Observam-se nesses pontos os mesmos itens das reformas no plano internacional, uma vez que
eles cumprem orientações de organismos multilaterais: financiamento, formação de professores, cur-
rículo, avaliação e gestão.
Diferentemente das políticas educacionais anteriores, que faziam reformas em alguns pontos da
educação escolar, o governo Fernando Henrique Cardoso elaborou políticas e programas com articula-
ções entre as alterações que ocorriam em vários âmbitos, graus e níveis de ensino.
Analistas e pesquisadores educacionais chegavam a enfrentar dificuldades para acompanhar to-
das as ações, que aconteciam em ritmo acelerado, ignorando as considerações das entidades organi-
zadas e das pesquisas educacionais realizadas nas universidades.
A ampla e muitas vezes exagerada divulgação de ações gerou a convicção de que a educação es-
tava finalmente mudando. Porém, resultados negativos do Sistema de Avaliação Nacional do Ensino
Fundamental (Saeb) começaram a minar o otimismo criado: a falta de vagas para milhares de crianças
produziu desconfiança quanto ao que fora propagado, e a não melhoria das condições salariais levou
os professores à síndrome da desistência.
Nas eleições presidenciais de 2002, a sociedade brasileira elegeu o presidente Luís Inácio Lula da
Silva, fundador do Partido dos Trabalhadores. Sua proposta era denominada Uma Escola do Tamanho
do Brasil, na perspectiva de que a educação seria tratada como prioridade de governo e como ação
relevante na transformação da realidade econômica e social do povo brasileiro.
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solidariedade entre os entes federativos para garantir a universalização da educação básica, na pers-
pectiva de elevar a média de escolaridade dos brasileiros e resgatar a qualidade do ensino em todos os
níveis.
Para garantir a educação como direito, o projeto de educação do governo Lula obedecia a três
diretrizes gerais:
a) democratização do acesso e garantia de permanência;
b) qualidade social da educação;
c) instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão.
Democratizar não significa apenas construir novas escolas. Apesar de importante, só isso não
garante o atendimento, verdade válida especialmente na zona rural. É preciso ampliar o atendimento
e assegurar a utilização de todas as alternativas para garantir o acesso e a permanência, articulando
até mesmo os serviços de transporte escolar.
Faz-se necessário um sistema nacional articulado de educação, de sorte que Estado e socieda-
de, de forma organizada, autônoma e permanente, pudessem, por meio de uma gestão democrática e
participativa, atingir os objetivos propostos.
Para cumprir os dispositivos da LDB em vigor, que estabelece o regime de colaboração entre as
esferas administrativas, o governo Lula encaminharia proposta de lei complementar para regulamen-
tar a cooperação entre as esferas de administração e instituir as instâncias democráticas de articula-
ção. Dentre outras medidas, como:
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Após o encerramento do primeiro governo Lula (2003-2006), verificou-se que algumas metas de
seu programa foram atingidas, como o Fundeb e a definição do custo-qualidade por aluno, enquanto
outras estavam em via de realização, como o sistema nacional articulado de educação, proposto para
o novo Plano Nacional de Educação, e o Fórum Nacional de Educação1.
Este fórum foi reivindicado pela Conae em 2010, embora já tivesse previsto desde as primeiras
versões da LDB.
1) Educação básica: tendo como objetivo prioritário a melhoria da qualidade da educação bá-
sica pública medida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), enfrentan-
do os problemas de rendimento, frequência e permanência do aluno na escola, a partir da
mobilização social em torno do Programa Compromisso Todos pela Educação. Inclui ações
visando à melhoria da gestão escolar, da qualidade do ensino e do fluxo escolar, valorização
e qualificação de professores e profissionais da educação, inclusão digital e apoio ao aluno e
às escolas.
2) Alfabetização e educação continuada: tendo como objetivo reduzir a taxa de analfabetismo
e o número absoluto de analfabetos, com foco nos jovens e adultos de 15 anos ou mais,
com prioridade para os municípios que apresentam taxa de analfabetismo superior a 35%. O
Programa Brasil Alfabetizado tem por meta atender 1,5 milhão de alfabetizandos por ano,
assegurando a oportunidade de continuidade dos estudos para os jovens e adultos acima de
15 anos de idade egressos das turmas de alfabetização de adultos;
3) Ensino profissional e tecnológico: com o objetivo principal de ampliar a rede de ensino pro-
fissional e tecnológico do país, de modo que todos os municípios tenham, pelo menos, uma
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O MEC instituiu o Fórum Nacional de Educação (FNE) por meio da Portaria nº 1.047/2010.
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Saviani (2009)2 faz uma crítica ao PDE, mostrando inicialmente que as inúmeras ações a ele
agregadas após o seu lançamento não deixavam claros os mecanismos de controle de sua execução, o
que tornaria possível burlar os resultados, impedindo a aferição correta e realista do efetivo resultado
delas. Comparando o PNE 2001 com o PDE, observa que este último reproduz muitas ações do PNE e
não constitui um plano, e sim um conjunto de ações que, embora presentes no PNE, não se articulam
organicamente com ele. Essas inúmeras ações podem levar o MEC a perder o foco do PDE, que é me-
lhorar a qualidade do ensino. Todavia, segundo esse autor, o PDE tem de positivo três programas que
buscam enfrentar o problema qualitativo da educação básica: o Ideb, a Provinha Brasil e o Piso do
Magistério.
Por fim, Saviani (2009) avalia que efetivas mudanças na educação necessitam de ações de im-
pacto. Para isso, propõe dobrar o percentual do PIB para a educação, chegando aos 8%, tais como
fizeram e fazem há vários anos os países que têm sucesso na educação escolar, como os Estados Uni-
dos, o Canadá, a Noruega, a Suécia e a Coreia do Sul.
o
Art. 2 A participação da União no Compromisso será pautada pela realização direta, quando couber, ou, nos
demais casos, pelo incentivo e apoio à implementação, por Municípios, Distrito Federal, Estados e respectivos
sistemas de ensino, das seguintes diretrizes:
2
SAVIANI, Dermeval. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: análise crítica da política do MEC. Campinas:
Autores Associados, 2009.
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II - alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, aferindo os resultados por exame periódico
específico;
III - acompanhar cada aluno da rede individualmente, mediante registro da sua freqüência e do seu desempenho
em avaliações, que devem ser realizadas periodicamente;
IV - combater a repetência, dadas as especificidades de cada rede, pela adoção de práticas como aulas de reforço
no contra-turno, estudos de recuperação e progressão parcial;
V - combater a evasão pelo acompanhamento individual das razões da não-freqüência do educando e sua supe-
ração;
VII - ampliar as possibilidades de permanência do educando sob responsabilidade da escola para além da jornada
regular;
IX - garantir o acesso e permanência das pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes comuns do
ensino regular, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas;
XII - instituir programa próprio ou em regime de colaboração para formação inicial e continuada de profissionais
da educação;
XIII - implantar plano de carreira, cargos e salários para os profissionais da educação, privilegiando o mérito, a
formação e a avaliação do desempenho;
XIV - valorizar o mérito do trabalhador da educação, representado pelo desempenho eficiente no trabalho, dedi-
cação, assiduidade, pontualidade, responsabilidade, realização de projetos e trabalhos especializados, cursos de
atualização e desenvolvimento profissional;
XV - dar consequência ao período probatório, tornando o professor efetivo estável após avaliação, de preferência
externa ao sistema educacional local;
XVI - envolver todos os professores na discussão e elaboração do projeto político pedagógico, respeitadas as
especificidades de cada escola;
XVII - incorporar ao núcleo gestor da escola coordenadores pedagógicos que acompanhem as dificuldades enfren-
tadas pelo professor;
XVIII - fixar regras claras, considerados mérito e desempenho, para nomeação e exoneração de diretor de escola;
XIX - divulgar na escola e na comunidade os dados relativos à área da educação, com ênfase no Índice de Desen-
o
volvimento da Educação Básica - IDEB, referido no art. 3 ;
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XXI - zelar pela transparência da gestão pública na área da educação, garantindo o funcionamento efetivo, autô-
nomo e articulado dos conselhos de controle social;
XXIV - integrar os programas da área da educação com os de outras áreas como saúde, esporte, assistência soci-
al, cultura, dentre outras, com vista ao fortalecimento da identidade do educando com sua escola;
XXV - fomentar e apoiar os conselhos escolares, envolvendo as famílias dos educandos, com as atribuições, den-
tre outras, de zelar pela manutenção da escola e pelo monitoramento das ações e consecução das metas do
compromisso;
XXVI - transformar a escola num espaço comunitário e manter ou recuperar aqueles espaços e equipamentos
públicos da cidade que possam ser utilizados pela comunidade escolar;
XXVII - firmar parcerias externas à comunidade escolar, visando a melhoria da infra-estrutura da escola ou a
promoção de projetos socioculturais e ações educativas;
XXVIII - organizar um comitê local do Compromisso, com representantes das associações de empresários, traba-
lhadores, sociedade civil, Ministério Público, Conselho Tutelar e dirigentes do sistema educacional público, encar-
regado da mobilização da sociedade e do acompanhamento das metas de evolução do IDEB.
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A aprovação do PNE na Câmara dos Deputados só ocorreu, no entanto, em junho de 2014.
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Baixe o outro material dessa aula para ver as 20 metas do novo PNE.
A proposta do percentual dos recursos públicos a serem aplicados na educação estabelece o ín-
dice de 7%, ainda aquém do que a Conae de 2010 estabeleceu, ou seja, 10% do PIB.
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição
Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:
Art. 1º Os incisos I e VII do art. 208 da Constituição Federal, passam a vigorar com as seguintes alterações:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive
sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (NR)
..........................................................................................................
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares
de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde." (NR)
Art. 2º O § 4º do art. 211 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:
..................................................................................................
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão
formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório."(NR)
Art. 3º O § 3º do art. 212 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:
.................................................................................................
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obri-
gatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano
nacional de educação."(NR)
Art. 4º O caput do art. 214 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação, acrescido do
inciso VI:
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"Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o
sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e
modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam
a:
.........................................................................................................
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno
bruto."(NR)
Art. 5º O art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte §
3º:
..................................................................................................
§ 3º Para efeito do cálculo dos recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da
Constituição, o percentual referido nocaput deste artigo será de 12,5 % (doze inteiros e cinco décimos por cento)
no exercício de 2009, 5% (cinco por cento) no exercício de 2010, e nulo no exercício de 2011."(NR)
Art. 6º O disposto no inciso I do art. 208 da Constituição Federal deverá ser implementado progressivamen-
te, até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da União.