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Seminário em História do Brasil XI

Profª. Drª. Cláudia Maria das Graças Chaves

Lucas Patrício de Souza

Segundo Fernando Novais em seu clássico estudo sobre a crise do Antigo Sistema
Colonial, “paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana
colonial, e não o contrário”. Essa foi uma compreensão que perdurou em nossa historiografia
contemporânea até pelo menos o final da década de 90 e que associa a escravidão moderna diretamente
ao tráfico de escravos. O mais complexo nesse caso, no entanto, seria entender como a escravidão
perdurou para além desse mesmo tráfico.

Com base nas leituras que temos feito, elabore um texto de no máximo quatro laudas apontando a
complexidade dessa questão. Faça as indicações bibliográficas com correta citação. Prazo de entrega,
dia 26/01, 05 pts.

Resposta

Para entendermos o que levou a manutenção da escravidão, para além do fim do


tráfico, é necessário apontar o fator primordial que está relacionado com a sua aceitação social
dentro de um regime jurídico minimamente legítimo. Procura-se aqui traçar um panorama
sobre algumas diferenças, e semelhanças possíveis nas maneiras como ela se efetivou nos
países do Novo Mundo, tanto ao norte do continente como ao sul. Entende-se que ela
funcionou como mecanismo de controle de mão de obra e fator imprescindível para o
capitalismo e o acúmulo de capital. Além disso, cabe citar a sua ligação com as ideias liberais,
mas não democráticas. Para entendermos a escravidão precisamos empreender análises
amplas, para além da realidade local. No caso presente é preciso fazer uma articulação entre
a diversidade de colonizações, legislações, produções literárias das colônias com o mundo
Ibérico e Anglo-saxão inter-relacionando todos esses atores. O capitalismo e o
desenvolvimento industrial têm relação com o fim da escravidão ao substituir a terra pelo
capital e a lucratividade, mas a escravidão pode ser endossada por esse mesmo capitalismo
existindo nas regiões mais periféricas. A mão de obra escrava não era compatível com
capitalismo ao dificultar, com limites, a expansão e do transporte de escravos e também não
tinha a capacidade de agregar tecnologia aos processos produtivos e propriedades em que era
utilizada.

Escritores como José de Alencar apontam que a escravidão é um fato social que
cumpre o papel social de civilizar e que outras instituições piores foram superadas e o
momento desta chegaria. Acreditavam que à medida que o capitalismo ia avançando a
tendência era que ele fosse sendo superado, mas percebemos o fator contrário de persistência
da mão de obra escrava. Há que se dizer inicialmente que a escravidão foi amplamente aceita
pelas sociedades do Novo Mundo e do Velho, tal aceitação é um produto do pensamento que
minimiza seus efeitos negativos e suas inconveniências ante os benefícios, especialmente
econômicos, que ela produz. Ao colocar as discussões historiográficas para pensarmos a
escravidão percebemos que concretiza uma dicotomia muito acirrada nas relações sociais e
no lugar do negro nas sociedades Ibéricas e Anglo-saxônicas. Para entendermos isso
precisamos focar como as diferenças gritantes nos modos de colonização, condução da
escravidão e religião foram os embasadores para as discussões.

Coloca-se inicialmente em questão a expansão dos ideais do liberalismo que


conviveu com o aumento cada vez maior de escravos, e do cativeiro. Mas a necessidade cada
vez maior de produtos e matérias-primas ocasionou em montantes cada vez maiores de
matérias primas vindas das colônias o que consequente provocou um aumento do número da
mão de obra majoritariamente escrava, e com as novas demandas convencionou-se chamar de
segunda escravidão. Ao discutirem o fim da utilização de tal mão de obra, apesar da
ascendência de grupos antiescravistas, estava em jogo a sobrevivência das potências
escravistas, que lançaram mão da defesa da escravidão por meio de espaços representativos,
como as casas legislativas, e na imprensa para obter um ambiente de controle e favorável à
escravidão. Nos espaços representativos seria útil a constituição de um corpo de leis que
reduziria os riscos e os custos para o fim da escravidão e no midiático era necessário criar um
apoio social à escravidão. Entraremos agora em algumas particularidades de casos específicos.

No caso Inglês, percebemos que os representantes abolicionistas souberam tirar


proveito da repressão às revoltas ao usar a questão da violência branca como forma de
comoção da opinião pública para acelerar o fim da utilização de mão de obra escrava. No caso
de Cuba, Brasil e EUA não havia tal pressão sobre as elites políticas e sociais. Sendo que no
caso do nosso país foi intensificado o movimento de contraposição às ideias abolicionistas
criando-se, politicamente, uma espécie de lei mordaça. No caso Brasil oitocentista, os
escravocratas, em contraposição, lançaram panfletos para divulgar suas ideias com intuito de
sensibilizar a população para a necessidade de se reabilitar ideologicamente o comércio de
africanos e estimularam as representações municipais e estaduais em favor da escravidão, o
que, na prática, garantiu a reabertura escandalosa do contrabando. Percebe-se aqui que houve
um domínio na sociedade do ideário predominantemente escravista. No caso Haitiano, após a
promoção do café como matéria prima das mais importantes na pauta de exportações, houve
a formação de uma classe local, rica e não necessariamente branca. Mas após 1763 acirra-se
o desejo das elites brancas locais e metropolitanas em se retirar direitos dos negros que
acumularam capitais, uma vez que eles olhavam com desconfiança para os mesmos e se
sentiam mais próximos dos brancos pobres que dos pretos ricos.

Nas sociedades escravistas o comércio de escravos e de material ligado à


escravidão era comercializado de maneira livre e irrestrita, sendo que até os jornais continham
propaganda de tais horrores e por isso reina o entendimento de que a escravidão era normal e
aceitável ao passo de que quem ousasse dizer o contrário seria tachado de hipócrita uma vez
que a prática da escravidão e do tráfico de escravos não eram exercidas pela escória da
sociedade, mas era considerada um ramo de negócios, e dos mais importantes.

No contexto liberal, as experiências das potências escravistas ganharam corpo


com a afirmação das ideias tão caras ao liberalismo, a saber: governo por consentimento,
liberdade individual, segurança de propriedade privada e condicionamento da capacidade
humana pelo seu contexto cultural ou prática sócia, ao mesmo tempo em que são levantados
outros entendimentos nem tão liberais assim como a desigualdade inata e inseparável dos
homens. Esse ponto merece destaque porque cria-se um corpo de ideias liberais desligadas
das práticas sociais e durante todo o oitocentos a defesa da escravidão e do tráfico eram
ancoradas no liberalismo.
As mais afamadas abordagens sobre o tema da escravidão foram feitas por Eric
Willians e Tannembaum. Ponto importante da divergência entre os dois, e de interesse aqui,
é o que diz respeito aos geradores da abolição onde para o primeiro a abolição foi resultado
de atos humanistas e de caráter ideológico por parte dos escravista enquanto que na abordagem
do segundo se refina na contextualização do problema da inserção social do negro pós
libertação bem como a diferenciação dos sistemas escravistas dos herdeiros Ibéricos e Anglo-
saxões.

Ao percorrer tais diferenciações percebemos que nos dois ‘mundos’ há diferenças


nos marcos legais e morais. Enquanto nas terras Ibéricas há a presença de mecanismos de
atenuação do sistema escravista, como as alforrias, os territórios anglo-saxões tinham o
entendimento que os escravos tinham uma deficiência moral e prevalece aqui a racialização
do cativeiro. O entendimento de ambos estava ligado especialmente a fatores religiosos uma
vez que o primeiro, dentro da lógica católica, entendia que os sujeitos teriam direito aos
sacramentos e que a escravidão não era um estado natural e sim um status jurídico e o segundo,
dentro da lógica protestante, priorizava o empreendedorismo e a modernidade.

Apesar das sensíveis diferenças elencadas acima há algo mais forte que os une que
foi o uso recorrente à violência e a produção de uma hierarquia baseada em fatores raciais. A
hierarquia servia basicamente aos interesses de manutenção dos privilégios. O produto, no
caso dos EUA, foi ainda mais acirrado devido a dificuldade da manumissão e a racialização
da escravidão. A explicação? Simples. Eram negros! Esse entendimento dificultou a inclusão
dos povos subjulgados e não se permitiu a cristianização dos escravos. Percebemos que a
liberdade então começa a se transformar em um valor dos mais valiosos uma vez que a
participação nas camadas de decisões, a propriedade e a capacidade de possuir escravos
mostrava aos senhores de escravos que somente assim eles não estavam sujeitos a algum tipo
de dependência.

O combate ao tráfico de escravos por intermédio dos britânicos foi especialmente


essencial para se consolidar as bases de entendimento do fim da escravidão. Com objetivo de
elevar a moral dos povos da Grã-Bretanha eles se colocaram nesta empreitada de defesa do
fim do tráfico posando assim como os admiradores e incentivadores do espírito livre e ainda
de bons cristãos. Sem assim se aproximar da radicalidade que tomara conta dos EUA durante
a Revolução Americana. Percebe-se até aqui que não houve no ideário do mundo ibérico um
programa ideológico forte o bastante que pudesse conduzir a crítica ou o fim da escravidão.
Pelo contrário, nos EUA a interferência externa no governo dos escravos era visto como uma
afronta à manutenção das instituições e durante as discussões sobre a Carta de 1787 tamanha
era a polarização que foram relegados aos estados a decisão sobre a escravidão, sendo,
portanto, uma vitória dos escravistas.

Referências Bibliográficas

ALENCAR, José de. Cartas a favor da escravidão. Org. Tamis Parron. São Paulo: Hedra,
2008.

Berbel, Márcia; Marquese, Rafael; Parron, Tâmis. Escravidão e política. Brasil e Cuba,
c.1790-1850. São Paulo: Hucitec, 2010
PARRON, Tamis. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Williams, Eric. Capitalismo e escravidão. tradução e notas de Carlos Nayfeld. Rio de


Janeiro: Americana, 1975.

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