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Revista Eletrônica

Intr@ciência

SENSO CRÍTICO

BIANCHI, Patrícia

Há cerca de uma década, um professor indicou um livro chamado “Senso Crítico: do


dia-a-dia às ciências humanas”, de David William Carraher. O livro trata da argumentação,
das funções da linguagem, da leitura nas entrelinhas e, sobretudo da desmistificação do
discurso. Há cerca de uma semana, proferi palestra num evento, onde os discursos me levaram
à década de 90, especificamente à leitura de Carraher.
Discursos eivados de valores que se misturavam às questões tecno-argumentativas,
valores que cumprem certas finalidades, que só poderiam ser “percebidas” pelo senso crítico
que temos, ou deveríamos ter. Este pode ser definido como a “capacidade de analisar e
discutir problemas inteligente e racionalmente, sem aceitar, de forma automática, suas
próprias opiniões ou opiniões alheias.”
Naquele evento, presenciei, perplexa, uma “autoridade” discursando e, naturalmente,
invertendo conceitos, distorcendo teorias perante um público pacificado, e até mesmo
encantado, já que o locutor se referia a várias autoridades, cargos importantes, tudo isso
emoldurado por bem cuidados cabelos grisalhos que, nesse caso, lhe conferia um plus de
credibilidade.
Foi nesse cenário que ouvi, entre outras, que - em razão da existência do ciclo
hidrológico - a água era recurso infinito e ilimitado; e ainda que um dano ecológico local (de
grande porte, como a construção de uma grande usina) seria compensado por ganhos globais,
ocultando-se, aqui, todas as inter-relações e prejuízos que os danos ecológicos (muitos de
caráter global em razão da sua extensão) podem causar ao ser humano e demais seres que
dependem do equilíbrio ecológico para ter qualidade de vida.
A própria natureza humana nos faz aceitar idéias por razões emocionais e pessoais, por
questões de valores, conveniência ou preferência, muito mais do que por razões racionais.
Nesse contexto, falácias são utilizadas como “truques de argumentação” que impedem a
análise clara, e obscurecem as questões reais que merecem atenção. Fatos são distorcidos, e as
formas como as ideias são apresentadas podem sugestionar a aceitação do expectador.

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Há, ainda, o apelo emocional, além do, muitíssimo comum, apelo à autoridade, em que
se aceita como verdadeira uma idéia porque uma autoridade ou especialista renomado a
defende. Tudo isso para se garantir uma decisão de acordo com os interesses do locutor.
O pensador crítico normalmente questiona as informações a fim de averiguar se elas
são dignas de confiança; o que a fonte está tentando conseguir; e o que ela significa em
termos pragmáticos. Na prática, as pessoas inibem seu pensamento crítico para não parecerem
“do contra”. Ao contrário, dever-se-ia incentivar a curiosidade, a interpretação do que se
apresenta, em várias perspectivas, para se garantir a detecção do “não dito” na comunicação
científica ou diária.
Nossas posições ou escolhas são valoradas. Contudo, no discurso, deve-se priorizar a
informação fundamentada. O fato das idéias estarem ligadas a motivos não impossibilita o uso
do senso crítico. O próprio exercício da cidadania pressupõe o mínimo desse senso. Este
valoriza a coerência, a clareza de pensamento, a reflexão, e uma compreensão melhor da
realidade social, sem o que a ação responsável é fadada ao fracasso.
Nem mesmo o acúmulo de informações pode nos salvar das armadilhas de um belo ou
envolvente discurso. Na língua germânica, o termo humorístico Fachidiot (idiota bem
informado) ridiculariza os especialistas (Fachmann) que, apesar de possuírem muitas
informações, apresentam uma total falta de perspectiva ou conhecimento mais amplo.
Seja no âmbito acadêmico ou no dia-a-dia de pessoas comuns, incentivar o senso
crítico em dada sociedade é elevar o seu nível de desenvolvimento, é possibilitar menos
enganos, menos falácias, proporcionando uma visão mais clara da realidade. É o que
merecemos e não devemos mais adiar.

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