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[uJ Estrategia CONCURSOS Aula 04 Nog6es de Direito Penal p/ PC-DF (Agente) Professor: Renan Araujo Auta 04: CONCURSO DE PESSOAS E CONCURSO DE CRIMES. SUMARIO 1 CONCURSO DE PESSOAS Lt 10, natureza e caracteri: 1.2 124 - 1244 Autoria mediata . 5 1.2.2 Relevancia causal da colaboragdo.....ssssssssseeeesennsssseseeeninsnsnsescersunnasseeeesnennss® 1.2.3 Vinculo subjetivo (ou liame subjetivo) 8 124 Identidade de infrago penal 8 1.2.5 Existéncia de fato pumivelssseccsessssseessennnssseeeersnnnsee seesssnseeesesnnneneeees 13 Modalidades. “9 13.1 Coautoria a 1.3.2 Participacéo .. 1.4 Comunicabilidade das circunstancias . 141 Espécies de elementares e de circunSt&ncias....csesessee seesennnnneeeennne 1.5 Cooperacao dolosamente distinta .. 1.6 Multidao delinquente 2 CONCURSO DE CRIMES... 24 Conceito e natureza 2.2 — Espécies. 2.24 Concurso material (ou real) de crimes ss.ccssssessssseeesnnsassesesersansnsereesennnsssesees 20 2.2.2 Concurso formal de crimes. 2a 2.2.3 Aplicagdo da pena no concurso formal....ssssssessssseeesnnsssssteesersansnseseesnnnsseesens 22 2.2.4 Crime continuadossssssseesssssssseseerununssseecernnsnsseeen seunsnsnseeenernnsnneee 23 2.2.5 Requisitos para a configuragio do crime continuado 24 2.2.6 Aplicagdo da pena no crime continuado....ssesessesseeesnusassesesersansnsereessnsnsseesees 26 2.2.7 Crime continuado € conflito de leis penais no tempo svsessssesssssnssseeeesnnnnseeesees 26 2.2.8 Crime continuado e prescricao 27 2.2.9 Aplicacdo da pena de multa no concurso de crimes csssussssesssssusnsnseeeessnnnsesesees 27 3 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ... 4 SUMULAS PERTINENTES 4.1 Stimulas do STF. 4.2. Simulas do STI 5 JURISPRUDENCIA CORRELATA RESUMO. EXERCICIOS PARA PRATICAR. EXERCICIOS COMENTADOS.. GABARITO 6 7 8 9 Ola, meus amigos! Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br tde 6s Na aula de hoje vamos estudar dois temas muito importantes. O primeiro deles esté relacionado & prépria figura delituosa e sua caracterizagéo, que é 0 concurso de agentes. O segundo esta relacionado aos efeitos da pratica criminosa, mais especificamente, a aplicag3o da pena, que é 0 concurso de crimes. Bons estudos! Prof. Renan Araujo Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 68 | Dinerro Peat p/ 1 1 CONCURSO DE PESSOAS 1.1 Conceito, natureza e caracteristicas © concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboracao de dois ‘ou mais agentes para a pratica de um delito ou contravencio penal. © concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redacdo dada pela Lei n° 7.209, de 117.1984) § 1° - Se a participac&o for de menor importancia, a pena pode ser diminuida de um sexto a um terco. (Redacdo dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) § 20 - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-4 aplicada a pena deste; essa pena serd aumentada até metade, na hipotese de ter sido previsivel 0 resultado mais grave. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Circunsténcias incomunicaveis Art. 30 - N3o se comunicam as circunstdncias e as condicées de cardter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redacdo dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinacéo ou instigacao e 0 auxilio, salvo disposi¢ao expressa em contrério, nfo s80 punivels, se o crime ndo chega, pelo menos, a ser tentado. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Mas como compreender a natureza juridico-penal de uma conduta inosa praticada por diversas pessoas? Trés teorias surgiram: + Pluralista (ou pluralistica) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime préprio, existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, ja que a cada um corresponde uma conduta propria, um elemento psicolégico proprio e um resultado igualmente particular!, + Dualista (ou dualistica) - Segundo esta teoria, ha um crime para os autores, que realizam a conduta tipica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os participes, que desenvolvem uma atividade secundaria. + Monista (ou monistica ou unitaria) - A codelinquéncia (concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria, como CRIME UNICO, devendo todos responderem pelo mesmo crime. E a adotada pelo CP. Isso nao significa que todos que respondem pelo delito terao a mesma pena. A pena de cada um iré corresponder & valoracao de cada uma das condutas (cada um responde “na medida de sua culpabilidade). Em razo desta diferenciacéo na pena de cada um dos infratores, diz~se que o CP adotou uma espécie de teoria monista temperada (ou mitigada). + BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal - Parte Geral, Ed. Saraiva, S8o Paulo, 2015, p. 548 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3de 68 O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espécies: + EVENTUAL - Neste caso, 0 tipo penal ndo exige que o fato seja praticado por mais de uma pessoa. Isso nao impede, contudo, que eventual ele venha a ser praticado por mais de uma pessoa (Ex.: Furto, roubo, homicidio). + NECESSARIO - Nesta hipotese o tipo penal exige que a conduta seja praticada por mais de uma pessoa. Divide-se em: a) condutas paralelas (crimes de conduta unilateral): Aqui os agentes praticam condutas dirigidas 4 obtengéo da mesma finalidade criminosa (associagao criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas convergentes (crimes de conduta bilateral ou de encontro): Nesta modalidade os agentes praticam condutas que se encontram e produzem, juntas, o resultado pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os agentes praticam condutas uns contra os outros (ex. Crime de rixa) 1.2 Requisitos Mas quais sdo os requisitos para que se possa falar em concurso de pessoas? Cinco sao os requisitos para que seja caracterizado o concurso de pessoas. Vejamos: 1.2.1 Pluralidade de agentes Para que possamos falar em concurso de pessoas, é necessdrio que tenhamos mais de uma pessoa a colaborar para o ato criminoso. E necessario que sejam agentes culpaveis? A doutrina se divide, mas prevalece o entendimento de que todos os comparsas devem ter discernimento, de maneira que a auséncia de culpabilidade por doenca mental, por exemplo, afastaria o concurso de agentes, devendo ser reconhecida a autoria mediata. Assim, se uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos (penalmente imputavel) determina a um doente mental (sem qualquer discernimento) que realize um homicidio, nao ha concurso de pessoas, mas autoria mediata, pois o autor do crime foi o mandante, que se valeu de uma pessoa sem vontade como mero instrumento? para praticar o crime. Nao ha concurso, pois um dos agentes ndo era culpavel. Todavia, é bom ressaltar que, nos crimes plurissubjetivos’, se um dos colaboradores nao € culpavel por qualquer razdo, mesmo assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (crime de furto, por exemplo, que eventualmente pode ser um crime qualificado pelo concurso de * WELZEL, Hans. Derecho Penal, parte general. Ed. Roque Depalma. Buenos Aires, 1956, p. 106 3 Aqueles em que necessariamente deve haver mais de um agente, como no crime de associacao criminosa, por exemplo ~ art. 288 do CP Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 68 pessoas, embora seja, em regra, unissubjetivo) também nao é necessario que todos os agentes sejam culpaveis, bastando que apenas um o seja para que reste configurado o delito em sua forma qualificada. EXEMPLO: José, maior e capaz, perfeitamente imputavel, combina de realizar um roubo juntamente com Paulo, adolescente de 17 anos de idade e, portanto, inimputavel. O roubo se realiza. Neste caso, néo podemos falar em autoria mediata entre José e Paulo, eis que Paulo nao foi mero instrumento nas maos de José. Paulo quis participar da empreitada criminosa, e responder por isso, de acordo com as regras préprias do ECA‘. Neste caso, como n&o houve autoria mediata, José deverd responder pelo crime roubo com a majorante de ter sido o crime praticado em concurso de pessoas’, ainda que Paulo responda de acordo com 0 ECA, e nao de acordo com a Lei Penal. Nessas duas ultimas hipéteses, no entanto, no ha propriamente concurso de pessoas, mas o que a Doutrina chama de concurso impréprio, ou concurso aparente de pessoas. Contudo, essa ressalva sé se aplica ao caso de concurso entre culpavel e “nao culpavel que possui discernimento”. Assim, se 0 agente culpavel se vale de alguém sem culpabilidade como mero instrumento, sem que ele possua qualquer discernimento, teremos sempre autoria mediata. 1.2.1.1 Autoria mediata A autoria mediata ocorre quando o agente (autor mediato) se vale de uma pessoa como instrumento (autor imediato) para a pratica do delito EXEMPLO: José, maior e capaz, entrega uma arma de fogo a uma crianga de 05 anos, dizendo que ela deve colocar a arma na cabeca de Maria e fazer uma brincadeira, pois ao apertar o gatilho, sairé agua da arma. A crianga aperta 0 gatilho e Maria morre. Neste caso, temos autoria mediata, pois José (autor mediato) se valeu da crianca (executor) como mero instrumento para a pratica do delito. CR no Todavia, n&o basta que o executor seja um inimputavel, ele deve ser um verdadeiro INSTRUMENTO do mandante, ou seja, ele néo deve ter qualquer discernimento no caso concreto. Ex.: José e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar Maria. José arma o plano e entrega_a arma a Pedro, que a executa. Neste caso, * Estatuto da Crianga e do Adolescents 5 art. 157, §20, 11 do Ci Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 68 Pedro € inimputavel por ser menor de 18 anos, mas possui discernimento, nao se pode dizer que foi um mero “instrumento” de José. Assim, aqui néo teremos autoria mediata, mas concurso aparente de pessoas. Ex.2: José, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum discernimento) uma arma e diz para ele atirar em Maria, que vem a dbito Neste caso ha autoria mediata, pois Mauro (0 inimputavel) foi mero instrumento nas maos de José. = Mas esta é a Unica hipétese de autoria mediata? A resposta é negativa. A melhor Doutrina divide a autoria mediata em trés hipéteses, basicamente®: 1 - Autoria mediata por erro do executor - Neste caso, aquele que pratica a conduta foi induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proibigao). Ex.: Médico que entrega & enfermeira uma injegéio contendo determinada substancia téxica, e determina que esta aplique no paciente, alegando que se trata de morfina, para aliviar a dor’. A enfermeira, aqui, nao atua dolosamente (do ponto de vista “finalistico”), pois apesar de dar causa a morte do paciente (causalidade fisica, pois foi ela quem injetou a substdncia), n&o dirigiu sua conduta a este resultado. O dominio do fato pertencia ao médico, o real infrator. 2 - Autoria mediata por coacdo do executor - Aqui o infrator coage uma terceira pessoa a praticar um delito. Em se tratando de coagdo MORAL irresistivel, teremos um agente nao culpdvel (a coacéo moral irresistivel afasta a culpabilidade). Desta forma, aquele que executa o faz em situagdo de nao culpabilidade. A culpabilidade recai apenas sobre o coator, néio sobre 0 coagido. Ex.: Médico que determina a enfermeira que aplique sobre o paciente uma dose cavalar de veneno. O médico, porém, nao esconde da enfermeira que se trata de veneno, ao contrario deixa isso bem claro. Porém, diz a enfermeira que se ela nao fizer o que foi determinado, iré matar sua filha. Vejam que, neste caso, a enfermeira sabe que esta injetando o veneno, de forma que age dolosamente, mas ainda assim sem culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa. 3 - Autoria mediata por inimputabilidade do agente - Nesta hipétese o infrator se vale de uma pessoa inimputdvel para a prética do delito. A inimputabilidade, aqui, pressupde que o executor (inimputavel) nao tenha discernimento necessario®. Caso o executor, mesmo inimputavel, possua discernimento, néo haveré autoria mediata. Ex.: José, 20 anos, organiza um plano para furtar uma loja de eletrénicos, e combina com Marcelo, de 17, a execugao do plano. Neste caso, nao ha autoria mediata, pois Marcelo, a despeito de sua inimputabilidade legal, tem discernimento para no ser considerado como “objeto”. Por outro lado, no mesmo exemplo, imaginemos que Marcelo tenha 30 © BITENCOURT, Cezer Roberto. Op. Cit, _, p, 560 70 exemplo é de Hans Welzel. (cf. WELZEL, Hans. Op. Cit.__, p. 106) ® WELZEL, Hans. Op. Cit, p. 107-108 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 68 Aula 04 - Prof. ‘anos, mas seja absolutamente incapaz de entender o que se passa (doente mental completo). Neste caso, a inimputabilidade de Marcelo afasta o reconhecimento do concurso de pessoas com José, que responderé como autor mediato do crime. E cabivel autoria mediata nos crimes proprios e de mao prépria? Em relacdo aos crimes préprios se admite a autoria mediata, desde que o autor MEDIATO retina as condicé is exigidas pelo tipo penal. EXEMPLO: Paulo, servidor ptiblico, coage moralmente Maria (coagdo irresistivel), obrigando-a a subtrair 10 notebooks da repartiggo em que ele, Paulo, exerce suas fungées. Paulo, para a execucéo do delito, se valeu de sua fung&o para facilitar a subtracdo. Neste caso, Paulo podera responder por peculato-furto na qualidade de autor mediato. Mas, e se Maria € quem fosse a servidora e Paulo fosse um Particular? Poderia haver autoria mediata? Nao, neste caso nao poderiamos falar em autoria mediata. Contudo, se n&o ha autoria mediata e nao ha concurso de pessoas (pois nao ha concurso de pessoas entre coator e coagido), Paulo ficara impune? N&o, a Doutrina desenvolveu, para tais casos, a figura da AUTORIA POR DETERMINAGAO. Consiste, basicamente, em punir aquele que, embora no sendo autor nem participe, exerce sobre a conduta dominio EQUIPARADO & figura da autoria.? Nao se pode considerar o agente como autor por no reunir os elementos necessérios para tanto. Também no se pode considera-lo como participe, eis que a participac&o pressupée o crime praticado por outro autor (e n&o ha). Ele sera punido, portanto, por ser o autor da determinacdo para a conduta (ter sido 0 responsavel por sua ocorréncia). Em relacdo aos crimes de m@o prépria, contudo, nao se admite a figura da autoria mediata, eis que o crime nao pode ser realizado por interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de falso testemunho, n&o pode coagir alguém a depor em seu lugar, prestando testemunho falso). Neste caso, porém, exemplificativamente, se a testemunha for coagida por terceira pessoa, esta terceira pessoa podera ser considerada AUTOR por determinacao, conforme explicado anteriormente. ° PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Rati. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. So ule, 2008, p. 580/581 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 68 1.2.2 Relevancia causal da colaboracéo A participac&o do agente deve ser relevante para a produgéo do resultado, de forma que a colaborac&o que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal. Além disso, a colaboragéo deve ser prévia ou concomitante a execugdo, ou seja, anterior 4 consumagao do delito, Se a colaboracao for posterior 4 consumacao do delito, como o fato ja ocorreu, ndo ha concurso de pessoas, podendo haver, no entanto, outro crime (favorecimento real, receptaco, etc.). Porém, se a colaboracio for posterior 4 consumacio, mas combinada previamente, ha concurso de pessoas. Ex: Imagine que Poliana decide matar seus pais, e combina com seu namorado para que ele esteja as 20h em ponto na porta de sua casa para Ihe ajudar na fuga. Assim, a conduta do namorado (auxiliar na fuga) é posterior 8 consumac&o, mas fora combinada anteriormente, havendo, portanto, concurso de pessoas. Diversa seria a hipdtese, no entanto, se 0 namorado tivesse ido 4 casa da namorada sem saber que deveria Ihe ajudar na fuga. La chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir dai, concorda em auxilié-la na fuga. Nessa hipotese, 0 namorado comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos do art. 348 do CP). Cuidado com isso! 1.2.3 Vinculo subjetivo (ou liame subjetivo’ Também é conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja concurso de pessoas, 6 necessario que a colaboracéo dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo menos tenha havido adesdo de um a conduta do outro. Deste modo, a colaboracéo meramente causal, sem que tenha havido combinagao entre os agentes, nao caracteriza 0 concurso de pessoas. Trata-se do principio da convergéncia. Caso haja colaboracéo dos agentes para a conduta criminosa, mas sem vinculo subjetivo entre eles, estaremos diante da autoria colateral, e néo da coautoria. 1.2.4 Identidade de infrag&io penal Também conhecido como unidade de infrac&o penal para todos os agentes, estd fundamentado no art. 29 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redacéo dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984). Dai podemos perceber que, se 20 pessoas colaboram para a pratica de um delito (homicidio, por exemplo), todas elas respondem pelo homicidio, independentemente da conduta que tenham praticado (um apenas conseguiu a Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 68 arma, 0 outro dirigiu o veiculo da fuga, outro atraiu a vitima, etc.). As condutas dos agentes, portanto, devem constituir algo juridicamente unitario””. 1.2.5 Existéncia de fato punivel Trata-se do principio da exterioridade. Assim, 6 necessdrio que o fato praticado pelos agentes seja punivel, o que de um modo geral exige pelo menos que este fato represente uma tentativa de crime, ou crime tentado. Para a caracterizacdo do crime tentado, 6 necessario que seja dado inicio a execugSo do crime. Se o fato ficar meramente no plano abstrato, no plano da cogitacao, no ha fato punivel, nos termos do art. 14, II do CP. O art. 31 do CP determina, ainda, de modo especifico para a hipétese de concurso de pessoas, que a colaboracao sé é punivel se o crime for, ao menos, tentado: Art, 31 - O ajuste, a determinacao ou instigacao e 0 auxilio, salvo disposicao expressa em contrario, nao s0 puniveis, se 0 crime no chega, pelo menos, a ser tentado. (Redacio dada pela Lei n° 7.209, de 11,7.1984). Importante ressaltar que, em alguns casos, os atos preparatérios j4 configuram fato punivel, seja porque a lei assim expressamente determina, seja porque eles constituem tipo penal auténomo. EXEMPLO: José e Paulo combinam de fabricar moeda falsa (crime do art. 289 do CP) e, para tanto, adquirem 0 maquinario necessério, mas nao iniciam a produc&o das notas falsas. Neste caso, a principio, a conduta de José e Paulo seria impunivel, eis que n&o foi iniciada a execug&o do crime de moeda falsa. Todavia, o CP jd criminaliza essa conduta como tipo penal auténomo. Trata-se do crime de “petrechos de falsificagio”, art. 291 do CP." 1.3 Modalidades 1.3.1 Coautoria Para entendermos o fenémeno da coautoria, devemos, primeiramente, estudar o que seria a autoria do delito. Varias teorias, ao longo do tempo, procuraram defi AUTOR. © conceito extensivo de autor nao diferencia autor e participe, considerando que todos aqueles que concorrem para o crime so autores do 0 conceito de © BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit___, p. 553. ™ Petrechos para falsificag3o de moeda Art, 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a titulo oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado a falsificacao de moeda: Pena - recluséo, de dois a seis anos, e mult Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 68 delito. Esse conceito é baseado numa premissa “causal-naturalista” de que todo aquele que dé causa ao delito (por qualquer forma), deve ser considerado autor do crime. Contudo, como pelo conceito extensivo de autor nao era possivel definir quem era autor e quem era participe, surgiu a teoria subjetiva da participacao, que considerava como autor aquele que pratica o fato como préprio, que quer 0 crime “como préprio”, como seu, e participe aquele que quer o fato como alheio, pratica uma conduta acesséria ao “crime de outra pessoa”.!? Isso era fundamental para a fixago da pena de cada um, jé que aos autores deveriam ser aplicadas penas, em tese, mais severas. Como 0 conceito extensivo apresentou mais problemas que solugées, surgi 0 conceito restritivo de autor'*. Para esta teoria restritiva’*, autor e participe no se confundem. Autor serd aquele que praticar a conduta descrita no nucleo do tipo penal (subtrair, matar, roubar, etc.). Todos os demais, que de alguma forma prestarem colaboracao (material ou moral), ser&o considerados participes. Esta foi a teoria adotada pelo CP. Agora que jé sabemos que o CP diferencia autor e participe, precisamos saber qual € 0 critério para se diferenciar um do outro. Trés teorias surgiram. A primeira teoria, a teoria objetivo-formal, estabelece que autor é quem realiza a conduta prevista no nucleo do tipo, sendo participes todos os outros que colaboraram para isso, mas no realizaram a conduta descrita no nucleo do tipo. Para esta teoria, por exemplo, no crime de homicidio, somente seria autor aquele que efetivamente praticasse a conduta de “matar” alguém. Todos os outros colaboradores seriam participes. O grande problema desta teoria é considerar o autor intelectual (mandante) como participe, e ndo como autor. Mais que isso: Essa teoria ndo explica o fenémeno da autoria mediata (quando alguém se vale de um inimputavel para cometer um crime). A segunda teoria, a teoria objetivo-material, entende que autor é quem colabora com participacéo de maior importancia para o crime, e participe é quem colabora com participac3o reduzida, independentemente de quem pratica o nicleo do tipo (verbo que descreve a conduta criminosa - matar, subtrair, etc.). Aterceira e ultima teoria, a teoria do dominio do fato, criada pelo pai do finalismo, Hans Welzel'®, e posteriormente desenvolvida por Claus Roxin, defende que autor é todo aquele que possui o dominio da conduta criminosa, seja ele o executor (quem pratica a conduta prevista no nticleo do tipo) ou ndo*®. Para esta teoria, o autor seria aquele que decide o tramite do crime, sua prética ou ndo, etc. Essa teoria explica, satisfatoriamente, 0 caso do mandante, por * BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit, __, p. 555 2 PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Rail. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. So Paulo, 2008, p. 572. 4 Também chamada por alguns de teoria dualist ou objetiva. 18 WELZEL, Hans. Op. Cit.__, p. 105 °© MUNOZ CONDE, Francisco. Teorla general de! delto, Ed, Temis Editorial. Bogots, 1999, p. 155-156 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 68 ‘exemplo, que mesmo sem praticar o nucleo do tipo (“matar alguém”), possui o dominio do fato, pois tem o poder de decidir sobre o rumo da pratica delituosa. Para esta teoria, o participe existe, e é aquele que contribui para a pratica do delito””, embora nao tenha poder de direcéo sobre a conduta delituosa. O participe sé controla a prépria vontade, mas a néo a conduta criminosa em si, pois esta nao lhe pertence. INDO Re fundo A teoria do dominio do fato tem por finalidade estabelecer uma diferenciac&o entre autor e participe a partir da nocdo de “controle da situacao”. Aquele que, mesmo no executando a conduta descrita no nticleo do tipo, possui todo © controle da situag’o, inclusive com a possibilidade de intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta, deve ser considerado autor, e n&o participe. O controle (ou dominio) da situag&o pode se dar mediante’*: 1 - Dominio da agio - 0 agente realiza diretamente a conduta prevista no tipo penal 2 - Dominio da vontade - O agente nao realiza a conduta diretamente, mas € 0 "senhor do crime", controlando a vontade do executor, que é um mero instrumento do delito (hipétese de autoria mediata). 3 - Dominio funcional do fato - © agente desempenha uma func&o essencial e indispensavel ao sucesso da empreitada criminosa, que é dividida entre os comparsas, cabendo a cada um uma parcela significativa, essencial e imprescindivel. Em todos estes casos, 0 agente sera considerado autor do delito. A tteoria do dominio do fato, porém, nao se aplica aos crimes culposos, pois neste nao hd dominio final do fato, pois o fato final (resultado) no é buscado pelos agentes, que pretendiam outro resultado’®. A teoria adotada pelo CP é a teoria objetivo-formal, considerando autor aquele que realiza a conduta descrita no nucleo do tipo, jé que denota sua “vontade de autor” (animus auctoris), em contraposigéo a “vontade de colaboracao” do participe (animus socii). Entretanto, considera-se adotada a teoria do dominio do fato para os crimes em que ha autoria mediata, autoria intelectual, etc., de forma a complementar a teoria adotada. ’ WELZEL, Hans. Op. Cit.__, p.117-119 0 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.__, p. 57-558 * Idem, p. 558 Prof. Renan Araujo 11 de 68 Aula 04 — Prof. Esta 6, portanto, a posicdo doutrinaria a respeito da posigao do CP sobre a diferenca entre autor e participe. Desta maneira, apés entendermos quem seria considerado autor do delito para o CP, podemos definir a coautoria como a espécie de concurso de pessoas na qual duas ou mais pessoas praticam a conduta descrita no nucleo do tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais pessoas entram num banco, portando armas, e anunciam um assalto, todas elas praticaram a conduta descrita no nticleo do tipo do art. 157, § 2°, I e II do CP (subtrair para si ou para outrem, mediante violéncia ou grave ameaca...). Logo, todas s&o coautoras do delito. No mesmo exemplo, porém, o dono do carro, que emprestou o veiculo para a fuga, é mero participe. Nao confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver vinculo subjetivo ligando as condutas de ambos os autores. . Imaginem que A e B, desafetos de C, sem que um saiba da existéncia do outro, escondem-se atrds de drvores esperando a passagem de C, a fim de matd-lo. Quando C passa, ambos atiram, e C vem a dbito. Nesse caso, ndo houve coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, ai vai mais uma informac&o: Imaginem que o laudo identifique que apenas uma bala atingiu C, direto na cabega, levando-o a ébito. Nesse caso, 0 laudo nao conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como no se pode definir quem efetuou o disparo fatal, ambos respondem pelo crime de homicidio TENTADO, pois no se pode atribuir a nenhum deles o homicidio consumado, jé que o laudo é inconclusivo quanto a isto. Este ¢ o fendmeno da autoria incerta. No entanto, se ambos estivessem agindo em conluio, com vinculo subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas, ambos responderiam por crime de homicidio CONSUMADO, pois nesse caso seria irrelevante saber de qual arma partiu a bala que levou C a ébito. A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que é aquela na qual a conduta dos agentes s&o diversas e se somam, de forma a produzir o resultado. Assim, se Ricardo segura a vitima para que Poliana a espanque, ambos sao coautores do crime de lesao corporal, mediante coautoria funcional. Porém, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que é a hipotese em que ambos os coautores realizam a mesma conduta. Assim, no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem a vitima, ambos seriam coautores mediante coautoria material. No.guadrabaie woumosiav para vor algumas hipéteses polémicas Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 68 Aula 04 - Prof. desde que ambos os agentes possuam a qualidade exigida pela lei, ou que, aqueles que nao a possuem, ao menos tenham ciéncia de que o outro agente age nessa qualidade. N&o se admite a coautoria nos crimes de méo-prépria, pois so considerados de conduta infungivel, sé podendo ser praticados pelo sujeito especificamente descrito pela lei. A Doutrina se divide quanto a possibilidade de coautoria em crimes omissivos, da seguinte forma: 1 - Parte entende que NAO HA POSSIBILIDADE DE COAUTORIA. OU PARTICIPACAO (Concurso de agentes), pois TODAS AS PESSOAS PRATICAM O NUCLEO DO TIPO, DE MANEIRA AUTONOMA; 2 - Outra parte da Doutrina entende poderia haver concurso de pessoas, na modalidade de coautoria, mas é minoritario; 3 - A Doutrina ligeiramente majoritdria entende que é possivel PARTICIPACAO, mas NAO COAUTORIA. Na autoria mediata nao ha concurso de pessoas entre autor mediato autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu de alguém sem culpabilidade para a execugao do delito. Entretanto, é possivel coautoria e também participagéo na autoria mediata, desde que haja colaboracao entre os agentes mediatos. NUNCA HAVERA CONCURSO DE PESSOAS ENTRE AUTOR MEDIATO E AUTOR IMEDIATO. CUIDADO! Na coagio fisica irresistivel, ndo ha autoria mediata, mas autoria direta, pois o agente que realiza a ado ndo possui conduta, ja que n&o ha vontade. Nesse caso, aquele que pratica a coaggo fisica irresistivel é autor direto, nao mediato; Admite-se a autoria mediata nos crimes préprios, mas no nos crimes de mo prépria (ha alguns doutrinadores que entendem ser possivel). 1.3.2 Participacéo Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo de autor, distinguindo-se autor e participe. Adotou-se, ainda, a teoria objetivo-formal, de forma que podemos definir a participacéo como a Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 68 modalidade de concurso de pessoas na qual o agente colabora para a pratica delituosa, mas nao pratica a conduta descrita no nticleo do tipo penal. A participac&o pode ser: * Moral - E aquela na qual o agente ndo ajuda materialmente na pratica do crime, mas instiga ou induz alguém a praticar o crime. A instigag&o ocorre quando o participe age no psicolégico do autor do crime, reforcando a ideia criminosa, que j4 existe na mente deste. O induzimento, por sua vez, ocorre quando o participe faz surgir a vontade criminosa na mente do autor, que no tinha pensado no delito; + Material - A participac&o material é aquela na qual o participe presta auxilio ao autor, seja fornecendo objeto para a pratica do crime, seja fornecendo auxilio para a fuga, etc. E também chamada de cumplicidade. Este auxilio nado pode ser prestado apos a consumacio, salvo se o auxilio foi previamente ajustado. = Ja que o participe nao pratica a conduta descrita no niicleo do tipo penal, como puni-lo? A punibilidade do participe n’o pode ser realizada diretamente pela descrig&o do fato tipico. De fato, aquele que empresta uma arma para que alguém mate outra pessoa, nao poderia responder por homicidio, pois o art. 121 do CP diz: “matar alguém”. Aquele que empresta a arma nao esta “matando”, por isso se diz que nao ha, aqui, adequacao tipica imediata. Contudo, a punibilidade do participe € possivel porque hd normas de extensao da adequacao tipica (no caso, o art. 29 do CP), que permitem a extensdo do raio de aplicacéo do tipo penal para aqueles que, de alguma forma, tenham contribuido para o delito. Trata-se da chamada adequacao tipica mediata. Como a conduta do participe é considerada acessoria em relagéio & conduta do autor (que é principal), o participe é punido em raz&o da teoria da acessoriedade”’. Porém, existern quatro teorias da acessoriedade: + Teoria da acessoriedade minima - Entende que a conduta principal deva ser um fato tipico, no importando se € ou ndo um fato ilicito. EXEMPLO: Imagine que Marcio e Jodo combinam de matar Paulo. Na data combinada para a execugéio, Marcio guia 0 carro até o locale fica esperando do lado de fora. Jodo se dirige até Paulo e, apés uma discuss&o, Paulo comeca a agredir Jodo, que na verdade mata Paulo em legitima defesa. Joo matou Paulo em legitima defesa e nao em razdo do ajuste com Marcio (nao tendo praticado fato ilicito, mas apenas tipico), mas por esta teoria, mesmo assim Marcio ® A teoria da acessoriedade deriva de uma das teorias dos FUNDAMENTOS da punibilidade do participe, que 6 a TEORIA DO FAVORECIMENTO (ou da CAUSACAO), que diz que 0 participe deve ser punido por ter coloborado para que o delito fosse realizado. Em contraposicao a esta, havie a teoria de participacéo na culpabilidade, que defendia que o participe deveria ser punido apenas por exercer “influéncia negativa” sobre 9 autor. Esta ultima fol abandonada pela Doutrina ha algumas décadas. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 68 Aula 04 - Prof. responderia como participe do crime. Veja que Jodo, de fato, matou Paulo. Contudo, 0 fato nao é ilicito, pois Joao agiu em legitima defesa. Porém, para esta teoria, ainda que a conduta de Jodo seja considerada apenas tipica, mas nao ilicita, Marcio deveria ser punido. O pior de tudo é que, neste caso, Marcio, que ndo praticou a conduta seria punido, mas JoSo seria absolvido pela legitima defesa. * Teoria da acessoriedade limitada - Exige que o fato praticado (conduta principal) seja pelo menos uma conduta tipica e ilicita. Assim, no exemplo dado acima, a conduta do participe Marcio néo & punivel, pois a conduta principal, apesar de tipica, nao ¢ ilicita. Veja que, para esta corrente Doutrinaria, se o fato praticado pelo autor NAO FOR ILiCITO (Ainda que seja um fato tipico), em razio de legitima defesa, etc., o participe no deve ser punido. « Teoria da acessoriedade maxima - Para esta teoria, o participe s6 ser punido se 0 fato for tipico, ilicito e praticado por agente culpavel. Essa teoria faz exigéncia irrazodvel, pois a culpabilidade é uma questo pessoal do agente, ndo guardando relacéio com o fato. Assim, imagine que Carlos, maior de idade, seja participe de um roubo praticado por Lucas, menor de idade. Para esta corrente, Carlos nao poderia responder pelo roubo praticado (na qualidade de participe), pois Lucas (0 autor principal) é inimputavel (nao tem culpabilidade), sendo o fato apenas tipico e ilicito, sem o complemento da culpabilidade. + Teoria da hiperacessoriedade - Exige que, além de o fato ser tipico e ilicito e o agente culpavel, o autor tenha sido efetivamente punido para que o participe responda pelo crime. E ainda mais irrazodvel que a Ultima. Imagine que José seja participe de um roubo praticado por Marcelo. No decorrer do processo, Marcelo vem a falecer (0 que gera a extingo da punibilidade de Marcelo, nos termos do CP). Para esta corrente, como houve extinggo da punibilidade em relacdo a Marcelo (o autor do delito), 0 participe (José) ndo podera mais ser punido. , Mas com certeza ndo adotou a teoria da acessoriedade teoria da hiperacessoriedade (as extremas). A Doutrina entende que a teoria que mais se amolda ao nosso sistema é a teoria da acessoriedade limitada”", exigindo que o fato seja somente tipico e ilicito para que o participe responda pelo crime. Questées interessantes acerca da participacao: ima nem a ® BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit,__, p. 565 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 68 PRESTE atencao A lei admite a redugSo da pena de 1/6 a 1/3 se a participagao 6 de menor importancia (art. 29, § 1° do CP). Isto nao se aplica as hipéteses de coautoria, mas apenas a participacéo; A Doutrina admite a participacdo nos crimes comissivos por omisso, quando o participe devia e podia evitar o resultado (art. 13, § 2° do CP). A participacao inécua no se pune. Assim, se A empresta uma faca a B, de forma a auxilid-lo a matar C, e B mata C usando seu revélver, a participacéo de A foi absolutamente indécua, pois em nada auxiliou no resultado, Da mesma forma, se A instiga B a matar C, e B realiza a conduta porque ja estava determinado a isso, a instigagéo promovida por A no teve qualquer eficdcia, pois B j4 mataria C de qualquer forma. Participacgao em cadeia é possivel: Assim, se A empresta uma arma a B, para que este a empreste a C, a fim de que este ultimo mate D, tanto A quanto B sao participes do crime, por prestarem auxilio material em cadeia. A participagao em aco alheia ocorre quando o participe, sem qualquer liame subjetivo com 0 autor, contribui de maneira culposa para a pratica do delito. Assim, o funcionario publico que nao tranca a porta da reparticSo ao final do expediente, e esta vem a ser furtada por um particular na madrugada, responde por peculato culposo (art. 312, § 2° do CP), enquanto o particular responde por furto. No ha concurso de pessoas pois falta o liame subjetivo entre ambos (coeréncia de vontades). 1.4 Comunicabilidade das circunstancias O art. 30 do CP estabelece que: Art. 30 - No se comunicam as circunstdncias e as condicées de carter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Antes de estudarmos a comunicabilidade ou nao das circunstancias, devemos diferenciar a mera circunstancia da circunstancia elementar do crime. Assim, a circunstan “alguém” no crime de homicidio, é uma elementar, pois se o fato for praticado contra um animal, por exemplo, no haveré homicidio. Por sua vez, a mera circunstancia nao é indispensavel a caracterizaciio do crime, pois apenas agregam um fato que, se presente, aumenta ou diminui a pena. Assim, 0 “motivo torpe” é uma circunstancia nao-elementar, ou mera Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 68 circunstancia, pois caso o fato seja praticado sem essa circunstancia, continua a existir homicidio, no entanto, sem a qualificadora. 1.4.1 Espécies de elementares e de circunstancias Podem ser subjetivas (de carter pessoal), quando relativas 4 pessoa do agente. E 0 caso da condic&o de funciondrio publico, que é pessoal, pois se refere ao agente. Podem ser, ainda, objetivas (ou de carter real), quando se referem ao fato criminoso em si, seu modus operandi, etc. Assim, o emprego de violéncia, no crime de roubo (art. 157 do CP) é uma elementar objetiva. As condicées pessoais ndo se confundem com as circunstancias ou elementares de carater pessoal. As primeiras sao fatores pessoais do agente, que independem da prdtica da infracSo penal. Assim, 0 fato de o agente ser menor de 21 anos é uma condic&o pessoal, e no uma circunstancia de carater pessoal, tampouco uma elementar. Com base nesses trés institutos (elementares, circunstancias e condicdes pessoais), Y As circunstancias e condigées de carater pessoal nao se comunicam - Se A contrata B, para que este mate C, em razao deste ultimo ter estuprado sua filha, A comete o crime de homicidio privilegiado, em razao do relevante valor moral (art. 121, § 1° do CP). Entretanto, B nao comete o crime de homicidio privilegiado, pois a circunstancia “relevante valor moral” é pessoal, néo se estendendo ao coautor; v As circunstancias de carter real, ou objetivas, se comunicam = Porém, € necessdrio que a circunst4ncia tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais agentes. Imagine que A contrata B para matar C. B informa a A que usara de emboscada (portanto, homicidio qualificado, nos termos do art. 121, § 2° do CP), @ A concorda com isto. Nesse caso, a circunstancia objetiva “emboscada” (relativa a0 meio utilizado), se comunica, pois embora Ano tenha usado de emboscada, concordou com esta pratica por B. Diversamente, se B praticasse o crime mediante emboscada sem nada comunicar ao mandante, A, esta circunstancia ndo se comunicaria, por nao ter entrado na esfera de conhecimento de A; v As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou subjetivas - No entanto, mais uma vez se exige que estas elementares tenham entrado no ambito de conhecimento dos demais agentes. Imaginem que Julio, servidor publico, convida Marcelo a entrar na reparticao onde trabalham, valendo-se da condic&o de Julio, para subtrair alguns computadores. Caso Marcelo conheca a condig&o de funcionario publico de Julio, ambos respondem pelo crime de peculato-furto (art. 312, § 1° do CP). Caso Marcelo desconhega essa circunstancia elementar, responde ele apenas pelo crime de furto, Prof. Renan Araujo 17 de 68 pois a auséncia dessa circunstancia faz desaparecer o crime de peculato-furto, mas a conduta ainda é punivel como furto comum. 1.5 Cooperacao dolosamente distinta A cooperacao dolosamente distinta, também chamada de “participagéo em crime menos grave” ou “desvio subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar determinado crime, mas durante a execugdo, um deles decide praticar outro crime, mais grave. Nesse caso, aplica-se o art. 29, § 2° do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redacéo dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) .) § 2° - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- 4 aplicada a pena deste; essa pena seré aumentada até metade, na hipotese de ter sido previsivel 0 resultado mais grave. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) maginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto a uma casa que imaginam estar vazia. Camila espera no carro enquanto Herval adentra @ residéncia. Entretanto, ao chegar a residéncia, Herval se depara com dois segurangas, e troca tiros com ambos, levando-os a dbito (sinistro esse cara). Apos, entra na casa e subtrai diversos bens. Volta ao carro e ambos fogem. Camila no quis participar de um latrocinio (que foi o que efetivamente ocorreu), mas apenas de um furto. Assim, segundo a primeira parte do § 2° do art. 29 do CP, responderé somente pelo furto. Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o latrocinio era provavel (se soubesse, por exemplo, que Herval estava armado e que havia a possibilidade de ter segurangas na casa), a pena do crime de furto (ndo a do latrocinio!!) seré aumentada até a metade. Alei diz “até a metade”, logo, o aumento pode no chegar a esse patamar. O aumento de pena ir variar conforme o grau de pre’ lade do crime mais grave para o qual Camila nao se predispés, mas era previsivel. os ve DESPENCA. na prova CUIDADO MASTER! Existe uma questao muito controvertida no que se refere acon pessoas @ possibilidade (ou ndo) de concurso de pessoas S80 muitas, MUITAS ideias diferentes. Cada autor inventa alguma coisa para vender seu livro, certo? Bom, resumidamente, podemos definir a Doutrina majoritaria da seguinte forma: Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 68 COAUTORIA EM CRIMES CULPOSO - E possivel, pois é possivel que duas pessoas, de comum acordo, resolvam praticar uma conduta imprudente, por exemplo. Ex.: Dois rapazes resolvem atirar um mével do 10° andar de um prédio, sem inteng&o de atingir ninguém, mas acabam lesionando uma pessoa. PARTICIPAGAO EM CRIME CULPOSO - Depende. Podemos estar falando de participag&o DOLOSA ou participaggo CULPOSA. DOLOSA - No cabe participacéo dolosa em crime culposo, pois a Doutrina entende que nao ha “unidade de vontades” entre os agentes (um quer © resultado a titulo de dolo, e 0 outro, executor, é apenas um descuidado). Assim, no ha “vinculo subjetivo” entre eles no que tange ao resultado. Logo, cada um responde por sua conduta. CULPOSA - E possivel, pois é possivel que alguém, por culpa, induza, instigue ‘ou preste auxilio ao executor de uma conduta também culposa, ¢ haveria “unidade de vontades“. CUIDADO: O STJ entende que NAO cabe nenhum tipo de participagdo em crime culposo. Parte da Doutrina também segue este entendimento. 1.6 Multiddo delinquente 22 Também chamada de “multidéo criminosa””, séo considerados pela doutrina como aqueles atos em que intmeras (incontéveis, uma multidao) pessoas praticam 0 mesmo delito, agindo em concurso de pessoas, muitas vezes sem um acordo prévio, mas cada uma aderindo tacitamente a conduta da outra. Ex.: Linchamentos, brigas de torcidas organizadas, saques a lojas ou a carretas tombadas, etc. A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, tem-se CONCURSO DE PESSOAS, pois ha vinculo subjetivo entre estas pessoas, ainda que técito (néo explicito). 0 agente que praticar o delito nestas condigdes, porém, deveré ter sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e do CP, jd que se trata de situacdo em que ha maior vulnerabilidade psicolégica para que uma pessoa venha a aderir a uma conduta criminosa. Por outro lado, os que promoverem, organizarem ou liderarem a conduta criminosa terdo suas penas agravadas (art. 62, I do CP). 2 CONCURSO DE CRIMES 2.1 Conceito e natureza Assim como é plenamente possivel que duas ou mais pessoas se unam para praticar determinado delito, é plenamente possivel que de uma mesma conduta (ou de uma série de condutas interligadas) surjam varios crimes. % 0 termo “multidgo criminosa’ 6 utilizado, dentre outros, por Re de Direito Penal, Parte Geral. Ed. Revista dos Tribunal Ariel Dotti (cf. DOTTI, René Ariel. Curso Sao Paulo. 2012, p. 459) Prof. Renan Araujo 19 de 68 Aula 04 - Pro O concurso de crimes pode ser de concurso formal, concurso material e crime continuado. A exata caracterizagéo de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso influenciaré na adog&o do sistema de aplicacdo da pena. Trés também sao os sistemas de aplicagdo da pena: + Sistema do ctimulo material - Aqui, ao agente ¢ aplicada a pena correspondente ao somatério das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal impréprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP); + Sistema da exasperacao - Aplica-se ao agente somente a pena da infragéo penal mais grave, acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal proprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do CP); + Sistema da absorc¢éo - Aplica-se somente a pena da infracao penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em relago aos crimes falimentares. 2.2 Espécies 2.2.1 Concurso material (ou real) de crimes Esta regulado pelo art. 69 do CP: Art. 69 - Quando 0 agente, mediante mais de uma acéo ou omissao, pratica dois ou mais crimes, idénticos ou nao, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicacéo cumulativa de penas de reclusso e de detencéo, executa-se primeiro aquela, (Redacéo dada pela Lei n® 7.209, de 11.7.1984) § 10 - Na hipétese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, no suspensa, por um dos crimes, para os demais seré incabivel a substituicao de que trata o art. 44 deste Cédigo. (Redacao dada pela Lei n? 7.209, de 11.7.1984) § 20 - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, 0 condenado cumpriré simultaneamente as que forem compativeis entre si e sucessivamente as demais, (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Nesse fenémeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. Pode ser homogéneo, quando todos os crimes praticados sao idénticos, ou heterogéneo, quando os crimes sao diferentes. Esse ctimulo de penas deve ser aplicado pelo Juiz na hora da sentenga, se os processos tiverem sido reunidos por conexo, ou pelo Juiz da execugéo, caso tenham sido aplicadas as penas em processos diversos (nos termos do art. 66, III, a da LEP). Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 68 Se for imposta pena de recluséo a um dos crimes e de detencao a outro, executa-se primeiramente a de reclusdo, nos termos do art. 69, caput, segunda parte, do CP. Sé serd possivel a aplicac&o de penas restritivas de direitos a um dos crimes se em relac&o aos outros foi aplicada pena também restritiva de direitos ou, em caso de ter sido aplicada pena privativa de liberdade, esta foi suspensa (é 0 chamado sursis), nos termos do art. 69, § 1° do CP. As penas restritivas de direitos podem ser cumpridas simultaneamente, desde que compativeis. Assim, a pena de limitacdo de final de semana n&o pode ser cumprida simultaneamente com outra restritiva de direitos idéntica (limitacéo de final de semana), pois nesse caso 0 agente estaria cumprindo apenas uma das penas (e pagando as duas o malandro!). Entretanto, é plenamente possivel o cumprimento simultaneo de pena restritiva de direitos consistente em prestagao de servicos 4 comunidade e outra consistente em prestagdo pecuniaria ($$), pois isso ndo importa em prejuizo a ninguém (nem ao Estado nem ao infrator).. Sé é possivel a suspensdo condicional do processo (art. 89 da Lei 9.09/95) se 0 somatério das penas minimas previstas para todos os crimes for inferior a um ano. Assim, se 0 acusado praticou dois crimes em concurso material, sendo a pena minima de ambos estipulada em 03 meses de detencgo, é possivel a suspensao condicional do processo. 2.2.2 Concurso formal de crimes No concurso formal, ou ideal, 0 agente, mediante uma Unica conduta, pratica dois ou mais crimes, idénticos ou no. Nos termos do art. 70 do CP: Art. 70 - Quando o agente, mediante uma sé aco ou omissio, pratica dois ou mais crimes, idénticos ou no, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabiveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se 2 ac3o ou omissao é dolosa e os crimes concorrentes resultam de designios auténomos, consoante o disposto no artigo anterior. (Redago dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Paragrafo nico - Nao poderé a pena exceder a que seria cabivel pela regra do art. 69 deste Cédigo. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Primeiramente, deve ser esclarecido a vocés que deve Haver Unidade de . No entanto, a unidade de conduta nao significa unidade de atos, pois existem condutas que podem ser fracionadas em diversos atos, como no caso de alguém que mata outra pessoa com diversas pauladas na cabega. Embora neste caso haja diversos atos, ha unidade de conduta. © concurso formal seré homogéneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta tinica forem idénticos, e ser heterogéneo se os crimes praticados forem diversos. O concurso formal pode ser, ainda, perfeito ou imperfeito: + Concurso formal perfeito (préprio) — Aqui o agente pratica uma Gnica conduta e acaba por produzir dois resultados, embora Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 68 nao pretendesse realizar ambos, ou seja, nado ha designios auténomos (inteng&o de, com uma tinica’ conduta, praticar dolosamente mais de um crime). Exemplo: Imaginem que Camila, dirigindo seu Bugatti pelas ruas de S30 Paulo, em altissima velocidade, atropela, sem querer, um pedestre, que vem a dbito, e causa lesées graves em outro pedestre. Nesse caso, Camila responde pelos crimes de homicidio culposo e lesdo corporal culposa em concurso formal, aplicando-se a ela a pena do homicidio culposo (mais grave) acrescida de 1/6 até a metade”, + Concurso formal imperfeito (impréprio) — Aqui o agente se vale de uma Gnica conduta para, dolosamente, produzir mais de um crime. Imaginem que, no exemplo anterior, Camila desejasse matar o pedestre, antigo desafeto, bem como lesionar 0 outro pedestre (sua ex-sogra). Assim, com sua Unica conduta, Camila objetivou praticar ambos os crimes, respondendo por ambos em concurso formal imperfeito, e Ihe sera aplica a pena de ambos cumulativamente (sistema do ctimulo material), pois esse concurso formal é formal apenas no nome, ja que deriva de intengdes (designios) auténomas, nos termos do art. 70, segunda parte, do CP. 2.2.3 Aplicacéo da pena no concurso formal one utilizando-se como base a pena do crime mais grave, aumentada (exasperada) de 1/6 até a metade (art. 70, primeira parte, do CP). © quantum do aumento (entre 1/6 e metade da pena usada como base) seré definido mediante a andlise da quantidade de crimes praticados. Se praticados poucos crimes, aplica-se 0 aumento minimo; se praticados diversos crimes mediante a Unica conduta, aplica-se o aumento em seu montante maximo. Trata-se, portanto, de uma formula de aplicagSo da pena que visa a beneficiar o réu, em razao do menor desvalor de sua conduta. Entretanto, se estivermos diante de concurso formal imperfeito (impréprio), aplica-se a regra estabelecida pelo art. 70, segunda parte, do CP, ou seja, o sistema do ciimulo material, pois o agente se valeu de uma Unica conduta para praticar diversos crimes de maneira dolosa, agindo com intengdes auténomas (designios auténomos). Ha, ainda, a figura que se denominou de ctimulo material benéfico, que ocorre quando o sistema da exasperacéio se mostra prejudicial ao réu em relac3o ao sistema da cumulacao. ®° E possivel 0 reconhecimento de concurso formal préprio entre crimes dolosos, desde que seja possivel compreender que houve uma Unica empreitada criminosa, ou seja, os crimes faziam parte de um Unico intento criminoso (ex.: José entra num 6nibus e rouba 0 dinheiro relativo as passagens e também rouba o celular de um passageiro). Nao ha, aqui, crime Unico, ante a diversidade dos patriménios lesados, devendo, no entendimento do STJ, ser reconhecido o concurso formal de crimes. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 68 EXEMPLO: Imaginem que o agente tenha cometido homicidio doloso simples (pena de 06 a 20 anos) e tenha, culposamente, mediante a mesma conduta, lesionado levemente uma terceira pessoa, cometendo © crime de lesdes corporais culposas em concurso formal com o homicidio (art. 129, § 6° do CP, pena de 02 meses a um ano de detencao). Nesse exemplo acima, o sistema da exasperacao é muito prejudicial ao réu. Imaginem que o infrator tenha sido condenado pelo crime de homicidio a 10 anos de reclus&o (crime mais grave). Nesse caso, pelo sistema da exasperacdo, por ter havido concurso formal, essa pena deve ser aumentada de 1/6 até a metade. Logo, a pena dele variard de 11 anos e 08 meses a 15 anos de reclusdo (pena base + 1/6 e pena base + metade). Pelo sistema do ctimulo material, como a pena de lesdes culposas ¢ bem pequena, a pena do agente variaria de 10 anos e dois meses a 11 anos de reclusdo, Nesse caso, percebam, 0 sistema da exasperacao € prejudicial ao réu. Assim, a lei estabelece que, nesse caso, ELE NAO SE APLICA, aplicando-se o sistema do ciimulo material, pois o sistema da exasperagao foi criado para beneficiar o réu e nao pode ser aplicado quando resultar em prejuizo a ele. Nos termos do § Unico do art. 70 do CP: Art. 70 (...) Paragrafo Unico - N3o poderé a pena exceder a que seria cabivel pela regra do art. 69 deste Cédigo. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) 2.2.4 Crime continuado Também conhecido como continuidade delitiva, é a espécie de concurso de crimes na qual o agente pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas condiges séo considerados pela Lei (por uma ficco juridica) como crime Unico. Nos termos do art. 71 do CP: Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma aco ou omisséo, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condiges de tempo, lugar, maneira de execucdo_e outras semelhantes, devem os subseqientes ser havidos como continuacao do primeiro, aplica-se-Ihe a pena de um sé dos crimes, se idénticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois tercos. (Redacao dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Parégrafo Unico - Nos crimes dolosos, contra vitimas diferentes, cometidos com violéncia ou grave ameaca 2 pessoa, poderd o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstancias, aumentar a pena de um sé dos crimes, se idénticas, ou a mais grave, se diversas, até 0 triplo, observadas as regras do parégrafo Unico do art. 70 e do art. 75 deste Cédigo.(Redacso dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) Duas teorias buscam explicar este instituto: + Teoria da ficcéo juridica - Para esta teoria, a Gontinuidade |, pois, na verdade, existem diversos crimes, tendo a Lei considerado os diversos atos como apenas um crime, para fins de aplicagao da pena. Esta teoria foi desenvolvida por Francesco Carrara; Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 68 Aula 04 — Prof. + Teoria da realidade, ou da unidade real - Para esta teoria, o crime continuado é, por sua propria natureza, um tinico delito, n’o havendo que se falar em ficc&o juridica. OlnossoiCP adotoul/a teoria da lficcdo|juridiea, pois a consideracao dos diversos delitos como um tinico crime se da apenas para fins de aplicacéo da pena, tanto que, no que tange a prescric¢do, eles séo considerados crimes auténomos, nos termos do art. 119 do CP: Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extingao da punibilidade incidiré sobre a pena de cada um, isoladamente. (Redacéo dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984) 2.2.5 Requisitos para a configurag&o do crime continuado A Doutrina entende serem trés os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de condutas; b) pluralidade de crimes da mesma espécie; e c) condigées semelhantes de tempo, lugar, modo de execucSo e outras semelhancas. Ha divergéncia doutrinaria quanto 4 necessidade de haver ou nao unidade de designio. A pluralidade de conduta decorre da redag&o do art. 71, que fala em “mediante mais de uma acgao ou omissao”. A pluralidade de crimes causa polémica. O que seriam crimes da mesma espécie? A Doutrina e a Jurisprudéncia nao sao pacificas. Parte minoritaria entende que crimes da mesma espécie séo aqueles que tutelam o mesmo bem juridico. Assim, para essa corrente, furto, estelionato, apropriagéo indébita, etc., seriam todos crimes da mesma espécie, pois seriam todos “crimes contra o patriménio”. No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie sdo aqueles tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, consumados ou tentados. Assim, seriam crimes da mesma espécie roubo e roubo qualificado. Vejamos: Nao ha continuidade delitiva porque os crimes de falsificacéio de documento Ptiblico e falsidade ideolégica nao sao da mesma espécie. (...) (AgRg no AREsp 311.775/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/05/2014, Die 03/06/2014) Entretanto, essa corrente entende que, além de serem tratados no mesmo dispositivo legal, devem tutelar 0 mesmo bem juridico. Assim, roubo simples (art. 157) e latrocinio (art. 157, § 3° do CP) nao seriam crimes da Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 68

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