Resumo
Introdução
1
Texto apresentado como Primeira Verificação de Aprendizagem na disciplina ‘Sociologia Rural’, ministrada no
curso de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no segundo semestre de 2014.
no campesinato. Mauro William Barbosa de Almeida e José de Souza Martins, se colocados
em paralelo, conceituam as entrelinhas da vida das populações rurais. Indicam em seus
estudos formas de vida, de interação e de perfil que, mesmo que as inovações das áreas
técnicas da sociedade tentem implantar-se no campo, o formato social dessa esfera reagirá de
forma muito própria, se não economicamente, culturalmente. Ao fazer paralelos de questões
sócio-economicas com considerações infraestruturais, tais autores saem do patamar técnico
para então poder obter uma verificação mais periférica do sentido rural. Tendo início na
França, com o reflexo do camponês clássico, a Sociologia se propôs a estudar cientificamente
o trabalho rural e suas consequências ao esbarrar nas novas modalidades de superprodução
urbana. A Sociologia Rural chegaria então para desmistificar e desanuviar o camponês que
sofreu mutação identitária com o advento dos pluralismos culturais no mundo e permitir
assim um novo caráter ao ruralismo. Porém, ao se deparar com as transformações ocorridas de
cunho infraestrutural, tais pesquisadores perderam o tato científico do estudo das cosmovisões
do camponês e acabou por se guiar em um viés seco, baseado nas transformações produtivas
apenas.
De Marx até os tempos atuais: como se deu a ruptura do homem com o seu bem
José de Souza Martins (2001) vai afirmar que não só o Brasil, mas o mundo tem “... um
pesado débito para com as populações rurais...” (MARTINS, 2001), já que toda a consistência
dos estudos da Sociologia Rural é centrada na questão dos avanços desse setor (econômicos e
de tecnologia). Respeitando a história, o paralelo entre Freyre e Martins se mantém coeso a
partir do momento em que deve ser imaginada a origem da capitalização camponesa. Os
colonos povoam esse setor, o setor cresce, as comunidades são acachapadas pelas senzalas, as
matérias primas são plantadas para bens de consumo e exportação, e então a vida agrária, uma
vez subsistente vai caminhando para uma industrialização. O que se perde, em toda essa
consistência, é, de fato, o elemento humano. O contingente achatado pelos avanços da era
urbana no país.
Aqui o autor não propõe um juízo de valor da situação, mas encara essas duas possibilidades
como algo forte. Ao fazer esse levantamento, Almeida prova, então, que há implicações
sociais no ethos do campesinato e que, não apenas existe um código de ética e de conduta
nesses locais, mas também, um forte apego a modalidades de cultura (a tradição e a abertura
para “inovações”).
Este panorama serve como base para ajudar a observar um organismo pulsante e o
descaso para com o mesmo em nome de um progresso. Em Jollivet, nota-se que o autor
procura desvendar o porquê de se assumir um caráter investigador na Sociologia Rural atual,
principalmente se for pautada na ideia de “conservar a história”:
Aqui, ao tentar negar a história, emprega-se um valor idealista de que tudo caminha
para um momento de eclosão. Talvez isso se expresse nas revoluções ou motins de ordem
social, mas é conservador no sentido de não mudança de opinião. Como se considerasse que o
progresso fosse inevitável, e que o próprio levaria tudo com ele (tradições, culturas milenares,
etc.).
Jollivet, então faz o movimento contrário e propõe um conchavo entre as novas teorias sociais
(iniciadas a partir de 1970) sobre a junção das ciências da natureza com as ciências humanas e
sociais. Neste caso, avalia-se a extensão dos problemas. Se o estudos das ciências sociais
focaliza o sintoma, o problema em seu apogeu, as ciências da natureza tentam elaborar a
solução. Porém, a solução veio antes e causou o problema, no caso rural. O autor acredita que
globalmente, a macroestrutura na sua ânsia por infraestrutura esqueceu o elemento humano e
o colocou contra a parede ao destinar as regiões rurais para o uso tecnológico em massa. As
ciências da natureza cumpre então o papel, aqui, de suprimir o fator humano, gerando
desempregos em todo o mundo. Com esse advento, o ruralismo perde as forças e compele os
seus trabalhadores a irem tentar a vida nas grandes cidades, dissolvendo muitas vezes
comunidades que se alimentavam e sobreviviam com recursos tirados direto da natureza,
porém subsidiados por empresas rurais.
A compreensão de vida rural para Martins, transgride qualquer formação identitária. A lógica
é a de que, se ter contato com a natureza é algo do passado, o ocidente enxerga como um
hábito ultrapassado e não assimila mais essa tarefa como algo racional. Mas, do ponto de vista
naturalista, se o indivíduo não conseguiu se desapegar desse estilo de vida, é porque o mesmo
suplantou a modernidade e a absorveu de modo a extrair o melhor dela. O rural é isso, uma
extração primorosa do que foi e do que já é. Um choque de realidades muito pulsante, que não
se limita a uma sociedade essencialmente campestre, mas que desenvolve os seus próprios
sinais e incorporações da vida rotineira, não sendo apenas “... instrumentos da produção
agrícola” (MARTINS, 1998, p. 35), mas sim protagonistas dos dilemas mais primários da
sociedade urbana.
É de suma importância destacar que, embora a Sociologia tenha falhado em suscitar o caráter
potencial das áreas rurais, o simples fato de redescobrir uma circunstância que se aplique a
conceitos universais, como é o caso do campesinato, faz valer a pena todo o hiato científico.
A vida campestre redescoberta traz a tona, também, a própria origem do ser humano e a sua
identificação inata com os recursos naturais da terra. Talvez seja por isso que o campo, hoje,
seja essa miscelânea de comportamentos e hábitos, já que o trabalhador não se limitou a
reproduzir o mercado, com o tempo, mas sim, introduziu o capitalismo e a vida rural dentro
de um meio termo, dando perfil e corpo a esse setor. Se no começo dos tempos o campesinato
era considerado cultural, parcial e econômico, hoje em dia o pluralismo das ações individuais
empregam ainda mais janelas ao que deve ser uma identidade de um determinado local, logo,
emprega também a sua importância no mundo. O Ruralismo embora não tenha passado
incólume pela mundialização do capital, deixou o rural imune a esses princípios e o deixou
autônomo para criar as suas próprias feições.
Referências
MARX, Karl. A chamada acumulação primitiva. O Capital. Livro I – vol, 2. 8ª Edição. São
Paulo: Difel. 1982. P. 828-882.
MARTINS, José de Souza. O futuro da sociologia rural e sua contribuição para a qualidade de
vida rural. In: Estudos sociedade e Agricultura, n. 15, out/2000, p. 5-12.
GARCIA JR., Afrânio. A sociologia rural no Brasil: entre escravos do passado e parceiros do
futuro. Estudos Sociedade e Agricultura, n. 19, out. 2002, p. 154-189.
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Olhares sobre o rural brasileiro. O mundo rural
como espaço de vida. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009 (p. 263-296).