Por que dissertar?
Ao se comunicar com alguém, por escrito, você poderá ter diferentes intenções. Se
você pretende formar na mente de seu leitor a imagem de um objeto, de um lugar ou
de uma pessoa, com suas características de forma, cor, luz, som etc. estará fazendo
uma descrição. Se você tiver a intenção de contar um ou mais acontecimentos reais
ou imaginários, envolvendo pessoas, fatos, lugares e um tempo determinado, estará
criando uma narração. Mas, se você quiser expor idéias a respeito de um assunto,
analisandoas e descutindoas, você estará redigindo uma dissertação. Ela tem como
finalidade examinar criticamente um assunto, propondo e defendendo um ponto de
vista. Essa defesa deverá fazerse através de argumentação convincente. É o tipo de
redação que mais se cobra dos estudantes principalmente nos vestibulares.
Dificuldades da dissertação: Exigese de uma dissertação que, além da correção
gramatical, ela tenha outras qualidades, como originalidade, clareza, unidade e
coerência. Para haver originalidade é necessário evitarse a frase feita, o lugar
comum, o clichê, as idéias vulgares. Quanto à clareza, é inimiga das frases ambíguas
ou de duplo, sentido, dos períodos longos, dos detalhes desnecessários. Por fim, a
unidade e a coerência dependem da ordem adequada em que se colocam as idéias,
e da relação harmoniosa entre a idéia predominante e as secundárias. Devemse
evitar as digressões, os desvios do assunto.
APRENDENDO A TER OPINIÃO
Um assunto que tem sido alvo de muitas discussões entre educadores e mesmo entre
parlamentares é o ensino religioso nas escolas públicas. Esse tipo de ensino já foi
obrigatório e passou a ser facultativo de acordo com a nova Constituição:
Artigo 210
1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas publicas de ensino fundamental.
Discussão oral
a) Você acha que a formação religiosa é importante para a sua cultura geral?
b) Deve haver nas escolas imposição de uma religião predominante no país, no caso
do Brasil o catolicismo?
c) Na sua opinião, o povo brasileiro é, de um modo geral, bastante religioso?
d) Quais são as religiões que você conhece?
e) As religiões têm desenvolvido no homem uma preocupação com o bemestar social
ou individual? Justifique.
f) O que você entende pela afirmação “A religião é o ópio do povo?”.” Você concorda?
g) Você já ouviu falar em sincretismo religioso? O que vem a ser isso?
h) Você concorda com obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas publicas? Por
quê?
Opinando
Depois de ter discutido amplamente o assunto, redija um ou dois parágrafos
posicionandose diante da obrigatoriedade ou não do ensino religioso.
Para isso, leia os parágrafos que trazem a opinião de outras pessoas:
“As religiões são importantes como cultura geral. Através delas podemos
entender as diferenças entre os povos. De certa maneira, o catolicismo explica o
Brasil; o budismo explica a china; o candomblé a África. Com esse enfoque, poderia
até ser matéria obrigatória“.
(Carla Camuratti, atriz)
“Não concordo, por que sempre é discriminatório. Tenho certeza de que quando
se fala em aula de religião pensase no catolicismo, mas na escola publica existem
crianças de todas as formações religiosas. A formação religiosa deve ser dada no lar”
(Roger, líder do Ultraje a Rigor)
“Deveria ser uma disciplina histórica, não para manipular, fazer cabeças e
colocar valores com dois pesos: certo/errado; pecado/nãopecado. As religiões têm uma
fundamentação social e isso deve ser ensinado aos jovens, começando no segundo
grau, quando há mais capacidade de discernimento e possibilidade de desenvolver
espírito crítico“.
(Beth Goulart, atriz)
“É perda de tempo. A escola publica deve ensinar como sobreviver no Brasil.
Isso, sim, é necessário. Não que eu seja ateu, mas considero uma perda de tempo
incluir aulas de religião em qualquer escola”
(Agildo Ribeiro, humorista)
“Sou a favor, desde que não se imponha uma religião. É importante dar a
entender às crianças que existem várias religiões, e passar informações sobre todas
elas, falando das respectivas históricas e culturas. Acho que se deve instigar a visão
critica do aluno. A fé cada um deve escolher por si“.
(Giulia Gam, atriz)
(Todas essas opiniões foram extraídas da revista nova Escola nº 22)
O PARÁGRAFO DISSERTATIVO
Qual é a idéia central desse parágrafo?
A partir dessa idéia central, são apresentadas outras idéias que se relacionam
a ela, a fim de reforçála, explicála, defendêla, enfim, delimitala melhor. Essas
outras idéias constituem o desenvolvimento do parágrafo.
Observe os argumentos empregados nele:
1º A sociedade desenhada nas novelas é um convite à transgressão.
2º A exaltação do sucesso sem balizas éticas, a trivilização da violência e a
apresentação de aberrações num clima de normalidade têm transformado
adolescentes em aspirantes à contravenção.
Em seguida, o parágrafo é concluído com a seguinte idéia:
A televisão precisa receber um choque de responsabilidade ética
Como vimos, o parágrafo dissertativo é desenvolvido a partir de uma idéia
central (normalmente correspondendo à sua introdução), apresentando também um
desenvolvimento dessa idéia e uma conclusão referente a ela.
Exercícios
1 Desenvolva os parágrafos de acordo com o tópico frasal:
a) A adolescência é difícil para pais e filhos...
b) A televisão transforma, desfaz e cria hábito...
A) A televisão, embora jovem, é um aparelho que atende a necessidades humanas
muito antigas, que em outras épocas foram, bem ou mal, atendidas por outros meios.
Há 100 anos, os trabalhadores e as trabalhadoras satisfaziam suas fantasias com
romances populares, vendido aos milhões para a população de baixa renda. Esses
livretos apaixonavam as pessoas, faziamnas sonhar, fabricavam, enfim, sensações de
ansiedade e prazer.
(Ciro Marcondes Filho. Televisão: a vida pelo vídeo. São Paulo, Moderna, 1988.)
B) A importância que os meios de comunicação de massa adquirem na educação e
formação de opinião pública é cada dia maior. O legislador preocupado com essa
influência na formação das crianças recomenda que as emissoras de rádio e televisão
somente exibam ao público infantojuvenil programas com finalidades educativas,
artísticas, culturais e informativas (art.76 do Estatuto da Criança e do Adolescente).
Não tem sido esse, contudo, o conteúdo dos programas de televisão, sobretudo as
novelas e seriados, que têm abusado de temas que desconsideram tais recomendações.
(Siro Darlam de Oliveira. “Você acha que as novelas prejudicam a formação das
crianças?” In: Isto é, 04/06/1997)
3 O seguinte parágrafo foi propositalmente desordenado. Reescrevao, ordenandoo
de acordo com a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Na verdade, para algumas pessoas, stress simplesmente não existe, talvez porque a
percepção dessas pessoas para os acontecimentos cotidianos seja diferente da de
outras pessoas. Imagine uma situação em que você está preso num engarrafamento:
para algumas pessoas isso é motivo para começar a se irritar, buzinar, gritar, enfim, se
descontrolar totalmente. Já para outras pessoas, essa situação é facilmente
contornada, por exemplo lendo alguma coisa, ouvindo música, cantando, até mesmo
fazendo a barba!
Não importa o que você está fazendo, o que importa é que aquela situação vai passar
tranqüilamente e seu corpo vai agradecer por não colocálo em stress.
Muito se fala em stress hoje em dia. E não é para menos. Com tantas atividades e
responsabilidades nos cercando todos os dias, fica difícil não se sentir estressada.
A DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO E DO TEMA
A unidade, uma condição indispensável à redação, pode ser obtida expondose
uma idéia principal, que é, a predominante do texto, que no caso é o assunto.
Ora suponha que você seja solicitado a escrever sobre um assunto como a
violência. Por ser tão atual, serão muitas e variadas as idéias que vão surgir na sua
cabeça, e você poderá ter dificuldades em organizar a sua dissertação, principalmente
se o tempo for controlado. Sua redação provavelmente acabará contendo apenas
idéias gerais sobre o assunto, porque ele é muito amplo. Como fazer então?
É preciso delimitar o assunto, isto é, restringilo, escolhendo um só aspecto
para ser analisado. Ao delimitar o assunto, você estará escolhendo o tema da sua
redação.
Observe:
Assunto: Tema:
A violência no trânsito
A criança vítima da violência
Violência A crescente violência urbana
A violência contra o índio brasileiro
A violência gerada pelo tráfico de
drogas
Etc.
Exercícios
1 Ao sugerir três temas para um mesmo assunto, como Esporte, poderíamos pensar
em 1º o futebol brasileiro; 2º o esporte na formação da personalidade; 3º o esporte
como lazer. Faça o mesmo com os seguintes assuntos:
Ecologia
Preconceito
Televisão
2 O futebol brasileiro é uma delimitação possível para Esporte. Mas, se você pensar
na situação atual desse esporte, ou na relação do povo com ele, outros temas poderão
surgir. Tente encontrar pelo menos dois.
3 a)Leia os textos abaixo e delimite o assunto comum entre eles.
b)Estabeleça o tema de cada um dos três textos.
Texto I Educação e cidadania
“Conhecer é poder”, disse o filósofo Hobbes. E, de fato, só o homem dotado de
conhecimento e de consciência é que desenvolve as seguintes capacidades: não aceita
um mundo pronto para uso e consumo e está sempre em defesa de um eficiente
processo educacional.
O indivíduo que conhece, que questiona, não aceita um mundo de “segunda
mão”. Não aceita o mundo já pensado e definido por outros. Não aceita fórmulas
prontas e explicações dadas por certas ideologias sociais dominantes. Se o brasileiro
dominasse mais o conhecimento, por exemplo, não aceitaria as disparidades sociais, a
proliferação dos miseráveis, o aumento da violência e da corrupção, a aglomeração de
crianças nas ruas, a falência do sistema de saúde e, principalmente do ensino público.
Assim, não aceitar é pensar a própria realidade. E poder pensar é sentirse mais
cidadão.
Uma sociedade que desenvolve a capacidade de pensar e de escolher o próprio
mundo é porque tem como prioridade a educação dos seus cidadãos. Poder escolher é
um exercício que se faz diariamente nos bancos das escolas. Exercício em que a
principal regra é lutar contra a ignorância daqueles que nos querem manter passivos e
acuados na nossa própria angústia existencial.
Só o investimento na educação é que tira as pessoas da ignorância e fornecelhes
o conhecimento e o direito de escolher a própria realidade e atuar sobre ela. O país
que tem como prioridade a educação do seu povo favorece o crescimento existencial do
próprio homem e a formação de uma verdadeira cidadania. Célia
Regina Cavícchia Vasconcelos
Texto II – Por que somos ignorantes
Não existem meninos de rua – o que existe de fato são meninos fora da escola.
E é justamente a partir daí que se deve entender não apenas o massacre do Rio, o
marco na história da violência no Brasil, mas um de nossos principais gargalos ao
desenvolvimento: educação.
Por que não se investiu em educação básica? Há várias explicações. E nenhuma
delas é dinheiro – já que sobravam recursos para usina nucleares, pontes, estradas,
etc. Uma delas, porém, é medo. Educação significa cidadania. E cidadania,
reivindicação. Melhor, portanto, deixar o populacho na ignorância.
A ignorância não é privilégio da “esquerda” ou da “direita”. Quantos líderes
sindicais acompanham os debates e as decisões sobre ensino, freqüentando as
comissões no Congresso ou o Ministério da Educação? Detalhe: os filhos de
trabalhadores estudam (quando o fazem) em escola pública. Melhorala é, portanto,
melhorar o nível de vida. Na sua alienação, preferem lutar basicamente por aumento
salarial, algo logo comido pela inflação.
Peguemse os dirigentes da todapoderosa Fiesp. Eles são capazes de dizer qual
a taxa de inflação há dois anos. Mas se perguntarmos sobre qual a percentagem de
crianças que deixam a escola antes de concluir o primeiro grau, vão se sentir tão à
vontade como se dissertassem sobre a vida sexual dos macacos no Punjab, na Índia.
Só alguns empresários sabem a verdadeira relação entre ensino básico e o
desenvolvimento econômico. E que trabalhador sem escola significa menos lucro. Mas
daí à ação vai uma longuíssima distância. Alguém consegue imaginar um presidente
da Fiesp pressionando o secretário da Educação ou ministro sobre como usar melhor as
verbas? Ou fazendo propostas concretas sobre como poderia haver um entrosamento
entre os setores público e privado para melhorar o ensino?
Vai demorar algum tempo, mas dirigentes empresariais e sindicais vão acabar
se convencendo. Até porque não tem jeito: fora da escola não há solução. Há
assassinatos. Gilberto Dimenstein – Folha de São Paulo
Texto III – Vai demorar
Todos sabemos que a parte mais importante de um prédio não são as paredes.
Tampouco é a cobertura.
A essência de uma obra é a fundação, um maciço de alvenaria que se enterra no
solo. Se ela é mal feita, todo o resto será inconfiável.
A construção de um país sólido também depende de um bom alicerce. Assim
como no prédio, a base de uma nação não está à vista de todos. Encontrase enterrada
na cabeça de seus habitantes. Refirome à educação.
Precisa ser consistente, sólida. Do contrário, a grande nação não passará de
uma utopia. Ou voltando à nossa metáfora, não será um prédio de paredes rachadas e
sob risco de desmoronamento.
No Brasil, desde os jesuítas da era colonial, a educação jamais foi uma
prioridade real. Nossa história, aliás, é marcada por uma espécie de culto à ignorância.
O acesso às letras costuma iluminar mentes. E uma sociedade vazada de luz
perde a aparência bovina. Pensa, questiona, reivindica.
Daí a preferência pela manutenção do modelo das trevas. Ora por descaso, ora
para obter mão de obra barata, ora para manter invisíveis os desvios do regime, ora
para pôr antolhos no eleitorado.
Professor, Fernando Henrique disse outro dia que 1996 será o ano da educação.
Bom, muito bom, ótimo. Nunca é tarde para começar. Mas é bom que se diga: vai
demorar até que tenhamos níveis aceitáveis de educação.
Mencionese, por eloqüente, o exemplo do Japão. Os japoneses lançaram as
bases de seu desenvolvimento há 136 anos (1860), com a revolução educacional Meiji.
Eliminaramse, já naquela ocasião, os maiores focos de analfabetismo.
Nosso atraso impõe uma dificuldade adicional. Para recuperar o terreno,
precisamos reforçar o alicerce sem pôr a casa abaixo. É como calçar sapatos sem
desgrudar do chão a planta dos pés.
Se Fernando Henrique cumprir a palavra, talvez comecemos a notar alguma
diferença dentro de 20, talvez, 30 anos. E o Brasil de nossos tataranetos pode ter uma
edificação segura. Se o presidente ficar na retórica...
Josias de Souza – Folha de São Paulo
4 Escolha um dos quatros temas abaixo e escreva uma dissertação entre 25 e 35
linhas. Você podese apoiar nas idéias dos textos lidos.
Obs.: Lembrese de que o texto deverá ter um parágrafo para introdução, dois ou três,
para desenvolvimento e 1 para conclusão.
a) Para ser cidadão é necessário ter educação.
b) A necessidade do investimento no processo educacional no
Brasil.
c) A educação é o prefácio da vida (Guizot).
d) Educação e cidadania
A ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO
O texto dissertativo caracterizase por apresentar a exposição de uma idéia, um
conceito ou um ponto de vista sobre um determinado assunto. Além disso, é
desenvolvido a partir de uma idéia central, sendo baseado em argumentos lógicos.
Para fundamentar a idéia central, o autor pode utilizar em sua argumentação recursos
diversos, como exemplos, comparações, dados estatísticos. Na conclusão desse tipo de
texto, são sintetizadas as idéias desenvolvidas nos parágrafos anteriores e confirmada
a idéia central.
A argumentação é um recurso bastante empregado em textos dissertativos,
como um elemento fundamental em sua elaboração. Esse tipo de texto é organizado em
três momentos principais:
● introdução – na introdução é apresentada a idéia central do texto. A partir dessa
idéia principal, as outras idéias e os demais parágrafos são desenvolvidos, com o
objetivo de fundamentála, explicála ou provala. A introdução deve apresentar de
maneira clara o assunto a ser tratado, sendo geralmente feita em apenas um
parágrafo.
●desenvolvimento – o desenvolvimento contém os argumentos que fundamentam e
comprovam a idéia central. Ele deve ser bem organizado e coerente com a idéia
exposta na introdução, seguindo uma linha de raciocínio. Nessa parte do texto, o autor
estará construindo a sua defesa, o seu ponto de vista sobre o problema em questão.
Normalmente, cada argumento é desenvolvido em um parágrafo e pode ser apoiado
com exemplos, citações, dados estatísticos, comparações e outras informações.
●conclusão – a conclusão é a parte final do texto, a síntese do que foi dito na
introdução e no desenvolvimento. Ela reforça o ponto de vista do autor sobre o
assunto, podendo trazer propostas de ação, apresentar uma solução para o problema
em questão, confirmar a idéia central, etc. Essa parte do texto deve ser,
preferencialmente, constituída de um parágrafo.
Leia a seguir um texto dissertativo que trata de uma questão relacionada ao tema
tabagismo. Ele foi produzido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ao lado dele,
apresentamos algumas explicações de como o texto foi estruturado. Verifique,
portanto, a importância dos argumentos em sua elaboração.
Uma sociedade sem fumo
Pelo potencial nocivo que encerra, por sua 1º parágrafo
Introdução
http://www.cardiol.br/fumo.htm, 17/06/1999
Proposta para a escrita de uma dissertação:
Como já foi dito o texto dissertativo além de servir para demonstrar o nosso
ponto de vista sobre determinado assunto, serve também para expormos um problema,
mostrando os fatores que desencadeiam esse problema, quais são as conseqüências
decorrentes dele e de que maneira é possível resolvelo.
Sendo assim, para melhor escrevermos é necessário que tenhamos idéia das
causas e conseqüências de alguns problemas de nossa sociedade. Falaremos a seguir
de um grave problema social: o desemprego.
Para isso observemos o quadro abaixo:
Causas Conseqüências
▪Crescimento populacional maior que o ▪ Lesão dos direitos humanos (direito à
crescimento econômico alimentação, moradia, lazer, saúde, etc)
▪ Crise econômica interna não atrai os ▪ Queda da qualidade de vida da
investidores de capital estrangeiro população
▪ Máquinas substituem a mãodeobra ▪ Aumento de subempregos
humana com o progresso industrial ▪ Aumento da pobreza da população
▪ Má distribuição dos recursos ▪ Crescimento da criminalidade e da
econômicos violência
▪ Exploração ineficiente dos recursos ▪ Famílias desestruturadas
naturais do país ▪ Aumento de doenças como infarto,
▪ Ausência de alternativas de trabalho estresse e depressão
▪ Crise econômica mundial ▪ Jovens deixam o estudo para procurar
▪ Falta de atualização, informação e trabalho e assim ajudar na renda familiar.
formação dos oferecedores de mãode
obra
Possíveis soluções para o desemprego:
O governo precisa lanças um plano econômico que viabilize a criação de empregos
É preciso que haja um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis do país como
o turismo, a agricultura, a piscicultura
A criação de cooperativas de trabalho pode ser uma boa alternativa para contornar a
crise
Com todas essas idéias levantadas o próximo passo é elaborar a idéia
central, que deve se basear no seu tema. Segue abaixo uma sugestão que poderá ser
trabalhada por você.
Assunto: Desemprego
Tema: As causas e as conseqüências do desemprego
Título: _________________________________________
Idéia central: (grifada abaixo)
Oservação:
1 – Seu texto deverá ter entre 20 e 30 linhas.
2 – Evite usar expressões do tipo “eu acho”, “eu penso”, etc.
3 Procures distribuir de maneira adequada o seu texto na folha de papel, deixando
espaço para parágrafo e ocupando toda a linha.
4 – Preste atenção à estrutura de seu texto, para que ele tenha início, meio e fim.
O OBJETIVO DO TEXTO
Para conseguir a unidade do texto, você já sabe que deve em primeiro lugar
delimitar o assunto, escolhendo um tema ou idéia dominante e, em seguida, colocar
um problema.
Agora você verá como explicitando o objetivo do texto ficará mais fácil
desenvolver e concluir a dissertação.
O objetivo é a posição que você assumirá diante do problema levantado. É o
ponto a que você quer chegar. Para conseguilo, você selecionará idéias que irá
defender, bem como organizará dados que valerão como provas do que quer
demonstrar.
Observe:
“Nada mais compreensível e elogiável do que o governador, com o intuito de
preservar a autoridade de seu governo, recorrer à ação enérgica da polícia, quando a
ordem pública se vê ameaçada. Nada, porém, mais lamentável do que transformar,
graças à truculência, e ao despreparo policial, uma manifestação pacífica em
espetáculo de agressões e violências gratuitas“.
(...)
“Conflitos entre policiais e manifestantes são rotineiras mesmo em sociedades
democráticas desenvolvidas. Há, contudo, que se exigir da polícia, no Brasil, um
mínimo de discernimento, para que não transforme qualquer missão em batalha
campal“.
Nos trechos acima, correspondentes á introdução e à conclusão de um texto
podemos encontrar expresso o objetivo desse texto: “mostrar que a polícia no Brasil
tem que ser mais criteriosa quanto ao uso da violência“.
Exercício
1 Proponha um objetivo para os temas abaixo:
a) A leitura entre os jovens.
b) Os conflitos pela posse de terra no Brasil.
c) A necessidade de educação sexual na escola.
2 Estabeleça um objetivo para o seguinte tema “As graves conseqüências da gravidez
na adolescência” e em seguida leia os trechos abaixo para escrever sua dissertação. Ela
deverá ter entre 25 e 35 linhas e você deverá observar a estética do seu texto na folha.
1 –“ Antes de ficar grávida, pensava em estudar. Não quer dizer que eu parei de
pensar assim. (...) Mas tem que pensar de uma forma diferente, agora tem que pensar
mais nele (filho), pensar no que vai ser para ele, pensar menos em mim.”
2 – “No ano passado foram realizados 689 mil partos de adolescentes no Brasil, o
equivalente a 30% do total. O número é um golpe contra as várias iniciativas voltadas
para a prevenção da gravidez na adolescência.”
3 “Cerca de 20% das crianças que nascem a cada ano no Brasil são filhas de
adolescentes. Comparado à década de 70, três vezes mais garotas com menos de 15
anos engravidam hoje em dia. A maioria não tem condições financeiras nem
emocionais para assumir essa maternidade. Acontece em todas as classes sociais mas
a incidência é maior e mais grave em populações mais carentes. O rigor religioso e os
tabus morais internos à família, a ausência de alternativas de lazer e de orientação
sexual específica contribuem para aumentar o problema. Por causa da repressão
familiar, algumas adolescentes grávidas fogem de casa. Quase todas abandonam os
estudos. Com isso, interrompem seu processo de socialização e abrem mão de sua
cidadania. Psicólogos, assistentes sociais, médicos e pedagogos concordam que a
liberalização da sexualidade, a desinformação sobre o tema, a desagregação familiar, a
urbanização acelerada, as precariedades das condições de vida e a influência dos meios
de comunicação são os maiores responsáveis pelo aumento do número de adolescentes
grávidas. “
3 “Os números são assustadores: por ano, são mais de 600.000 (seiscentos mil!!)
partos de adolescentes no Brasil; por ano, são feitos algo em torno de 500.000
(quinhentos mil!!) abortamentos no Brasil, todos clandestinos e ilegais, uma vez que
nossa legislação os proíbe. Com isso, podemos estimar que 1.100.000 (um milhão e cem
mil!!) adolescentes engravidam por ano no Brasil. Pensando relativamente, a
expectativa é de que uma em cada 17 adolescentes engravide nos próximos meses. Não
é de espantar? Como se isso fosse pouco, veja os dados da OMS:"O Brasil, segundo a
Organização Mundial de Saúde, é o país onde mais se pratica aborto (10% dos abortos
mundiais), sendo que para cada criança que nasce, duas são abortadas. São 13.090
abortos por dia, 570 por hora, 0,5 por minuto. Como conseqüência do aborto praticado
por parteiras e curiosas, ou por médicos em lugares sem a mínima condição de higiene,
são muitos os casos em que a mulher sofre seqüelas graves."
4 – “A mulher adolescente, ao se descobrir grávida, se vê diante de três caminhos: o
abortamento, o casamento forçado ou ser mãe solteira. Dá para imaginar como deve
ser ruim estar diante dessa dúvida?
Mas, se é assim tão ruim, por que será que tantas mulheres jovens passam por esse
problema a cada ano no Brasil? Os estudiosos têm diversas respostas para esta
pergunta, das quais quero destacar duas, que me parecem as mais importantes.
Uma das causas de termos tantas gestações inoportunas em nosso meio é a falta de
um trabalho regular de orientação sexual nas escolas. O que se percebe é que, de uma
maneira geral, os jovens e as jovens têm uma informação razoável sobre os métodos
contraceptivos (métodos para evitar gravidez), pois a mídia tem divulgado bastante
esses métodos. Mas apenas a informação não basta, estão aí os números que já citei
para provar. Falta um trabalho que propicie aos jovens um conhecimento mais
abrangente de tais métodos de contracepção e que também lhes propicie transformar
essas informações que têm em conhecimento. A diferença entre informação e
conhecimento é a seguinte: o conhecimento é a informação da qual me aproprio, que
torno minha. Por exemplo, uma coisa é eu saber que alguém pode engravidar (isso é
informação), outra coisa é eu saber que eu (ou minha namorada) posso engravidar
(isso é conhecimento). Deu para entender? Digo de outra forma: os casais
adolescentes que engravidam até sabem que transar pode gerar gravidez, mas não
acreditam que isso possa acontecer com eles.Aí, dançam. Outra das causas da
gravidez inoportuna é a falta de diálogo em casa. De uma forma geral, casais
adolescentes que engravidam vêm de famílias onde a sexualidade é tabu, assunto no
qual não se toca, um grave erro de grande parte das famílias brasileiras. Por não
terem com quem dialogar sobre a própria sexualidade, os jovens acabam por fazer uso
inadequado da sexualidade recémdescoberta. Precisamos incentivar os pais a
conversarem mais sobre esse tema!
5 Dados sobre a Gravidez na Adolescência:
18% das adolescentes de 15 a 19 anos já haviam ficado grávidas alguma
vez.
Uma em três mulheres de 19 anos já são mães ou estão grávidas do 1º
filho.
Uma em dez mulheres de 15 a 19 anos já tinham 2 filhos.
49,1% destes filhos foram indesejados.
54% das adolescentes sem escolaridade já haviam ficado grávidas.
7 Eu, Grávida? Era uma vez um bebê que nasceu todo sorridente, manhoso,
faminto... A família estava em êxtase, era a garotinha mais linda que já tinham visto!
Encheramna de mimos, procuraram sempre o melhor para ela, embora muitas vezes
ela não concordasse que isso fosse realmente o melhor! Tinham sonhos para essa
garotinha, viamna cheia de glórias, famosa, bem sucedida, de dar orgulho para a
família e inveja para os vizinhos. A garotinha cresceu, foi à escola e conheceu outras
garotinhas e garotinhos. Aprendeu muitas coisas, umas boas, outras ruins. Entrou
naquela fase em que as garotinhas se tornam mulheres, mas então algo inesperado (ou
esperado) acontece, muda a sua vida e a faz balançar sobre os eixos. Para a família foi
um choque, algo que nunca foi planejado e muito menos sonhado. Mas que agora faz
parte da sua realidade. A garotinha está confusa, cheia de amor, ódio, alegria, tristeza,
sonhos e pesadelos, está perdida em seus próprios pensamentos e ações. O que me
levou até aqui? Será que eu quis isso? Foi força do destino ou um descuido meu? O que
é que eu faço agora?
Estabeleça um objetivo para o seguinte tema “As graves conseqüências da gravidez na
adolescência” e em seguida leia os trechos abaixo para escrever sua dissertação. Ela
deverá ter entre 25 e 35 linhas e você deverá observar a estética do seu texto na folha.
Outras propostas
A corrupção na política brasileira
“A qualidade dos homens públicos é tão ruim, e eles se encontram tão distanciados de
suas responsabilidades, que, em benefício do particular, eles respondem com anistias
e legalizações das práticas condenadas. O Congresso vai dessa forma se tornando de
fácil acesso a quadrilhas de toda natureza, que lá chegando providenciarão a
legalização ostensiva ou a impunidade dissimulada de seus negócios“.
Antonio B. Santos, Painel do leitor, Folha de S. Paulo, 12/9/95
“(...) Talvez a figura do intelectual da classe média crie identificações que não existem
quando o caso é ali na esquina, com o sujeito que apanha da polícia, é enfiado num
camburão, não sabe o que é advogado, não tem direito a falar ou calar e não faz a
menor idéia do que seja ter um milhão e setecentos mil dólares num banco fora do
país. [quantia relativa a uma suposta conta bancária do expresidente do Banco
Central, Francisco Lopes]”.
Marcos Augusto Gonçalves, Folha de S. Paulo, 2/5/99
O Estado de S. Paulo, 27/6/93
“(...) O canalha sai na Caras. O honesto ninguém vê. O canalha alegra nossa vida com
a exibição de suas riquezas: o paletó de comodoro com o escudinho, as amantes de
Chanel, a Mercedes com cascatinha e jacaré... Já o honesto não é respeitado nem
dentro da própria casa; é visto com rancor pela própria mulher, invejosa das peruas
ricas dos corruptos: Você não é honesto, não; você é bobo! Nós vamos acabar na rua da
amargura... esganiçase a mulher. Diante do canalha, perdemos o ar, olhando seu
descaro luminoso, sua “revolução” ética: Meu Deus, em que desvão morais este homem
andou, em que maravilhosos mundos do mal...”. E o canalha percebe nosso
encantamento e faz perfil de medalha.”
Arnaldo Jabor, Folha de S. Paulo, 27/4/99
“Claro que não é possível ter uma administração absolutamente sem corrupção, mas é
possível diminuir essa corrupção. (...) O partido não fiscaliza seus membros. Ao
contrário, boa parte desses partidos, no momento em que um dos seus membros é
ameaçado por uma punição, corre em socorro, num espírito de corporação
inadmissível.”
Samir Achôa, exdeputado federal, Folha de S. Paulo, 21/4/99
“(...) E ai o FHC disse que nomeou o Chico Lopes porque ”quem não tem cão caça com
gato”. E aí uma agência de publicidade na Gabriel Monteiro da Silva estendeu a faixa:
Quem não tem cão caça com gato. Mas não precisa ser gatuno, né, presidente?”
José Simão, Folha de S. Paulo, 3/5/99
Naief Saad Neto, delegado, Folha d e S. Paulo, 21/4/99
“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito
nossa.”
Jô Soares
“(...) Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eriteu a conquistar a
índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os
pescadores, repreendeuo muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que
não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu porque roubo em
uma barca sou ladrão, e vós porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é.
O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os
piratas, o roubar com muito os Alexandres.”
Padre Antônio Vieira, Sermão de Bom Ladrão
“A corrupção é um fenômeno sociológico, não é só uma questão de comportamento e
hábito. O mal corrupção é o poder, o poder é que induz à corrupção, principalmente o
poder político. Quanto mais a pessoa for encantada e obcecada pelo poder, maior essa
tentação de corrupção.”
Miguel Colasuonno, vereador, Folha de S. Paulo, 21/4/99
“Não é possível ter uma administração pública sem corrupção, mas é possível uma
administração pública com menos corrupção. Nosso drama no Brasil é que,
infelizmente, o mundo político ainda é um mundo de negócios, vaise para a política
pra ficar rico.”
Francisco Whitaker, exvereador, Folha de S.Paulo, 21/4/99
Tema da Dissertação: Corrupção no Brasil
01. Leia os textos de apoio e procure fazer uma associação entre eles, isto é: tentar
retirar de cada fragmento a idéia central que está sendo desenvolvida em torno do
tema.
02. Tente também traçar algumas abordagens em seu texto, divididas, devidamente,
em parágrafos.
03. Entre as idéias com as quais trabalhavam os textos de apoio podemos citar:
O modo como a sociedade se posiciona ou “reage” diante da corrupção
O ingresso na vida política como um meio de enriquecer (O que faz com que
fiquemos incrédulos em relação aos homens públicos)
A corrupção estendida não só ao cenário político, envolvendo, portanto, o
“cidadão normal”
A questão da impunidade, principalmente se considerarmos pessoas que estão
ligadas ao poder
A corrupção como um “fenômeno” social
A corrupção relacionada ao comportamento individual, atingindo valores como
ética e moral
Obs: Evite o tom agressivo ou radical do tema, bem como a citação de nomes
específicos.
OITO MEDIDAS PARA DIMINUIR A CORRUPÇÃO JÁ
Chega de abafa
Tales Alvarenga
Lula não tem outra escolha. Ou limpa a imagem de seu governo com o auxílio
de quantas CPIs forem necessárias, ou pode desistir de chegar ao fim do mandato
como um presidente íntegro. O essencial, do ponto de vista ético, é ser honesto e não
apenas parecer honesto. Do ponto de vista político, no entanto, parecer honesto é
suficiente. O governo petista pode ser honesto, mas não parece.
A continuar o jogo de acobertamento, no qual o governo tenta esconder a lama
com guardanapos de papel, podese prever que reapareçam as multidões de “caras
pintadas” exigindo a apuração das denúncias que o governo insiste em abafar. Se o
Planalto e o Congresso querem evitar essa desmoralização, que tratem de fazer a
faxina por conta própria. Ainda há tempo e a oportunidade é boa, não apenas para
devolver credibilidade ao governo Lula como também para reformar e reforçar as
instituições do Executivo e do Congresso.
O governo petista perdeu o prumo moral pela primeira vez quando o assessor
palaciano Waldomiro Diniz, braçodireito do ministro José Dirceu, foi flagrado
pedindo propina a um explorador do jogo. Esse caso foi abafado. Vieram as recentes
denúncias sobre corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil.
Diante do risco de uma CPI, o governo começou a liberar verbas para deputados, em
troca do abafamento número 2. Finalmente, explodiu a acusação feita pelo deputado
Roberto Jefferson, do PTB, à Folha de S. Paulo e, agora, é inimaginável promover o
abafa número 3.
Segundo Jefferson, desta vez estaria envolvido o tesoureiro do PT, Delúbio
Soares, braçodireito de toda a cúpula do governo. Delúbio arrecada e paga. Segundo
Jefferson, ele estava dando 30 000 reais a cada deputado que aceitasse votar a favor
dos projetos do governo.
Entre os políticos, a ética é um instrumento maleável. Tomar dinheiro de
empresários e banqueiros antes de eleição é um ato tido como moralmente aceitável,
embora seja de fato um primeiro passo para a corrupção. O PT e o governo Lula
estão fazendo muito mais do que isso. Então dando uma mesada aos deputados para
monitorar seus votos. Essa denúncia não está apenas na entrevista do deputado
Roberto Jefferson. Foi feita diretamente a Lula pelo governador Marconi Perillo, de
Goiás, é reforçada por depoimento do deputado petista Miro Teixeira e pelo prefeito
do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Está escorada ainda numa reportagem do Jornal do
Brasil de setembro de 2004. A matéria do jornal foi abafada no Congresso.
Não há provas de que a história da propina de Delúbio seja verdadeira. As
denúncias e os indícios são, porém, avassaladores. Lula estava informando. Ministros
do governo também. A coisa era abertamente comentada em Brasília. Metido na
roubalheira nos Correios, o deputado Roberto Jefferson deixou claro que se fosse para
o banco da CPI levaria junto para o cadafalso o ministro José Dirceu e os
“operadores” do PT Delúbio Soares e Silvio Pereira. Mas claro, impossível. Jefferson
pode estar mentido. Mas, a esta altura, é melhor apurar do que abafar mais uma vez.
O Brasil se cansou de tanto abafa.
Revista Veja 15/06/05
A PROBLEMÁTICA DA VIOLÊNCIA
1 A questão da violência e as violações dos direitos humanos no Brasil,
especialmente as que atingem a vida e a integridade física dos indivíduos, têm sido
amplamente divulgadas na sociedade em geral, aparecendo com bastante ênfase nos
meios de comunicação de massa e, segundo as pesquisas de opinião pública,
constituemse em uma das maiores preocupações da população nas grandes cidades.
O interesse dos meios de comunicação por esta temática encontra sua maior
justificativa em dados estatísticos bastante alarmantes. Nos últimos 15 anos, os
homicídios triplicaram no Brasil e matamse 50% mais jovens em São Paulo do que em
Nova York, sendo esta uma das cidades mais violentas entre as cidades de países
desenvolvidos. O assassinato tem sido a principal causa de morte de adolescentes do
sexo masculino em São Paulo em cada 100 mil adolescentes paulistanos, 88 foram
assassinados no ano passado ( Folha de São Paulo, 11/11/96).
Somandose a esses dados, entre 1979 e 1978, ocorreram 272 casos de
linchamento no Brasil, sendo que 181 aconteceram no Estado de São Paulo. É esse
Estado que também apresenta a maior taxa de mortalidade entre policiais e civis e a
prática da tortura é sistematicamente empregada em interrogatórios nos distritos
policiais (Sérgio Adorno, 1994).
Conforme coloca Maria Victória Benevides (1996), esta realidade serve para
desmascarar a imagem tradicional de que o brasileiro é "um povo sentimental, ordeiro
e pacífico". Hoje, a violência, estampada nos grandes centros do país, comprova que a
sociedade brasileira é extremamente violenta, e esta se apresenta sob diferentes
formas de manifestações. Por isto, para Vera Telles (1996), é mais fácil se falar de
violências no plural, ou seja, a violência urbana, a policial, a familiar e a escolar.
Estas, no entanto, não são características apenas da sociedade brasileira.
Outras sociedades da América Latina e da América Central também vivem
experiências de elevadas taxas de violações dos direitos humanos, entre estas, a
violação do direito à vida é muito freqüente, como é o caso do Peru, Colômbia, Bolívia,
El Salvador e Guatemala (Sérgio Adorno, 1994).
Segundo Nancy Cardia (1995), apesar das violações dos direitos humanos
constantes no Brasil e estarem amplamente divulgadas, não têm conseguido tornarse
um tema de debate social mais amplo, com maior clamor público. Os protestos e as
manifestações têm sido muito localizadas e pontuais, a exemplo dos assassinatos mais
recentes de jovens de classe média em bares e restaurantes de São Paulo, o que
mobilizou parte da população desta cidade no movimento intitulado: "Reage São
Paulo".
Neste quadro merece destacar que boa parte da população brasileira que sofreu
alguma forma de agressão, parece desconhecer as formas, os mecanismos de reparação
ou desacreditar nas instituições públicas. A maioria da população não procura a
justiça para reclamar a violação dos seus direitos. Pesquisa recente, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, mostra que metade da
população pesquisada que declarou terse envolvido em algum conflito, afirmou não ter
ido à justiça e, mais de 50% dentre essas pessoas afirmaram fazer justiça "por conta
própria", o que de certa forma, reforça a necessidade dessas pessoas resolverem seus
problemas de modo individual e privado.
Esta forma de a população tentar resolver ou reparar violações, não contribui
para o avanço da democracia, uma vez que não são priorizados os mecanismos de
atendimentos públicos, mas aqueles que atendem parte da população.
Na opinião de Tereza Caldeira (1996), a privatização da segurança não é uma
alternativa à segurança pública deficiente e, conseqüentemente, não é remédio para a
violência. Ela pode oferecer aos que pagam a ilusão de proteção. Mas, "num país com o
grau extremo de desigualdade social como o Brasil, a difusão da segurança privada
tende a ser mais um sistema perverso de aprofundamento dessa desigualdade. A
criminalidade violenta distribuíse iniquamente: os moradores dos bairros pobres são
sabidamente as maiores vítimas da violência das grandes cidades brasileiras,
enquanto os mais ricos são os que vivem nos locais mais seguros".
E esta mesma autora chama a atenção para o fato de que o abandono do espaço
público e a proliferação de espaços fortificados privados para uso coletivo também não
resolvem a questão da violência, como é o exemplo dos condomínios fechados que
desenvolvem práticas sistemáticas de revistas nos empregados, nas portarias dos
prédios. Estas são medidas muito mais de controle e de exclusão social do que de
segurança ao conjunto daquela população.
Na verdade, ao adrentrarmos na questão da violência, percebemos como coloca
Maria Victória Benevides, que "inexiste vontade política" para enfrentar os diferentes
tipos de violência, bem como "inexiste uma tomada de consciência da sociedade de que
ela é responsável, ou seja, de que o problema da violência tem raízes econômicas,
sociais e culturais; que diz respeito aos governos e aos políticos, mas também às
famílias, às escolas, às igrejas, às empresas, aos sindicatos e associações de
profissionais, aos meios de comunicação, à sociedade civil" (1996, p.76).
Esta posição vem ao encontro dos estudos realizados por Rodrigues Guerreiro
(Colômbia) e João Yunes destacados em artigo de Gilberto Dimenstein (1996).A
violência, para esses autores, é hoje uma questão mundial, pois afeta as grandes
metrópoles, inclusive as dos países de Primeiro Mundo. É considerada "um problema
de utilidade pública e usar apenas a repressão simplesmente não funciona. O germe da
violência se propaga em proporções semelhantes às das doenças infecciosas". E o mais
grave é que esta problemática não pode ser combatida com vacinas para que se possa
obter resultados mais rápidos como nos casos dessas doenças.Estes pesquisadores, ao
investigarem as causas da violência, evidenciaram que são vários os fatores que a
determinam: desemprego, renda, escolaridade, religião, cor e desestrutura familiar,
entre outros.
Esta multiplicidade de fatores torna a problemática da violência muito mais
difícil de ser combatida, uma vez que, pela sua complexidade, requer definição e
implementação de políticas públicas sociais nas áreas básicas, destinadas ao
atendimento de todos os cidadãos. Mas, no Brasil, o que se tem assistido, além da
ausência de políticas nesta direção, é a vivência de práticas sistemáticas de violência e
de violação de direitos praticadas pelo próprio Estado, quando, por exemplo, este não
garante aos cidadãos os direitos que lhes são assegurados, constitucionalmente, há
várias décadas, como é o caso do direito à educação, entre outros.
2 Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)
(O Rappa) mas também trazem a dúvida
a minha alma está armada se não é você que está nessa prisão
e apontada para a cara me abrace e me dê um beijo
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo) faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
às vezes eu falo com a vida na poltrona no dia de domingo
às vezes é ela quem diz procurando novas drogas
qual a paz que eu não quero de aluguel nesse vídeo
conservar coagido pela paz
para tentar ser feliz que eu não quero
as grades do condomínio seguir admitindo
são para trazer proteção