Anda di halaman 1dari 1

1967 - A REALIDADE E O QUANTUM

MARCELO GLEISER
Segundo o dicionário, realismo é a doutrina filosófica de acordo com a qual objetos
materiais existem por si mesmos, independentemente da mente ter consciência deles. Já o
oposto, o idealismo, supõe que as coisas existem apenas como idéias na mente.
Eis um exemplo bastante conhecido, que ilustra bem os dois pontos de vista Imagine que
atrás da sua casa exista um bosque, cheio de árvores. Você sabe que o bosque existe
porque você passeia freqüentemente por lá. Segundo a posição realista, esse bosque existe
mesmo se você ou outra pessoa nunca o tenha visto. He é tão real para os mosquitos e as
borboletas voando lá quanto para você.
Já o idealismo diria que o bosque só existe na sua cabeça, pois a mente fabrica a nossa
percepção do real através de sinais sensoriais processados no cérebro. Se um belo dia uma
das árvores do bosque cair, os realistas diriam que ela caiu, mesmo se ninguém a visse
caída, enquanto os idealistas só admitiriam que ela caiu caso eles a tenham visto no chão,
ou a ouvido caindo. Os idealistas mais radicais diriam ainda que a árvore só caiu dentro da
sua cabeça, pois foi a sua mente que construiu o evento.
Essas duas correntes filosóficas estão muito ligadas com a interpretação do mundo
segundo a física A física clássica, que descreve a realidade em que vivemos o dia-a-dia,
toma uma posição realista; o mundo esteve aqui bem antes de existirem pessoas com
consciência disso.
Afinal, se o Universo existe há 14 bilhões de anos, a Terra há 4,6 bilhões e o Homo sapiens
há menos de 200 mil, claramente a realidade e mais velha do que nós. Em outras palavras, a
realidade existe independentemente da presença de um observador consciente para medi-
la.
O mundo está aí, pronto para ser medido e observado por nós, ou por qualquer outra
inteligência interessada em uma descrição quantitativa da natureza No entanto, a
confirmação final do que existe depende da observação; só sabemos o que existe no mundo
se observarmos o mundo. Segundo a física clássica, o ato de observação não interfere com
o observado; existe uma separação explicita entre observador e observado.
Duas pessoas, observando o mesmo fenômeno, com os mesmos instrumentos, obterão
resultados idênticos. Aliás, é justamente isso o que garante a relatividade de Einstein: que
dois observadores em movimento com velocidades (e acelerações) diferentes poderão
comparar sem problemas as suas medidas.
Essa posição realista foi profundamente revisada com o advento da mecânica quântica
durante as três primeiras décadas do século 20. No mundo do quantum, o mundo dos
átomos e das partículas subatômicas, o que é ou não real deixa de ser tão óbvio. De fato, os
próprios pioneiros da mecânica quântica, de Planck e Einstein a Bohr, Schrödinger e
Heisenberg, debateram as implicações da nova teoria para a nossa compreensão do real
sem chegarem a um consenso.
A teoria quântica abandona certas premissas básicas da física clássica como, por exemplo,
o conceito de trajetória; um elétron viajando pelo espaço não percorre mais um caminho
bem definido entre o seu ponto de partida e o de chegada; podemos apenas dizer qual a
probabilidade dele tomar um dado caminho. No mundo quântico, a noção de caminho torna-
se difusa, junto com a própria existência afinal, se não podemos dizer por onde o elétron
passou para ir de um ponto a outro, como garantir que ele existe entre esses dois pontos?
A salvação do caos completo vem com a idéia de medida Para sabermos onde está o
elétron, temos de interagir com ele. No processo de medida, fixamos a sua posição e,
portanto, a sua existência Ou seja, a realidade, no mundo quântico, depende do ato de
observação: as coisas só são reais quando observadas.
Mais ainda, o resultado da observação depende do observador: duas medidas idênticas não
darão necessariamente o mesmo resultado. No mundo quântico, vence o idealismo: as
coisas existem ao serem medidas, o que, em última instância, depende do observador, seja
ele inteligente ou uma máquina.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e
autor do livro "O Fim da Terra e do Céu".

Anda mungkin juga menyukai