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07/11/2017 As nossas distopias tipo exportação - VICE

FRESH MADE BR

As nossas
distopias tipo
exportação
Leo Martins
Out 25 2017, 11:52am

Como a ficção científica brasileira está chamando a


atenção do mundo.
https://www.vice.com/pt_br/article/ne3bp8/distopias-brasil-apex 1/5
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ESTE CONTEÚDO É UMA COCRIAÇÃO DE BE BRASIL E VICE


ESTÚDIO CRIATIVO.

Que nos últimos anos o mundo parece viver uma obra de ficção científica
distópica dessas bem assustadoras, ninguém pode negar. No Brasil, não é
diferente. Por aqui os elementos distópicos estão por todos os cantos e,
quase sempre, dão a sensação de que o melhor e o pior do país é o
brasileiro. Parecia natural, então, que as produções de ficção científica
nacionais, antes escondidas nos submundos do audiovisual, chamassem
atenção de grandes empresas, de distribuidoras e, claro, dos cinéfilos do
mundo todo.

O exemplo mais marcante é o caso de "3%", a série produzida pela


Netflix: o que surgiu como um projeto de alunos de faculdade em 2011
com um vídeo no YouTube se transformou em uma produção com atores
globais e muito barulho. O mais curioso, no entanto, foi os diferentes tipos
de recepção. Enquanto no Brasil o público e a crítica não se empolgaram
muito, nos Estados Unidos surgiram diversos textos tratando a série como
um respiro de ar fresco no meio de produções tão parecidas.

Beth Elderkin, jornalista do site de ficção científica io9, escreveu que a


série não tem premissa das mais inovadoras, mas traz elementos
interessantes como ser uma "ficção científica de uma perspectiva não-
americana". Esse sentimento, reforçado pelo público americano em
resenhas online, surge principalmente pela saturação de histórias
repetitivas em filmes de ficção científica produzidas em Hollywood –
ninguém aguenta mais as mesmas franquias, os reboots e as mesmas
temáticas, certo?

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O criador da série Pedro Aguilera, à época do lançamento de "3%" no


Netflix, falou sobre a importância do elemento brasileiro. ""A série é uma
distopia que já te joga para outro tempo, e os temas são universais. Já nos
particulares, queríamos que a série tivesse cara e características bem
brasileiras", diz. "É o clichê do: fale sobre sua aldeia e falará para o
mundo."

Essa saturação hollywoodiana e o interesse em algo mais local também dá


o tom de um dos filmes de ficção científica de maior destaque do Brasil, o
"Branco Sai, Preto Fica", de 2014, do diretor Adirley Queirós. Usando um
acontecimento histórico – a invasão, nos anos 80, da polícia militar ao
Quarentão, um conhecido baile black em Ceilândia, próximo à Brasília – o
filme usa o recurso de viagem no tempo para misturar a história real com
uma distopia assustadora. "Funciona um pouco como a ideia do realismo
fantástico: algumas coisas não tem como ser ditas sem ser dessa maneira
espetacular", contou Adirley em entrevista. Com linguagem original, o
longa-metragem conquistou a crítica. Além das resenhas positivas, recebeu
mais de uma dezena de indicações para prêmios em todo mundo e ganhou
o Festival de Cartagena, na Colômbia, e o Festival de Mar del Plata, no
Uruguai.

O crítico Alfredo Suppia, professor de cinema da Universidade Estadual


de Campinas (Unicamp), em artigo publicado sobre o filme de Adirley, dá
pistas sobre os motivos desse sucesso recente: o "cyberpunk de Terceiro
Mundo", que usa uma estética mais decadente e traz uma nova visão em
que, para as populações periféricas, "não resta alternativa senão o uso do
lixo como tecnologia, num contexto marcadamente pós-colonial (de
contexto ibero-americano)". Para ele, "Branco Sai, Preto Fica" abre o

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caminho e deixou sua marca por seu discurso (o uso político da ficção
científica) e estilo.

A produção desses filmes depende, é claro, de investimentos. Apesar de


não produzirmos obras de ficção científica que abusam dos efeitos
especiais – e nossa habilidade em improvisar sempre é importantíssima
nesses momentos – toda boa ideia precisa de dinheiro para andar. O piloto
de "3%", por exemplo, só foi produzido por causa do edital FICTV/Mais
Cultura, voltado para produção de séries de ficção, mas que só teve uma
edição – a série não ganhou o edital inteiro, mas pôde produzir o piloto da
série. Já "Branco Sai, Preto Fica" foi produzido graças a um edital focado
em documentários.

Embora tenha havido cortes nos investimentos em cultura por causa da


crise, o Brasil continua a aplicar bom dinheiro no audiovisual – são R$
942,6 milhões para 1310 propostasdesde 2009 – e possui uma grande
variedade de financiamento. Há projetos como o Núcleo Experimental de
Cinema, do Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. A edição mais
recente do núcleo é focada em ficção científica e, no ano passado,
produziu o filme de terror "O Experimento". Dezessete pessoas foram
escolhidas este ano para participar da produção de um curta-metragem de
ficção científica.

São programas de incentivo como esse que permitem diretores, roteiristas


e produtores brasileiros veicularem suas obras ao grande público dentro e
fora do país. Não à toa, muitos deles preferem expor alguns dos lados mais
críticos do Brasil – aqueles nos fazem parecer um enredo de ficção
científica. É como se dissessem: a coisa não vai tão bem quanto
gostaríamos, mas estamos aqui. Produzindo.
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