Resumo: O artigo descreve os resultados de um projeto de objetivo reduzir as incertezas nas medições utilizando o tubo
controle metrológico que apresentou, em uma primeira fase, de Pitot e tecnologia de ultra-som.
a calibração em campo de 74 medidores de vazão de grandes
A figura 1 mostra os desvios e incertezas encontrados para
dimensões (0,30 até 1,5 m de diâmetro) utilizados para
os medidores por diferença de pressão já avaliados.
totalização e controle do sistema de distribuição de água da
cidade de São Paulo. O projeto tem por objetivo principal introduzir na Compania
Estadual de Saneamento de São Paulo uma nova
Palavras chave: macromedição, gestão, metrologia.
metodologia para estimar o erro e a incerteza de todos seus
grandes medidores (macromedidores), considerando que
existem mais de 200 medidores com diâmetro variando de
1. INTRODUÇÃO 0,3 a 3,7 metros, e produzir uma avaliação da qualidade real
A situação atual da gestão do sistema de distribuição é da medição e recomendações para a melhoria da medição no
crítica com relação a qualidade dos dados disponíveis sobre sistema de distribuição.
estes medidores, seu uso e procedimentos de calibração, O sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo
principalmente devido a impossibilidade de retirada dos
(SAM), serve ao redor de 18 milhões habitantes de milhões,
medidores de suas instalações para calibração em
distribuído na cidade de São Paulo e mais 36 cidades, sendo
laboratório. que para algumas destas cidades há operações de
A determinação do perfil de velocidades utilizando tubo de transferência de custódia, onde 17% da água produzida é
Pitot é o método utilizado na avaliação inicial dos vendida.
medidores. A Compania de Saneamento Básico de São Paulo, SABESP,
Com os resultados obtidos nas medições executadas até o tem 2,3 milhões de conexões físicas, oito sistemas
momento, é possível ter um boa estimativa do nível de produtores e uma vazão média aproximada 68 m³/s e cinco
incerteza e de desvio dos medidores, de tal forma a unidades de negócios que fazem distribuição da água
direcionar o projeto para a segunda fase, que tem por produzida.
30%
D≤ 500 mm < D≤
500 mm< ≤ 900 mm < D≤
900 mm< ≤ 2500 mm
20%
10%
0%
-10%
-20%
-30%
As constantes destes medidores são verificadas em situ, com Outro problema era a metodologia de mapeamento
o medidor sujeito à influência de singularidades e a utilizando tubo de Pitot, utilizada anteriormente ao projeto,
variações de vazão. A verificação é normalmente feita por que não considerava o cálculo de incerteza. Existia uma
comparação entre a vazão indicada pelo medidor avaliado e convicção de que o tubo de Pitot tipo Cole apresentava uma
a vazão calculada por mapeamento do perfil de velocidades incerteza de ± 1%, independente do perfil de velocidades, da
utilizando tubo de Pitot. O tubo de Pitot normalmente incerteza na determinação do diâmetro interno, da
utilizado é do tipo Cole. As figuras 3 e 4 mostram um típico estabilidade da vazão, entre outras fontes de incerteza.
tubo de Pitot Cole e suas tomadas de pressão total e de
esteira.
4. NOVA METODOLOGIA PARA MAPEAMENTO
DO PERFIL DE VELOCIDADES (TRAVERSE)
haste UTILIZANDO TUBO DE PITOT COLE
Em 2001, o Laboratório de Vazão do IPT deu início a um
projeto para avaliar os grandes medidores da Compania de
Saneamento Básico do estado de São Paulo. O primeiro
passo foi uma revisão cuidadosa dos procedimentos de
mapeamento do perfil de velocidades (traverse) utilizando
Pitot Cole para a calibração em situ de medidores de pressão
diferencial, padronizados ou não, e para medidores de vazão
eletromagnéticos com diâmetros superiores a 300 mm.
O traverse utilizando tubo de Pitot Cole é executado em 5
posições ao longo de um plano transversal de raio de tubo R,
Tomadas de
e para cada ponto é determinada a velocidade local V. Ao
pressão
final do traverse é definido o Fator de Velocidade FV, que é
a taxa entre a velocidade média do perfil de velocidades û e
Figure 3. Tubo de Pitot tipo Cole a velocidade local no centro da tubulação Vc, então:
FV = u Vc (1)
Q = FV ⋅ Vc ⋅ A (2)
D
0.2% derivações, etc) que possam perturbar o perfil de
----------------------------
3
0.1% 6 4 x 10 velocidades.
5
7 1.1 x 10
0.0% 8.8 1.1 x 10 6
A figura 5 mostra os passos a serem seguidos nesta
6
-0.1% 10 3.2 x 10
avaliação que deve ser feita previamente ao ensaio.
-0.2%
-0.3% A metodologia apresentada foi desenvolvida basicamente
0 2 4 6 8 10 12 para avaliação de medidores de grandes diâmetros que não
Expoente N podem ser retirados de sua instalação.
b) Portanto deve-se subentender que a metodologia propõem
Figure 4. a) Traverse obtido utilizando manual de uma calibração “informal”, uma vez que em situ várias
pitometria da compania de abastecimento de água e pelo condições necessárias para um bom processo de calibração
não podem ser alcançadas, como o escoamento bem
método “log-linear” proposto pela norma de ISO 3966.
desenvolvido, requisitos mínimos para comprimentos de
b) Desvio no cálculo do Fator de Velocidade. trechos retos, estabilidade da vazão durante os ensaios, etc.
Outra evolução importante da nova metodologia é a
avaliação de incerteza da velocidade calculada usando o
Tabela 1. Analise de incerteza da medição de velocidade utilizando tubo de Pitot “Cole”
Incerteza coeficiente
valor Distribuição de incerteza Contribuição
Mensurando - xi padronizada sensibilidade 2
mensurando probabilidade (ci*u(x i)) (%)
u(x i ) c i
Pressão diferencial (type B) 4178 Normal 12.2461 0.0003 0.00001361 2%
Pressão diferencial (type A) 0 Normal 43.9844 0.0003 0.00017555 29%
densidade 998.202 Rectangular 1.2967 -0.0013 0.00000267 0%
Coeficiente de descarga 0.8700 Normal 0.0051 2.8933 0.00021791 37%
Gradiente de velocidade 0 Normal 0.0038 1.0000 0.00001426 2%
Inclinação do tubo Pitot em
0 Normal 0.0038 1.0000 0.00001426 2%
relação a direção do escoamento
Correção da blocagem 0 Normal 0.0126 1.0000 0.00015841 27%
0.024 m/s
Incerteza padronizada
v= Cd.(2.∆P/ρ) 0.5 0.97%
2.52 m/s 0.05 m/s
Incerteza expandida
1.9%
Inspeção da estação Calibração do tubo de Na figura 6 pode-se observar duas configurações básicas
pitométrica Pitot tipo “Cole”
para o estações de macromedição, onde a estação de
pitometria pode ser localizada a montante ou a jusante da
estação de medição (macromedidor).
Avaliação do elemento Avaliação da Avaliação do elemento A distancia entre as estações pode variar de alguns metros
secundário estação pitometrica secundário
(intalação e faixa de operação) (intalação e faixa de operação) até mais de 1000 metros, e entre as estações podem ser
encontradas várias singularidades como reduções, curvas,
válvulas, etc
Avaliação da .
estação de medição
Distribuição
Estação de
RESERVATÓRIO
medição
Estação
pitométrica
Singularidades
Medidor em teste
Distribuição
Estação de
RESERVATÓRIO
medição
Estação
Singularidades pitométrica
Medidor em teste
0.70
Kverdadeiro
0.69
Kmedio
0.68 0.6750
Kavg ± 3%
)
0,5
0.67
FatorK (m³/(mca)
0.66
0.6570
0.65
0.64 0.6378
0.63
0.62 0.6187
0.61 0.616
0.60
Fev-91 Dez-92 Abr-94 Mar-95 Jun-96 Abr-97 Fev-98 Nov-99 Fev-02
Data de calibração
CHANNEL 02 CHANNEL 03
+ + + +
pressure pressure pressure pressure
transmitter transmitter transmitter transmitter
- - - -
Laptop computer
H H H H
L L L L
Cole type Pitot
Tabela 2. Estações de macromedição internas – UN (45 estações) Tabela 3. Estações de macromedição de transferência de custódia
(29 estações)
ocorrência Quantia %
Variação acima de 3% no fator K 20 44 ocorrência Quantia %
Medidor com trecho reto insuficiente 13 29 Variação acima de 3% no fator K 7 24
Estação pitométrica com trecho reto 9 20 Medidor com trecho reto insuficiente 23 79
insuficiente Estação pitométrica com trecho reto 12 41
Medidor ou transmissor de pressão 7 16 insuficiente
fora de faixa Medidor ou transmissor de pressão 2 7
Volume totalizado subestimado 21 47 fora de faixa
(< -3%) Volume totalizado subestimado 14 48
Volume totalizado superestimado 4 9 (< -3%)
(> +3%) Volume totalizado superestimado 0 -
Escoamento com pulsação 3 7 (> +3%)
Escoamento com pulsação 6 21
A figura 9 apresenta os desvios verificados em todos os
medidores por diferença de pressão avaliados. Na figura 10
pode-se observar os desvios verificados para os medidores
utilizados nas operações de transferência de custódia
30%
≤ 500 mm
D≤ < D≤
500 mm< ≤ 900 mm < D≤
900 mm< ≤ 2500 mm
20%
10%
0%
-10%
-20%
-30%
Figura 9. Resultados dos desvios observados em todos os medidores por diferencial de pressão avaliados
30%
Venturi e tubo de Dall Medidor eletromagnético
20% 300 mm≤≤ D≤≤ 1050 mm ≤ D≤
300 mm≤ ≤ 700 mm
10%
0%
-10%
-20%
-30%
Figura 10.Resultados dos desvios observados nos medidores utilizados para transferência de custódia avaliados
As figuras 11, 12 e 13 apresentam os perfis de velocidade reto suficiente, comprimento de trecho reto desconhecido e
medidos em três condições distintas: comprimento de trecho trecho reto de 9D a montante da estação pitométrica.
1.1
1.0
0.9
0.8
0.7
u/V c
0.2
0.1
0.0
0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00
y/D
1.1
1.0
0.9
0.8
0.7
0.1
0.0
0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00
y/D
1.2
1.1
1.0
0.9
0.8
Figura 13. Perfil de velocidades
0.7 admensional em tubo de 900 mm
u/Vc
0.2
0.1
0.0
0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00
y/D
Estação de medição
de compra
Medidor eletromagnético
Estação Estação de medição de 500mm
Qmáx = 600 l/s
Pitométrica venda
Tubo de Dall
800mm
Faixa de operação:
300 a 900 l/s
Medidor eletromagnético
500mm
Qmáx = 600 l/s
Figura 14.Detalhe da estação pitométrica, estação de medição com tubo Dall 800 mm e dois medidores eletromagnéticos 500 mm
0%
-1%
-2%
-6%
-7%
-8%
-9%
-10%
-11%
-12%
25.Jul 26.Jul 27.Jul 28.Jul 29.Jul 30.Jul 31.Jul 01.Ago 02.Ago 03.Ago 04.Ago
Figura 15.Desvios observados entre os medidores tubo Dall 800 mm e os dois medidores eletromagnéticos 500 mm, pelas duas
metodologias
9. CONCLUSÃO
Após a proposição e aplicação da nova metodologia,
deve-se destacar a importância da calibração dos
macromedidores restantes para então possibilitar a
aplicação de tecnologia de ultra-som, com o objetivo de
reduzir ainda mais os níveis de incerteza existentes.
10. REFERÊNCIAS
• Indicators – Water and Wastewater Utilities, World
Bank , 1996.