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BRANCA DIAS

O Fantasma de Branca Dias


04.09.2016
Os mistérios em torno de uma personagem histórica que deu origem a uma das
lendas mais tradicionais (e assustadoras) no Recife

Conta a lenda que Branca Dias era uma rica dona de engenho vivendo tranquila no
Recife de antigamente até que começou em Pernambuco a perseguição aos judeus
promovida pela Inquisição: um tribunal formado a partir da Idade Média por religiosos
da Igreja Católica para revelar e punir pessoas que não eram cristãs e que supostamente
cometiam bruxaria. Branca Dias praticava em segredo a religião judaica e sabia que se
aproximava a sua condenação – tanto por sua crença, quanto por ser dona de uma
magnífica coleção de objetos de prata que poderia se confiscada pelos perseguidores.

À primeira menção de que a Inquisição viria pegá-la, Branca Dias juntou todos os
objetos valiosos os atirou num riacho que corria no terreno da vasta propriedade na qual
morava. Os temores da mulher se concretizaram: ela foi levada para Portugal, julgada e
condenada à morte. Já o curso d’água ficou conhecido a partir de então como “Riacho
da Prata”, e depois como “Riacho do Prata”.

Localizando no Bairro de Dois Irmãos, durante muito tempo o riacho serviu como
manancial para abastecer a capital pernambucana. O açude criado para viabilizar esse
abastecimento hoje quase não é mais usado para esse fim e permanece esquecido numa
área pouco frequentada que atualmente faz parte do Horto de Dois Irmãos, o zoológico
do Recife.

Mas, graças ao imaginário popular, a trágica história da judia perseguida desaguou


numa narrativa carregada de mistério e espanto. Alguns anos depois começaram a correr
histórias de que uma aparição estava afastando as pessoas que passavam por um riacho
no subúrbio do Recife: o fantasma de Branca Dias nada mais estaria fazendo do que
guardar o tesouro.

Antes de prosseguir com essa história, é preciso falar de uma velha superstição: até
meados do século XX, as moças que sonhavam com um casamento tinham o costume
de olhar as águas de rios e córregos na noite de São João para tentar enxergar a figura
do marido que estaria destinado a elas – uma das tradicionais formas de “adivinhação”
ou “simpatia” praticadas durante a festa. As jovens que obtinham a visão ficavam
contentes e esperançosas. As que não viam nada permaneciam inquietas, pois era grande
a possibilidade de “ficarem pra titia”.

Pois bem: ainda nos tempos dos engenhos, uma dessas moças teria ido com sua mucama
às margens do Riacho do Prata. Chegando lá, fez com que a serviçal, de nome Luzia,
ficasse esperando à distância enquanto ela tentava a sorte. Afoita, se aproximou da
margem a ponto de quase cair na água escura. De repente, a mucama teve um
pressentimento. Ia dizer para a iaiá sair da beira do riacho quando ouviu um grito:

– Me acuda, Luzia! Me acuda que ela quer me levar!

A mucama não encontrou mais a patroa. Ela teria sido levada por Branca Dias. Por
décadas se falou que, em noites de lua, duas moças nuas eram vistas no meio do Açude
do Prata. Uma seria rica judia; a outra, a sinhazinha que sumiu na noite de São João.

Estudiosos judeus explicam, no entanto, que a lenda não tem fundamento histórico. Em
meados do século XVI, existiu em Pernambuco uma cristã-nova (uma judia de nascença
convertida ao cristianismo) chamada Branca Dias, esposa do dono de engenho Diogo
Fernandes (também cristão-novo), que de fato foi acusada pela Inquisição de praticar o
judaísmo. A mulher chegou a ser presa, mas não foi morta a mando dos inquisidores –
acabou sendo libertada depois de cumprir parte da pena a que havia sido condenada.

A confusão a respeito da personagem veio do romance chamado “Branca Dias de


Apipucos” escrito no século XIX por Joana Maria de Freitas Gamboa. A obra deu uma
nova versão sobre a vida da judia, transpondo erroneamente a história de Branca para o
tempo da Guerra dos Mascates (século XVIII). A verdadeira Branca Dias é considerada
uma heroína por preservar a cultura e religião judaicas numa época de grande
preconceito contra os judeus no mundo católico.

Mas, as despeito dessa constatação histórica, ainda há quem garanta que o espectro de
uma mulher assombra os arredores do Açude do Prata. Trajes antiquados, longos
cabelos ruivos ao vento, expressão de soberania: assim ela é vista à noite, em pé na
sacada do casarão antigo que existe em frente ao manancial. Veja a foto do lugar:
É como se a sinistra figura feminina estivesse vigiando o tesouro de prata oculto pelas
águas silenciosas. E não adianta argumentar que o tal casarão é uma construção do
século XIX e que foi usado inicialmente como sede administrativa de uma empresa
pública que operava o abastecimento hídrico da capital. As testemunhas da aparição não
vacilam ao afirmar:

– Eu vi o fantasma de Branca Dias!

Contado por Roberto Beltrão/ Ilustração: Fábio Rafael

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