PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO
Quarta Turma
EMENTA
HORAS EXTRAS. REVELIA E CONFISSÃO. JORNADA
DECLINADA NA PETIÇÃO INICIAL ABSOLUTAMENTE
INVEROSSÍMIL. INOCORRÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE
VERACIDADE DOS HORÁRIOS INDICADOS PELO AUTOR. Na
peça de exórdio, o demandante afirmou que, durante todo o lapso
contratual - que durou mais de 10 meses, sempre tendo exercido a
função de motorista de transporte de cargas -, trabalhava em torno
de 20 horas por dia, de domingo a domingo, inclusive feriados, sem
a gozo de folga e com apenas 30 minutos de intervalo intrajornada.
Acrescentou que durante 5 dias por semana iniciava a sua jornada
às 3h da manhã, findando à meia noite do dia seguinte, e, nos
outros dois dias, terminando às 22h. É verdade que a reclamada
não atendeu à citação inicial e foi revel e confessa quanto à
matéria fática posta a exame na presente lide. Ocorre que a ficta
confessio decorrente da revelia, não tem o condão, por si só, de
tornar verdadeiras todas as alegações do reclamante, posto que,
opera-se apenas juris tantum, não afetando, em absoluto, a
liberdade que tem o Magistrado na condução do processo, na
valoração dos demais elementos trazidos à baila. Na espécie
vertente, em que pese a revelia ocorrida e a falta de apresentação
dos controles de frequência por parte da ré - o que atrairia, a
princípio, o que consubstancia o inciso I da Súmula 338 do C. TST
-, a jornada expressa pelo reclamante se afigura desprovida de
razoabilidade, absurda e inverossímil, a qual, em razão disto,
dependia de prova firme e robusta, já que não é crível, de uma
análise realista, que, durante todo o seu tempo de serviço, tenha se
submetido a horários tão extensos de labor. Não tendo o
reclamante se desobrigado a contento de tal encargo, tem-se que a
sentença merece reforma, para indeferir todos os pleitos referentes
à jornada de mourejo do autor. Recurso ordinário a que se dá
provimento, quanto ao aspecto.
Vistos etc.
1 de 20 28/12/2017 14:16
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"Vistos etc.
2 de 20 28/12/2017 14:16
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Não houve remessa dos autos à Procuradoria Regional do Trabalho, por força do
disposto no art. 20 da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria Geral da
Justiça do Trabalho c/c art. 50 do Regimento Interno deste Regional.
É o relatório."
VOTO
3 de 20 28/12/2017 14:16
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Nulidade da citação.
4 de 20 28/12/2017 14:16
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Mérito:
Pela narrativa da aludida peça, diz o reclamante que quando efetuava entregas
na Grande Recife, o que acontecia em 02 dias na semana, normalmente iniciava
o labor por volta das 03 horas da madrugada e encerrava por volta das 22 horas;
e nos outros 05 dias da semana, estendia essa jornada até as 24 horas, sempre
com intervalo 30 minutos, sem folgas, inclusive nos feriados.
5 de 20 28/12/2017 14:16
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Nessa senda, para fixar os horários diários de labor do autor, lanço mão dos
estudos publicados pela Organização Mundial de Saúde, segundo os quais um
indivíduo adulto, entre 26 e 64 anos de idade (onde se enquadra o autor, nascido
em 09.03.1983), deve descansar diariamente de 7 a 9 horas. Contudo, em razão
do estilo de vida estressante que as sociedades nos grandes centros urbanos
adotaram nos últimos tempos, reconhece aquele órgão que a imensa maioria da
população não consegue atingir o padrão recomendado, pelo que, a OMS
estabeleceu que, no mínimo, deve-se dormir por 06 horas.
Por outro lado, assevera o reclamante, na inicial, que durante sua jornada
enfrentava filas nos postos fiscais, a exemplo daquele estabelecido na cidade de
Xexéu-PE, donde se deduz que o pagamento regularmente feito sob a rubrica
"horas de espera," constantes dos contracheques anexados, visasse compensar
o tempo gasto nesses eventos. Assim, para se evitar o enriquecimento sem
causa do autor, determina-se sejam deduzidos do cálculo das horas extras os
valores comprovadamente pagos nos contracheques sob a rubrica "hora de
espera".
Analiso.
De outro turno, na petição inicial, o autor afirma que durante todo o lapso
contratual, pouco mais de 10 meses, trabalhava em torno de 20 horas por dia, de
domingo a domingo, inclusive feriados, sem a concessão de folga e com apenas
30 minutos de intervalo intrajornada. Diz que durante 5 dias por semana iniciava
a jornada às 3h da manhã e findava à meia noite do dia seguinte. Nos outros
dois dias, também começava o labor às 3h da madrugada e terminava às 22h.
Ele laborava como motorista de transporte de cargas.
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das regras de experiência comum, nos termos do art. 375 do NCPC (art. 335 do
CPC/73), uma vez que, de fato, a jornada delineada na inicial não é plausível. III.
Aplicável à hipótese também a norma do art. 345, IV, do NCPC, no sentido de
que a revelia não produz seus efeitos quando "as alegações de fato formuladas
pelo autor forem inverossímeis". IV. Agravo de instrumento de que se conhece e
a que se nega provimento.(AIRR-755-22.2014.5.03.0035, Relatora
Desembargadora Convocada Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Publicação:
DEJT 24/03/2017.)
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Acrescento que o art. 345, IV, do CPC/15, dispõe que a revelia não implica
presunção de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor quando
estas forem inverossímeis.
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Logo, ainda que revel e confessa quanto à matéria fática a reclamada, não há
presunção de veracidade da absurda e inverossímil jornada descrita na peça
exordial, a qual deve restar cabalmente comprovada, o que não é o caso dos
autos.
'A postulação sob epígrafe está fundada na alegação de que o autor estava
submetido a jornadas extenuantes, o que agravava seu estado de saúde e a
qualidade de vida, bem como o convívio familiar.
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Por outro lado, tem-se que, relativamente à limitação do tempo de trabalho, até o
início da Revolução Industrial, inexistia regulamentação acerca da duração da
jornada de trabalho, época em que o poder econômico dos patrões submetia os
trabalhadores (com contingentes significativos de mulheres e menores) a
jornadas exaustivas, que refletia na sua saúde física e mental.
Segundo Sérgio Pinto Martins (Comentários à CLT, 2010, p. 505) "na maioria dos
países da Europa, por volta de meados de 1800, a jornada de trabalho era de 12
a 16 horas, principalmente entre mulheres e menores." Acrescenta o mesmo
autor que "nos Estados Unidos, no mesmo período, a jornada de trabalho estava
balizada entre 11 e 13 horas". Prossegue, aduzindo que "houve movimentos
reivindicatórios visando à diminuição da jornada de trabalho, principalmente da
instituição da jornada de oito horas".
'A história registra um ato normativo isolado, conhecido como Lei das Índias
(1593), que vigorou na Espanha, dispondo que a jornada não poderia ultrapassar
oito horas diárias. Na Inglaterra, a primeira lei limitou a jornada em 10 horas
(1847) e na França estabeleceu-se o mesmo limite em 1848, para os que
trabalhavam em Paris. Nos EUA, já em 1868 fixava-se em oito horas a jornada
para os empregados federais. Na América Latina, o Chile foi o primeiro a
estabelecer esse limite para os trabalhadores estatais (em 1908), seguido de
Cuba em 1909, para os mesmos empregados e do Uruguai em 1915.'
Salienta, ainda, Sérgio Pinto Martins (Comentários à CLT, 2010, p. 505) "o Papa
Leão XIII, na Encíclica Rerum Novarum, de 1891, já se preocupava com a
limitação da jornada de trabalho, de modo que o trabalho não fosse prolongado
por tempo superior ao que as forças do homem permitissem".
Com efeito, após a publicação da obra papal, muitos países editaram regras
limitando o trabalho diário em 08 horas.
11 de 20 28/12/2017 14:16
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Vale registrar que, nada obstante o longo período de evolução para que a
jornada de trabalho ganhasse os atuais contornos legais, não foi suficiente para
apascentar a classe operária, dadas as constantes interferências, no campo
sócio-político, de categorias profissionais organizadas objetivando a redução da
carga horária.
Como visto, a legislação vigente fixa, como regra geral, o labor diário em 08
horas, sendo certo que, excepcionalmente, há autorização de extensão de tal
quantitativo em 02 horas, o que significa que o trabalho realizado em jornada de
cerca de 15 horas diárias deve corresponder a uma situação singular, eventual.
Ou seja, como regra geral, as normas que disciplinam a duração do trabalho
diário vedam a habitualidade do trabalho extraordinário, salvo motivos de força
maior ou de realização de serviços para cuja execução e conclusão exijam
esforços, sob pena de manifesto prejuízo (art. 61 da CLT); até porque, como a
própria terminologia da palavra indica, o extraordinário é o que não é ordinário,
fora do comum, anormal, imprevisto.
12 de 20 28/12/2017 14:16
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"Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo".
13 de 20 28/12/2017 14:16
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14 de 20 28/12/2017 14:16
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As CCT's adunadas aos autos sob os Ids. 04e9fc4 e bdb2ffb trazem previsão
específica quanto aos valores devidos a título de reembolso de despesas com
alimentação e pernoite. Por outro lado, os contracheques de Ids. 30279a3,
493c579 e a2691fa demonstram que os valores efetivamente pagos eram
inferiores àqueles previstos nas normas coletivas.
16 de 20 28/12/2017 14:16
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Pontua o reclamante que não recebia reembolso dos valores gastos com o jantar
e nem lhe era paga a quantia correta relativa ao almoço. Aduz que os valores
envolvendo a alimentação estão disciplinados na Convenção Coletiva (cláusula
10ª), inclusive em relação às entregas realizadas em localidades distantes a
100km da sede da reclamada, neste município, o que, segundo a peça atrial,
acontecia por 05 dias na semana.
Nego provimento.
No que tange ao aviso prévio e multa do art. 477 da CLT, a reclamada afirma que
"o reclamante fora pré-avisado da sua dispensa, tendo optado pela redução da
jornada dos últimos 7 dias de labor", não tendo sido orientado a aguardar em
casa o depósito das verbas rescisórias. Diz que ele recebeu integralmente o
salário do mês de janeiro de 2016 e o saldo de salário de 5 dias do mês de
fevereiro. Nesse contexto, tendo em conta que o pagamento das verbas
rescisórias foi realizado no dia 04/02/2016, dentro do prazo legal, não há falar
em pagamento da multa do art. 477 da CLT. Caso não acolhida sua tese, pede
que "ao menos seja compensado o salário do mês de janeiro, como abatimento
do valor da condenação no aviso prévio, sob pena do recorrido estar se
locupletando ilicitamente, já que, para o Juízo de piso, não houve labor neste
mês".
Analiso.
Em face da revelia e confissão em que incorreu a ré, tem-se por verídica a tese
da inicial de que o reclamante foi, de fato, pré-avisado e afastado da empresa
em 06.01.2016.
17 de 20 28/12/2017 14:16
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No caso, o autor junta aos autos eletrônicos a cópia da CTPS, que nas
anotações gerais mostra que o último dia efetivamente trabalhado foi o dia
05/02/2016 (Id. 329acce, pág. 3). No TRCT de Id. d6e315d também consta como
data de afastamento o dia 05/02/2017, dando a entender que o aviso prévio foi
trabalhado. Ainda, foi anexado pelo reclamante o documento de Id. 528c805,
relativo ao "aviso prévio do empregador para dispensa do empregado", donde se
observa que o aviso prévio de 30 dias seria trabalhado, podendo o trabalhador
optar pela redução da carga horária em duas horas diárias ou redução de 7 dias
corridos. O mencionado documento encontra-se assinado pelo reclamante e por
um representante da empresa, com data de 06 de janeiro de 2016.
A luz de tais premissas, considero que o aviso prévio de 30 dias concedido pela
empregadora foi efetivamente trabalhado, de modo que o acerto rescisório
depositado na conta bancária do reclamante em 04/02/2016 (Id. 3c12134)
encontra-se dentro do prazo de que trata o § 6º do art. 477 da CLT, a tornar
indevida a multa prevista no seu § 8º.
Compensação.
A reclamada, por não comparecer à audiência inicial, foi considerada como revel.
Assim, considerando que em tal momento seria apresentada a contestação e
que conforme a Súmula 48 do C. TST "A compensação só poderá ser argüida
com a contestação", não há que se falar em compensação a ser deferida no
atual estágio processual.
Nego provimento.
Prequestionamento
Por fim, registro que a fundamentação acima não viola quaisquer dispositivos
legais, inclusive aqueles mencionados nos recursos, sendo desnecessária a
menção expressa a cada um deles, a teor do disposto na Orientação
Jurisprudencial nº. 118 da SBDI-1 do C. TST.
CONCLUSÃO
18 de 20 28/12/2017 14:16
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
19 de 20 28/12/2017 14:16
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