Fortaleza-CE
Junho, 2010
2
Fortaleza - Ceará
2010
3
__________________________________________________________________________
CDU 342.34
___________________________________________________________________________
4
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Prof. Dr. Martonio Mont’Alverne Barreto Lima
Orientador da Universidade de Fortaleza
______________________________________________________
Profª Drª. Maria Lírida Calou de Araújo e Mendonça
Examinadora da Universidade de Fortaleza
_______________________________________________________
Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo
Examinador da Faculdade Christus
5
AGRADECIMENTOS
Nós somos o que vocês foram, nós seremos o que vocês são.
Canto espartano.
7
RESUMO
O governo do homem sobre o próprio homem não é fenômeno novo. As causas da
associação política podendo ser atribuídas a vários fatores, tais como a
necessidade, a imperfeição ou o medo. As teorias mais aceitas são as
contratualistas, que reconhecem um contrato imaginário: o pacto social.
Estabelecido o governo como maneira de atingir o bem comum, serão as formas que
este assume o passo seguinte. As formas de governo são muitas, dependendo de
cada autor a classificação. A democracia é uma delas, e ganha em importância por
ser largamente adotada nos países ocidentais. Antes de analisar a democracia nos
seus aspectos particulares, é necessário que certos elementos constitutivos da
comunidade política sejam examinados. O primeiro deles é o poder. Numa
abordagem realista, tem-se que o poder é uma energia em inação que assume os
contornos de quem o guarda para dispender. Subjetivamente, o poder é a conversão
da potência em ato, por um agente, que se assenhora de suas faculdades. Outro
elemento é o povo. E difícil determinação e conteúdo vago, o povo se confunde com
outros conceitos, como população, nação, ou colégio eleitoral. O sufrágio é a forma
como a democracia escolhe os representantes políticos. Embora sendo universal,
demanda exigências para o exercício. Em seguida, afasta-se a idéia de justiça da
política, para, ato contínuo, relacioná-la com a moral. Na segunda parte deste
estudo, a democracia é analisada sob múltiplas óticas, desde algumas
considerações gerais, até características que a diferenciam das demais formas de
governo. Examina-se a regra da maioria e sua validade. Igualmente, faz-se uma
análise da democracia que conclui pela sua vocação procedimental. Ao fim, a
ditadura é examinada como forma de governo, encontrando-se algumas
semelhanças entre ela e a democracia. A conclusão é pelo aperfeiçoamento
funcional da democracia.
ABSTRACT
The government of man over man himself is not a new phenomenon. The causes of
political association may be attributed to several factors, such as the need, the
inadequacy or fear. The most accepted theories are the contractarian, which
recognize a contract imagination: the social pact. Established the government as a
way of achieving the common good, the forms it takes are the next step. Forms of
government are many, depending on the classification of each author. Democracy is
one of them, and gains in importance because it is widely adopted in Western
countries. Before discussing the democracy in their particular aspects, it is necessary
to examine certain components of the political community. The first is power. In a
realistic approach, we have that power is an energy that takes the inaction form of
those who guard it to spend. Subjectively, the power is the conversion of power into
act by an agent, who take possession of his faculties. Another element is the people.
It is difficult to determine and vagueness. The people get confused with other
concepts, such as population, nation, or the electoral corps. The vote is the way
democracy choose political representatives. Although it is universal, voting demands
requirements for the exercise. Then, the idea of political justice is avoided, and
related to morality. In the second part of this study, democracy is analyzed from
multiple points of view. Some general considerations and characteristics that
differentiate democracy from other forms of governments are taken account.
Therefore, the rule of the majority and its validity are studied. An analysis of
democracy is made, which concludes to its procedural vocation. In the end,
dictatorship is examined as a form of government, meeting some similarities between
it and democracy. The conclusion turns to the functional enhancement of democracy.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 09
CONCLUSÃO ............................................................................................. 75
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 78
10
INTRODUÇÃO
De tal sorte, este estudo pretende trazer à tona uma abordagem que seja
tópica do ponto de vista de cada um dos elementos; e sistêmica, para verificar a
compatibilidade entre eles. Não se trata de uma ação deliberada contra a
democracia, mas de pôr o regime e seus institutos sob prova.
1
SALDANHA, Nelson. Secularização e democracia: sobre a relação entre formas de governo e contextos
culturais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 62.
14
todas as coisas: O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são, porque
são, e daquelas que não são, porque não são2.
2
PLATON. Théétète. 152. ed. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 127.
15
A natureza, nesse particular, pode assumir outra forma que não a da causa
eficiente do mundo fenomênico, ou da força ativa regente da ordem e do universo. A
personificação dessa ordem ganha um nome – Deus – e uma estrutura – a Igreja.
Como as características do divino são, todas, expressão da suma verdade, não há
3
Ibid., 1959, p. 914.
4
KANT, Immanuel. Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Martins
Fontes, 2003, p. 11.
5
ARISTÓTELES, Politica. 1252b. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1413.
6
Ibid., 1964, p. 1414-1415.
7
Ibid., 1964, p. 1415.
8
Ibid., 1964, p. 1415.
16
que cogitar questioná-las. Mas o incremento da razão entre as almas humanas não
poupou do teste racional nem a religião nem seu Deus. No outono da separação da
religião e da ciência, ainda alguns autores apelaram para argumentos
aparentemente racionais como forma de justificar o governo da providência, ou seu
indicado, sobre os homens.
9
FILMER, Robert. Patriarcha. London: Transaction Pub, 2009; BOSSUET, Jacques Bénigne. Politique tirée
des propres paroles de l’Écriture sainte. Paris: Dalloz, 2003.
10
ACTON, John Emerich Edward Dalberg. Ensayos sobre la libertad, el poder y la religión. Madrid: Centro
de Estudios Políticos y Constitucionales, 1999, p. 68.
11
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 152.
12
Ibid., 1993, p. 160.
13
Ibid., 1993, p. 152.
17
oposto não faria mais que gerar um filho, sem mais se reconhecerem ou à prole, que
seguiria sua vida longe dos pais assim que tivesse meios para tanto14. No mesmo
opúsculo, Rousseau descaracteriza a ingenuidade do homem pela vontade de
usufruir, quando afirma que aquele que não tenha desejos não se daria ao trabalho
de raciocinar15, e pede licença aos moralistas. Acerta, contudo, ao afirmar que o
primeiro sentimento humano foi o da própria existência, e que desde então, o
homem tratou de preservar-se16.
Ora, tão logo o corpo soberano tem que empregar a força que possui, ou
seja, tão logo se torna necessário estabelecer autoridade política, uma vez
que o corpo soberano não pode exercê-la por si só, ele delega, e todas as
suas propriedades desaparecem. A ação executada em nome de todos,
ficando necessariamente, por bem ou por mal, na mão de um indivíduo ou
de uns poucos, resulta que, quando nos entregamos a todos os demais, não
21
estamos, não estamos nos entregando a ninguém .
20
Ibid., 1971, p. 562.
21
CONSTANT, Benjamin. Princípios de política aplicáveis a todos os governos. Rio de Janeiro: Topbooks,
2007, p. 59.
22
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 106.
23
Ibid., 2003, p. 109.
19
licença para dirigir os negócios coletivos tenha surgido pela práxis ou pela ou pela
energia de um só indivíduo, ou grupo, e não pela pactuação.
24
SCHMITT, Carl. Teologia política. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 07.
25
LIMA, Martonio Mont’Alverne Barreto. Súmula vinculante e constituição dirigente: uma questão de
soberania. Separata de Constituição e Estado Social: Os obstáculos à concretização da constituição. Coimbra:
Coimbra Editora, 2008, p. 286.
26
HOBBES, Thomas. Behemot. Chicago: The University of Chicago Press, 1992, p. 08.
27
SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitucón. Madrid: Alianza, 2006, p. 46.
20
30
Inicialmente tido por capacidade ou possibilidade para agir, gerar efeitos ,o
poder assume uma variedade incalculável de definições, traduzindo a noção clara de
que não se contém somente em relação às determinações do sujeito desse poder,
mas ingressa na órbita objetiva, com pretensões universais.
A par disso, a natureza do poder será próxima, mas não coincidente, com a da
vontade, podendo ser extraída como a energia em inação pronta a responder ao
estímulo subjetivo de quem guarda potencial para dinamizar sua vontade e fazê-la
prevalecer. Nesse formato, perde eloqüência a discussão do poder-sujeição, dado
que absurdo o enunciado de um poder que não é hábil a sujeitar a dimensão externa
das coisas, restando a ausência de capacidade como a falta da energia potencial e,
por conseqüência, negando a própria natureza. Com efeito, o poder obedece a uma
escala de potência, que deve ser tanto equivalente quanto à energia em guarda para
dispêndio. Com isso, não se espera mover uma rocha com a energia normalmente
empregada para erguer um livro.
28
Ibid., 2006, p. 47.
29
LASSALLE, Ferdinand. O que é uma constituição. Belo Horizonte: Líder, 2004, p. 42.
30
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 13. ed.
Brasília: Universidade de Brasília, 2007, p. 933.
21
31
ARISTÓTELES. Metafisica. 1072b. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1057.
22
potência, dir-se-á que não esgotou a capacidade de realizar-se em novo ato, daí a
aparência, que nem sempre se revela numa perquirição superficial. A potência, de
sua vez, é propriedade ausente de forma, cujo dimensionamento escapa a um
exame de si em ato, dando vazão à especulação e à prognose pela indefinição que
traz quanto ao ato futuro que irá constituir. As características que revestem a relação
ato/potência fazem sentido no estudo do poder, não por preciosismo bizantino, mas
pelo liame que floresce a partir do método escolhido para inquirir a natureza do
poder – evidentemente sociológico – com destaque para a objetividade do ato.
Assim, o poder se manifesta de forma mais visível à percepção humana em ato,
retirando a centralidade da potência, em que pese o enorme valor deste para a
compreensão sistêmica. Não é custoso recordar que as ações humanas tiveram
antes existência no plano da potência, sem a qual não se poderia conceber sua
realização em ato, em obediência a uma ordenação do juízo que, se não respeitada,
conduz à perplexidade.
Não se define a potência como ato, sob pena de ao vazê-lo operar-se a sua
conversão – conceituar traz à vida - sujeitando-se às críticas a que todos os que se
esmeram em conceituar incorrem. Bem faz a técnica que elimina as probabilidades e
detém-se nas magnitudes. Dessa maneira, não há confusão entre conceito e
realidade, mas, todavia, ressalta um problema que reclama por tratamento: os
limites.
32
ARISTÓTELES, Fisica. 206b. Madrid: Aguilar, 1964, p. 611.
33
Id. Metafisica. 1072b. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1057.
34
KANT, Immanuel. Prolegómenos a toda metafísica futura. Lisboa: Edições 70, 2003, p. 117.
24
Sob a ótica purista da teoria do poder - sua leitura sociológica - assiste razão a
Lassale e sua diagnose de que, em última análise, são as baterias de canhões as
forças concretas que detem o poder35. À luz da lógica, é falacioso afirmar a
domestificação do poder, posto que, realizada, ter-se-ia um hiato incompreensível: a
desobediência ao sujeito de poder, por um lado, pressuporia a sua ausência; ou a
renúncia altruísta em favor de um bem superior diante do convencimento por
argumentos de ordem estranha à certeza material, quer moral ou religiosa, ainda
que reunindo em si toda a aptidão para fazer valer suas determinações; e, de outro
lado, representaria a vitória imotivada da fragilidade, cuja passagem por um estado
de periclitação tenha sido vencido pela crença irracional de superação.
35
LASSALE, Ferdinand. O que é uma constituição? Belo Horizonte: Cultura Jurídica, 2004, p. 52.
25
Não se fala aqui da violência, que em nada toca ao Estado de Direito, posto
que a anuência aos atos extremos somente será socialmente legítima se os perigos
da leniência estiverem a pôr em risco o pacto social. Este mesmo Estado, no
entanto, que se reserva ao monopólio da força, admite núcleos restritos de retorsão
para a preservação do acervo mais dignificado, numa clara demonstração da sua
ineficiência no papel de guardião da totalidade dos bens, além da confissão ficta da
inexatidão de sua onipresença. A tolerância, como a si própria define, já se afigura
como limítrofe da ordem estabelecida, fronteiriça da máxima atuação sobre o
indivíduo. A repugnância social à violência, a quem cede toda a sua reprovação, se
justifica por ser ela a exata negação do Estado, talhado para o alcance do bem de
todos.
36
SPINOZA, Baruch de. Ética demonstrada à maneira dos geômetras. Proposição LXI. São Paulo: Martin
Claret, 2003, p. 344.
37
Ordnunggewalt, em oposição ao Herrschersgewalt da pena de JELLINEK, Georg. Teoría general del
Estado. México: Fondo de Cultura Econômica, 2004, p. 395.
27
38
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 141.
28
Política. Senão veja-se: o debate de fundo que assoberba os ânimos dos estudiosos
se inicia pelo objeto da sobredita ciência, para cindi-la em dois: ciência do poder e
ciência do Estado. Ao argumento de que a Ciência Política examina o Estado, por
sua teoria geral, falece o fato de que é no Estado que se encontra a face mais visível
do poder, sua característica primeira e distinta de qualquer outro ente. Portanto, a
política é a ciência do poder, que se antepõe ao Estado.
Por tudo isso, o verbete acima em referência – poder político – trata de uma
redundância indesejada aos apuros do método. Ora, se a política tem sua raiz
indissociada do poder, admitir uma ciência que se pautaria pela duplicidade de
objeto seria um absurdo inadmissível.
À política têm sido dadas inúmeras definições, desde Aristóteles, para quem a
política é uma associação teleológica de famílias39, passando pela indicação de
política como a arte de conquistar e manter o poder40 ou como a reunião dos
homens para estabelecer vida social em comum, cultivá-la e conservá-la41. Não falta
ainda quem enxergue a política sob as lentes da decisão42.
39
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2003, p. 11; 15.
40
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, passim.
41
ALTHUSIUS, Johannes. Política. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003, p. 103.
42
SCHMITT, Carl. Teoría de la constitución. Madrid: Alianza, 2006, p. 47.
29
43
Eloqüente a reprodução de uma frase de Frederico Guilherme IV, na qual dizia que “Creio-me obrigado a
fazer aqui a solene declaração de que nem agora nem nunca permitirei que entre o Deus do céu e meu país se
deslize a folha escrita à guisa de Segunda Providência [...]” LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição?.
Belo Horizonte: Cultura Jurídica, 2004, p. 53.
44
“Em uma palavra, esta é a melhor e mais natural ordem, que os sábios governem a multidão, se nós estivermos
certos que eles irão governar para o gozo de todos e não para o seu próprio.” Tradução livre do autor.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social ou principes du droit politique. Paris: Aux Éditions du Seuil,
1971. t.2, p. 545. (Oeuvres Completes).
30
O poder não pode ser, nem se advoga que seja, arbitrário. Por arbitrariedade,
lê-se a conduta despida da necessária licença para atuar, movendo-se em oposição
a todo o edifício axiológico-normativo e, traço angular, ausente da autorização social
que se concede, extraordinariamente, para seu emprego. Antagonismo, por
aparência, é útil a qualquer sociedade o consenso, na exata e proporcional medida
da falta cometida como ato propício à dissuasão. A habilidade política de uma nação
deve repousar nos meios eficazes que possui para coibir os excessos da liberdade
individual, ou repará-los. Para estes casos críticos, a norma assume papel
preventivo, apelando às reflexões mais primárias da razão humana pelas quais o
proveito da morte de um de seus pares não recompensa, devidamente, o rigor da
sanção a aplicar-se-lhe.
Sob a ótica purista da teoria do poder ou sua leitura sociológica, assiste razão
a Lassale e sua diagnose de que, em última análise, são os canhões as forças
concretas que detêm o poder48. Entretando não é correto afirmar, sob a luz do poder
in abstracto, que deles se socorra o poder, posto que aí ter-se-ia uma incongruência:
a desobediência ao sujeito de poder presumiria a sua ausência, impondo o recurso
da via de força, subsidiariamente.
45
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.
251.
46
Solum princeps potestas facet legis
47
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich., op.cit., p. 251-252.
48
LASSALE, Ferdinand. O que é uma constituição? Belo Horizonte: Cultura Jurídica, 2004, p. 52.
31
49
Numa perspectiva de poder, Bourdieu assinala o simbolismo imanente às “estruturas estruturadas”.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 8-9.
50
RENAN, Ernest. Qu’est-ce qu’une nation?. Marseille: Le Mot e le Reste, 2007, p. 32-33.
33
não assegura relevância ou aplicação política51. É a vontade de unir-se que cria uma
alma nacional, através de um princípio espiritual, cuja consciência moral pode ser
conhecida por nação52.
51
Ibid., 2007, p. 29.
52
Ibid., 2007, p. 29, 33, 36.
53
CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Livro I, XXV. São Paulo: Escala, [s.d.], p. 30.
34
A esse tempo, estima-se não haver em Atenas mais que quarenta e dois mil
cidadãos55. O contingente de indivíduos privados do exercício da política era,
proporcionalmente aos ativos, muito alto; sendo a justaposição de cada um daqueles
um dado populacional: o plèthos56. A tradição política ateniense assumia, pois, uma
divisão marcante, que se expressava por dois grupos diferenciados, a saber, o
demos e o plèthos. O critério de exclusão não feria o senso comum da época, como
avilta os espíritos de hoje. Qual a implicação política dessa dicotomia? O demos era
um agrupamento seletivo, de ordem qualitativa, enquanto o plèthos formava uma
hoste aberta, de pessoas meramente quantificadas, abandonadas de predicados
que abonassem sua participação política.
54
GLOTZ, Gustave. La cité grecque. Paris: Éditions Albin Michel, 1988, p. 165.
55
Ibid., 1988, p. 166.
56
GOYARD-FABRE, Simone. O que é democracia?. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 20.
35
57
PLATON. Protagoras. 322b. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 90.
58
HÉSIODE. La Théogonie. Paris: Librairie Garnier Frères, [s.d.] passim; ESCHYLO. Prometheu
acorrentado. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907, p. 49.
59
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 183.
36
A partir do século XIX, o conceito de povo iria sofrer uma alteração da qual
não mais se resgataria. O advento, reunido, do industrialismo, da democracia liberal
e do avanço científico proporcionaram a um vasto contingente de pessoas a
oportunidade de progresso material nunca antes experimentada num prazo tão
curto62. A derrubada da fronteira do sangue, pelo prestígio crescente das camadas
burguesas sem ascendência nobre que tornou o tecido social poroso; a Revolução
Gloriosa, que legou o Bill of Rights e a supremacia do Parlamento sobre a Coroa e;
a Revolução Francesa, que reconheceu a força dos sans-culottes; ergueram o povo
a um patamar impensável.
Müller acredita que o povo pode ser dividido, para fins de estudo, em duas
partes distintas: o povo ativo e o povo ícone. O primeiro se refere a um povo
legitimante da soberania, um povo constituído por eleitores e pessoas de atuação
política oblíqua. O povo ícone é aquele que serve de massa de manobra,
abandonado a si mesmo, mitificado e abstrato63.
60
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 13. ed.
Brasília: Universidade de Brasília, 2007, p. 986.
61
LOBO, Abelardo Saraiva da Cunha. Curso de direito romano. Brasília: Senado Federal, 2006, p. 178.
62
GASSET, José Ortega y. A rebelião das massas. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 87.
63
MÜLLER, Friedrich. Quem é o povo? São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 55.
64
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 183.
65
Ibid., 2003, p. 183.
66
MÜLLER, Friedrich. Fragmento (sobre) o Poder Constituinte do Povo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004, p. 60.
37
irretratável não seria obstáculo ao conceito de povo, não fosse a natureza funcional
– no campo político – sua razão de existência, cuja prevalência se deva assumir.
1.3.1 O sufrágio
67
SILVA, Luís Antônio Vieira da. História interna do direito romano privado até Justiniano. Brasília:
Senado Federal, 2008, p. 95.
68
TABOSA, Agerson. Direito Romano. Fortaleza: UFC, 1999, p. 20.
69
MANIN, Bernard. The Principles of Representative Government. Cambridge: Cambridge University Press,
2002, p. 222.
38
70
Nada obstante, Justiniano manteve a impossibilidade de aquisição da cidadania romana, para fins políticos, aos
barbari, que viam aplicado sobre si o jus gentium, sem previsão de manifestação ativa na política do Império.
SILVA, Luís Antônio Vieira da, op. cit., 2008, p. 107.
39
71
Para o “Critério de Sólon”, cf. ACTON, John Emerich Edward Dalberg. Ensayos sobre la libertad, el poder
y la religión. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1999, p. 134; Para o prelúdio da
assistência econômica com fins políticos posta em prática por Péricles, chamada de Misthos, cf. Idem, p. 135;
FABRE, Simone Goyard-. O que é democracia?. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 19; Os efeitos deletérios
do pagamento do misthos sobre a índole do povo, cf. PLATON. Gorgias. 515, c-e. Paris: Gallimard, 1959, p.
472-473.
7272
BUCHANAN, Allen E.; BROCK, Dan W. Deciding for others: The etics of surrogate decision making.
Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 18.
73
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 250.
74
“A região pré-frontal é conhecida como um centro executivo, responsável pelas nossas vontades e desejos e
pelo comportamento social. É a região que permite a consciência do eu, a subjetividade, os valores, as
motivações, ou seja, é ‘a área mais humana do cérebro’. Talvez por esses atributos, está seja a região que tem a
sua maturação mais lenta, sendo que a mielinização completa desta área só aconteça por volta dos 18 anos de
41
permitem o voto dos maiores de dezesseis anos. O critério cronológico não abrange,
todavia, os maiores de dezoito anos cuja rusticidade, baixo desenvolvimento
intelectual ou nível de escolaridade não favoreça à formação de uma massa crítica
capaz de analisar, com desejável precisão, o cenário político. A dissensão na órbita
política é a regra, premia o dualismo social que se apega aos extremos, contudo, as
escolhas meramente baseadas na percepção geral ou na experiência sensorial não
são suficientes para um veredito acertado. É verdade que os doutores divergem
entre si, mas a solidez epistemológica de suas convicções fornece o arcabouço que
sustenta suas idéias. São, pois, adesões voluntárias, livres e ideológicas.
idade.” ANDRADE, Alexandro; LUFT, Caroline di Bernardi; ROLIM, Martina Kieling Sebold Barros. O
desenvolvimento motor, a maturação das áreas corticais e a atenção na aprendizagem motora. Efdeportes
Revista Digital, Buenos Aires, ano 10, n. 78, nov. 2004. Disponível em:<http://www.efdefortes.com>. Acesso
em: 06 jun. 2010.
42
Como função, fica obscurecida a simples existência como fator que permita o
ingresso no gozo dos direitos aludidos. Tal ocorre por conta das características que
cada sujeito deva possuir para o desempenho desejável desses direitos. Desfrutar
de direitos políticos significa influir decisivamente no encaminhamento da sociedade,
ultrapassando a órbita particular e coadunando todos os seus membros. A gravidade
de uma atuação tão extensa exige predicados que vão além da mera existência75.
São os adjetivos do “ser” que o identificam – identificar é diferenciar pelas
características singulares - não resultando a essência em qualquer critério de
diferenciação, tendo em vista seu estado de pureza suprema. A igualdade da
essência tornaria as pessoas iguais em idéia, não em realidade. A realidade impõe
75
“ [...] as leis que estabelecem o direito de sufrágio são fundamentais neste governo [democracia]. Com efeito,
neste caso, é tão importante regulamentar como, por quem, para quem, sobre o que os sufrágios devem ser
dados, quanto é numa monarquia saber qual é o monarca e de que maneira deve governar”. MONTESQUIEU,
Charles de Secondat, Baron de. O Espírito das Leis. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 20.
43
Na harmonia, cada coisa ocupa seu lugar em atenção ao seu fim – postando-
se, neste caso, como matéria teleológica – observados os ditames de uma ordem
universal. A esta ordem predestinada não se poderia escapar, posto que sua
regência seria inexorável e a perfeição sua tradução. Tem-se aqui, pois, a noção de
justiça cósmica, donde se aproxima de uma manipulação superior cujas freqüências
seriam matematicamente perfeitas e conducentes à regular organização do estado
de coisas. Preponderou, nas explicações cedidas à ordem universal, que tratara-se
de uma concessão divina que, à imagem de Sua perfeição, somente poderia cogitar-
se se deste derivasse. A antiga cosmologia recorre a leis e empirias, distintas do
determinismo providencial, para explicar os primores e excelências do arranjo geral.
76
O amor, nesta passagem, representa menos o sentimento humano e designa o poder de atração entre os
elementos. HESÍODE. La Théogonie. Paris: Librairie Garnier Frères, [s.d.], p. 32.
77
Zeus derrota o pai Cronos, e dá início à era dos deuses do olímpo. Cronos não se confunde com o deus do
tempo – Chronos – aquele ligado, pelo significado na etimologia grega, à crença. Cf. nota 34. Ibid., [s.d.], p. 266.
44
O filósofo grego segue na sua inquirição, desta vez dirigida a Polemarco, para
satisfazer sua ânsia pela definição de justiça. Sócrates relembra o conceito emitido
por Simônides, que afirmou ser justo prestar a cada um o que se lhe convier81. A
fórmula vazou o tempo e o lugar para chegar a Roma. No Digesto, Ulpiano define
assim a justiça: Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique
78
BÍBLIA SAGRADA. Êxodo, 10, 13.
79
PLATON. La République. I, 331, c. Paris: Gallimard, 1959, p. 862. No original: “[...] dire la vérité et à
remettre à autrui ce qu’on a bien pu recevoir de lui [...]”.
80
PLATON. La République. I, 331, c. Paris: Gallimard, 1959, p. 862-863.
81
Ibid., 1959, p. 864. No original: “[...] rendre ce qui convient à chacun”.
45
82
ULPIANO apud TABOSA, Agerson. Direito romano. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1999, p. 43.
83
Os três júris praecepta são: viver honestamente [honeste vivere], não lesar ao outro [neminem laedere], e dar
a cada um o que é seu [suum cuique]. Ibid., 1999, p. 64-65.
84
PLATON, op. cit., 1959, p. 864.
85
Ibid., 1959, p.864.
86
Ibid., 1959, p. 865-868.
87
Ibid., 1959, p. 868.
88
Ibid., 1959, p. 873.
46
[...] o juízo ‘bom’ não provém daqueles aos quais se fez o ‘bem’! Foram os
‘bons’ mesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em posição e
pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons,
ou seja, de primeira ordem , em oposição a tudo que era baixo, e vulgar e
plebeu. Desse pathos da distância é que eles tomaram para si o direito de
89
criar valores, cunhar nomes para os valores [...]
Contudo, não soa adequado conjeturar que o justo possa fundir-se ao injusto.
O obstáculo a ser transposto pertence à lógica formal – instrumento adequado à
testabilidade de uma tese ao impedir o seu falseamento – e conhece-se por princípio
da identidade. Por este, não se admite que o justo possa ser não-justo (injusto). A
equação fundamental da não-contradição, ou identidade, repousa na fórmula: “A” é
“A” e não pode ser “não-A”, sob pena de não saber-se indicar o objeto da pesquisa e
de fundir-se a existência com a sua negação.
89
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 19.
90
PLATON. La République. I, 343, d. Paris: Gallimard, 1959, p. 880.
91
Ibid., 1959, p. 896.
47
A moral foi sempre motivo de debates acirrados, não por acaso, os indivíduos
acreditam em uma existência moral, ou na dimensão moral de suas vidas. Tudo isso
se credita aos juízos que as pessoas formulam dos fatos e hipóteses que sua
racionalidade levanta. Toda marcha cujo objetivo central seja a explicação de um
fenômeno - pois que a partida sucede após a verificação da existência do fenômeno
com seus contornos mínimos - deve buscar não apenas a definição do objeto em
exame, embora, por si só, essa tarefa possa ser inglória, mas os fundamentos que o
esclareçam. Igualmente, a investigação deve perseguir os efeitos decorrentes do
objeto em análise a fim de dar lugar à sua otimização, evitando o desserviço do uso
inadequado.
92
Ibid., 1959, p. 896-897.
93
EMPÍRICO, Sexto. Hipotiposis Pirrónicas. Madrd: Akal, 1996, p. 91.
48
necessário com a finalidade de, ao final, extrai-se o Sumo Bem. A moral cede seu
aval a um mal menor para constituir a obra do bem?
A moral helênica deu início a uma tradição que seguiu inabalada por mais de
um milênio. Nos primórdios, a realização do Bem estava em harmonia com os
movimentos heróicos, de ascendência homérica, pois que areté e nobreza fundiam-
se em significado, nada obstante a amplitude do conceito de areté poder estender-
se até para seres irracionais94. A nobreza, como característica de superioridade,
representava um traço de bondade natural, não resvalando nos contornos cristãos
primitivos, como piedade e caridade. Desse modo, areté nutria firme relação com a
capacidade do portador da dádiva, anunciando sua força e valor heróico95, sem que
se pudesse subtrair o caráter de precedência sobre os demais, e sem ocultar os
deveres, preocupações e inquietudes de sua exclusiva responsabilidade96. Assim a
ligação entre Aquiles e Pátroclo. Sob a ótica homérica, é prudente dizer, o herói
pode assumir habilidades divinas e fragilidades humanas, que desenham um quadro
de remorso pela perda de um pupilo - Pátroclo - e a crueldade de uma vingança
mortal contra o algoz – Heitor. A moral do Homem grego, então, deita raiz sobre os
cânticos do poeta, externando a galhardia do herói e os ideais éticos do
aristocrata97, sob os auspícios de Nêmesis, mas sem o vigor da argumentação
descritiva dos filósofos que se lhe sucedem.
94
Assim o cão e o cavalo, em Platão (La République. 335b. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 868).
95
JAEGER, Werner. Paideia. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1962, p. 22.
96
HOMÈRE. Iliade. Paris: Le Livre de Poche, 1963, p. 55.
97
JAEGER, Werner, op. cit., 1962, p. 23.
49
Aristóteles, de sua vez, expõe suas conclusões sobre a moral em três títulos
distintos: Ética a Nicômaco, Das virtudes e dos vícios e Ética a Eudemo. O livro
Política, também traz lições morais, embora aplicadas ao governo civil. Tal ocorre
com a mesótes. Pelo termo, entenda-se a indicação do locus da justiça como sendo
o exato ponto médio entre dois termos extremos102. Para o filósofo, a igualdade que
preside a justiça pressupõe dois termos – dois extremos – diante dos quais a justiça
coloca-se no exato quociente da divisão. O meio termo, extremado pelo excesso e
pela insuficiência - hipérbolê e élleipsis - será o ponto arquimediano da justiça.
98
PLATON. Le Petit Hippias. 375d/376ab. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 18-19.
99
Ibid., 1959, p. 14-15.
100
PLATON. Protagoras. 328c. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 99.
101
PLATON. Ménon. 88. Paris: Librairie Gallimard, 1959, p. 539-540.
102
ARISTÓTELES, Etica Nicomaquea. 1131 a. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1229.
50
103
Ibid., 1964, p. 1231.
104
ARISTÓTELES, Etica Nicomaquea. 1279a e ss. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1462-1478.
51
Os Velhos Padres108, por certo, apontam o sumo bem não como característica
do Altíssimo, senão a totalidade de sua essência. Considerar o Bem como um dos
predicados divinos seria anuir à existência de outros, cuja especulação poderia
indicar uma nobreza inferior. Ainda sob a avaliação da teodicéia, é improvável que
um ser divino, tomado da completude do bem, da onipotência e onisciência,
aceitasse intervir no mundo dos mortais, ou mesmo deixar que isso acontecesse,
causando um grande mal. A anuência Providencial a fatos da maldade seria indício
da presença de um resquício do mal na sua essência, pois que a onisciência
alertaria, se houvesse fato desconhecido ou fora de sua atuação, para a iminência
de uma catástrofe. O bem, certamente, apontaria para a suspensão do mal em via
de se consumar. Se tal não ocorresse, Deus estaria aceitando a obra do mal e, com
isso, deixando-se macular por ele. Se evitasse, sua onisciência restaria em cheque.
106
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Ícone, 2007, p. 8.
107
Bíblia Sagrada, Êxodo, 20.
108
O Bispo de Hipona se pergunta: Que sois Vós, pergunto, senão o Senhor Deus? E prossegue: Ó Deus tão alto,
tão excelente, tão poderoso, tão onipotente, tão misericordioso e tão justo, tão oculto e tão presente, tão
formoso e tão forte, estável e incompreensível, imutável e tudo mudando, nunca novo e nunca antigo, inovando
tudo e cavando a ruína dos soberbos, sem que eles o advirtam; sempre em ação e sempre em repouso;
granjeando sem precisão, conduzindo, enchendo e protegendo, criando, nutrindo e aperfeiçoando, buscando,
ainda que nada Vos falte. [...] Quem me dera repousar em Vós! Quem me dera que viésseis ao meu coração e o
inebriásseis com a Vossa presença, para me esquecer de meus males e me abraçar convosco, meu único bem!
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 26-26.
53
David Hume, por meio de sua epistemologia, erigiu um sistema moral com
bases distintas do maniqueísmo ou do virtuososimo prescritivo antecedente. Suas
conclusões morais não poderiam estar em colisão com a sua teoria do
conhecimento. Com o intuito de uma compreensão mais precisa do sistema moral
de Hume, é necessário o ingresso nas concepções que o autor demonstra no seu
Tratado da Natureza Humana. Na abertura da obra, o filósofo expõe sua grande
divisão da percepção em geral. O faz dividindo-a em impressões e idéias, cuja
distinção reside no grau de vivacidade com que são os Homens por estas afetados.
As impressões possuem força mais vigorosa, enquanto as idéias apresentam uma
sutileza indelével109. As primeiras são marcadas pelo imediatismo da cognição,
geralmente não demandando maiores exercícios de compreensão. As idéias
requerem uma elaboração mais custosa, devendo o sujeito buscar o socorro das
suas faculdades racionais. São, enfim, uma imagem tênue das impressões. Desse
modo, está posto o alicerce do empirismo de Hume, que, em resumo, significa dizer
que não há faculdade da razão pura.
109
HUME, David. Tratado da natureza humana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 29.
110
Ibid., 2001, p. 551.
111
HUME, David. Tratado da natureza humana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 553.
54
Kant ensina que a moral será um imperativo. Mais ainda, será um imperativo
categórico. Isto significa dizer que uma ação só será moralmente aceitável se o seu
modo de proceder for universalizável114. “Em contraste com as leis da natureza, as
leis da liberdade são denominadas leis morais”115.
A ligação entre a moral e a política tem a ver com a finalidade desta última.
Todo juízo moral emitido sobre qualquer objeto que não seja moralmente indiferente
– uma janela aberta, por exemplo – carregará ou subtrairá valor a ele. Se a política é
um meio para conseguir certos fins, então a moral estará presente em todo ato
político como régua de medição para o estabelecimento da finalidade que se
pretende atingir. “Um sábio e profundo teólogo disse que a obrigação moral se aplica
com uma igual verdade à uma obrigação política ou civil”116.
112
RAWLS, John. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 99.
113
Ibid., 2005, p. 99.
114
KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. São Paulo: Edipro, 2003, p. 67-68.
115
Ibid., 2003, p. 63.
116
MAISTRE, Joseph de. Considérations sur la France. Paris: Editions Complexe, 2006, p. 213.
55
56
Decidir sobre a forma que o governo deve assumir traz grande repercussão
na vida política de uma sociedade. Sua influência não altera, contudo, o julgamento
moral que se faz da atuação de um governo. O eixo clássico do motivo do
estabelecimento de um governo é a promoção do bem comum. Esta é sua
teleologia. Nem sempre, porém, se chega a um consenso sobre o modelo
adequado.
Para Otanes, o governo deveria ficar nas mãos do povo, tendo em conta os
extremos de tirania e insolência a que a Pérsia chegou com Cambises. Não entende
117
HERODOTO. Los nueve libros de la Historia. Buenos Aires: El Ateneu, 1961, p. 245 e ss.
57
Dario, de sua vez, discorda das opiniões de seus pares. Não julga o poder do
povo ou a oligarquia salutares, mas opina que um rei excede em muito as duas
formas antecedentes. Opina que não há coisa mais adequada para o governo que
um varão em tudo grande, assistido por uma prudência política igual a seus muitos
58
118
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social ou principes du droit politique. Paris: Aux Éditions du
Seuil, 1971. t.2, p. 543. (Oeuvres Completes).
59
119
Assim, para Locke seriam a oligarquia, a democracia e a monarquia. Já a forma de governo depende de quem
é o depositário do poder supremo. LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes,
2001, p. 500.
120
ARISTÓTELES. Politica. 1293b. Madrid: Aguilar, 1964, p. 1487.
121
PÁDUA, Masílio de. O defensor da paz. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 104.
122
BODIN, Jean. Les six livres de la république. Livre II, Paris: Fayard, 1986, p. 7.
60
123
“És además más conveniente que haya uno solo gobernante para mantener al pueblo em paz, pues siendo
muchos discreparan com frecuencia em sus opiniones e tendrán más trabajo en arreglar sua disputas e
disensiones que en dirimir los litígios de los particularesi”. MARIANA, Juan de. De Rege et Regis
Institutione. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1981, p. 30.
61
missão. Tal ocorre com as instituições militares, com órgãos de finanças públicas
aplicadas, em sociedades econômicas, escolas, etc.
A política pode ser explicada como tudo o que se relaciona a polis124. Mas a
política também pode ser entendida como estrutura do poder. Nesse viés, a
definição do político só será bem compreendida com o uso de categorias
exclusivamente políticas. E o método se justifica para obter a autonomia do
pensamento em relação ao que seja privativamente da esfera política, em termos
que, dada uma situação-limite, não seja necessário o recurso a outras categorias
independentes para solucionar a questão125. Se, para a moral, a diferenciação dos
extremos esteja no bom e no mau; para a economia no lucro e no prejuízo; na
estética, no belo e no feio; na política, as posições mais remotas estão no amigo e
no inimigo126. Será entre esses dois extremos que irão se posicionar os conceitos
eminentemente políticos. O critério de adoção da amizade e da hostilidade como
termos finais de uma escala especificamente política justifica-se pelo fato que traz
existência à política: a associação entre os indivíduos. A força da ligação que
conduz a aliança entre as pessoas é, portanto, a mais adequada para se fazer uma
nova avaliação da qualidade da sociedade política. A partir da métrica proposta, e
identificada a posição que determinada associação alcança, é possível realizar nova
avaliação, desta vez em um campo alheio à política; geralmente, a moral. Assim,
uma república ocupará uma posição mais ou menos favorável à sociabilidade de
seus integrantes, dentro de uma escala e com recurso às comparações. O
julgamento segundo referência diferente do grau de amizade e inimizade é lícito e
possível, se a expectativa for pelo resultado conexo ao sistema de que se lança
mão. Desse modo, uma nação democrática poderá ser moralmente condenável ou
louvável; ou esteticamente bela ou desagradável aos sentidos. Como conseqüência
do critério adotado, as sociedades, externamente, e os indivíduos, internamente,
estarão sempre numa situação que vai da paz à guerra127. A democracia costuma
situar seus partícipes numa posição intermediária - que não prescinde da confiança
no outro e que demanda certa dose de precaução quanto às postulações alheias. É
124
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 13. ed.
Brasília: UNB, 2007, p. 954.
125
SCHMITT, Carl. O conceito do político. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 27.
126
SCHMITT, Carl. O conceito do político. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 27.
127
“Dieu a fait ce monde pour la guerre; tous le royaumes,grand e petit, l’ont pratiquée dans tous le temps,
quoique sur dês príncipes différents ”. MAISTRE, Joseph de. Considérations sur La France. Paris: Editions
Complexe, 2006, p. 42.
62
cidadãos, e isso empobrece a vida política. Não se exige a amizade como meio de
garantir a coesão de uma comunidade política, embora desejável, mas um laço
mínimo de origem cultural. Sem a estrutura operando a favor da comunidade, a
frouxidão tende a desagregar. Assim, pode-se substituir a amizade aristotélica, de
aplicação prática impossível no mundo contemporâneo, pelo sentimento de
nação132. Mas não partiu apenas de Aristóteles e Renan a demonstração de
inquietude com o tamanho do Estado. Robert Dahl externa seu cuidado em relação
a esse aspecto ao enquadrar a democracia numa massa territorial extensa, como
hoje se verifica em boa parte dos países. Fala do necessário transbordo, para a
eficiência da democracia, de uma hegemonia fechada para a poliarquia – como
requisito para o caso específico de Estados bem dimensionados - a qual explica
como um conjunto fragmentado de culturas reunidas. A condição a ser satisfeita? A
tolerância e a oportunidade de contestação pública a uma grande parcela da
população133.
132
RENAN, Ernest. Qu’est-ce qu’une nation?. Paris: Le Mot e le Reste, 2007, p 17-18.
133
DAHL, Robert. Polyarchy. New Heaven: Yale University Press, 1971, p. 202-203.
134
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina,
2002, p. 74.
64
a fraudes e artifícios que adulterem seu objetivo. A sedução pela ocupação das
magistraturas na democracia é muito vasta.
137
HARRINGTON, James. The Commonwealth of Oceana and a System of Politics. Cambridge: Cambridge
University Press, 2008, p. 96.
66
138
“The first principle of republicanism is, that the lex-majoris partis is the fundamental law of every society of
individuals of equal rights; to consider the will of the society enounced by the majority of a single vote, as sacred
as if unanimous, is the first of all lessons in importance, yet the last which is thoroughly learnt. This law once
disregarded, no other remains but that of force, which ends necessarily in military despotism”. DEWEY, John.
The essential Jefferson. New York: Dover Publications, 2008, p. 60.
139
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000, p. 430.
67
140
DAHL, Robert Alan. Democracy and its critics. New Heaven: Yale University Press, 1991, p. 135.
141
No caso de serem desconsideradas as vontades individuais, não há governo igualitário, mas governo da
desigualdade e do privilégio. MILL, John Stuart. Considerations on representative government. New York:
Prometheus Books, 1991, p. 146.
68
142
DAHL, Robert Alan. Democracy and its critics. New Heaven: Yale University Press, 1991, p. 146.
143
KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Marins Fontes, 2000, p. 67.
144
Ibid., 2000, p. 68.
145
ACTON, John Emerich Edward Dalberg. Ensayos sobre la libertad, el poder y la religión. Madrid: Centro
de Estudios Políticos y Constitucionales, 1999, p. 67.
69
“a prova mais segura pela qual podemos julgar se um país é realmente livre, é a
segurança de que gozam as minorias”146.
146
Ibid., 1999, p. 67.
147
No caso-limite, o partido de uma só pessoa. KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Marins Fontes, 2000,
p. 72.
148
KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Marins Fontes, 2000, p. 73.
149
FERRERO, Guglielmo apud SARTORI, Giovanni. Qué es la democracia?. Madrid: Taurus, 2007, p. 31-32.
150
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social ou principes du droit politique. Paris: Aux Éditions du
Seuil, 1971. t.2, p. 544. (Oeuvres Completes).
70
151
SARTORI, Giovanni. Qué es la democracia?. Madrid: Taurus, 2007, p. 109.
152
Ibid., 2007, p. 109.
153
SARTORI, Giovanni. Qué es la democracia?. Madrid: Taurus, 2007, p. 112.
154
A moderação é uma característica desejável a todas as formas de governo. Os maiores estadistas
recomendando seu uso imoderado. Cf. O Marquês de Pombal a seu sobrinho, governador do Maranhão, Joaquim
de Melo e Póvoas: “O povo que V. Exa. vai governar é obediente, fiel a El-Rei, aos seus generais e
ministros:com estas circunstâncias, é certo que há de amar a um general prudente, afável, modesto e civil.”
ISÓCRATES et alii. Conselho aos Governantes. Brasília: Senado Federal, 2009, p. 651.
155
No outro extremo, a suma frouxidão do governo democrático pode trazer inconveniências graves, pela
omissão ou desacerto da maioria, como se lê em Hobbes: “Porque do mesmo modo que à criança falta
julgamento para discordar dos conselhos que lhe dão, precisando portanto pedir a opinião daquele ou daqueles
a quem foi confiada, assim também a uma assembléia falta liberdade para discordar do conselho da
maioria,seja ele bom ou mau” HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, p. 163.
71
156
SARTORI, Giovanni, op. cit., 2007, p. 112; MILL, John Stuart. Considerations on representative
government. New York: Prometheus Books, 1991, p. 147.
157
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. Livro I. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 294.
158
MILL, John Stuart. On liberty. London: Encyclopedia Britannica, 1952, p. 269.
159
SARTORI, Giovanni. Qué es la democracia?. Madrid: Taurus, 2007, p. 113.
160
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalism, socialism and democracy. New York: Harper, 2008.
72
161
TOURAINE, Alain. O que é a democracia? Lisboa: Instituto Piaget, 1996, p. 185.
162
KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 145.
163
Ibid., 2000, p. 145.
73
mesmo, a forma não produz uma melhora ou piora da essência, lhe é apenas
indiferente. A forma desguarnecida serve apenas ao juízo estético.
O ditador nem sempre foi alvo da reprovação popular. Em Roma, uma lei de
500 a.C. trazia a previsão da instituição de uma ditadura, com um líder à frente, que
dispunha de prerrogativas especiais para atuar em situações igualmente especiais.
Eram as magistraturas extraordinárias170. Na verdade, os ditadores, se exitosos nas
árduas tarefas a que se dispunham enfrentar, gozavam de grande prestígio entre o
povo romano. A antecedência da previsão legal retirava qualquer mácula de
ilegitimidade171; bem como, a autorização para a sua instalação, dependente do
165
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalism, socialism and democracy. New York: Harper, 2008, p. 242.
166
DAHL, Robert A. After the revolution? New Heaven: Yale University Press, 1990, p. 45.
167
Ibid., 1990, p. 45.
168
SCHMITT, Carl. The crisis of parliamentary democracy. Cambridge: MIT Press, 1988, p. 24.
169
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000, p. 426.
170
BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília: UNB, 1997, p. 173.
171
Ibid., 1997, p. 174.
75
Senado Romano, não deixava que a infâmia lhe roubasse a exuberância. Entretanto,
para evitar o perigo da prorrogação indefinida da ditadura, o regime estabelecia um
prazo de duração – seis meses – e um requisito objetivo que constava da precípua
observação da obra a concluir. Alguns direitos dos cidadãos eram suspensos.
Por tudo, vê-se que a ditadura não pode ser confundida com tirania. O
exercício arbitrário e violento do poder é moralmente condenável, somente
admitindo que possa ocorrer fora do espectro da legitimidade. A operação que torna
viável a suspensão de direitos em estado de necessidade, assim reconhecido por
um órgão representativo, não é arbitrária, mas salvaguarda excepcional.
172
Vê-se a confusão entre ditadura, tirania e despotismo num enciclopedista célebre: Louis de Jaucourt.
DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, Jean LeRond. Verbetes políticos da Enciclopédia. São Paulo: Unesp,
2006, p. 67.
173
DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, Jean LeRond. Verbetes políticos da Enciclopédia. São Paulo: Unesp,
2006, p. 312.
76
prazo para a realização de atos específicos. Cessados os motivos que deram causa
à medida, o estado de exceção é extinto e a comunidade política prossegue na
normalidade. Comparativamente, não há nada que diferencie a espécie quando
praticada numa democracia ou numa ditadura. O problema surge com o
prolongamento do regime ditatorial. Assim entendida, a ditadura seria um estado de
exceção permanente. De novo, é uma contraditio in adjeto. A supressão de certas
liberdades civis a outros outorgadas, ou sua não previsão, pode ser mera expressão
dos valores de uma sociedade que ganha vazão servindo-se de dados culturais, e
desse modo colocadas, não constituem violação por representarem a soberania de
um povo que assim se auto-determina. Não há exceção permanente, há
permanência. O caráter de violação permanente só terá respaldo se o povo for
submetido sem consulta ou consentimento. Mas na democracia, ser um voto vencido
e ter uma vontade frustrada se assemelha àquela disposição de coisas.
174
No original: “L’Officier est la personne publique qui a charge ordinaire limitee par edict. Commissaire, est
la personne publique qui a charge extraordinaire, limitee par simple commission. Il y a deux sortes d’officiers et
de commissaires: les un qui ont puissance de commander, qui sont appellez magistrats; autres de cognoistre ou
d’executer lês mandemens: e tous sont personnes publiques: mais toutes personnes publiques ne sont pas
pourtant officiers ou commissaires”. BODIN, Jean. Les six livres de la république. Livre III, Paris: Fayard,
1986, p. 45.
77
175
SCHMITT, Carl. La Dictadura. Madrid: Alianza, 2009, p. 176.
176
Ibid., 2009, p. 182.
177
Ibid., 2009, p. 183.
178
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004, p. 18.
179
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes,
2007, p. 108.
78
Por fim, cumpre dizer que a aversão da sociedade à ditadura provém, como
todos os males, da ignorância de seus institutos, que, no mais das vezes, podem
equiparar-se em legitimidade diante da disparidade de desafios que têm pela frente.
CONCLUSÃO
180
VOLTAIRE, Comentários políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 09.
181
CORTÉS. Juan Donoso. Discursos políticos. Madrid: Tecnos, 2002, p. 05-06.
79
para assumir novo formato que os sujeitos da relação entendam mais adequado. Se
a práxis tem a capacidade de subverter a idéia, é na esfera ideal que devem ser
depositadas as esperanças do bom funcionamento de um regime. E urge alterar
alguns aspectos da democracia para que não pereça sob a acusação de ter-se
modificado para a forma da sua reprodução degenerada ou impura.
182
KELSEN, Hans. A Democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 146.
80
A democracia não é o pior dos mundos, o seu papel decisivo estando, não na
consecução de certos fins, mas na capacidade que gera de um debate intrínseco, e
que pode vir a causar o desenvolvimento do interesse e apego à política, com isso
estimulando as faculdades analíticas dos indivíduos com vistas a um aprimoramento
cognitivo a ela aplicado. Todavia, para isso, é necessária a oferta de meios de
oportunidade, o que se realiza, com mais presteza, num regime diverso da
democracia.
81
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