Revista de Informações
Bibliográficas em Ciências Sociais, n. 45, p. 71-92, 1998.
O estudo de cultura política surge como uma reposta a duas correntes dominantes do
pensamento social em sua época: o marxismo e a teoria da escolha racional. Ambos
tendem a atribuir a cultura como sendo uma variável secundária no entendimento dos
processos políticos.
Segundo Almond e Verba, o conceito de cultura política pode ser definido como sendo o
conjunto de orientações subjetivas, que podem ser crenças, valores e sentimentos de uma
determinada população.
O objeto de estudo da cultura política foram traçados na obra pioneira The Civic Culture,
que é a cultura e a mudança cultural das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento.
Todas estas críticas se resumem a relação entre estrutura e cultura política. Para Almond
e Verba a cultura política “provê a o ambiente para a mudança ou continuidade de um
regime” (p. 5), logo a estrutura e a cultura política são apenas separadas em nível
analítico, objetivando desta forma verificar a sua congruência. A cultura política é a
ligação entre o âmbito micro e macro do funcionamento dos sistemas políticos. O
fenômeno da cultura é definido pelo comportamento individual tomado de forma
agregada. Mas the civic culture, segundo Street, não consegue descrever de forma clara
esta relação. Por se tratar de um estudo comparativo, discussões acerca da formação,
forma, e disseminação não entraram no escopo de análise de Almond e Verba.
The civic culture revised inclui perspectivas reformistas e de aceitação a algumas críticas
direcionadas ao culturalismo. A principal crítica é feita a partir da relação entre cultura e
estrutura, afirmando que a primeira era apenas reflexo da segunda. A crítica marxista
alega que não há preocupação com questões econômicas no culturalismo,
impossibilitando a real avaliação do interesse dos cidadãos. A resposta dos culturalistas
a estas críticas é que existe uma relação cruzada entre estrutura e cultura política. A
cultura política é causa e efeito da estrutura.
Outra crítica a abordagem culturalista está na incapacidade da mesma de identificar as
variáveis responsáveis pela formação da cultura política. Os adeptos desta corrente teórica
atribuem ao processo de socialização a responsabilidade pela incorporação de valores,
crenças e atitudes. Para Street (1993) esta resposta é insuficiente para equacionar o dilema
entre cultura política e estrutura.
Nos estudos contemporâneos sobre este tema, a definição de cultura política ganha
contornos mais amplos e passa a englobar muitos itens da política, conferindo a esta
variável o molde para a ação política, fazendo dela um componente integral do agir
político, é o meio segundo o qual se criam as preferências. A relação entre cultura política
e estrutura passa a não existir, uma vez que a primeira está inserida na segunda, afirmando
a inexistência de um elo direto entre ambas, uma vez que as avaliações de ordem política
não podem negligenciar a cultura. Desta forma tais estudos buscam explicar o elo de
ligação entre cultura política, estrutura e ação política por meio de estudos que analisam
a formação e sustentação de um cultura política. A ideia central é de que a cultura política
define os interesses políticos estruturais e é definida por estes também.
Estudos sobre a cultura política de países comunistas demonstraram que, a despeito dos
esforços em moldar a cultura, alguns valores ainda persistiram, contestando o papel da
estrutura na definição da cultura. Outra questão são os estudos na Ásia que demonstram
que os países influenciados pelo islã e pelo hinduísmo são mais atrasados
economicamente quando comparados com outras matrizes culturais.
Racionalidade cultural