A língua é um código dinâmico que evolui juntamente com a cultura dos povos que a usa,
desta maneira, ela se modifica seguindo conquistas e mudanças principalmente quanto ao avanço das
ciências e das tecnologias da comunicação e da informação. Mesmo existindo diversas formas de nos
comunicarmos, a escrita da língua é a que “comprova” a evolução da humanidade, pois registra as
várias expressões, utilizadas em ambientes de trabalho, lazer, familiar e outros, por meio de gêneros
que são criados à medida que surgem novas tecnologias. O registro escrito que é determinado por
regras e normas, existentes em gramáticas tradicionais e em manuais didáticos dentre outros,
determina a homogeneidade na comunicação em uma sociedade heterogênea no pensar, falar e agir.
Apesar de toda a variedade de falares e do próprio léxico, busca-se uma linguagem
“comum/única” aos falantes da língua portuguesa, necessidade mundial devido à globalização que
busca integrar todos os povos, fato este que está sendo atualmente bastante discutido com a reforma
ortográfica da língua portuguesa. No entanto, percebemos um repúdio a “linguagem virtual” como
desvio da norma culta, mas o que realmente acontece é a mudança natural e real da língua a partir do
uso constante e das necessidades sócio-culturais e econômicas, transformações essas apoiadas em
processos considerados pela Lingüística como “essencial para a sobrevivência da língua, tendo em
vista que somente mediante semelhante processo pode o sistema adequar-se às novas exigências
surgidas em face da própria mudança cultural” (CAVALIERE, 2005, p.55).
Um instrumento desta globalização é a internet que promove a comunicação de pessoas
independente da distância física. No entanto, a rapidez e a economia vocabular fazem surgir, neste
ambiente, novas formas de escrita vinculadas à oralidade em uma busca de aproximação tanto do
“imediatismo” da própria comunicação oral quanto da “identificação/homogeneidade” da
informalidade através de expressões usadas na troca de informações.
A partir das reflexões lançamos o seguinte questionamento: quais são os processos
fonológicos mais recorrentes no léxico utilizado e criado na internet? Para tanto, tivemos como
objetivo destacar os processos fonológicos utilizados na formação de palavras características da
comunicação no meio virtual e focalizar no léxico de grande produtividade o avanço da língua
portuguesa, criado a partir dos processos fonológicos. Ao observarmos as palavras que surgem neste
âmbito, constatamos uma linguagem mais prática e dinâmica, apresentando grande similaridade com a
língua falada em busca de rapidez e objetividade no momento da interação. Desta forma,
desenvolvemos nosso estudo apoiados na hipótese de que os processos fonológicos são de grande
importância no processo de criação do “léxico virtual”, tendo como principais os processos
fonológicos que envolvem a supressão de fonemas devido a necessidade de rapidez na comunicação.
Cabe aqui enfatizar que esta é uma pesquisa em andamento que está em seu início.
O objetivo, deste estudo, volta-se para a comprovação de que a linguagem virtual não “surge
do nada”, mas antes parte da oralidade dos internautas que apesar de serem de diversas regiões do
Brasil apresenta uma uniformidade e regras ainda desconhecidas em sua maioria.
1 A linguagem no ciberespaço
articulados e com significação, envolvendo aspectos prosódicos, recursos expressivos, tais como
gestualidade, movimentos do corpo e mímicas (MARCUSCHI, 2001, P.25), pode ser representada
semioticamente na Net. Esta maneira de representação da oralidade faz com que aceitemos a língua
que é escrita no ciberespaço como “internetês”, nem escrita, nem fala, mas um estilo “on-line” de
comunicação.
A escrita no ciberespaço tende a uma aproximação com a oralidade, pois a comunicação é
interativa e direta com recursos semióticos na construção discursiva da linguagem. A interação é
realizada por meio dos hipertextos e os internautas utilizando uma nova linguagem com modificações
tanto no código alfabético quanto na escrita oficial, cria novos léxicos em “estilo on-line” devido às
necessidades lingüístico-discursivas.
A linguagem conhecida como “internetês” mescla o oral com o escrito em um “tipo”
específico de “fala” aceita apenas em alguns contextos virtuais. Seria uma “parole/langue”, ou seja,
uma “língua falada com aspectos de escrita”, que se modifica cotidianamente e circula nas
comunicações dos que freqüentemente fazem uso desta nova forma de interagir, ocasionando
mudanças no processo de construção discursiva da linguagem vista por alguns como sendo puramente
um “erro/desvio” da norma culta, necessidades dos adolescentes (maioria dos internautas que criam e
usam esse tipo de linguagem) de se identificar em “grupos/tribos” ciberespaciais com pensamentos,
idéias e emoções transmitidas através de uma linguagem específica que busca representar gestos e
entonações por meio dos emoticons, abreviações, reduções de palavras, acrônimos e neologismos além
de outros recursos como tamanho da letra e agrupamento de sinais de pontuação.
2 Processos “fonomorfológicos”
suprimir duas vogais idênticas. Nos processos por transposição de acentos e fonemas em palavras o
autor apresenta dois processos – hiperbibasmo, o acento de intensidade ou avança ou recua; e
metátese, consiste na troca de posição de fonemas em uma palavra por questões eufônicas. Já nos
processos por transformação de fonemas em palavras, Cavaliere (2005, p.59) faz referência aos
seguintes processos – assimilação, “consiste na ação assimilatória de um fonema sobre o outro, de que
resulta uma modificação desse último a ponto de dele aproximar-se (assimilação parcial) ou a ele
igualar-se (assimilação total)”, este processo ocasiona alguns fenômenos como a harmonização, o
debordamento e a nasalização/desnasalização; diferenciação, “ruptura da continuidade de uma
posição articulatória, seja segmentando um som único, seja intensificando a diferença entre sons
semelhantes e contíguos”; e dissimilação, processo em que há a alteração do som para diferenciar a
articulação de fonemas contíguos.
A seguir procuramos relacionar os processos fonológicos com os morfológicos por serem
estes decorrentes daqueles, quando representados graficamente. No entanto, não é de nosso interesse,
neste trabalho aprofundar esta comparação.
Exemplo I
Quem sou eu: A miniina da fotoo ao laado...
Poode me adicionaar a vontaadee... Vou adoraar clicar no
NÃO...
Meeus amiigos de verdade sabem coomo eu soou...
=)
Exemplo II
Oi! Kd vc???? Jah saiu??? fala cumigo sinaum fico tristi!!!!
Exemplo III
Quem sou eu: -----> InVasaUm Du LiGeiroO <--------
Dentre os processos mais recorrentes, sem dúvidas, estão os de supressão, vistos no exemplo
IV a seguir, devido à necessidade de economia e rapidez na comunicação virtual.
Exemplo IV
bia:ei, tuh mandasse um recado pra mim no orkut?? eu soh vi q vc tinha mandaddo mais eu
n vi o q tinha escrito??
bia:n sei pq
bia:o q era??
bia:foi mall, entrei de novo e vi
bia:=)
bia:mas tem uma coisa q n cosegui foi abrir a comu
bia:
bia:;G
bia:eu apertei neh lah no link, ai diise q a comu tinha sido excluido;G
bia:tuh vai pro niver de lary??
Tanto no exemplo IV como nos demais vemos um léxico “reconstituído” por supressão em
processo de aférese – c referente a você, to por estou, tava em lugar de estava e ki como aqui – em que
percebemos a ausência de um ou mais fonemas no inicio das palavras; processos de apócope – maguo
(maguou), escreve (escrever) – em que o fonema final é retirado por questões de ênfase no “o”. No
entanto, o processo de maior recorrência foi o de síncope em que a supressão é feita em fonemas no
interior das palavras – Bjão, dmais, kd, pra – em que o som das letras favorece a compreensão da
palavra.
Ao observarmos as mudanças nos fonemas dos traços distintivos, quanto da prosódia (que
envolve a tonicidade e atonicidade e a estrutura da sílaba), constatamos alterações na morfologia da
palavra. Sendo assim, destacamos o que muda, em que o fonema se transforma e em que contexto esse
processo ocorre.
As mudanças sonoras advindas de fatores sociolingüísticos, estilísticos e pragmáticos,
dentre outros, perceptíveis no internetês, não são realizadas apenas por questões de oposição
fonológica, mas também por aspectos gramaticais o que nos leva a considerar “processos
morfofonológicos” como afirma Cagliare (2002, p.82).
Dentre os processos morfofonológicos citados por este autor encontramos apenas dois –
Harmonia vocálica – as vogais tornam-se mais semelhantes entre si, em geral, por alguma razão
morfológica, já comentada anteriormente, e Sândi – eliminação de vogais ou formação de ditongos
causando a transformação de estruturas silábicas nos limites das palavras, caso encontrado na
formação da seguinte palavra podeixar (pode + deixar) em que o fonema “de” repetido fundi-se
envolve a juntura intervocabular.
Os processos morfofonológicos só confirmam uma relação entre os processos fonológicos e
morfológicos, no entanto, acreditamos que no caso da linguagem característica do ciberespaço ocorre
o contrário, a influência parte do fonológico para o morfológico, mas são hipóteses ainda não
comprovadas que merecem melhor estudo.
Considerações finais
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Referências