Resumo
Desde a Revolução Industrial para atender à crescente demanda de consumo, adotou-se o
modelo de produção linear baseado em extrair-produzir-utilizar-descartar. Contudo a
preocupação com os impactos ambientais, causados pela industrialização, emerge para um novo
paradigma, ou seja, um novo modelo de produção, capaz de conciliar desenvolvimento
econômico e sustentabilidade. A economia circular defende a inovação a fim de criar um
sistema produtivo circular, onde não há desperdício, tudo é reaproveitado em um novo ciclo, e
os resíduos são, de fato, recursos que circulam num fluxo contínuo. Considerando que a
contabilidade de custos, desenvolveu-se e atuou como um importante instrumento de gestão no
desenvolvimento econômico decorrente do avanço industrial esta pesquisa justifica-se na
contribuição que a Gestão Estratégica de Custos poderá oferecer também ao novo modelo
econômico, de economia circular. Apesar das limitações, os achados permitem concluir uma
intrínseca relação entre a análise da cadeia de valor, o custo alvo, just in time e o custo kaizen
com a economia circular e que a partir da análise conceitual, estas podem ser utilizadas pelas
empresas que estão adotando este novo modelo de economia, a fim de garantir a
sustentabilidade e o acompanhamento efetivo dos custos ante a estratégia empresarial.
1 Introdução
Nos últimos anos observou-se um crescimento na preocupação acerca das questões
ambientais, o número elevado de desastres ambientais provocados pelo homem e, a busca por
uma melhor qualidade de vida tem levado a sociedade a buscar ações que minimizem o impacto
do desgaste da natureza na vida terrestre.
A indústria, através da extração e posterior transformação de matérias primas, utilizadas
na produção, é uma das grandes responsáveis pelos danos ambientais e poluição, pois além de
extrair da natureza a matéria prima e transformá-la, utiliza, também, fontes energéticas que não
se renovam.
A crescente industrialização advinda pós revolução industrial, foi marcada por um
grande crescimento econômico em todo o mundo. A produção manufatureira foi substituída por
uma produção em larga escala e propiciou o surgimento das fábricas e grandes corporações, as
quais foram responsáveis pelo enriquecimento e desenvolvimento de vários países.
Como consequência da revolução industrial e da possibilidade de se beneficiar da
economia de escala, tornou-se interessante para os proprietários de empresas do século XIX
direcionar significantes somas de capital para seus processos de produção, a emergência há
mais de 2 séculos, de tais organizações, criou uma nova demanda por informações contábeis.
Com os processos de transformação, antes suprido a um preço por trocas de mercado, passando
a ser executado dentro das organizações, surgiu a demanda por indicadores para determinar o
“preço” de produto de operações internas, foi a partir desta necessidade que surgiram os
primeiros indicadores de custos.
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Assim, pode-se dizer que o que hoje se entende por gestão de custos e sua posterior
evolução para uma gestão estratégica de custos, originou-se para atender as necessidades das
firmas em decorrência da industrialização.
O modelo de produção que surgiu nesse período e que está vigente até hoje, é baseado
na transformação de matérias-primas em produtos através da sequência, extrair – produzir –
utilizar – descartar, o qual é denominado de economia linear, no entanto, a crescente demanda
de consumo e a escassez de recursos, tem levado muitos estudiosos a afirmarem que este
modelo precisa ser imediatamente revisto.
Em 1977, o químico Lavoisier, imortalizou-se com a frase “Na Natureza nada se cria,
nada se perde, tudo se transforma”, em referência ao ciclo natural existente no meio ambiente,
onde não existe descarte, ao invés disso há um fluxo de materiais, o que sobra de uma espécie
se transforma em alimento para outras. Tendo o sol como principal fonte de energia, na natureza
tudo cresce e morre, e seus nutrientes voltam ao solo de forma segura, servindo de alimento
para o desenvolvimento de várias outras espécies, num fluxo circular.
Observando-se o natural fluxo circular e em contraposição o modelo de produção
predominante (economia linear), está surgindo um novo conceito chamado de “Economia
Circular”, o qual propõe uma grande transformação no atual modo de produção, ou seja, uma
nova forma de fazer as coisas.
Uma economia circular é restaurativa e regenerativa por princípio. Seu objetivo é manter
produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo,
distinguindo entre ciclos técnicos e biológicos. Esse novo modelo econômico busca, em última
instância, dissociar o desenvolvimento econômico global do consumo de recursos finitos. (Ellen
McArthur Foudantion, 2015).
Nesse sentido, várias instituições no mundo, tem se mobilizado para fortalecer este novo
conceito e vem promovendo iniciativas para implantação do novo modelo econômico, a
exemplo da iniciativa do Fórum Econômico Mundial (WEF), em colaboração com a Fundação
Ellen MacArthur, e com a McKinsey & Company, que desenvolveu o projeto Towards The
Circular Economy, cujo objetivo é promover uma agenda público-privada para a economia
circular, com impacto em nível global, através da construção de um projeto mainstream,
auxiliando os CEO´s que participam do comitê diretivo do fórum, a ampliar sua visão através
de uma plataforma de ações para a economia circular, conectando-os e envolvendo-os com
novos mercados, agentes políticos/reguladores e abrindo canais de comunicação com a
indústria, tecnologia e finanças. Um dos fluxos de trabalho do projeto TCE, busca construir a
consciência nas comunidades financeiras e de tecnologia sobre o potencial para intensificar
atividades de economia circular.
Considerando que a necessidade de mensuração dos custos originou-se a partir das
necessidades do modelo de produção vigente e que o avanço para uma gestão estratégica de
custos, continuou a oferecer as empresas, subsídios necessários para tomada de decisão,
pressupõem-se que esta, possa contribuir também na transição para o modelo circular.
Segundo Shank e Govindarajan (1993), a gestão estratégica de custos é uma análise de
custos, vista sob um contexto mais amplo, em que os elementos estratégicos tornam-se mais
conscientes, explícitos e formais. Onde, os dados de custos são usados para desenvolver
estratégias superiores a fim de se obter uma vantagem competitiva.
De acordo com Slavov (2012) uma vez que a gestão estratégica busca melhorar o
desempenho das organizações, a GEC deve capturar, por exemplo, as demandas de qualidade
do produto e a flexibilidade e as alterações em produtos e processos com ciclos de vida de
produtos cada vez menores, a simples medição do desempenho econômico de um produto não
é garantia de sustentabilidade.
Assim, este estudo busca descrever os princípios da economia circular e da gestão
estratégica de custos, verificando se há a possibilidade da GEC oferecer ferramentas capazes
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2 Enquadramento metodológico
A presente pesquisa caracteriza-se pelo seu caráter descritivo e exploratório, já que não
existem outros estudos relacionados ao tema em questão e a partir deste, busca-se construir um
corpo teórico capaz de servir como base para futuras pesquisas. (Malhotra, 2001; Castro, 1976;
Lakatos & Marconi, 2001; Gil, 2002). Com a pretensão de preencher uma lacuna no
conhecimento, para Zikmund (2000), os estudos exploratórios, geralmente, são úteis para
diagnosticar situações, explorar alternativas ou descobrir novas ideias.
Vergara (2000) propõe dois critérios básicos para classificação do tipo de pesquisa:
quanto aos fins e quanto aos meios, assim para classificar esta pesquisa, toma-se como base a
taxionomia apresentada pela autora, dessa forma, quanto aos fins trata-se de uma pesquisa
exploratória e bibliográfica quanto aos meios. A investigação exploratória é realizada; em área
na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, por sua natureza de sondagem, não
comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa. Já a pesquisa
bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros,
revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral (Vergara,
2009).
Ainda segundo Vergara, a pesquisa exploratória, como qualquer outra é dependente de
uma pesquisa bibliográfica, já que, embora existam poucas referências sobre o assunto
pesquisado, sempre haverá alguma obra, ou entrevista com pessoas que tiveram experiências
práticas com problemas semelhantes ou análise de exemplos análogos que podem estimular a
compreensão.
A pesquisa exploratória costuma envolver uma abordagem qualitativa, caracterizando-
se principalmente pela ausência de hipóteses (Aaker, Kumar & Day, 2004). Gil (2002), afirma
que este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas
têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.
Pesquisas exploratórias e descritivas: são as que têm por objetivo definir melhor o
problema, proporcionar as chamadas intuições de solução, descrever comportamento de
fenômenos, definir e classificar fatos e variáveis. (Salomon, 2004)
O planejamento da pesquisa exploratória, é flexível, possibilitando a consideração dos
mais variados aspectos relativos ao objeto de estudo, em sua maioria envolvem: a) levantamento
bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado; e (c) análise de exemplos capazes de estimular a compreensão (Selltiz et Al,1967).
Acerca da pesquisa bibliográfica, Gil (2002), aponta ainda que na literatura científica da
língua inglesa, esse modelo recebe o nome de design, que pode ser traduzido como desenho,
designo ou delineamento.
Assim, para o delineamento do trabalho, foram adotadas as etapas do processo
bibliográfico proposta por Gil (2002), as quais estão elencadas a seguir:
a) escolha do tema;
b) levantamento bibliográfico preliminar;
c) formulação do problema;
d) elaboração do plano provisório de assunto;
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4 Referencial Teórico
4.1 Economia Circular: Origem e Conceitos
Para Leitão (2015), a Economia Circular é um modelo que permite repensar as práticas
econômicas da sociedade atual e que se inspira no funcionamento da própria Natureza. É
indissociável da inovação e do design de produtos e sistemas. Inclui-se num quadro de
desenvolvimento sustentável baseado no princípio de “fechar o ciclo de vida” dos produtos,
permitindo a redução no consumo de matérias-primas, energia e água. Promove o
desenvolvimento de novas relações entre as empresas, que passam a ser simultaneamente
consumidoras e fornecedoras de materiais que são reincorporados no ciclo produtivo.
Economia circular, um termo geral para as atividades de redução, reutilização e
reciclagem na produção, circulação e consumo, contrapondo-se à economia tradicional. O
padrão de economia tradicional é um fluxo unidirecional de economia linear, ou seja, "recursos
→ Produtos → crescimento linear de resíduos, que se baseia na exploração de alta intensidade
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e de consumo de recursos e, ao mesmo tempo causa danos de alta intensidade para o meio
ambiente. Em contraste com a economia tradicional, a Economia circular é caracterizada por
baixo consumo de materiais e recursos ao longo da produção, baixo nível de poluição, eficiência
elevada e altas taxas de circulação, permitindo que os recursos sejam postos em pleno uso
durante a produção. Como resultado, os efeitos adversos das atividades econômicas sobre a
natureza serão reduzidos, tanto quanto possível. Portanto, a economia circular alcança o
desenvolvimento econômico, a proteção do meio ambiente e economia de recursos. (Ju e Xiang,
2011).
Leal (2015), define a Economia Circular como um modelo de crescimento econômico
que visa a proteção ambiental, prevenção da poluição e o desenvolvimento sustentável. Sob
esse modelo, os recursos são utilizados com maior eficiência, reutilizados e reciclados, quando
possível, de modo que a contaminação é minimizada e os resíduos são reduzidos tanto quanto
possível. Também envolve a transformação e alocação da organização industrial, infraestrutura
urbana, proteção ambiental, paradigmas tecnológicos e distribuição do bem-estar social.
A vida humana na terra sempre foi dependente dos recursos naturais, pois o homem
sempre se dedicou a retirar da natureza os bens necessários à sua sobrevivência, até pouco mais
de um século atrás, ocupava uma parte significativa do seu tempo e de seu esforço, realizando
esta tarefa. No entanto, este quadro alterou-se significativamente nos séculos XIX e XX com o
advento da revolução industrial, pois o apoio da mecanização reduziu, em muito, o esforço e o
tempo que o homem necessita de dedicar as atividades relacionadas com o processamento dos
recursos naturais essenciais a sua sobrevivência. (Ferrão, 2012. p.79).
Com a revolução industrial um novo sistema surgiu: um sistema de desenvolvimento
quantitativo. Este é um sistema de ciclos tecnológicos, em que os nutrientes e os recursos do
metabolismo natural são utilizados para processos industriais. Após o processamento e fabrico
desses recursos em produtos para uso humano, estes normalmente tornam-se impróprios para
retornar aos ciclos da natureza. (Leal, 2015).
Segundo Ellen McArthur (2015) embora o modelo linear com baixos preços de matérias
primas tenha alimentado o sucesso econômico através dos séculos, as recentes altas de preços
e a volatilidade crescente têm revertido brutalmente essa tendência. O contexto mudou, mas o
sistema continua o mesmo.
Nesse contexto, os pesquisadores enfatizam a importância de um novo paradigma para
o desenvolvimento econômico (Hawken, Lovins, Lovins, 2002; Ferrão, 2012; Mcdonough,
Braungart, 2002; Leitão, 2015) que seja capaz de alinhar, desenvolvimento econômico e
sustentabilidade, buscando uma maneira de fechar o ciclo.
A sensação de que no nosso planeta os minerais, metais e matéria orgânica necessários
para sustentar a crescente população humana, estão se esgotando tem ajudado a moldar este
novíssimo conceito dos nossos tempos. Na sua essência reside o argumento de que o modelo
antigo, linear, de conduzir os negócios terá passado do seu prazo de validade (Henley, 2013).
Martins (2003) afirma que a gestão estratégica de custos requer uma análise mais
profunda dos custos que vão além dos limites da empresa. A gestão estratégica de custos busca
conhecer toda a cadeia de valor desde a aquisição da matéria prima até o consumidor final.
Hansen e Mowen (2001), entendem que “A gestão estratégica de custos é o uso de dados
de custos para desenvolver e identificar estratégias superiores que produzirão uma vantagem
competitiva sustentável”.
Shank e Govindarajan (1997) enfatizam que a gestão de custos utiliza ferramentas para
subsidiar as decisões de maneira a reduzir os custos e identificar métodos mais vantajosos para
utilização dos recursos. As informações sobre custos, além de auxiliar na tomada de decisões
possibilitam a elaboração do planejamento, que define as bases necessárias ao atendimento da
demanda pretendida.
Como as estratégias diferem em diferentes tipos de organizações, os controles de
gerenciamento devem ser adaptados aos requisitos de estratégias específicas (Shank e
Govindarajan,1997) Assim, no Brasil, vários estudos concentraram-se em verificar como as
empresas utilizam as ferramentas de GEC (Reckziegel, Souza e Diehl, 2007; Marques et al,
2003; Ferreira, Batalha e Silva, 2010; Muniz, 2010, Souza, Collaziol e Damacena, 2010).
Contudo, Slavov (2012) afirma que muitos autores apoiam a ideia de que os estudos sobre GEC
deveriam ser direcionados no sentido de descrever o que motiva as empresas a adotarem as
ferramentas da GEC e não apenas se são adotadas ou não algumas práticas. Por exemplo, como
e por que eventos organizacionais levam a necessidade da GEC?
Assim entende-se que a mudança para uma economia circular é um evento
organizacional que leva as empresas a buscar uma nova forma de produzir e de gerenciar seus
custos, pois o desenvolvimento de produtos, alinhados aos pressupostos da economia circular
podem levar as empresas a necessidade da GEC, a fim de garantir sustentabilidade e o
acompanhamento efetivo dos custos ante a estratégia empresarial.
Segundo Andrade et al (2016) a interface entre a Economia Circular e Gestão
Estratégica de Custos deriva do fato de que a primeira se caracteriza como um processo de
produção que é restaurador e regenerador por design e que tem como objetivo manter os
produtos, componentes e materiais em sua maior utilidade e valor em todos os momentos.
Enquanto a segunda pode viabilizar formas de reduzir custos em toda a cadeia de valor e, ao
mesmo tempo, reforçar o posicionamento estratégico da organização.
Ferramenta Objetivo
Análise da Cadeia de Agregar valor aos clientes reduzindo custos, e compreender a relação entre
Valor organização de negócios e os clientes potenciais
Custeio Baseado em
Fornecer precisão na alocação de custos indiretos.
Atividades (ABC)
Análise da Vantagem Definição da estratégia que a organização poderia adotar para se sobressair sobre os
Competitiva concorrentes
Custo que uma organização está disposta a incorrer de acordo com o preço
Custo Alvo
competitivo, que pode ser usado para alcançar o lucro almejado
Gestão da Qualidade Adotar políticas e procedimentos necessários para atender as expectativas dos
Total clientes.
Um sistema abrangente para comprar materiais ou produzir mercadorias quando
Just-in-time (JIT)
necessário no momento certo.
Procedimento sistemático para identificar os fatores críticos de sucesso de uma
Análise de Swot
organização
Processo realizado para determinar o fator crítico de sucesso e estudar os
Benchmarking procedimentos ideais de outra organização, a fim de melhorar as operações de
domínio de mercado
Relatório Contábil de fatores críticos de sucesso sobre a organização. É dividido em
Balanced scorecard quatro grandes dimensões: desempenho financeiro, satisfação dos clientes, operação
interna e inovação e crescimento
Uma ferramenta para melhorar a taxa de transferência de material em produtos
Teoria das Restrições
acabados
Melhoria Contínua
Realização de melhorias contínuas em qualidade e outros fatores críticos de sucesso
(Kaizen)
Fonte: elaborado pela autora (Shank e Govindarajan (1997))
Assim de acordo aos objetivos das ferramentas, propostos por Shank e Govindajaran (1997),
conclui-se que a análise da cadeia de valor, o custo alvo, just in time e o custo kaizen são
artefatos capazes de auxiliar a gestão de custos em processos produtivos baseados na EC.
Dentre as ferramentas apresentadas, adicionalmente, buscou-se verificar a existência de
estudos que relacionassem a sua utilização por empresas que adotaram os preceitos da economia
circula na concepção dos seus produtos, no entanto, verificou-se através de pesquisa
bibliográfica que não existem ainda, pesquisas relacionadas a essa temática, evidenciando uma
lacuna no conhecimento, bem com oportunidades para futuras pesquisas.
Quadro 3 –Outras definições das Ferramentas de GEC que possuem interface com a economia circular.
Ferramenta Definição
Hansen (2002, p.14) define custeio meta como: [...] um processo de planejamento
de resultados, com base no gerenciamento de custos e preços, que se fundamenta
em preços de venda estabelecidos pelo mercado e nas margens objetivadas pela
empresa. Nesse processo, os custos são definidos na fase de projeto de novos
Custeio Meta (Target Costing)
produtos (ou de produtos reprojetados), visando à satisfação dos clientes e
otimizando o custo de propriedade do consumidor, abrangendo toda a estrutura
organizacional da empresa e todo o ciclo de vida do produto, envolvendo um
segmento relevante da cadeia de valor.
É uma expressão usada para descrever um processo de gestão e uma cultura de
Kaizen negócios, que passou a significar aprimoramento contínuo e gradual,
implementado por meio do envolvimento ativo e comprometido de todos os
empregados da empresa no que e como as coisas são feitas.
De acordo com Ten Have et al. (2003, p.99), Just in Time (JIT) é fruto de uma
filosofia japonesa de organização de produção, na qual os estoques são vistos como
desculpas pobres para um planejamento deficiente, inflexibilidade, maquinário
errado, falhas de qualidade etc. em outras palavras, o estoque representa
Just in Time (JIT)
ineficiência. O objetivo do JIT é acelerar a resposta ao cliente e ao mesmo tempo
minimizar os estoques. Os seguidores dessa filosofia entendem que, com
cuidadoso planejamento e controle, os estoques podem ser drasticamente
reduzidos e até eliminados e, com isso, reduzidos os custos.
Shank & Govindarajan (1993, p.13), ampliam e melhoram o conceito de Porter
assim: “a cadeia de valor para qualquer empresa, em qualquer negócio, é o
Análise da Cadeia de Valor conjunto interligado de todas as atividades que criam valor, desde uma fonte básica
de matérias-primas, passando por fornecedores de componentes, até a entrega do
produto final às mãos do consumidor.”
Fonte: elaborado pela autora (Soutes (2006); Rocha, Borinelli (2007))
Diante dos conceitos identificados na tabela acima, percebe-se uma intrínseca relação entre
as ferramentas apresentadas com a EC, pois nela as perdas são “excluídas desde o princípio”.
Em uma economia circular, não há resíduos, que são intencionalmente excluídos desde a
concepção dos projetos. Os materiais biológicos não são tóxicos e podem ser facilmente
devolvidos ao solo, por compostagem ou digestão anaeróbia. Os materiais técnicos – polímeros,
ligas e outros materiais criados pelo homem – são projetados para serem recuperados,
renovados e atualizados, minimizando o volume de energia necessário e maximizando a
retenção de valor (econômico e de recursos) (Ellen McArthur Foundation, 2014).
Para os preços ou outros mecanismos de feedback devem refletir os custos reais,
na economia circular, preços funcionam como mensagens e, portanto, precisam refletir todos
os custos para serem efetivos, os custos totais de externalidades negativas são revelados e
levados em conta e subsídios desnecessários são eliminados.
6 Considerações Finais
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