ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
EXMO(A) SR(A). DR(A). JUIZ(A) FEDERAL
O art. 104 da Lei 8078/90, aplicável às ações civis públicas por força do art. 21 da Lei
7.347/85, consagra a independência entre as ações coletivas e as individuais, estipulando que a
existência das primeiras não induz litispendência para as últimas.
Por isso, prevê que a coisa julgada da ação civil pública somente beneficiará os autores das
ações individuais que expressamente se manifestarem, através do requerimento de suspensão do
processo individual.
O decidido na ação civil pública não alcançará, portanto, aquele que optou por dar
prosseguimento à sua ação individual, afastando a incidência da ação coletiva, para obter provimento
próprio.
Do contrário, estar-se-ia permitindo a escolha da decisão mais favorável, em autêntica loteria
judiciária, contrariando o princípio do juiz natural (art. 5º, LIII, Constituição da República), e
comprometendo a segurança jurídica.
O art. 103, parágrafo único, da Lei 8.213/91, estabelece o prazo de 5 anos para a propositura
2
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
de ação que busque prestações vencidas, restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social,
contados a partir da data em que deveriam ter sido pagas.
“A prescrição é causa extintiva do direito ou da pretensão de direito material pela desídia de
seu titular, que deixou transcorrer o tempo sem exercitar seu direito.” (NERY JUNIOR, Nelson.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, p. 374).
O Superior Tribunal de Justiça já consolidou, nas ações relativas à readequação dos Tetos das
ECs. 20/98 e 41/2003 que o prazo prescricional RELATIVAMENTE AOS ATRASADOS é contado
da data do ajuizamento da AÇÃO INDIVIDUAL:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
nos autos do ajuizamento da Ação Coletiva, conforme dispõe o artigo 104 do
CDC.
7. O acórdão merece reforma quanto ao lustro prescricional, uma vez que a
prescrição atinge as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à
propositura da presente Ação Individual, nos termos da Súmula 85/STJ. Nesse
sentido: AgRg no REsp 1559883/RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 23/05/2016.
8. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1647686/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 25/04/2017, DJe 05/05/2017)
Diante do exposto, encontram-se prescritas as parcelas anteriores aos cinco anos que
precedem ao ajuizamento da presente demanda.
No caso concreto, a sentença determinou que, para benefícios anteriores ao início de vigência
da Constituição da República, deveria ser excluído o menor valor teto (MVT), que integra o ato de
concessão do benefício.
Quando da concessão do benefício, vigorava o Decreto 77.077/76, que estabelecia
forma de cálculo de benefício absolutamente distinta do regramento trazido com a Lei 8.213/91,
prevendo as figuras do menor valor-teto e do maior valor-teto. Nesse passo, não se pode olvidar que
o menor valor-teto não limitava pagamento, mas se tratava de uma etapa do cálculo do benefício, na
4
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
qual, novamente se destaca, para efeito de cálculo o salário-de-benefício era dividido em duas
parcelas. O limitador para fins de pagamento era representado pelo maior valor-teto, e não pelo menor
valor-teto.
O menor valor-teto, portanto, não era um limitador de pagamento, não se podendo
compará-lo ao teto de pagamento para benefícios previdenciários hoje vigente, e que dá guarida às
pretensões de reajustamento do benefício em razão da elevação dos tetos do salário-de-contribuição
e salário-de-benefício. O menor valor-teto, como dito acima, é uma etapa de cálculo, não um
limitador externo de pagamento, função que era exercida pelo maior valor-teto, ao qual a parte autora
não esteve limitada.
Logo, a sentença determina a revisão do ato de concessão do benefício, devendo-se
dele excluir o menor valor teto.
questão prejudicial de mérito: decadência
A pretensão da parte Autora extinguiu-se pela decadência, prevista no art. 103 da Lei n.
8.213/1991 desde 28-6-1997.
A tese adotada pela autora foi a de que as relações jurídicas constituídas antes da data em
que a norma entrou em vigor estariam perpetuamente imunes aos prazos decadenciais. Este
entendimento, no entanto, não está de acordo com o art. 5º, caput e XXXVI, com o art. 201, § 1º,
todos da CRFB/1988, bem como com o art. 103, caput, da Lei 8.213/91 e com o art. 6º, da LICC.
contrariedade à CRFB/1988, art. 5º, caput e XXXVI e art. 201, § 1º; contrariedade
aos arts. 103, caput, da Lei 8.213/91 e 6º, da LICC.
O art. 103 da Lei nº 8.213/91, em sua redação original, dispunha que "Sem prejuízo do direito
ao benefício, prescreve em 5 (cinco) anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época
própria, resguardados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes".
Com a publicação da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, em 28 de junho de 1997,
convertida na Lei nº 9.528/1997, a mencionada pretensão revisional passou a se sujeitar ao prazo
decadencial de dez anos, conforme dispositivo ora transcrito:
Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação
do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a
contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação
ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da
decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. (Redação dada pela Lei
nº 9.528, de 1997)
Esse prazo foi introduzido no ordenamento jurídico pela MP n. 1.523-9, de 27-6-1997, DOU
28-6-1997, convertida na Lei n. 9.528, de 10-12-1997, DOU 11-12-1997.
O prazo decenal, em tela, foi reduzido para 5 (cinco) anos em 23.10.1998, pela Medida
Provisória nº 1663-15, de 1998, convertida na Lei nº 9.711, de 1998.
Com a edição da Medida Provisória nº 138, de 19.11.2003, o prazo decadencial decenal foi
restabelecido, estando hoje assentado pela Lei nº 10.839, de 05.02.2004.
Feito esse breve histórico sobre o tema, resta inequívoco que no período anterior a 28 de
junho de 1997, não há o fluxo de prazo decadencial de 10 anos, por inexistência de norma legal que
previsse a causa extintiva em foco, sob pena de ofensa ao princípio da irretroatividade das leis.
5
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Assim, a questão que se coloca é saber se o direito à revisão de benefícios previdenciários
concedidos antes de 28 de junho de 1997 passaram a se sujeitar ou não ao prazo decadencial a partir
dessa data.
De acordo com o art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil, os atos normativos que entram
em vigor têm efeito imediato e geral, passando a abranger as relações jurídicas em manutenção,
respeitando-se o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada material. Tem-se, destarte,
que a lei deve ter aplicação presente e futura.
De outra banda, embora inexistisse a previsão do prazo decadencial anteriormente a
28.06.1997, resta claro que a partir do advento da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, de 28 de junho
de 1997, convertida na Lei nº 9.528/1997, teve início a contagem do prazo decadencial de 10 anos
para todos os benefícios concedidos anteriormente a 28.06.1997, vez que a tese de que os benefícios
iniciados antes desta data são revisáveis ad eternum fere os princípios da isonomia, da razoabilidade
e da segurança jurídica.
Entendendo-se assim as relações jurídicas constituídas antes da data em que a norma entrou
em vigor estariam perpetuamente imunes aos prazos decadenciais. Cabe demonstrar o desacerto
desse entendimento.
Costuma-se afirmar que o momento inicial do prazo da prescrição é determinado pelo
nascimento da pretensão (actio nata), enquanto que o momento inicial do prazo da decadência seria
determinado pelo nascimento do direito, uma vez que esta é conceituada como prazo fatal para
exercício de um direito.
Isso não quer dizer que, inexistente prazo decadencial na data do nascimento do direito, sua
possibilidade de exercício seja perpétua. Não, pois à "semelhança dos fatos jurídicos complexos ou
de formação continuada, a prescrição e a decadência subordinam-se à lei em vigor na data do termo
prescricional ou preclusivo." (BATALHA, Direito intertemporal, p. 241).
Em outras palavras, a lei pode fixar prazo decadencial após o nascimento do direito, com
efeito imediato sobre as situações em curso. Não deve, em princípio, haver incidência retroativa, o
que se evita computando o prazo, para direitos já existentes, a partir da data de vigência da
lei (RESP 573288/RS, 233168/RS; 250901/PR), conforme solução já vem das lições de Savigny:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
prazo decadencial, não tem aplicação retroativa. Precedente da Corte Especial.
(STJ, RESP 573288/RS, Ministra Laurita Vaz, DJU 26-9-2005)
Se a lei pode reduzir um prazo de 5 para 2 anos (STF, AR 905), pode também reduzi-lo de
inexistente (perpétuo) para 5 anos (art. 103), e estar-se-á sempre falando de um novo prazo. A
substituição de um prazo por outro é apenas a introdução de um prazo novo: ela não difere, em sua
natureza jurídica, do estabelecimento de um prazo quando ainda inexistente.
Não há efeito retroativo na aplicação da lei a fatos ocorridos após a sua entrada em vigor. Se
o prazo decadencial for contado a partir da data em que a lei entrou em vigor, e se for inteiramente
consumado sob a vigência desta (como é o caso dos autos) não que se falar em aplicação retroativa.
Na verdade a parte autora não está vendo que o suporte fático das normas de decadência não é a
constituição de uma relação jurídica, mas a passagem do tempo e a inércia dos interessado, durante
esse mesmo tempo. A nova norma em questão, art. 103 da Lei n. 8.213/1991, deu efeitos jurídicos
novos a algum fato ocorrido antes da sua entrada em vigor? Não. Então não é sequer minimamente
retroativa. A tese adotada pela autora, no sentido de que as relações jurídicas iniciadas anteriormente
estariam fora do alcance das alterações legais, parte do equívoco de pensar que a constituição da
relação jurídica seria o suporte fático para a incidência da decadência. Mas a norma que institui
7
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
decadência em nada altera o conteúdo da relação jurídica original, ao contrário: ela impede a alteração
desse conteúdo após certo lapso de tempo. Logo, o lapso temporal e a inércia é que constituem o
suporte fático que atrai a incidência da norma sobre decadência. Se o caso fosse de direito já extinto
pela decadência sob a lei anterior, ai sim se poderia dizer que a lei nova não incide. Mas enquanto
não houve decadência sempre a lei pode introduzir um prazo novo.
Outro aspecto a ressaltar é aquele lembrado pelo eminente Desembargador Federal
Rômulo Pizzolatti, ao fazer a crítica das decisões do Tribunal por ele integrado, grifado no brilhante
voto abaixo transcrito:
Por fim, anoto que, à luz do acima exposto, não se sustenta, por falta de amparo
dogmático e doutrinário, a incipiente orientação jurisprudencial segundo a qual
não há decadência do direito de revisão de benefícios previdenciários concedidos
antes da vigência da lei que a instituiu (TRF da 4ª Região, AC nº
1998.04.01.058356-0/SC, AC nº 2003.70.00.010764-8/PR; STJ, REsp nº 410.690-
RN, REsp nº 479.964-RN; REsp nº 254.969-RS), a pretexto de que a decadência
constitui regra de direito material, não podendo aplicar-se a situações constituídas
antes da sua vigência, sob pena de retroatividade. Essa orientação mostra-se
equivocada, porque está afirmando a pós-atividade da legislação revogada,
quando o caso é de simples aplicação imediata da lei nova, a partir da sua
vigência, conforme a regra do artigo 6º, caput, da Lei de Introdução ao Código
Civil (A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada). A lei nova, que institui prazo de decadência
para ser postulada a revisão de benefício previdenciário, não prejudica o
beneficiário da Previdência Social, visto que não altera o seu benefício; já a lei
nova, que diminui o prazo de decadência, será aplicada apenas a partir da sua
vigência, conforme a solução preconizada por Câmara Leal ou conforme a regra
do artigo 2.028 do Código Civil de 2002, também sem prejuízo ao beneficiário da
Previdência Social. Nem na primeira nem na segunda hipótese há de falar-se em
ofensa a direito adquirido para efeito de invocar-se a proteção constitucional
correspondente (Constituição Federal, art. 5º, XXXVI). (TRF4, trecho do voto
vencido na AC 2006.71.12.002340-0/RS, Desembargador Federal
Rômulo Pizzolatti, DJU 10-1-2007)
“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(...)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão
de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social,
ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados
8
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.”
O caso dos autos não se refere à Lei n. 9.784/1999 (decadência contra a Administração).
Nestes autos trata-se da forma de aplicação do art. 103 da Lei n. 8.213/1991 (decadência contra o
beneficiário da Previdência). Mas duas leis que instituem prazos decadenciais, embora em matérias
diversas, não podem ter funcionamento intertemporal diferente. Justifica-se, dessa forma, a
comparação.
Por isso, pela semelhança das questões subjacentes, cabe referir que o STF – bem como o
STJ e o TRF 4ª Região – vem aplicando a Lei n. 9.784/1999 (prescrição administrativa) também às
relações jurídicas surgidas antes de 1999, sendo esse entendimento pacífico nessas cortes.
Caso, porém, fosse aplicado a esses casos o mesmo princípio que incorretamente foi
pretendido pela parte autora, a conclusão seria a de que o direito da Administração, no que se refere
a direitos formados antes de 1999, seria imprescritível.
Conclusão
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Dentre as questões controversas acerca do prazo decadencial do art. 103, caput, da Lei
8.213/91 diz respeito ao seu campo de aplicação. Vejamos o dispositivo:
Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação
do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a
contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação
ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória
definitiva no âmbito administrativo. (Redação dada pela Lei nº 10.839, de 2004)
(grifo nosso)
Uma das questões que envolvem a sua aplicabilidade relaciona-se aos pedidos de renúncia
do ato de concessão. O comando legal determina como suporte fático-jurídico de incidência do prazo
decadencial todo e qualquer direito para a revisão do ato de concessão. Na verdade, o alcance é
amplo e não abrange apenas revisão de cálculo e de atos específicos intrínsecos ao ato de concessão.
Atinge o próprio ato de concessão e, sob a imposição da expressão "qualquer direito", envolve o
próprio direito à renúncia do benefício. Ademais, toda e qualquer alteração do ato concessório
constitui uma verdadeira revisão, ainda que essa alteração decorra do próprio desfazimento do ato de
concessão.
Assim, não se pode vislumbrar a possibilidade interpretativa de determinar que a cláusula
decadencial privilegie apenas determinados direitos de modificação ou extinção do ato de concessão
quando ela é explicitamente abrangente e não ressalva qualquer direito revisional.
Além disso, a renúncia e o desfazimento do ato administrativo de concessão é a primeira
etapa de um pedido complexo que somente se perfaz integralmente com a próxima, a concessão de
novo benefício, de mesma espécie e valor maior. Esse desfazimento inicial somado à nova concessão,
em seu conjunto, configura um ato complexo de revisão e, portanto, recebe também a incidência do
art. 103, da Lei 8.213/91.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
3. O comando legal estipula como suporte fático-jurídico de incidência do prazo
decadencial todo e qualquer direito ou ação para a revisão do ato de concessão.
4. O alcance é amplo e não abrange apenas revisão de cálculo do benefício, mas
atinge o próprio ato de concessão e, sob a imposição da expressão "qualquer
direito", envolve o direito à renúncia do benefício.
5. Agravo Regimental não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque e em bloco." Os Srs. Ministros Mauro
Campbell Marques, Cesar Asfor Rocha, Castro Meira e Humberto Martins votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 07 de agosto de 2012(data do julgamento).
MINISTRO HERMAN BENJAMIN
Relator
Não se diga também que não incide a decadência quando determinada questão não foi objeto
de requerimento administrativo pelo demandante, o que daria ensejo à inexistência de análise da
questão por parte da Administração Pública. Nessa ótica, toda e qualquer questão que não teria sido
expressamente suscitada, poderia dar suporte a uma ação judicial, dado que o art. 103 da Lei nº
8.213/91 não seria aplicável para obstar tal intento, podendo o segurado propor tantas ações quantos
fatos novos pudessem ser detectados, o que inviabilizaria a Previdência Social, dada a impossibilidade
de auferir-se o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, conforme previsão do art. 201 da
Constituição da República.
11
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
A aplicação do instituto da decadência não possui relação, nem está limitada aos fatos que
deram origem ao direito sujeito à sua incidência. Trata-se de aplicação do princípio da legalidade,
previsto no art. 5º, caput da CF/88.
A decadência opera-se pura e simplesmente pelo transcurso do lapso temporal entre a data
da ocorrência do fato jurídico (concessão do benefício) e a data da insurgência do titular do direito
dele decorrente (ajuizamento da ação judicial).
De outro norte, tem-se que a criação do instituto da decadência, para fins de revisão do ato
de concessão ou indeferimento de benefício previdenciário, busca justamente evitar que pretensões
não aduzidas na época própria pudessem vir a ser objeto de nova apreciação, inclusive pelo Poder
Judiciário, o que resultou na fixação por lei de 10 anos para que o segurado pleiteasse o que
entendesse de direito em relação àquele ato administrativo de deferimento ou indeferimento de
benefício previdenciário. Trata-se de dispositivo que confere eficácia ao postulado da segurança
jurídica, o qual constitui um dos elementos conceituais do Estado Democrático de Direito, cláusula
imposta já no art. 1º, caput, da Constituição da República:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
(STF, MS 28720, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em
20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-
2012 PUBLIC 02-04-2012)
Não se diga também que tal prazo não se aplica às decisões indeferitórias da autarquia, mas
apenas aos pedidos de revisão. O dispositivo é claríssimo no sentido de aplicação também à revisão
dos atos de indeferimento. Nesse sentido, a Súmula n. 64 da Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
REVISÃO DE ATO INDEFERITÓRIO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
DECADÊNCIA.
Aplica-se a legislação previdenciária que instituiu prazo de decadência do direito
de revisão de ato administrativo que indefere benefício após sua vigência. (TRF4,
AC 0019000-61.2010.404.9999, 5ª Turma, Unânime, Relator Rômulo Pizzolatti,
D.E. 28/04/2011)
Além disso, o início do prazo começa a correr do benefício originário, quando deu origem a
benefício derivado, se for aquele anterior o que se quer efetivamente revisar, visto que o segundo é
mero reflexo do ato de concessão relativamente ao primeiro. Nesse sentido, a Turma Regional de
Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região:
PREQUESTIONAMENTO
Caso seja dado trânsito à pretensão da parte autora de condenação da autarquia na revisão
de benefício da maneira rogada no pedido exordial, o que se admite tão somente para argumentar -
vez que a decisão estaria contrariando dispositivos da Constituição – em especial a má aplicação da
garantia da irretroatividade das leis (art. 5º, XXXVI), a violação do princípio da isonomia
mediante discriminação injustificável entre os titulares de benefícios concedidos antes de
28.06.1997 em relação aos titulares de benefícios concedidos após essa data (art. 5º, caput, e art.
201, § 1º), – e da Lei - especialmente a negativa de vigência do art. 103, caput, da Lei 8.213, bem
como do art. 6º, da LICC) - a matéria deverá ser enfrentada na decisão, para efeito de futura
interposição de RECURSO EXTRAORDINÁRIO ou ESPECIAL, se for o caso. A matéria fica,
portanto, desde já PREQUESTIONADA para fins recursais.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
--- O PRECEDENTE ---
O STF pacificou a questão da aplicabilidade imediata dos novos limites máximos para o valor
dos benefícios do regime geral de previdência social-RGPS, estatuídos pelas Emendas
Constitucionais 20/1998 e 41/2003. O precedente tem a seguinte EMENTA:
A parte autora requer esse mesmo entendimento em relação aos benefícios atualmente em
manutenção, mas que tiveram suas rendas iniciais e primeiros reajustes em datas anteriores à
Constituição de 1988.
O INSS-Recorrente busca demonstrar que o entendimento adotado no RE 564354 não se
aplica aos benefícios anteriores à Constituição de 1988.
Passa-se a fazer a necessária distinção.
--- A RATIO DECIDENDI ---
Primeiramente, importa identificar a ratio decidendi do precedente formado com o RE
564.354, de Relatoria da eminente Ministra Cármen Lúcia. A razão de decidir é simples e encontra-
se claramente formulada em diversos dos votos proferidos na sessão de julgamento.
A ratio decidendi pode ser resumida assim: A Constituição de 1988, no seu art. 201 § 3º, desde
15
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
a redação original, garantia a correção monetária de todos os salários de contribuição considerados
no cálculo de benefício. Contudo, como a renda final submete-se a um teto, o teto acaba retirando o
efeito de parte da correção monetária que a Constituição garante. Isso ocorre sempre que a correção
do teto é menor que a correção dos salários-de-contribuição. Uma vez que o teto tem previsão
constitucional (EECC 20 e 41), a solução para compatibilizar a garantia do art. 201, § 3º, com a
existência de um teto, seria permitir que os valores excedentes ao teto antigo voltassem a integrar a
renda do benefício sempre que o teto recebesse reajuste maior do que o reajuste da própria renda do
benefício. Para tanto, o cálculo do valor do benefício deveria ter-se por perfectibilizado antes da
aplicação do teto, que seria um elemento externo ao cálculo, a incidir exclusivamente por ocasião do
pagamento.
A doutrina e os advogados sustentavam essa tese muito antes de ela chegar ao STF. Confira-
se a tese em sua fase embrionária:
No mesmo sentido:
A fundamentação expressa pelo ministro Gilmar Mendes em seu voto deixa claro esse ponto.
Em diversas oportunidades ao longo da sessão que julgou o RE 564.354, o Ministro Gilmar sustentou
o ponto. Confiram-se alguns trechos ilustrativos:
16
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Aqui haveria uma situação grave e artificial. É que a dissociação entre a
forma de reajuste do salário e da contribuição e a forma de reajuste desse
limitador levou a essa dissociação. Quer dizer, houve, na verdade, essa
defasagem, por isso que eu falei que de 98 a 2003 houve um atualização de
98,43% no que diz respeito ao salário de contribuição, e por isso que se tem
essa defasagem. Portanto, o limitador vira um redutor, porque ele é mantido.
Certamente até por opção fiscal. Isso leva realmente a distorção apresentada.
(RE 564.354, trecho do voto do Min. Gilmar Mendes)
Portanto, isso está sanado, mas, de fato, isso leva a essa descoincidência, esse
[o limitador] é um elemento externo e não interno do cálculo, como disse
a Ministra Cármen. (Min. Gilmar Mendes)
... vou usar até de uma figura muito apropriada: é como se fosse um elástico,
no instante em que o redutor é solto, o elástico vai até onde pode ir. (Min.
Cezar Peluso)
--- TRÊS DISTINÇÕES ---
Encontrada a ratio decidendi do precedente, é possível expor as razões pelas quais ele não se
aplica aos benefícios concedidos antes da Constituição de 1988. Em outras palavras, é possível fazer
a distinção.
A PRIMEIRA DISTINÇÃO a ser feita, é que os benefícios anteriores à Constituição de 1988
não contavam com a garantia de atualização monetária de todos os salários-de-contribuição.
Na sistemática anterior à Constituição de 1988, as normas previdenciárias mandavam corrigir
apenas os vinte e quatro salários de contribuição mais antigos. Confira-se:
17
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Dec. 89.312/1984, Art. 21. O benefício de prestação continuada, inclusive o
regido por normas especiais, tem seu valor calculado com base no salário-de-
benefício, assim entendido:
I - para o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio
reclusão, 1/12 (um doze avos) da soma dos salários-de-contribuição dos
meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade, até o
máximo de 12 (doze), apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses;
II - para as demais espécies de aposentadoria e para o abono de permanência
em serviço, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição
dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da
entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em
período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.
§ 1º Nos casos do item II, os salários-de-contribuição anteriores aos 12
(doze) últimos meses são previamente corrigidos de acordo com índices
estabelecidos pelo MPAS.
A regra anterior (e a diferença entre os regimes) é sempre destacada pela doutrina, como neste
trecho:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
benefícios anteriores não pode ser utilizada a mesma lógica. A ratio é inaplicável, tanto por não
contarem com a garantia de atualização de todos os salários, como por a lei da época admitir limites
diferentes para o salário-de-contribuição e para o salário-de-benefício. O Limite Máximo do Salário-
de-Contribuição (Dec. 89.312/1984, art. 135 c/c art. 211), não se confundia e não tinha
correspondência obrigatória com o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício (Dec. 89.312/1984, art.
21 § 4º). Ambos os parâmetros legais tinham funções distintas e apresentaram valores diferentes nos
seguintes períodos: de maio/1975 a maio/1976 e de dezembro/1981 a outubro/1988.
Ao aplicar aos benefícios anteriores à Constituição um entendimento cuja ratio é exclusiva
dos benefícios concedidos na vigência da Constituição de 1988 (garantia de atualização de todos os
salários), contraria-se as EC 20/1998, art. 14 e EC 41/2003, art. 5º, pois estes não têm o efeito estender
garantias atuais a benefício do regime pré-Constituição.
A SEGUNDA DISTINÇÃO a ser feita é que o limite máximo do salário-de-benefício não
era um elemento externo e posterior ao cálculo da renda inicial.
Na sistemática anterior, os limites existentes podiam ser classificados em quatro:
4) Limite Máximo de Pagamento Mensal. Valor que não poderia ser ultrapassado por ocasião
dos reajustes da renda dos benefícios. Estava estabelecido em 90% (noventa por cento) do valor do
Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício. Este, sim, era um valor externo ao cálculo do benefício,
aplicável exclusivamente por ocasião dos pagamentos. Previsto pelo Dec. 89.312/1984, art. 25 §
único.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
até o Menor Valor-Teto) recebia o coeficiente específico do benefício. A segunda parcela (valor entre
o Menor e o Maior Valor-Teto) recebia o coeficiente na proporção dos grupos completos de doze
contribuições recolhidas pelo segurado (art. 23). Era como se fossem calculadas duas rendas mensais
iniciais-RMI e somadas ao final.
A distinção entre o Teto introduzido pela Lei 8.213/1991 (retroativo a 1988, por força do art.
144) e o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o Menor Valor-Teto do Salário-de-Benefício foi
corretamente feita pelo STJ. Precedente:
[...] O artigo 29, parágrafo 2º, e o artigo 136, ambos da Lei 8.213/91, tratam
de questões diferentes. Enquanto o art. 29, parágrafo 2º, estabelece limites
mínimo e máximo para o próprio salário-de-benefício, o art. 136,
determina a exclusão de critérios de cálculo da renda mensal inicial, com
base no menor e maior valor-teto, constante em legislação anterior (CLPS).
(STJ, REsp 239.340/RJ, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA
TURMA, julgado em 09/05/2000, DJ 28/08/2000, p. 111)
... não guarda similaridade [isto é, é distinta] com aquela referente à tese
enfrentada e acolhida pelo STF, conforme tem entendido esta Turma Recursal
[SC]. Não se pode, por exemplo, equiparar a limitação ao antigo menor
valor teto à limitação ao teto da LBPS, pois naquele caso a limitação não
gerava perda integral da média, e sim um acréscimo calculado de forma
diferente da primeira parcela. (TRSC, Recurso de Sentença Cível
2006.72.51.001937-4, 2ª Turma, Rel. André de Souza Fischer, unânime,
17/11/2011)
20
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Em caso de dúvida quanto ao afirmado, consulte-se diretamente a legislação citada:
DECRETO N. 89.312/1984.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
a) benefícios mínimos;
b) cota do salário-família;
c) renda mensal vitalícia-,
d) limites mínimo e máximo do salário-de-contribuição.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela previdência
social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos,
a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de
salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a
esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios
referidos no artigo seguinte.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
Qual a relevância desse ponto para a distinção em relação ao RE 564.354 e para o julgamento
deste recurso? Ora, tanto o precedente RE 564.354, quanto o que requer a parte autora, determinam
que seja feita uma evolução do salário-de-benefício até a data das Emendas 20 e 41 e, caso este
esteja limitado pelo redutor anterior, passe a respeitar apenas o novo redutor. Diversamente, em
relação aos benefícios anteriores a 1988, o ADCT/1988, art. 58, determina uma recomposição da
renda em abril/1989 por meio da evolução da renda mensal inicial reajustada pelo salário mínimo
desde a data de início do benefício-DIB até a data da revisão. Para o ADCT/1988, não há excedente
ao teto a ser considerado: a renda mensal inicial é um dado acabado, cabendo a recomposição
integral do seu poder aquisitivo, mas jamais o aproveitamento de valores acima dela, referentes às
etapas do cálculo inicial. Decisão que determina evolução do salário-de-benefício, inclusive no
período de eficácia do art. 58/ADCT, viola frontalmente a regra constitucional transitória ali
estabelecida. E é assim porque, repita-se, o art. 58/ADCT autoriza e determina, exclusivamente, a
recomposição do poder aquisitivo da renda mensal inicial e não do salário-de-benefício.
A fórmula adotada pelo ADCT/1988 é, inclusive, a mais lógica, pois respeita a sistemática dos
cálculos originais da renda, seja ela qual for, e recupera totalmente o poder aquisitivo alcançado
originalmente, segundo as regras da data da concessão.
O que requer a parte autora determinaria, em contrariedade evidente à regra do art. 58 do
ADCT/1988, que seja calculada a equivalência salarial do salário-de-benefício.
É possível, hoje, dar tratamento diferenciado a benefícios, no que se refere ao teto aplicável,
tendo por discrímen exclusivamente a data da sua concessão? Em resposta: não há propriamente uma
diferenciação de teto aplicável. Ambos estão sujeitos atualmente aos mesmos tetos, estabelecidos
pelas Emendas 20 e 41 e seus sucessores. A diferença que há refere-se à própria estrutura do direito
ao benefício: enquanto os benefícios posteriores à Constituição de 1988 mantêm em seu patrimônio
jurídico o valor do salário-de-benefício que tenha excedido ao teto – um elemento externo que
acompanha o benefício enquanto não eliminado por reajustes do teto –, os benefícios anteriores à
Constituição de 1988 são desprovidos desse elemento. E são desprovidos desse elemento pelas razões
expostas nas três distinções acima formuladas, aplicáveis pelo princípio tempus regit actum: (a)
ausência do direito à atualização de todos os salário-contribuição e consequente permissão de uma
renda definitiva limitada ao teto; (b) forma de cálculo diferente, na qual o Maior e o Menor Valor-
Teto eram critério de cálculo da renda e não meros limitadores do salário-de-benefício; (c) por força
do ADCT/1988 eles tiveram uma recuperação extraordinária do poder aquisitivo, consistente no
reajuste da renda mensal inicial pela equivalência salarial, e jamais o do salário-de-benefício. Os
benefícios anteriores à constituição são, portanto, diferentes dos atuais, em razão das regras da época
da concessão e do ADCT/1988. Não há resquícios de seus salário-de-benefício depois de calculada a
renda mensal inicial.
Conforme o voto da eminente Relatora do RE 564.354, “Não estamos mudando o regime
jurídico de aposentadoria nem cogitando disso." (voto da Min. Cármen Lúcia). Ocorre que é
exatamente isso que requer a parte autora quando impõe a transposição dos salários-de-contribuição
da sistemática da CLPS para a sistemática da Lei n. 8.213/1991. O isolamento de um único elemento
do cálculo original (os salários-de-contribuição) e o seu transplante para a sistemática atual, configura
mudança o regime jurídico de aposentadoria, exatamente o que o STF pretendeu evitar.
Ou se respeita a história jurídica de cada benefício, ou viveremos eternamente com
“esqueletos no armário”.
Nesse sentido, os precedentes do TRF-3:
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. READEQUAÇÃO DOS TETOS MÁXIMOS.
EMENDAS CONSTITUCIONAIS NºS 20/98 E 41/03/2003. BENEFÍCIO
CONCEDIDO ANTERIORMENTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
INDEVIDO. 1. São cabíveis embargos de declaração quando o provimento
jurisdicional padece de omissão, contradição ou obscuridade, bem como quando há
erro material a ser sanado. Não servem os embargos de declaração para a
rediscussão da causa. 2. Embora as Emendas Constitucionais nºs 20/98 e 41/03 nada
dispunham sobre o reajuste da renda mensal dos benefícios previdenciários em
manutenção, disciplinados que são pela Lei nº 8.213/91 e alterações posteriores,
verifica-se que a questão restou superada por decisão do Supremo Tribunal Federal,
no sentido de que a aplicação do art. 14 da EC nº 20/98, entendimento extensível
ao art. 5º da EC nº 41/03, não ofende o ato jurídico perfeito, uma vez que não houve
aumento ou reajuste, mas sim readequação dos valores ao novo teto. 3. Os
benefícios concedidos anteriormente a Constituição Federal de 1988 estão
submetido ao regramento do menor e maior valor teto no cálculo do salário-
de-benefício (Decretos nºs 77.077/76 e 88.213/84). 4. Impossibilidade de
aplicação dos efeitos do julgamento do Recurso Extraordinário nº 564.354/SE,
pois a decisão do Supremo Tribunal Federal tem como objeto a aplicação das
ECs nº 20/98 e 41/03, as quais remetem, de forma expressa, e tão somente, aos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social de que trata o art. 201 da
Constituição Federal. 5. Embargos de declaração rejeitados.
(APELREEX 00100179720134036183, DESEMBARGADORA FEDERAL
LUCIA URSAIA, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:23/01/2017
..FONTE_REPUBLICACAO:.)
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
observar o novo teto constitucional. 5. Os benefícios concedidos antes da
Constituição Federal de 1988 não se enquadram na revisão deferida pela
Suprema Corte, pois se submeteram à observância de outros limitadores, como
o Menor Valor Teto e o Maior Valor Teto. 6. Preliminares rejeitadas. Apelação
parcialmente provida. Demanda julgada improcedente.
(AC 00019366220134036183, JUIZ CONVOCADO RICARDO CHINA, TRF3 -
SÉTIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:16/12/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.)
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
mérito rejeitadas. 3. O artigo 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e o artigo 5º
da Emenda Constitucional n. 41/2003 têm aplicação imediata inclusive para que
seus comandos alcancem os benefícios previdenciários limitados a teto do regime
geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que
passem a observar o novo teto constitucional. 4. Os benefícios concedidos antes
da Constituição Federal de 1988 não se enquadram na revisão deferida pela
Suprema Corte, pois se submeteram à observância de outros limitadores, como
o Menor Valor Teto e o Maior Valor Teto. 5. Preliminares rejeitadas. Apelação
da parte autora não provida.
(AC 00129504320134036183, DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO
DOMINGUES, TRF3 - SÉTIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:30/09/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.)
Ante o exposto, requer sejam julgados improcedentes os pedidos formulados pela parte autora.
REQUERIMENTO
Nestes termos,
pede deferimento.