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UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ENSINO A DISTÂNCIA ®

2
Fascículo

gestão social
e território
Lamounier Erthal Villela
Márcio de Albuquerque Vianna
Copyright © 2017 by Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência
João Dummar Neto
Direção Geral
Marcos Tardin

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)


Coordenação Geral
Ana Paula Costa Salmin

CURSO GESTÃO SOCIAL


Concepção e Coordenação Geral
Cliff Villar
Organizadores de Conteúdo
João Martins de Oliveira Neto e
Jeová Torres Silva Júnior
Coordenação Pedagógica
Ana Cristina Pacheco de Araújo Barros
Coordenação Executiva
Rebeca Sabóia
Edição de Design e Projeto Gráfico
Amaurício Cortez
Editoração Eletrônica
Cristiane Frota
Ilustrações
Carlus Campos
Catalogação na Fonte
Kelly Pereira
Gerente de Serviços
Valéria Freitas
Produtora
Thais de Paula

Este fascículo é parte integrante do Curso Gestão Social


composto por 12 fascículos oferecido pela Universidade
Aberta do Nordeste (Uane), em decorrência do contrato
celebrado entre a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento
Social – STDS e a Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob o
nº 076/2017.

C975 Curso gestão social / concepção e coordenação geral, Cliff Villar;


organizadores de conteúdo; João Martins de Oliveira Neto
Todos os direitos desta edição reservados à:
e Jeová Torres Silva Júnior. – Fortaleza: Fundação Demócrito
Rocha/UANE/BID/STDS-Ce, 2017.
288. il. color; (Curso em 12 Fascículos)

ISBN 978-85-7529-833-6 Fundação Demócrito Rocha


Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
1. Curso – gestão social I. Villar, Cliff. II. Oliveira Neto, João Tel.: (85) 3255.6180 - 3255.6153
Martins. III. Silva Júnior, Jeová Torres. IV. Título Fax: (85) 3255.6271
fdr.com.br
fundacao@fdr.com.br
CDU 304(813.1) uane@fdr.com.br
sumário
1. Introdução................................................................................................ 28

2. Desenvolvimento Territorial Sustentável (DTS) e


Gestão Social (GS): Conceitos indissociáveis ................................... 28

3. Instrumentos e formas institucionais que preconizam


a Gestão Social em territórios ............................................................. 33
3.1 Ministério das Cidades ............................................................................ 33
3.2 Conselho das Cidades ............................................................................. 34
3.3 Conferências das Cidades ..................................................................... 35
3.4 Planos Diretores ........................................................................................37
3.5 Consórcios Intermunicipais ....................................................................37
3.6 Conselhos Gestores .................................................................................. 38
3.7 Arranjos Produtivos Locais (APLs) ........................................................ 39
3.8 Cooperativas e Associações .................................................................. 40

4. Exemplo de aplicação de políticas públicas na busca da


territorialização: o caso do Colegiado Territorial Rural
da Baía da Ilha Grande ......................................................................... 41

Perfil do Autor ........................................................................................ 45


Síntese do Fascículo .............................................................................. 45
Referências Bibliográficas ................................................................... 46

OBJETIVOS
1. Levar o leitor aprendiz a compreender as relações de interdependên-
cia que existem entre os conceitos de gestão social e de território;

2. Exemplificar as tecnologias sociais e formas institucionais de


promover a gestão social nos territórios;

3. Exemplificar e classificar experiências de políticas públicas nos


territórios.
1.
Introdução

2.
Este módulo apresentará gestão so-
cial e território como conceitos indis-
sociáveis, visto que a participação
efetiva de todos os segmentos sociais
que compõem um dado território é de
suma importância para que ocorra
o protagonismo dos atores envolvi- Desenvolvimento
dos no seu desenvolvimento de forma
justa, igualitária e sustentável. Serão Territorial
apontadas formas institucionais que
preconizam a gestão social em territó- Sustentável (DTS) e
rios como planos diretores, consórcios
intermunicipais, associações, conse-
lhos gestores, cooperativas e Arranjos
Gestão Social
Produtivos Locais (APLs). Serão apre-
sentadas e discutidas políticas pú-
(GS): Conceitos
blicas que focam na participação em
conselhos municipais para acesso a
Indissociáveis
políticas públicas como o Programa Esse item do módulo é resultado do
de Aquisição de Alimentos (PAA) e constructo de pesquisas e produções
Programa de Nacional de Alimentação textuais, o qual vem utilizar fragmen-
Escolar (Pnae) compartilhadas por co- tos textuais extraídos do artigo de nos-
legiados territoriais. E, por fim, serão sa própria autoria, que podem ser ob-
apresentados exemplos e modelos de tidos aprofundados em Villela, Vidal,
políticas governamentais e ações de Araujo e Costa (2014).
participação, interação e parcerias A despeito da amplitude concei-
desenvolvidas no Colegiado Territorial tual referente aos estudos da gestão
da Baía da Ilha Grande (BIG) para a social, destacamos a ideia de Botrel,
agricultura familiar que visam ao de- Araújo e Pereira (2010), para os quais
senvolvimento local endógeno. a Gestão Social se desenvolve no
Para tanto, este módulo é uma âmbito da esfera pública, na qual se
compilação adaptada de recortes tex- sobressaem as organizações públi-
tuais de nossos artigos e publicações cas não estatais e o interesse públi-
científicas mais recentes e que serão co da sociedade, além de proporcio-
citados ao longo do material. nar condições à emancipação dos

28 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


indivíduos, baseando-se na demo- na Esfera Pública é a participação” reflexivo das práticas e do conheci-
cracia deliberativa e na formação da (TENÓRIO, 2008b, p.171). mento constituído por múltiplas dis-
consciência crítica de seres humanos A Gestão Social seria o caminho ciplinas”. A Gestão Social seria ainda
dotados de razão. para a emancipação, pois incita a um uma “proposta pré-paradigmática”
A construção do conceito acon- “[...] gerenciamento mais participativo, que vem recebendo a atenção de mui-
tece, inicialmente, pela análise dos dialógico, no qual o processo decisório tos centros de pesquisa no Brasil e no
pares de palavras Estado-sociedade é exercido por meio de diferentes sujei- exterior (FISCHER, 2002b; FISCHER;
e capital-trabalho, que são invertidas tos sociais” (TENÓRIO 2008b, p.25-26). MELO, 2006). Assim, “a Gestão Social
na sua ordem para sociedade-Estado Na Gestão Social “[...] a hegemonia das pode ser definida como aquela orien-
e trabalho-capital, ressaltando a im- ações possui caráter intersubjetivo. tada para o social (enquanto finalida-
portância da sociedade e do trabalho Isto é, onde os interessados na deci- de) pelo social (enquanto processo),
como protagonistas dessas relações. são, na ação de interesse público, são norteada pelos princípios da ética e
Ampliando a discussão, insere-se o participantes do processo decisório” da solidariedade” (FISCHER; MELO,
par de palavras sociedade-mercado, (TENÓRIO; SARAVIA, 2006, p.128). 2006, p.17). Um conceito importan-
que representa o processo de intera- Entende-se que a gestão das de- te para entender a perspectiva de
ção da sociedade civil organizada com mandas da sociedade pode aconte- Fischer (2002) e a de Fischer e Melo
o mercado, no qual a sociedade deve cer para além do Estado, via socie- (2003; 2006) sobre Gestão Social e a
ser também protagonista (TENÓRIO, dade. Por outro lado, a Gestão Social própria atividade do gestor social é
2008a; 2008b). enquanto processo, vista como uma o de interorganizações. Os conceitos-
Continuando seu caminho, modalidade específica de gestão (ní- -chave para se entender as interorga-
Tenório (2008) propõe que a cidada- vel organizacional) busca “subordi- nizações são: território, redes sociais,
nia deliberativa deve intermediar a nar as lógicas instrumentais [típicas redes de redes (FISCHER; MELO, 2006).
relação entre esses pares de pala- da gestão privada/estratégica] a ou- Neste contexto, percebe-se a clara
vras; para o autor, “[...] cidadania de- tras lógicas, mais sociais, políticas, conexão entre os conceitos de Gestão
liberativa significa, em linhas gerais, culturais ou ecológicas” (FRANÇA Social e Desenvolvimento Territorial
que a legitimidade das decisões deve FILHO, 2008, p.30). Sustentável, em que a condição para
ter origem em processos de discus- este passa pela participação e pela
são orientados pelos princípios da [A Gestão Social] Corresponde en- Gestão Social. Pinho (2010, p.32) clas-
inclusão, do pluralismo, da igualdade tão ao modo de gestão próprio às sifica a participação “[...] como seminal
participativa, da autonomia e do bem organizações atuando num circuito para apresentar a Gestão Social [...]”.
comum” (TENÓRIO, 2008a, p.160, gri- que não é originariamente aquele do Neste sentido, esse autor argumenta
fos do autor). A cidadania deliberativa mercado e do Estado, muito embo- que o contexto nacional é diferente do
“[...] faz jus à multiplicidade de formas ra estas organizações entretenham, europeu, em que o sucesso da partici-
de comunicação [...]” e “[...] une os ci- em grande parte dos casos, relações pação está baseado nas “suas institui-
dadãos em torno de um auto entendi- com instituições privadas e públi- ções sólidas e estáveis, além de nível
mento ético” (TENÓRIO, 2008b, p.167). cas, por meio de variadas formas de de vida elevado, baixa disparidade
Sob essa perspectiva, a esfera pública parcerias para consecução de proje- socioeconômica e as reconfortantes
seria o espaço de intermediação en- tos. Este é o espaço próprio da cha- virtudes cívicas de solidariedade e de
tre Estado, sociedade e mercado, bem mada sociedade civil, portanto uma moderação” (BENEVIDES, 1999, p.20
como a cidadania deliberativa seria o esfera pública de ação que não é es- apud PINHO, 2010, p.33).
processo participativo de deliberação tatal (FRANÇA FILHO, 2008, p.32). As condições para uma participa-
baseado essencialmente no entendi- ção efetiva da sociedade nos proces-
mento (e não no convencimento ou Tânia Fischer (2002b, p.29) apre- sos decisórios passam, entre outras
negociação) entre as partes (TENÓRIO, senta a Gestão Social como “gestão coisas, por políticas públicas de melhor
2008a; 2008b) e “[...] o procedimento do desenvolvimento social”, defini- qualidade e, entre elas, aquelas que
da prática da cidadania deliberativa do pela autora como um espaço “[...] se voltem para a educação, ou seja, a

gestão social 29
efetividade da cidadania deliberati- citar: políticos, famílias, torcedores de para ocupar os espaços e obter renda
va da forma colocada por Habermas um time de futebol, empresários, tra- pública. O patrimonialismo é a prática
passa também por processos de de- ficantes, milícias, religiões, esportistas de o gestor público considerar que os
senvolvimento por meio de melhores etc. Enfim, trata-se de uma enorme bens públicos são de sua propriedade,
políticas públicas, o que sugere mais gama de atores que atuam diretamen- e não da sociedade. Logo, usa os bens
que uma relação de causa e efeito en- te sobre um determinado espaço. Em públicos como se fossem privados. As
tre os conceitos, mas uma relação de alguns desses territórios, observamos práticas citadas distanciam o poder
interdependência. relações verticais, ou seja, ações auto- dos territórios dos cidadãos criando
Da mesma forma, a sociologia ritárias, como, por exemplo, o território assim, e em alguns casos, processos
econômica contemporânea oferece de um “coronel”, denominação dada de desterritorialização. Nestes espa-
ferramentas especialmente impor- a proprietários fundiários na antiga ços, o cidadão se envergonha de residir
tantes para o estudo da ligação entre república no início do século XX. Esse em uma determinada cidade ou bairro
os territórios e a Gestão Social. Os tra- ator domina o espaço e define regras perdendo, assim, seu sentido de per-
balhos do sociólogo norte-america- de funcionamento. Tais regras normal- tencimento. Dessa forma, ele não esta-
no Neil Fligstein (2001) como também mente são direcionadas à capacidade rá disposto a lutar pelas melhorias do
tratado por Bourdieu (2000) oferecem de este ator específico se manter no local e indiretamente acaba, assim, por
instrumentos teóricos consistentes poder e atender seus objetivos indivi- contribuir para manter o poder centra-
para a compreensão de dinâmicas ter- duais. Logo, o território de um “coronel” lizado com a sua falta de participação.
ritoriais. Dois temas fundamentais po- é um espaço autoritário. Nele a demo- Essas situações criam verdadeiros cir-
dem ser evocados, neste sentido. cracia (demo=povo + cracia=poder), ou cuitos viciosos que são nefastos para
A ideia central de Fligstein é que, seja, o “poder do povo” pode ser insu- o desenvolvimento local e para o bem
em cada campo, “o objetivo central ficiente, fraco ou frágil. Assim sendo, o comum. Quebrar estes circuitos per-
da ação está na tentativa de alcançar desenvolvimento local também passa versos é um processo que passa pela
cooperação com outros atores”. As pes- a ser fraco! Estes espaços são deno- cidadania deliberativa, ou seja, ações e
soas que agem como líderes nos grupos minados como subdesenvolvidos, nos práticas nas quais o cidadão participa
precisam estabilizar suas relações com quais os indicadores de desenvolvi- das decisões locais.
os membros de seus grupos para con- mento, que iremos apresentar a seguir, Encarar os territórios como cam-
seguir que estes ajam coletivamente e são fracos ou inexistentes. Estes terri- pos em que se defrontam prota-
precisam estruturar seus movimentos tórios subdesenvolvidos padecem de gonistas com interesses diversos e
estratégicos em direção a outras orga- problemas em que normalmente ges- trabalhar pela gestão social desses
nizações em seus campos. A habilidade tores públicos autoritários praticam interesses, ainda que com fortes limi-
dos atores para analisar e conseguir políticas como o clientelismo, o nepo- tações, é o objetivo deste texto. Por
tal cooperação pode ser vista, generi- tismo, o patrimonialismo, entre outras. isso, acredita-se na indissociabilida-
camente, como habilidade social. O clientelismo caracteriza-se como de entre os conceitos de território e
Resumidamente podemos definir uma prática em que o gestor público gestão social. Dessa forma, os indica-
territórios como espaços ocupados usa dos recursos públicos, como do or- dores a serem estabelecidos a partir
por diferentes atores sociais em que çamento de uma prefeitura para aten- das categorias definidas na perspec-
nele estabelecem relações de poder e der somente seus eleitores e seus se- tiva do Desenvolvimento Territorial
formas de uso do espaço. Logo, o ter- guidores em detrimento do restante da Sustentável (DTS) estariam imbricados
ritório é um espaço ocupado onde se população local. Segundo o dito popu- com aqueles desenvolvidos na pers-
observa uma identidade, uma lingua- lar: aos amigos do rei, tudo; nada para pectiva da Gestão Social e da cidada-
gem comum, hábitos sociais, culturas os demais! Já o nepotismo é quando o nia deliberativa.
e valores. Assim, os habitantes do ter- gestor público emprega somente seus De acordo com Parés e Castellà
ritório compartilham saberes e prá- familiares e amigos próximos para os (2008), nas últimas décadas, municí-
ticas. Comumente escutamos que tal cargos de confiança, não consideran- pios ao redor do mundo têm desenvol-
espaço é território de um determina- do que essas pessoas estão habilita- vido experiências muito diversas de
do grupo. Como exemplos, podemos das para ocupar estes cargos, porém democracia participativa na busca de

30 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


novas formas para governar socieda-
des cada vez mais complexas. No en-
tanto, estes autores questionam até
que ponto essas experiências resultam
em um incremento efetivo de quali-
dade na democracia desses municí-
pios ou unicamente representam um
aumento no número de experiências
participativas. Nesse sentido, defen-
dem que a academia necessita de um
processo de reflexão sobre a qualidade
das múltiplas experiências surgidas no
âmbito da participação cidadã e con-
sideram imprescindível sua avaliação
e caracterização para poder, assim,
melhorá-las. A avaliação da participa-
ção cidadã se configura como uma fer-
ramenta capaz de qualificar as expe-
riências participativas, identificando Quadro 1 – Definições e Indicadores para DTS
suas debilidades e seus pontos fortes Consiste na congruência Reconhecimento
como forma de estabelecer as bases Processo de da população local, ou do cidadão sobre
para o Desenvolvimento Territorial Discussão seja, no fortalecimento de a importância da
Sustentável. Coesão seus laços interpessoais participação social;
Villela et al (2014) trabalhou com os Social a fim de favorecer e
indicadores de DTS – Desenvolvimento Identificação de
capacitar o potencial de
Territorial Sustentável definidos movimentos sociais e de
Inclusão equidade dos direitos e
por Perico (2009): Coesão Social, cultura local;
obrigações cidadãs.
Coesão Territorial, Governabilidade, Existência de canais
Sustentabilidade, Inclusão Econômica adequados ao acesso à
e Bem-Estar. De outro são utiliza- informação;
dos os critérios de análise de cidada- Pluralismo
Existência de espaços de
nia deliberativa definidos por Villela
discussão junto ao poder
(2012): Processo de Discussão, Inclusão,
Refere-se à capacidade da público;
Pluralismo, Igualdade Participativa,
população de um território Participação de
Autonomia e Bem Comum. As seis di- Igualdade ter densidade nas relações associações, movimentos,
mensões definidas por Perico (2009) Participativa Coesão interpessoais para definir organizações e cidadãos
definem que o alcance do desenvolvi-
Territorial suas políticas, suas nos processos de decisão;
mento gira em torno do local, da sua
estratégias em função de Acompanhamento e
identidade, da sua cultura, das suas
seus próprios recursos e avaliação de políticas
relações econômicas e sociopolíticas
Autonomia interesses territoriais. públicas por parte da
que dependem de um processo de luta
que passa pela participação de uma população;
sociedade inclusiva, plural e autôno- Igualdade de influência
ma. Assim sendo, a partir de Villela et entre os grupos
al (2014), foi definido o quadro abaixo Bem-estar representativos nas
que correlaciona os conceitos e busca tomadas de decisão.
obter indicadores para o DTS. FONTE: VILLELA, VIDAL, ARAUJO E COSTA (2014).

gestão social 31
Quadro 1 – Definições e Indicadores para DTS (continuação)
Processo de As atividades econômicas Conscientização da população sobre práticas de consumo
Discussão atuais não podem colocar consciente e uso de energia renovável;
Sustentabilidade em risco o bem comum nem Práticas de preservação da atividade pesqueira e agrícola local;
as atividades econômicas de Investimento em gestão de resíduos e em áreas verdes;
futuras gerações. saneamento ambiental;
Participação da sociedade e controle social nas contas
Inclusão públicas e na elaboração do Plano Diretor, da LDO e da LOA;

Refere-se à capacidade dos Autonomia financeira;


poderes públicos em agir Promoção de consultas públicas para decisões de
Governabilidade
com objetivos e propósitos investimentos;
de desenvolvimento local. Transparência e prestação de contas; Financiamento da
Pluralismo política urbana;
Conselhos gestores de políticas públicas;

É a capacidade pelo Cursos de capacitação local e assistência técnica;


qual o desenvolvimento Integração dos setores locais e capacidade de atender ao
Inclusão local inclui a população crescimento econômico;
Igualdade
Econômica economicamente ativa em Capacidade de o crescimento econômico atender às demandas
Participativa
suas atividades de modo sociais;
contínuo e permanente. Taxa de desemprego, PIB per capita, investimento per capita;
Habitação, política de regularização fundiária, acesso a
programas culturais e a espaços de lazer;
O desenvolvimento do
Autonomia Transporte público, mobilidade urbana e trânsito: existência
local melhora as condições
de linhas que atendas às regiões mais afastadas; qualidade do
de vida da população
Bem-estar transporte; preço acessível; condições de tráfego;
agregando infraestrutura,
saneamento, instituições de Saúde: taxa de mortalidade infantil; estrutura hospitalar;
saúde e de educação. relação leitos por hab.; programas de prevenção e combate;
expectativa de vida e saneamento básico;
Bem Comum
FONTE: VILLELA, VIDAL, ARAUJO E COSTA (2014).

Os indicadores apontados no qua- e de cidadania deliberativa. Em outras


dro acima justificam a importância en- palavras, não se obtém o desenvolvi-
tre os processos de participação social mento territorial sem gestão social.

32 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


3.
Alguns instrumentos de governo para criação de instrumentos de promoção
a participação social no Brasil são re- da participação social.
centes e ainda pouco estudados. Sem A seguir, serão apresentados al-
esses instrumentos, a Gestão Social guns dos muitos instrumentos e for-
faz-se improvável e a tendência de o mas institucionais existentes nos quais

Instrumentos poder público servir exclusivamente


aos interesses do capital se amplia.
podem ser desenvolvidas práticas e
ações de gestão social nos territórios.

e formas Não é por acaso que muitas questões


sociais e urbanas foram deixadas de
Os subitens 2.1 a 2.4 são o resul-
tado do constructo de pesquisas e

institucionais
lado no planejamento de nossas cida- produções textuais, os quais vêm uti-
des, o que ocasionou deficiências gra- lizar fragmentos textuais extraídos

que
ves no desenvolvimento do território. do artigo de nossa própria autoria,
A questão urbana como uma questão que podem ser obtidos aprofundados

preconizam
social no Brasil surge a partir do con- em Villela, Vidal, Araújo, Costa, Costa
texto desenvolvimentista da década (2016) e Santana, Guedes, Villela (2011).
de 1960, quando se defendia a neces-
a gestão sidade de implementar reformas de

social em
bases para o alargamento do merca-
do interno e melhores condições de
3.1. Ministério
territórios
vida para a população (IPEA, 2013).
Após a interrupção durante o período das Cidades
militar, o movimento ressurge de for-
ma mais descentralizada, intervindo O Ministério das Cidades surge como
decisivamente no campo das políticas um instrumento para atender às de-
urbanas locais e atuando em todos os mandas sociais a partir dos anos 2000,
níveis de governo. Apenas a partir daí, num contexto pós-neoliberal, que pre-
começa a surgir um debate sobre a via a remontagem do aparelho estatal.
questão urbana na agenda da políti- Com foco inicial na questão da habita-
ca nacional, bem como interlocutores ção, vê-se a necessidade de ampliação
com a sociedade, que pretendiam fa- do Ministério das Cidades, em virtu-
cilitar a negociação entre os atores. de da evolução do debate, que tinha
Dessa forma, a atuação dos governos como crítica a ausência de política ur-
locais e a participação dos atores lo- bana no Brasil e a falta de um espaço
cais na formulação e na implemen- institucional que se responsabilizasse
tação de políticas públicas voltadas pela questão (Ministério das Cidades,
para a cidade iniciam um processo 2013). Ao mesmo tempo, a questão da
embrionário graças, em boa parte, à habitação não engloba apenas casas,

gestão social 33
mas a melhoria da qualidade da água, 3.2. Conselho
saúde, esgoto, drenagem, coleta de das Cidades
lixo, transporte, trânsito seguro e lazer.
Para alcance de tais fins, foi criado um O Conselho das Cidades nasce no mes-
Sistema Nacional de Habitação do qual mo contexto, atrelado à necessidade
faziam parte o Ministério das Cidades; de um instrumento que assegurasse o
os Conselhos Nacional, Estadual e desenvolvimento e o acompanhamen-
Municipal de Desenvolvimento Urbano; to da Política Urbana no Brasil. Entre
os Fundos de Moradia nas três esferas; as muitas atribuições contidas em
a Agência Nacional de regulamenta- Regimento Interno, o Conselho preten-
ção do Financiamento Habitacional; e de: formular programas, instrumen-
os agentes promotores e financeiros, tos, normas e prioridades da Política
públicos e privados. Nacional de Desenvolvimento Urbano;
A proposta do Ministério das estimular ações que visam proporcio-
Cidades se concentrava em formular nar geração, apropriação e utilização
e conduzir uma política de desenvolvi- de conhecimentos científicos, tecnoló-
mento urbano para o Brasil, integrando gicos, gerenciais e organizativos pelas
os setores de habitação, saneamento populações das áreas urbanas, assim
ambiental, trânsito e mobilidade urba- como realização de estudos, debates e
na, planejamento e gestão territorial pesquisas sobre a aplicação e os resul-
e fundiária. O Ministério nasce como tados estratégicos alcançados pelos
instrumento de participação social, programas e projetos desenvolvidos
quando surge a ideia da realização pelo Ministério das Cidades; estimular
de conferências em todas as esferas a ampliação e o aperfeiçoamento dos
de governo, com o objetivo de garan- mecanismos de participação social;
tir uma ampla representação e par- acompanhar e avaliar o cumprimen-
ticipação de todos os segmentos. As to das resoluções das Conferências
Conferências trariam para a prática o Nacionais das Cidades;
conceito de Cidadania Deliberativa de- O ConCidades pretende ser um ins-
fendido mais tarde por Tenório (2012), trumento fundamental para fazer va-
em que “[...] a característica central de lerem as finalidades das Conferências
esfera pública é tomada pela busca de Nacionais, que partem do consenso dos
soluções por meio da concordância mais diversos segmentos da sociedade
dos diferentes atores participantes do civil organizada. O órgão conta com as
processo decisório. A esfera pública seguintes entidades-membro: presi-
seria o espaço no qual se constituem dente (que é o ministro de Estado das
experiências de interação social, o foro Cidades); plenário (composto por 86
reflexivo no qual os atores de uma so- representantes de diferentes segmen-
ciedade buscam soluções comuns [...]”. tos – 16 representantes do poder pú-
Nesse sentido, o Ministério das Cidades blico federal, 9 representantes do po-
pretende cumprir exatamente o papel der público estadual e Distrito Federal,
de servir como instrumento para esta 12 representantes do poder público
busca de soluções entre poder público, municipal, 23 representantes de en-
iniciativa privada e sociedade civil. tidades de movimentos populares, 8

34
representantes de entidades empresa- três etapas (a municipal; a estadual e da sociedade. Como já foi destacado,
riais, 8 representantes de entidades de Distrito Federal e a nacional), alcançar o envolvimento da sociedade aumen-
trabalhadores, 6 representantes de en- alguns objetivos, tais como os enume- ta com a redemocratização do País. No
tidades profissionais acadêmicas e de rados pelo Ministério das Cidades: processo histórico, o que se observa é
pesquisa, e 4 representantes de orga- I – Identificar os principais pro- uma mudança progressiva de um mo-
nizações não governamentais); secre- blemas que afligem as popula- delo que servia aos propósitos de uma
taria-executiva do ConCidades; comi- ções das cidades brasileiras, me- administração centralizada para um
tês técnicos (Habitação, Saneamento diante manifestações de vários modelo que se insere numa lógica de
Básico, Trânsito, Transporte e segmentos e agentes produtores, descentralização e participação social.
Mobilidade Urbana, e Planejamento e consumidores e gestores; II – No que concerne à quantidade de pes-
Gestão do Solo Urbano). (Ministério das Propor princípios e diretrizes das soas que participam das conferências,
Cidades, 2013) políticas setoriais e da política contabilizando o registro de partici-
nacional das cidades; III – Avaliar pantes de todas as etapas, observa-se
os programas e legislações nas que 73% das conferências possuem um
áreas de habitação, saneamento total de até 100 mil participantes, sen-
ambiental, programas urbanos, do 4.763 o menor número observado e
3.3 Conferências trânsito, transporte e mobilida- o maior, 524.461. (IPEA, 2013)
das Cidades de urbana, desenvolvidas pelos Ainda que muitos aspectos do de-
governos federal, estaduais, senho institucional original das confe-
As conferências representam um for- municipais e do DF; IV – Indicar rências tenham se mantido, a mudança
talecimento do marco participativo ao ministério das cidades as prio- para o caráter mobilizatório-político
presente na Constituição de 1988. De ridades de atuação; V – Avaliar impulsionou outras áreas de políticas
acordo com o texto constitucional, o sistema de gestão e implemen- públicas a instituírem este tipo de ar-
a soberania popular pode se fazer tação das políticas urbanas, ranjo institucional para a participação
tanto pela via representativa quan- intermediando a relação com a social na gestão pública. A literatura e
to pela via da participação. Segundo sociedade na busca da constru- a análise dos documentos das confe-
o Instituto de Pesquisa Econômica ção de uma esfera público-par- rências permitem dizer que estas são
Aplicada – Ipea (2013), as Conferências ticipativa; VI – Avaliar os instru- instrumentos que possibilitam o diá-
podem ser entendidas como processos mentos de participação popular logo entre Estado e sociedade convo-
participativos convocados por órgãos presentes na elaboração e imple- cados pelo Poder Executivo e desen-
do Poder Executivo que reúnem, com mentação das políticas públicas volvidos em etapas interconectadas
certa periodicidade, representantes e propor as formas de participa- pela escolha de representantes e pela
do Estado e da sociedade para dialo- ção no processo de formação do formulação de propostas para políti-
gar a respeito de políticas públicas. O Conselho das Cidades. cas públicas.
Instituto as caracteriza considerando O debate gerado nos três ní-
os seguintes elementos: inserem-se em As primeiras conferências reali- veis nos quais ocorre a Conferência
uma etapa do ciclo de gestão de políti- zadas no Brasil serviram ao objetivo Nacional das Cidades (municipal, es-
cas públicas; reúnem sujeitos políticos político de ampliação da articulação tadual – incluindo o Distrito Federal, e
diversos; conectam-se a outras insti- federativa para melhoria da gestão nacional) tem por base um documen-
tuições participativas; e desenvolvem- de ações nos diferentes níveis da fe- to de discussão que está dividido em
-se como processos participativos. O deração. Apesar de a participação três partes: 1) Texto-base nacional; 2)
processo de formação e realização das ser incipiente, a conferência passou a Texto com as prioridades do Ministério
Conferências Nacionais das Cidades servir como veículo de expressão das das Cidades para a Política de
por meio desta estrutura pretende em preocupações existentes em setores Desenvolvimento Urbano 2014-2016;

gestão social 35
3) Texto para discussão das Prioridades nacional são organizados painéis de O texto-base nacional, que inclui
Municipais e Estaduais (incluindo o DF) discussão. Para determinação das as propostas de emendas aditivas,
para a Política de Desenvolvimento prioridades do Ministério das Cidades, supressivas ou modificativas elabora-
Urbano 2014-2016. os delegados se organizam em grupos das nas Conferências Municipais e nas
O primeiro, o texto-base Nacional, e levam as propostas que serão vo- Estaduais, foi discutido e aprovado
que aborda quatro grandes temas re- tadas em plenária. Além desses dois em plenário, tendo sido as propostas
lacionados diretamente ao Sistema documentos, outros dois relatórios organizadas por eixo temático. O re-
Nacional de Desenvolvimento Urbano, são organizados e enviados para a sultado final da votação formaria o
e o segundo que contém as priorida- Conferência Nacional para fim de co- relatório nacional da 5ª Conferência
des do Ministério das Cidades para a nhecimento apenas, não há discus- Nacional das Cidades. Após a delibe-
política de Desenvolvimento Urbano, sões ou deliberações sobre estes rela- ração sobre propostas, estas seriam
passam pelo mesmo processo até tórios nesta última etapa. São eles: a) levadas à plenária para a votação. Do
chegarem à etapa nacional. Na etapa o relatório que contém as Prioridades resultado, elabora-se o Relatório Final
municipal, são feitas propostas aditi- Municipais e Estaduais para a Política da 5ª Conferência das Cidades.
vas, supressivas ou modificativas aos de Desenvolvimento Urbano no pe- Representantes de diferentes
textos e determinadas em plenária ríodo 2014-2016, que é elaborado na movimentos se deslocam do Brasil
para então serem enviadas a etapa etapa municipal; b) o relatório que inteiro, para participar do evento
Estadual. Na Conferência Estadual, o contém as Prioridades Estaduais que pretende incentivar e promover
processo será de discussão e votação para a Política de Desenvolvimento a participação de diferentes ato-
em plenária das propostas que irão Urbano no período 2014-2016, que res na formulação de políticas para
para a etapa nacional, onde enfim se é elaborado na etapa Estadual. Reforma Urbana. Os participantes da
deliberará para se chegar à versão Importante destacar que as duas pri- Conferência são divididos em duas
final dos documentos, o texto-base meiras etapas (municipal e estadual) categorias: os delegados, com direi-
com as emendas findas na Resolução são responsáveis pela eleição de to a voz e voto, e os observadores. O
da Conferência e as Prioridades do seus Conselhos de acordo com seus quadro abaixo contém a distribuição
Ministério das Cidades resultas no respectivos níveis, nas Conferências de delegados entre os diferentes seg-
Relatório Final da Conferência. Municipais é determinado o Conselho mentos e mostra que o movimento
Para o debate sobre as propostas Municipal das Cidades e nas Estaduais popular é o que contém maior número
de emendas no texto-base, na etapa o Conselho Estadual. de representantes.

Quadro 2: Distribuição de delegados por segmento


P. Pub. P. Pub. Movimento Profis.
Segmento Total de Empresários Trabalhador ONG´s
Estadual Municipal Popular Acadêmicos
Indicador Delegados 11,05% 11,05% 4,64%
13,37 % 22,46% 29,77% 7,66%
Delegados 561 75 126 167 62 62 26 43
FONTE: EXTRAÍDO DO REGIMENTO INTERNO DA 5ª CONFERÊNCIA NACIONAL DAS CIDADES, 2013. HTTP://WWW.IPEA.GOV.BR/PARTICIPACAO/IMAGES/PDFS/CONFERENCIAS/5ACN-
CIDADES/REGIMENTO_INTERNO.PDF. ACESSADO EM 15 SET. 17.

36 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


3.4 Planos Diretores tornam-se necessárias reflexões in-
terdisciplinares e transdisciplinares
Os meios e as possibilidades de par- capazes de conceber os atores sociais
ticipação são previstos no texto da nas suas várias dimensões e nas di-
Constituição Federal como instrumen- versas escalas de poder em que está
tos jurídicos de participação. São eles: inserido. Em uma concepção crítica
a ação popular, o atendimento aos di- acerca do uso de instrumentos que
reitos da criança e do adolescente, no promovam o empoderamento e as
Colegiado de Órgãos Públicos, na cul- iniciativas locais para o desenvolvi-
tura, na denúncia de irregularidades/ mento territorial, Sachs (2008) sugere
ilegalidades, no ensino público, na ini- a garantia da participação e envolvi-
ciativa popular, no planejamento pú- mento de todos os atores, sejam tra-
blico, no plebiscito, na política agríco- balhadores, empregadores, o Estado e
la, no referendo e na Seguridade Social. a sociedade civil organizada, dando a
Já em âmbito local existem outros dis- devida importância ao planejamento
positivos jurídicos como o Estatuto da territorial, nos níveis municipal, mi-
Cidade e o Plano Diretor. crorregional e mesorregional, no sen-
O Plano Diretor Participativo é um tido de reagrupá-los por suas identi-
documento básico da política de de- dades culturais e pelos seus interesses
senvolvimento do Município que deve comuns em um processo de exercício
ser construído com a participação de contínuo da cidadania.
todos os atores e segmentos da socie-
dade. O seu principal objetivo é nor-
tear a atuação do poder público e da
iniciativa privada na formulação dos
espaços urbano e rural na oferta dos 3.5 Consórcios
serviços públicos essenciais, a fim de Intermunicipais
assegurar melhores condições de vida
para a população. Os consórcios intermunicipais podem
Esses instrumentos dão le- ser considerados como ações e parce-
gitimidade às formas de partici- rias entre municípios a fim de que haja
pação da população em arranjos ações conjuntas, no sentido de incre-
institucionais como: agência de de- mentar a qualidade dos serviços pú-
senvolvimento local, Agenda 21 Local, blicos destinados à população. Surgem
conferência, conselhos, consórcios in- assim como forma de superar o efeito
termunicipais, Conselhos Regionais de de capilarização e descentralização do
Desenvolvimento, Desenvolvimento poder federal, destinados aos municí-
Local Integrado e Sustentável, fóruns, pios e redimensionar escalas produti-
orçamento participativo, parcerias, vas e financeiras adequadas.
plano estratégico local, polo de desen- Tais consórcios podem ocorrer, so-
volvimento e redes. bretudo, no âmbito de territórios que
Aproximando essa perspectiva comungam de especificidades regio-
à complexidade das ações do enfo- nais sejam econômicas, culturais, so-
que territorial para esta pesquisa, ciais, produtivas etc.

gestão social 37
Essas formas de relação podem ser
analisadas como níveis de participa-
ção, mas não gera controle. Controle
social vai à direção de cogestão e pla-
nejamento, isto é, a sociedade civil é
ator presente e relevante no proces-
so de elaboração, acompanhamento
e verificação ou monitoramento das
ações de gestão pública.
No que diz respeito aos CGPP, foi
por meio de legislação complemen-
tar e normatizações produzidas pelas
instâncias federais que se construiu a
regulamentação no modo de funcio-
namento dessas instâncias de parti-
cipação. A ideia é que CGPP crie uma
instância entre a sociedade civil e o
governo local de formulação e propo-
sição de diretrizes e estratégias da ges-
tão governamental e possibilita exer-
3.6 Conselhos Gestores também estabeleceu uma institucio- cício do controle social dessas ações.
nalidade nos canais de participação Nesse sentido, cria a oportunidade de
Este subitem do módulo é resultado da sociedade junto ao Estado como fiscalizar e avaliar ações assim como a
do constructo de pesquisas e produ- os Conselhos Gestores de Políticas alocação de recursos.
ções textuais, o qual vem utilizar frag- Públicas (CGPP), que são órgãos que Sendo assim, seguem alguns ele-
mentos textuais extraídos do artigo de apresentam funções, pelo menos em mentos de caracterização destas ins-
nossa própria autoria, que podem ser tese, de consulta e deliberações das tâncias de participação, tais como: (i)
obtidos e aprofundados em Vianna, políticas públicas, exercendo também apresentam-se em áreas temáticas,
Kraemer, Villela (2016). A partir da re- um papel no controle social dessas po- ligadas a políticas sociais específi-
democratização do Brasil, pode-se líticas. Esses conselhos estão presen- cas; (ii) são canais institucionais de
perceber uma descentralização tanto tes em todos os níveis de federação. participação social; (iii) apresentam
da gestão quanto financeira da ad- Sendo que no nível municipal ocorreu um caráter representativo com man-
ministração e das políticas públicas. uma grande disseminação nos últimos datos sociais não remunerados, po-
Dando mais responsabilidades para anos, tornando-se referências para os dem ser deliberativos ou consultivos;
os estados e municípios. Dessa forma, estudos dedicados à participação e (iv) apresentam uma composição pa-
temos a municipalização das políti- ao controle social. ritária entre governos e sociedade;
cas sociais, como educação, saúde, Antes de discorrer sobre o signifi- (v) pelo menos formalmente apre-
assistência social e segurança ali- cado de controle social, é preciso tra- sentam uma autonomia em relação
mentar e nutricional. A Constituição tar o que não pode ser apresentado ao governo local (TÓTORA; CHAIA,
de 1988 será o marco institucional como tal. Neste caso, controle social 2002). Quando se analisa o papel dos
para o início deste processo, que não é consulta ou ouvir o outro ator. CGPP e as conferências nacionais de

38 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


políticas públicas, pode-se admitir Sendo assim, destacam-se al- 3.7 Arranjos Produtivos
correntes que entendem que os mo- gumas limitações dos conselhos no Locais (APLs)
vimentos sociais não deveriam par- momento dos seus exercícios, que
ticipar destes espaços institucionais podem justamente prejudicar o fun- Este subitem do módulo é resultado
de participação por entenderem que cionamento como tal foi imaginado. do constructo de pesquisas e produ-
estes estão capturados pelo Estado. São possíveis limitações: (i) Possíveis ções textuais, o qual vem utilizar frag-
Entretanto, há vertentes que acredi- manipulações do conselho feito pelo mentos textuais extraídos do artigo
tam que são esses espaços que pos- governo a partir de indicações em sua de nossa própria autoria, que podem
sibilitam acesso a mais poder dentro composição; (ii) Dificuldade da so- ser obtidos e aprofundados em Villela
do Estado; isso não significa que há ciedade civil em participar dos con- (2013) e Meirelles Junior e Villela (2012).
limites nas efetividades destas es- selhos devido à restrição de acesso Entende-se por APLs a aglomera-
truturas institucionais. do próprio poder público e a própria ção de empresas ou de diversos ato-
Os conselhos, tendo sua efetivi- falta de tempo; (iii) Entendimento das res sociais locais para a produção de
dade na representatividade e no fun- funções por parte dos representantes bens ou serviços. Tal produção tem
cionamento, poderão atribuir novas da sociedade civil dos conselhos; (iv) em comum uma especialização do
diretrizes para as políticas sociais, pois Falta de infraestrutura para o fun- local, ou seja, de um território espe-
atuariam na formação das políticas cionamento adequado; (v) Problema cífico. Pode-se dizer que o local tem
públicas e nas tomadas de decisões. de representatividade. a capacidade de produzir, ou que o
É percebido que, a partir de 1996, há No entanto, o sentido original local detém um determinado capital
o aumento da criação dos conselhos dos CGPP é no exercício do controle social. Este capital social é denomi-
municipais, pois os recursos destina- social sobre o Estado a fim de aten- nação dada para um conhecimento
dos às áreas sociais eram vinculados a der a demanda da maior parte da específico. As localidades, então, se
partir de suas criações. população que está configurada na desenvolvem por deter este conhe-
A instituição dos CGPPs é consi- classe trabalhadora. Dessa forma, a cimento. A exemplo, podemos citar
derada uma inovação no que tange sociedade civil não é homogênea e, os APLs de confecções, de turismo,
à participação social no processo de sim, com representações com inte- metal-mecânico, automobilístico, de
formação e implementação das polí- resses antagônicos. Devemos enten- cultura, de educação, religiosos, de
ticas públicas, assim como o exercício der esses espaços sem neutralidade artesanatos; frutas, hortifrútis, flo-
do controle social dessas políticas. No e com diversidade. Assim, o exercício res, alimentação, diversos gêneros
entanto, há problemas e limites nes- efetivo do controle social dependerá alimentícios, pedras decorativas, ce-
te novo desenho organizacional da das correlações de forças estabeleci- râmicas, estaleiros, mecânicos, co-
gestão pública brasileira (TÓTORA e das nessas instâncias. mércio etc.
CHAIA, 2002). Quando se analisam os Desse modo, o controle social pas- Os APLs são importantes para
mecanismos de participação social sa a ser o direito do poder público esta- o desenvolvimento local, para a in-
no Brasil, é importante ressaltar que tal ser fiscalizado pela sociedade civil clusão social e para a participação
esses espaços em certas ocasiões se pela ideia de ‘participação popular’, dos diversos atores envolvidos, que
transformam em meros espaços de visto que ambas “são categorias explí- deverão utilizar uma dinâmica cons-
consentimentos das ações do poder citas nesse tipo de processo decisório ciente de planejamento conjunto, de
público sem sua real efetividade, tor- deliberativo, justificado no âmbito de ações cooperadas que promovam o
nando-se um meio de legitimação por esferas públicas, de conselhos munici- desenvolvimento de suas atividades
parte do poder público. pais” (TENÓRIO, 2016, p.24-25). empresariais e locais. Precisam ser

gestão social 39
capazes de elaborar uma governan- a participação popular e a organiza- Para Guedes e Silva (2012):
ça que seja adequada para conciliar ção de entidades não governamen-
todos os interesses. Esta governança tais pelo País, vem trazendo à tona a [...] o que se busca é o fortalecimento
deve ser participativa na qual se ob- necessidade de articulação e coorde- de processos de integração e forta-
serva a divisão de papeis dos atores nação dos atores sociais, por meio de lecimento dos atores que compõem
públicos, mercados e sociedade civil. políticas e programas que integrem a o amplo quadro da organização do
O estudo do APL evidencia a sociedade nos níveis municipais, esta- trabalho e da produção nas coope-
existência de redes entre os atores duais e federais de forma que se possa rativas e outras formas associa-
formando laços de confiança nos atingir o desenvolvimento sustentá- tivas. Nesse sentido o tema, possui
quais cada um tem um papel defini- vel local e regional. certa transversalidade na medida
do. Apresentam assim processos de em que implica a valorização da
aprendizados interativos, qualifica- produção ancorada no território
ções técnicas e organizacionais, co- como instrumento de um processo
nhecimentos implícitos acumulados, de integração na agricultura fami-
confiança nas relações entre empre- 3.8 Cooperativas liar e suas associações (grifo nosso).
sas e atores, a proximidade geográ- e Associações
fica, social e cultural que são fontes Em locais onde estão concentra-
de diversidade e também de vanta- Este subitem do módulo é resultado das unidades produtivas, configuran-
gens comparativas. do constructo de pesquisas e pro- do uma rede de interesses comuns, que
As sinergias coletivas geradas duções textuais, o qual vem utilizar apresentam um saber-fazer caracte-
pela participação em aglomerações fragmentos textuais extraídos do rístico e uma produção específica, tais
produtivas locais efetivamente forta- artigo de nossa própria autoria, que grupos possuem potencial significati-
lecem as chances de sobrevivência e podem ser obtidos aprofundados em vo para o desenvolvimento econômico
crescimento das empresas e, para que Vianna (2017). coletivo que podem se organizar como
essas se desenvolvam e se sustentem, Com a intenção de aproximar e associações ou cooperativas. “Tais ar-
é necessário um cenário de coope- integrar os conceitos de desenvolvi- ranjos devem, teoricamente, elabo-
ração e de competitividade bastan- mento local e cidadania deliberativa rar um governança capaz de conciliar
te intenso. (CASSIOLATO, LASTRES e com base na perspectiva da Gestão interesses nem sempre convergentes
MACIEL, 2003) Social, Tenório (2007) entende como dos diferentes atores; planejar conjun-
Existem os ganhos naturais que desenvolvimento local “‘com’ cida- tamente e executar ações cooperati-
são advindos das trocas de informa- dania aquela ação coordenada en- vas que promovam o desenvolvimen-
ções entre os atores que favorecem a tre a sociedade e o poder público to de suas atividades empresariais”
existência de infraestruturas as quais municipal, instituída por meio de um (VILLELA e PINTO, 2009). Essa forma de
consolidam a identidade sociocultu- processo participativo e democrá- governança retoma o que se caracte-
ral do arranjo, mas é necessário para tico, em prol do bem-estar social, rizou neste texto como Aglomerações
que se possam materializar situações econômico político e cultural de um Produtivas Locais (APLs). APL é uma
de resultados econômicos e sociais a dado território”, no sentido de pro- rede com governança própria, basea-
necessidade de mecanismos que pro- tagonizar e incluir igualmente a plu- da na relação de troca entre os atores,
movam e permitam a sustentabilida- ralidade do maior número de atores que surge de maneira espontânea, de
de das localidades. envolvidos em que a legitimidade preferência horizontal, requerendo
Com o advento da Constituição das decisões políticas surge nos pro- uma localidade espacial e uma gestão
de 1988 e a própria mídia solicitando cessos de discussão. social participativa.

40 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


4.
O Território Rural da Baía da Ilha Neste mesmo período o munícipio de
Grande é composto por cinco municí- Seropédica recebe a implantação de
pios situados na Região da Costa Verde uma usina termoelétrica, a expansão
no Sul do Estado do Rio de Janeiro, dos areais, novas empresas de extração
que inclui Angra do Reis, Itaguaí, mineral, o aterro sanitário Santa Rosa
Mangaratiba, Paraty e Seropédica. que atende toda a região metropolitana
Exemplo de Esses municípios englobam uma área do Rio de Janeiro e os novos condomí-
de 2663 km2 onde vive uma popula- nios logísticos. Tais empreendimentos
aplicação de ção de aproximadamente 430.502 ha-
bitantes (IBGE, 2010).
modificaram a estrutura socioeconô-
mica-ambiental e política do território
políticas públicas Esse território é palco de grandes
disputas no cenário nacional. Um breve
da Baía da Ilha Grande.
Poderia ser suposto que, com a
na busca da histórico pode contribuir para elucidar
alguns aspectos importantes. A aber-
ampliação da população local, esta
nova estrutura representaria um im-
territorialização: tura da BR-101, Rodovia Rio-Santos
na década de 1970, trouxe um desen-
pulso e oportunidade para a produ-
ção agrícola da região; no entanto,
o caso do freado processo de crescimento eco-
nômico para a região da Baía da Ilha
esta representou uma forte ameaça
aos produtores rurais. O modelo de
colegiado Grande. O território conta com belas
paisagens sendo este um forte atrati-
crescimento denominado como exó-
geno não incluiu atores locais como
territorial rural vo turístico. Paraty se transforma em
um polo turístico (APL) e a região con-
os agricultores familiares. Assim sen-
do, o Colegiado Territorial da Baia da

da Baía da Ilha tinuamente passa atrair novas redes


de hotelarias, loteamentos, ampliação
Ilha Grande tem grandes desafios à
sua frente. O processo de união de ato-

Grande das áreas urbanas e de proteção am-


biental. Também o território recebe no-
res interessados na produção agrícola
será aqui descrito como um exemplo
vos megaempreendimentos, como os de gestão social e de resgate identitá-
da construção das Centrais Nucleares rio e de coesão no território.
Brasileiras, denominadas de Angra 1, 2 Uma das questões discutidas nas
e 3 no início dos anos 1980 e, recente- reuniões trata da aproximação dos
mente, nos anos 2000, um novo fluxo três principais atores do território na
de grandes investimentos se instala no instância colegiada: (1) os pequenos e
município de Itaguaí, onde foram cons- médios produtores rurais, indígenas,
truídos o Porto Sudeste, a Base Naval quilombolas e caiçaras; (2) o poder pú-
de Submarinos Atômicos, o Estaleiro blico dos municípios representado pe-
da Marinha do Brasil, a nova planta las secretarias de agricultura, desen-
da Companhia Siderúrgica Nacional, a volvimento e pesca e (3) das entidades
planta da Usina Siderúrgica de Minas de pesquisa e extensão. Tal aproxima-
Gerais S.A., o Arco Metropolitano do ção pode ajudar a fomentar projetos
Rio de Janeiro, a expansão do Porto de que busquem fortalecer a agricultura
Itaguaí e o projeto da Base da Petrobras. familiar assim como as comunidades

gestão social 41
tradicionais. Além da troca de expe- O Programa Aquisição de Alimentos os Territórios Rurais e Territórios da
riências entre os municípios, é possível (PAA) é uma conquista da agricultura Cidadania) buscam manter relações
que haja ações de consórcios e projetos familiar com a inserção do programa de parceria, intercâmbio e troca de ex-
intermunicipais. Essa iniciativa pode Fome Zero que atende populações em periências exitosas com ambos os pro-
ser considerada como um avanço nas situação de insegurança alimentar gramas com a devida participação dos
questões cooperativas entre municí- buscando a inclusão social no campo. O seus membros nos conselhos munici-
pios quando Abramovay (2001, p. 132) programa prevê a compra institucional pais e em parcerias com instituições de
sinaliza a problemática de que o “plano de alimentos por estados e municípios, pesquisa e extensão.
de trabalho de cada município tende a com dispensa de processo de licitação, Os municípios do Território da
confinar-se a esta esfera restrita cujas na qual os preços podem ultrapassar os Baía da Ilha Grande (BIG) tem muitas
possibilidades de oferecer novas chan- valores dos mercados locais por meio dificuldades de implantação do Pnae,
ces são extremamente limitadas”. de chamada pública. Outra iniciativa com exceção de Paraty, que há quatro
As iniciativas mais recorrentes no é o Programa Nacional de Alimentação anos vem consolidando experiências
âmbito do colegiado são: (1) a troca Escolar (Pnae) que, assim como o PAA, exitosas de parcerias entre o poder pú-
de experiências entre os municípios é uma política de segurança alimen- blico municipal, agricultores familiares
na implantação do Pnae; (2) discus- tar e nutricional instituída pela lei nº e chefs de cozinha dos restaurantes do
sões acerca das questões e conflitos 11.497/2009, a qual prevê pelo menos polo turístico. Seropédica, dos cinco
fundiários; (3) a inclusão de agricul- a compra de 30% proveniente da agri- municípios, é o que mais tem dificul-
tores em feiras locais, como a Feira cultura familiar para serem servidos dades de implantar o programa, pois
da Agricultura Familiar da Rural, nas escolas da rede pública de ensino. apresentou problemas de divulgação e
o projeto da Feira da Agricultura A compra é feita por meio de chama- transparência das chamadas públicas
Familiar na Universidade Federal das públicas, que dispensa licitação e frente aos agricultores locais para a
Fluminense de Angra dos Reis. Daí a pode ser articulada nas reuniões com inserção dos mesmos no fornecimento
necessidade da criação de mecanis- participação de atores da sociedade de alimentos para a alimentação nas
mos de cooperação que vão além dos civil e do poder público que compõem escolas. Houve uma tentativa em 2015,
limites estritamente locais e da cria- o Conselho de Segurança Alimentar com a aprovação de um projeto, mas
ção de mercados institucionalizados (Consea) e o Conselho de Alimentação que não obteve desfecho desejado,
pelo Estado, sobretudo, nas escalas Escolar (CAE) municipal ou estadual. ou seja, sem a efetivação do contrato
municipais e regionais. Alguns colegiados territoriais (como (VIANNA, KRAEMER e VILLELA, 2016).

42 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Após a observação de tais ex- um instrumento de controle social em dezembro de 2015, também organi-
periências, houve no território da função da participação da socieda- zada pelo núcleo da UFRRJ, contou
BIG a organização do I Seminário de civil organizada e das instituições com a participação de representan-
Intermunicipal da Alimentação e presentes nos debates transcorridos tes dos cinco municípios. Foram for-
Agricultura Familiar com o tema durante o evento. mados grupos em torno de três ei-
“Avaliação e perspectivas do forne- O processo de recomposição xos: I – Fortalecimento Institucional,
cimento ao Pnae”. O evento ocorreu do Colegiado Territorial da Baía da Estruturação, Gestão, Financiamento
em setembro de 2016 e teve como Ilha Grande pela equipe do Núcleo e Participação Social; II – Ater e
objetivo apresentar e discutir sobre de Estudos em Desenvolvimento Políticas Públicas para a Agricultura
as experiências de cinco municípios: Territorial (Nedet) da Baía da Ilha Familiar; III – Formação e Construção
Paraty, Itaguaí, Paracambi, Pinheiral Grande – convênio UFRRJ/CNPq/ de Conhecimentos na Ater. Todos os
e Seropédica. Após as apresentações MDA, teve o início dos trabalhos para eixos foram transversalmente discu-
dos convidados, houve a plenária fi- a reorganização do colegiado com a tidos a partir das perspectivas: Eixo A
nal com debates e encaminhamen- criação de comissões que buscariam – Ater e Mulheres Rurais; Eixo B – Ater
tos. Discutiu-se sobre o compromisso contato com os representantes de as- e Juventude Rural; e Eixo C – Ater e
de o poder público garantir respon- sociações e cooperativas de agricul- Povos e Comunidades Tradicionais.
sabilidade em cumprir o programa tores para participarem como mem- Nesse encontro foram eleitos 14 re-
conforme a lei. Como encaminha- bros. O recebimento dos ofícios de presentantes titulares e sete suplen-
mento, ficou decidida em plenária a indicação dos representantes titula- tes, incluindo membros da sociedade
composição de um grupo de trabalho res e suplentes para a composição das civil e do poder público, que levariam
com participantes voluntários para a entidades que fariam parte do quadro as discussões apresentadas para a
elaboração de “carta compromisso” do Colegiado e uma comissão tirada Conferência de Ater etapa estadual,
a ser entregue aos futuros prefeitos para a elaboração do seu Regimento que ocorreu em abril de 2016 e, em
imediatamente após as eleições em Interno com a posterior aprovação seguida, a conferência nacional rea-
outubro do mesmo ano. A intenção em plenária foram ações de regula- lizada em maio do mesmo ano. Houve
desse documento foi de apresentar mentação do mesmo. também a de criação do Núcleo
aos prefeitos eleitos dos cinco municí- A Conferência de Ater – Dirigente, do Núcleo Técnico e dos
pios, a importância de incluir os agri- Assistência Técnica e Extensão Rural comitês de jovens, mulheres e comu-
cultores familiares no Pnae, enquanto – etapa territorial realizada em nidades tradicionais.

gestão social 43
A realização de sessões temá- realidade do território da Baía da Ilha junto com a Delegacia Federal do
ticas com a participação dos res- Grande, nas quais as interações foram Desenvolvimento Agrário do Estado
ponsáveis pelo (1) Parque Estadual profícuas e enriquecedoras para todo do Rio de Janeiro; (5) Consórcio in-
Cunhambebe e pelo (2) Parque o grupo presente. termunicipal para as secretarias de
Nacional da Serra da Bocaina foi uma Concomitantemente aos en- agricultura dos municípios envolvidos
demanda apresentada pelos agricul- contros e ações do colegiado, foram para projetos e capacitações com te-
tores com o objetivo de esclarecer os realizados 12 encontros de capaci- mas diversos: PAA, Pnae, Segurança
conflitos entre órgãos de fiscaliza- tação para os agricultores da região Alimentar etc.; (6) submissão de Projeto
ção ambiental e os agricultores em de Mazombinha, em Itaguaí, e na de Gestão de Recursos Hídricos junto
virtude das demarcações das áreas Associação Serorgânico, localizada ao CNPq; (7) a elaboração de cartas de
de proteção e conservação am- em Seropédica, foram realizados seis solicitação de apoio a grupos de agri-
biental. Considera-se, portanto, que encontros, nos quais discutiram-se cultoras pelos poderes públicos e ex-
essa demanda por parte da socie- temas variados orbitando entre polí- tensionistas locais; (8) incentivo à par-
dade civil seja caracterizada como ticas públicas, administração, identi- ticipação dos membros do colegiado
uma ação de controle social na qual dade rural, cooperativismo, técnicas em instâncias municipais como con-
os agentes do poder público foram sustentáveis de plantio, conselhos selhos de desenvolvimento rural, de
questionados quanto às suas ações municipais, noções de marketing para segurança alimentar, de alimentação
de repreensão das práticas agrícolas agricultores rurais e previdência so- escolar etc., dos municípios perten-
quando contrastadas com a citada cial no campo. Nessas duas comu- centes ao território; (8) divulgação das
“permissividade” desses órgãos aos nidades, anteriormente à capacita- ações de implantação do PAA institu-
megaempreendimentos industriais e ção, houve a realização de um DRP cional do Restaurante Universitário da
comerciais no território, mais espe- – Diagnóstico Rápido Participativo. UFFRJ entre as comunidades familia-
cificamente nas localidades das uni- As demais e diversas reuniões ple- res do território.
dades de conservação ambiental. Foi nárias do colegiado focaram em alguns A frequência e a participação dos
também criada uma comissão para pontos centrais: (1) na elaboração do atores nas reuniões plenárias do co-
discutir-se a elaboração coletiva e Plano Territorial de Desenvolvimento legiado tem mostrado simetria entre
participativa do Plano Territorial de Rural Sustentável e Solidário (PTDRSS), membros da sociedade civil e dos po-
Desenvolvimento Rural Sustentável no qual houve a necessidade de en- deres públicos chegando a um total de
e Solidário (PTDRSS) para o território. contros alternativos para o levanta- 70 presentes na 9ª reunião plenária.
Foram realizados encontros de mento do diagnóstico do território,
capacitação para os membros repre- dos impactos do crescimento eco-
sentantes dos colegiados com parti- nômico exógeno na região e das pro-
cipação da sociedade civil, do poder postas de ações futuras; (2) ações de
público e das entidades de pesquisa e parceria para a criação de um projeto
extensão, nos quais foram abordados de turismo rural de base comunitária
temas como: (1) Gestão Social, controle para a Serra do Piloto no município
social e participação nas políticas pú- de Mangaratiba-RJ; (3) a promoção e
blicas; (2) cultura, identidade e territó- a criação de feiras municipais e insti-
rio e (3) assistência social no meio rural. tucionais que integrassem atores do
Nestes dois encontros de capacitação, território para o fortalecimento das
as discussões acerca dos conceitos famílias de agricultores; (4) participa-
abordados foram contextualizados ção do Nedet no Projeto de Formação
nas falas dos participantes acerca da dos Jovens Rurais em Agroecologia

44 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Perfil dos Síntese do estender a diversas outras dimensões
da participação da sociedade.
Autores Fascículo Contudo, há a necessidade de
“destravar” os processos que emper-
ram as políticas públicas locais que
Lamounier Erthal Villela Neste módulo tivemos objetivo de deveriam ter como objetivo forta-
Professor do Departamento de mostrar como a gestão social é indis- lecer a sociedade civil organizada e
Economia do ICSA/UFRRJ e dos sociável do desenvolvimento terri- suas ações nos territórios, visto que
Programas de Pós-graduação PPGDT/ torial. O desenvolvimento local só é tais atores são as “pontas frágeis”
UFRRJ e PPGCTIA – Doutorado possível com a participação de todos, com suas identidades e naquilo que
Binacional (UFRRJ/URNC-Argentina). ou seja, com processos de inclusão, de produz e comercializa. Assim, ques-
Doutor em Economia Aplicada pela discussão, de coesão e governabili- tões de políticas públicas como se-
Université Paris III (Sorbonne Nouvelle) dade. Assim sendo, ele requer um pla- gurança e soberania alimentar, por
e Pós-Doutor em Administração nejamento, uma definição de projeto exemplo, devem ser tratadas com
Pública pela EBAPE-FGV. para onde e como se deseja construir mais respeito e seriedade, tanto rela-
um território. Apresentamos alguns cionadas à reprodução e à manuten-
Márcio de Albuquerque Vianna conceitos, indicadores de desenvolvi- ção socioeconômica da população
Professor do Departamento de Teoria mento, políticas públicas focadas nos mais empobrecida quanto ao desen-
e Planejamento de Ensino do IE/UFRRJ territórios e, por fim, o exemplo de um volvimento sustentável do território.
e dos Programas de Pós-graduação colegiado de produtores rurais que de- Quando os territórios não são traba-
PPGEduCIMAT/UFRRJ e Pesquisador mandam voz e espaços em um territó- lhados de forma participativa à luz
Associado no PPGDT/UFRRJ. Doutor rio de rápido crescimento econômico da Gestão Social, ocorre o processo
pelo Programa de Pós-Graduação excludente nos últimos anos. de exclusão, de desterritorialização e
em Ciência, Tecnologia e Inovação Normalmente são percebidas as- desmobilização da cadeia produtiva
em Agropecuária da UFRRJ – área simetrias na participação entre os local. Isso ocorre em virtude da fragi-
de concentração: Políticas Públicas diversos atores locais: poderes públi- lidade na implantação das políticas
Comparadas. cos, mercado e sociedade civil. Esses públicas e da ausência de agendas
poderes descompassados implicam a voltadas para a inclusão dos atores
concentração do poder que inviabiliza que necessitam das ações estatais de
os processos democráticos como assi- apoio à população.
nalados nos conceitos de território e Assim, com a ausência da gestão
de gestão social. social com base na participação de to-
O baixo controle social, ou seja, a dos os segmentos da sociedade com si-
dificuldade da sociedade de partici- metria e igualdade nas relações de po-
par, de deliberar e de ter acesso à des- der, no lugar do crescimento endógeno
tinação dos gastos públicos denota – de dentro pra fora –, ocorre o cres-
uma sociedade pouco democrática e cimento econômico exógeno – de fora
subdesenvolvida. para dentro –, o qual pode comprome-
Neste texto foram apresenta- ter as identidades culturais, os proces-
dos alguns instrumentos de reflexão e sos de inclusão social e a soberania da
ação de práticas de gestão social, mas população mais desprivilegiada so-
que não se esgotam aqui, podendo se cioeconomicamente nos territórios.

gestão social 45
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