radical, suportado pela variação da “força” ual de uma resposta caligráfica a um mod-
do comportamento face às conseqüências elo: por exemplo, quando se ensina a uma
produzidas por sua emissão, sob condições criança os padrões de contornos gráficos
particulares. Se – e apenas se – a classe aceitos para escrever uma letra qualquer do
de respostas a que pertence o operante alfabeto), a latência entre a apresentação de
que produziu as conseqüências tiver sua um estímulo discriminativo e a ocorrência
“força” ampliada, será possível dizer que de uma resposta (como quando se busca
tal conseqüência constitui um reforçador instalar repertórios típicos de “atenção”
positivo. Se, ao contrário, sua “força” for como pré-requisito para a emissão de op-
diminuída, tal conseqüência será consider- erantes complexos). Nesse contexto, ainda
ada um reforçador negativo (ou estímulo mais precisamente, pode-se estar interes-
aversivo). Note-se, por oportuno, que aqui sado em aspectos como a quantidade de
se mencionam reforçadores, com referên- vezes que um operante ocorre, sua precisão
cia necessária aos eventos produzidos. Mas em relação a um modelo ou quanto tempo
eles não equivalem a reforçamento, que im- leva um organismo para apresentar uma re-
plica, para além do evento, um procedi- sposta típica diante de uma configuração es-
mento específico (no reforçamento positivo, pecífica de eventos antecedentes, tais como
um evento particular produzido pelo com- os estímulos discriminativos. O objetivo,
portamento leva a um aumento da “força” em todas as situações acaba, em última
do operante; no reforçamento negativo, um análise, sendo a freqüência, já que: 1) se
evento particular que é removido pelo op- são aceitáveis várias respostas topografica-
erante leva, igualmente, a um aumento da mente semelhantes com vistas a uma função
“força” do operante; respectivamente, tais comum, reforça-se qualquer que preencha
eventos são os reforçadores positivos e os esses requisitos e, assim, dependendo do es-
reforçadores negativos). quema de reforçamento em vigor, obtém-se
um determinado padrão de freqüência; 2)
mesmo que se exija uma força-peso mín-
Todavia, para melhor esclareci-
mento do conceito de contingência, ainda ima (como no caso da pressão à barra),
há algo a ser dito. Trata-se da metafórica também acaba adjunta à medida de se tal
força é suficiente para que a barra pro-
expressão “força do operante”. As aspas
duza um som que demarque seu adequado
utilizadas com a expressão força, neste
funcionamento, uma outra contagem, que
caso, denotam apenas – e nada além – que
alguma medida comparativa do operante implica freqüência: em outras palavras, a
(antes e depois de este produzir determi- resposta estará estabelecida quando, difer-
encialmente, se conseguir uma modelagem
nada conseqüência), tornará possível aferir
segundo a qual restem instaladas apenas as
sua mudança e, nesse sentido, tornará pos-
respostas com a força pré-estabelecida; 3)
sível dizer que tal evento conseqüente tem
o mesmo vale para os casos em que há in-
ou não algum efeito reforçador. De modo
mais específico, via de regra é possível uti- teresse na topografia específica da resposta,
ou seja, reforçam-se, por aproximações su-
lizar como unidade de medida do operante
cessivas, as respostas que – passo a passo –
sua freqüência de ocorrência, mas, algu-
contemplem os critérios de parecença com
mas vezes, outras medidas mais incomuns
uma determinada unidade do alfabeto; a
podem ser empregadas ou agregadas à fre-
qüência: força-peso (como quando um rato freqüência com que tais respostas de aprox-
imação acontecem participa do critério de
pressiona uma barra), topografia (como nas
avanço para a etapa seguinte da seqüência.
situações em se afere a aproximação grad-
Revista Psicolog 45
se geração a geração; mutações favoráveis a é o controle por regras que exerce um papel
uma adaptação ambiental mais consistente extremamente importante. Tal controle é, a
poderão ser responsáveis pela dinâmica do um só tempo, econômico e funcional para
processo; 2) Quando o ambiente não é es- manter a efetividade das práticas cultur-
tável por tempo suficiente para assegurar ais a um “custo de aprendizagem” bastante
mudanças filogenéticas (e é este o caso de baixo.
grande parte dos repertórios comportamen-
tais da espécie humana), outra dimensão O primeiro e o segundo tipo de se-
dos processos de variação e seleção está em leção constituem bases importantes para
jogo: trata-se da suscetibilidade do compor-
a compreensão das atividades dos organis-
tamento (operante) à seleção ontogenética.
mos, mas nosso interesse neste texto está di-
Está aí presente, prioritariamente, o âmbito rigido para além das dimensões filogenéti-
das interações individuais com o ambiente, cas e para além dos já tão bem estabeleci-
sem a concorrência complexa das situações dos princípios do comportamento operante
comunitárias em que o comportamento das
que se sustentam na lógica da evolução on-
pessoas em grupo e as conseqüências com-
togenética. Aceitar ou não o convite de
partilhadas articuladamente é que são re- Glenn implica explorar a terceira dimen-
sponsáveis pela instalação, manutenção e são do processo de seleção em termos de
extinção de condutas discretas. Nessa di- seus conceitos e de seu alcance pragmático,
mensão, ainda permanecem claras as simili-
mas não apenas isso: implica explorar al-
tudes entre o modelo de seleção natural dar-
guns argumentos essenciais da autora para
winiano e o processo de condicionamento a compreensão do conceito de metacon-
operante skinneriano. A semelhança entre tingências, por ela proposto para descrição
a evolução filogenética e a ontogênese ex- das relações das pessoas entre si e com to-
plicita o pensamento behaviorista radical dos os demais componentes dos ambientes
sobre aparecimento e curso dos repertórios
interativos que caracterizam práticas cultur-
comportamentais; a dimensão temporal ex-
ais e comportamento social na perspectiva
tensa (no primeiro caso) e reduzida (no behaviorista radical.
segundo) respondem, parcialmente, pelas
diferenças essenciais dos dois processos; 3)
O terceiro tipo de variação e seleção im- Ao lidar com práticas culturais, nat-
plica contingências especiais mantidas por uralmente, lidamos com o comportamento
um ambiente social que, para Skinner, rep- social. Desde 1953, Skinner conceitua o
resenta a cultura (1974/1982, 1987). Note- comportamento social como sendo “... o
se que o contexto da cultura, para Skinner, comportamento de duas ou mais pessoas,
compõe-se de uma articulação indissociável uma em relação à outra ou, em conjunto,
entre comportamento e ambiente, no sen- em relação a um ambiente comum” (p.
tido de que as práticas culturais (que, no 171). No comportamento social, portanto,
limite, são comportamentos) e as dimen- outra pessoa deve estar envolvida, seja con-
sões (sociais, biológicas, químicas, porém stituindo evento ou parte de evento diante
todas, em última análise, referenciadas por do qual o organismo responde, seja consti-
alguma materialidade física) do contexto tuindo a fonte de conseqüências que contro-
ambiental compõem o cenário vital para a lam o comportamento desse organismo. O
existência de alguma sociedade. Observe- comportamento social adquire dimensões
se que, embora o controle por conseqüên- mais complexas quando se passa ao âmbito
cias diretas se mantenha nos níveis men- das práticas culturais. Nelas, está implícita
cionados em 2) e 3), nesta última dimensão a repetição/replicação de comportamentos
Revista Psicolog 49
similares (coerentes, compatíveis e/ou anál- última análise, também remetem aos com-
ogos), com especial ênfase no aspecto da portamentos dos indivíduos, mas com uma
funcionalidade para a produção de conse- especificidade distintiva: são tipicamente
qüências para vários indivíduos que con- comportamentos articulados responsáveis
stituem um grupo. Uma outra dimensão das pela produção de conseqüências compartil-
práticas culturais que ultrapassa o conceito hadas pelos membros do grupo. Esse é um
de comportamento social (embora o incor- dos sentidos pelos quais é possível falar de
pore) está na transmissão cultural de tais contingências entrelaçadas: os comporta-
repertórios, na medida em que eles sejam mentos operantes individuais dos membros
funcionais para a preservação dessa mesma do grupo são controlados por parâmetros
cultura. Nesse sentido, um dado básico das de freqüência (e/ou duração, intensidade,
práticas culturais é sua replicação através topografia ou outra medida) compatíveis e
das gerações. Naturalmente, o fato de que funcionais para a produção (a curto ou em
algumas práticas culturais sejam – no logo longo prazo), de contingências funcional-
prazo – deletérias para a sobrevivência dos mente equivalentes para os participantes
indivíduos que compõem uma cultura, não dessa comunidade. Via de regra, quando se
significa que deixem de ser práticas cul- examina o envolvimento de uma coletivi-
turais ou que práticas culturais necessaria- dade na produção de práticas culturais entre
mente mantenham como princípio a sobre- si coerentes e dirigidas à produção de con-
vivência de todos os indivíduos que par- seqüências compartilháveis, está-se diante
ticipam de determinada cultura, durante de um conceito, proposto por Glenn (1988)
todo o tempo. A poluição industrial, sem no contexto da área de delineamentos cul-
dúvida, produz efeitos nocivos à saúde do turais: o de produto agregado. Esse con-
coletivo de indivíduos, mas, apesar disso, ceito tem implicações para a descrição de
pode reproduzir-se por muito tempo como certo caráter de conformidade ou, mesmo,
produto de uma prática cultural à custa acordo cooperativo entre os participantes,
de arranjos de contingências que provêm algumas vezes atrelado à caracterização
conseqüências reforçadoras outras impor- de práticas culturais. De fato, em muitas
tantes para quem assim procede (poluindo). culturas é comum observar práticas que,
Embora Skinner (1953/1967, 1981) reit- embora produzam conseqüências de curto
eradamente mencione os “efeitos para o prazo reforçadoras para todos ou a maioria
grupo”, sempre é bom lembrar que tudo in- dos membros do grupo, no longo prazo po-
dica tratar-se de uma metáfora: o grupo não dem levar a conseqüências nefastas, como
constitui organismo, de modo que não in- é o caso do uso indiscriminado de recur-
terage, ele próprio, com o ambiente. São as sos naturais, de que todos podem usufruir
pessoas que o compõem que são suscetíveis num certo momento mediante benefícios
ao arranjo de contingências. Mas, natural- individuais imediatos que alcançam a todos
mente, nas práticas culturais, existe uma do grupo, mas que, ao final, podem rep-
relação inevitável de articulação necessária, resentar o advento de conseqüências aver-
por vezes uma dependência, entre compor- sivas atrasadas em larga escala. Portanto,
tamentos (coerentes entre si) dos compo- não é um caráter intrinsecamente “bom” ou
nentes do grupo e o contexto ambiental. “mau”, no sentido ético-moral, das próprias
Ou seja, as conseqüências que agem sobre práticas, que leva à sua preservação, mas a
o indivíduo selecionam suas respostas par- disposição (muitas vezes não planejada) de
ticulares; já as conseqüências que atuam contingências que tornam menos ou mais
sobre os membros de um grupo enquanto provável a emissão de certos comportamen-
tal selecionam práticas culturais que, em tos que compõem tais práticas.
Revista Psicolog 50
e a legislação vigente em cada país podem Ociosa, sugeria que costumes ou usos que
exemplificar controle cerimonial. Na maior pareciam não ter conseqüências mensu-
parte das vezes, esses instrumentos não es- ráveis e que eram explicados em termos
pecificam diretamente as condições sob as de princípios duvidosos de beleza ou gosto
quais o comportamento deve ou não deve também podiam ter efeitos importantes so-
ser emitido e, tampouco, as conseqüên- bre o comportamento do grupo, ou seja, no
cias previstas para o seguimento dessas contexto das práticas culturais. O exemplo
regras. Já o controle tecnológico assegu- dado por Skinner (1953/1967) é:
raria, conforme Todorov (1987), a possi-
bilidade de estabelecimento de regras es-
“...uma universidade americana
pecíficas, de providenciar conseqüências
moderna constrói edifícios góticos não
imediatas para a observância de tais regras porque os materiais disponíveis se assemel-
e de avaliação dessas regras e de suas con- hem àqueles que originalmente foram re-
seqüências. Porém, o controle tecnológico sponsáveis por esse estilo de arquitetura ou
também pode tornar-se cerimonial quando
porque o estilo seja belo em si, mas porque
as contingências passam a não se coad-
assim a universidade exerce um controle
unar com a evolução da cultura e quando mais eficaz fazendo lembrar instituições ed-
ocorre rápida desatualização da relação en- ucacionais medievais...” (p.234)
tre comportamento e conseqüência estab-
elecida primariamente. Nota-se, na liter-
atura, que as expressões “tecnológicas” e e que, nesse sentido, inspiram com-
“cerimoniais” têm sido associadas, indis- portamentos quando pareados seus aspec-
tintamente, com várias outras expressões: tos estético-arquitetônicos com alguns con-
fala-se em processos, conseqüências, con- ceitos valorizados no contexto da cultura,
tingências ou metacontingências cerimoni- como o parecer “tradicional”, “séria”, “con-
ais e tecnológicas. Naturalmente, cada qual fiável”.
dessas expressões associadas adquire sua
pertinência ou não em função do contexto Tomando essa dimensão como pres-
no qual estão inseridas e não constituem, suposto, talvez o conceito que mais perto
entre si, sinônimos (conseqüências e con- está do pareamento plausível com “ceri-
tingências, como vimos, estão fortemente monial” ou “tecnológico” seja o de cont-
articulados, mas não são a mesma coisa). role. Nesse sentido, falar em controle ce-
Assim, por ser fundamental que o objeto rimonial implica a influência atualmente
de referência para “tecnológico” e “ceri- exercida pelas regras institucionais (na
monial”, nesse caso, seja o tipo de relação acepção das “agências” estudadas por Skin-
de dependência estabelecido entre determi- ner, 1953/1967) emanadas de uma figura
nadas condições e as respostas específicas (pessoal ou organizacional) de “autoridade”
de uma classe, ficando ou não claras num e constituída (por exemplo, o presidente, o di-
noutro caso, respectivamente, as condições retor, o superintendente, o pai, a lei, as nor-
e conseqüências para a emissão de algum mas, certos padrões morais de costumes,
comportamento social no contexto de práti- a polícia, o reitor, todos eles a depender
cas culturais, parece plausível convencionar dos tipos de pareamentos com específicos
a utilização dessas duas expressões no sen- padrões de conseqüências). Tal controle
tido que originalmente inspirou Skinner é comumente exercido através de regras
(1953/1967, p. 234-235), ao citar Thorstein (verbais orais, escritas, sinalizadas) que
Veblen. Na interpretação skinneriana, Ve- adquiriram controle para além da exigência
blen (1899/1965), em sua Teoria da Classe
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