§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.234, de 2010).

Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a


sentença final

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença


final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei


nº 7.209, de 11.7.1984)

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade


criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a


permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de


assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou
conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e


adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da
data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse
tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela
Lei nº 12.650, de 2012)

Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória


irrecorrível

Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa


a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória,


para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou
o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

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II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o


tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prescrição no caso de evasão do condenado ou de


revogação do livramento condicional

Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o


livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta
da pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prescrição da multa

Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação


dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou


aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena


privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. (Incluído
pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

Redução dos prazos de prescrição

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição


quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um)
anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Causas impeditivas da prescrição

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a


prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que


dependa o reconhecimento da existência do crime; (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.(Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença


condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

Causas interruptivas da prescrição

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Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

III - pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios


recorríveis; (Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007).

V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;


(Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de


1º.4.1996)

§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a


interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os
autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer
deles. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V


deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da
interrupção. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 118 - As penas mais leves prescrevem com as mais


graves. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Reabilitação

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da


punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Perdão judicial

Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será


considerada para efeitos de reincidência.

Com a prática da infração penal, surge para o Estado o direito concreto de punir o
agente, ou seja, a punibilidade, que nada mais é do que a possibilidade jurídica de o Estado
impor a sanção ao autor do delito. O legislador, entretanto, estabelece uma série de causas
subsequentes que extinguem essa punibilidade, impossibilitando a imposição da pena; o art.
107 enumera algumas causas dessa natureza; esse rol não é taxativo, pois existem várias

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outras causas extintivas da punibilidade descritas na Parte Especial do CP e em outras leis:


arts. 121, § 5o; 129, § 8o; 180, § 5o; 348, § 2o, todos do CP; art. 249, § 2o do CP
(restitutio in integrum); art. 312, § 3o do CP etc.
A punibilidade não faz parte do conceito de crime (fato típico, ilícito e culpável), mas
consiste em conseqüência jurídica do mesmo.
As causas extintivas da punibilidade não se confundem com as escusas absolutórias:
naquelas, o direito de punir do Estado surge em um primeiro momento e, posteriormente, é
fulminado pela causa extintiva; as escusas são, em verdade, excludentes de punibilidade,
pois, nas hipóteses previstas em lei, nem sequer surge para o Estado o direito de punir,
apesar de o fato ser típico e ilícito, falta, dessa forma, como já vimos em capítulo anterior, a
possibilidade jurídica do pedido, condição da ação penal, é o que ocorre nas hipóteses do
art. 181, II, que estabelece que o filho que furta objetos do pai é isento de pena; como a
relação de parentesco entre pai e filho precede ao fato delituoso, não nasce o jus puniendi.
As causas extintivas da punibilidade não se confundem ainda com as condições
objetivas de punibilidade. No primeiro caso, com a prática da infração penal, nasce para o
Estado-Juiz a possibilidade de exercer concretamente o direito de sancionar o autor da
infração. Ocorre que com a existência de uma causa extintiva da punibilidade, esse direito
morre e não pode ser exercido. No segundo caso, para que exista, para que nasça o direito
de punir, é necessária a presença de uma condição, denominada, portanto, condição
objetiva de punibilidade, a qual está após a existência do preceito primário, ou seja, o
agente realiza a conduta tipificada em lei, mas para que lhe seja aplicado o preceito
secundário (a pena), deve estar presente a condição objetiva de punibilidade. Podemos citar
o art. 7o, § 2o do CP, que trata da extraterritorialidade condicionada. O sujeito pratica o
fato no estrangeiro, mas para que lhe seja aplicada a pena no Brasil, deve ele preencher as
condições constantes do parágrafo mencionado. Essas condições são, portanto, condições
objetivas de punibilidade.
Passemos a analisar as causas extintivas da punibilidade previstas no art. 107 do CP:

1. MORTE DO AGENTE
O STF, já decidiu que a revogação do despacho que julgou extinta a punibilidade do
réu, a vista de atestado de óbito baseado em registro comprovadamente falso, é admissível,
uma vez que o referido despacho, além de não fazer coisa julgada em sentido estrito,
funda-se exclusivamente em fato juridicamente inexistente, não produzindo quaisquer
efeitos.

2. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO


A anistia, a graça e o indulto são formas de indulgência soberana (indulgentia
principis), ou seja, o Estado renuncia ao seu Jus Puniendi, perdoando a prática de infrações
penais. Passemos a analisar as características de cada uma dessas causas extintivas da
punibilidade.
A anistia exclui o crime, apagando seus efeitos; é concedida por lei, referindo-se a
fatos e não a pessoas e, por isso, atinge todos que tenham praticado delitos de certa
natureza; distingue-se da abolitio criminis, uma vez que nesta a norma penal incriminadora

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deixa de existir, enquanto na anistia são alcançados apenas fatos passados, continuando a
existir o tipo penal; pode ser concedida antes ou depois da sentença e retroage apagando o
crime, extinguindo a punibilidade do agente e as demais consequências de natureza penal.
Se concedida após a sentença condenatória, faz cessar todos os seus efeitos, exceto a
reparação do dano.; assim, se o sujeito vier a cometer novo crime, não será considerado
reincidente. A regra é de que a anistia dirija-se aos chamados crimes políticos, embora nada
impeça sua aplicação às demais espécies delitivas. A concessão da anistia é da competência
da União, conforme preceitua o art. 21, XVII, da CF/88, e se encontra no rol das atribuições
do Congresso Nacional (art. 48, VIII, CF/88). Pode ser concedida em termos gerais ou
restritos. Quando a anistia restrita exclui determinados fatos, indivíduos, grupos ou classes
de indivíduos, é classificada como parcial; quando estabelece cláusulas para a fruição do
benefício, é classificada como condicional. A anistia geral ou absoluta não conhece exceção
de crimes ou de pessoas, nem se subordina a limitações de qualquer espécie. O art. 2o, I,
da Lei no 8.072/90, mesmo diante da nova redação da Lei no 11.464/07, veda a concessão
de anistia aos crimes hediondos e equiparados. Ressalte-se que a anistia não pode ser
recusada pelo beneficiado, salvo se se tratar de anistia condicional.
A graça e o indulto são da competência do Presidente da República (art. 84, XII,
CF/88). Os dois institutos diferem porque a graça é concedida individualmente a uma
pessoa específica, enquanto o indulto é concedido de maneira coletiva a fatos determinados
pelo Chefe do Poder Executivo, geralmente concedido na época de Natal (Indulto Natalino).
Graça e indulto pressupõem sempre sentença condenatória com trânsito em julgado e
atingem somente os efeitos executórios penais da condenação (os efeitos civis da sentença
condenatória continuam íntegros). O indulto é espontâneo; a graça deve ser provocada pelo
interessado ou por sua família ou demais interessados na concessão do benefício para o
condenado. Ressalte-se que o art. 84, XII da CF, apenas menciona o indulto e a comutação
de penas (Indulto Parcial). No entanto, consoante art. 188 da Lei no 7.210/84 (LEP), a
graça passou a ser conhecida como indulto individual e, em consequência, o indulto
propriamente dito passou a ser conhecido como indulto coletivo. Dessa forma, ao mencionar
indulto, a CF, em seu art. 84, XII, inclui o indulto individual (graça) e o indulto
propriamente dito (coletivo).
Tais benefícios têm sua concessão vedada aos crimes previstos na Lei no 8.072/90 e,
quanto à Lei no 9.455/97, somente houve proibição de concessão de graça ou anistia.

3. ABOLITIO CRIMINIS
Ocorre a chamada abolitio criminis quando o legislador, por razões de política criminal,
geralmente informado por princípios, entende por bem em não mais considerar determinado
fato como criminoso.

4. PRESCRIÇÃO
A prescrição baseia-se no correr de determinado lapso temporal sem que o Estado
exerça seu direito de persecução criminal ou de execução da pena, caso em que ocorrerá a
prescrição do direito de punir ou do direito de executá-la. Embora exista alguma
controvérsia doutrinária, a prescrição, segundo Rogério Greco e mais alguns doutrinadores,
corrente a qual nos filiamos, provoca a perda do direito de punir por parte do Estado.

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Outros afirmam que a prescrição seria uma renúncia do Estado, assim como na anistia,
graça e indulto.

Espécies de prescrição
A legislação penal prevê de forma geral duas espécies de prescrição: prescrição da
pretensão punitiva (PPP) e prescrição da pretensão executória (PPE).
O reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva terá repercussões
importantíssimas tanto na esfera penal como na civil. O réu ainda continuará a gozar do
status de primário e não poderá ser portador de maus antecedentes; na esfera cível, a
vítima não terá como executar o decreto condenatório, quando houver, visto que a PPP
impede a formação do título executivo judicial.
Contudo, se a prescrição disser respeito à pretensão executória, o Estado, em razão
do decurso do tempo, somente terá perdido o direito de executar sua decisão. O título
executório foi formado com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, podendo,
portanto, ser normalmente executado. O condenado, se vier a praticar outro crime, poderá
ser considerado reincidente ou portador de maus antecedentes, caso a condenação anterior
não sirva para configurar reincidência.

Prescrição da pretensão punitiva


A prescrição antes de transitar em julgado a sentença final, salvo nos casos dos §§ 1o
o
e 2 do art. 110 do CP, regula-se pelo previsto nos incisos I a VI do art. 109 do estatuto
repressivo.
Com a redação dada ao referido art. 109, percebe-se que o primeiro cálculo a ser feito
sobre a prescrição deve recair sobre a pena máxima cominada em abstrato para cada
infração penal. Se o cálculo deve ser realizado antes mesmo de qualquer sentença
condenatória, em que nela é concretizada a pena aplicada ao agente, conclui-se que a
prescrição que leva em consideração a pena máxima cominada a cada infração penal diz
respeito à pretensão punitiva do Estado.
Os prazos do art. 109 do CP servirão não só para o cálculo da prescrição,
considerando-se a pena máxima em abstrato (prescrição da pretensão punitiva), como
também para aqueles relativos à pena já concretizada na sentença condenatória (prescrição
retroativa e prescrição da pretensão executória).
O art. 109 do CP determina:

A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o


disposto nos §§ 1o e 2o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo
da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I – em 20 (vinte) anos, se o máximo da pena é superior a 12 (doze) anos;
II – em 16 (dezesseis) anos, se o máximo da pena é superior a 8 (oito)
anos e não excede 12 (doze);
III – em 12 (doze) anos, se o máximo da pena é superior a 4 (quatro) anos
e não excede a 8 (oito);
IV – em 8 (oito) anos, se o máximo da pena é superior a 2 (dois) anos e
não excede a 4 (quatro);

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V – em 4 (quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 1 (um) ano, ou


sendo superior, não excede a 2 (dois);
VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

Ressalte-se que no concurso formal, material e no crime continuado, a prescrição


atinge a pretensão punitiva em relação a cada infração considerada isoladamente (art. 119
do CP e verbete da Súmula 497 do STF).
O reconhecimento de agravantes e atenuantes genéricas descritas nos arts. 61, 62 e
65 do CP não altera esses prazos, uma vez que elas não podem fazer a pena ultrapassar o
máximo previsto em abstrato; excepcionalmente, o art. 115 estabelece que, sendo o réu
menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 por ocasião da sentença, o prazo
prescricional será reduzido pela metade (duas atenuante genéricas que alteram o lapso
prescricional).
Para efeito da contagem do prazo da PPP são levadas em conta as causas de aumento
e diminuição da pena. Considera-se o máximo de aumento e o mínimo de diminuição
cominados, pois só assim podemos chegar à pena máxima em abstrato cominada ao delito.
– Termo inicial
O termo inicial da prescrição, antes de transitar em julgado a sentença condenatória
(PPP), é determinado pelo art. 111 do CP.
O § 2o, do art. 110 menciona que a prescrição pode ter termo inicial antes do
recebimento da denúncia ou queixa que pode dizer respeito ao dia em que o crime se
consumou. Em muitas infrações penais a consumação ocorre com a prática da conduta do
agente; em outras pode ser que a data da consumação não se confunda com a data da
prática da conduta. Assim, o inciso I do art. 111 do Código Penal determina que a
prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:

I – do dia em que o crime se consumou;


II – no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
III – nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
IV – nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do
registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido.

Da redação do artigo percebe-se que a prescrição pode ter como marco inicial o dia
em que o crime se consumou, não sendo necessariamente a data em que foi realizada a
ação. O CP, em seu art. 4o, ao definir o tempo do crime, adota a teoria da atividade. O art.
111, I, ao contrário, excepcionando a regra, adotou a teoria do resultado.
No caso da tentativa, o inciso II do art. 111 determina que o prazo prescricional tem
início a partir do dia em que a atividade criminosa cessou.
Crimes permanentes são aqueles cuja execução e consumação se prolongam no
tempo. Enquanto a permanência dos mesmos não acabar, o prazo prescricional não terá
início.
A penúltima hipótese diz respeito aos crimes de bigamia e falsificação ou alteração de
assentamento de registro civil. Por exceção, nestes delitos o fluxo prescricional não se inicia
da data de consumação dessas figuras criminosas, mas do dia em que tais delitos se tornam
conhecidos da autoridade pública. Embora sejam delitos instantâneos, possuem efeitos
permanentes, posto que duráveis no tempo. Nesses casos, se aplicada a regra geral (da

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data da consumação), o agente poderia retardar indefinidamente o conhecimento da


infração, enquanto a prescrição estaria correndo, para operar-se, talvez antes mesmo de
descobertos o crime e seu autor.
A última hipótese, incluída pela Lei Joana Maranhão, é uma lei maléfica, somente
podendo ser aplicada após sua entrada em vigor. Desta forma, só vale para os crimes
praticados a partir do dia 18 de maio de 2012. Para os crimes praticados antes, a prescrição
começa a contar, em regra, da consumação.

Prescrição da pretensão executória (PPE)


Enquanto o prazo prescricional da pretensão punitiva é determinado pelo máximo da
pena privativa de liberdade cominada ao crime, o prazo de prescrição da pretensão
executória é regulado pela quantidade da pena imposta na sentença condenatória, variando
de acordo com os intervalos fixados nos incisos do art. 109 do CP.
Se a pena privativa de liberdade for substituída por restritiva de direitos, aplicam-se
os mesmos prazos prescricionais reguladores daquela, conforme assinala o parágrafo único
do art. 109 do CP, pois, como as penas restritivas de direitos são substitutivas, o prazo para
efeitos de cálculo da prescrição será aquele previsto para a pena privativa de liberdade
aplicada.
Tratando-se de reincidente, o prazo de prescrição da PPE da pena privativa de
liberdade é aumentado de um terço (art. 110, caput, in fine do CP). Para tanto, é necessário
que a sentença condenatória tenha reconhecido a reincidência. Porém, deve-se observar
que o que se aumenta é o prazo prescricional, e não a pena, ou seja, com base na pena
aplicada na sentença condenatória transitada em julgado, busca-se no art. 109 do CP o
prazo prescricional e este será acrescido de um terço. O aumento do prazo prescricional em
razão da reincidência só incide no caso de PPE, pois exige-se o seu reconhecimento na
sentença transitada em julgado. Este entendimento foi adotado pelo STJ, no enunciado da
Súmula 220.
Não corre a PPE durante o período de prova do sursis e do livramento condicional,
conforme se depreende da redação do art. 112, II, in fine do CP.

– Termo inicial
O art. 112 do CP regula o início da contagem do prazo da prescrição após o trânsito
em julgado da decisão condenatória irrecorrível. Com exceção da primeira parte do inciso I
do art. 112 do CP, que pode ainda dizer respeito à prescrição da pretensão punitiva
(intercorrente ou superveniente), todas as demais hipóteses previstas nos incisos I e II do
mencionado artigo cuidam de termo inicial da prescrição da pretensão executória estatal.
Nessas hipóteses, o Estado já formou o seu título executivo, restando, apenas, executá-lo.
Estabelece o art. 112 que no caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a
correr:

I – do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a


acusação (nessa hipótese há trânsito em julgado para ambas as partes,
sendo que tão-somente o início do prazo é contado a partir do trânsito em
julgado para a acusação), ou a que revoga a suspensão condicional da
pena ou o livramento condicional;

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II – do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da


interrupção deva computar-se na pena.

Quando o agente descumpre as condições sursitárias ou aquelas especificadas para o


cumprimento de seu livramento condicional, sendo revogados os benefícios legais, deverá
ele cumprir a pena que lhe fora aplicada na sentença penal condenatória.
No que diz respeito ao sursis, deverá cumprir integralmente a pena, pois que esta se
encontrava suspensa mediante determinadas condições. A partir da data do trânsito em
julgado da decisão que revogou o sursis, tem início o prazo prescricional, que será contado
considerando-se a pena privativa de liberdade cujo cumprimento havia sido suspenso
condicionalmente.
Quanto ao livramento condicional, também devemos dar início à contagem do prazo
prescricional a partir da data do trânsito em julgado da decisão que o houver revogado.
Contudo, o prazo deverá ser contado de acordo com o tempo que resta da pena, nos termos
do art. 113 do CP: “no caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento
condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena”.
No caso do inciso II do art. 112, havendo fuga do condenado, o dia da mesma é o
termo inicial do prazo prescricional, sendo que tal prazo será contado com base no restante
da pena a cumprir. Em caso de doença mental ou internação do sentenciado, o tempo de
interrupção da execução será contado como cumprimento de pena, não podendo, por isso,
correr prazo de prescrição de maneira simultânea.

Prescrição intercorrente e prescrição retroativa


Majoritariamente são consideradas formas da prescrição da pretensão punitiva e, por
esse motivo, afastam todos os efeitos da condenação; elas não podem, em regra, ser
reconhecidas pelo juiz de 1° grau, uma vez que, com a prolação da sentença, encerra-se a
prestação jurisdicional.
Estabelece o art. 110 que

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença


condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no
artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em


julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela
pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data
anterior à da denúncia ou queixa.

Suponha-se que o réu esteja sendo condenado por “lesão corporal leve”, delito cuja
pena privativa de liberdade é de até um ano; antes da sentença, a prescrição pela pena em
abstrato é de quatro anos. Ocorre que o juiz, ao sentenciar, acaba fixando pena de seis
meses e o MP não apela para aumentá-la. Dessa forma, considerando que o art. 617 do CPP
veda o aumento da pena em recurso exclusivo da defesa (proibição da reformatio in pejus),
estabeleceu o legislador que, mesmo não tendo ainda havido o trânsito em julgado, passar-
se-á a ter por base, para fim de prescrição, a pena fixada na sentença. Assim, como a pena

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foi fixada em seis meses, a prescrição ocorrerá em três anos (desde que o fato tenha
ocorrido após 06 de maio de 2010, data que entrou em vigor a lei que alterou o prazo
prescricional de dois para três anos); por conclusão, se entre a data da sentença de 1o grau
e o julgamento do recurso pelo Tribunal transcorrer o prazo de três anos, terá havido a
prescrição intercorrente; além disso, haverá a chamada prescrição retroativa se, entre a
data do fato e do recebimento da denúncia e a sentença de 1o grau tiver decorrido o prazo;
essas mesmas regras se aplicam quando há recurso da acusação e este é improvido, ou
ainda, quando havendo recurso da acusação, este não ataca a pena aplicada. Ressalte-se
que a prescrição retroativa encontra base ainda na enunciado 146 da Súmula do STF. A lei
12234/10 acabou com a prescrição retroativa entre a data do fato e do recebimento da
denúncia.

Prescrição antecipada ou pela pena ideal


Suponha que uma pessoa tenha sido indiciada por crime de “periclitação da vida”, cuja
pena é detenção de três meses a um ano; assim, o crime prescreve, pela pena em abstrato,
em quatro anos; o promotor de justiça, entretanto, ao receber o inquérito policial, três anos
após a consumação do crime, percebe que o acusado é primário e que o crime não se
revestiu de especial gravidade, de forma que o juiz, ao prolatar a sentença, certamente não
irá aplicar a pena máxima de um ano. Dessa forma, considerando que a pena fixada na
sentença será inferior a um ano, será inevitável, em caso de condenação, o reconhecimento
da prescrição retroativa, pois, pela pena fixada, a prescrição teria ocorrido após dois anos.
Tal prescrição é vedada por entendimento sumulado do STJ.

Aspectos relevantes da prescrição


O cômputo do prazo prescricional exige que saibamos aplicar corretamente alguns
aspectos de suma importância no estudo da prescrição. Embora os prazos estejam
elencados expressamente no art. 109 do CP, muitas vezes eles comportam causas
suspensivas, interruptivas, o que alterará necessariamente a contagem. Passemos,
portanto, ao estudo destes aspectos relevantes.

Causas interruptivas da prescrição


Existem causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva (PPP) e causas
interruptivas da prescrição da pretensão executória (PPE).
Dispõe o art. 117, em alguns de seus incisos, acerca das causas interruptivas da PPP:
Quando estamos tratando das causas interruptivas da prescrição, contamos o prazo
até o advento da causa interruptiva, momento no qual recomeçamos imediatamente a
contagem do prazo, desde seu início.
Gosto de comparar, para que o estudante fixe a distinção entre causas interruptivas e
suspensivas, o cômputo da prescrição à contagem de notas de dinheiro. Se estou contando
notas de R$ 50,00 por exemplo, e alguém me interrompe, perco a conta e como
consequência terei de começar a contar tudo novamente. Já se alguém suspende a minha
contagem sem que haja interrupção, posso anotar onde parei de contar e, ao recomeçar,
conto de onde parei. Passando isso para a prescrição, teremos a seguinte situação:
Crime com pena máxima cominada de um ano (prescrição em quatro anos).

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Imaginemos a seguinte linha do tempo:

Data Recebimento Publicação


do fato da denúncia da sentença
_____________________________________________________________________________
1998 2001 2006

Lapso temporal de três anos Lapso temporal de cinco anos

Na linha acima, o recebimento da denúncia caracteriza causa interruptiva da


prescrição, até a qual não havia corrido o prazo prescricional de quatro anos. No entanto,
começando novamente a contar o prazo desta causa interruptiva, operou-se a prescrição da
pretensão punitiva entre a data do recebimento da denúncia e da sentença condenatória.
No caso acima trabalhamos sem a presença de causas de aumento, de diminuição e
sem a existência de concurso de crimes. Lembramos ao leitor que a presença dessas causas
pode alterar o prazo prescricional. Se o crime acima (cuja pena máxima é de um ano) fosse
tentado, a prescrição passaria a ser de dois anos, pois incidiria a diminuição mínima da
tentativa (um terço), o que faria com que a pena em abstrato fosse menor que um ano,
sendo o prazo prescricional de dois anos. Assim, teríamos a prescrição entre a data do fato
e a do recebimento da denúncia.
Também no caso de ser o réu menor de 21 anos na data do fato ou maior de setenta
na data da sentença, também alteraria a contagem do prazo prescricional que, consoante
art. 115 do CP, passaria a ser contado pela metade.
O art. 117 do CP dispõe ainda nos incisos V e VI acerca de causas interruptivas da
PPE:

Art. 117 – O curso da prescrição interrompe-se:


V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena (ex.: recaptura);
VI – pela reincidência.

No caso do inciso VI, trata-se de agente que comete novo crime no curso do lapso
prescricional.
Ressaltamos que a atual redação do inciso IV do art. 117 foi fruto da alteração
promovida pela Lei no 11.596 de 29 de novembro de 2007.

Causas suspensivas da prescrição


As causas suspensivas da prescrição estão previstas no CP e em outras leis. Nesse
caso, o prazo volta a correr apenas pelo período restante, ou seja, recomeça-se de onde
parou a contagem do prazo prescricional.
O art. 116 do CP nomeia essas causas de causas impeditivas.

Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:


I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime;
II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.

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§ único – Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a


prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por
outro motivo.

São, portanto, causas suspensivas da prescrição:


– questões prejudiciais – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que
dependa o conhecimento da existência do crime (art. 116, I do CP), é possível que
o juiz criminal suspenda o processo-crime, bem como a prescrição em que se apura
crime de “furto”, até que seja resolvida, no juízo cível, se o acusado pela subtração
é ou não o dono do objeto;
– cumprimento de pena no estrangeiro (art. 116, II);
– sustação do andamento da ação penal contra deputado ou senador (art. 53, §§ 2o
e 5o, que dispõe expressamente sobre a suspensão do prazo prescricional);
– durante o período de suspensão condicional do processo (art. 89, § 6o, Lei no
9.099/95);
– se o acusado, citado por edital, não comparece, nem constitui advogado (art. 366
do CPP) (ficarão suspensos o processo e o prazo prescricional);
– estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, deverá o mesmo ser citado por
carta rogatória, suspendendo-se o prazo de prescrição até o seu cumprimento (art.
368 do CPP).

Crimes imprescritíveis
São imprescritíveis os crimes de preconceito definidos na Lei no 7.716/89 e os
praticados por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático, previstos na Lei no 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional); ambas hipóteses
estão previstas no art. 5o, XLII, da CF.
Ressalte-se que os crimes de preconceito considerados imprescritíveis são apenas os
previstos na lei acima citada. O crime de injúria preconceituosa, consistente na ofensa,
utilizando-se o agente de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência (art. 140, § 3o do CP), não é considerado crime
imprescritível, até mesmo por tratar-se de crime contra a honra e não crime de preconceito
propriamente dito.

Prescrição da pena de multa


Com base no disposto no artigo 114 do CP, podemos definir as seguintes situações no
que tange à prescrição da pena de multa:
– multa como única pena cominada em abstrato – prescrição em dois anos;
– multa como única penalidade imposta na sentença – prescrição em dois anos;
refere-se apenas à prescrição retroativa e intercorrente; isso porque, de acordo
com o art. 51, havendo trânsito em julgado da sentença condenatória que impôs
pena de multa, será a mesma considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as
normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que tange à
prescrição;
– multa cominada em abstrato alternativamente com pena privativa de liberdade –
prazo igual ao cominado para a prescrição da pena privativa de liberdade;

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– multa cominada em abstrato cumulativamente com pena privativa de liberdade –


prazo igual ao cominado para a prescrição da pena privativa de liberdade, conforme
regra do art. 118 do CP: As penas mais leves (multa e penas restritivas de direito)
prescrevem com as mais graves (penas privativas de liberdade);
– multa aplicada na sentença juntamente com PPL – prazo igual ao cominado para a
prescrição da PPL; essa regra somente se aplica à prescrição retroativa e
intercorrente, posto que, havendo trânsito em julgado, aplicar-se-ão, em relação a
multa, as regras tributárias já mencionadas).

DECADÊNCIA
A decadência (art. 103 do CP e 38 do CPP) é o instituto jurídico mediante o qual o
ofendido, ou seu representante legal, perde o direito de queixa ou de representação em
virtude do decurso de certo espaço de tempo sendo, portanto, instituto aplicável somente
aos casos de ação penal privada ou de ação penal pública condicionada à representação.
De acordo com o art. 10 do Código Penal conta-se o dia do início do prazo, regra
também estabelecida para a contagem do prazo de decadência. Quanto ao prazo
decadencial, imaginemos que alguém tome ciência de uma ofensa contra a sua honra em 10
de julho de 2007 e somente oferece queixa em 10 de janeiro de 2008. Por ser a contagem
do prazo de natureza penal, iniciado com o cômputo do dia de início, operou-se a
decadência.

PERDÃO JUDICIAL, NOS CASOS PREVISTOS EM LEI


O perdão judicial não se dirige a toda e qualquer infração penal, mas sim àquelas
previamente determinadas pela lei. Assim, torna-se impossível o emprego da analogia in
bonam partem quando se tratar de ampliação das hipóteses de perdão judicial. Isso porque
a lei penal afirmou categoricamente que ele somente seria concedido nos casos por ela
previstos, consoante redação do art. 107, inciso IX do CP.

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