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compreendidos da seguinte forma: na segunda metade do século XVIII, o Ciclo do Ouro propiciou
a construção do Real Forte do Príncipe da Beira. Ao raiar do século XIX, teve início o Ciclo da
Borracha, que propiciou a primeira fase da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré,
concluída no começo do século XX.
Nesse mesmo período, ocorreram as penetrações da Comissão Rondon e a implantação das
Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, setor Cuiabá/Santo Antônio do Rio
Madeira, que proporcionaram uma nova rota de ocupação demográfica, tendo como referência
suas estações telegráficas.
Na segunda metade deste século outros ciclos econômicos acrescentaram novas
configurações ao mapa da Amazônia rondoniense, na medida em que modificaram e ampliaram
sua ocupação humana: o Ciclo do Diamante, na região de Ji-Paraná e Pimenta Bueno, a partir de
1954; o Ciclo da Cassiterita, que começou em 1958, em Porto Velho e Ariquemes, e, finalmente, o
Ciclo da Agricultura no início da década de 70, cujo maior referencial político é a própria criação
do Estado de Rondônia.
A construção do Real Forte do Príncipe da Beira foi uma conseqüência direta do Ciclo do
Ouro e marcou o primeiro processo de colonização do espaço físico que constitui o Estado de
Rondônia. Sua pedra fundamental foi lançada em 20 de junho de 1776, sob a chefia do intendente
Domingos Sambucetti, engenheiro italiano a serviço da Coroa portuguesa, falecido em 1780,
vítima de malária. Em seu lugar assumiu o capitão José Pinheiro de Lacerda, substituído em 1781
pelo sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros do Exército português, Ricardo Franco d’Almeida
Serra.
Chefe da 3ª Comissão Demarcadora de Limites, encarregada de demarcar as novas
fronteiras amazônicas entre os domínios de Portugal e Espanha, o sargento-mor Ricardo Franco
d’Almeida Serra cumpria mais uma de suas missões, quando, após percorrer os rios Negro e
Mauá, recebeu ordens para juntar-se á expedição de Francisco José Lacerda Almeida, que vinha
de Barcelos, percorrendo os rios Mamoré e Guaporé. Essa expedição destinava-se a concluir as
obras do Real Forte do Príncipe da Beira e era composta pelos engenheiros Joaquim José Ferreira
e Antônio Pires da Silva Pontes, que ficaram sob seu comando.
Apesar de não estar totalmente concluído, o Real Forte do Príncipe da Beira foi inaugurado
em 31 de agosto de 1783. Esta fortaleza é uma obra arquitetônica construída no sistema Vauban
( Sebastian Lê Préte, conde de Vauban ) ou de baluartes, que utiliza o tipo de fortificação de
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bastiões, num quadrado de 970 metros de perímetro. Em suas muralhas de dez metros de altura
destacam-se quatro baluartes protegidos por catorze canhoneiras em cada um.
Um profundo fosso aberto ao seu redor servia para proteger o Forte do avanço de inimigos
por terra. O único acesso ao seu interior era feito através de uma ponte elevadiça, com três
metros de comprimento, no setor norte de sua muralha. Em suas dependências foram construídos
alojamentos para oficiais e praças, uma capela, armazém, paiol e uma cadeia.
A cal de pedra necessária para sua edificação foi trazida inicialmente de Belém do Pará,
através dos rios Amazonas e Madeira, seguindo daí por terra, num difícil percurso de 1.500
quilômetros. Posteriormente, essa matéria-prima passou a vir de Corumbá, no Grosso, subindo os
rios Paraguai, Jauru e Guaporé. Em suas obras trabalharam Mato duzentos operários
especializados, entre carpinteiros, pedreiros e artífices, contratados no Rio de Janeiro e em Belém
do Pará, centenas de índios, além de mil negros escravos. Sua guarnição militar somente foi
acantonada em março de 1784, e a principal artilharia, formada por quatro canhões calibre 24,
feitos de bronze, somente foi enviada de Belém em 1825, e levou cinco anos para chegar ao
destino. O primeiro comandante do Real Forte do Príncipe da Beira foi o capitão de Dragões José
Mello de Souza Castro e Vilhena, oficial português desterrado para o Mato Grosso, que servia na
Companhia de Goiás. A denominação Príncipe da Beira foi dada em homenagem a D. José
Francisco Xavier de Paula Domingos Antônio Agostinho Anastácio, príncipe da Beira, importante
província portuguesa.
A construção do Real Forte do Príncipe da Beira ocorreu durante o governo do capitão-
general Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que havia substituído a Luiz Pinto de Souza
Coutinho no governo da capitania de Mato Grosso. Seu principal objetivo, assim como o de outros
fortes construídos na região, era o de efetivar a política de expansão da Coroa portuguesa,
assegurar a posse das terras conquistadas, além de funcionar como posto avançado de vigilância
e combate na defesa dos interesses de Portugal, do avanço militar e da cobiça espanhola,
funcionando também com feitoria.
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Durante muitos anos o Forte do Príncipe da Beira foi submetido a um intenso processo de
sucateamento, ao tempo em que era totalmente abandonado pelas autoridades brasileiras.
Entretanto, 1914, o militar e sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon, numa de suas
expedições redescobriu o Forte comunicando o fato às autoridades da República. Em 1930, ao
retornar ao local, na qualidade de inspetor de fronteiras, observou que aquela monumental obra
da antiga arquitetura portuguesa continuava esquecida e perdida no meio da floresta. A partir de
então, Rondon passou insistir para que o governo brasileiro reativasse as funções militares do
Forte. Em conseqüência, no ano de 1937, o Exército resolveu enviar para a localidade um
contingente de fronteira.
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seringalistas. As terras rondonienses passaram então a ser povoadas pela ação dos seringueiros,
que penetravam na floresta através dos rios Madeira, Jamary, Machado, Guaporé e Mamoré, em
busca de látex, a matéria-prima da borracha nativa. O Brasil destacava-se como o maior produtor
de borracha silvestre do mundo. Nesse contexto, a área geográfica que forma o Estado de
Rondônia respondia por considerável parcela dessa atividade econômica.
Porém, não era somente o Brasil que produzia borracha em larga escala na Amazônia. A
Bolívia também despontava como grande produtor e se ressentia da necessidade de escoar seu
produto, cuja maior concentração ficava no Oriente boliviano, isolado do restante daquele país.
Foi exatamente em função da carência de um porto onde pudesse escoar sua produção de látex,
que o governo boliviano criou, em 1846, uma comissão de estudos destinada a viabilizar uma rota
fluvial através do rio Mamoré, ou do Madeira, a fim de permitir ao país acesso ao oceano
Atlântico.
Esses estudos resultaram em dois projetos apresentados ao governo boliviano. O primeiro,
visava a construção de canais nos trechos encachoeirados do Madeira, o rio escolhido pela
comissão de estudos. O segundo, de 1861, previa a construção de uma ferrovia da margem
direita do rio Mamoré até a fronteira das províncias de Mato Grosso e do Amazonas.
O governo boliviano entendeu ser mais viável a execução do primeiro projeto, que
contemplava uma rota fluvial pelo rio Madeira, com a canalização de seus trechos encachoeirados.
No dia 27 de agosto de 1868 a Bolívia concedeu ao engenheiro-militar norte-americano, coronel
George Earl Church, autorização para que fosse constituída, sob sua direção, uma empresa de
navegação entre os rios Mamoré e Madeira.
O coronel George Earl Church fudou então a National Bolivian Navigation Company, com a
finalidade de explorar o transporte de passageiros em ambos os rios e construir os canais
necessários nas cachoeiras do Madeira. Entretanto, ao buscar financiamento junto aos bancos da
Inglaterra, deparou-se com a resistência dos financistas londrinos, que preferiam apoiar a
construção da estrada de ferro, prevista no segundo projeto boliviano. Essa decisão dos
banqueiros ingleses foi baseada, principalmente, no fato de a Inglaterra ser, na época, o maior
produtor de vagões e locomotivas do mundo, além de controlar toda a importação de borracha da
Amazônia. Nesse sentido, a construção de uma ferrovia daria aos ingleses excelente oportunidade
de ampliar sua influência política e econômica na região.
Em função do trajeto da estrada de ferro ser totalmente em território brasileiro, tornava-se
necessário que o Brasil desse autorização para que as obras fossem iniciadas. Isto ocorreu no dia
20 de abril de 1870, através do Tratado de Amizade, Limites, Navegação, Comercio e Extradição,
firmado entre o governo brasileiro e a República da Bolívia, em La Paz. Por esse tratado, o Brasil
exigiu que a razão social da empresa National Bolivian Navigation Company fosse mudada para
The Madeira and Mamoré Railway Company. Em conseqüência, no dia 1º de março de 1871, foi
constituída a empresa The Madeira and Mamoré Raiway Company Ltda., sob a presidência do
Coronel George Earl Church, que levantou, junto aos banqueiros ingleses, um financiamento, com
aval do governo boliviano, para a construção da ferrovia.
Por exigência desses banqueiros, o coronel George Earl Cchurch contratou a empreiteira
Public Works Construction Company, de Londres, por 600 mil libras esterlinas. Essa empresa
instalou seu canteiro de obras na localidade de Santo Antônio, em 06 de julho de 1872, e deu
ínicio à primeira fase de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Para facilitar o acesso à localidade de Santo Antônio do Rio Madeira o governo imperial
brasileiro, sob pressão da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, baixou o decreto-lei nº
5.024, de 15 de janeiro de 1873, que permitia aos navios mercantes, de todas as nações, subirem
o rio Madeira e atracarem no porto conhecido como “Porto dos Vapores”, para embarque e
desembarque de cargas destinadas ou procedentes da Bolívia. Em seguida, instalou um posto da
alfândega brasileira para a arrecadação de tributos originados das importações e exportações.
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criada sob a chefia do engenheiro austríaco Júlio Pinkas. Entretanto o resultado dos seus estudos
foram colocados sob suspeita pelo governo brasileiro.
O governo boliviano foi obrigado a arquivar seu ambicionado projeto de construir a estrada
de ferro Madeira-Mamoré, que, nesta primeira fase, teve como saldo diversos contratos rompidos,
vários técnicos e operários mortos e inúmeros processos nas justiças americana, inglesa e
brasileira.
A GUERRA DO ACRE
O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o inicio deste século, considerado
uma zona-não-descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro. Por sua
vez, o Brasil utilizava aquela região como um grande presídio a céu aberto, para onde enviava
prisioneiros políticos e criminosos comuns. Entretanto, rico em seringueiras, o Acre recebeu na
segunda metade do século XIX, milhares de nordestinos em busca de trabalho em seus seringais.
Prisioneiros, exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do
Acre, fundavam povoações, avançavam e se estabeleciam em pleno território boliviano. Isto,
naturalmente, desagradava ao governo daquele país que invocou velhos tratados, de duvidosa
interpretação, e resolveu tomar posse definitiva do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03
de janeiro de 1889, e instalou postos da alfândega para arrecadar tributos originados da
comercialização de borracha silvestre. Essa atitude causou revolta entre os quase sessenta mil
brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos. Liderados pelo seringalista José Carvalho, do
Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as autoridades bolivianas, em 03 de maio
de 1889.
Mas, foi um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias quem liderou outra
rebelião, de maior alcance político, proclamou a independência e instalou o que ele chamou de
República do Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de1889.
Galvez, o “Imperador do Acre“, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do
governador do Amazonas, Ramalho Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito
meses. O governo brasileiro, signatário do Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867,
reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o
Acre ao governo boliviano.
Todavia, a situação continuava insustentável. O clima de animosidade persistia e
aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu arrendar o Acre a um
grupo de capitalistas americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas Conway and
Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o temível
Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e
formar sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses. Ou seja.
Obteve plenos poderes para assumir o controle econômico e exercer a autoridade civil nas terras
do Acre.
Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram aquela
situação. Estimulados por grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do Amazonas e do
Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os
seringalistas entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Plácido de Castro, ex-
major do Exército, rebaixado a cabo por haver participado da Revolução Federalista do Rio Grande
do Sul, ao lado dos Magaratos. Plácido de Castro tinha, na época, 29 anos de idade e estava auto-
exilado há três anos no Acre, trabalhando como seringueiro.
PLÁCIDO DE CASTRO
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A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado,
fortalecia-se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, além de
apoio político e popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre
ao Brasil. A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediata
providências em defesa dos acreanos.
Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via diplomática,
tendo à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio
Branco. Mas, todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos
tornavam-se mais freqüentes e os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais
freqüentes e acirrados. No entanto, foi somente quando o presidente da Bolívia, general José
Manuel Pando, organizou, sob seu comando, uma poderosa expedição militar para combater os
brasileiros do Acre, que o presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e
da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato Grosso, avançassem para a região em defesa
dos seringueiros acreanos. O enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da Bolívia gerou a
Guerra do Acre.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma
divisão naval, ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto
Alonso, hoje Porto Acre. Ao alvorecer do dia 24 de janeiro de 1903, às margens do rio Acre,
tremulou vitoriosa a bandeira acreana. O acre era do Brasil. Em conseqüência, no dia 17 de
novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, à rua Westphalia, nº 05, no Rio de Janeiro, a
repúblicas do Brasil e da Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou
de posse do Acre, assumindo o compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras
esterlinas ao governo boliviano e mais 114 mil ao Bolivian Syndicate.
O tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904,
também obrigou o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de
ferro Madeira-Mamoré. A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de
negociações seu ambicionado projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos
primeiros brasileiros à região e renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.
O Tratado de Petrópolis proporcionou o surgimento no Brasil, do primeiro Território
Federal: o Acre, em 1903.
Com o crescimento da produção de látex, a região acreana produziu 47 mil toneladas de
borracha silvestre, somente em 1910, o que representou cerca de sessenta por cento de toda a
produção amazônica.
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povoados de Porto Velho e de Santo Antônio, o Hospital da Candelária, que chegou a ter onze
médicos. Mas, nem eles resistiram. Três morreram e dois ficaram inválidos.
acervo: Jkerdy
Trecho da ferrovia em construção
acervo: Jkerdy
Ao centro o médico Oswaldo Cruz, á esquerda Dr. Carl Lovelace, e a Direita Dr.Belizário Pena
Em seu relatório, afirmou que o lento progresso das obras da ferrovia, que avançava
apenas cerca de cento e noventa metros por semana, não era provocado por essas doenças e sim
pelas péssimas condições de vida e trabalho a que eram submetidos os operários da Madeira-
Mamoré. Outro problema de saúde que afetava os operários eram os “demônios”, um tipo
desconhecido de loucura que os atacava sistematicamente nos trechos em obra e provocava
terríveis alucinações.
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acervo: Jkerdy
Para combater os índios Caripunas, que, além de flechar os operários também arrancavam
os trilhos e dormentes da ferrovia à noite, a direção da empresa mandava a segurança eletrificar
os trilhos ao final de cada jornada diária de trabalho. Em pouco tempo, centenas de índios foram
mortos eletrocutados, o que provocou um verdadeiro genocídio.
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panamá também já estava em pleno funcionamento. Tudo isto facilitava o acesso da Bolívia ao
Oceano pacífico, e tornava desnecessário investir na antiga rota do Oceano Atlântico, via rio
madeira.
Conforme previsto no contrato de construção, o controle da ferrovia, assim como a
exploração do transporte de carga e passageiros, ficou por conta da empresa norte-americana
The Madeira-Mamoré Railway Company. O governo brasileiro concedeu a administração da
ferrovia a essa empresa por um prazo de sessenta anos, a contar de 1º de julho de 1912, de
acordo com o contrato de arrendamento firmado nos termos do decreto-lei nº 7.344, de 25 de
fevereiro de 1909.
acervo: Jkerdy
A Madeira-Mamoré finalmente ficou pronta. Nela trabalharam cerca de vinte e dois mil
operários, recrutados em portos de vinte e cinco países, e até em prisões. Eram portugueses,
espanhóis, italianos, russos, cubanos, mexicanos, porto-riquenhos, libaneses, sírios, índios norte-
americanos, nordestinos brasileiros, antilhanos, granadenses, tobaguenses, barbadianos,
noruegueses, poloneses, chineses e indianos.
Estigmatizada, polêmica, criticada no Brasil e no exterior, com má fama e sem ter atingido
seus objetivos, a estrada de ferro Madeira-Mamoré tornou-se, paradoxalmente, fundamental para
a formação econômica, social, geográfica e política de Rondônia, por ter estimulado a fixação do
primeiro povoamento urbano desta região. Ao longo do seu trecho surgiram núcleos habitacionais
como Porto Velho, Jacy-Paraná, Vila Murtinho, Mutum-Paraná, Abunã, e Guajará-Mirim. Destes, os
que mais se desenvolveram foram Porto Velho, onde ficou sua estação inicial, e Guajará-Mirim,
sede de sua estação terminal. Durante muitos anos a maior reta ferroviária do mundo ficava no
trecho Mutum-Paraná / Abunã, como cinqüenta e um quilômetros de extensão.
A principal finalidade da empresa norte-americana The Madeira-Mamoré Railway Company
era monopolizar o transporte e o comércio de borracha silvestre nesta região. Para tanto,
constituiu um grupo abrangente e poderoso, com a seguinte composição: Madeira-Mamoré
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Trading Company, que operava o comércio de navegação no oriente boliviano; Júlio Muller
Rubber State, que atuava nos rios cortados pela ferrovia; Guaporé Rubber Company, que
explorava borracha no rio Guaporé, e a Companhia Fluvial, que operava o serviço de navegação e
comércio entre Porto Velho e Manaus. Essas empresas eram controladas pela Agência Comercial,
holding da Madeira-Mamoré, integrante de um enorme conglomerado designado “Sindicato
Farequhar”.
Nascida da necessidade boliviana de relacionar-se economicamente com outros países, a
ferrovia Madeira-Mamoré precisou de uma guerra e de um tratado de paz para ser construída.
Seu custo final superou os trinta milhões de dólares, em valores da época. Sua licitação foi
tramada para beneficiar ao magnata norte-americano Percival Farquhar, o “dono do Brasil”, como
ficaria conhecido.
A construção da Madeira-Mamoré foi uma epopéia trágica, que, além de bater o recorde
mundial de acidentes de trabalho, praticamente dizimou uma nação indígena e ceifou a vida de
centenas de operários que trabalharam em suas obras. No entanto, o pesadelo que foi toda sua
construção, retrata de maneira irreal, esta que se tornou uma das maiores e mais importantes
obras de engenharia já construídas na América Latina.
Os elevados custos finais de sua obra, podem ser exemplificados nos cerca de 615 mil
dormentes que foram utilizados. Destes, 90 mil foram importados da Austrália, ao custo
superfaturado de seis mil réis a unidade, três vezes mais que o valor dos dormentes produzidos
na Bahia. Por outro lado, a Bolívia jamais reconheceu a obra como concluída, em razão do Brasil
não ter construído o ramal Vila Murtinho/Vila Bela, erroneamente incluído no tratado de
Petrópolis.
O declínio do Ciclo da Borracha provocou, lenta e gradualmente, a desativação da estrada
de ferro Madeira-mamoré. Em 10 de julho de 1972, a empresa foi desativada definitivamente,
após seis anos de incorporação ao 5º Batalhão de Engenharia de Construção, BEC, período
conhecido como o da “Erradicação da Madeira-Mamoré”. Naquele dia, os ferroviários fizeram soar
os apitos das locomotivas, em Porto Velho, às 7h30 da noite, numa melancólica saudação que
durou cinco minutos.
Em 1973, o governo federal elaborou um protocolo adicional ao Tratado de Petrópolis,
através do qual autorizou a construção de uma rodovia como estrada substituta da Madeira-
Mamoré.
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idade, após uma cirurgia mal sucedida no cérebro, na simples condição de diretor assalariado de
suas ex-empresas, que fundou e perdeu em Wall Street.
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Posteriormente, formou-se uma segunda expedição para o mesmo percurso, na qual foram
incluídos o farmacêutico Canavários e o tenente Antônio Vilhena. Em 13 de junho de 1913 a
Comissão Rondon inaugurou a Estação Telegráfica do Jamary. No ano seguinte era inaugurada a
Estação Provisória de Santo Antônio do Rio Madeira.
Para instalar os postes, os fios telegráficos e as estações, a Comissão Rondon levou,
somente no ano de 1914, sete meses e nove dias para percorrem o trecho Vilhena / Vila de Santo
Antônio. Foram 1.297 quilômetros por terra e 1.138 por via fluvial, em canoas. Destes, 713 pelo
rio Gy-Paraná, 135 pelo Jaru, e 290 pelo Jacy-Paraná. Acrescentem-se ainda duzentos
quilômetros percorridos nas variações estudadas. No total foram 2.635 quilômetros explorados
em terras dos sertões mato-grossenses.
Entre abril e dezembro de 1914 foram construídos 372.235 metros de linha telegráfica e
inauguradas as estações de Jaru, Pimenta Bueno, Presidente Hermes e Presidente Pena.
No dia 1º de janeiro de 1915, em solenidade na Câmara Municipal de Santo Antônio do Rio
Madeira, o então major Cândido Mariano da Silva Rondon inaugurou a Linha Telegráfica
Estratégica Cuiabá / Santo Antônio, com ramal em Guajará-Mirim. A missão estava cumprida.
Naquele dia, Rondon recebeu uma comitiva da associação comercial da Vila de Santo Antônio, que
lhe entregou um cartão de ouro, simbolizando a gratidão dos munícipes.
Em 1916, Rondon inaugurava a Estação Telegráfica de Ariquemes, na região que os
seringueiros denominavam “Papagaio”, às margens do rio Jamary. Os objetivos da Comissão
Rondon foram alcançados. As linhas telegráficas foram implantadas e o processo de ocupação
humana da região ganhou um novo modelo, a partir das estações telegráficas que geraram em
suas cercanias importantes aglomerados urbanos. Ao longo do tempo, a maioria desses núcleos
foram transformados em vilas, cidades e em grandes municípios como Vilhena, Pimenta Bueno,
Presidente Hermes, (hoje Presidente Médici). Presidente Pena, (hoje Ji-Paraná), Jarú, e
Ariquemes.
O povoamento inicial ao redor das estações telegráficas era feito através dos picadões de
quarenta metros, abertos para que em seu eixo fossem plantados os postes que sustentavam os
fios telegráficos. Assim, a Comissão Rondon constituiu-se em uma nova via de comunicação
terrestre, na medida em que modificou as trilhas primitivas então existentes. A esta nova via de
acesso os seringueiros chamavam “O Fiel de Rondon”, posto que, passaram a orientar-se pelos
picadões, pelos postes, e, sobretudo, pelos fios telegráficos que chamavam de “As Línguas de
Mariano”, em virtude do grande desbravadores preferir ser tratado pelo seu segundo nome,
Mariano.
Coube ao etnólogo Roquette Ponto, legionário da Comissão Rondon, o entendimento da
função política dos picadões abertos pela comissão chefiada por Cândido Mariano da Silva Rondon,
ao designa-los “A Estrada de Rondon” ou simplesmente “Rondônia”. Que se construiu a partir de
1932, a rodovia BR-364, a estrada de Rondon.
Mas, a Comissão Rondon teve sérias complicações de ordem política. Foi severamente
criticada e perseguida pelo governo revolucionário de Getúlio Vargas, a partir de 1930, que
culminou com a prisão do general Rondon e a quase destruição das estações e linhas telegráficas.
O governo Vargas transformou a estrutura das estações telegráficas da Comissão Rondon,
setor Cuiabá / Santo Antônio do Rio Madeira, no 3º Distrito Telegráfico de Mato Grosso, sob a
chefia do capitão Aluízio Pinheiro Ferreira.
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O principal motivo que levou a diretoria da Madeira-Mamoré a tomar tal decisão, foi a
presença das quarenta e quatro prostitutas a bordo. Não foi por causa dos marinheiros ou dos
criminosos comuns, mas sim pelo motivo de que em Porto Velho não era permitida a prostituição.
Na Vila de Santo Antônio o comandante não teve dificuldades para desembarcar sua carga,
em virtude de não haver o patrulhamento do sindicato da Madeira-Mamoré. No mesmo dia, ele
entregou os duzentos homens destinados à Comissão Rondon ao próprio Cândido mariano da
Silva Rondon. Mas a tripulação estava temerosa, porque a localidade era conhecida por seu
elevado índice de doença e mortandade.
Quando os porões do “Satélite” foram abertos, pôde-se ver as tristes condições daquelas
pessoas: mortas de fome, esqueléticas, semi-nuas, desesperadas e atiradas no porto, homens e
mulheres, ou o que deles restava, foram submetidos a todo tipo de humilhações. Aqueles que não
seguiram com a Comissão Rondon foram escolhidos para o trabalho nos seringais. As mulheres
entregaram-se à prostituição e foram bem aceitas, porque em Santo Antônio, praticamente, não
havia presença feminina.
E assim, a tripulação se dispôs de sua indesejável carga humana. Às sete horas da noite
daquele mesmo dia, o navio “Satélite” zarpou do ponto de Santo Antônio, passou ao largo do de
Porto Velho, e seguiu rumo ao Rio de Janeiro, onde aportou no dia 04 de março de 1911.
Para ter uma idéia da impressão que a região causava e dos momentos vividos, observe-se
um trecho do relatório do capitão Carlos Brandão Storry, comandante do navio, que fez a seguinte
citação: “ A 03 de fevereiro de 1911, pela manhã, foram entregues à Comissão do Dr. Rondon,
duzentos homens, conforme ordem do governo. Os restantes teriam de descer com ele e ir
deixando-os pelas margens do rio. Felizmente, momentos depois, chegavam aos poucos, os
seringalistas, que pediam ao comandante da força, homens para o trabalho. Assim, foi se
dispondo o pessoal, até que saíram os últimos. Nesse mesmo dia, pelas 7h p.m. deixávamos o
porto de Santo Antônio, livres e salvos das garras de tão perversos bandidos”.
O relatório do comandante do navio “Satélite” revelou toda a trama montada para punir
severamente os revoltosos da Ilha das Cobras e da Chibata, a maioria, marinheiros e soldados
negros e mestiços, submetidos a toda espécie de humilhação, viajando como escravos, destinados
ao degredo na Amazônia.
No entanto, a viagem do navio “Satélite”, suas razões políticas e raciais, e o destino final
de sua carga, servem para dar uma pequena idéia de como era feito o povoamento da região do
Alto Madeira, na primeira metade deste século, e as perversas condições de trabalho nas obras da
ferrovia Madeira-Mamoré, na Comissão Rondon e nos seringais.
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acervo: Jkerdy
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utilização de índios no trabalho de implantação da rede telegráfica. Tinha como lema em relação
aos povos indígenas, “morrer se preciso for, matar nunca”.
Por tudo isto, fundou em 1910, o Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos
Trabalhadores Nacionais, SPI, do qual foi o primeiro diretor. Os índios o chamavam de “O Grande
Chefe”. Sempre à altura da confiança indígena, implantou, em 1952, o Parque Nacional do Xingu.
A Comissão Rondon, além de implantar as linhas e estações telegráficas, realizou
importantes pesquisas geográficas e científicas, estudando a fauna, a flora, o solo e o subsolo dos
sertões mato-grossenses. Entre suas descobertas, destacam-se as legendárias Minas de
Urucumacuã, no sertão dos Parecis.
Mas Rondon foi mais além. Em 1913 acompanhou o ex-presidente dos Estados Unidos da
América, Theodore Roosevelt, em sua expedição à Amazônia, que teve seu ponto alto no
mapeamento do rio da Dúvida, afluente do rio madeira, hoje denominado rio Roosevelt. Acusado
de punir fisicamente os membros insubmissos de suas expedições foi submetido a um Conselho
de Guerra que terminou por absolve-lo.
Em 1924, aos 59 anos de idade, foi promovido a general-de-brigada. Em 1927, assumiu o
cargo de Inspetor de Fronteiras. Mas, foi duramente perseguido pelo governo Vargas por não
haver apoiado a revolução de 1930. Positivista, Rondon não admita golpes contra governos
constituídos e Manteve-se fiel ao presidente deposto, Washington Luiz. Em conseqüência, o
governo provisório o destituiu dos cargos de chefe da Comissão Estratégica do Mato Grosso ao
Amazonas, da Inspetoria-geral de Fronteiras, do 3º Distrito Telegráfico de Mato Grosso, e o
prendeu. Libertado, ingressou na reserva, na patente de general-de-divisão, após 47 anos de
serviços.
Militar de carreira brilhante, numa época conturbada politicamente, só esteve em combate
durante a revolução tenentista de 1924, quando comandou as tropas federais, derrotadas pela
estratégia dos revolucionários.
Na vida civil, ingressou no Itamaraty sob o comando do chanceler José Maria Silva
Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco. Como diplomata, sua mais importante atuação foi como
mediador entre o peru e a Colômbia na questão de porto de Letícia, em 1934, aos 70 anos de
idade.
Mas o velho bandeirante amargava uma frustação: não ter alcançado a patente de
Marechal, o topo da carreira militar na época. Foi o Congresso Nacional que outorgou-lhe essa
patente no dia 05 de maio de 1955, quando completou 90 anos de idade, em reconhecimento por
seus serviços prestados ao País.
O Marechal Rondon, “o homem que tinha na sola dos pés o mais longo caminho já
percorrido”, faleceu no dia 19 de janeiro de 1958, no Rio de Janeiro, aos 93 anos de idade, onde
foi enterrado com honras de chefe de Estado. Seu nome está escrito em letras de ouro maciço na
Sociedade de Geografia de Nova York, EUA, como desbravador e herói dos sertões mato-
grossenses, ao lado de outros grandes exploradores mundiais.
Fonte:
PIONEIROS
Ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia
Francisco Matias (1998)
http://www.esnips.com/web/HistGeogRo