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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO
EXMO(A) SR(A). DR(A). JUIZ(A) FEDERAL

1) PRESCRIÇÃO. ATRASADOS. CONTAM-SE DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO


INDIVIDUAL. PRECEDENTES DO STJ EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES
RELATIVAS À READEQUAÇÃO DOS TETOS DAS ECS. 20/98 E 41/2003.
2) EXCLUSÃO DO MENOR VALOR TETO DO ATO DE CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. REVISÃO DO ATO INICIAL DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
DECADÊNCIA.
3) BENEFÍCIO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DE 1988. TETOS DAS
EMENDAS CONSTITUCIONAIS NS. 20/98 E 41/2003. NÃO
APLICABILIDADE DO PRECEDENTE DO STF. CONTRARIEDADE ÀS EC
20/1998, ART. 14; EC 41/2003, ART. 5º; E ADCT/1988, ART. 58.
PRECEDENTES DO TRF-3.

A ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO (AGU), função essencial à Justiça prevista


no art. 131 da CRFB, por meio do(a) Procurador(a) Federal signatário(a), vem à presença de V. Exa.,
representando judicialmente o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia
federal criada pela Lei 8.029/1990, ofertar CONTESTAÇÃO, conforme as razões abaixo:

1) PRESCRIÇÃO. ATRASADOS. CONTAM-SE DO AJUIZAMENTO DA


AÇÃO INDIVIDUAL. PRECEDENTES DO STJ EM RELAÇÃO ÀS
AÇÕES RELATIVAS À READEQUAÇÃO DOS TETOS DAS ECS. 20/98 E
41/2003.

O art. 104 da Lei 8078/90, aplicável às ações civis públicas por força do art. 21 da Lei
7.347/85, consagra a independência entre as ações coletivas e as individuais, estipulando que a
existência das primeiras não induz litispendência para as últimas.
Por isso, prevê que a coisa julgada da ação civil pública somente beneficiará os autores das
ações individuais que expressamente se manifestarem, através do requerimento de suspensão do
processo individual.
O decidido na ação civil pública não alcançará, portanto, aquele que optou por dar
prosseguimento à sua ação individual, afastando a incidência da ação coletiva, para obter provimento
próprio.
Do contrário, estar-se-ia permitindo a escolha da decisão mais favorável, em autêntica loteria
judiciária, contrariando o princípio do juiz natural (art. 5º, LIII, Constituição da República), e
comprometendo a segurança jurídica.
O art. 103, parágrafo único, da Lei 8.213/91, estabelece o prazo de 5 anos para a propositura
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de ação que busque prestações vencidas, restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social,
contados a partir da data em que deveriam ter sido pagas.
“A prescrição é causa extintiva do direito ou da pretensão de direito material pela desídia de
seu titular, que deixou transcorrer o tempo sem exercitar seu direito.” (NERY JUNIOR, Nelson.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008, p. 374).
O Superior Tribunal de Justiça já consolidou, nas ações relativas à readequação dos Tetos das
ECs. 20/98 e 41/2003 que o prazo prescricional RELATIVAMENTE AOS ATRASADOS é contado
da data do ajuizamento da AÇÃO INDIVIDUAL:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 112 DA LEI 8.213/1991. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. ADEQUAÇÃO AOS TETOS
CONSTITUCIONAIS. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003.
AÇÃO COLETIVA. PARCELAS EM ATRASO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL CONTADA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO INDIVIDUAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. (...)
2. No que toca a interrupção da prescrição pelo ajuizamento da ação civil pública,
o STJ, no julgamento do REsp 1.388.000/PR, sob a sistemática dos recursos
especiais repetitivos, firmou orientação no sentido de que a propositura da referida
ação coletiva tem o condão de interromper a prescrição para a ação individual. 3.
Contudo, a propositura de ação coletiva interrompe a prescrição apenas para a
propositura da ação individual. Em relação ao pagamento de parcelas vencidas,
a prescrição quinquenal tem como marco inicial o ajuizamento da ação
individual. Precedente. 4. A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de não
ser possível, por meio de recurso especial, a revisão do critério de justiça e
equidade utilizado pelas instâncias ordinárias para fixação da verba advocatícia,
pois tal providência depende da reapreciação dos elementos fático-
probatórios do caso concreto, o que encontra óbice da Súmula 7/STJ. Precedentes.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1642625/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 06/06/2017, DJe 12/06/2017)

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL. ADEQUAÇÃO AOS TETOS
CONSTITUCIONAIS. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998 E
41/2003. AÇÃO COLETIVA. PARCELAS EM ATRASO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL CONTADA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO
INDIVIDUAL. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. (...)
6. A citação válida no processo coletivo interrompe o prazo prescricional para
propositura da Ação individual. A Ação Individual, contudo, é autônoma
e independente da Ação Coletiva, sobretudo porque, in casu, não se tem notícia
de que houve o pedido de suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência
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nos autos do ajuizamento da Ação Coletiva, conforme dispõe o artigo 104 do
CDC.
7. O acórdão merece reforma quanto ao lustro prescricional, uma vez que a
prescrição atinge as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à
propositura da presente Ação Individual, nos termos da Súmula 85/STJ. Nesse
sentido: AgRg no REsp 1559883/RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 23/05/2016.
8. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1647686/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 25/04/2017, DJe 05/05/2017)

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO DE RENDA MENSAL


INICIAL. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003.
DECADÊNCIA AFASTADA. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. OFENSA AO ART. 535 DO CPC/1973
NÃO CONFIGURADA. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. AÇÃO COLETIVA.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO. CITAÇÃO. AÇÃO
INDIVIDUAL.ATRASADOS. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. SÚMULA
85/STJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) 10. Ademais, a presente
Ação Individual é autônoma e independente da Ação Coletiva, sobretudo
porque, in casu, não se tem notícia de que houve o pedido de suspensão no
prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da Ação
Coletiva, conforme dispõe o artigo 104 do CDC.
11. Assim, a prescrição atinge as prestações vencidas antes do quinquênio
anterior à propositura da presente Ação Individual, nos termos da Súmula
85/STJ. Nesse sentido: AgRg no REsp 1.559.883/RJ, Rel. Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, DJe 23/5/2016.
12. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1656512/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 18/04/2017, DJe 02/05/2017)

Diante do exposto, encontram-se prescritas as parcelas anteriores aos cinco anos que
precedem ao ajuizamento da presente demanda.

2) EXCLUSÃO DO MENOR VALOR TETO DO ATO DE CONCESSÃO DO


BENEFÍCIO. REVISÃO DO ATO INICIAL DE CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. DECADÊNCIA.

No caso concreto, a sentença determinou que, para benefícios anteriores ao início de vigência
da Constituição da República, deveria ser excluído o menor valor teto (MVT), que integra o ato de
concessão do benefício.
Quando da concessão do benefício, vigorava o Decreto 77.077/76, que estabelecia
forma de cálculo de benefício absolutamente distinta do regramento trazido com a Lei 8.213/91,
prevendo as figuras do menor valor-teto e do maior valor-teto. Nesse passo, não se pode olvidar que
o menor valor-teto não limitava pagamento, mas se tratava de uma etapa do cálculo do benefício, na
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qual, novamente se destaca, para efeito de cálculo o salário-de-benefício era dividido em duas
parcelas. O limitador para fins de pagamento era representado pelo maior valor-teto, e não pelo menor
valor-teto.
O menor valor-teto, portanto, não era um limitador de pagamento, não se podendo
compará-lo ao teto de pagamento para benefícios previdenciários hoje vigente, e que dá guarida às
pretensões de reajustamento do benefício em razão da elevação dos tetos do salário-de-contribuição
e salário-de-benefício. O menor valor-teto, como dito acima, é uma etapa de cálculo, não um
limitador externo de pagamento, função que era exercida pelo maior valor-teto, ao qual a parte autora
não esteve limitada.
Logo, a sentença determina a revisão do ato de concessão do benefício, devendo-se
dele excluir o menor valor teto.
questão prejudicial de mérito: decadência

A pretensão da parte Autora extinguiu-se pela decadência, prevista no art. 103 da Lei n.
8.213/1991 desde 28-6-1997.
A tese adotada pela autora foi a de que as relações jurídicas constituídas antes da data em
que a norma entrou em vigor estariam perpetuamente imunes aos prazos decadenciais. Este
entendimento, no entanto, não está de acordo com o art. 5º, caput e XXXVI, com o art. 201, § 1º,
todos da CRFB/1988, bem como com o art. 103, caput, da Lei 8.213/91 e com o art. 6º, da LICC.

contrariedade à CRFB/1988, art. 5º, caput e XXXVI e art. 201, § 1º; contrariedade
aos arts. 103, caput, da Lei 8.213/91 e 6º, da LICC.

O art. 103 da Lei nº 8.213/91, em sua redação original, dispunha que "Sem prejuízo do direito
ao benefício, prescreve em 5 (cinco) anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época
própria, resguardados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes".
Com a publicação da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, em 28 de junho de 1997,
convertida na Lei nº 9.528/1997, a mencionada pretensão revisional passou a se sujeitar ao prazo
decadencial de dez anos, conforme dispositivo ora transcrito:

Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação
do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a
contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação
ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da
decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. (Redação dada pela Lei
nº 9.528, de 1997)

Esse prazo foi introduzido no ordenamento jurídico pela MP n. 1.523-9, de 27-6-1997, DOU
28-6-1997, convertida na Lei n. 9.528, de 10-12-1997, DOU 11-12-1997.
O prazo decenal, em tela, foi reduzido para 5 (cinco) anos em 23.10.1998, pela Medida
Provisória nº 1663-15, de 1998, convertida na Lei nº 9.711, de 1998.
Com a edição da Medida Provisória nº 138, de 19.11.2003, o prazo decadencial decenal foi
restabelecido, estando hoje assentado pela Lei nº 10.839, de 05.02.2004.
Feito esse breve histórico sobre o tema, resta inequívoco que no período anterior a 28 de
junho de 1997, não há o fluxo de prazo decadencial de 10 anos, por inexistência de norma legal que
previsse a causa extintiva em foco, sob pena de ofensa ao princípio da irretroatividade das leis.
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Assim, a questão que se coloca é saber se o direito à revisão de benefícios previdenciários
concedidos antes de 28 de junho de 1997 passaram a se sujeitar ou não ao prazo decadencial a partir
dessa data.
De acordo com o art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil, os atos normativos que entram
em vigor têm efeito imediato e geral, passando a abranger as relações jurídicas em manutenção,
respeitando-se o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada material. Tem-se, destarte,
que a lei deve ter aplicação presente e futura.
De outra banda, embora inexistisse a previsão do prazo decadencial anteriormente a
28.06.1997, resta claro que a partir do advento da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, de 28 de junho
de 1997, convertida na Lei nº 9.528/1997, teve início a contagem do prazo decadencial de 10 anos
para todos os benefícios concedidos anteriormente a 28.06.1997, vez que a tese de que os benefícios
iniciados antes desta data são revisáveis ad eternum fere os princípios da isonomia, da razoabilidade
e da segurança jurídica.

Há violação do art. 5º, XXXVI, quando o conflito de leis no tempo é solucionado


de modo incorreto, pois ocorre “controvérsia de direito intertemporal, regida por
norma de sobredireito (CF, art. 5º, XXXVI)” (STF, RE-AgR 414737/SC).

Entendendo-se assim as relações jurídicas constituídas antes da data em que a norma entrou
em vigor estariam perpetuamente imunes aos prazos decadenciais. Cabe demonstrar o desacerto
desse entendimento.
Costuma-se afirmar que o momento inicial do prazo da prescrição é determinado pelo
nascimento da pretensão (actio nata), enquanto que o momento inicial do prazo da decadência seria
determinado pelo nascimento do direito, uma vez que esta é conceituada como prazo fatal para
exercício de um direito.
Isso não quer dizer que, inexistente prazo decadencial na data do nascimento do direito, sua
possibilidade de exercício seja perpétua. Não, pois à "semelhança dos fatos jurídicos complexos ou
de formação continuada, a prescrição e a decadência subordinam-se à lei em vigor na data do termo
prescricional ou preclusivo." (BATALHA, Direito intertemporal, p. 241).
Em outras palavras, a lei pode fixar prazo decadencial após o nascimento do direito, com
efeito imediato sobre as situações em curso. Não deve, em princípio, haver incidência retroativa, o
que se evita computando o prazo, para direitos já existentes, a partir da data de vigência da
lei (RESP 573288/RS, 233168/RS; 250901/PR), conforme solução já vem das lições de Savigny:

Com relação às normas que introduzem prazo prescricional ou decadencial até


então inexistente, tem aplicação o mesmo raciocínio: não existe direito adquirido
a imunidade a prazos que a lei futura venha a fixar para o exercício do direito
adquirido. Como assinalado por SAVIGNY, "se a lei nova introduz prescrição ou
usucapião desconhecida, aplica-se imediatamente, mas computando-se o prazo a
partir de seu início de vigência" (p. 418). (KEMMERICH, Efeitos da lei nova..., n.
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No C. STJ, quando julga matéria administrativa, também prevalece esse entendimento:

O qüinqüênio decadencial em relação aos atos nulos praticados anteriormente à


Lei n. 9.784/99, tem como termo inicial a vigência de tal norma que, por fixar
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prazo decadencial, não tem aplicação retroativa. Precedente da Corte Especial.
(STJ, RESP 573288/RS, Ministra Laurita Vaz, DJU 26-9-2005)

Curiosamente, ao julgar matéria previdenciária o STJ aplica o princípio inverso, a saber: um


prazo decadencial novo não conta, sequer a partir da vigência da lei, para relações jurídicas iniciadas
anteriormente (v.g. REsp 1015179/RS).
O Supremo Tribunal Federal sempre adotou a primeira posição. Veja-se o caso da alteração
do prazo decadencial da ação rescisória, quando da entrada em vigor do CPC/73 (CC/16 = 5 anos;
CPC/73 = 2 anos). Se o prazo, como algumas vezes se afirma, "nascesse" juntamente com o direito,
então não se poderia aceitar que a lei nova o reduzisse e atingisse direitos nascidos antes dela. Mas
não foi isso que decidiu o STF, afastando expressamente, aliás, a tese de Pontes de Miranda. Além
disso, os julgados do STF reproduzem, com perfeição técnica, a fórmula doutrinária para evitar o
efeito retroativo:
Se o restante do prazo de decadência fixado na lei anterior for superior ao novo prazo
estabelecido pela lei nova, despreza-se o período já transcorrido, para levar-se em conta,
exclusivamente, o prazo da lei nova. (AR 905. No mesmo sentido: AR 956/AM, RE 92294/GO).
Quando há incidência de lei nova em prazos de prescrição ou decadência em curso, não há
falar em direito adquirido. (STF, RE 93698/MG, Min. Soares Munoz, DJU 27-2-1981, trecho do
voto)

A regra para os prazos diminuídos é inversa da vigorante para os prazos dilatados.


Nestes, como vimos, somam-se o período da lei antiga ao saldo, ampliado pela lei
nova. Quando se trata de redução, porém, não se podem misturar períodos regidos
por leis diferentes: ou se conta o prazo, todo ele, pela lei antiga, ou todo, pela
regra nova, a partir, porém, da vigência desta (Galeno Lacerda citado no RE
93.698-0-MG).
Ação rescisória. Decadência. Direito intertemporal. Se o restante do prazo
de decadência fixado na lei for superior ao novo prazo estabelecido pela lei nova,
despreza-se o período já transcorrido para levar-se em conta, exclusivamente, o
prazo da lei nova, a partir do inicio de sua vigência. (STF, RE 93698/MG, Min.
Soares Munoz, DJU 27-2-1981, p. 1308)

Se a lei pode reduzir um prazo de 5 para 2 anos (STF, AR 905), pode também reduzi-lo de
inexistente (perpétuo) para 5 anos (art. 103), e estar-se-á sempre falando de um novo prazo. A
substituição de um prazo por outro é apenas a introdução de um prazo novo: ela não difere, em sua
natureza jurídica, do estabelecimento de um prazo quando ainda inexistente.
Não há efeito retroativo na aplicação da lei a fatos ocorridos após a sua entrada em vigor. Se
o prazo decadencial for contado a partir da data em que a lei entrou em vigor, e se for inteiramente
consumado sob a vigência desta (como é o caso dos autos) não que se falar em aplicação retroativa.
Na verdade a parte autora não está vendo que o suporte fático das normas de decadência não é a
constituição de uma relação jurídica, mas a passagem do tempo e a inércia dos interessado, durante
esse mesmo tempo. A nova norma em questão, art. 103 da Lei n. 8.213/1991, deu efeitos jurídicos
novos a algum fato ocorrido antes da sua entrada em vigor? Não. Então não é sequer minimamente
retroativa. A tese adotada pela autora, no sentido de que as relações jurídicas iniciadas anteriormente
estariam fora do alcance das alterações legais, parte do equívoco de pensar que a constituição da
relação jurídica seria o suporte fático para a incidência da decadência. Mas a norma que institui
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decadência em nada altera o conteúdo da relação jurídica original, ao contrário: ela impede a alteração
desse conteúdo após certo lapso de tempo. Logo, o lapso temporal e a inércia é que constituem o
suporte fático que atrai a incidência da norma sobre decadência. Se o caso fosse de direito já extinto
pela decadência sob a lei anterior, ai sim se poderia dizer que a lei nova não incide. Mas enquanto
não houve decadência sempre a lei pode introduzir um prazo novo.
Outro aspecto a ressaltar é aquele lembrado pelo eminente Desembargador Federal
Rômulo Pizzolatti, ao fazer a crítica das decisões do Tribunal por ele integrado, grifado no brilhante
voto abaixo transcrito:

Por fim, anoto que, à luz do acima exposto, não se sustenta, por falta de amparo
dogmático e doutrinário, a incipiente orientação jurisprudencial segundo a qual
não há decadência do direito de revisão de benefícios previdenciários concedidos
antes da vigência da lei que a instituiu (TRF da 4ª Região, AC nº
1998.04.01.058356-0/SC, AC nº 2003.70.00.010764-8/PR; STJ, REsp nº 410.690-
RN, REsp nº 479.964-RN; REsp nº 254.969-RS), a pretexto de que a decadência
constitui regra de direito material, não podendo aplicar-se a situações constituídas
antes da sua vigência, sob pena de retroatividade. Essa orientação mostra-se
equivocada, porque está afirmando a pós-atividade da legislação revogada,
quando o caso é de simples aplicação imediata da lei nova, a partir da sua
vigência, conforme a regra do artigo 6º, caput, da Lei de Introdução ao Código
Civil (A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada). A lei nova, que institui prazo de decadência
para ser postulada a revisão de benefício previdenciário, não prejudica o
beneficiário da Previdência Social, visto que não altera o seu benefício; já a lei
nova, que diminui o prazo de decadência, será aplicada apenas a partir da sua
vigência, conforme a solução preconizada por Câmara Leal ou conforme a regra
do artigo 2.028 do Código Civil de 2002, também sem prejuízo ao beneficiário da
Previdência Social. Nem na primeira nem na segunda hipótese há de falar-se em
ofensa a direito adquirido para efeito de invocar-se a proteção constitucional
correspondente (Constituição Federal, art. 5º, XXXVI). (TRF4, trecho do voto
vencido na AC 2006.71.12.002340-0/RS, Desembargador Federal
Rômulo Pizzolatti, DJU 10-1-2007)

Convém atentar que o caput do art. 5º da Constituição da República veda ao Estado


estabelecer distinções entre pessoas que reúnam os mesmos requisitos legais necessários ao
surgimento do direito às prestações estatais. Quanto às prestações previdenciárias, o princípio da
isonomia também é expresso em dispositivo específico, qual seja, o art. 201, § 1º, da CF:

“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(...)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão
de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social,
ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados
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portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.”

Destarte, havendo discriminação injustificável entre os titulares de benefícios concedidos


antes de 28.06.1997 em relação aos titulares de benefícios concedidos após essa data, é flagrante a
violação direta ao princípio da isonomia insculpido no caput do art. 5º, bem como no art. 201, § 1º,
ambos da Constituição da República.

divergência jurisprudencial na forma de aplicação da lei no tempo: o caso da


jurisprudência sobre a Lei n. 9.784/1999

O caso dos autos não se refere à Lei n. 9.784/1999 (decadência contra a Administração).
Nestes autos trata-se da forma de aplicação do art. 103 da Lei n. 8.213/1991 (decadência contra o
beneficiário da Previdência). Mas duas leis que instituem prazos decadenciais, embora em matérias
diversas, não podem ter funcionamento intertemporal diferente. Justifica-se, dessa forma, a
comparação.
Por isso, pela semelhança das questões subjacentes, cabe referir que o STF – bem como o
STJ e o TRF 4ª Região – vem aplicando a Lei n. 9.784/1999 (prescrição administrativa) também às
relações jurídicas surgidas antes de 1999, sendo esse entendimento pacífico nessas cortes.

“Colho do primeiro pronunciamento do Tribunal de Contas da União que as


movimentações na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos se fizeram no
período compreendido entre a promulgação da Constituição Federal de 1988 e
dezembro de 1995. ... A decisão foi proferida em sessão realizada em 11 de
fevereiro de 2004 ... Levando em conta a vigência da Lei n. 9.784 a partir de 1º
de fevereiro de 1999, passaram-se mais de 5 anos até a revisão dos atos
administrativos.” Realmente, a Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, é linear
quanto à passagem de mais de cinco anos, a obstaculizar a revisão de atos
administrativos. ... Somente com a Lei n. 9.784/99 veio à balha a fixação de prazo
decadencial para a revisão de atos administrativos... (STF, MS 26363/DF, Min.
Marco Aurélio, DJE 11-4-2008, trecho do voto)

Caso, porém, fosse aplicado a esses casos o mesmo princípio que incorretamente foi
pretendido pela parte autora, a conclusão seria a de que o direito da Administração, no que se refere
a direitos formados antes de 1999, seria imprescritível.

Conclusão

A correta compreensão dos precedentes citados leva à extração da


seguinte ratio decidendi: a data de início da relação jurídica só é relevante quando já há prazo
decadencial ou prescricional vigendo; se a data de início da relação jurídica é anterior à
introdução do prazo decadencial ou prescricional, o prazo começa a fluir quando a norma se
torna vigente. Na espécie, ao vedar a incidência da lei nova, haveria violação frontal à Constituição,
fazendo má aplicação da garantia do art. 5º, XXXVI, bem como discriminação injustificável entre os
titulares de benefícios concedidos antes de 28.06.1997 em relação aos titulares de benefícios
concedidos após essa data, ocorrendo também flagrante violação direta ao princípio da isonomia
insculpido no caput do art. 5º, bem como no art. 201, § 1º, ambos da Constituição da República.
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Campo de aplicação do dispositivo

Dentre as questões controversas acerca do prazo decadencial do art. 103, caput, da Lei
8.213/91 diz respeito ao seu campo de aplicação. Vejamos o dispositivo:

Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação
do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a
contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação
ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória
definitiva no âmbito administrativo. (Redação dada pela Lei nº 10.839, de 2004)
(grifo nosso)

Uma das questões que envolvem a sua aplicabilidade relaciona-se aos pedidos de renúncia
do ato de concessão. O comando legal determina como suporte fático-jurídico de incidência do prazo
decadencial todo e qualquer direito para a revisão do ato de concessão. Na verdade, o alcance é
amplo e não abrange apenas revisão de cálculo e de atos específicos intrínsecos ao ato de concessão.
Atinge o próprio ato de concessão e, sob a imposição da expressão "qualquer direito", envolve o
próprio direito à renúncia do benefício. Ademais, toda e qualquer alteração do ato concessório
constitui uma verdadeira revisão, ainda que essa alteração decorra do próprio desfazimento do ato de
concessão.
Assim, não se pode vislumbrar a possibilidade interpretativa de determinar que a cláusula
decadencial privilegie apenas determinados direitos de modificação ou extinção do ato de concessão
quando ela é explicitamente abrangente e não ressalva qualquer direito revisional.
Além disso, a renúncia e o desfazimento do ato administrativo de concessão é a primeira
etapa de um pedido complexo que somente se perfaz integralmente com a próxima, a concessão de
novo benefício, de mesma espécie e valor maior. Esse desfazimento inicial somado à nova concessão,
em seu conjunto, configura um ato complexo de revisão e, portanto, recebe também a incidência do
art. 103, da Lei 8.213/91.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça:

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.298.511 - RS (2011/0301007-5)


RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
AGRAVANTE : EDGAR CIDADE DA SILVA
ADVOGADO : ISABEL CRISTINA TRAPP FERREIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL FEDERAL - PGF E OUTRO(S)
EMENTA
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. DECADÊNCIA. ART. 103 DA
LEI 8.213/1991. PEDIDO DE RENÚNCIA A BENEFÍCIO
(DESAPOSENTAÇÃO). INCIDÊNCIA.
1. Trata-se de pretensão recursal contra a aplicação do prazo decadencial do art. 103
da Lei 8.213/1991 sobre os pedidos de renúncia de aposentadoria (desaposentação).
2. Segundo o art. 103 em comento "é de dez anos o prazo de decadência de todo e
qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de
concessão de benefício".
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3. O comando legal estipula como suporte fático-jurídico de incidência do prazo
decadencial todo e qualquer direito ou ação para a revisão do ato de concessão.
4. O alcance é amplo e não abrange apenas revisão de cálculo do benefício, mas
atinge o próprio ato de concessão e, sob a imposição da expressão "qualquer
direito", envolve o direito à renúncia do benefício.
5. Agravo Regimental não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque e em bloco." Os Srs. Ministros Mauro
Campbell Marques, Cesar Asfor Rocha, Castro Meira e Humberto Martins votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 07 de agosto de 2012(data do julgamento).
MINISTRO HERMAN BENJAMIN
Relator

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. DECADÊNCIA. ART. 103 DA


LEI 8.213/1991. PEDIDO DE RENÚNCIA A BENEFÍCIO
(DESAPOSENTAÇÃO). INCIDÊNCIA.
1. Trata-se de pretensão recursal contra a aplicação do prazo decadencial do
art. 103 da Lei 8.213/1991 sobre os pedidos de renúncia de aposentadoria
(desaposentação).
2. Segundo o art. 103 em comento "é de dez anos o prazo de decadência de todo
e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato
de concessão de benefício".
3. O comando legal estipula como suporte fático-jurídico de incidência do
prazo decadencial todo e qualquer direito ou ação para a revisão do ato de
concessão.
4. O alcance é amplo e não abrange apenas revisão de cálculo do benefício, mas
atinge o próprio ato de concessão e, sob a imposição da expressão "qualquer
direito", envolve o direito à renúncia do benefício.
5. Entendimento adotado por esta Segunda Turma no AgRg no RESP
1.298.511/RS, na Sessão de 7.8.2012, estando ainda pendente de publicação.
6. Agravo Regimental não provido.
(STJ, AgRg no REsp 1305914/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe 27/08/2012)

Não se diga também que não incide a decadência quando determinada questão não foi objeto
de requerimento administrativo pelo demandante, o que daria ensejo à inexistência de análise da
questão por parte da Administração Pública. Nessa ótica, toda e qualquer questão que não teria sido
expressamente suscitada, poderia dar suporte a uma ação judicial, dado que o art. 103 da Lei nº
8.213/91 não seria aplicável para obstar tal intento, podendo o segurado propor tantas ações quantos
fatos novos pudessem ser detectados, o que inviabilizaria a Previdência Social, dada a impossibilidade
de auferir-se o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, conforme previsão do art. 201 da
Constituição da República.
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A aplicação do instituto da decadência não possui relação, nem está limitada aos fatos que
deram origem ao direito sujeito à sua incidência. Trata-se de aplicação do princípio da legalidade,
previsto no art. 5º, caput da CF/88.
A decadência opera-se pura e simplesmente pelo transcurso do lapso temporal entre a data
da ocorrência do fato jurídico (concessão do benefício) e a data da insurgência do titular do direito
dele decorrente (ajuizamento da ação judicial).
De outro norte, tem-se que a criação do instituto da decadência, para fins de revisão do ato
de concessão ou indeferimento de benefício previdenciário, busca justamente evitar que pretensões
não aduzidas na época própria pudessem vir a ser objeto de nova apreciação, inclusive pelo Poder
Judiciário, o que resultou na fixação por lei de 10 anos para que o segurado pleiteasse o que
entendesse de direito em relação àquele ato administrativo de deferimento ou indeferimento de
benefício previdenciário. Trata-se de dispositivo que confere eficácia ao postulado da segurança
jurídica, o qual constitui um dos elementos conceituais do Estado Democrático de Direito, cláusula
imposta já no art. 1º, caput, da Constituição da República:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: (...)

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. CONCURSO


PÚBLICO. PREVISÃO DE VAGAS EM EDITAL. DIREITO À NOMEAÇÃO DOS
CANDIDATOS APROVADOS. I. DIREITO À NOMEAÇÃO. CANDIDATO
APROVADO DENTRO DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTAS NO EDITAL. (...)
II. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA.
BOA-FÉ. PROTEÇÃO À CONFIANÇA. O dever de boa-fé da Administração
Pública exige o respeito incondicional às regras do edital, inclusive quanto à
previsão das vagas do concurso público. Isso igualmente decorre de um necessário
e incondicional respeito à segurança jurídica como princípio do Estado de Direito.
Tem-se, aqui, o princípio da segurança jurídica como princípio de proteção à
confiança. (...)
(STF, RE 598099, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
10/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-189 DIVULG 30-09-
2011 PUBLIC 03-10-2011 EMENT VOL-02599-03 PP-00314)

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA


UNIÃO. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NEGATIVA DE
REGISTRO A PENSÃO. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA. GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. A inércia
da Corte de Contas, por mais de cinco anos, a contar da submissão do ato
concessivo da pensão ao TCU, consolidou afirmativamente a expectativa da
pensionista quanto ao recebimento de verba de caráter alimentar. Esse aspecto
temporal diz intimamente com: a) o princípio da segurança jurídica, projeção
objetiva do princípio da dignidade da pessoa humana e elemento conceitual do
Estado de Direito; (...)
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(STF, MS 28720, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em
20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-
2012 PUBLIC 02-04-2012)

A decadência, portanto, atinge o direito potestativo do autor de requerer a revisão daquele


ato administrativo que lhe concedeu ou indeferiu o benefício em desconformidade com suas
expectativas. O prazo decadencial fulmina o direito do autor de pedir que a administração ou o
judiciário revisem o ato de concessão ou de indeferimento do benefício.
A razão de existir do instituto é justamente a manutenção de um sistema fundado na
segurança jurídica, resguardando a Administração Pública de ser acionada a qualquer tempo. Se o
interessado, dentro do prazo estipulado por lei, não exerce o direito de pedir o que lhe é devido, incide
o instituto da decadência.
Nesse sentido, a jurisprudência da Turma Regional dos Juizados Especiais Federais da 4ª
Região:

EMENTA: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. REVISÃO DE BENEFÍCIO DE


APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO MEDIANTE INCLUSÃO
DE TEMPO DE SERVIÇO NÃO RECONHECIDO NA ESFERA
ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 103 DA LEI
8.213/91. INCIDENTE A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O pedido de revisão
de aposentadoria por tempo de contribuição mediante inclusão de tempo de serviço
não reconhecido na via administrativa também está sujeito ao prazo previsto no
art. 103 da Lei 8.213/91. 2. Incidente de uniformização da parte autora a que se
nega provimento. (TRU-4, IUJEF 0008363-84.2009.404.7251, Relator Leonardo
Castanho Mendes, D.E. 30/01/2012)

EMENTA: PREVIDENCIARIO. DECADÊNCIA. ART. 103 DA LEI 8.213/91.


REVISÃO DO BENEFÍCIO. FATOS E LEGISLAÇÃO ANTERIORES À DER.
IMPOSSIBILIDADE. SEGURANÇA JURÍDICA. 1. A decadência atinge todo e
qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário tendente à revisão do ato de
concessão do benefício, particularmente os fatos e a legislação considerados à
época da DER, tornando o ato administrativo imutável para fins de concretização
do princípio da segurança jurídica. 2. Incidente conhecido e improvido. (TRU-
4, IUJEF 0008343-93.2009.404.7251, Relator Antonio Fernando Schenkel do
Amaral e Silva, D.E. 16/12/2011)

Não se diga também que tal prazo não se aplica às decisões indeferitórias da autarquia, mas
apenas aos pedidos de revisão. O dispositivo é claríssimo no sentido de aplicação também à revisão
dos atos de indeferimento. Nesse sentido, a Súmula n. 64 da Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais:

SÚMULA N. 64 DA TNU: “O direito à revisão do ato de indeferimento de benefício


previdenciário ou assistencial sujeita-se ao prazo decadencial de dez anos.”

Na mesma linha, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região:


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REVISÃO DE ATO INDEFERITÓRIO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
DECADÊNCIA.
Aplica-se a legislação previdenciária que instituiu prazo de decadência do direito
de revisão de ato administrativo que indefere benefício após sua vigência. (TRF4,
AC 0019000-61.2010.404.9999, 5ª Turma, Unânime, Relator Rômulo Pizzolatti,
D.E. 28/04/2011)

Além disso, o início do prazo começa a correr do benefício originário, quando deu origem a
benefício derivado, se for aquele anterior o que se quer efetivamente revisar, visto que o segundo é
mero reflexo do ato de concessão relativamente ao primeiro. Nesse sentido, a Turma Regional de
Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região:

EMENTA: REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DECADÊNCIA DO


DIREITO QUANDO DECORRIDOS MAIS DE DEZ ANOS. 1. O prazo decadencial
do direito de revisar é contado da data da concessão do benefício que efetivamente
se busca revisar, seja ele originário ou derivado. 2. Tendo decaído o direito de
revisar o benefício originário, não há possibilidade de revisão do benefício
derivado, no caso de esta ser apenas reflexa da revisão do primeiro. 3. Recurso
improvido. (TRU-4, 5000341-64.2012.404.7115, Turma Regional de
Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão Paulo Paim da Silva, D.E.
25/06/2012)

Nesta perspectiva, firmada a premissa de incidência do prazo decadencial ao caso concreto.

PREQUESTIONAMENTO

Caso seja dado trânsito à pretensão da parte autora de condenação da autarquia na revisão
de benefício da maneira rogada no pedido exordial, o que se admite tão somente para argumentar -
vez que a decisão estaria contrariando dispositivos da Constituição – em especial a má aplicação da
garantia da irretroatividade das leis (art. 5º, XXXVI), a violação do princípio da isonomia
mediante discriminação injustificável entre os titulares de benefícios concedidos antes de
28.06.1997 em relação aos titulares de benefícios concedidos após essa data (art. 5º, caput, e art.
201, § 1º), – e da Lei - especialmente a negativa de vigência do art. 103, caput, da Lei 8.213, bem
como do art. 6º, da LICC) - a matéria deverá ser enfrentada na decisão, para efeito de futura
interposição de RECURSO EXTRAORDINÁRIO ou ESPECIAL, se for o caso. A matéria fica,
portanto, desde já PREQUESTIONADA para fins recursais.

3) BENEFÍCIO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DE 1988. TETOS DAS


EMENDAS CONSTITUCIONAIS NS. 20/98 E 41/2003. NÃO
APLICABILIDADE DO PRECEDENTE DO STF. CONTRARIEDADE ÀS
EC 20/1998, ART. 14; EC 41/2003, ART. 5º; E ADCT/1988, ART. 58.
PRECEDENTES DO TRF-3.

O benefício da parte autora foi concedido em data anterior à Constituição de 1988.


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--- O PRECEDENTE ---

O STF pacificou a questão da aplicabilidade imediata dos novos limites máximos para o valor
dos benefícios do regime geral de previdência social-RGPS, estatuídos pelas Emendas
Constitucionais 20/1998 e 41/2003. O precedente tem a seguinte EMENTA:

DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE


BENEFÍCIO. ALTERAÇÃO NO TETO DOS BENEFÍCIOS DO
REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA. REFLEXOS NOS
BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DA ALTERAÇÃO. EMENDAS
CONSTITUCIONAIS N. 20/1998 E 41/2003. DIREITO
INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICO PERFEITO. NECESSIDADE DE
INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Há
pelo menos duas situações jurídicas em que a atuação do Supremo Tribunal
Federal como guardião da Constituição da República demanda interpretação
da legislação infraconstitucional: a primeira respeita ao exercício do controle
de constitucionalidade das normas, pois não se declara a constitucionalidade
ou inconstitucionalidade de uma lei sem antes entendê-la; a segunda, que se
dá na espécie, decorre da garantia constitucional da proteção ao ato jurídico
perfeito contra lei superveniente, pois a solução de controvérsia sob essa
perspectiva pressupõe sejam interpretadas as leis postas em conflito e
determinados os seus alcances para se dizer da existência ou ausência da
retroatividade constitucionalmente vedada. 2. Não ofende o ato jurídico
perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n.
20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos benefícios
previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência
estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a
observar o novo teto constitucional. 3. Negado provimento ao recurso
extraordinário. (RE 564354, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal
Pleno, julgado em 08/09/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-
030 DIVULG 14-02-2011 PUBLIC 15-02-2011 EMENT VOL-02464-03 PP-
00487)

A parte autora requer esse mesmo entendimento em relação aos benefícios atualmente em
manutenção, mas que tiveram suas rendas iniciais e primeiros reajustes em datas anteriores à
Constituição de 1988.
O INSS-Recorrente busca demonstrar que o entendimento adotado no RE 564354 não se
aplica aos benefícios anteriores à Constituição de 1988.
Passa-se a fazer a necessária distinção.
--- A RATIO DECIDENDI ---
Primeiramente, importa identificar a ratio decidendi do precedente formado com o RE
564.354, de Relatoria da eminente Ministra Cármen Lúcia. A razão de decidir é simples e encontra-
se claramente formulada em diversos dos votos proferidos na sessão de julgamento.
A ratio decidendi pode ser resumida assim: A Constituição de 1988, no seu art. 201 § 3º, desde
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a redação original, garantia a correção monetária de todos os salários de contribuição considerados
no cálculo de benefício. Contudo, como a renda final submete-se a um teto, o teto acaba retirando o
efeito de parte da correção monetária que a Constituição garante. Isso ocorre sempre que a correção
do teto é menor que a correção dos salários-de-contribuição. Uma vez que o teto tem previsão
constitucional (EECC 20 e 41), a solução para compatibilizar a garantia do art. 201, § 3º, com a
existência de um teto, seria permitir que os valores excedentes ao teto antigo voltassem a integrar a
renda do benefício sempre que o teto recebesse reajuste maior do que o reajuste da própria renda do
benefício. Para tanto, o cálculo do valor do benefício deveria ter-se por perfectibilizado antes da
aplicação do teto, que seria um elemento externo ao cálculo, a incidir exclusivamente por ocasião do
pagamento.
A doutrina e os advogados sustentavam essa tese muito antes de ela chegar ao STF. Confira-
se a tese em sua fase embrionária:

Argumenta-se que, se todos os salários-de-contribuição, segundo


imperativo constitucional, deverão ser atualizados e considerados quando
do cálculo do benefício, não se pode desconsiderar parte das
contribuições vertidas, devidamente atualizadas, pelo simples fato de que
ultrapassam um limite estabelecido, frise-se, infraconstitucionalmente. Boa
maneira de explicitar a problemática surgida com o estabelecimento de um
limite no salário-de-benefício - bem como os prejuízos daí resultantes -
consiste na utilização de um exemplo prático: segurado que tenha contribuído
durante todo o período básico de apuração de seu salário-de-benefício com o
valor máximo (contribuição incidente sobre o teto máximo do salário-de-
contribuição), e que postula aposentadoria proporcional por tempo de serviço.
Ao serem feitas as atualizações monetárias destas contribuições, como o
limite máximo do salário-de-contribuição não é atualizado mensalmente,
provavelmente o salário-de-benefício obtido será superior ao limite
máximo daquele. A aplicar-se o limite do art. 29, § 2°, o beneficiário não terá
assegurado a manutenção do valor real de suas contribuições, já que o
percentual que determinará sua Renda Mensal Inicial (coeficiente equivalente
ao tempo de contribuição) incidirá não sobre a totalidade de suas
contribuições atualizadas, mas sim sobre o valor inferior. (FORTES, Direito
da Seguridade Social, 2005, 237)

No mesmo sentido:

A justificativa principal é que todos os salários de contribuição eram


corrigidos monetariamente [CRFB/1988, ART. 201 § 3º], mas o teto do
salário de benefício não sofria reajuste mensal, ocorrendo em uma ou
algumas oportunidades por ano, a depender, mas nunca em todos os meses.
(AMADO, Curso de direito e processo previdenciário, 2015, p. 1027)

A fundamentação expressa pelo ministro Gilmar Mendes em seu voto deixa claro esse ponto.
Em diversas oportunidades ao longo da sessão que julgou o RE 564.354, o Ministro Gilmar sustentou
o ponto. Confiram-se alguns trechos ilustrativos:
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Aqui haveria uma situação grave e artificial. É que a dissociação entre a
forma de reajuste do salário e da contribuição e a forma de reajuste desse
limitador levou a essa dissociação. Quer dizer, houve, na verdade, essa
defasagem, por isso que eu falei que de 98 a 2003 houve um atualização de
98,43% no que diz respeito ao salário de contribuição, e por isso que se tem
essa defasagem. Portanto, o limitador vira um redutor, porque ele é mantido.
Certamente até por opção fiscal. Isso leva realmente a distorção apresentada.
(RE 564.354, trecho do voto do Min. Gilmar Mendes)

Partindo-se do pressuposto de que o segurado é obrigado a respeitar o limite


do salário de contribuição mensal, uma primeira indagação deve ser
enfrentada: Como é possível a consolidação de um salário de benefício
superior ao teto? A resposta pode ser buscada nos diferentes índices
utilizados para corrigir as contribuições pagas pelos segurados (salário
de contribuição) e o valor nominal do limitador dos benefícios, fenômeno
que perdurou até 2/2004, quando os índices foram uniformizados, conforme
se demonstra a seguir: [...] (RE 564.354, trecho do voto do Min. Gilmar
Mendes)

Quanto ao enquadramento do teto como um elemento externo ao cálculo da renda, colhe-se


dos votos que levaram à formação do precedente:

Portanto, isso está sanado, mas, de fato, isso leva a essa descoincidência, esse
[o limitador] é um elemento externo e não interno do cálculo, como disse
a Ministra Cármen. (Min. Gilmar Mendes)

Tenho que o limitador previdenciário, a partir de sua construção


constitucional, é elemento externo à estrutura jurídica do benefício
previdenciário, que não o integra. O salário de benefício resulta da
atualização dos salários de contribuição. A incidência do limitador
previdenciário pressupõe a perfectibilização do direito, sendo-lhe, pois,
posterior e incidindo como elemento redutor do valor final do benefício.
(Min. Gilmar Mendes)

... vou usar até de uma figura muito apropriada: é como se fosse um elástico,
no instante em que o redutor é solto, o elástico vai até onde pode ir. (Min.
Cezar Peluso)
--- TRÊS DISTINÇÕES ---
Encontrada a ratio decidendi do precedente, é possível expor as razões pelas quais ele não se
aplica aos benefícios concedidos antes da Constituição de 1988. Em outras palavras, é possível fazer
a distinção.
A PRIMEIRA DISTINÇÃO a ser feita, é que os benefícios anteriores à Constituição de 1988
não contavam com a garantia de atualização monetária de todos os salários-de-contribuição.
Na sistemática anterior à Constituição de 1988, as normas previdenciárias mandavam corrigir
apenas os vinte e quatro salários de contribuição mais antigos. Confira-se:
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Dec. 89.312/1984, Art. 21. O benefício de prestação continuada, inclusive o
regido por normas especiais, tem seu valor calculado com base no salário-de-
benefício, assim entendido:
I - para o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio
reclusão, 1/12 (um doze avos) da soma dos salários-de-contribuição dos
meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade, até o
máximo de 12 (doze), apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses;
II - para as demais espécies de aposentadoria e para o abono de permanência
em serviço, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição
dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da
entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em
período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.
§ 1º Nos casos do item II, os salários-de-contribuição anteriores aos 12
(doze) últimos meses são previamente corrigidos de acordo com índices
estabelecidos pelo MPAS.

[...] 1. Para os benefícios concedidos antes da Constituição Federal de 1988,


devem-se atualizar os 24 salários-de-contribuição, excluídos os 12
últimos, pela variação da ORTN/OTN/BTN, para fins de apuração da renda
mensal inicial. [...] (STJ, AgRg no REsp 319.618/RJ, Rel. Ministro
HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 11/12/2001,
DJ 25/02/2002, p. 462)

A regra anterior (e a diferença entre os regimes) é sempre destacada pela doutrina, como neste
trecho:

A Constituição Federal de 1988 garantiu que todos os salários de


contribuição considerados no cálculo do salário de benefício serão
corrigidos monetariamente (art. 201, §3º). Até o advento da atual
Constituição, os doze mais recentes salários de contribuição não eram
corrigidos. Tal regra, em tempo de inflação galopante, acarretava uma
sensível redução no valor da renda mensal inicial em relação ao último salário
da atividade, principalmente nos benefícios de auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez, que consideravam apenas 12 salários de
contribuição, num período básico de cálculo de dezoito meses. Mas, como
não havia lei prevendo a atualização, a jurisprudência se inclinou por
sufragar esse critério. (CASTRO e LAZZARI, Manual de direito
previdenciário, 2006, p. 470)

A distinção é relevante, pois a atualização e aproveitamento integral dos salários-de-


contribuição constituem a base do direito invocado (e acolhido) para proteção do poder aquisitivo dos
benefícios posteriores à Constituição de 1988. Uma vez que os benefícios anteriores não contavam
com a mesma garantia, a forma de proteção do seu poder aquisitivo é outra (conforme será visto na
terceira distinção).
Enquanto o não-aproveitamento integral dos salários-de-contribuição, causado pela
aplicação de teto defasado, foi determinante para a solução adotada no leading case, para os
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benefícios anteriores não pode ser utilizada a mesma lógica. A ratio é inaplicável, tanto por não
contarem com a garantia de atualização de todos os salários, como por a lei da época admitir limites
diferentes para o salário-de-contribuição e para o salário-de-benefício. O Limite Máximo do Salário-
de-Contribuição (Dec. 89.312/1984, art. 135 c/c art. 211), não se confundia e não tinha
correspondência obrigatória com o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício (Dec. 89.312/1984, art.
21 § 4º). Ambos os parâmetros legais tinham funções distintas e apresentaram valores diferentes nos
seguintes períodos: de maio/1975 a maio/1976 e de dezembro/1981 a outubro/1988.
Ao aplicar aos benefícios anteriores à Constituição um entendimento cuja ratio é exclusiva
dos benefícios concedidos na vigência da Constituição de 1988 (garantia de atualização de todos os
salários), contraria-se as EC 20/1998, art. 14 e EC 41/2003, art. 5º, pois estes não têm o efeito estender
garantias atuais a benefício do regime pré-Constituição.
A SEGUNDA DISTINÇÃO a ser feita é que o limite máximo do salário-de-benefício não
era um elemento externo e posterior ao cálculo da renda inicial.
Na sistemática anterior, os limites existentes podiam ser classificados em quatro:

1) Limite Máximo do Salário-de-Contribuição. Nenhuma contribuição poderia ser superior a


esse limite. Não integrava o cálculo da renda do benefício. Previsto pelo Dec. 89.312/1984, art. 135
c/c art. 211, d.

2) Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício. Este era o limite máximo para o salário-de-


benefício, etapa do cálculo da renda inicial dos benefícios previdenciários. Após a sua incidência,
ainda eram aplicados coeficientes referentes à espécie do benefício e à proporcionalidade ou
integralidade. Valor indissociável do cálculo da renda inicial e que esgota a sua função com o cálculo
completo desta. Previsto pelo Dec. 89.312/1984, art. 21 § 4º.

3) Menor Valor-Teto do Salário-de-Benefício. Este era utilizado exclusivamente como etapa


do cálculo do salário-de-benefício. Seu valor era a metade do Maior Valor-Teto. A parcela da média
das contribuições inferior ao Menor Valor-Teto tinha um tratamento e a parcela superior tinha outro.
A primeira parte (valor até o Menor Valor-Teto) recebia o coeficiente específico do benefício. A
segunda parte (valor entre o Menor e o Maior Valor-Teto) recebia o coeficiente na proporção dos
grupos completos de doze contribuições na sua vida contributiva. Ele é indissociável do cálculo da
renda inicial e esgota a sua função com o cálculo completo desta. Previsto pelo Dec. 89.312/1984,
art. 21 § 4º.

4) Limite Máximo de Pagamento Mensal. Valor que não poderia ser ultrapassado por ocasião
dos reajustes da renda dos benefícios. Estava estabelecido em 90% (noventa por cento) do valor do
Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício. Este, sim, era um valor externo ao cálculo do benefício,
aplicável exclusivamente por ocasião dos pagamentos. Previsto pelo Dec. 89.312/1984, art. 25 §
único.

Conforme deve restar claro, o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o Menor Valor-Teto


do Salário-de-Benefício eram elementos internos, imbricados no cálculo da renda inicial (RMI), pois
ingressavam em diversos momentos do cálculo e, somente após a sua incidência eram aplicados os
coeficientes correspondentes à espécie de benefício e a sua proporcionalidade ou integralidade. Esses
dois Valores-Tetos estavam tão entranhados no cálculo da renda inicial que era preciso, antes de mais
nada, separar o valor da média dos salário-de-contribuição em duas parcelas: A primeira parcela (valor
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até o Menor Valor-Teto) recebia o coeficiente específico do benefício. A segunda parcela (valor entre
o Menor e o Maior Valor-Teto) recebia o coeficiente na proporção dos grupos completos de doze
contribuições recolhidas pelo segurado (art. 23). Era como se fossem calculadas duas rendas mensais
iniciais-RMI e somadas ao final.
A distinção entre o Teto introduzido pela Lei 8.213/1991 (retroativo a 1988, por força do art.
144) e o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o Menor Valor-Teto do Salário-de-Benefício foi
corretamente feita pelo STJ. Precedente:

[...] O artigo 29, parágrafo 2º, e o artigo 136, ambos da Lei 8.213/91, tratam
de questões diferentes. Enquanto o art. 29, parágrafo 2º, estabelece limites
mínimo e máximo para o próprio salário-de-benefício, o art. 136,
determina a exclusão de critérios de cálculo da renda mensal inicial, com
base no menor e maior valor-teto, constante em legislação anterior (CLPS).
(STJ, REsp 239.340/RJ, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA
TURMA, julgado em 09/05/2000, DJ 28/08/2000, p. 111)

Ou seja, o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o Menor Valor-Teto do Salário-de-


Benefício eram “critérios de cálculo da renda mensal inicial” no regime anterior à Constituição, e
não meros limites para o salário-de-benefício.
O Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o Menor Valor-Teto do Salário-de-Benefício
não poderiam ser considerados valores externos ao cálculo por mais uma razão: havia outro
limitador previsto para esse fim. Existia um valor externo ao cálculo da renda inicial, aplicável
apenas para fins de pagamento. Era o “Limite Máximo de Pagamento Mensal”, previsto pelo Dec.
89.312/1984, art. 25 § único. Ele estava vinculado ao Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício, vez
que correspondia a noventa por cento dele, mas com ele não se confundia.
Retornemos ao leading case do STF. Como “traduzir” o sistema anterior para a linguagem
do RE 564.354? Parece evidente que o único elemento externo no sistema anterior era o “Limite
Máximo de Pagamento Mensal”, previsto pelo Dec. 89.312/1984, art. 25 § único. A este, e somente
a este, seria possível aplicar o entendimento que o STF adotou em relação ao “teto do regime geral
de previdência”. Mas note-se a diferença primordial: para os benefícios pré-1988, o valor que deve
ser reajustado, desde a concessão até a data das Emendas 20/1998 e 41/2003, para verificar se
há redução pelo teto anterior, é o da renda mensal inicial (RMI) e não o do salário-de-benefício.
E é assim porque, nos benefícios do sistema anterior, o Maior Valor-Teto do Salário-de-Benefício e o
Menor Valor-Teto do Salário-de-Benefício estavam profundamente entranhados no cálculo da própria
renda inicial, e não apenas do salário-de-benefício, conforme já demonstrado.
Como consequência, a forma de limitação anterior à Constituição de 1988, ...

... não guarda similaridade [isto é, é distinta] com aquela referente à tese
enfrentada e acolhida pelo STF, conforme tem entendido esta Turma Recursal
[SC]. Não se pode, por exemplo, equiparar a limitação ao antigo menor
valor teto à limitação ao teto da LBPS, pois naquele caso a limitação não
gerava perda integral da média, e sim um acréscimo calculado de forma
diferente da primeira parcela. (TRSC, Recurso de Sentença Cível
2006.72.51.001937-4, 2ª Turma, Rel. André de Souza Fischer, unânime,
17/11/2011)
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Em caso de dúvida quanto ao afirmado, consulte-se diretamente a legislação citada:

DECRETO N. 89.312/1984.

SEÇÃO III - SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO

Art. 21. O benefício de prestação continuada, inclusive o regido por normas


especiais, tem seu valor calculado com base no salário-de-benefício, assim
entendido:

I - para o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio


reclusão, 1/12 (um doze avos) da soma dos salários-de-contribuição dos
meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade, até o
máximo de 12 (doze), apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses;
II - para as demais espécies de aposentadoria e para o abono de permanência
em serviço, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição
dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da
entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em
período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.

§ 1º Nos casos do item II, os salários-de-contribuição anteriores aos 12


(doze) últimos meses são previamente corrigidos de acordo com índices
estabelecidos pelo MPAS.
[...]
§ 4º O salário-de-benefício não pode ser inferior ao salário-mínimo da
localidade de trabalho do segurado nem superior ao maior valor-teto na
data do início do benefício.
[...]

Art. 23. O valor do benefício de prestação continuada é calculado da forma


seguinte:

I - quando, o salário-de-benefício é igual ou inferior ao menor valor-teto, são


aplicados os coeficientes previstos nesta Consolidação;
II - quando é superior ao menor valor-teto, o salário-de-benefício é
dividido em duas parcelas, a primeira igual ao menor valor-teto e a segunda
correspondente ao que excede o valor da primeira, aplicando-se:

a) à primeira parcela os coeficientes previstos nesta Consolidação;


b) à segunda um coeficiente igual a tantos 1/30 (um trinta avos) quantos
forem os grupos de 12 (doze) contribuições acima do menor valor-teto,
respeitado o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor dessa
parcela;
[...]

Art. 135. Entende-se por salário-de-contribuição:


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I - a remuneração efetivamente recebida a qualquer título, para o empregado,


exceto o doméstico, para o trabalhador avulso e para o trabalhador
temporário, até o limite máximo de 20 (vinte) vezes o maior salário
mínimo do país, ressalvado o disposto no § 1º e no artigo 136;

Art. 211. A contar de 30 de abril de 1975 o salário mínimo está substituído,


como base para fixação de valor monetário, pelo valor-de-referência, variável
para cada região do país.

§ 1º O disposto neste artigo não se aplica aos valores seguintes, que


continuam vinculados ao salário mínimo:

a) benefícios mínimos;
b) cota do salário-família;
c) renda mensal vitalícia-,
d) limites mínimo e máximo do salário-de-contribuição.

Frederico Amado chega à mesma conclusão. Escreve:

Vale registrar que os benefícios concedidos antes do atual ordenamento


constitucional não possuem direito à readequação em comento, tendo em
vista a inexistência de um valor máximo único do salário de benefício
como limitador, que era repartido em menor e maior valor teto, sendo nesta
última hipótese aplicado um redutor no que excedesse ao menor valor teto.
Nesse sentido, decidiu corretamente a Turma Recursal de Santa Catarina, no
julgamento do processo 2006.72.51.001937-4, em 16.11.2011, ao afirmar que
"a tese de aplicação da majoração dos tetos estabelecidos pelas Emendas
Constitucionais 20/98 e 41/2003 não se aplica a DIB’s anteriores a 1988,
pois, estas não estavam submetidas a um único limitador. É que, ainda que
matematicamente se possa fazer a evolução da média dos SCs e assim
enquadrá-la aos novos tetos (cálculo que inclusive solicitei à Contadoria
Judicial na instrução de alguns processos nessa situação), isso burlaria o
sistema vigente na CLPS de cálculo da prestação, que, diferentemente da
LBPS, previa dois limitadores, o menor e o maior valor teto." (AMADO,
Curso de direito e processo previdenciário, 2015, p. 1034)

O acórdão recorrido, ao considerar o teto um elemento externo ao cálculo do benefício


inclusive para os benefícios anteriores à Constituição, contraria as EC 20/1998, art. 14 e EC 41/2003,
art. 5º, que não têm o efeito fazer uma transfusão de elementos de cálculo do regime antigo para o
novo.
A TERCEIRA DISTINÇÃO a ser feita, é que a própria Constituição de 1988 estabeleceu a
forma de recuperação do valor dos benefícios anteriores a 1988 e adotou como parâmetro a renda
inicial (e não o salário-de-benefício, como fez o leading case). Diz o ADCT/1988:
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Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela previdência
social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos,
a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de
salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a
esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios
referidos no artigo seguinte.

Parágrafo único. As prestações mensais dos benefícios atualizadas de acordo


com este artigo serão devidas e pagas a partir do sétimo mês a contar da
promulgação da Constituição.

A expressão “poder aquisitivo que tinham na data de sua concessão” refere-se,


indubitavelmente, à renda efetiva, renda mensal inicial-RMI, e não a elementos anteriores do cálculo,
utilizados para cálculo dessa renda. A doutrina e a jurisprudência da época não deixam dúvida a esse
respeito:

O critério, pois, era simples, consistindo na divisão do valor da renda


mensal inicial pelo valor do salário mínimo vigente na data da concessão do
benefício (considerando, para este efeito, o piso nacional de salários, quando
vigente o dúplice regime salarial, conforme esclarecido no item 2.2.2),
obtendo-se, a partir daí, o número de salários mínimos a que passou a
corresponder à renda mensal dos segurados. (THEISEN, Do reajustamento
do valor dos benefícios previdenciários, in: Direito previdenciário, 1999, p.
161)

[...] CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO


CONCEDIDO SOB A ÉGIDE DA EC-01/69. REAJUSTAMENTO.
APLICAÇÃO RETROATIVA DO ARTIGO 58 DO ADCT-CF/88.
ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. [...] O acórdão recorrido é explícito ao
afirmar que a equivalência dos benefícios previdenciários com o número de
salários-mínimos da renda mensal inicial foi instituída para o futuro, no
artigo 58 do ADCT-CF/88. Consonância dessa decisão com a
jurisprudência da Corte. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE
286825 AgR, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma,
julgado em 28/08/2001, DJ 31-10-2001 PP-00016 EMENT VOL-02050-06
PP-01201)

EMENTA: ARTIGO 58 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES


CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. REVISÃO DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. A recomposição dos valores originais dos benefícios,
com vista ao restabelecimento do respectivo poder aquisitivo, para efeito
da equivalência do art. 58 do ADCT, há de respeitar o valor destes na época
de sua concessão. Recurso não conhecido. (RE 266951, Relator(a): Min.
ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 25/04/2000, DJ 10-08-2000
PP-00015 EMENT VOL-01999-07 PP-01441)
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Qual a relevância desse ponto para a distinção em relação ao RE 564.354 e para o julgamento
deste recurso? Ora, tanto o precedente RE 564.354, quanto o que requer a parte autora, determinam
que seja feita uma evolução do salário-de-benefício até a data das Emendas 20 e 41 e, caso este
esteja limitado pelo redutor anterior, passe a respeitar apenas o novo redutor. Diversamente, em
relação aos benefícios anteriores a 1988, o ADCT/1988, art. 58, determina uma recomposição da
renda em abril/1989 por meio da evolução da renda mensal inicial reajustada pelo salário mínimo
desde a data de início do benefício-DIB até a data da revisão. Para o ADCT/1988, não há excedente
ao teto a ser considerado: a renda mensal inicial é um dado acabado, cabendo a recomposição
integral do seu poder aquisitivo, mas jamais o aproveitamento de valores acima dela, referentes às
etapas do cálculo inicial. Decisão que determina evolução do salário-de-benefício, inclusive no
período de eficácia do art. 58/ADCT, viola frontalmente a regra constitucional transitória ali
estabelecida. E é assim porque, repita-se, o art. 58/ADCT autoriza e determina, exclusivamente, a
recomposição do poder aquisitivo da renda mensal inicial e não do salário-de-benefício.
A fórmula adotada pelo ADCT/1988 é, inclusive, a mais lógica, pois respeita a sistemática dos
cálculos originais da renda, seja ela qual for, e recupera totalmente o poder aquisitivo alcançado
originalmente, segundo as regras da data da concessão.
O que requer a parte autora determinaria, em contrariedade evidente à regra do art. 58 do
ADCT/1988, que seja calculada a equivalência salarial do salário-de-benefício.
É possível, hoje, dar tratamento diferenciado a benefícios, no que se refere ao teto aplicável,
tendo por discrímen exclusivamente a data da sua concessão? Em resposta: não há propriamente uma
diferenciação de teto aplicável. Ambos estão sujeitos atualmente aos mesmos tetos, estabelecidos
pelas Emendas 20 e 41 e seus sucessores. A diferença que há refere-se à própria estrutura do direito
ao benefício: enquanto os benefícios posteriores à Constituição de 1988 mantêm em seu patrimônio
jurídico o valor do salário-de-benefício que tenha excedido ao teto – um elemento externo que
acompanha o benefício enquanto não eliminado por reajustes do teto –, os benefícios anteriores à
Constituição de 1988 são desprovidos desse elemento. E são desprovidos desse elemento pelas razões
expostas nas três distinções acima formuladas, aplicáveis pelo princípio tempus regit actum: (a)
ausência do direito à atualização de todos os salário-contribuição e consequente permissão de uma
renda definitiva limitada ao teto; (b) forma de cálculo diferente, na qual o Maior e o Menor Valor-
Teto eram critério de cálculo da renda e não meros limitadores do salário-de-benefício; (c) por força
do ADCT/1988 eles tiveram uma recuperação extraordinária do poder aquisitivo, consistente no
reajuste da renda mensal inicial pela equivalência salarial, e jamais o do salário-de-benefício. Os
benefícios anteriores à constituição são, portanto, diferentes dos atuais, em razão das regras da época
da concessão e do ADCT/1988. Não há resquícios de seus salário-de-benefício depois de calculada a
renda mensal inicial.
Conforme o voto da eminente Relatora do RE 564.354, “Não estamos mudando o regime
jurídico de aposentadoria nem cogitando disso." (voto da Min. Cármen Lúcia). Ocorre que é
exatamente isso que requer a parte autora quando impõe a transposição dos salários-de-contribuição
da sistemática da CLPS para a sistemática da Lei n. 8.213/1991. O isolamento de um único elemento
do cálculo original (os salários-de-contribuição) e o seu transplante para a sistemática atual, configura
mudança o regime jurídico de aposentadoria, exatamente o que o STF pretendeu evitar.
Ou se respeita a história jurídica de cada benefício, ou viveremos eternamente com
“esqueletos no armário”.
Nesse sentido, os precedentes do TRF-3:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REDISCUSSÃO DA


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CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. READEQUAÇÃO DOS TETOS MÁXIMOS.
EMENDAS CONSTITUCIONAIS NºS 20/98 E 41/03/2003. BENEFÍCIO
CONCEDIDO ANTERIORMENTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
INDEVIDO. 1. São cabíveis embargos de declaração quando o provimento
jurisdicional padece de omissão, contradição ou obscuridade, bem como quando há
erro material a ser sanado. Não servem os embargos de declaração para a
rediscussão da causa. 2. Embora as Emendas Constitucionais nºs 20/98 e 41/03 nada
dispunham sobre o reajuste da renda mensal dos benefícios previdenciários em
manutenção, disciplinados que são pela Lei nº 8.213/91 e alterações posteriores,
verifica-se que a questão restou superada por decisão do Supremo Tribunal Federal,
no sentido de que a aplicação do art. 14 da EC nº 20/98, entendimento extensível
ao art. 5º da EC nº 41/03, não ofende o ato jurídico perfeito, uma vez que não houve
aumento ou reajuste, mas sim readequação dos valores ao novo teto. 3. Os
benefícios concedidos anteriormente a Constituição Federal de 1988 estão
submetido ao regramento do menor e maior valor teto no cálculo do salário-
de-benefício (Decretos nºs 77.077/76 e 88.213/84). 4. Impossibilidade de
aplicação dos efeitos do julgamento do Recurso Extraordinário nº 564.354/SE,
pois a decisão do Supremo Tribunal Federal tem como objeto a aplicação das
ECs nº 20/98 e 41/03, as quais remetem, de forma expressa, e tão somente, aos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social de que trata o art. 201 da
Constituição Federal. 5. Embargos de declaração rejeitados.
(APELREEX 00100179720134036183, DESEMBARGADORA FEDERAL
LUCIA URSAIA, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:23/01/2017
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. ARTIGO 1.013, § 3º, I, DO


CPC/2015. JULGAMENTO DO MÉRITO. PRELIMINARES DE NULIDADE E
CERCEAMENTO DE DEFESA REJEITADAS. REVISÃO. EMENDAS 20/1998
E 41/2003. READEQUAÇÃO DA RENDA MENSAL. 1. Condições de imediato
julgamento. Aplicação da regra do inciso I do § 3º do artigo 1.013 do Código de
Processo Civil/2015. Exame do mérito. 2. O juiz não está obrigado a responder
todas as alegações das partes, quando já tenha encontrado motivos suficientes para
fundamentar a decisão, nem está obrigado a ater-se aos fundamentos indicados por
ela e tampouco a responder um ou todos os seus argumentos. Tendo o julgado
decidido, de forma fundamentada, a controvérsia posta nos autos, descabe falar-se
em ausência de fundamentação. 3. O artigo 131 do CPC/73, atual artigo 371 do
CPC/2015, consagra o princípio da persuasão racional, habilitando o magistrado a
valer-se do seu convencimento, à luz dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos
pertinentes ao tema e legislação que entender aplicável ao caso concreto constantes
dos autos, rejeitando diligências que delongam desnecessariamente o julgamento,
atuando em consonância com o princípio da celeridade processual. Não há que se
falar em nulidade, cerceamento de defesa ou violação do princípio da ampla defesa.
4. O artigo 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e o artigo 5º da Emenda
Constitucional n. 41/2003 têm aplicação imediata inclusive para que seus comandos
alcancem os benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de
previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a
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observar o novo teto constitucional. 5. Os benefícios concedidos antes da
Constituição Federal de 1988 não se enquadram na revisão deferida pela
Suprema Corte, pois se submeteram à observância de outros limitadores, como
o Menor Valor Teto e o Maior Valor Teto. 6. Preliminares rejeitadas. Apelação
parcialmente provida. Demanda julgada improcedente.
(AC 00019366220134036183, JUIZ CONVOCADO RICARDO CHINA, TRF3 -
SÉTIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:16/12/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PREVIDENCIÁRIO. ARTIGO 543-B, §3º, DO CPC de 1973.


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. RE n.º 564.354/SE. - A divergência
a ser dirimida diz respeito ao julgamento do RE n.º 564.354/SE, sob o rito do artigo
543-B do Código de Processo Civil, o qual assentou entendimento de que não
ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do artigo 14 da Emenda
Constitucional n. 20/1998 e do artigo 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos
benefícios limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da
vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto. - As
Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003 apenas definiram novos limites ao
valor-teto dos salários de contribuição, não constituindo índices de reajustes. A
possibilidade de equiparação somente é possível quando houve limitação ao valor
teto na concessão do benefício. - Os benefícios concedidos antes da Constituição
Federal de 1988 não se enquadram na revisão acima, deferida pela Suprema
Corte, pois se submeteram à observância de outros limitadores, como o Menor
Valor Teto e o Maior Valor Teto. Em função disso, tiveram reposição integral
da renda mensal inicial em número de salários mínimos (artigo 58 do ADCT),
procedimento mais vantajoso. - Há que se ressaltar a total impossibilidade de
determinar o recálculo dos reajustes do benefício mediante a utilização de
outros índices e valores, dado que a forma de atualização e a fixação
discricionária dos indexadores não é tarefa que cabe ao Poder Judiciário. -
Mantidos os acórdão pelos mesmos fundamentos.
(AC 00005020420144036183, DESEMBARGADOR FEDERAL FAUSTO DE
SANCTIS, TRF3 - SÉTIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:30/11/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PREVIDENCIÁRIO. PRELIMINARES REJEITADAS. REVISÃO DE


BENEFÍCIO. EMENDAS 20/1998 E 41/2003. READEQUAÇÃO DA RENDA
MENSAL. 1. Por se tratar de matéria exclusivamente de direito, é possível o
julgamento de forma antecipada, nos termos do artigo 330 do CPC/73, vigente à
época da prolatação da sentença, atual artigo 355, inciso I, do Código de Processo
Civil/2015, ainda que o juízo a quo tenha decidido a lide valendo-se da sistemática
prevista no artigo 285-A do CPC/73, vigente à época da prolatação da sentença.
Preliminares de nulidade, em face da inaplicabilidade dos artigos 285-A e 330,
ambos do CPC/73, e de necessidade de citação do INSS rejeitadas. 2. Preliminares
de nulidade por falta de pronunciamento sobre os documentos relativos ao cálculo
da renda mensal inicial e no tocante ao entendimento de que as ECs nºs 20/98 e
41/03 não se aplicam aos benefícios anteriores à CF, que se confundem com o
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mérito rejeitadas. 3. O artigo 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e o artigo 5º
da Emenda Constitucional n. 41/2003 têm aplicação imediata inclusive para que
seus comandos alcancem os benefícios previdenciários limitados a teto do regime
geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que
passem a observar o novo teto constitucional. 4. Os benefícios concedidos antes
da Constituição Federal de 1988 não se enquadram na revisão deferida pela
Suprema Corte, pois se submeteram à observância de outros limitadores, como
o Menor Valor Teto e o Maior Valor Teto. 5. Preliminares rejeitadas. Apelação
da parte autora não provida.
(AC 00129504320134036183, DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO
DOMINGUES, TRF3 - SÉTIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:30/09/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

Ante o exposto, requer sejam julgados improcedentes os pedidos formulados pela parte autora.

REQUERIMENTO

Ante o exposto, requer a V. Exa. que se digne a julgar totalmente improcedente o


pedido da parte autora.

Nestes termos,
pede deferimento.

Richard Diego Marcolini


Procurador Federal

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