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ISSN: 1984 -3615

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I ENCONTRO INTERNACIONAL E II NACIONAL
DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO
&
IX JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA
2010

TOPOGRAFIA DA LACEDEMÔNIA: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA


DOCUMENTAÇÃO CLÁSSICA

Luis Filipe Bantim de Assumpção1

O presente artigo visa realizar uma descrição topográfica2 das duas principais áreas de
influência, política e militar, de Esparta: as regiões da Lacônia e da Messênia. Por se tratar de
uma pesquisa que lida com questões da Antiguidade, se faz necessário à utilização de uma
documentação, a qual sirva de base para as nossas conjecturações históricas. Para tal, optamos
por utilizar o texto clássico de Estrabão (Strabo/Strabon) intitulado de “Geografia”
(Geographica), no qual o autor faz uma descrição detalhada do relevo, da hidrografia e até
mesmo do contingente populacional, embora este último aspecto seja abordado de maneira um
tanto breve.

Antes de nos enfocarmos no período em que Estrabão viveu e produziu sua obra
(século I a.C. e I d.C.)3, se faz essencial tecer uma reflexão sobre o conceito de
interdisciplinaridade; tal conceito pode parecer muito óbvio nos dias atuais, no entanto requer

1
Luis Filipe Bantim de Assumpção é pesquisador do Núcleo de Estudos da Antiguidade / UERJ. O mesmo é
orientado pela Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido (NEA/PPGH/UERJ - PPGHC/UFRJ).

2
A topografia é um ramo da geografia, definida como uma “representação da forma, declividade, tamanho e
altitude do relevo de uma determinada área”. LIMA-E-SILVA, Pedro Paulo de.(org.). Dicionário Brasileiro de
Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: THEX ed., 1999. p.228;

3
Estrabão escreve no período de dominação romana na Hélade, mas uma grande parte do que descreve fala do
período clássico grego (séculos V e IV a.C.). Para que não entremos em contradição cabe ressaltar que a obra de
Estrabão é muito extensa mencionando e estudando elementos da topografia de boa parte da região do Mar
Mediterrâneo, e no que condiz aos aspectos geo-topográficos da Hélade, só trabalhamos com os livros que falam
sobre Lacônia, Messênia e a região do Peloponeso;

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explicações para termos noção das fronteiras existentes entre o campo histórico e geográfico4,
e em que pontos ambos podem convergir na produção de conhecimento.

Como nos apontou Hugo Hassinger, “a estreita relação entre a Geografia e a História,
é tão antiga como ambas as ciências e se manifesta já, de maneira viva, nas narrações de
Heródoto”(HASSINGER,1958:13), por mais que estes saberes não tenham sido denominados
desta forma no Mundo Antigo e não tenham existido enquanto disciplinas neste momento
histórico (Antiguidade), nós podemos perceber nos escritos de Heródoto5, uma estreita relação
entre a Geografia e a História. Embora Heródoto tente manter seu foco nas interações entre os
homens de sua época, e anterior, o mesmo se preocupa em detalhar as regiões do império
Persa, e a maneira como os homens se relacionavam com o seu espaço físico. As reflexões
realizadas sobre o homem e o espaço poderiam ser percebidas em outros autores clássicos,
como Tucídides6, pois notamos em seus escritos o processo de interações sóciopolíticas com
os elementos geográficos.

4
Geografia (geo= terra, grafia= descrição), “em síntese, é a ciência que estuda o espaço ambiental e os
fenômenos de transformação deste espaço na superfície da Terra, transformações estas relacionadas de alguma
forma com o lugar, quer sejam de origem natural ou artificial”. LIMA-E-SILVA, Pedro Paulo de.(org.).
Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: THEX ed., 1999. p.120, 121;

5
Heródoto acabou sendo conhecido como “pai da História” pelo seu tipo de narrativa, e graças a sua única obra
que nos chegou, esta com o nome de “História”;

6
Tucídides, assim como Heródoto, viveu no período grego clássico (séculos V e IV a.C.), e procede de uma
maneira parecida ao descrever os ambientes geofísicos aonde ocorreram as batalhas durante as Guerras do
Peloponeso;

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Ao pensarmos na figura de Braudel, já em meados do século XX, e seu apelo em


produzir um estudo interdisciplinar entre as ciências sociais7, podemos notar a complexidade
de seus estudos e maneira pouco simplória como tais ciências se integram em nosso momento
histórico.

Tomando novamente as palavras de Hassinger,

[...] as duas disciplinas se complementam precisamente por suas


naturezas, pois todos os acontecimentos humanos estudados pela
História estão inevitavelmente ligados ao espaço, como todas as
situações naturais, culturais e políticas do globo tratadas pela
Geografia, estão ligadas ao tempo (HASSINGER, 1958:13)

O autor acaba determinando as esferas de atuação das duas disciplinas, a História


ligada ao espaço, e a Geografia ao tempo. Tais idéias convergem com a perspectiva de
Braudel, que buscava promover uma interação entre as ciências sociais.

Na tentativa de reaproximar a História da Geografia, Fernand Braudel escreve a obra


“O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Filipe II”. Fernando Perlatto ao refletir
sobre os escritos de Braudel destaca que “(...) o espaço, para Braudel, explica diversos
aspectos das civilizações e a geografia torna-se instrumento fundamental para a compreensão

7
Essa referência ao apelo de Braudel foi retirada do artigo do Prof. Hindenburgo F. Pires, aonde o autor do artigo
faz a descrição completa do referido apelo de Braudel. Ver: PIRES, Hindenburgo F. Reflexões sobre a
contribuição da Geografia histórica e da Geohistória na renovação dos pensamentos geográfico e histórico no
século XX. IN.: I Colóquio Brasileiro de História do Pensamento Geográfico. Disponível em:
http://br.monografias.com/trabalhos909/reflexoes-sobre-contribuicao/reflexoes-sobre-contribuicao.shtml,
consultado dia 15/04/2010;

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de uma sociedade.” (PERLATTO, 2005:04), e com essa atitude, acaba por se aproximar da
proposta de Marc Bloch, de se fazer uma “História Total”, ou seja “(...) a história como uma
totalidade de múltiplas temporalidades(...)”(PIRES,2008:12). Enfatizando as questões
geográficas nas regiões do Mediterrâneo, Braudel valorizou o tempo de “longa duração”, que
foi caracterizado pelas estruturas, nas quais os elementos se modificariam de forma lenta, mas
terminam influenciando os que vivem nesta localidade (PERLATTO, 2005:04-5).

No livro “Sociedade Humana e Natural no tempo – Temas e Problemas de geografia


Histórica”, Gaetano Ferro, geógrafo italiano que em meados do século XX, desenvolveu um
trabalho de pesquisa sobre a região de Algarve, em Portugal, descrevendo condições regionais
do ambiente, valorizando fatores históricos como determinantes na conclusão de sua tese
(FERRO, 1979: 5-20). Com isso, Ferro expõe que, há na Itália a partir da década de 1950 uma
valorização da Geografia Histórica, e nesta mesma obra aponta os principais autores,
contemporâneos a seus estudos, que visavam desenvolver uma proposta semelhante as suas.
Segundo Ferro, a proposta de interdisciplinaridade, também foi proposta por geógrafos do
início do século XX, evidenciando que as preocupações advindas de Braudel também
existiram por parte dos geógrafos (FERRO, 1979: 54-55).

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Nesta mesma obra Gaetano Ferro define termos como “Geografia Antiga”8,
“Geografia Histórica”9, “Topografia Histórica”, como ciências pertencentes ao campo
geográfico, porém que possuem uma ligação direta com a História, e que seriam
imprescindíveis para a formulação da compreensão do passado.

Dentre as terminologias acima, a que melhor se encaixa em nossa proposta é a de


“Topografia Histórica”, que por mais que possa se confundir com a “Geografia Histórica”
aborda questões distintas:

[...] se a análise não abrange todo um país, estado ou determinado tipo


de paisagem, mas antes uma área limitada, um lugar, faz-se topografia
histórica, a qual, no entanto prepara os materiais para a consideração
de espaços mais vastos, isto é, para a geografia histórica. (FERRO,
1979:43);

E como último esclarecimento, Ferro afirma que:

[...] os estudos de geografia e geografia histórica permaneceram no


âmbito da disciplina geográfica; os da topografia histórica foram quase

8
A Geografia Antiga é definida como: “(...) o conjunto dos conhecimentos geográficos possuídos na Antiguidade
(...)”FERRO, Gaetano. Sociedade Humana e Natural no tempo – Temas e Problemas de Geografia Histórica.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. p.32;

9
Já a Geografia Histórica, Ferro define como “(...) parte da ciência geográfica que se liga mais firmemente e
mais diretamente à História, tendo por objetivo estudar e ilustrar as mudanças dos nomes geográficos e das
fronteiras, as deslocações dos povos com suas leis (...), o acréscimo ou a diminuição dos domínios territoriais”.
FERRO, Gaetano. Sociedade Humana e Natural no tempo – Temas e Problemas de Geografia Histórica. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. p.35;

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sempre confiados a arqueólogos e estudiosos da Antiguidade,


sobretudo a Clássica [...] (FERRO, 1979:43)

Ao interagirmos os estudos apontados anteriormente, com a obra de Estrabão, nós


poderíamos supor que em termos atuais, o autor estaria realizando na maioria dos seus livros
um trabalho de Topografia Histórica, mas ao integrá-los, como um todo, ele estabeleceu a
Geografia Histórica das localidades.

Estrabão, segundo H.C. Hamilton e W. Falconer10, provavelmente nasceu em 66 a.C.


próximo a um desfiladeiro nas montanhas que passam pelo rio Íris (atual rio Ieschil Irmak), no
Pontus (localizado nas imediações do Mar Negro), e morreu em 24 d.C.11. A pesquisadora
Daniela Dueck nos informa que, Estrabão viveu em um período de dominação romana no
Pontus, entretanto, esta região outrora teria sido governada por reis, e estes seriam grandes
admiradores e apoiadores da civilização helenística (DUECK, 2000: Passim).

Mesmo sendo uma datação aproximada em relação ao nascimento e a morte de


Estrabão, o mesmo não viveu, como foi mencionado anteriormente, em um dos períodos de
apogeu da cultura grega, ou seja, a época Clássica. O autor acaba por descrever esse período
histórico, e parece ser uma importante documentação referente às descrições topográficas da
antiguidade. Tomados os devidos cuidados de análise em relação a esta obra, e munidos da
historiografia atual, nós tentaremos descrever historicamente a topografia das regiões da

10
Ambos foram responsáveis pela tradução completa desta obra de Estrabão, compilada pelos mesmos em três
volumes. As mesmas obras contaram com uma pequena biografia da figura histórica de Estrabão. STRABO. The
Geography. Trad. H.C.Hamilton e W.Falconer. London: Henry G. Bohn, York Street, Covent Garden. 1857;

11
Tanto para o seu nascimento, quanto para sua morte, não existem datas precisas. Todas são aproximadas,
devido à falta de documentação necessária para comprovar tais suposições;

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Lacônia e da Messênia, assim tentando perceber a influência do relevo como fator de


desenvolvimento e transformação da sociedade Lacedemônia.

Tanto a Lacônia quanto a Messênia, se encontravam na região conhecida como


Peloponeso, tal região compreendia em seu âmbito territórios de grande importância na
antiguidade, tais como: Argos, Arcádia, Elis, Acaia (ou Aquéia), Messênia, Lacônia e Corinto;
destas regiões, a mais próxima geograficamente da Ática (onde se encontrava Atenas) era
Corinto. Estrabão afirma que tanto o comprimento quanto a largura do Peloponeso, tinham
medidas parecidas, ou seja, cerca de 14 estádios (GEOGRAPHICA,VIII, 2, §1).

Mapa do Peloponeso12

12
Mapa capturado do site:http://www.algosobre.com.br/images/stories/historia/esparta_territorio.jpg Acessado
em:20/04/2010.

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Tendo a região do Peloponeso como referência, partiremos para uma análise da


Lacônia, para posteriormente descrevermos a Messênia. Ao nos valermos dos estudos de Paul
Cartledge, nós poderíamos definir a região da Lacônia em “[...] seis secções [...]: a orla leste
do Parnon; o Parnon; a orla oeste do Parnon, incluindo a península de Malea; o sulco do
Eurotas; o Taygetos [...]; e a orla oeste do Taygetos” (CARTLEDGE, 2002: 11) Era na
Lacônia que a pólis de Esparta estava estabelecida, as margens do rio Eurotas. Nos dizeres de
Michael Whitby:

(...) os quatro vilarejos de Pitana, Mesoa, Limnae e Cynosoura, que


juntamente com a ‘próxima’ Amyclae, constituíam o centro político da
pólis ‘sem muro’ dos Lacedemônios, conhecida por conveniência
como Esparta, localizada a 40 quilômetros do mar, no fértil vale do
Eurotas, que formava o núcleo da Lacônia, o território de Esparta
(WHITBY, 2002: 1)

Destes vilarejos descritos por Whitby, somente Amyclae e Limnae são mencionados
por Estrabão, o qual apresenta Amyclae separada de Esparta, e menciona um templo a Dioniso
em Limnae (GEOGRAPHICA, VIII, 5, §1). É possível que a região não apresente os demais
vilarejos, por estes se identificarem como uma unidade territorial, sendo que Amyclae só teria
sido anexada ao território espartano posteriormente, seguindo as afirmações de Whitby, já na
contemporaneidade (WHITBY, 2002:1).

Em relação aos limites territoriais da Lacônia, Estrabão nos informa que o Taygetos se
encontra a uma curta distância do mar, e ao Norte com o sopé das montanhas da Arcádia
(GEOGRAPHICA, VIII, 5, §1), sendo o monte Taygetos, também, o limite da Lacônia com a
Messênia. Não sabemos informar o motivo, mas Estrabão não menciona o monte Parnon, que

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limitava a leste o contato de Esparta com o mar. No entanto, o mesmo autor fala sobre os
cabos13 que havia ao Sul, no golfo da Lacônia, o cabo Taenarum e o cabo Malea, que mantém
estes nomes até os dias de hoje, e cita um porto que havia neste golfo, o Gytheion.

Diferentemente da historiografia atual, a documentação de Estrabão praticamente se


silencia em relação ao rio Eurotas. O rio formava um vale fértil, assim possibilitando a
compreensão de que Esparta poderia ser auto-suficiente em questões de produção de alimentos
(HODKINSON apud. WHITBY, 2002:86). Tal assertiva se faz de suma importância, pois na
Hélade havia outras regiões não tão providas de terra, como Atenas, na Ática. Basicamente, o
autor de nossa documentação resume o território da Lacônia em algumas regiões principais,
tais como o Taygetos, os cabos Malea e Taenarum, o vilarejo de Amyclae, o porto de
Gytheion e a própria Esparta, embora cite outras localidades. Mesmo fazendo uma descrição
geográfica, Estrabão se preocupa em enfatizar as questões de dominação da região pelos
descendentes de Héracles, e a maneira como os mesmos dividiram o território.

No que condiz a Messênia, da mesma maneira que procedeu com a Lacônia, Estrabão
relata os aspectos de colonização e interação política em tempos mitológicos. O autor afirma
que durante a Guerra de Tróia, Agamêmnon promete sete cidades a Aquiles, e só o faz porque
estas terras estavam diretamente ligadas a sua família. Estas cidades eram Cardamylê, Enope,
Hire, Pherae, Antheia, Aepeia e Pedasus (GEOGRAPHICA, VIII, 4, §1). Destas cidades,
somente Cardamylê (Kardamylê) e Pherae (embora esta também seja conhecida como

13
Cabo: parte saliente da costa, que avança em direção ao mar em forma de ponta. LIMA-E-SILVA, Pedro
Paulo de. Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: THEX ed., 1999, p. 33;

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Kalamata), mantém a mesma nomenclatura nos dias de hoje, as demais tiveram seus nomes
substituídos, respectivamente por: Gerenia; Abiae; Thuria; Corone e Methone14.

Uma outra cidade que Estrabão menciona, é a lendária Pylos, sede do reino de Nestor,
um dos três reis que dividiam o Peloponeso, junto com Menelau e Agamêmnon. Através da
exposição destes fatores, percebe-se a importância política da região, que durante o período da
Guerra de Tróia, manteve sua acrópole em Ithome, um monte situado em seu território, e que
entre o seu vale e o vale do Taygetos corre o rio Pamisos. Graças a esse rio, a Messênia se
tornou uma região de grande fertilidade, como afirma José F. de Moura, embora não de
maneira exclusiva ao território da Messênia:

“Desde que tinham estendido o poder à região da Messênia, em cerca


de 720, os esparciatas conseguiram garantir para si um regime agrário
que os conduzisse a uma auto-suficiência em termos de alimentos. As
regiões da Lacônia e da Messênia dominadas por eles constituíam
juntas cerca de 250 mil hectares de terras extremamente férteis”15.

Continuando sua descrição, Estrabão menciona o golfo da Messênia, o rio Nedon em


Pherae, e também a importância das sete cidades citadas acima. Embora seja uma descrição
geográfica de grande importância, principalmente no que condiz a Antiguidade, a utilização do

14
Tais correspondências só foram possíveis graças ao site de uma agência de viagens, que disponibiliza os nomes
históricos das cidades. O endereço é: http://www.gtp.gr/LocPage.asp?id=60867&SearchType=1. Acessado dia
19/04/2010;

15
MOURA, José Francisco de. Os menosprezados da História. Algumas reflexões sobre o estatuto de
agricultores, artesãos e comerciantes na Grécia Antiga. O caso de Esparta. IN.:
http://www.heladeweb.net/N1%202001/Jose_francisco.htm , 2001. p.22;

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conceito de Topografia Histórica poderia ir de encontro com o de Geografia Política, que lida
com as interações sociais entre os homens de determinadas regiões. Estrabão acaba por
minimizar sua análise topográfica, por interesses de cunho político, e até mesmo mitológico,
no que condiz a colonização e dominação dos respectivos territórios.

Para evidenciar a concepção da relação entre História e Geografia, nós iremos nos
valer das reflexões de Michael Whitby, sobre a importância do relevo para a história de
Esparta. O autor analisa as montanhas como um elemento importante para se compreender a
movimentação no território Lacedemônio. Além disto, o espaço montanhoso em torno desta
pólis levou ao seu respectivo “isolamento” e protegendo-o, de possíveis invasões vindas do
Norte (da Arcádia e de Argos).

Corroborando com Whitby, a pesquisadora Sarah Pomeroy afirma que um dos fatores
determinantes para que Esparta dominasse militarmente os territórios ao seu redor, foi à
distância consideravelmente longa entre o centro urbano da pólis e seu porto em Gytheion
(cerca de 50 quilômetros). Devido sua localização atípica, Esparta desenvolveu uma forma
peculiar de se adquirir terras para a população crescente, aliviando a pressão causada por essa
expansão demográfica no seio da pólis. Ao invés de fundar colônias (aonde a única que se tem
registro seria Taras, no sul da península itálica), encontrou na dominação militar a resposta
para suas questões relacionadas aos aspectos político-sociais e geográficos (POMEROY,
1999: 134). Através das afirmativas de Whitby e Pomeroy, podemos perceber a relevância das
cadeias montanhosas para a história de Esparta, em detrimento da importância marítima, vital
para outras póleis da Hélade (WHITBY, 2002: 23-28).

Em suma estamos munidos, neste artigo, do conceito de interdisciplinaridade. Logo,


nós percebemos através da análise da documentação, que relacionando os fenômenos de cunho
temporal com o espacial, a construção do saber acadêmico se amplia em torno das Sociedades
Antigas. No que diz respeito à Esparta, e suas principais áreas de influência, o entendimento

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de seus respectivos aspectos físicos, pode nos fornecer informações em relação aos modos de
vida das populações que ali habitavam, e as suas interações com os estrangeiros.

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DOCUMENTAÇÃO TEXTUAL

STRABO. The Geography. Trad. H.C.Hamilton e W.Falconer. London: Henry G. Bohn,


York Street, Covent Garden. 1857;

BIBLIOGRAFIA

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Routledge, 2002;

DUECK, Daniela. Strabo of Amasia: a Greek man of letters in Augustan Rome. London:
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Geografia Histórica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979;

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HASSINGER, Hugo. Fundamentos Geográficos de la História. Barcelona: Ediciones


Omega, 1958;

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estatuto de agricultores, artesãos e comerciantes na Grécia Antiga. O caso de Esparta.
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UFJF,2005;

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Geohistória na renovação dos pensamentos geográfico e histórico no século XX. In.: I
Colóquio Brasileiro de História do Pensamento Geográfico, 2008. Disponível em:
http://br.monografias.com/trabalhos909/reflexoes-sobre-contribuicao/reflexoes-sobre-
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REFERÊNCIAS DE SITE

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