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A ÍS< OI A Ã NOITE

A ESCOLA A NOITE só que ao mesmo tempo eu estava gostando da idéia,


discutia só para provocar, ia deixando ele acumular
pontos pouco a pouco.
Em algum momento, com elegância, comecei a
ceder, pois também achava que a escola nào era tão
manjada assim, mesmo com os seis anos e meio de
escravidão que já havíamos passado naquele lugar,
Nào SHi MAIS NADA do Nito liem quero saber. Tantos
quatro para conseguir o diploma de professor e quase
anos, tantas coisas se passaram, vai ver que ele contí três para a licenciatura em letras,encarando matérias
nua por lá ou morreu ou viajou. Melhor não pensar
completamente incríveis como Sistema Nervoso,
nele,só que às vezes sonho com os anos 30 em Buenos
Dietética e Literatura Espanhola, esta última a mais
Aires,os tempos da escola normal e, bom,de repente
incrível de todas porque no terceiro trimestre ainda
Nito e eu naquela noite em que invadimos a escola, não havíamos passado,como aliás nunca passaríamos,
depois não me lembro direito dos sonhos mas sempre do Conde Lucanor. Talvez, por isso, pela maneira
fica alguma coi.sa de Nito meio que flutuando no ar, como perdíamos tempo,Nito e eu achávamos a escola
faço o possível para esquecer, melhor que ele vá se meio esquisita,a sensação que a gente tinha era de que
apagando outra vez até outro sonho,.só que não dá faltava um negócio nela, um negócio que teríamos
para fazer nada, de vez cm quando acontece isso, de gostado de conhecer melhor. Não sei. acho que tam
wm^ bém havia outra coisa, pelo menos para mim a escola
vez em quando ele volta, como agora.
A idéia de invadir à noite a escola anormal (falá
não era tão normal quanto seu nome pretendia, sei
vamos isso para incomodar e por outras razões mais que Nito pensava a mesma coisa, ele me dissera isso
sólidas) foi de Nito, e me lembro muito bem de que
por ocasião da primeira aliança, nos tempos remotos
foi no La Perla dei Once e tomando um cinzano com
de um primeiro ano cheio de timidez,cadernos e com
;Í:Í—Ife ?íS: k'..'. -í^-i

bitter. Meu primeiro comentário consistiu em dizer passos. Tantos anos que não falávamos no assunto,
ao Nito que ele estava mais louco que um galináceo, mas naquela manhã no La Perla fiquei com a sensação
apezardoké - a gente gostava de escrever assim na de que o projeto de Nito vinha lá de trás,e de que por
época, desortografando o idioma por algum desejo isso pouco a pouco ele estava me ganhando;como se
de vingança que também devia ter alguma relação antes do fim do ano e de dar as costas à escola para
ti. =?\ -r- .
, •.,-..:.'0:^a1,1;?^AA'-.' •; 'aa. ', 'i com a escola - ele nào desistiu de sua idéia e ficou
sempre tivéssemos de acertar uma última conta com
' '^' 'V- ' :
insistindo com aquilo de que a escola à noite sei lá o ela,entender direito coisas que nos haviam escapado,
quê,de que seria tão legal fazer uma exploração, mas aquele desconforto que Nilo e eu sentíamos de vezem
explorar o quê, a gente manja tudo da escola, Nito,
quando nos pátios ou nas escadas,e eu principalmente
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lULIO COK I A/AH A I,S( OI A A NlllTI'

todas as manhas ao ver as grades da entrada, um leve com os cafés do Bai.xo e com o Dock Sul, ao fim e ao
aperto no estômago desde o primeiro dia ao transpor cabo não parecia tão ilógico que também quiséssemos
aquela grade de espetos do outro lado da qual se abria entrar na escola à noite, seria completar uma coisa
o peristilo solene e começavam os corredores com sua que estava incompleta, uma coisa para guardar em
cor amarelada e a escadaria dupla. .segredo e pela manhã olhar os rapazes e ficar por cima,
- Por falar em grade, o negócio ê esperar até a coitados desses caras respeitando o horário e o Conde
meia-noite - di.ssera Nito - e escalar no ponto onde Lucanor das oito ao meio-dia.
eu vi que há dois espetos tortos, é só cobrir com um • Nito estava decidido, se eu não quisesse ir junto
poncho e fim de papo. ele pularia o muro sozinho num sábado à noite, me
- Facílimo - dissera eu -, e bem nessa hora a cana explicou que havia escolhido o sábado porque se algu t '
?iííi5if-:i.;*;!
aparece na esquina ou alguma velha começa a berrar ma coisa desse errado e ele ficasse trancado lá dentro
.r^í-Cviii- • -• •
:^fe'--'; .■ ' do outro lado da rua. daria tempo de encontrar alguma outra .saída. Fazia
• l^V-f
- Seu problema é muito cinema, l oto. Quando é anos que a idéia o rondava, talvez desde o primeiro
que você já viu alguém por lá nesse horário? O mús dia, quando a escola ainda era um mundo desconhe
culo dorme, cara. cido e nós, garotos do primeiro ano, ficávamos nos
Pouco a pouco eu ia me dei.xandt) tentar, óbvio pátios de baixo, perto da sala de aula, como pintinhos.
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que era uma idiotice e que não aconteceria nada nem Pouco a pouco fòramos avançando por corredores e
fora nem dentro, a escola continuaria .sendo a mesma escadas até ter uma idéia da enorme caixa de sapatos
fejívíífet escola daquela manhã, ineio frankenstein na escuri amarela com suas colunas, seus mármores e aquele
dão, talvez, mas só isso, o que poderia haver no local à cheiro de sabão misturado com o barulho dos recreios
noite além de bancos e lousas e talvez um gato caçando e o rom-rom das horas de aula, mas a familiaridade
camundongos, que isso eu sei que havia mesmo. Mas não eliminara de todo aquela sensação.de que a escola
Nito não desistia, só falava naquela história do poncho era um território diferente apesar do hábito, dos co
mm
e da lanterna, é preciso dizer que a gente vivia de saco legas, da matemática. Nilo se lembrava de pesadelos
cheio naquele tempo cm que muitas garotas continua em que coisas instantaneamente suprimidas por um
vam sendo trancadas com fechadura dupla marca despertar violento haviam acontecido em galerias da
papai e mamãe, um tempo bastante austero na marra, escola, na sala do terceiro ano, nas escadas de már
a gente não gostava muito de festa nem de futebol, more; sempre à noite, claro, sempre ele sozinho na
líamos feito loucos durante o dia mas a noite andá escola petrificada pela noite, e is.so Nito não conseguia
vamos pela cidade - às vezes com Fernández López, esquecer pela manhã, entre centenas de rapazes e de
que morreu tão jovem - e travávamos conhecimento ruídos. Eu, em compensação, nunca sonhara com a
com Buenos Aires e com os livros de Castelnuovo e escola, mas mesmo assim me flagrava pensando em
A r.scoi-A A Non r
(!okta/ar

como ela seria com lua cheia, os pátios de baixo, as embora o fato tivesse seu lado bom para andar pelas
galerias altas, imaginava uma claridade de mercúrio galerias sem precisar de lanterna.
nos pátios vazios,a sombra implacável das colunas. Às Demos a volta na quadra para maior segurança,
vezes em algum recreio eu ia encontrar Nito afastado falando no diretor que morava na casa ao lado da
dos outros e olhando para o alto, para o ponto onde escola, ligada a ela por um corredor no andar de
os gradis das galerias deixavam ver corpos trancados, cima: assim ele podia ir diretamente de casa para o
cabeças e torsos passando de um lado para o outro, escritório. Os porteiros não moravam lá e tínhamos
mais abaixo calças e.sapatos que nem sempre pareciam certeza de que não havia nenhum segurança, tomar
pertencer ao mesmo aluno. Sempre que precisava su conta do quê, naquela escola em que não havia nada
de valioso, o esqueleto meio arrebentado, os mapas U\
bir sozinho a grande escadaria de mármore,em algum
momento em que Iodos estavam em classe, eu tinha em frangalhos, a secretaria com duas ou tres má
a sensação de estar como que abandonado,subia ou quinas de escrever que pareciam pterodáctilos. Nito
de.scia de dois em dois degraus, e acho que por isso teve a idéia de que talvez houvesse alguma coisa no
mesmo tornava a pedir licença alguns dias depois escritório do diretor, uma vez havíamos visto como
para sair da .sala e repetir algum trajeto com o ar de ele fechava a porta à chave quando saía para dar sua
quem vai atrás de uma caixa de giz ou do banheiro. aula de matemática, e isso com a escola entupida de
Era como no cinema,a delicia de um suspen,se idiota, gente, ou vai ver que precisamente por isso. Nem
e acho que foi por isso que me defendi tão mal do Nito nem eu nem ninguém gostava do diretor, mais
projeto de Nito, de sua idéia de afrontar a escola; eu conhecido pelo apelido de Capenga;o fato de que fosse
nunca teria tido a idéia de invadi-la à noite, mas Nito severo e nos cobrisse de advertências e expulsões por
pensara por nós dois e estava tudo certo, merecíamos qualquer coisinha não era uma razão tão forte quanto
aquele segundo cin7.ano que não tomamos porque não algo em sua fisionomia de pássaro embalsamado,em
tínhamos dinheiro suficiente. seu jeito de chegar sem que ninguém o visse e entrar
Os preparativos foram simples, consegui uma numa sala de aula como se a sentença de culpa tivesse i!| LA
lanterna e Nito me esperou no Once com um poncho sido pronunciada de antemão. Um ou dois professo
enrolado debaixo do braço; naquele fim de semana res amigos (o de música, que nos contava piadas de
tinha começado a fiizer calor, mas não havia muita sacanagem, o de sistema nervoso, que se dava conta
gente na praça; entramos pela Calle Urquiza quase da idiotice de lecionar aquilo numa mrma de fúturos
sem falar e quando chegamos ao quarteirão da escola professores de letras) haviam nos dito que o
olhei para trás e Nito tinha razão, não havia nem um ga, além de ser um solteirão convicto e declarado,
gato para ver-nos..Só então me dei conta de que havia alardeava uma misoginia agressiva, razao pela qua
lua, não havíamos planejado mas não sei se gostamos. nunca tivéramos uma única professora na escola. Mas
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A f SCOLA À NOITE
)l I IO Cokta/ak

justamente naquele ano o ministério devia tê-lo feito Dava vontade de pegar os gizes e fazer desenhos
compreender que tudo tem seu limite, porque nos na lousa, mas Nito achou que não estavam ali para
mandaram a senhorita Maggi, que ensinava química brincar, ou que brincar era uma maneira de nao ad
orgânica aos f uturos professores de ciências. A coitada mitir que o silêncio nos envolvia demais. Voltamos
sempre chegava à escola com um ar meio assustado, para o corredor e fomos até a escada; de longe nos
Nito e eu ficávamos imaginando a cara do Capenga chegou uma espécie de eco de música, reverberando
ao encontrá-la na sala dos professores. A coitada da de leve na caixa da escada; também ouvimos uma
senhorita Maggi entre centenas de rapazes,ensinando freada de bonde, depois nada. Dava para subir sem
a fórmula da glicerina aos réus do sétimo de ciências. necessidade de lanterna, o mármore parecia estar
- Agora - disse Nito. recebendo diretamente a luz da lua, embora o andar
Quase enfio a mão num espeto mas consegui de cima a isolasse dela. Nito estacou na metade da
pular sem problemas;a primeira coisa a fazer era aga- escada para me oferecer um cigarro e acender outro;
char-se para o caso de alguém ter a idéia de olhar pelas ele sempre escolhia os momentos mais absurdos para
janelas da casa defronte,depois rastejar até encontrar começar a fumar.
uma protuberãncia ilustre,o suporte do busto de Van IDe cima olhamos para o pátio do térreo, qua
Gelderen, holandês e fundador da escola. Quando drado como quase tudo na escola, cursos incluídos.
chegamos ao peristilo estávamos um pouco abalados Seguimos pela galeria que o circundava,entramos em
pela escalada e tivemos um ataque de riso nervoso. uma ou duas salas e chegamos ao primeiro ângulo,
Nito deixou o poncho escondido ao lado de uma onde ficava o laboratório. Esse sim,os galegos haviam
coluna e viramos à direita, seguindo pelo corredor fechado à chave, como se alguém pudesse aparecer
que levava ao primeiro ângulo,de onde saía a escada. para roubar as provetas rachadas e o microscópio do
O cheiro de escola se multiplicava com o calor, era tempo de Galileu. Da segunda galeria, vimos que a luz
■ M fc
pM I.
estranho ver as salas fechadas e fomos experimentar da lua caia em cheio sobre a galeria oposta,onde fica
uma das portas: evidente que os galegos da portaria vam a secretaria, a sala dos professores e o escntorio
iir não haviam passado a chave nelas e entramos por do Capenga. O primeiro a se jogar no chão fui eu,e
um momento na sala onde seis anos antes havíamos Nito um segundo depois, porque havíamos visto ao
começado os estudos. mesmo tempo as luzes na sala dos professores.
js'" - Eu sentava ali. - Puta merda, tem alguém lá dentro.
-E eu atrá,s, não me lembro se ali ou mais à direita. - Vamos cair fora, Nito.
- Olha lá, esqueceram um globo terrestre. - Espere, pode ser que os galegos tenham esque
- Você se lembra do Gazzano.que nunca encon cido de apagar.
trava a África?
JuiIO CoRTAZAR A ESCOI.A A NOITE
;.Mít
Não sei quanto tempo se passou, mas aftorti J vMiibras móveis, um ritmo de maxixe e dois casais
para perceber que a música vinha de lá, pareciá passavam dançando.Gómez,que eu não conhecia
distante quanto na escadaria, mas ouvíamos CoirtU -J- limito, estava dançando com uma garota de verde, e
ela vinha do corredor a nossa frente, uma inúsli;^ o outro talvez fosse Kurchin,do quinto de letras, um
que parecia de orquestra de câmara com lotio» 0« garotinho com cara de leitão eóculos, pendurado num
instrumentos em surdina. Era tão impensável qiir iidii % mulherão de cabelo relinto com roupa comprida e
esquecemos do medo ou ele de nós,de repente Ititvlii V;" ■ lolares de pérolas. Tudo isso estava acontecendo ali,
como que uma razão para estarmos lá, não era niaisíj V •' <'stãvaiTios vendo e ouvindo, mas naturalmente era
puro romantismo de Nito. Olhamos um para o otitrit - impossível,praticamente impossível que sentíssemos
sem falar, c ele começou a se afastar engatinhando, uma mão apoiar-se devagarinho em no.ssos ombros,
grudado no gradil, até chegar ao ângulo da terceirtl sem forçar.
galeria. Como sempre,o cheiro de xixi dos banheinis - Voccsh não foram convidados -disse o galego
próximos fora mais forte do que os esforços combina Manolo —, mas já que eshtão aqui vão entrando e não
dos dos galegos e da creolina. Depois que rastejamos she fasham de loucos.
até chegar ao lado das portas de nossa sala, Nito .se O duplo empurrão praticamente nos atirou em
virou e me fez sinal para que me aproximasse mais. cima de outro casal que dançava,freamos em seco e
- Vamos dar uma olhada? pela primeira vez vimos o grupo inteiro, uns oito ou
Concordei, visto que ser louco parecia a única dez, o baixinho Larranaga na vitrola tomando conta
atitude razoável naquele momento, e continuamos dos discos, a mesa transformada em bar, pouca luz,
engatinhando,cada vez mais delatados pela lua. Quase os rostos que começavam a reconhecer-nos sem
não me surpreendi quando Nito se endireitou,fatalis- surpresa, todos deviam estar achando que havíamos
ta,a menos de cinco metros da última galeria, onde as sido convidados,e até Larranaga nos tez um gesto de
portas levemente entreabertas da secretaria e da sala boas-vindas. Como sempre,Nito reagiu mais depres
dos profe.ssores deixavam passar a luz. O volume da sa,em três passos estava encostado numa das paredes
música subira bruscamente,ou talvez fosse a distância laterais, e fui para perto dele, grudados na parede
menor; ouvimos rumor de vozes, risos, copos ,se en- como baratas começamos a ver de fato,a aceitar aquilo
trechocando. O primeiro que avistamos foi Raguzzi, que acontecia ali. Com as luzes e as pessoas,a sala dos
aluno do sétimo de ciências, campeão de atletismo professores parecia ter o dobro do tamanho, havia
e grande filho da puta, desses que abrem caminho cortinas verdes que eu nunca havia desconfiado que
à força de músculos e arrogância. Estava de costas existissem quando passava pelo corredor de manhã e
para nós, quase encostado à porta, mas de repente dava uma espiada lá para dentro para ver se Migoya,
se afastou e a luz veio como um chicote cortado por nosso terror da aula de lógica,já havia chegado.Tudo
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7 : :
A F.SCOI A A NOIIK
Iv LU) CORIAZAR
juntos, 'Câmara do escritório do Capenga
estava com uma atmosfera meio de boate, de coisa que dava para a ^ Larranaga parou o
orrni^ada para as ttoites de sábado, os copos e os
ciLii-os, a vitrola e as lâmpadas que ilummavam disco de ctZ
chofre e'e ficamos olhando,
cintura senti
antes que
queoelebraço
mc
apenas o necessário, abrindo áreas de penumbra que de Nito tremia em minha ciniui
soltasse de golpe. Quando comecei a cons-
ampliavam a sala. on.ii,-ir m oue
Sei lá quanto tempo demorei para aplica ao que Sou tâolentopar ^
estava acontecendo conosco um pouco daquela lógi tatar que as duas m ^ Capenga
nue Migoya nosensinava, mas Nito era sempre « mais
;id;'Ino.had.,»b»,.,ap«queiden.nc«.» e segurando a mao
e a senhorita Maggi. exagerada que dois ou
condiscipulos e o professor Iriarte, para que se desse fantasia do Capenga era tao exage q
conta de que as mulheres eram garotos fantasiados. ,cês aplaudiram t-'dame^
Perrone e Macias e mais um outro do sétimo t cie „m silencio dc -P«; ^ , „„s cãbarés do
das""áo se lembrava do nome. Dois ou três estavam buraco no tempo- Eu j ^
de máscara, um deles vestido de havaiana e gostando, Baixo, mas nunca ^^,,^etros. os seios de
a julgar por seus requebros para Inarte. O ga cgo er "íetrach "melUdo debaixoquede pare-
espuma de borrac uma
nindo tomava conta do bar, quase todo mundo estava
drcopo na mão, nisso começou a tocar um tango com blusa ;7/seL braços estavam cheios de
.Ifi:. i-v Í^.VC''^ Àir-^MMh
a orqL-stra de Lomuto, formaram-se pares, os rapa/.cs ciam pernas P ^epilados e descoloridos, os
n^sobraram começaram a dançar uns com os outros pulseiras e J seus dedos ondulantes,
e não fiquei muito surpreso quando Mto me agarr anéis pareciam esc h senhorita Maggi e
pela cintura e mc empurrou para o me,o ^ ^ agor.á clc bávi» s^» ^ ;„p,i„ava para
- Sc a gente ficar parado aqui, vai pisar para com um gesto „assagem. Nilo se perguntava
„ nosso lado - disse ele. - Não pise nos meus pes. apresentá-la e ar- \ - continuava parecendo ela
''""-'Não sci dançar - falei, embora ele dançasse
'i-^,l■5■>í^- 'l;': •■: ■" pior que eu. Estávamos na metade do tango e Nito
., ,fe
■E
dhava de ver. em quando para a porta entreaberta Xncelbasestn.c^m.™^^^^^
me dirigira oportunidade
a primeira dev,a8ar para aquele lado P"", ' ' "
que apareces era o da ^ ^uge e a franjinha ruiva. Cs
conta de que o galego Manolo continuava b en«o
voltamos para o centro e /Xncram
brincadeiras com Kurchin e (lomez. qu 215
-í.. , ■ ■ ■'v"-V;:V' . ; • "■?
214

■■í'L:'Cü';ífc ■',.' ■ ■ ■'.■O'

swsiíffiíídÊ^^fa^
A F.SC01.A A NOITF.

h UO CORTÁZAR

frieza quase condescendente; o Capenga nos lançou


um olhar possivelmente surpreso mas que pareceu
ser substituído por uma aceitação distraída, como se
alguém )á o tivesse avisado.
- Ele não percebeu, cara - eu disse a Nito o mais ■
veio ^nosl direção; dei uniforme
essão deeleverparecia muito
fios grisalhos
baixo que pude.
- Não seja trouxa - disse Nito -, você acha que ele :„r co™ .da >«««. ha»
%' não está vendo que nós dois estamos vestidos como
uns condenados, neste ambiente?
Ele tinha razão, estávamos de calças velhas por
causa do lance da grade, eu em mangas de camisa e
Nito vestindo um pulòver fino com uma das mangas e Fiori ficou olhando para nós duramc a'®"" <='2'°:
bastante esburacada no cotovelo. Mas o Capenga já nos sentíamos cada vez mais como recrutas diante
estava pedindo que lhe dessem uma bebidmha nao o„ tenente badem--^ '{^^1
'Ül
muito forte, pedia a bebida ao galego Fernando com
gestos de puta caprichosa enquanto a senhorita Maggi oma^pom lateral entreaberta. - Na próztma reunião
P.> i*1.^-LiS--SjÊfe.-?!!Kã

f solicitava um uísque mais seco do que a voz com que ■"^'''rrh3S!meempurrandocom


i>: 1 o pedia ao galego. Outro tango estava começando e . r^rPu
Í;Í.ÍL#J
I- todo mundo começou a dançar, nós em primeiro lu brutalidade EU teria
lena gostado
gOo, de recriminá-lo pelo
gar, de puro pânico, e os recém-chegados junto com
os outros, a senhorita Maggi dirigindo o Capenga so ri''Ira para verchique
Ime^ue era Moreira)
ássemos àporlaveio
emeparasegurou
cima
no jogo de cintura. Nilo teria gostado de se aproximar
de Kurchin para tentar arrancar alguma coisa dele, a '°"-°VeX dalar na outra sala, louro, isto aqui é
gente se entendia melhor com Kurchin do que com
os outros, mas era difícil naquele momento em que
os ca.sais passavam uns pelos outros sem se tocar e 'í dÍoís- disse Nilo imr mim.-A gente jd vala.
nunca restava espaço livre durante muito tempo. As _ Ah ita noite todo mundo está me deixando
portas que davam para a sala de espera do (.apenga
■"i:'í;ítiSÉ.;íC"5 continuavam abertas c quando nos aproximamos, '""fuí na frente, náo sei por que me «guetodo
, ■ •^'•;i'.--;'SiV,vi^^-,V
.*: -^''- L--^
' -t\ ü.'.v
numa das voltas, Nito viu que a porta do escritório ÍudaaUuraestávamosemfal
1 frpdta em vez de abrir atadeporquês;Ni
porta para trás.to.que
Mas
também estava aberta e que lá dentro havia pessoas
conversando e bebendo. De longe reconhecemos 2i7

216

t: - f-. ST^xIí'^'^ "i a " i'^' -

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A escola a noite
Jl LIO OORT A/.AK

me seguia em silêncio, olhava para o amplo saguão de que idiotamente escolhera a outra porta por erro
sombrio e tinha entrado de novo num dos pesadelos ou de pura raiva. Impossível dar meia-volta e ir atrás
que costumava ter com a escola, ali onde nunca havia de mim, a luz. roxa do salão e os rostos olhando para
um porquê, onde a única possibilidade era seguir em ele imobilizavam-no de repente naquilo que um olhar
frente e o único porquê possível era uma ordem de fora suficiente para apreender, o saião com o enorme
Fiori, aquele cretino vestido de milico que de repen aquário no centro erguendo seu cubo transparente
te se somava a todo o resto e nos dava uma ordem, até o forro, mal deixando lugar para os que. grudados
funcionava como uma ordem que éramos obrigados nos vidros, olhavam para a água esverdeada. para
a obedecer, um oficial no cornando e que ninguém os peixes deslizando lentamente, tudo num silêncio
se meta a saber a razão de nada. Mas aquilo não era que era como outro aquário externo, um petrificado
um pesadelo, eu estava ao lado dele e pesadelo não é presente com homens e mulheres (que eram homens
uma coisa que se sonha a dois. que eram mulheres) grudando-se aos vidros, e Nito
- Vamos dar o fora, Nito - eu disse a ele na dizendo para si mesmo agora, agora retroceder, Toto
metade do saguão. - Tem de haver uma saída, não seu imbecil onde você se enfiou, seu trouxa, querendo
é possível. dar meia-volta e fugir, mas fugir de quê, se não esta
- Sim, mas espere, estou com a setisação de que va acontecendo nada. se estava ficando imóvel que
tem alguém nos espionando. nem eles e vendo-os olhar os peixes e reconhecendo
- Não tem ninguém, Nito. Mulis, Porca Delucía, outros do sexto ano de letras,
- Justamente por isso, seu trouxa. perguntando-se por que eles e não outros, como já
- Mas Nito, espere um pouco, vamos ficar para se perguntara por que sujeitos como Raguzzi e Fiori
dos neste lugar. Preciso entender o que está aconte e Moreira, por que justamente os que não eram nos
cendo, você não percebe que... sos amigos pela manhã, os estranhos e os merdas,
- Olhe lá - disse Nito, e era verdade, a porta por por que eles e não Láinez ou Delich ou qualquer dos
onde havíamos passado agora estava escancarada e o companheiros de conversa ou andanças ou projetos,
uniforme de Fiori se recortava nitidamente. Não havia por que então foto e ele entre esses outros embora
nenhuma razão para obedecer a Fiori, era só voltar e fosse culpa deles por lerem invadido a escola à noite,
afastá-lo com um empurrão, como faz.íamos tantas o essa culpa os reunira a todos aqueles que durante o
vezes, empurrando-nos de brincadeira ou a sério nos dia eles não suportavam, os piores filhos da puta da
recreios. Também não fazia sentido a gente seguir escola, sem falar no Capenga e no puxa-saco do Inarte
em frente até ver duas portas fechadas, uma lateral e mesmo na .senhorita Maggi, que também estava Ia.
e outra de frente, e Nito .se enfiar por uma delas e se quem diria, mas ela também, ela, a única mulher de
dar conta tarde demais de que eu não estava com ele, verdade no meio de todos aqueles veados e infelizes.

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A ESCOLA A NOITE
fUIJO Cortazar

Nisso um cachorro latiu, não era um latido for outra silhueta que se deslocava vagamente avançando
te, mas cortou o silêncio e todos se voltaram para o a partir de outro fundo mais profundo.
fundo invisível do salão, Nito viu que da neblina roxa - Venha, filhinho - disse a voz. - Venha até aqui,
emergia Caletti, do quinto ano de ciências, de braços não tenha medo.
para cima ele vinha do fundo como se deslizasse en Não sei como consegui me mexer, o ar e o chão
tre os outros, segurando lá no alto um cachorrinho eram como um mesmo tapete esponjoso, a poltrona
branco que tornava a latir c que se debatia, de patas de armação cromada e os aparelhos de vidro e as lu
amarradas com uma correia vermelha e com uma zinhas; a peruca loura e esticada e o vestido branco da
coisa que parecia um pedaço de chumbo pendurada senhorita Maggi fosforesciam vagamente. Uma mão
na correia vermelha, uma coisa que o submergiu len agarrou meu ombro e me empurrou para a frente, a
tamente no aquário onde Caletti o arremessara com outra mão se apoiou em minha nuca e me obrigou
um gesto decidido, Nito viu o cachorro afundando a sentar-me na poltrona, senti na testa o frio de um
pouco a pouco entre convulsões, tentando soltar as vidro enquanto a senhorita Maggi ajustava minha
patas e voltar para a superfície, viu-o começar a se cabeça entre dois suportes. Quase encostada nos
afogar de boca aberta e soltando bolhas, mas antes olhos vi brilhar uma esfera esbranquiçada com um
que ele se afogasse os peixes já o estavam mordendo, pequeno ponto vermelho no centro, e senti muito
arrancando tiras de pele de seu corpo, tingindo a água de leve o contato dos joelhos da senhorita Maggi
de vermelho, a nuvem cada vez mais densa ao redor quando ela se sentou na poltrona que estava do outro
do cachorro que ainda se agitava em meio à massa lado da armação de vidros. Manipulando alavancas
fervilhante de peixes e sangue. e engrenagens, ela ajustou ainda mais minha cabeça,
Tudo coisas que eu não conseguia ver porque a luz ia ficando verde, depois ficava de novo branca,
atrás da porta que acho que se fechou sozinha havia o ponto vermelho crescia e se deslocava de um lado
unicamente escuridão, fiquei paralisado sem saber para outro, com o que me restava de visão para cima
o que fazer, do outro lado não se ouvia nada, então eu conseguia ver como uma espécie de halo o cabelo
m Nito, onde estava Nito. Dar um passo à frente naquela louro da .senhorita Maggi, só o vidro com as luzes
escuridão ou ficar ali parado era o mesmo espanto,
e sem dúvida um tubo por onde ela devia estar me
de repente senti o cheiro, um cheiro de desinfetante, olhando separavam nossos rostos.
de hospital, de operação de apendicite, quase sem me - Fique quietinho e olhe bem para o ponto ver
-V-':'i c • ^ '•■ -.y:
dar conta de que meus olhos estavam se acostumando
melho - disse a senhorita Maggi. - Está conseguindo
com o escuro e que não estava escuro, ali no fundo
ver bem o ponto?
:^-íi-:;; havia uma ou duas luzinhas, uma verde e depois uma
- Estou, mas...
amarela, a silhueta de um armário e de uma poltrona.
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220

M.-'
A ESCOl.A K NOITE
lin.lO COIITÁZAK

- Não fale, fique quieto, assim. Agora me avise


quando parar de ver o ponto vermelho.
Sei lá se estava vendo o ponto ou não, fiquei
em silêncio enquanto ela continuava olhando pelo
outro lado, de repente eu me dava conta de que além
da luz central eu estava vendo os olhos da senhorita
votoaco,noamâodaKnhoritaMapit«hendo-mc
Maggi atrás do vidro do aparelho, seus olhos eram ' um iãoresis.a-avozvi„tadoofego,.raoprop
de lento abandono interminável. o
castanhos e por cima o reflexo incerto da peruca
loura continuava ondulando. Passou-se um momento ofego a falar comigo goze.
interminavelmente curto, ouvia-se uma espécie de ^dar pelo menos algumas golas para os exames.
arquejo, me veio à cabeça que era eu, pensei qual
quer coisa enquanto as luzes iam mudando pouco a suave de um reciplenie ali-de
pouco, concentravam-se num triângulo avermelhado
com bordas roxas, mas talvez a pessoa que respirava
fazendo barulho não fosse eu.
lliil
- Ainda está vendo a luz vermelha?
- Não, não estou vendo, mas tenho a impressão 1
■i»!
de que...
- Não se mova, não fale. Olhe bem, agora. e abotoâVil 3 uirití
Eu sentia um hálito que vinha do outro lado, um Trrtad":::" s rorila Maggi m» moslrand»
perfume quente em lufadas, o triângulo começava a se '' 1 Oltodo para mim sem expressão, um roslo
transformar numa série de listras paralelas, brancas e -A -i m>ruca violentamente iluminada pela
azuis, meu quei.xo aprisionado no suporte de borracha "L jogado em cima dela ali
doía, eu teria querido levantar a cabeça e me liberar « Âra(ando-a agora que não havia nenhuma
: ■■ :■;I daquela gaiola na qual me sentia amarrado, a carícia razão para não
■ > f .-;>•■ -1 entre as coxas me chegou como se viesse de longe, a
■ ,; ■ ii'.■■ ■ríí■■;■•:V.- . ■;
mão que subia entre minhas pernas e que localizava
, ;-/í;..i .f■ i;"iá;J;' ''■'^i um a um os botões da calça, enfiava dois dedos,
acabava de me desabotoar e procurava algo que nao
se deixava segurar, reduzido a um nada lamentável, distância e se perdia em sua própria curva, numa
' ■•' ■ ■ 'v" ■ . ■ í'-' : - " ■'
até que os dedos o envolveram e delicadamente o Ltidão onde faltava Nito. onde senti a ausência de
retiraram para fora da calça, acariciando-o devagar 223
222

- '"vi.-. ^ ': . ^ ,ife.--íi i-io,.


■ pVv' , ^í--'
)ui.ll) CORTÁZAR A rscoLA A son t

Nito como algo insuportável e corri até o ângulo e com um guincho de triunfo, os outros saíram de
quando vi a única porta me joguei contra ela e estava seus esconderijos aplaudindo e o Capenga tirou a
fechada à chave, esmurrei-a e ouvi as pancadas como venda e amarrou-a cm Larranaga. fazia isso com
um grito, me apoiei na porta resvalando pouco a pou grosseria e apertando os olhos dele embora o baixinho
co até ficar de joelhos, talvez fosse fraqueza, a náusea protestasse, condenando-o a ser aquele que teria ile
depois da senhorita iMaggi. Do outro lado da porta procurá-los, a galinha cega amarrada com a mesma
ouvi a gritaria e as risadas. força impiedosa com que antes haviam amarrado as
Porque lá dentro riam e gritavam alto, alguém patas do cachorrinho branco. E outra vez dispersar-se
havia empurrado Nito para forçá-lo a avançar entre entre risos e cochichos. o professor Iriarte aos saltos,
o aquário e a parede da esquerda, por onde todos Fiori procurando um lugar para se esconder sem
se moviam em busca da saída, Caletti mostrando o perdera calma fanfarrona. Raguzzi estufando o peito
caminho com os braços para cima como havia mos c gritando a dois metros do baixinho Larranaga que
trado o cachorro ao entrar, e os outros seguindo-o partia para cima dele mas não encontrava mais que
entre guinchos e empurrões, Nito com alguém atrás ar, Raguzzi fora de seu alcance com um salto gritando
que também o empurrava chamando-o de moloide e para ele Mc Tarzan, you Jane, cretino!, o baixinho per
de preguiçoso, ele ainda não havia acabado de passar plexo dando voltas e procurando no vazio, a senhorita
pela porta e a brincadeira já começava, reconheceu o Maggi que reaparecia para se abraçar ao Capenga e rir
Capenga, que entrava por outro lado de olhos venda de Larranaga. os dois com gritinhos de medo quando
dos e apoiando-se no galego Fernando e em Raguzzi, o baixinho se atirou na direção deles e escaparam por
ambos atentos para que ele não tropeçasse ou fosse pouco das mãos estendidas dele, Nito pulando para
de encontro a alguma coisa, os outros já se escondiam trás e vendo como o baixinho agarrava Kurchin, que
atrás das poltronas, num armário, debaixo de uma .SC distraíra, pelo cabelo, os berros de Kurchin, e Lar
cama, Kurchin havia subido numa cadeira e passado ranaga arrancando a venda mas sem soltar a presa,
dali para o alto de uma estante enquanto os outros os aplausos e os gritos, de repente silêncio porque o
se dispersavam pelo enorme salão e esperavam os Capenga erguia uma das mãos e Fiori ao lado dele .se
movimentos do Capenga para escapulir na ponta dos posicionava em atitude firme e dava uma ordem que
pés ou chamando-o com voz de falsete para enganá- ninguém entendeu mas não tinha problema, o uni
-lo, o Capenga se requebrava e soltava gritinhos com forme de Fiori personificando a ordem propriamente
os braços estendidos tentando agarrar alguém, Nito dita, ninguém se movia, nem mesmo Kurchin com
* . • ..,"'^rí^-.; "-'' ■': s'^^iirr. ^ ■ . e-".
teve de fugir na direção de uma parede e em seguida os olhos cheios de lágrimas porque Larranaga eslav.i
esconder-se atrás de uma mesa com vasos e livros, e quase arrancando o cabelo dele, segurava-o a seu lado
quando o Capenga capturou o baixinho Larranaga sem soltá-lo.
■ -"■ - VV .■"' '-!■'; "...
225
224

■í"^' d

''õ.* •: \•• . í?"


Jlüo Coriazar
A KSCOI A A SOITK

Tusa ordenou o Capenga. - Agora tusa e


caricatusa. Dé-lhe.
caricatusa. bater e bater!", algumas mãos já eram pu
^rranaga não compreendia, mas Flori apontou nhos caindo sobre os flancos e a cabeça de Kurchin.
Kurchin com um gesto seco e então o baixinho puxou- que berrava pedindo perdão sem conseguir se livrar de
-o pe/o cabelo obrigando-o a se agachar cada vez mais, Fiori, da chuva de pontapés e bofetadas que o cercava.
os outros ;á estavam começando a fazer uma fila, as Quando o Capenga e a senhorita Maggi gritaram uma
mu^eres aos gritinhos e recolhendo as saias. Perrone ordem ao mesmo tempo. Fiori soltou Kurchin, que
na frente e depois o professor Iriarte. Moreira toda caiu de lado. com a boca sangrando, do fundo do salão
melindrosa. Caletti e a Porca Delucía. uma fila que ia veio correndo o galego Manolo e o ergueu como se
ate o fundo do salão e Larranaga segurando Kurchin fosse um saco, tirou-o dali enquanto todos aplaudiam
agachado e soltando-o de repente quando o Capen raivosamente e Fiori se aproximava do Capenga e da
ga fez um gesto e Fiori ordenou "Saltar sem bater!", senhorita Maggi como se os consultasse.
errone liderando e atrás a fila inteira começaram a Nito retrocedera até fi car na beirada do círculo
^uiltar apoiando as mãos nas costas de Kurchin arquea- que começava a se desmanchar sem muito empenho,
do como um leitãozinho. saltavam cm ordem mas como se quisesse continuar a brincadeira ou começar
gritando "Tusa!". gritando "Caricatusa!" toda vez que outras, dali viu como o Capenga apontava com o
passavam por cima de Kurchin e faziam de novo a fila dedo o professor Iriarte, viu Fiori aproximar-se dele
do outro lado. davam a volta no salão e começavam e falar com ele, depois de uma ordem seca todos co
de novo. Mito quase no fim saltando o mais levemente meçaram a entrar em formação em quatro fileiras, as
que podia para não esmagar Kurchin. depois Macias mulheres atrás, e Raguzzi assumindo a po.sição de líder
deixando-se cair como um saco. ouvindo o Capem-a do pelotão, olhando furioso para Nito que tardava a
guinchar "Saltar e bater!", e toda a fila passou de novo encontrar um lugar qualquer na segunda fila. Tudo
por cima de Kurchin. só que agora fazendo o possível Í.SSO eu vi claramente enquanto o galego Fernando me
para chutá-lo e golpeá-lo no momento do salto, iá trazia por um braço depois de me encontrar atrás da
haviam desmanchado a fila e cercavam Kurchin. com porta fechada e de abri-la para fazer-me entrar com
as mãos abertas davam-lhe tapas na cabeça, nas costas. um empurrão, vi como o Capenga ea senhorita Maggi
I Ho erguera o braço quando viu Raguzzi aplicando o .se instalavam num sofií encostado na parede, os outros
■ j- -i.íí? V
primeiro chute nas nádegas de Kurchin. que se con que completavam a formação, com Fiori e Raguzzi à
traiu e gritou. Perrone e Mutis chutavam suas pernas frente, com Nito pálido entre dois caras da segunda
enquanto as mulheres castigavam o dorso de Kurchin fileira, e o professor Iriarte dirigindo-se ao grupo
f:-;:Vv-Í:;; v;v:n:v£-:,.- como se estivesse numa sala de aula. depois de uma
, ■ . r,'^ ".'í-jr.r' '
que uivava e queria se levantar e fugir mas Fiori se'
■" - ■ ,.•■■■ .í.í, ; vr
aproximava e o prendia pelo pescoço gritando "Tusa. saudação cerimoniosa ao Capenga eà senhorita Maf-gi,
eu dando um jeito de desaparecer entre as loucas do
226
227
-Í.
A ESCOLA A NOITE
JULIO CORTA/AR

fundo que me olhavam rindo e cochichando até que


e passei o ferrolho que cintilava maravilhasamen^
o professor Iriarte pigarreou e houve um silêncio que
na penumbra, comecei a correr por uma galeria, urn
se prolongou até sei lá quando.
TJ2, duas salas vazias e às escuras tendo ao fundo
- Procederemos à recitaçào do decálogo - disse o
outro corredor que levava diretamente a galeria que
professor Iriarte. - Primeira profissão de fé.
dava para o pátio do lado oposto à sala dos professo
Eu olhava para Nito como se ele ainda tivesse
res Eu não me lembro direito daquilo tudo, eu nao
condições de me ajudar, com uma esperança idiota de em lis procurando
slbm que minha própria fuga,barulho,
não fazer algo quedeslizando
corna na
que ele me mostrasse uma saída, uma porta qualquer sobre o piso até chegar à escada de
por onde fugir, mas Nito não parecia tomar conhe -Ia de três em três degraus e sentir-me impulsionado
cimento de que eu estava ali atrás, olhava fixamente por essa quase queda até as colunas do penst.lo onde
para o espaço como todos, imóvel como todos agora. Lavam o poncho e também os b^ços abertos d
Monotonamente, quase sílaba a sílaba, o grupo
ealego Manolo impedindo que eu avan^a-ssc. |á falei,
recitou:
Luco me lembro dessa história toda, pode ser que tu
- Da ordem emana a força, da força emana a Lha dado uma cabeçada violenta no estômago dclc
ordem.
- Corolário! — ordenou Iriarte.
ou acertado um pontapé em sua barriga, o poncho se
Lroscounumdosespetosdagradernasmesn^^^^^^^^^^
- Obedece para mandar, e manda para obedecer consegui subir e saltar, na calçada havia um cinza úl
- recitou o grupo. amantcer e um velho andando devagar, o cinza sujo
Era inútil esperar que Nito se virasse, tenho inclu dTaürora e o velho que ficou olhando para mim com
sive a impressão de ter visto que seus lábios se moviam cara de imbecil, de boca aberta para um grito que nao
como fazendo eco ao que os outros recitavam. Me
apoiei na parede, um painel de madeira que rangeu, ""^^^PasteToLmingo inteirinho em casa sem m^
e uma das loucas, acho que Moreira, olhou para mim mexer, por sorte me conheciam na família e ninguém
assustada. "Segunda profissão de té", ordenava Iriarte ficou me fazendo perguntas a que eu nao teria respon
quando percebi que aquilo não era um painel, mas dido ao meio-dia liguei para a casa de Nito mas a mae
uma porta, e que essa porta cedia pouco a pouco en dele me disse que ele não estava, à tarde fiquei sabendo
quanto eu me deixava escorregar numa náusea quase que Nito voltara mas que tinha saído de novo, e quan-
agradável. "Ai, mas o que você está sentindo, meu do liguei às dez da noite um irmão dele me disse qu
querido?", conseguiu cochichar Moreira, e o grupo não sabia onde ele estava. Achei uma coisa absurda e c
já recitava uma frase que não entendi, girando de não ter vindo falar comigo, e quando cheguei a escola
lado passei para o outro lado e fechei a porta, senti a na .segunda-feira achei ainda mais absurdo dar com
pressão das mãos de Moreira e Macias tentando abri-la
229
228

■.^^.\V.-:- "",V -í ----:H=-^" -n" '


"=--"- , - - . --gi
A KSCOLA A NOITE
)UI 10 CortX/.ak
mesmo Não. disse Nito. e naquela palavra solitária
na entrada, ele que batia todos os recordes em matéria parecia haver uma outra voz. você não vai subir agora.
de chegar atrasado. Estava falando com Delich, mas Toto primeiro nós dois vamos ter uma conversa.
se afastou dele e veio ao meu encontro, estendeu a Era ele. claro, mas foi como sede repente eu nao o
mão para mim e eu a apertei embora fosse esquisito, reconhecesse. Aquele "não" que ele me dissera poderia
era tão esquisito aquilo de nos cumprimentarmos ter sido dito pelo Fiori. que agora chegava a»®*"®" ^
com um aperto de mão ao chegar à escola. Mas que evidentemente em trajes civis, e cumprimentava com
diferença faria se aquele outro assunto jorrava aos um sorriso altaneiro que para mim era no^dade. Fi
borbotões, nos cinco minutos que faltavam para tocar a sensação de que de repente tudo se condensava n.
a campainha tínhamos tantas coisas a nos dizer, mas üuilo no "não" de Nito. no sorriso inimaginável d
então como você fez. como conseguiu íligir. comigo o outra vez o medo daquela fuga na noite, das
problema foi o galego, que apareceu na minha frente escadas mais voadas que descidas, dos braços abcr
e aí. é. já sei. Nito estava me dizendo, não fique tao Hn aaleuo Manolo entre as colunas.
exaltado. Toto. me deixe falar um pouco. Cara. mas é ® Tpor que razão eu não subiria? - pergunte,
que .. Sim. claro, não é para menos. Para menos. Nito. absurdamente. - Por que razão eu não denuncaria o
você está me gozando ou o quê? Temos que subir e
denunciar o Capenga agora mesmo. Espere, espere. Cr/pèrigÍo - disse Nito. - Aqui Jão dd
esfrie a cabeça. Toto. para a gente conversar agora, mas no café eu lhe cx-
A coisa prosseguia, como dois monólogos cada lico. Fiquei mais tempo que você, entende.
um do seu lado. de alguma maneira eu eslava come - Mas no fim você também fugiu - eu
çando a me dar conta de que alguma coisa não estava se habitasse uma esperança, procnr^ào-o como
batendo, de que Nito parecia estar com a cabeça em f|p não estivesse ali na minha frente.
outro lugar. Moreira passou por nós e cumprimentou mo. não foi preciso fugir, Toto. E por tsso que
com uma piscadela, de longe vi a Porca Delucía entrar eu estou lhe dizendo para não falar nada agora.
correndo, vi Raguzzi com seu casaco esporte, todos b por que preciso fazer o que você esta me dr-
aqueles filhos da puta iam chegando misturados aos zendoi - gritei, acho que a ponto de chorar, de bater
amigos, a Üanes e Alermi, que também falavam oi.
^ " . ■•-^■JíSissfcSS

viu só a vitória do River. eu não lhe disse. cara?, e Nito "''^'pÔrquféllhor para você- disse a outra voz
me olhando e repetindo aqui não. agora não, Toto. de Nito - Porque você não é idiota a ponto de nao
'Z' ' ? na saída a gente conversa no café. Mas olhe lá. olhe.
Nito. olhe Kurchin com uma atadura na cabeça, nao
nIrXr que se abrir a boca isso vai lhe custar caro.
Agora você não tem como entender, e precisamos m ,
t,!rnasaladeaula.Masouçaoqueestoulhed,zcn
posso calar a boca. vamos subir nós dois. Nito. se voce
• v^l.j j| í não for eu vou sozinho, juro que vou sozinho agora
231
230

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->-. '-f-V-lIr'"^

T.u. ..5
luiJO Cortazar
Coleção lAPM POCKET (iançamentos mais recentes)
se você disser uma única palavra vai se arrepender pelo $07(6) I>e*erabaieand«ocoíestenil IV. Fi.mtndo
1^; A primrlf» «o redor do mondo Fucchesc c FcrrenxUi LucdhP*
Anionio Ptgaítfiu 508-Eaiodo» de mulher Bal/ac
resio da vida, isso se estiver vivo. l'm« «ombro ot jaocU - Simcnon $t>9.0 terceiro tira lUnnO Ilncn
Ele estava brincando,claro, não era possível que 4^Sn5l A Bolie do mcroailbodt - Stmtrwrt
A «elho senhor» - SifiKmm
$ 10.100 recdla» de avrsr «vos J. A. P. MactuhV»
SU.Garticld em toneladas de dlverUti t •») Jirii
estivesse me dizendo aquilo, mas era a voz, a forma I57-S»rlrc • Anr.ic Col»cn-Solal
458.0iscoroo do método * Rcnc Descones Davi»
5l2.Trrm-baU - Manha Mcdeino
como ele me dizia aquelas coisas, aquela convicção 454.CorMd em gronde forma(I) ■ Da% b $l3.0scács ladram Friiman Capuic
itrff.Carfield csii de dírta(3|- J«m !)*«»
514.0 Karoa Sutr» dc Vatsyajrana
e aquela boca apertada. Como Raguzzi, como Fiori, 461.0 livro da» feras - Paukia Highsmiih 515.0 crime do Padre Amaro - l'V« de (Jm-m./
462.Vlajai)l« sotillrio - Jack Kcrouoc 5 l6-0da de Ricardo Rcfa ■ remaml.» IVsvu
aquela convicção e aquela boca apertada. Nunca 463.Attlo da barca do Inferno - íjiI Vicente $|?.OIaveroodatioi»adeae^»eni«ça SiriidH-vL
4W.O livro vermHho do» pensamentos de MUlôr 51 g.Pira ttu do Tteté (I) - lacitc
saberei sobre o que os professores falaram naquele ' Mülôí Fernandes
$|9.Ré Bordosa: do começo ao fim • Angcli
465.0 livro do» abraços - Uduardo(laicano
dia, o tempo todo sentia nas costas os olhos de Nito 520-O llarleni é escuro - Cbcsíer llinic\
4n6.\'ollarrmos! • Jtise Anionio Pirdieifo Machado
467 Raofto - tdgar S2I CalMa-iwioBá dos campcôei - Kurt
cravados em mim. E Nito era outro que não acom 522.EiigéoleCraBdel - Bal/ac
468<S|0»rta mediterrinea - í>: Fernando üaarnese 525-0 último magnata - F. Scoji Fit/vcmld
panhava as aulas,agora ele não estava nem um pouco c José Antonio Pinlwifo Machado 524.Caro! - Patrícia Híghsmiih
469.Radiccl5-loiti
4T0.Pequeno» pâasaros - Atwb 525.100 receitafdepatliseria-Silvi« l^tuhrlhMii
preocupado com as aulas, as cortinas de íiimaça do 4TI.CuU prático do Pocl«tui» correto - %oU 526.0 fator bamano - Oraham Chwnc
527.Trisle»aa - Jack Kcrouac
Capenga e da senhorita Maggi para que aquela outra Cléudio M««rTK»
4"2.AIÍrc no planhta - [)a\»d GikhÜv 528.0 diamante do laraatsbo do Kit/. SmUI
Fit/gcmtd
coisa, a que realmente importava, fosse se realizando 4*5.AnloloRla Poétka • Uarcia l.orca
474,Alesandrc e César • Plularc*» 529.AS melhoies histórias de Shcf lock Iloimev
Anhur Coaan !>«•> !c
pouco a pouco, assim como pouco a pouco haviam 4''5.lltna espiá na casa do amor - AnatvNin 53(J.Car1a» a um jovem poeta - Rilkc
476-A gorda do Tiki Bar - fíalior» I tcs isan 53 |(20)-Mem6rias de Maigret - Simcivvn
sido recitadas para ele as profissões de fé do decálogo, 47?.CarfteÍd um gato de peso(3) Jnn Daviv 532(4VO misterioso *r. Quln -Agatha Chrisiif
478.Canibab - Ihtvid Coimbra
uma após outra, tudo aquilo que eventualmente iria 533.0» anaketoa tonhicio
479.A ane de escrever - Anhin S<t*«penhaiíet 534(21 > Maigret e o* homem de bem - SimcrsHi
4K0.PináquÍo - Cario Collodí 535(22) O medo de Malgrel -Simenoo
nascendo da obediência ao decálogo,do cumprimento 48I.Mí»to-<|ü*nte - BuVowski^
556 AscensáoequcdadeCéatr Blraneau IL-tl/.v
4S2 A lua na sarjeta - David Ooixltv
futuro do decálogo, tudo aquilo que ele aprendera e 483 O melhor do Recruta Zero(I) Mort WalUr 537 Sesta<fèlra negra • David Goodis
538 Ora b^a» - O humor de Mario Quintana
prometera e jurara naquela noite,e que eventualmente 4S4 Aline: TPM - teoslo pré-mooviroal |2) - Juarc/ Fonseca
Adio Itumis^arai 539.Longe daqui aqui mesmo - Antonio Hivar
se realizaria para o bem da pátria, quando chegasse a 4K5 Sermões do Padre Antonio Vieiro
486 Garfield numa boa(4)- Jim Dav »v
541X5)^ fácil maur Agalha Christic
54LO pai Goríot - Bal/ac
hora,e o Capenga e a senhorita Maggi dessem ordens 4&7.Men»agem - Fernando Pevv.j
488Aeitdeia icewdb Jc A par ccnjogal - Ü»\u< 54? Brasil, ora país do futuro - Stcfan Z.wcig
para que começasse a realizar-se. 484 Poemas de Alberto Caeiro Fernando Pc^soj *43 O processo - RalVi
544 O melhor de H«gar4 - Dik Brownc
440.Ferragu5 - Honoié dc Bal/ac 545(6).Por que nio pediram a Evans? Ag.iiha
441.A duquesa de Langeais HonorC dc Uaboc Chrisiie
442.A menina dosolhos de ouro I Uwfédc Bal/ac $46 Fanoy Híll - iohn adand
403 O lirio do vale - HofKTé dc Bal/ac 547-Ogaio por dentro - Wílliam S. Biimviighv
444t 17) A barcaça da morte - Simctiori $48 Sobre a brevidade da vida - Scnwa
4q5( l K).As testemunha» rebeldes - Simciion .«i49.GeraWi« (I) - Glauco
496tl9)-Um engano de Maigrrt SimciM*i
55().Pir«tas do Tleté (2) - Lacrtc
497(1) A noite das brusa» - Agatha C hnstie 551.Pagaiidoo paio - Ciça
498(2)Utn passe de mAgica - Agjlha Chnssie 552.Carfleld de bom humor (6) lim Uiviv
499(3) Némesis - Agaiha Clirisuc 553.Conbece o Mário? vol.l - Santuigi»
100 Esboço para uma teoria da*emoções - Sanie 554.RadÍcci6~Ioni
SOI Renda báska de cidadaab - l-Jiaxdo SupUc> 555.0* tubterrineos - Jack Kcnmjc
><l2(t).rilulas para viver melhor Ih. LutxhcscS56< 1 ).Balxae - Francoiv Taillandicr
503(2)rnula» para prolongar a juventude - 557(2).ModlgJiani -Chrislian Panwu
<t>4í5) Desembarcando c diabete» IV Lucclrew 558(3).Kalka -Géraíd-Gcurv»^ Iciimii»
Lucchcsc

505(4) Desembarcando o «edeotarUmo - Ot 559(4)J6Uo César WISchnikIt


560.Reeelta* da família - J A pM«lu ii.»M»t.*.('«
Fenundt^ Lucchcsc c Cláudio Castro 561 Boas maneira* A mesa (Viu Itil-
■^06(5).Desembarcando a hípcrtensio - Or 562(9).niho*»adlMv, p»B feU/rv P |'him.. ii..(|.
Lucchcsc
232

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