Anda di halaman 1dari 3

“Em geral, não há nenhuma dúvida de que, na sociedade moderna, o sentido do

desenvolvimento, entendido amplamente, é dado pela indústria. (...) ou seja, a indústria


revolucionaria o sistema produtivo social em seu conjunto, mas, nas condições em que se
produz a marcha do capitalismo dependente nesses países latino-americanos, suas
possibilidades e limites devem ser bem precisados.

Em primeiro lugar, a fraca – mas também bastante significativa – industrialização que se


iniciou na Argentina, no México, no Brasil, no Chile e no Uruguai a partir do final do século XIX
se realiza dentro do contexto de um sistema capitalista mundial, no qual esses países têm a
função produtiva já definida como exportadores de produtos primários e, em cada um deles, o
setor econômico fundamental é o setor exportador. Neste setor e naqueles que lhe são
complementares se encontram as classes oligárquicas dominantes, compostas pelos
latifundiários, proprietários das minas, comerciantes e financistas, que controlam e manipulam
o poder econômico e político da sociedade em função de seus interesses e através do aparelho
estatal.

É no seio desse sistema de dominação oligárquico – como parte do contexto do capitalismo


mundial – que surgirá e se desenvolverá uma burguesia vinculada à indústria.

O processo de formação desta nova classe – que é também o processo de formação do


proletariado industrial – é o resultado de todo esse complexo processo de desenvolvimento
que descrevemos. E é também, ao mesmo tempo e dialeticamente, seu elemento ativo e
criador. Isto é, mesmo que a história seja feita pela ação movida pelos interesses de classe, a
formação de uma nova classe é fundamentalmente um produto de condições concretas
estruturalmente condicionadas.

(...)

A indústria surge impulsionada originalmente pelas próprias leis de movimento que regem o
desenvolvimento do setor exportador, mas logo gesta sua própria dinâmica e se torna
independente deste setor. No entanto, sua independência é relativa, pois, embora a indústria
tenda, no final das contas, a subordinar o setor exportador, necessita dele como condição de
sobrevivência e expansão. Seus limites estão dados, portanto, pela dependência em relação ao
funcionamento do setor exportador, que é, em última instância, a dependência em relação ao
funcionamento do sistema capitalista mundial em seu conjunto.

E, embora o desenvolvimento da indústria nos países periféricos questione e abra caminhos


para a superação da divisão internacional do trabalho, a indústria necessita do setor
exportador como condição para a realização de seu próprio processo.

(...)

É por isso que na América Latina nunca ocorreu uma revolução burguesa no sentido clássico,
como a Revolução Francesa. Porque em tais processos, embora os germens do capitalismo
provenham da sociedade feudal, seu desenvolvimento pleno implicava a liquidação completa,
através de um processo revolucionário, do modo de produção sobrevivente – baseado nas
relações servis, que obstaculizava o desenvolvimento capitalista.

Na América Latina, pelo menos desde que se consolidou a Conquista e os espanhóis


destruíram os impérios Inca e Asteca, o curso do desenvolvimento do capitalismo não implicou
a liquidação radical dos modos de produção que o precederam, mas sim sua superação
descontínua e lenta, desde formas mais primitivas, até formas mais elaboradas. É assim que o
curso do desenvolvimento do capitalismo na América Latina passa de uma formação
socioeconômica dependente colonial-exportadora para uma formação socioeconômica
dependente capitalista-exportadora, até finalmente chegar a uma formação socioeconômica
dependente capitalista-industrial. Mas são todas sequências e formas de superação de um
mesmo processo que corresponde à evolução do capitalismo mundial e que redefine
constantemente as formas adotadas pelo capitalismo dependente.

(...)

O desenvolvimento do capitalismo industrial dependente não implicou, portanto, o


desenvolvimento de um processo revolucionário, no sentido da tomada do poder por novas
classes e da transformação radical das relações de produção nas quais se assentavam as velhas
classes, como o fez a burguesia européia. Essa diferença se explica, conforme descrevemos,
porque as relações de produção tipicamente capitalistas se desenvolvem no continente
inicialmente no setor exportador (...) e é ainda sob sua dependência que se geram as
condições, não apenas para o surgimento, mas também para a evolução do capitalismo
industrial. E, durante um longo período, até que a dinâmica inexorável da indústria se
afirmasse definitivamente sobre o conjunto da sociedade, o que definiu o caráter dessas
sociedades na América Latina foi a coexistência de vários modos de produção.

Esta coexistência se explica pela íntima interdependência existente entre o setor exportador e
o setor industrial, cujos marcos gerais estão dados pelo sistema capitalista mundial em seu
conjunto. Tal interdependência se reflete de forma muito nítida na medida em que os capitais
gerados no setor exportador são transferidos ao setor industrial (direta ou indiretamente,
como, por exemplo, através do sistema bancário ou mediante subsídios estatais) e possibilitam
sua expansão. Neste sentido, os interesses oligárquicos e industriais, mesmo mantendo suas
especificidades, se mesclam e se complementam, tendo como resultado, no plano econômico
e político-social, uma série de conflitos que não ocultam seus antagonismos, mas que os
limitam a uma situação de compromisso, que constitui a base sobre a qual se assenta o
sistema oligárquico-burguês nesses países. A burguesia industrial latino-americana já nasce
limitada e comprometida com as classes dominantes oligárquicas, não apenas porque o
desenvolvimento da indústria ocorre no seio do sistema oligárquico – por oligarquia
entendemos todos os setores das classes dominantes vinculados direta ou indiretamente ao
setor primário-exportador, além dos latifundiários que produzem para o mercado interno ou
que detenham a propriedade da terra sem torná-la majoritariamente produtiva -, mas também
porque, em grande medida, o surgimento dos empresários industriais é produto da simbiose
de setores da oligarquia (latifundiária, mineradora ou comercial exportadora) com setores
industriais. E são diversos os casos na América Latina em que, embora seja possível fazer a
diferenciação econômico-social entre setores produtivos, não se pode aplicar essa
diferenciação para seus agentes (indivíduos), que muitas vezes são os mesmos. Claro está que
a origem dos empresários nem sempre se restringiu àqueles saídos dos setores oligárquicos.
Eles também têm origem nos imigrantes, como europeus ou árabes, que em muitos casos
chegaram ao continente com uma quantidade suficiente de capitais para começar a instalar
alguma indústria; provêm igualmente da expansão de setores artesanais, que evoluíram para
formas superiores de produção, almejando atender a crescente demanda. De todo modo, a
determinação de sua origem específica e preponderante não é a questão fundamental: o mais
relevante é a compreensão do contexto nos quais eles surgem e se desenvolvem, os limites e
contradições que engendram, e as possibilidades estruturais para sua superação.

(...) Embora não se possa dizer que todo esse processo [crise do estado oligárquico] tenha sido
uma revolução burguesa no sentido tradicional do termo, certamente expressou um momento
histórico latino-americano, no qual a burguesia industrial, impulsionada pelo vigor que lhe
outorga o fato de controlar uma forma mais avançada de organização social da produção,
reivindicou o controle hegemônico do poder, oferecendo um projeto próprio de
desenvolvimento econômico-social. Neste sentido, e somente neste sentido, é possível
caracterizar esse processo como uma ‘revolução burguesa’, nas condições típicas do
desenvolvimento do capitalismo dependente.”

BAMBIRRA, Vânia. O capitalismo dependente latino-americano. Florianópolis: Insular, 2012, p.


75-81.

Anda mungkin juga menyukai