O livro, originalmente editado pelo próprio autor no início do anos noventa, foi agora
digitalizado pela ICK e está sendo publicado aqui, na íntegra, para leitura online.
Consideramos que a Seleta é uma excelente fonte de consulta e por isso resolvemos
preservá-la e oferecê-la ao nosso público, desejando que possa ajudar a todos que
buscam os ensinamentos.
Atenção:
Em respeito ao trabalho do autor, estamos publicando o livro na íntegra, preservando
todas as opiniões por ele expressadas, que devem ser vistas como estritamente
pessoais, não implicando em nenhuma relação da ICK com as mesmas.
Um pedido:
Embora tenhamos revisado cuidadosamente todo o material digitalizado, procurando
manter fidelidade ao original, pedimos aos leitores que porventura possuam um
exemplar impresso, que nos comuniquem quaisquer divergências que encontrem, pois
o processo todo é muito sujeito a erros.
• Prefácio
• Introdução, Dados Históricos, Missão do Autor
• Conceitos, Preliminares I
• Conceitos, Preliminares II
• Processos Psicológicos
• Assuntos Específicos I (parcialmente publicado)
Assuntos Específicos II (em breve)
Assuntos Específicos III (em breve)
Temas Sociais, Mutação (em breve)
Prefácio
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 19:49
Não consta ter surgido no mundo obra de tal envergadura. Revela enorme trabalho de
pesquisa, sacrifício e paciência. Beneficiará ela não só os religiosos, espiritualistas, de
todas as denominações, o grande público, como também os que trabalham nas áreas
da educação, psicologia e psicanálise. Merece a iniciativa a gratidão e o apoio de
todos os interessados em Krishnamurti.
As obras que dele lemos nos confirmaram essa impressão. As suas idéias, acima dos
atuais padrões religiosos, destinam-se ao surgimento de um novo homem e de um
novo mundo - lançam princípios para a civilização do porvir. A presente Seleta
constitui uma tentativa de visão global dos 160 livros do referido Iniciado.
Não poderia assim faltar aqui a opinião de um representante da classe. Esta Seleta,
realizada por pessoa com a competência que a Obra revela, constitui inestimável
trabalho de pesquisa. Surge em época de crise, tornando-se oportuna a iniciativa.
Merece o louvor e o apoio de todos.
São raros os verdadeiros gênios da raça humana. Criaturas que sobrevivem além da
sua época e marcam novos rumos para a humanidade. Jiddu Krishnamurti foi
indiscutivelmente um desses. O seu pensamento atingiu as raízes da própria
existência, apresentando ao mundo a antiga e tradicional sabedoria divina em
roupagens modernas. Ele marcará, sem dúvida, o mundo com a sua presença, que irá
se transformar, à medida que o tempo passa, numa nova sociedade.
É difícil classificá-lo. Para uns ele é um filósofo; para outros um místico, um psicólogo,
um sociólogo, etc., pois o seu pensamento está acima de rótulos, é atemporal. Ele se
preocupa muito com o nascimento de um novo ser. Livre, não condicionado pelas
tradições, alguém que seja integralmente si mesmo.
Os mações, além dos estudos próprios, gozam de total liberdade de ler outras
quaisquer doutrinas filosóficas ou teológicas. E sei que grande parte deles se acha
familiarizada com os ensinamentos de Krishnamurti.
Brasileira
Intérpretes da Arte.
Do notável líder religioso ficou a mensagem do amor universal por cima de crenças,
ideologias e nacionalidades. "Eu sou todas as coisas. Porque sou a Vida".
Fernando Segismundo
Vice-Presidente da A.B.I.
Nise da Silveira
(Médicas psiquiatras)
(Psicólogos)
Muitos têm sido os membros da Academia Brasileira de Letras, além de nós, que têm
demonstrado vivo interesse pelas obras de Krishnamurti, pela sabedoria de sua idéias
e poesias espirituais. Múcio Leão traduziu A Canção da Vida editada pela Instituição
Cultural Krishnamurti do Brasil.
Austragésilo de Ataíde
(Presidente)
Afranio Coutinho
Antonio Houiass
Ledo Ivo
(Acadêmicos)
Se me encantei com Jung, Karen Horney e Eric Fromn, bem maior foi o fascínio com a
leitura do grande pensador hindu, cuja originalidade faz de sua mensagem facho
resplandecente a guiar os homens nos difíceis caminhos do auto-conhecimento.
De parabéns está pois Carlos Souza Neves, por nos dar fácil acesso a tão sábias
idéias.
Agraciado com significativa placa de prata pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, por 30 anos ininterruptos de serviços prestados como
Conselheiro
(Jurista)
Introdução; A Mensagem de Krishnamurti
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 20:04
Só aos poucos foi a sua Revelação se estendendo no mundo. O mesmo ocorre com o
Senhor J. Krishnamurti, nos tempos atuais. O Messias já veio, cumpriu a sua Missão,
e já retornou à sua Mansão celestial, e a maioria dos homens continua à sua espera.
Magnos acontecimentos ocorreram em todo o planeta, mas a cegueira dos homens
não permitiu vislumbrá-los. Muitos tomaram deles breve conhecimento, mas não
atinaram com a importância, preferindo continuar na tradição. Daí que esta Introdução,
embora redigida em curto tempo, precisa condensar a extensão e o esplendor dos
Eventos.
Graças a ele temos igualmente podido transcrever excertos do autor em nossos livros,
panfletos e artigos - em "Sociedade, Transição e Futuro" (RJ, 1982, 728 ps.) mais
abundantemente. Tendo assim obtido uma visão global das comunicações do autor,
foi dito instrumento de grande valor para a organização da presente Seleta.
Há mais de 30 anos integramos o quadro de associados da ICK e, durante cerca de 15
anos, pertencemos ao Conselho dos Sócios Efetivos (11); de 1982 a 1987 exercemos
na Instituição o cargo de Diretor-Secretário; e de 1987 a 1991 o de Vice-Presidente.
Inobstante, não passamos de mero estudioso da matéria; sobre ela nunca se chega a
um fim, também porque uma coisa é o saber teórico e outra a vivência prática.
Fomos levados à elaboração desta compilação por vários motivos. Um deles é a mais
ampla divulgação da Mensagem do autor, pondo-a ao alcance de quem possa
aproveitá-la. Ela é mais conhecida do que se possa imaginar, mas superficialmente.
Em qualquer ambiente social, religioso, acadêmico, universitário, militar, científico, do
povo esclarecido, há sempre quem conheça a importância de seus ensinamentos.
Mas, conforme nossa observação, apenas um número reduzido de pessoas tem
adquirido uma visão global dos mesmos. A grande maioria restringe-se à leitura de
uns poucos livros.
O resultado é que ficam com um conhecimento parcial, unilateral, sem a visão do todo.
A presente Coletânea, salvo exceções, abrange as obras constantes da Bibliografia,
em número de 160. Optou-se por capítulos pequenos, de 4 a 8 páginas, salvo
exceções, para facilitar a leitura individual e o estudo em grupos. Inclui cada um deles
excertos representativos, dentre os melhores encontrados.
Cerca de 1/5 dos livros da Bibliografia, os últimos, principalmente, não chegaram a ser
traduzidos e editados em português, mas eles foram por nós consultados, sendo os
textos inovadores incluídos nos correspondentes capítulos. Como os ensinamentos do
autor foram sendo crescentemente enriquecidos, ficaria esta Obra incompleta sem
eles.
Outro motivo que nos levou à realização desta Seleta é que a Mensagem em
referência, destinada ao presente-futuro, visa essencialmente à mudança do homem,
procurando elevá-lo a uma condição de pureza, maturidade, a nova dimensão
espiritual. Com muita freqüência, diz Krishnamurti, em suas palestras, que tal
transformação humana é urgente, inadiável. Daí a oportunidade desta Iniciativa. As
Escrituras cristãs, hindus e budistas igualmente se referem ao Juízo e purificação dos
homens neste "fim de tempos".
A Bíblia, entre outros versículos, em Malaquias III,2; Zacarias XIII,9; Ezequiel XXVI,
25; Sofonias III,11-12, Isaías XIII,11, e Mateus, Marcos, Lucas, e o Apocalipse
também, em vários capítulos. Nessas fontes, os textos mais graves chegam a dizer
que "os homens serão purificados como o fogo do ourives e o sabão dos lavandeiros,
ficando livres das imundícies, e humildes e pobres".
O Vishnu Purana destina o Livro IV, cap. XXIV, e o livro VI, cap. I, a profecias para
este período de Kali yuga. No primeiro lê-se: "Restabelecerá (a Divindade) a justiça
sobre a terra, e os espíritos daqueles que vivem no fim da idade Kali serão
despertados e por tal maneira se tornarão transparentes como o cristal". As previsões
do Budismo encontram-se nas Profecias dos Cinco Desaparecimentos,
correspondendo a época atual ao quinto Desaparecimento, ocorrendo, no porvir,
padecimentos, aflições, penúrias.
Krishnamurti trata do assunto em muitos de seus livros, como se verá nos capítulos
próprios. Num deles, como exemplo - O Egoísmo e o Problema da Paz, lê-se: (...)
Tendes de pagar o preço da paz. Tendes de o pagar, voluntária e alegremente, e esse
preço é o libertar-vos da luxúria, da malevolência, da mundanidade, da ignorância, do
preconceito e do ódio. Se ocorresse em vós mudança tão radical, poderíeis cooperar
para o advento de um mundo pacífico e sensato.
Segue: Talvez não podeis evitar a Terceira Guerra Mundial, mas podeis 1ibertar o
coração e a mente da violência e das causas que geram a inimizade e repelem o
amor. Haverá, então, neste mundo lúgubre, alguns homens puros de mente e de
coração, de cujas obras germinará, por ventura, a semente de uma verdadeira
civilização. Purificai vossas mentes e corações, pois é somente pelas vossas vidas e
vossos atos, que poderá haver paz e ordem. Não vos percais na promiscuidade das
organizações, mas conservai-vos solitários e singelos. (...) (Idem, ps. 26-27)
Foi a presente Coletânea realizada aos poucos, num período de doze anos, sendo
onze dedicados a pesquisa e reunião de dados, e um à organização, acabamento e
revisão. Aqui expressamos a nossa profunda gratidão e admiração pelo abnegado e
desinteressado esforço de vários companheiros, todos de elevado nível, que durante
três meses nos ajudaram na conferência dos excertos integrantes de cada um dos 136
capítulos, com os respectivos livros e páginas, e na revisão de sinais convencionais e
tipográfica. Também aos que trabalharam nos serviços de composição, impressão e
acabamento. Sem isso não teria sido possível a publicação imediata deste livro.
Representa esta Seleta a tentativa de uma visão global, por amostragem, dos
ensinamentos de Krishnamurti. São eles de uma extensão e profundidade tais, que se
torna difícil, senão impossível, uma síntese perfeita. Por isso, não prescinde ela da
consulta aos livros do autor, também para se ver o que precede e sucede aos textos
reproduzidos. Tendo-se resolvido editá-la com brevidade, dada a crise social,
financeira, a crescente elevação dos preços, deixou-se de melhorá-la em detalhes,
sendo publicada no estado. Foi exaustiva a sua elaboração, mais ainda a conclusão e
a revisão geral, em ritmo acelerado.
Quando uma pessoa revela interesse por um livro, é natural que deseje saber as
credenciais do autor, a fim de poder avaliar a capacidade, o acesso às fontes, a
orientação, a seriedade da obra. Costumamos também proceder assim. Mas,
adotando os ensinamentos de Krishnamurti, nos sentimos de certo modo
constrangido. Ele recomenda que, para se dissolver o "eu" (que quer ser alguém,
projetar-se com sua auto-imagem), devemos manter a atitude de não saber, ser nada,
ninguém, o anonimato.
Tendo nascido em dia, mês e ano em que coincidem duas datas nacionais, disseram-
nos alguns astrólogos que nosso dharma estava ligado aos destinos do Brasil. Talvez
por isso, dever de funções, freqüentamos durante 25 anos não só os Tribunais
Federais como a Câmara de Deputados e o Senado Federal, redigindo numerosos
projetos e emendas para congressistas amigos e também para Ministros.
Desde cedo compreendemos que se vive numa época de exceção, e por isso
evitamos maior envolvimento com assuntos mundanos, para nos dedicarmos aos
espirituais e correlacionados. Estudamos as predições para os nossos tempos, e
escrevemos "Até 2.000... - Profecias Comparadas" (1976, 488 páginas). Além dos
vaticínios sociais, tomamos conhecimento das previsões no campo científico
(terremotos, vulcões, degelo dos pólos, fenômenos no sol, lua, inversão da polaridade,
etc.) Com relação, reunimos dados de centenas de livros, também da literatura
científica vinculada, chegando a elaborar um esboço de livro.
Por vários anos servimos na Universidade do Brasil (atual Federal do Rio de Janeiro),
requisitado para o exercício de função gratificada, de assessoria, chefia de gabinete,
retornando posteriormente ao MEC. Aproveitamos a oportunidade para consultar
grande número de livros de suas bibliotecas.
Isto em virtude de crises sociais crescentes e dos anos que restam para que graves
ocorrências, anunciadas por previsões, confirmadas por Krishnamurti, atinjam o nosso
planeta. Com múltiplas atividades, reconhecemos a prioridade de se atender à
demanda do elevado número de pessoas que, ultimamente, têm demonstrado grande
interesse pelos conhecimentos espirituais. Também por esse motivo, absorvido por
vários encargos e sem tempo disponível, deixamos de aceitar convite para ingresso na
Academia Interamericana de Letras, renovando aqui nosso agradecimento ao seu
ilustre Presidente.
Para a publicação desta Obra, foi ela oferecida a muitas editoras, do Rio de Janeiro,
de São Paulo e de Brasília. Mas, sem revelar o motivo, algumas não demonstraram
interesse. Outras informaram que tinham já compromisso de edição de muitos livros, e
só em outra oportunidade poderiam considerar a proposta. Duas queriam imprimi-la,
porém num próximo futuro, porque tinham publicado livros recentemente, ou adquirido
aparelhamento moderno, dando a entender que estavam "sem caixa". Finalmente,
uma concordava em editar o livro imediatamente, se se conseguissem pessoas que
comprassem antecipadamente cerca de 600 exemplares, pagando à vista.
Por isso, dentro do capital disponível, decidiu-se editar 2.000 exemplares. Como a
maioria das pessoas desconhece o mecanismo do mercado, com a nossa experiência
procuramos dar uma idéia. As Distribuidoras pedem cerca de 55% sobre o preço de
capa, para colocarem um livro em todo o país. Isto porque elas dão 30% às livrarias,
mais 5% se paga a duplicata no prazo de 60 dias. Acima de certa quantidade de
exemplares, o desconto é de 35% mais 5%. O vendedor na praça, colhendo os
pedidos nos postos de venda, recebe 3%.
Por outro lado, há os exemplares com defeitos, extraviados e os numerosos que são
doados a título de gentilezas, serviços prestados, autoridades, redação de jornais e
revistas para a divulgação, parentes e amigos, instituições espiritualistas, bibliotecas
públicas, etc.
A Distribuidora só começa a pagar três meses depois de recebido o livro, porque ela
leva um mês anunciando-o às livrarias, recebendo pedidos - o prazo normal de
pagamento é de 60 dias. Por isso, para ressarcir, o mais depressa possível, os
financiadores, com os juros e a correção monetária de praxe, a solução é a venda em
reuniões de autógrafos, circular a interessados, etc. Se no final algum ganho resultar,
será ele aplicado em auxílios a instituições vinculadas, que lutam com dificuldades
financeiras, e divulgação (panfletos, anúncios).
E ainda: "Não constitui ofensa aos direitos do autor: a reprodução de trechos de obras
já publicadas (...), desde que apresente caráter científico, didático ou religioso, e haja
a indicação da origem e do nome do autor."
Omitem a Convenção e a Lei o tamanho dos textos que podem ser transcritos, e bem
assim a quantidade deles, em relação ao total das obras. No caso dos livros de
Krishnamurti, os constantes da Bibliografia somam cerca de 22 mil páginas. Elas vão
desde livrinhos com dezenas de páginas, (reduzido número, até 538 páginas, como
"The Awakening of Intelligence"), numa média de 140 páginas.
Mas esse número eleva-se a mais de 25 mil páginas, se forem considerados dezenas
de panfletos que reúnem conferências avulsas, centenas de palestras isoladas,
entrevistas, discussões, poemas e outras produções, não incluídos em livros, citados
por Susunaga Veeraperuma em "A Bibliography of Life and Teachings of Jiddu
Krishnamurti" e "Suplement to Bibliography of the Life and Teachings of Jiddu
Krishnamurti" (Chetana (P) Ltd, Bombay, India, 1974 e 1982), atualizados até este
último ano, omitindo as publicações até 1986.
Não tendo esta Obra fins lucrativos, e dada a sua importância na época em que
vivemos, ficam as Fundações Krishnamurti, existentes, livres para a reproduzirem com
adaptação ou não a outros idiomas, com total isenção de direitos autorais, desde já
cedidos. Pode até ser dela realizada seleta menor, com escolha de capítulos e textos
mais importantes, com cerca de 200 páginas, para o grande público.
Orientação adotada
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 20:48
Por outro lado, em numerosas obras do autor, os parágrafos são longos, chegando a
uma e duas páginas, aproveitando-se, conforme a necessidade, trechos iniciais,
intercalados ou finais. Obrigou isso ao uso do sinal convencionado (...). Com
freqüência o assunto de um excerto liga-se a dois ou mais capítulos, colocando-se no
mais diretamente relacionado, servindo também de pontes entre eles.
Com freqüência, usa Krishnamurti repetições como "há a autoridade dos livros, a
autoridade da igreja, a autoridade do ideal, a autoridade de nossa própria experiência
(...)." Outro exemplo: "O corpo, que tem sido tão despojado, que tem sido tão mal
usado, (...)". Abreviou-se assim: Há a autoridade dos livros (...) da Igreja (...) do Ideal
(...), de nossa própria experiência (...)".
Nas obras do autor, como em outras, em geral, os trechos mais significativos de cada
assunto encontram-se espalhados. Entretanto, nesta Coletânea eles se acham
concentrados, já que é formada da reunião de textos-chaves de cada tema, dando ao
livro uma forma de compacto.
Há certa dificuldade na distribuição dos assuntos de Krishnamurti, porque eles não são
de todo separáveis, mas entrelaçados. No entanto, para a sua exposição, foi feita a
divisão possível. Não é assim de se estranhar que, em trechos sobre um tema, se
encontrem traços de outros.
Ele próprio diz: "Todas as nossas palestras estão encadeadas umas às outras. Não
podeis levar apenas uma parte delas e dizer que ides "viver com essa parte". (...) (O
Despertar da Sensibilidade, pág. 146)
Da mesma forma, em outro livro: "Toda pergunta está relacionada com alguma outra.
Todo pensamento está relacionado com outro, não é independente. A profissão, o
caminho, a educação, o autoconhecimento, estão todos intimamente relacionados
entre si. (...) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 95)
"Desde a década de 1920, tenho dito que não deve haver intérprete do Ensino, para
desfigurá-lo e torná-lo um meio de exploração. Não há necessidade de intérpretes,
porquanto cada um deve observar as próprias atividades diretamente e não de acordo
com alguma teoria ou autoridade. Infelizmente têm aparecido intérpretes, fato pelo
qual não somos de modo nenhum responsável.
Continua: Em anos recentes, vários indivíduos se têm declarado meus sucessores, por
mim eleitos para disseminarem o Ensino. Tenho dito e repito agora que não há
representantes da pessoa ou do ensino de Krishnamurti, nem durante a sua vida, nem
após o seu passamento. Lamento ter de dizer isto novamente".
A "Carta de Notícias" da ICK nº 254, de 1987, página 1, sob o título "Os ensinamentos
de Krishnamurti", sem citar a fonte, reproduz texto com a seguinte redação: "Os
ensinamentos são importantes por si mesmos. Intérpretes ou comentadores apenas os
desvirtuam. Convém ir diretamente à fonte, aos próprios ensinamentos e, não, através
de autoridades".
Dados biográficos de Krishnamurti
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 20:49
Após a morte de sua mãe, Jiddu Sanjeevamma, em 1905, o pai Jiddu Narianiah,
coletor de rendas, juiz distrital, tendo-se aposentado, foi aceito para residir e trabalhar
em Adyar, Madrasta, Sede Internacional da The Theosophical Society, à qual
pertencia. Lá o Sr. Leadbeater (Charles W.), com sua ampla e profunda clarividência,
observando as vidas pretéritas no menino Krishnamurti, chegara à conclusão de que
as suas condições espirituais eram excepcionais (resultado de encarnações
passadas). Daí ter Annie Besant e ele próprio decidido encarregar-se do
prosseguimento de seus estudos na Inglaterra.
O fato é que, em 1910, com apenas 15 anos de idade, caso inédito, revelou o
amadurecimento e a experiência que lhe permitiram vencer a primeira etapa na Senda
de santidade-sabedoria (1ª Iniciação). Ao mesmo tempo, com a criação da Ordem da
Estrela do Oriente em 11-01-1911, ficou como Chefe da mesma. Seguiram-se as
condições para o atendimento da 2ª etapa da referida via (2ª Iniciação) em 1912, da 3ª
em 1922 e da 4ª, de Arhat, santidade-sabedoria, em 1925.
Essas ascensões espirituais são referidas na obra adiante citada, de Mary Lutyens
(Krishnamurti - Os Anos do Despertar), biografia, pág. 45-46, 66, 68, 167, 291, 295,
297, paralelamente a adaptações e provações, não obstante seu delicado corpo e
saúde. Pois contraíra doenças e pestes na Índia, acompanhando a família, visto que
seu pai estava sujeito a mudança de local de trabalho. Sem esquecer os tremendos
esforços, a purificação do amor, o agudo discernimento exigidos pela vida espiritual
superior. Mas ele teve a capacidade para suportar os referidos encargos e realizar a
obra adiante relatada, com vigor sempre renovado, até o passamento em 17-02-1986.
E ainda que a excelente luz áurea do Senhor Buddha refulgira sobre os presentes à
reunião, na bênção final. Ocorrências assemelhadas, excepcionais, suntuosas, se
verificam na 2ª Iniciação, relatada adiante, na mesma obra, pelo autor, com a
presença mais objetiva do Senhor Buddha (pág. 124-132 e 162-170).
Lê-se ainda, na fonte, em trecho igualmente suprimido nas edições posteriores, o que
segue: "O Instrutor do Mundo virá quando julgue oportuno, ainda que se nos diz que
não há de tardar. A Ordem da Estrela do Oriente se fundou faz treze anos para
preparar o advento do Instrutor, reunindo em uma aspiração comum as gentes de
todas as religiões e seitas que esperam Sua vinda(...)" (pág. 207-208).
Posto que o Senhor Maitreya há escolhido a nossa Presidente (Sra. Annie Besant)
para que anuncie Seu advento, nos parece razoável conjeturar que seus
ensinamentos se parecerão bastante às idéias que, com tanta eloqüência, há pregado
ela durante os últimos trinta e seis anos. (...) Certamente que o advento de Cristo está
relacionado com um fim, porém não do mundo, mas de uma idade ou era, (...) (pág.
208).
No Brasil, Rio de Janeiro, desde 1926, como Agência da Order of the Star e, depois,
como Agência do The Star Publishing Trust, foram editadas as obras de Krishnamurti
constantes da Bibliografia. Antes disso, as palestras de Krishnamurti saíam em "O
Teosofista", órgão oficial da Sociedade Teosófica no Brasil.
Com relação ao Brasil, cabe ainda informar que a comunicação da Sra. Annie Besant
sobre a criação da Ordem da Estrela do Oriente - ela atuava como Protetora da
mesma, foi publicada em "O Teosofista" de julho de 1911. Em 13-09-1913 foi
convidado para seu Representante no Brasil o então Major Raymundo Pinto Seidl,
principal figura da Teosofia no Brasil, partindo o convite do próprio Sr. Krishnamurti,
como Chefe da Ordem, chegando a confirmação para o cargo em carta de 06-03-
1914.
Após a dissolução da Ordem da Estrela em 1929 (então sem "do Oriente"), a Missão
de Krishnamurti, já em fase de maioridade e com recursos próprios, se tornou de todo
independente. Isso se deu também depois de ter Krishnamurti recebido provas de
Advento, conforme exposto. A Ordem, com seus administradores, tivera lugar, se
justificava numa situação de regência, enquanto Krishnamurti era menor de idade
física e estava sobrecarregado com outros encargos materiais e espirituais. Cumprido
o seu Objetivo, esgotara a Instituição a sua finalidade.
"(...) Todos nós achamos que as Fundações não devem ser fragmentadas e sim
trabalhar juntas como um todo, com o mesmo intuito e seriedade. Foi sobre isso que
falamos. Hoje existem quatro fundações, (...) Durante a minha existência elas
promovem palestras, grupos de debate, seminários e concentrações. Elas são
responsáveis pela preparação, tradução e publicação de livros. (...) Elas produzem
filmes, fitas de áudio e material para televisão. Encarregam-se da distribuição e assim
por diante."
Segue: "Existem agora cinco escolas na Índia, um centro educacional com escola em
Brockwood Park, na Inglaterra, e vai haver um centro educacional e uma escola nos
Estados Unidos, em Ojai. Todas essas escolas funcionam sob a orientação das
Fundações Krishnamurti. ( ... )"
"As Fundações não têm autoridade na questão dos ensinamentos. A verdade jaz nos
próprios ensinamentos. As Fundações cuidarão para que esses ensinamentos sejam
mantidos intactos, não sejam distorcidos ou corrompidos. As Fundações não estão
autorizadas a permitir que haja propagandistas ou intérpretes dos ensinamentos.(...)"
(pág. 11-12)
O Capítulo XXIV do Livro IV e o Cap. I do Livro VI, revelam a decadência dos homens
e das instituições sociais que ocorreria na Idade Kali. No primeiro é prevista a vinda de
brâmane eminente, da família dos Vishnuyasas - seria uma espécie de enviado,
avatar, da Divindade (Krishnamurti nasceu hindu brâmane).
Da mesma forma, revela a Bíblia que neste "fim de tempos" viria a este mundo, pela
segunda vez, o Senhor Cristo (também chamado filho de Deus). Vê-se isto em Daniel
VII:13; Mateus XXIV:27-30); Marcos XIII:26,27; Lucas XXI:27; Hebreus IX:28;
Colossenses III:4.)
Outros textos da Bíblia igualmente prevêem que o Senhor Cristo viria neste "fim de
tempos" também para atender ao Juízo dos homens (II Corintios V:10; Apocalipse
XX:4, 12, XIV:7, IV:2, 6, V:1, 6, 8; I Pedro IV:17, II Pedro II:4, 9; Daniel VII:9, 10, 26,
VIII:17) para purificação dos mesmos (Ezequiel XXXVI:25; I Romanos V:3; Atos
XIV:22; I Pedro I:22; Hebreus I:3; Zacarias XIII:9; Daniel XI:35, XII:10); e promover
justiça, afastar da Terra homicidas, ímpios, fornicadores, abomináveis, soberbos
(Apocalipse XXI:8, II Pedro I:22, II:11; Malaquias III:2, 5, IV:3).
A vinda "nas nuvens", anteriormente referida, pode significar vitorioso sobre as trevas
ou que cumpriria seus misteres, na segunda parte de sua Missão supracitada, desde o
Invisível (planos Etérico, Astral-Mental).
Os versículos aludidos, das Escrituras cristãs, coincidem com outro trecho do Vishnu
Purana, do mesmo Liv. IV, Cap. XXIV, assim resumido: A Entidade mencionada, com
seu poder irresistível, afastaria os dedicados à iniqüidade, os salteadores, etc.,
restabelecendo a justiça na Terra.
"Se a atual tentativa, cuja forma é nossa Sociedade, logra melhor resultado que as
anteriores, subsistirá viçosa e robusta, quando chegar o momento espiritual do século
XX. A condição moral e intelectual dos homens haverá melhorado com a propagação
das doutrinas teosóficas, desaparecendo até certo ponto os preconceitos dogmáticos.
Continua: Além de uma copiosa e inteligível literatura, o próximo impulso terá em sua
ajuda uma corporação unida e numerosa, disposta a receber favoravelmente o novo
portador da tocha da Verdade. Haverá as mentes dispostas a compreender sua
mensagem (...); em suma, uma organização (...) previsora de sua vinda (...)" (Ed. Bibl.
Orientalista, Barcelona, 1910, pág. 219-220).
A obra "Conferências Teosóficas", de Anule Besant (Liv. Clas. Edit. Lisboa, 1926),
reúne pronunciamentos da autora, de várias épocas, que não ultrapassam as duas
primeiras décadas. Na conferência intitulada "A Era de um Novo Ciclo" refere-se a
Buddha e a Maitreya (nome de Cristo na Índia). Aí se lê:
"Tendo a raça ariana (..).Ele voltou e se manifestou como o Instrutor supremo. A última
vez que veio, num corpo mortal, foi aquele que o mundo conhece pelo nome de
Gautama, o Senhor Buddha. ( ... ) (pág. 95)
Pregou e partiu: nas mãos do Seu sucessor (...) colocou o ensino destinado ao mundo.
( ... ) Conheceis esse sucessor ( ... ); o Rishi Maitreya. Os budistas chamam-no
Bodhisattwa. ( ... ) (pág. 96)
Há dois mil anos ( ... ) tomou o corpo preparado para Ele por um fiel discípulo,
conservado afastado dos homens em um mosteiro essênio; foi então que apareceu
nesse corpo com o nome que os cristãos chamam Cristo; (...) (pág. 96-97)
Tais são as coisas que se passam hoje no mundo espiritual; são os preparativos (...)
para sua manifestação; mais uma vez a Hierarquia oculta prepara a via do Senhor. (...)
Não há uma região no Ocidente que não esteja na atitude de espera, (...). (pág. 98)
Eis o que nos reserva o ciclo menor que começa. Esta união vai ser uma das coisas
que o Supremo Instrutor vai tomar possível. Ele que se juntará a tudo o que há de
mais nobre no Oriente e no Ocidente, Ele que unirá a espiritualidade de todas as
grandes religiões do Ocidente, (...)" (pág. 114)
Por sua vez, com relação, escreve C.W. Leadbeater na obra "La Vida Interna" (Bibl.
Orientalista, Barcelona, 1919):
"Quanto à próxima vinda de Cristo e à obra que há de realizar, vos remeto ao livro
publicado pela Senhora Besant com o título "El Mundo Cambiante" (O Mundo de
Amanhã). A época de seu advento não está longe e o corpo que tomará há nascido já
entre nós". (A Obra de Cristo) (v. I, pág. 32)
O mesmo autor, C.W. Leadbeater, na obra "Os Mestres e a Senda", trata de Atos
suplementares, surgidos após a iluminação do Senhor Gautama, o Buddha. Dado o
relacionamento de Krishnamurti também com Ele, julgou-se oportuno o presente
esclarecimento. Um dos Atos foi que, ao invés de o Senhor Buddha se limitar a
misteres de natureza superior, extraplanetários, resolveu continuar a prestar auxílio à
Terra.
Isto no sentido de eventual ajuda a seu sucessor, a quem esteve ligado durante muito
longa data, e de atuações especiais, em certas oportunidades. Outro foi e de retornar
uma vez por ano, para conceder bênçãos (Lua cheia de maio, cerimônia de Wesak),
ocasião em que derrama uma torrente de energias espirituais. Isto porque, tendo
acesso a planos mais elevados, acima dos nossos, pode transmutá-las e transferi-las
ao nível de nosso mundo. (Ed. Pensamento, S.Paulo, 1977, pág. 267, 268)
Em 1930 desligou-se Krishnamurti da Sociedade Teosófica, como também do
Hinduísmo. Tinha isso de acontecer a partir das mudanças que vinham ocorrendo nele
desde 1925, principalmente em 1927. Sendo a sua Mensagem universal, viera ele
para todos, e não apenas para os membros desta ou daquela entidade ou religião.
Nesse sentido, em "A Arte da Libertação", diz ele: "(...) Quando digo que minha
mensagem é para todos, não o faço para agradar à democracia (...) O que estou
dizendo é para todos, sem levar em conta a posição de cada um na vida, seja rico,
seja pobre, sem levar em conta o seu temperamento, (...) O princípio hierárquico é
nitidamente nocivo ao pensamento espiritual. Dividir os homens em "altos" e "baixos"
denota ignorância. (...) (pág. 35)
Além dos livros, palestras isoladas, poemas, etc, produzidos por Krishnamurti
menciona Susunaga Veeraperuma, nos dois volumes das aludidas Bibliografias, do
autor, 839 títulos no 1º vol. e 106 no 2º vol. no total de 945 títulos de artigos publicados
em jornais e periódicos sobre Krishnamurti, e 325 no 1º vol, e 285 no 2º vol. no total de
610, de trabalhos biográficos sobre o autor. Somam 1.555 as duas espécies de
artigos.
Revelam um caráter simples e popular. Ele sempre falou para grandes auditórios
públicos, também de destacadas instituições educacionais e culturais. São apreciados
tanto por pessoas espiritualmente preparadas, como pelas que nunca adquiriram
nenhuma informação filosófico-religiosa.
Com freqüência, esclarece ele que a civilização do futuro depende do homem novo,
purificado, amadurecido - elevado à dimensão do porvir, do ponto de vista do pensar-
sentir, ético, espiritual - a fim de que possa subsistir. Do contrário, seria ela de novo
deteriorada pelos erros, excessos, vícios, poluições, perversidades e desordens
verificados em nossos tempos.
Por outro lado, conforme a história e a literatura teosófica, os cultos começaram nos
tempos mais primitivos com a veneração de reis, considerados divinos, do Sol e da
Lua, de deuses. O culto do lar evoluiu para o da pátria, tribo, cidade, estado. Religiões
antigas extinguiram-se (dos egípcios, caldeus, gregos, romanos, América pré-histórica,
etc.). O Budismo espalhou-se no Oriente e o Cristianismo, no Ocidente.
Coincide isso com a informação de Blavatsky (H.P), em "La Doctrina Secreta", de que
estamos chegando ao meio da evolução em nosso planeta, aproximando-se os
tempos em que o pêndulo da evolução dirigirá decididamente sua propensão para
cima, conduzindo a humanidade a mais alta espiritualidade. (vol. I, pág. 288-289)
Sob o ponto de vista religioso, espiritual, a idade dos entes humanos, de modo geral, é
de adolescência, juventude. Uma minoria possui certa maturidade, se encontra na
idade semi-adulta. Pode-se dizer que a maioridade mais definida é atingida quando o
homem se dedica à prática da ioga, ascese, mística, com suas vias purgativa,
iluminativa e unitiva. Só então ele se torna senhor de si mesmo. Na fase atual, vive o
homem com desequilíbrio do pensar-sentir, sob a influência maior ou menor da
natureza inferior, da treva.
Liberto desse centro de caráter inferior, fica o ser livre para atuar com discernimento,
atrair a intuição (voz divina). E essa dissolução ocorre com a prática da simplicidade,
humildade, pela observação das expressões do "eu", ego, flagrando-as quando
surgem, pois isso funciona como golpes de morte nelas, e pela atitude de ser nada,
ninguém, porque o "eu", ego, é que quer ser importante, alguém - deixar de alimentá-
lo é dissolvê-lo.
A nova era do computador veio demonstrar que a mente humana não deve constituir-
se em banco de dados, mas tornar-se livre, independente, e saber consultar,
manipular os bancos de dados, o que é completamente diferente.
Além disso, receberam as informações reunidas pelo Sr. Shiva Rao, antigo membro do
Parlamento indiano, que, igualmente, por longo tempo, convivera com J. Krishnamurti.
Pretendia escrever a biografia dele, mas faleceu antes de cumprir seu intuito.
Com a morte da Sra. Emily Lutyens, coube à sua filha, Mary Lutyens, escrever as
obras intituladas: "Krishnamurti - The Years of Awakening" (Os Anos do Despertar);
"Krishnamurti - The Years of Fulfilment (Os Anos de Plenitude) e "Krishnamurti - The
Open Door (A Porta Aberta).
No livro Palestras em Auckland, 1934", diz Krishnamurti: (...) E vós vos tendes
preparado (...) e não importa que eu seja o Instrutor ou não. Ninguém vô-lo pode dizer,
(...) porque nenhuma outra pessoa pode sabê-lo, exceto eu próprio; e, mesmo assim,
eu vos digo que isso não importa. Jamais contradisse isso, apenas digo: deixai isso de
parte". (...) (pág. 101-102)
Quando, no entanto, eu era rapazinho, costumava ver Shri Krishna (...) tal como é
desenhado pelos hindus, pois minha mãe era devota de Shri Krishna. (...) Quando,
crescendo em idade, encontrei o Bispo Leadbeater e a Sociedade Teosófica, comecei
a ver o Mestre K.H. e, desde então, o Mestre K.H. era para mim a finalidade.
Segue: Mais tarde ainda, e à medida que ia crescendo, comecei a ver o Senhor
Maitreya (nome do Senhor Cristo na Índia). Foi isto há dois anos e via-O
constantemente na forma que perante mim era colocada. (pág. 57)
Faço-vos esta narrativa, não para obter autoridade nem criar uma crença, (...). Foi
para mim uma luta constante encontrar a verdade, pois não me sentia satisfeito com a
autoridade de outrem. Quis por mim próprio descobrir e, naturalmente, tive de passar
por sofrimentos para achar o que buscava. (pág. 57)
Ultimamente tem sido o Senhor Buddha a quem tenho visto e tem sido meu deleite e
minha glória o estar com Ele. (pág. 57)
Tem-me sido perguntado o que entendo pelo "Bem Amado". Dar-vos-ei um significado,
uma explicação que interpretareis como vos aprouver. Para mim, é tudo - é Shri
Krishna, é o Mestre K.H., é o Senhor Maitreya, é o Buddha e, no entanto, está para
além de todas essas formas. (pág. 57)
Que importa o nome que Lhe derdes? Lutais pelo Instrutor do Mundo, por um nome?
O mundo nada sabe acerca do Instrutor; alguns dentre nós, individualmente, sabem:
alguns acreditam por autoridade; outros têm sua própria experiência e conhecimento
próprio.(...) (pág. 57)
Disse a mim próprio: enquanto não me unificar com todos os Instrutores, que eles
sejam os mesmos é coisa que não tem importância, se Shri Krishna, Cristo, o Senhor
Maitreya são uma só pessoa, é coisa também sem grande conseqüência. (pág. 58)
Disse a mim mesmo: enquanto eu os vir no exterior, como em um quadro, uma coisa
objetiva, estou separado, estou afastado do centro; quando, porém, tiver a
capacidade, a força, quando tiver determinação, quando estiver purificado e
enobrecido, então essa barreira, essa separação desaparecerá. Não fiquei satisfeito
enquanto esta barreira não foi despedaçada, a separação não foi destruída. (...) (pág.
58)
Falei de vagas generalidades, que todos precisavam ouvir. Nunca disse: Eu sou o
Instrutor do Mundo; agora, porém, que sinto que sou uno com o Bem Amado, eu o
digo, não a fim de vos impor minha autoridade, ou para vos convencer de minha
grandeza ou da grandeza do Instrutor do Mundo, nem mesmo da beleza da vida ou da
simplicidade da vida, mas simplesmente para despertar o desejo em vossos corações
e em vossas mentes de buscardes a Verdade. (...) (pág. 58-59)
Daí estar eu capacitado para vos dizer que sou uno com o Bem Amado - quer o
interpreteis como sendo o Buddha, o Senhor Maitreya, Shri Krishna, o Cristo, ou
qualquer outro nome. (pág. 59)
No panfleto "Que o Entendimento Seja Lei" (conferência em Eerde, Ommen, Holanda,
1928) diz:
"Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da Verdade, desde que
compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho
seguidores.
"Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o
fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. (...) (pág. 4)
(...) Eu sei o que sou; sei qual é a minha finalidade na Vida, porque sou a própria Vida,
sem nome, nem limitação.
E porque sou a Vida, desejo instar-vos a adorar essa vida, não na forma que é
Krishnamurti, porém a vida que reside dentro de cada um de nós. (...)" (pág. 16)
Também em "A Arte da Libertação: "Pergunta: Não sois vós mesmo um guru?"
Resposta: Podeis fazer de mim um guru, mas eu não o sou. Não quero ser guru, pela
simples razão de que não há caminho para a verdade. (...) A verdade é uma coisa
viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho. (...) Porque a verdade não tem
caminho, para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e
pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? (...) (pág. 123-
124)
Krishnamurti: Tem isso grande importância? Esta é (...) uma das perguntas que me
têm sido feitas por toda parte (...). Ora, eu jamais neguei ou afirmei ser o Messias, o
Cristo que voltou; (...) Ninguém vô-lo pode dizer. Mesmo que eu o dissesse, isso seria
(...) destituído de valor (...). (Palestras em Auckland, 1934, pág. 120)
Continua: "Assim, pois, (...) esforçai-vos para averiguar se o que estou dizendo é
verdadeiro; (...) desembaraçar-vos-eis de toda autoridade, (...). Para os seres
humanos realmente criadores, inteligentes, não pode haver autoridade. (...)" (Idem,
pág. 121)
Da mesma forma, em "Novo Acesso à Vida": "Pergunta: Como pretendeis justificar (...)
que sois o Instrutor do Mundo?
Resposta: Não tenho interesse algum em justificá-lo. Não é o rótulo que importa,
Senhores. O grau, o título não tem importância alguma: o que tem importância é o que
sois.
Rasgai o título, pois, jogai-o na cesta de papéis, queimai-o, destruí-o, livrai-vos dele.
(...)
Senhores, os títulos, sejam títulos espirituais, sejam títulos mundanos, são meios de
explorar os outros. (...)" (pág. 45)
E ainda, em "Uma Nova Maneira de Viver": "Pergunta: A S.T. anunciou que vós sois o
Messias e o Instrutor do Mundo. Por que deixastes a S.T. e renunciastes ao título de
Messias?
Por fim, em "Palestras na Itália e Noruega", 1933. "Pergunta: Foi dito que sois a
manifestação do Cristo em nossos dias. Que tendes a dizer sobre isto?
Krishnamurti: Meus amigos, por que fazeis semelhante pergunta? (...) Perguntais
porque quereis (...) julgar o que digo de conformidade com o padrão que possuís. (...)
Isto é de mui pequena importância e, além disso, como poderíeis saber o que sou ou
quem sou, mesmo que eu vô-lo dissesse? (...)" (pág. 66)
Continua: "Desejais saber quem sou em virtude de estardes incertos (...). Não estou
afirmando ser ou não o Cristo. (...) para mim a pergunta carece de importância. O que
é importante é saberdes se o que digo é verdadeiro; ( ... )" (pág. 66-67)
À página 221, inicia a autora o capítulo "A Primeira Manifestação". Trata do Congresso
da Estrela, na Índia, que teve lugar em Adyar, Índia, em 28-12-1925. (No artigo "Uma
Explicação", de Annie Besant, publicado em "O Teosofista" nº 155, de março de 1927,
são confirmados os aparecimentos acima, e é informado que o Congresso da Estrela,
de 1925, teve a presença de 7.000 pessoas).
"Ele só vem para os que querem, que desejam, que anseiam (...)"; e, de súbito, sua
voz se modificou completamente e soou: "Eu venho para os que querem simpatia, os
que desejam felicidade, os que anseiam libertar-se (...). Venho para reformar e não
para destruir, não venho demolir, senão construir."
Registra Mary Lutyens que muitos notaram não só a alteração para a primeira pessoa,
como uma diferença de voz. A Sra. Annie Besant, Leadbeater e Raja (Jinarâjadâsa)
tiveram perfeita consciência da mudança. Na reunião final do congresso, teria a Sra.
Besant declarado:
Nessa mesma fonte ("Los Años de Plenitud") consta que a Sra. Besant, então
acompanhada de Krishnamurti, teria feito declaração à Imprensa, nos E.U.A, assim
concluindo:
"O Instrutor do Mundo está aqui" (pág. 14). Nas páginas 3, 12, 15, 249 desse livro, é
repetida a 1ª manifestação do Instrutor universal em 28-12-1925, e outras em 1926 e
1927.
Verifica-se isso também em: "Os Anos do Despertar", pág. 48, 160-167, 179-181, 189,
196-197, 209, 225-227, 242, 250-251, 255-256); "Os Anos de Plenitude", pág. 12-13,
121, 125-126, 243, 245, 253).
Maitreya, Buddha; esclarecimentos
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 20:54
Por outro lado, em "Que o Entendimento seja Lei", esclarece: "(...) Amigo, não vos
preocupeis sobre quem eu seja; vós nunca o sabereis, (...)." (pág. 15)
O autor, Leadbeater (Charles W.), não foi um homem vulgar; consta ter atingido o nível
de Arhat (santidade-sabedoria) e, sendo possuidor de ampla e profunda clarividência,
demonstrada em muitas obras de pesquisa dessa natureza, podia realizar tais
investigações.
Na vida XXIX, teria Krishnamurti nascido no ano 630 a.C, nas cercanias da cidade de
Rajagrha, Índia, de pais brâmanes. No ano 588 a.C, depois de ter escutado muitos
sermões do Senhor Buddha, decidiu renunciar ao mundo e segui-Lo. (pág. 364-366)
Fizera então tal voto, e de, como Ele, Buddha, dedicar-se a mitigar o sofrimento e a
trabalhar pela paz no mundo, prometendo a isso destinar as suas vidas futuras, até se
transformar, como Ele, num Salvador dos homens.
Depois de ouvir essa decisão, relata Leadbeater, teria o Senhor Buddha inclinado a
cabeça e respondido: "Seja como dizes. Eu, o Buddha, aceito o voto que já não hás de
quebrar e ficará cumprido nos tempos futuros". Então lhe apertou a mão e o
abençoou, enquanto Alcione caía prostrado a seus pés. (pág. 367)
Krishnamurti: Não, senhor, receio que eles estejam inteiramente errados. Não se pode
dar explicações a alguém que nos defronte sem ter idéia daquilo de que se trata, sem
ser mal compreendido. (pág. 20)
Krishnamurti: Eles entenderam mal o que se pretende indicar pela idéia do "veículo do
Instrutor". Confundem-se com isso (...). (pág. 20)
Pergunta: Como aconteceu que vários jornais fizeram distinção entre a personalidade
de Krishnamurti e o Instrutor?
Krishnamurti: Senhor, eu o tenho dito muitas e muitas vezes (...) Krishnamurti, como
tal, não mais existe. Assim como o rio entra no oceano e nele se perde, assim
Krishnamurti entrou naquela Vida que se acha representada por alguns como o Cristo,
por outros como o Buddha, (...) o Senhor Maitreya. Assim, Krishnamurti (...) entrou
nesse Oceano de Vida e é o Instrutor (...) (pág. 20)
Pergunta: Haveis dito que sois o Buddha, o Cristo, o Senhor Maitreya (...) Como pode
ser isto?
Krishnamurti: Sustento que todos os Instrutores do mundo atingiram essa Vida que é
finalidade da mesma. Daí, sempre quando qualquer ser entra nessa Vida, que é a
culminação de toda a vida, então, ipso facto se torna o Buddha, o Cristo, o Senhor
Maitreya, pois que ali não mais existe distinção. ( ... )" (pág. 21)
Referências ao Senhor Buddha são feitas também por Krishnamurti na obra "O Reino
da Felicidade", nos seguintes termos:
"O Mestre é de todos, Ele é o Amante do Mundo, e nunca ficará satisfeito com dar o
seu conhecimento e amor a alguns apenas. Ele vem para todos. Ele anseia por
despertar a beleza e a felicidade da vida em todos, (...) os que tivermos acendido a
candeia do gênio em nós mesmos, tanto melhor poderemos entender, seguir e servir."
Eu falei a respeito do Buddha e seus discípulos, e (...) aqueles discípulos não podiam
ter sido homens ordinários; eles eram exceções, (...) dando amor aos que
necessitavam de abrigo nas grandes alturas. Por isso, os que entendiam o grande
Mestre, respiravam o mesmo ar perfumado e viviam no mundo dEle, puderam dar ao
mundo uma parte daquela eterna beleza. (...)" (pág. 16-17)
"Ansiava por chegar ao meu Guru, meu amor, meu Gênio, minha fonte de Felicidade;
e, como já de outra vez na Índia eu O vi, mas não quando estava lutando ou tentando
aproximar-me dEle, mas sim quando estava em meu natural e no meu íntimo refervia
uma fonte de felicidade."
"Mas, (...) vós estais enamorados de rótulos, e não da Verdade. Como é possível
dividir a Vida em Instrutor Universal e Bodhisattva? (...) Percebeis o que esta pergunta
implica? O que vos agrada atribuís ao Bodhisattva; e que vos desagrada atribuís ao
Instrutor Universal ou - quem sabe? - a Krishnamurti." ("Que o Entendimento seja Lei",
pág. 13)
"Uni-vos com a Vida e vos unireis com todas as coisas. (...) Se estais enamorado da
Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Buddha ou Cristo ("Que o
Entendimento seja Lei", pág. 19)
"O Buddha, o Cristo, e outros grandes Instrutores do mundo, foram ter à fonte da Vida.
(...) Uma vez conhecendo a natureza e a suprema grandeza da Fonte, Eles mesmos
se tornaram essa Fonte, o Caminho e a Encarnação da Sabedoria e do Amor. Essa
deveria ser a nossa finalidade. (...)" ("O Reino da Felicidade", pág. 54-55)
Na obra de Krishnamurti "A Canção da Vida" (4ª Ed, ICK 1982), lê-se também:
Ó vida, ó amado,
"Quando ele fala, o espírito de Cristo desce, como uma grande inspiração coletiva,
para as mentes e os corações de todos. Ela se aproxima mais e mais numa grande
nuvem anular de luz dourada. Adeja sobre nossas cabeças, desce ainda mais,
delicada e lentamente, como tépida chuva de verão, até que todos ficam envoltos
numa paz, beleza e amor que a ninguém exclui.
Noite após noite, quando ele cessa de falar, ocorre um milagre. Duas mil e setecentas
pessoas permanecem na mais absoluta quietude. Naquele silêncio, o esplendor dos
esplendores revela-se aos nossos olhos. A figura do Senhor aparece acima da cabeça
de Krishnaji. Mais profundo é o silêncio. Estamos todos envolvidos pelo seu amplexo,
cheio de ternura e compaixão. Ainda mais próximo está o Senhor."
Outros sinais de Excelsa presença Divina em K.
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 20:56
"(...) de repente, essa incognoscível imensidade estava aí, não só na habitação e fora
dela, senão também no profundo, em lugares mais recônditos (...) essa imensidade
não deixava pegada, estava aí pura, impenetrável e inacessível, e sua intensidade era
fogo que não deixava cinza. Com ela a bem-aventurança (...)." (pág. 128)
"Que é esta coisa? - perguntei - Este poder? Que é o que há por trás de você? Eu sei
que você sempre se tem sentido protegido, porém que ou quem o protege?" (pág.
201)
"Está aí, como se estivesse detrás de uma cortina - replicou (...)." (pág. 201)
"K. - Não temos descoberto por que esta criança foi mantida vazia desde então até
agora. (...) Porém, como se produziu esse vazio com sua ausência de eu? Resultaria
simples se disséssemos que o Senhor Maitreya preparou este corpo e o manteve
vazio. Essa seria a explicação mais simples, porém o mais simples é suspeitoso."
(pág. 245)
Outra explicação seria que o ego de K. poderia ter estado em contato com o Senhor
Maitreya e o Buddha e disse: "Eu me retiro(...). Porém também disso suspeito; (...)"
(pág. 245)
"O Senhor Maitreya viu este corpo com um mínimo de ego, quis manifestar-se através
dele, e então o corpo se manteve incontaminado. Amma dizia que o rosto de K. era
importante porque representava aquilo. Foi preparado para aquilo. (...) Qual é então, a
verdade? Não sei (...)." (pág. 245)
"Outra coisa peculiar em tudo isto é que K. sempre se tem sentido atraído para o
Buddha. É esta uma influência? Não o creio. É esta fonte o Buddha, o Senhor
Maitreya? Qual é a verdade? É algo que jamais descobriremos?" (pág. 245)
"Mary Zimbalist: Alguma vez se sente utilizado, sente que algo penetra em você?
K.: Eu não diria isso. Penetra na habitação quando falamos seriamente." (pág. 245)
(parece que habitação representa o corpo de K. e também o ambiente).
A presença da divindade, acima referida, é descrita por Krishnamurti no livro que ele
próprio escreveu, resultado do registro diário de ocorrências, o qual foi por isso
intitulado "Diário de Krishnamurti". Nessa obra, relata ele eventos que costumavam
verificar-se em sua vida; talvez para dar uma idéia, se limitou ao período de junho de
1961 a janeiro de 1962. Faz aí também alusões ao "processo" de mudanças físicas,
com padecimentos, a que sempre esteve sujeito, acontecidos no período, entremeado
tudo isso com variados e expressivos ensinamentos.
No Prefácio, diz Mary Lutyens: "Uma palavra se torna necessária para explicar um dos
termos nele empregados: "o processo". Em 1922, aos 28 anos de idade, Krishnamurti
passou por uma experiência espiritual que mudou a sua vida, e a que se seguiram
anos de aguda e quase contínua dor de cabeça e na espinha. Revela o manuscrito
que "o processo" (...) ainda prosseguira quase 40 anos depois, embora de forma bem
atenuada."
Segue: "O "processo" era um fenômeno físico, que não se deve confundir com o
estado de consciência a que Krishnamurti alude de várias maneiras nos cadernos,
como "bênção", a "outra coisa", "outra presença", "a imensidão", "aquela coisa
singular", "o incognoscível", etc. (...)" E ainda: "Neste singular "diário", temos o que se
poderia denominar o manancial do ensino de Krishnamurti. Toda a sua essência aqui
está brotando de sua fonte nativa. Assim como consta destas páginas, que "cada vez
existe nesta bênção algo de novo", uma qualidade "nova", um "novo" perfume, (...)."
(pág. 5 e 6)
Ao acordarmos, às duas horas, (...) sentíamos uma estranha pressão; era uma dor
mais aguda, mais no centro da cabeça. Durou cerca de uma hora (...). E a cada vez o
êxtase aumentava; era uma alegria constante. (...) (idem, pág. 10)
O processo prolongou-se por quase toda a noite; foi bastante intenso. É espantosa a
resistência do corpo! (...) (idem, pág. 23)
A singular presença inundava o quarto esta manhã. Cada recanto do nosso ser foi
invadido por aquela força poderosa que a tudo purificava com sua ação sagrada.
(idem, pág. 23)
O aposento foi tomado por aquela bênção. Impossível descrever o que se seguiu; as
palavras são coisas mortas (...); mas, este acontecimento transcendia qualquer
palavra ou descrição. Era o centro de toda a criação; uma seriedade purificadora que
esvaziava o cérebro de todo pensamento e sentimento, e que tinha a força de um raio
destruidor; de incalculável profundidade, mantinha-se imóvel, impenetrável, de uma
solidez tão delicada quanto os céus. (...) (idem, pág. 26)
Caminhávamos, (...). Ali, enquanto andávamos, surgiu aquela bênção sagrada, algo
que quase podíamos tocar, e, interiormente, passávamos por transformações. (...) O
imensurável sobreveio, proporcionando um clima de paz. (idem, pág. 31)
Mas, a cada momento, havia destruição; não a destruição que visa a uma nova
mudança - a mudança nunca é nova - porém a destruição total do que foi para que
jamais volte a ser. Não havia violência nessa destruição, (...). Eis a destruição
criadora. (idem, pág. 33)
Ao acordarmos cedo, ocorreu-nos uma fulminante percepção, uma visão que parecia
não ter fim. Não tinha origem nem direção, mas abrangia todas as visões e todas as
coisas. Ultrapassava os rios, as colinas, as montanhas, a terra, o horizonte e as
criaturas. Nessa "visão" havia penetrante luz e incrível velocidade. O cérebro não
podia acompanhar o que acontecia, nem tampouco a mente era capaz de abarcá-la.
Era pura luz dotada de irresistível celeridade. (idem, pág. 36)
Durante a palestra, lá estava aquela energia, intocável e pura; à tarde, no quarto, veio
com a velocidade do relâmpago e desapareceu. Porém, de certo modo, sua presença
é constante, com estranha inocência e olhar imaculado. (idem, pág. 42)
Cada vez existe algo de "novo" naquela bênção, uma qualidade "nova", perfume; no
entanto, é ela imutável. É o próprio incognoscível. (idem, pág. 43)
Ontem, ao entardecer, a "coisa" singular veio de repente numa sala que dava para
uma rua de tráfego intenso; a pujante beleza daquele estado desconhecido
extravasava os limites do aposento, (...). Grandiosa e impenetrável, sua presença
permaneceu viva a tarde toda e, mesmo à hora de nos deitarmos, se tornou insistente
a bênção da imensa plenitude. (idem, pág. 112)
(...) Diferente a cada aparição, exibindo sempre algo de novo, uma qualidade inédita,
uma nuança sutil, ou um detalhe original antes não observado, aquele estado era
inacessível ao pensamento, à formulação de hábitos, ao processo acumulativo de
memorização e análise. Provinha da ausência do tempo necessário ao ato de
experimentar e da imobilidade do cérebro em que cessava toda forma de pensar.
(idem, pág. 112)
"Em 28 de novembro de 1979, estávamos no Valle de Rishi. Radha Burnier tinha vindo
de Madrasta (...). Uma manhã, antes do desjejum, Krishnamurti perguntou a Radha
Burnier se postularia à presidência da Sociedade Teosófica. Ela respondeu que não
sabia. Ele disse: Que quer dizer com que não sabe? (pág. 425)
Subitamente a atmosfera se encheu de uma energia nova (...). Quando disse que esta
era uma nova mística, ele não o negou. Depois falou novamente da Sociedade
Teosófica e de Radha Burnier convertida em Presidente.
Ele respondeu: Eu posso dizê-lo, outros não." E repetiu "Eu posso dizer qualquer
coisa". (...)" (pág. 246)
No final do livro "Krishnamurti: Os Anos do Despertar", diz Mary Lutyens: "É claro que
os ensinamentos de Krishnamurti mudaram de maneira considerável em todos esses
anos e continuam a mudar, à medida que ele procura novas palavras para exprimir
uma verdade tão evidente para ele quanto a própria mão, mas tão difícil de explicar
aos outros. (...)" (pág. 287)
Torna-se oportuno esclarecer que, como se verá, a mudança não ocorreu nas idéias,
mas apenas na forma de apresentá-las. A psicologia, a psicanálise, as ciências sociais
e outros ramos da cultura evoluíram geometricamente depois que ele começou a falar
em 1920. No sentido de transcender, renovar, teve ele, deduz-se, de continuamente
adequar seu vocabulário, visando também a superar o tradicional, a terminologia
cristalizada.
Conceitos, Preliminares I
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:02
Sabem o que é a vida? (…). Vou então explicar-lhes. Já viram os aldeões, vestidos de
farrapos, sujos, perpetuamente esfomeados, trabalhando sem parar? Esta é uma parte
da vida. Adiante notarão um homem de carro, a mulher coberta de jóias, perfumada,
com vários empregados. Este é outro aspecto da existência. Ali se acha aquele que
voluntariamente abriu mão das riquezas, que vive com simplicidade, anonimamente,
como um desconhecido, que não se considera um santo. Também aqui temos outra
parte da vida (…). (Ensinar e Aprender, pág. 37)
Depara-se alhures com o homem que deseja tornar-se eremita, e existe ainda o que
se torna devoto, o qual não deseja pensar, mas apenas seguir cegamente alguma
coisa. Existe, igualmente, aquele que pensa cuidadosamente, com lógica e sanidade,
e que, ao descobrir que seus pensamentos são limitados, procura transcendê-los. Ele
também compõe a vida. E a morte, a perda de tudo, do mesmo modo faz parte da
vida. A crença em deuses e deusas, em salvadores, no paraíso, no inferno, são outros
fragmentos da existência. E o amor, o ódio, o ciúme, a cobiça, tudo isso configura a
vida (…). (Idem, pág. 37)
O que desejo discutir (…) é o problema da mente que se aplica a este vasto e
complexo problema da existência. A existência não se restringe à obtenção ou
conservação de um emprego, mas encerra toda a esfera da existência psicológica,
quase desconhecida para a maioria de nós (…). O problema da existência é este vasto
complexo de guerras, classes, castas, divisão - a perpétua batalha do homem contra o
homem, em competição (…). (O Problema da Revolução Total, pág. 38)
(…) Pusemos este mundo em desordem, (…) porque não sabemos o que é viver.
Viver não é essa coisa insípida, medíocre, disciplinada, que chamamos “nossa
existência” (…). O viver é transbordante de riqueza, é eterna transformação e,
enquanto não compreendermos esse movimento eterno, nossa vida será, de certo,
muito pouco significativa. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 97)
A vida é, e tem de ser, uma série de desafios e “respostas”. O desafio não acompanha
nossos gostos e aversões, nem nossos desejos especiais, assumindo formas
diferentes (…). E, se temos a capacidade de responder ao desafio de maneira
adequada, completa, direta, desaparece, então, o problema. (O que te fará Feliz?,
pág. 99)
Mas, (…) o desafio da vida não é feito em nenhum nível determinado da existência. A
vida não está num único nível, quer o econômico, quer o espiritual. A vida, (…) é um
estado de relação, em níveis diferentes; ela está sempre fluindo, (…) a expressar-se
de maneiras diferentes; e feliz é o homem que tem a capacidade de enfrentar a vida
de maneira completa, em níveis diferentes e em todas as ocasiões. (Idem, pág. 99-
100)
Podemos ver (…) que, num nível, buscamos conforto, bem-estar físico: queremos uma
situação folgada, ter dinheiro, amor, posses, viajar e ter a possibilidade de fazer certas
coisas. (…) Noutro nível, um pouquinho mais profundo, queremos felicidade,
liberdade, (…) ter a capacidade de fazer coisas espetaculares, grandiosas,
magnificentes. (…) (Poder e Realizações, pág. 36)
Assim, pois, nunca nos acalmamos um pouco para fazer um exame de nós mesmos e
procurar discernir o que estamos buscando. (…) Pois, em geral, somos medíocres.
Não há nada vital, nada novo, nada criador, em nós. Tudo o que criamos é tão vazio,
tão vulgar e sem significação! Não cumpre, portanto, averiguarmos o que é que
queremos? (Idem, pág. 36)
Pergunta: Vivemos, mas não sabemos por quê. Para muitos de nós, a vida parece não
ter significação. Podeis dizer-nos qual é o significado e a finalidade do nosso viver?
Krishnamurti: (…) Que entendemos por “vida”? O viver não é, em si, a sua própria
finalidade, a sua própria significação? (…) Por que estamos tão insatisfeitos com a
nossa vida, por que ela é tão vazia, tão frívola, tão monótona?. (…) Desejamos algo
mais, algo superior àquilo que costumamos fazer. (…) (A Arte da Libertação, pág. 193-
194)
Positivamente, senhor, o homem que está vivendo com plenitude, (…) que vê as
coisas como são, está satisfeito com o que tem, não está confuso; está lúcido e, por
conseguinte, não pergunta qual é a finalidade da vida. Para ele, o próprio viver é o
começo e o fim. Nossa dificuldade, pois, é que, sendo nossa vida vazia como é,
queremos encontrar uma finalidade para a vida, e lutamos por alcançá-la. (Idem, pág.
194)
Tal finalidade da vida não passa de produto intelectual, inteiramente irreal; quando a
finalidade da vida é solicitada por uma mente estúpida e embotada, essa finalidade há
de ser também vazia. O nosso problema, por conseguinte, consiste em como
tornarmos rica a nossa vida, não de dinheiro, etc., mas interiormente rica (…). A
realidade só pode ser compreendida no viver, e não no fugir. (…) A vida é relação, (…)
é ação em relação; (…). (A Arte da Libertação, pág. 194-195)
Vamos então discorrer sobre a finalidade da vida (…). Em primeiro lugar, quando
discutimos um assunto dessa natureza, devemos por certo fazê-lo com muito
empenho, e não com uma mentalidade acadêmica, erudita ou superficial, porque isso
não nos leva a parte alguma. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 48-49)
(…) A vida, por certo, implica ação diária, pensamento diário, sentimento diário (…).
Implica as lutas, as dores, as ânsias, os enganos, as tribulações, a rotina do escritório,
dos negócios (…). Por “vida” entendemos não uma só esfera ou camada da
consciência, mas o processo total da existência, que é a nossa relação com as coisas,
com as pessoas, com as idéias. É isso o que entendemos por vida - e não uma coisa
abstrata. (Idem, pág. 49)
(…) Para descobrir a finalidade da vida, a mente precisa estar livre de medida; (…).
Que é mais importante: descobrir a finalidade da vida ou libertar a mente de seu
próprio condicionamento, para depois investigar? Talvez, quando a mente estiver livre
de condicionamento, essa liberdade, em si, seja a finalidade. (…) (Idem, pág. 51)
O requisito primordial, portanto, é a liberdade, e não a busca da finalidade da vida.
Sem liberdade, é bem óbvio que não podemos encontrá-la; sem ficarmos livres de
nossas pequeninas necessidades, nossos desígnios, ambições, de nossa inveja e
malevolência, (…) como é possível investigar ou descobrir a finalidade da vida? (Idem,
pág. 52)
(…) Afinal, senhores, para descobrir a verdade, ou Deus, (…) preciso primeiro
compreender a minha existência, (…) a vida em torno de mim e em mim, pois, de
outro modo, a busca da realidade se transforma em mera fuga da ação de cada dia; e,
como a maioria de nós não compreende a ação de cada dia, visto que para a maioria
de nós a vida é servidão, dor, sofrimento, angústia, dizemos: “Pelo amor de Deus,
dizei-nos como fugir disto”. É o que queremos, os mais de nós: um narcótico, para não
sentirmos as dores e as penas da vida. (…) (Idem, pág. 53)
(…) Entretanto, é unicamente através da dúvida, (…) da crítica, que podeis preencher-
vos; e a finalidade da vida é o preenchimento, não o acúmulo, não a consecução (…).
A vida é um processo de busca, (…) não para um fim particular, mas para libertar a
energia criadora, a inteligência criadora no homem; é um processo de movimento
eterno, desimpedido de crenças, grupos de idéias, dogmas, (…) conhecimento.
(Palestras em Adiar, Índia, 1933-1934, pág. 8-9)
Como a nuvem perseguida pelos ventos através do vale, é o homem (…). O homem
não tem alvo, está cego para a finalidade da vida; e nele - e portanto no mundo -
domina o caos e a desintegração. (A Finalidade da Vida, pág. 3)
(…) Nele reside o começo e o fim, a origem e a meta. Em criar uma ponte entre o
começo e o fim consiste o preenchimento do homem. (…) Enquanto não vos
compreenderdes a vós mesmos, (…) não penetrardes em vossa própria plenitude,
podeis ser dominados, presos à roda da luta contínua. (…) (Idem, pág. 4)
O homem a quem essa visão se manifestou, tem sempre diante de si, ainda que
empenhado nas lutas do mundo, esse alvo eterno. Embora ele peregrine por entre as
coisas transitórias, ainda que se perca nas sombras, sua vida será sempre guiada por
esse alvo, que é a libertação de todos os desejos, (…) experiências, (…) tristezas,
dores e lutas. (…) (Idem, pág. 4)
E esse túnel, que é o único caminho que conduz ao preenchimento da vida, está
dentro de vós mesmos. Nesse túnel não há regressar, porque lançais para trás o que
removeis de vossa frente. Não podeis ir senão para diante, (…) pois, do contrário,
cessará o progresso como tal. (…) (Idem, pág. 8)
(…) Em criar uma ponte entre o começo e o fim consiste o preenchimento do homem.
(…) Na civilização atual, entretanto, a coletividade está se esforçando para dominar o
indivíduo, sem respeitar o seu desenvolvimento, mas é o indivíduo que importa. (…)
Então ele já não será dominado pela moralidade, pela estreiteza, pelas convenções e
experiências de sociedades e grupos. (Idem, pág. 4)
Fui procurar por mim mesmo o propósito da vida, e encontrei-o sem a autoridade de
outrem. Penetrei nesse oceano de libertação e felicidade, onde não há limitação nem
negação, porque ele é o preenchimento da vida. (Vida em Liberdade, IV, em Carta de
Notícias de 1945, nº 1 a 6, pág. 23)
Educação; Conceito, Pouco Criadora, Não
Espiritual
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:09
Se a vida tem um significado mais alto e mais amplo, que valor tem nossa educação
se nunca descobrirmos esse significado? Podemos ser superiormente cultos; se nos
falta, porém, a profunda integração do pensamento e do sentimento, nossas vidas são
incompletas, contraditórias (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 10)
O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de
exames e diplomas critério de inteligência, e desenvolvemos mentes muito sagazes,
que evitam os problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o
essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros: eis em que
consiste a educação. (Idem, pág. 13-14)
A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes, para que não nos
apeguemos a fórmulas ou à repetição de slogans; deve ajudar-nos a derrubar as
barreiras nacionais e sociais, em lugar de as reforçar, porquanto essas barreiras
geram antagonismo entre homem e homem. Infelizmente, o nosso atual sistema de
educação nos torna servis, mecânicos e fundamentalmente incapazes de pensar;
embora desperte nosso intelecto, deixa-nos interiormente incompletos (…). (Idem,
pág. 14)
O progresso técnico resolve certos problemas para certas pessoas, num dado nível,
mas ao mesmo tempo gera problemas mais vastos e profundos. Viver num só nível,
desprezando o processo total da vida, é atrair desgraças e destruição. A maior
necessidade e o problema mais urgente de todo indivíduo é adquirir uma
compreensão integral da vida, que o habilite a enfrentar suas sempre crescentes
complexidades. (Idem, pág. 19)
Está claro, pois, que do simples cultivo do intelecto, isto é, do desenvolvimento das
capacidades e conhecimentos, não resulta inteligência. Há distinção entre intelecto e
inteligência. Intelecto é o pensamento funcionando independente da emoção
(sentimento), e inteligência é a capacidade de sentir e raciocinar; (…). (Idem, pág. 77)
Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o
amor, (…) embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos
tornando cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. (…) A erudição
é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas, se a mente e o coração estão
sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma
explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. (…) Nossa educação nos está
tornando cada vez mais superficiais; não nos ajuda a compreender as camadas
profundas do nosso ser, e nossas vidas se estão tornando cada vez mais
desarmônicas e vazias. (Idem, pág. 78-79)
Agora você pensa (…) o que você é? Vamos examinar juntos sem paixão. Você é o
nome, a forma, o corpo. Você é o que pensa, o resultado da educação, se a teve. E a
educação é tão desvirtuada que só lhe dá condição de se tornar engenheiro,
escrevente, isto ou aquilo. Você não é educado para entender a beleza, a totalidade
da vida. É dada a você grande quantidade de conhecimento, de forma que possa agir
com ou sem destreza no mundo.
Nossa mente está ocupada, na maior parte do dia, com o meio de ganharmos o nosso
sustento, o modo de nos ajustarmos ao padrão de nossa sociedade. Nossa educação
limita-se ao cultivo de capacidades e à “memorização” de uma série de fatos (…) de
acordo com as necessidades de certa sociedade, uma sociedade que se está
preparando para a guerra. (Idem, pág. 71-72)
(…) E surge, assim, em nossa vida, uma contradição entre esse nível mental,
supostamente educado, e aquela atividade mental profunda, inconsciente, contradição
de que bem poucos se dão conta. E, se dela nos damos conta, passamos
simplesmente a buscar alguma espécie de satisfação (…). (Idem, pág. 72)
(…) E, assim, cada um é educado para certa profissão, mas a totalidade do seu ser
fica por descobrir, não revelada, e, por conseqüência, vê-se o homem num perene
conflito interior. (…) (Idem, pág. 72)
Quase todos fazemos, na vida diária, alguma coisa em franca contradição com o que
sentimos ser a verdadeira coisa que desejamos fazer. Temos responsabilidades e
deveres que nos escravizam e dos quais gostaríamos de livrar-nos, e a fuga que
empreendemos assume aspecto de especulação, de teorias (…). Há inumeráveis
formas de fuga, inclusive o beber, mas nenhuma delas resolve o nosso conflito interior.
(…) (Idem, pág. 72-73)
A educação, por conseguinte, deve ter a finalidade de habilitar-nos para resolver todos
esses problemas. (…) Isto é que é educação - e não apenas passar nuns poucos
exames, entregar-se a certos estudos (…). A educação apropriada é aquela que ajuda
o estudante a enfrentar esta vida, a compreendê-la, não se deixando sucumbir, ser
esmagado por ela (…). (Idem, pág. 7)
(…) Vossa educação deve ajudar-vos a compreender essa pressão, para que não
cedais a ela, e possais rompê-la, tornando-vos um indivíduo, um ente humano capaz
de iniciativa própria e não apenas um seguidor do pensar tradicional. (…) (Idem, pág.
7)
E se o próprio educador se torna o guia, o exemplo, o herói, não está ele então
instilando o medo no espírito do jovem, do estudante? (…) É provável que, no fundo,
isto vos enfade, porque supondes já terdes passado da idade de receber educação.
Que tem a idade a ver com a educação? A educação é um “processo” que dura toda a
vida, e não só na idade escolar. Nessas condições, se se quer um mundo novo (…), é
necessário criar-se uma inteligência de nova ordem, (…) sem medo. (…) (Idem, pág.
29)
Serão vãs estas perguntas? (…) O verdadeiro professor, perito em sua especialidade,
poderá ter suas aulas gravadas em fitas distribuídas em larga escala, podendo um
colega seu, de menor capacidade, utilizá-las para instruir os alunos. Assim, a
responsabilidade pelo bom ensino pode ser tirada de mãos individuais, embora haja
quase sempre necessidade de um instrutor. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 116)
A educação é o modo de se descobrir a nossa relação com todas essas coisas, (…)
com os entes humanos e com a natureza. Mas a mente cria idéias (…) tão poderosas
(…) que nos impedem de ver além. Enquanto existe temor, existe tradição (…)
imitação. Uma mente que só imita, é mecânica (…). Poderá produzir certas ações, (…)
resultados; mas nunca é criadora. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 18)
Enquanto sois jovem (…) sede descontentes, investigai, interrogai os vossos mestres -
se eles são estúpidos, fá-los-eis inteligentes, interrogando-os - de maneira que, ao
deixardes esta escola, (…) estejais progredindo em madureza, em inteligência; e
continueis aprendendo, toda a vida, até morrerdes, como ente humano inteligente.
(Idem, pág. 19)
Vejo, pois, e espero que estejais vendo, que a autoridade destrói a inteligência. A
inteligência (…) só pode surgir quando há liberdade - liberdade de pensar, de sentir,
de observar, de interrogar. Mas, se vos constranjo, faço-vos tão estúpidos como eu.
Em geral, é isso o que acontece nas escolas; o mestre pensa que sabe tudo e que vós
nada sabeis. Que sabe o mestre? Só matemática e geografia. Não (…) investigou as
coisas mais importantes da vida, mas troveja (…) como um primeiro sargento. (Idem,
pág. 27)
Assim, pois, o que mais importância tem, numa escola como esta, é que, em vez de
vos disciplinarem para fazerdes o que vos mandam, vos ajudem a compreender, a ser
inteligentes e livres, para poderdes enfrentar todos os problemas da vida. Isso requer
um mestre competente, (…) que sinta verdadeiro interesse por vós (…). E é dever dos
estudantes, tanto quanto dos mestres, criar tal estado de coisas. Não obedeçais;
descobri por vós mesmos a maneira de refletir sobre um problema. (…) (Idem, pág.
27)
O que em geral acontece é que, quando começais a interrogá-lo, ele quer disciplinar-
vos; ele não tem paciência, tem suas ocupações, falta-lhe amor para (…) conversar
convosco sobre os enormes problemas da existência (…). Incumbe aos mestres, aos
pais e a vós, o dever de cooperar para a formação dessa inteligência. (Idem, pág. 27-
28)
A questão, sem dúvida, é esta: (…) Vemos que, no mundo inteiro, a educação falhou,
uma vez que se está produzindo, cada vez mais, destruição (…). A educação até
agora tem servido para alimentar o industrialismo e a guerra; (…). (Nosso Único
Problema, pág. 22)
(…) É bem evidente, sem dúvida, que o próprio educador necessita de educação - e o
educador sois vós; porque o ambiente doméstico é tão importante como o ambiente
escolar. Tendes, pois, em primeiro lugar, de vos transformar a vós mesmos, a fim de
proporcionardes ao vosso filho o ambiente adequado; porque o ambiente fará dele ou
um bruto, um técnico insensível, ou um homem inteligente e cheio de sensibilidade.
(…) (A Arte da Libertação, pág. 228)
Ora, (…) qual a verdadeira função do instrutor? (…) O que pode fazer é dizer: olhai
nesta direção, e provavelmente vereis (…). O instrutor não pode forçar-vos, não pode
intimidar-vos; só pode dizer-vos: Olhai, amigo! Olhai na direção que estou indicando
(…). (Idem, pág. 98)
(…) A educação não vai só até à idade de vinte e um anos, mas dura até a morte. A
vida é como um rio; nunca é estática, está sempre em movimento, cheia de atividade e
de riquezas. (…) (Debates sobre Educação, pág. 9)
É muito importante ter bom gosto, desde a infância, ter ensejo para apreciar a beleza,
a boa música, a boa literatura, para que a mente se torne muito sensível, e não
grosseira e pesada. (…) Asseguro-vos que a apreciação e o amor da beleza, é
sumamente importante e sem ele nunca se poderá achar a “coisa real”. Passamos,
porém, pela escola e pela vida, debaixo de coerção e disciplinas; e a isso chamamos
educação, (…) viver. (Idem, pág. 146)
A mente que interpreta, que traduz, que tem uma tradição ou conhecimentos
acumulados - essa mente é incapaz de aprender, por que está funcionando num
estreito canal. Não é uma mente capaz de atuar, de aprender, cheia de energia e de
vitalidade. (…) Porque só a mente que está aprendendo é nova; a mente nova pode
ver as coisas de maneira nova, com clareza, rejeitar o que é falso e perseguir o
verdadeiro. (Idem, pág. 10)
(…) A mente que está aprendendo é uma mente “inocente” , ao passo que a mente
que está apenas adquirindo conhecimentos é velha, estagnada, corrompida pelo
passado. A mente “inocente” percebe instantaneamente, aprende a todas as horas,
sem acumular, e só essa mente é amadurecida. (Idem, pág. 167)
Julgo haver um aprender de espécie diferente, (…) que é investigação de nós mesmos
e em que não há mestre nem discípulo, seguidor nem guru. Ao começarmos a
investigar o funcionamento da própria mente, ao observarmos o próprio pensar,
nossas atividades e sentimentos de cada dia, não podemos então ser ensinados,
porque não há ninguém para nos ensinar. A investigação não pode então basear-se
em autoridade alguma (…). (Idem, pág. 153)
Não há aprender quando a mente espera ser ensinada e trata tão só de acumular
conhecimento na forma de memória. No processo de ser ensinado, (…) há instrutor e
discípulo, o que sabe e o que não sabe; (…). Recomendável seria tratarmos de
compreender (…) a falsidade dessa distinção (…); para aprender, necessitamos de
muita humildade. Quem diz “eu sei”, realmente não sabe. O que sabe é coisa
passada, morta. (…) (O Homem Livre, pág. 121)
Nós estamos aprendendo; por conseguinte, não pode haver julgamento e não pode
haver avaliação. Quando se está aprendendo, a mente está sempre atenta e nunca
acumulando; (…) não há acumulação em que nos basearmos para julgar, avaliar,
condenar e comparar. (…) Porque a mente que está aprendendo está sempre nova; é
sempre uma mente indagadora, (…) nunca disposta a aceitar a autoridade e avaliar
segundo essa autoridade. É uma mente jovem; e é inocente, nova, porque está
sempre aprendendo. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 32)
Assim, “aprender” tem dois significados: aprender para adquirir conhecimentos, a fim
de que eu possa funcionar com o máximo de eficiência em certos campos; ou
aprender acerca de mim mesmo, de modo que o passado - o pensamento - não possa
em nenhum momento interferir. Dessa maneira, posso observar, e minha mente é
sempre sensível. (Fora da Violência, pág. 53-54)
Não apenas a mente, mas também o corpo, têm de estar altamente sensíveis. Não se
pode ter um corpo embotado, indolente, pesadamente alimentado de carne e de vinho
e tentar meditar - não faz sentido. Portanto, (…) veremos que a mente tem de estar
altamente desperta, sensível e inteligente, inteligência esta que não nasce do
conhecimento. (O Mundo Somos Nós, pág. 33)
(…) Expressemo-lo de outro modo: aprende-se algo de memória, de modo que isso se
armazena como conhecimento no cérebro (…); quando se vai à faculdade ou à
universidade, acumula-se uma grande quantidade de informação em forma de
conhecimentos e, de acordo com esses conhecimentos, atua-se (…). A outra forma de
aprender - à qual estamos muito pouco acostumados, por sermos tão escravos dos
hábitos, da tradição e de toda classe de conformidade - é observar sem a companhia
do conhecimento prévio, olhar algo como se fora novo e o olhássemos pela primeira
vez. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 203)
Registrar e, ainda assim, não registrar, de modo que não haja desenvolvimento do
“eu”, da estrutura egocêntrica. A estrutura do “eu” aparece somente quando há um
registro de tudo aquilo que não é necessário; ou seja, o conceder importância ao
nome, à própria experiência, (…)opiniões e conclusões; tudo isso significa a
intensificação da energia do “eu”, o que é sempre um fator de distorção. (Idem, pág.
215)
A arte de aprender dá esta clareza extraordinária, e uma grande destreza na ação;
porém, sem essa claridade, a destreza gera o sentimento da própria importância, quer
esse sentimento se identifique consigo mesmo, quer com um grupo ou nação. O
sentimento da própria importância nega a clareza. Sem claridade não pode haver
compaixão, e porque não há compaixão, a destreza se tornou tão importante. Se não
há um despertar da inteligência (…) Essa inteligência tem sua própria ação; essa ação
não é mecânica e, portanto, é ação sem causa. (Idem, pág. 215)
Alguns dos alunos desta escola já estão envelhecidos, pois sua única preocupação é
obter conhecimento e não aprender. O aprender encontra-se fora do tempo. (…)
Impende compreender a psique da pessoa em que se deu a mutação. Esta ocorreu
quando ela negou o tempo. Vocês superaram o passado. Já não são hindus, nem
cristãos. Assim transformados, (…) como agirão nesse novo estado? (…) Descubram-
no vocês próprios. (Ensinar e Aprender, pág. 81)
O que agora estamos fazendo é “aprender agindo”, porque vós não estais sendo
ensinados. Aqui não há instrutor nem discípulo. Não há guru de espécie alguma.
Porque cada um tem de alumiar seu caminho com sua própria luz e não com a luz de
outrem. Se caminhardes com a luz de outrem, ela vos levará à escuridão. (Idem, pág.
106)
Só aprendemos quando a mente está de todo quieta; (…) Se, por exemplo, estais
escutando o que se está dizendo com idéias, opiniões, com conhecimentos
anteriormente adquiridos, ou se estais comparando o que ouvis com o que outro disse,
não há aprender. Só podeis aprender, escutando. Escutar é um ato silencioso; só a
mente que está em silêncio, mas ao mesmo tempo em plena atividade, pode aprender.
(A Suprema Realização, pág. 22)
(…) Pois estamos sempre satisfeitos com o conhecido; mas, se arranharmos a crosta
do conhecido, não encontramos nada, depara-se-nos o vazio, o vácuo. E, por certo, é
muito importante que saiba a mente viver de modo integral dentro desse vazio, desse
silêncio (…). Eis por que devemos compreender o que significa “aprender”. Além de
certo limite, nada mais podemos aprender, pois nada há que aprender, não há
instrutor que possa ensinar-nos. E a esse ponto temos de chegar (…). (Visão da
Realidade, pág. 204)
Só quando a mente se acha nesse estado de vazio em que não há conhecimento, (…)
não há mais o experimentador aprendendo, acumulando - só então existe aquele
esforço criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem causar
mais sofrimentos. (Idem, pág. 204)
(…) O que se entende por disciplina? Conheceis o significado comum dessa palavra:
controlar, subjugar, forçar o pensamento, pelo exercício, pelo exercício da vontade, a
ajustar-se a um padrão mais nobre. A disciplina supõe resistência, moldagem da
mente, manter o pensamento numa certa direção, etc. (…). Na disciplina há divisão,
ou seja, “aquele que disciplina” e “aquilo que é disciplinado” - e por isso existe conflito
perene. (…) (O Homem Livre, pág. 97)
A palavra “disciplina” significa aprender de um homem que sabe; supõe-se que vós
não sabeis e tendes de aprender dele. (…) Mas, aqui, não a vamos empregar com o
sentido de aprender de outro, mas, sim, com o significado de observar a si próprio. A
observação de si próprio exige uma disciplina em que não haja repressão, imitação,
obediência, (…) ajustamento; (…). O próprio ato de aprender é, em si, disciplina, já
que requer muita atenção, grande energia e “intensidade”, e instantaneidade da ação.
(Fora da Violência, pág. 21)
Pergunta: É evidente que deve haver alguma espécie de disciplina nas escolas, mas
como exercê-la?
Krishnamurti: É fato, senhor, que fizeram experiências na Inglaterra e noutros países,
nas quais as escolas não tinham disciplina de espécie alguma; permitia-se às crianças
fazerem o que bem entendessem (…). Essas escolas não ignoram, naturalmente, que
as crianças necessitam de alguma espécie de disciplina, no sentido de orientação; não
com rigorosos deveres e proibições, mas disciplina consistente de alguma espécie de
advertência, sugestão ou alusão (…). (A Arte da Libertação, pág. 86-87)
A palavra disciplina, na sua raiz, significa aprender. E para aprender acerca de alguma
coisa (…) é preciso disciplina; (…). O próprio ato de aprender é disciplina, o que liberta
de toda repressão, de toda imitação. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 49-50)
Como sabem, liberdade é algo que a maior parte de nós não quer. Desejamos libertar-
nos de determinada coisa, das necessidades ou das pressões imediatas (…).
Liberdade não é licenciosidade, não é fazer o que apetece - a liberdade exige uma
disciplina tremenda, que não é a disciplina do soldado, (…) da repressão e do
conformismo. (O Mundo Somos Nós, pág. 49)
Jovens, Idosos; Distinção Psíquica, Física
Irrelevante
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:17
Se em vós, que sois jovens, existe um espírito de indagação que vos faz desejar a
verdade relativa a qualquer coisa, (…) e se não estais presos pela tradição, sereis
então os regeneradores do mundo, os criadores de uma nova civilização, de uma nova
cultura. Mas, à semelhança de nós outros, (…) da velha geração, os jovens também
desejam segurança, certeza. (…) Por conseguinte, submetem-se e aceitam a
autoridade dos mais velhos. (…) (Idem, p. 81)
Não estou interessado em guiar-vos (…) para adotardes determinado padrão. Mas nós
estamos muito interessados no problema da transformação. (…) Por exemplo, (…)
quando jovens, somos muito insatisfeitos, descontentes; investigamos, tateamos,
enveredamos por diferentes caminhos, buscando o saber, o esclarecimento;
procuramos um guru, um Mestre que possa ajudar-nos a sair do nosso
descontentamento e pôr fim à nossa busca (…). (O Problema da Revolução Total,
pág. 50)
No momento em que encontramos alguém capaz de dar-nos o saber, um método de
ação, (…) de vida, acaba a nossa insatisfação, e ficamos a seguir tal padrão de
pensamento durante anos e anos. É o que acontece com a maioria de nós, não? (…)
no momento em que me junto a um grupo, esperando que isso produzirá a
transformação, acaba-se o descontentamento. (…)(Idem, pág. 51)
(…) Para os jovens, o mundo é cruel demais; para eles, o que as gerações mais
velhas fizeram do mundo é aterrador demais. Não há lugar para eles, (…) estão
perdidos; então viciam-se em drogas e na bebida; todos os tipos de coisas estão
acontecendo com os jovens no mundo: comunidades, orgias sexuais, fugas para a
Índia, para gurus, para encontrar alguém que lhes diga o que fazer - alguém em que
possam confiar. (Perguntas e Respostas, pág. 72)
Eles vão lá, jovens, inocentes, sem saber; e os gurus lhes dão a sensação de que
estão sendo protegidos e guiados - isso é tudo o que eles querem. Eles não
conseguem isso de seus pais, dos padres (…), de seus psicólogos, porque (…) estão
igualmente confusos (…). (Idem, pág. 72)
De igual modo, a geração mais velha está na mesma posição, só que expressam isso
com mais sofisticação. (…) Mas ninguém pode servir de guia, nem pode iluminar
ninguém. Somente você mesmo pode fazer isso; mas você deve ficar completamente
só. Isso é o que amedronta velhos e jovens. (…) Entenda isso de uma forma bem
profunda (…). (Idem, pág.72)
Pergunta: Muitos jovens já me têm dito: “Sentimo-nos frustrados; não sabemos o que
fazer na crise atual (…)”
Mas, que é esse vazio? (…) Para o compreenderdes, é preciso que abandoneis as
tentativas de o preencher. Tentar enchê-lo equivale a querer encher um balde furado.
O líquido estará sempre a vazar (…). (Idem, pág. 21)
É no próprio problema que está contida a solução, e não fora dele. Assim sendo, se
compreendêssemos a frustração e todas as suas conseqüências, todas essas
questões poderiam ser resolvidas de modo relativamente simples. (Idem, pág. 21)
Por que envelhece a psique? Ela tem mesmo de envelhecer? Penso que não. Será a
idade adiantada apenas um hábito? Já repararam em como os velhos comem, como
falam? Será possível manter a psique extraordinariamente jovem, viva, ilesa? Poderá
ela conservar essa vitalidade, sem jamais perdê-la em decorrência do hábito, da idéia
de segurança, de exigências da família e de responsabilidades? Por certo, isso é
possível, o que impõe a destruição de quanto construíram. (Idem, pág. 34)
Quais são os fatores da deterioração? (…) Só a mente pura pode aprender, não
aquela carregada de conhecimentos e, portanto, já velha. Assim, como pode a mente
tornar-se nova, fresca, purificada? Compreendeis (…)? (Idem, pág. 162)
Não importa se o organismo físico é novo ou velho, a mente se acha velha quando
está fixada, moldada, funcionando numa rotina, num círculo de medo; e como pode ela
tornar-se viçosa (…)? (O Homem Livre, pág. 162)
(…) Ora, só se morrer para o passado, para tudo o que conhece. (…) Seria possível
morrer para “minha casa”, (…) “meu deus”, “minha necessidade”, “minha crença”,
“minha tradição”, para todas as impressões, compulsões, influências que me
formaram, e ao mesmo tempo estar cônscio de minha família, da beleza de uma
árvore, (…) de uma flor, (…) do céu? (Idem, pág. 162)
Pergunta: Dizeis que as pessoas de idade estão sempre inquietas (…). Nunca vistes
pessoas mais novas fazerem a mesma coisa? (…)
Krishnamurti: Ora, sabe-se que os jovens são grandes imitadores (…). São o mesmo
que macacos, para imitar. Vêem alguém fazer uma coisa, e imediatamente a fazem
também. Já não notastes como as crianças gostam de vestir-se de modo igual? (…) É
forte nos jovens o processo imitativo; e, por isso, quando observam os mais velhos, se
põe a imitá-los; e, uma vez que tanto os mais velhos como os jovens não estão bem
cônscios do que estão fazendo, o círculo vai-se dilatando cada vez mais. (Debates
sobre Educação, pág. 86)
Os mais velhos põem uma veste sagrada, e os jovens põem também uma veste
sagrada. Uns velhos põem turbantes, e os jovens põem também turbantes. (…) Mas, o
que é importante para vós é que observeis a vós mesmos, que estejais cônscios de
vós mesmos, de vossas ações. (…). Deixareis então de praticá-las. (…) (Idem, pág.
86-87)
Logo, para mim, a divisão entre velhos e moços é um tanto absurda. Senhores, a
maturidade não é questão de idade. Embora, na maioria, sejamos mais velhos, nós
somos infantis, temos medo (…). Os que são velhos buscam a permanência, (…)
garantias confortadoras, e os moços querem também a segurança. (Idem, pág. 82)
Não há, pois, diferença essencial entre velhos e moços. Como disse, a maturidade
não reside na idade: vem com a compreensão (…). A preservação dessa energia para
a investigação, para descobrir a realidade, requer muita educação - educação que não
seja simples conformidade a um padrão (…). (Idem, pág. 82)
Quando vocês dizem que amam alguém, não dependem interiormente dessa pessoa?
Enquanto forem crianças, naturalmente dependerão de seus pais, de sua professora,
de seus guardiães. Eles precisam cuidar de vocês, alimentá-los, vesti-los e abrigá-los.
Vocês precisam ter a sensação de segurança, (…) de que alguém está cuidando de
vocês. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 71)
Mas o que acontece geralmente? À medida que vocês crescem, essa sensação de
dependência continua a existir (…). Não observaram já em pessoas mais velhas, em
seus pais e professores? Notaram como eles ainda dependem emocionalmente de
suas esposas ou maridos, de seus filhos ou de seus próprios pais? (Idem, pág. 72)
Quando cresce, a maioria das pessoas ainda continua apegada a alguém (…) a ser
dependente. Se não tiverem alguém em quem se apoiarem, que lhes dê a sensação
de conforto e segurança, as pessoas se sentem sós (…). Elas se sentem perdidas.
Essa dependência que temos em relação aos outros é chamada de amor; mas se
vocês observarem isso de perto, verão que dependência é medo, e não amor. (Idem,
pág. 72)
A maioria de nós tem medo de ficar só, (…) de pensar por si mesmo, medo de sentir
profundamente, de explorar e descobrir todo o significado da vida. Por isso essas
pessoas dizem que amam a Deus, e elas dependem daquilo a que chamam Deus;
mas não é Deus, não é o desconhecido, é algo criado pela mente. (Idem, pág. 72)
Fazemos o mesmo com um ideal ou uma crença. Creio em alguma coisa, ou entrego-
me a um ideal, e isso me dá grande conforto; mas removam o ideal, (…) a crença, e
eu estarei perdido. Ocorre o mesmo com um guru. (…) É também isso o que ocorre
quando vocês dependem dos pais ou dos professores. É natural, e é certo, que isso
ocorra quando vocês são jovens; mas, se continuarem dependentes depois de
maduros, isso os tornará incapazes de pensar, de ser livres. Onde há dependência, há
medo, e, onde há medo, há autoridade, não amor. (…) (Idem, pág. 72)
Ora, para a maioria de nós, as relações com outrem estão baseadas na dependência
econômica ou psicológica. Essa dependência cria temor, gera (…) possessividade, dá
lugar a atritos, suspeitas, frustrações. (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 52)
Não sei se já notastes que quase todos nós desejamos certa espécie de segurança,
(…) de alguém em quem possamos amparar-nos. Como a criança que se agarra à
mão da mãe, precisamos de alguma coisa a que nos agarrarmos, (…) precisamos de
quem nos ame. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 50-51)
(…) Mas, posso em algum tempo estar em segurança, (…) protegido, por maiores que
sejam as defesas que tenho, exterior e interiormente? Que segurança haverá, se meu
banco falir amanhã, se meu pai ou minha mãe morrer amanhã (…)? E, interiormente,
existe alguma segurança nas minhas idéias? (…) (Idem, pág. 53)
(…) Sempre que dependemos, temos medo; e onde há temor, não há amor. Onde
existe amor, não estais sós. Só existe o sentimento de solidão quando sentimos medo,
quando não sabemos que fazer. (…) e, quando existe temor, estais completamente
cegos. (…) (Idem, pág. 55)
Ao vos observardes interiormente, não descobris dois princípios ativos: o medo e o
prazer? Não vedes que o prazer assume diferentes formas - ora é busca de Deus, ora
desejo de ser pessoa importante (…)? Como dissemos, medo e prazer constituem
nossos principais movimentos (…); e porque, inconscientemente, tendes medo, vos
tornais apegado, dependente de alguma pessoa - vossa mulher, vosso marido ou
vosso guru. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 156)
Como dizia, por que dependemos e fazemos da dependência um problema? (…) Qual
é, pois, esse fator mais profundo? É a mente detestar e temer a idéia de estar só? E
será que a mente conhece esse estado que está evitando? (…) (Idem, pág. 71)
Mas, se sou capaz de perceber o fator que é o meu depender de uma pessoa, de
Deus, da oração, de certa capacidade, (…) fórmula ou conclusão que chamo “crença”
- talvez então eu possa descobrir que tal dependência resulta de uma exigência
interior a que nunca prestei atenção, nem levei em conta. (Idem, pág. 71)
Considero, com efeito, essa questão sumamente importante. Porque, enquanto aquela
solidão não for realmente compreendida, sentida, penetrada, dissolvida (…), enquanto
persistir este sentimento de solidão, será inevitável a dependência, nunca seremos
livres, nunca poderemos descobrir por nós mesmos o que é verdadeiro, o que é
religião. (Idem, pág. 71-72)
Enquanto estou dependendo, tem de haver alguma autoridade, tem de haver imitação,
(…) compulsão, sob diferentes formas, (…) disciplinamento segundo dado padrão.
Pode, pois, a mente descobrir o que é “estar na solidão”, e passar além - de modo que
seja posta em liberdade e não dependa mais das crenças, dos deuses, dos sistemas,
das orações, nem de coisa alguma? (Idem, pág. 72)
Ora, pode a mente tornar-se perfeitamente cônscia do fato de sua solidão, sua
insuficiência, seu vazio? É muito difícil perceber esse fato (…) porque estamos sempre
procurando fugir-lhe; (…) escutando o rádio e entretendo-nos de outras maneiras, (…)
pelo depender de pessoas e de idéias. (Idem, pág. 123)
Para conhecermos nosso próprio vazio, temos de olhá-lo diretamente; mas não
podemos fazê-lo se nossa mente estiver sempre buscando distração (…). E essa
distração assume a forma de apego a uma pessoa, à idéia de Deus, (…) dogma ou
crença, etc. (Idem, pág. 123-124)
Mas, para descobrirmos isso por nós mesmos, temos de compreender o “processo” da
fuga. Na própria compreensão da fuga, a fuga se detém e a mente se torna capaz de
observar-se. Ao observar-se, não deve haver avaliação, nem julgamento. O fato, em
si, se torna então importante (…); a mente, por conseguinte, já não está vazia. (…)
(Idem, pág. 125)
Podemos, pois, encarar, sem nenhuma avaliação, o fato de nosso vazio psicológico,
nessa solidão, causador de tantos outros problemas? (…) Então, aquilo que
temíamos, por ser solidão, vazio, já não é vazio. Já não há, então, dependência
psicológica de coisa alguma; então, o amor já não é apego, porém coisa totalmente
diferente, e as relações têm outra significação. (Idem, pág. 125)
Naturalmente, a grande maioria das pessoas vivem a fugir de si mesmas. Mas, pelo
fugirdes de vós mesmos, vos tornastes dependentes. A dependência se torna mais
forte e as fugas mais essenciais, em proporção com o medo do que é. A esposa, o
livro, o rádio, adquirem extraordinária importância; (…). Porque me sirvo de minha
mulher como meio de fugir de mim mesmo, estou apegado a ela. Tenho de possuí-la
(…); e ela gosta de ser possuída, porque também se está servindo de mim. É uma
necessidade comum de fuga (…). (Comentários sobre o Viver, 1ª ed. pág. 198)
Isso está bastante claro. (…) Mas por que foge uma pessoa? De que foge? De sua
própria solidão, seu próprio vazio, daquilo que é. Se fugirdes do que é, sem o verdes,
é bem evidente que não o compreendereis; portanto, em primeiro lugar, deveis parar,
deixar de fugir, pois, só então, podereis observar a vós mesmos, tal como sois. Mas
não podeis observar o que é, se estais sempre a criticá-lo (…). Vós o chamais solidão
e fugis dele; e a própria fuga ao que é, é medo. Tendes medo dessa solidão, desse
vazio, e a dependência é o manto com que o cobris. (…) (Idem, pág. 198)
Nada podeis fazer a esse respeito. Tudo o que fizerdes será sempre uma atividade de
fuga. (…) Podereis ver, então, que não sois diferentes nem estais separados daquela
vacuidade. Sois aquela insuficiência. O observador é o vazio observado. Depois, se
fordes mais longe, não lhe dareis mais o nome de solidão; cessou a verbalização; e,
se fordes mais além, (…) a coisa conhecida como solidão não existirá mais; ocorrerá o
completo desaparecimento da solidão, do vazio, do pensador, do pensamento. Só isso
põe fim ao temor. (Idem, pág. 198-199)
E, para poderdes observar, (…) deve a vossa mente estar livre de preocupações (…).
Não deve estar ocupada com problemas, com tribulações, com especulações. É só
com a mente muito tranqüila que se pode observar realmente, porque, então, a mente
é sensível à beleza extraordinária. E talvez tenhamos aqui a chave de nosso problema
da liberdade. (Idem, pág. 16)
Pois bem, que significa ser livre? Consiste a liberdade em poderdes fazer o que acaso
vos convém, em irdes aonde vos aprouver, em pensar o que quiserdes? (…) A mera
consciência de se ter independência, significa liberdade? Muita gente neste mundo é
independente, mas pouquíssimos são livres. Liberdade implica grande soma de
inteligência, não? (…) (Idem, pág. 16)
Pode-se ver que exteriormente não somos livres. Em nossos empregos, (…) religiões,
(…) pátrias, (…) relações, (…) idéias, crenças e atividades políticas, não somos livres.
Interiormente, também, não somos livres, porque não conhecemos nossos “motivos”
(…) impulsos, compulsões, exigências inconscientes. Assim, não há liberdade, nem
interior nem exteriormente (…). Mas, em primeiro lugar, cumpre-nos perceber esse
fato, pois em geral recusamo-nos a percebê-lo; sofismamos a respeito dele,
encobrimo-lo com palavras, com idéias, etc. O fato é que, tanto na esfera psicológica,
como na exterior, desejamos segurança. (…) (O Passo Decisivo, pág. 203)
Quando sei que posso ter aquela capacidade, então o problema deixa de existir. (…)
Entretanto, porque não tenho a capacidade, quero ser ensinado. E crio, assim, (…)
uma pessoa que irá libertar-me, salvar-me. E dessa pessoa fico dependente. (Idem,
pág. 63-64)
O simples desejo não resulta em liberdade. (…) Todos desejam ser livres e, por
conseguinte, querem exprimir-se - falar de sua raiva, sua brutalidade, ambição,
espírito de competição, e assim por diante (…). Liberdade não é fazer o que a pessoa
quer, porque o homem não pode viver isolado. Até o monge, o sannyasi, não se sente
livre para fazer o que bem entender; é obrigado a lutar pelo que deseja, a manter luta
íntima, a questionar-se dentro de si mesmo. A liberdade interior requer imensa
inteligência, sensibilidade, capacidade de compreensão. (…) (Ensinar e Aprender,
pág. 27)
(…) Mas a liberdade não existe nem pode existir cercada de limitações. (…) Por
exemplo: dizeis que vossos pais ou mestres sabem o que é certo e o que é errado;
pelo menos pensais que eles sabem. (…) Sabeis (…) o que a religião disse, o que
disse o sacerdote, (…) o que aprendestes na escola, o que diz a tradição. E viveis
dentro desses limites, dessa clausura. (…) Pode ser livre um homem que vive numa
prisão? (Novos Roteiros em Educação, pág. 31-32)
Visto isso, pois, o que devemos fazer é arrasar as muralhas que nos cercam e
descobrir por nós mesmos o que é real, o que é verdadeiro, benéfico. Cumpre-nos
experimentar, investigar, e não apenas seguir alguém; (…). (Idem, pág. 32)
O homem livre, (…) que nada teme, que tem uma mente lúcida, cujo coração é
vigoroso, forte, enérgico - nunca necessita de ajuda. E nós, vós e eu, temos de
manter-nos de pé, completamente sós, sem ajuda de ninguém. (…) (O Despertar da
Sensibilidade, pág. 176)
Quando compreenderdes, quando perceberdes, realmente, que não há, fora de vós,
ninguém que possa ajudar-vos - nem deuses, nem gurus, nem políticos, ninguém - já
não vos achareis no estado de madureza? Estareis então livres do medo de errar, do
medo de não fazer o que é certo. (…) (Idem, pág. 97)
Mas, para mim, a madureza é algo completamente diferente. Acho possível tornarmo-
nos amadurecidos sem passar por todas as pressões e tribulações do tempo. Estar
completamente amadurecido, qualquer que seja a idade do indivíduo, significa ser
capaz de enfrentar e resolver imediatamente qualquer problema que se apresente, em
vez de “transportá-lo” para o dia seguinte. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito,
1ª ed, pág. 168)
Assim, pois, ser “amadurecido” é aprender; não é “adquirir conhecimento”. (…) Mas
achar-se no estado de madureza a que me refiro, significa a pessoa ver a si própria tal
como é realmente, momento a momento, sem acumular conhecimentos a respeito de
si própria; porque essa madureza implica rompimento com o passado, e o passado é,
essencialmente, um empilhamento de conhecimentos. (Idem, pág. 168-169)
Senhor, para descobrirdes se Deus existe, deveis estar livre da idéia de Deus. Para
descobrir, é necessário investigar, perquirir, indagar, interrogar. Isso, por certo, faz
parte da madureza. O fazer perguntas corretas, investigar corretamente, exige
energia. (Idem, pág. 103)
A maturidade não vem com o tempo nem com a idade. Não existe intervalo entre o
presente e o amadurecimento; (…). A maturidade é aquele estado no qual cessou toda
forma de escolha; só os imaturos escolhem e conhecem o conflito nascido da escolha.
Na maturidade não existe direção qualquer, mas, sim, aquela que não vem da
escolha.
Estávamos falando sobre madureza? (…) A madureza tem alguma relação com a
idade da pessoa? Tem alguma relação com a experiência, o saber, a capacidade?
Tem alguma relação com a competição e a acumulação de dinheiro? Se não, que é a
madureza? Está ela em alguma relação com o tempo? (…) (A Mente sem Medo, 1ª
ed., pág. 74)
(…) Assim, só a mente inocente é madura, e não aquela que acumula conhecimentos
milenares. O conhecimento é necessário e tem significado num certo nível; mas o
conhecimento, o saber, não produz claridade, inocência. Só há inocência quando todo
conflito terminou. Quando a mente já não está se movendo em nenhuma direção
determinada, uma vez que todas as direções foram compreendidas; acha-se ela,
então, nesse estado de originalidade, que é a inocência, e, daí, pode atingir a
imensidade onde se encontra o Supremo; só então a mente é madura. (Idem, pág. 75)
Essa “qualidade”, essa madureza - devemos fazê-la depender do tempo, das
circunstâncias, das inclinações ou de uma dada tendência? É ela como um fruto que
amadurece durante o verão e está prestes a cair no outono; que necessita de tempo,
de muitos dias de chuva, de sol (…)? (…) Acho que não há tempo a perder e que
devemos amadurecer de pronto, não biológica ou fisiologicamente, porém
interiormente tornar-nos total e completamente amadurecidos. (Como Viver neste
Mundo, pág. 69)
Desejaria (…) discutir convosco o problema da busca e o que significa ser “sério”. (…)
As pessoas ditas religiosas estão supostamente em busca da verdade, de Deus. (…)
(Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 21)
Uma pessoa pode buscar, mas, se lhe falta “seriedade”, sua busca será dispersa,
esporádica, desconexa. A “seriedade” acompanha sempre a busca, e é bem evidente
que vos achais aqui porque sois “sérios”. (…) (Idem, pág. 21-22)
Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de
poderem descobrir qualquer coisa nova; e se vós sois sérios, esse abandono do
conhecimento, da crença, da experiência tem de efetuar-se realmente. Os mais de nós
somos um tanto “sérios”, quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho
que isso de modo nenhum é seriedade. (…) O homem sério, sem dúvida, é aquele que
é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está
capacitado para investigar. (Idem, pág. 27)
Todo homem deve ser sério, porque só os sérios são capazes de viver uma vida
completa, total. Essa seriedade não exclui a alegria, a jovialidade; mas, enquanto
existir medo, não haverá possibilidade de saber o que significa ter uma grande alegria.
O medo parece ser uma das coisas mais comuns da vida (…). (Fora da Violência, pág.
57)
Estive a considerar o que significa ser sério. Em geral, temos a impressão de que
somos bastante sérios; entretanto, nunca indagamos qual deve ser o estado da mente
que de fato é séria - de fato, e não apenas séria “em relação a alguma coisa”. (…) Tal
é o caso do homem que toma “seriamente” uma bebida ou que “seriamente” se devota
a uma idéia, (…) causa, (…) compromisso, e se esforça por levá-lo a bom termo.
(Encontro com o Eterno, pág. 19)
Por “pessoa séria”, não entendo o indivíduo que está ligado a dado padrão de crença
e que funciona em conformidade com essa crença; em geral, esse indivíduo é tido
como ente maravilhoso e sério; mas eu não o chamo “sério” (…). Também a pessoa
que se devotou a determinado movimento, e dessa linha não se desvia, é considerada
pessoa muito séria; mas eu não a chamo “séria”. (…) (A Suprema Realização, pág.
11)
Assim, pela palavra “sério” entendemos coisa muito diferente. (…) Por “mente séria”
entendo aquela que percebe o que é verdadeiro - não de acordo com um certo padrão
de crença ou certa autoridade (…). (Idem, pág. 11-12)
Pois bem, que é “estar sério, ser sério”? Podemos mostrar-nos sérios a respeito de
coisas muito superficiais. Quando (…) uma jovem quer comprar um sari, poderá
dispensar (…) toda a sua atenção (…). (A Cultura e o Problema Humano, pág. 103)
Assim, pois, pode-se ser sério a respeito de coisas falsas. Mas, se começais
realmente a investigar o que significa ser sério, vereis que há uma qualidade de
seriedade que não se traduz em atividade em torno de coisas falsas, que não é
moldada segundo um padrão. (Idem, pág. 103)
(…) Somos muito sérios em relação a certas coisas que nos proporcionam grande
prazer, satisfação; desejamos a todo custo cultivar esse prazer - seja o prazer do
sexo, seja o do preenchimento de uma ambição - um prazer qualquer. Mas bem
poucos de nós são sérios no tocante ao percebimento do problema da existência, dos
conflitos, das guerras, das ânsias, dos desesperos, da solidão, do sofrimento.
Ser sério em relação a essas coisas fundamentais significa aplicar a elas uma atenção
contínua, e não um simples e esporádico interesse (…). Aquela seriedade deve
constituir a base de nosso pensar, viver e agir; (…). Quanto mais sérios formos,
interiormente, tanto mais madureza teremos. A madureza nada tem que ver com a
idade (…). Não é questão de acumular incontáveis experiências ou um saber imenso.
(…) Só é possível essa madureza com o conhecimento mais amplo e mais profundo
de nós mesmos. (Como Viver neste Mundo, pág. 68-69)
(…) A mente dividida por desejos distintos, cada qual a arrastá-la numa direção
diferente, é capaz (…) de descobrir o que é verdadeiro? Por conseguinte, não é muito
importante possuirmos autoconhecimento, aplicar-nos seriamente à operação de
compreender o “eu” com todas as suas contradições? (…) (Idem, pág. 43)
(…) Porque seriedade (…) supõe (…) aplicação ao aprender, quer dizer, aplicar toda a
atenção a estudar não apenas determinada matéria, uma particularidade da vida,
porém o todo da vida, que é um campo imenso. (…) Sério, ardoroso, apaixonado,
“intenso”, é aquele que procura compreender o inteiro processo da consciência, ou
seja, o todo da vida. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 110)
Por conseguinte, para o homem sério, que deseja aprender, o primeiro requisito é que
esteja livre para investigar - isso significa não ter medo; que esteja livre para olhar,
observar, criticar; que seja inteligentemente cético, não aceite opiniões. (…) Como
antes dissemos, quando caminhamos com a luz de outrem, essa luz nos levará à
escuridão - não importa quem seja o que nos oferece a luz. Mas, para podermos
caminhar com a luz de nossa própria compreensão, é preciso atenção e silêncio e, por
conseguinte, muita seriedade. (Idem, pág. 110)
Pergunta: Que significa “ser sério”? Tenho a impressão de não ser “sério”.
Krishnamurti: Investiguemos (…). Não vou definir o que é “ser sério”; não aceiteis
definições de espécie alguma. Se um homem deseja descobrir uma nova maneira de
vida - uma vida livre de violência, ( …) de total liberdade interior, e a esse
descobrimento devota seu tempo, sua energia, seus pensamentos, tudo - a essa
pessoa eu chamaria de homem sério. Esse homem não se deixa facilmente desviar de
seu intento; poderá buscar entretenimentos, mas sua rota está traçada. Isso não
significa ser dogmático, obstinado, inadaptável. Ele está pronto a prestar ouvidos a
outros, a considerar, examinar, observar. (A Questão do Impossível, pág. 19)
E há, também, a mente muito lida, muito hábil no argumentar, no analisar, capaz de
aduzir citações, extraídas de seu vasto reservatório de conhecimentos. Como muito
bem sabeis, esse tipo de mente é solerte, incisiva, hábil, mas eu não a chamaria de
mente séria, nem tampouco à mente superficial que quer mostrar-se séria. (…) (Idem,
pág. 9-10)
(…) Para que possam ser resolvidos esses dois problemas fundamentais, a violência e
o sofrimento, temos de ser sérios e possuir também certa capacidade de
percebimento, de atenção, porquanto ninguém pode resolvê-los para nós. (…) Para o
homem sério, as autoridades perderam toda a importância. É claro que não tem
sentido dependermos de nenhuma autoridade (…). (A Essência da Maturidade, p. 10-
11)
Ao que parece, há muito pouca gente verdadeiramente séria. Pela palavra “sério”,
entendo ter a capacidade de examinar um problema até o fim e resolvê-lo. Resolvê-lo,
não conforme as inclinações pessoais ou o temperamento de cada um, ou sob
pressão do ambiente, porém deixando tudo isso de parte e investigando até o fim a
verdade relativa a dada questão. Essa seriedade parece um tanto rara. (…) (A
Essência da Maturidade, pág. 10)
A maior parte de nós, em ficando graves, perde o senso de alegria. A seriedade sem
alegria, (…) em muitos casos é artificial, e por isso deve ser evitada. (…) (O Reino da
Felicidade, pág. 26)
(…) Se cultivardes a seriedade com a alegria que decorre do fato de o terdes em
vosso coração (o Eterno), como parte de vós mesmos, então essa seriedade se torna
deleite em vez de se tornar morbidez e expressões rudes. (…) (Idem, pág. 26)
Krishnamurti: Isso é muito simples, senhor. Por que o cérebro, como depósito da
memória, dá tanta importância ao conhecimento - tecnológico, psicológico e
relacionados? Por que o ser humano tem dado tão extraordinária importância ao
conhecimento? Possuo um escritório, torno-me um importante burocrata, o que
significa que tenho conhecimento de como realizar certas funções, e me torno
pomposo, estúpido, grosseiro. (Exploration into Insight, pág. 53)
Quando se tem desenvolvido destreza em algo, isso confere certo sentimento de bem-
estar, de segurança. E tal destreza, nascida do conhecimento, tem que se tornar
invariavelmente mecânica em sua ação. Destreza na ação é o que se tem buscado,
porque ela nos dá certa posição na sociedade, certo prestígio. Vivendo nesse campo
todo o tempo, (…) tal conhecimento e destreza se tornam não só aditivos, senão que
terminam por constituir um processo mecânico e reiterativo que, pouco a pouco,
adquire seus próprios incentivos, sua própria arrogância e poder. Nesse poder
encontramos segurança. (La Totalidad de la Vida, pág. 214)
Atualmente, a sociedade exige de nós mais e mais destreza - quer seja o indivíduo um
engenheiro, um tecnólogo, um cientista, um psicoterapeuta, etc. - porém existe um
grande perigo em buscar essa destreza que provém dos conhecimentos acumulados,
porque nesse crescimento não há claridade. Quando a destreza se torna sumamente
importante na vida, não só por ser o meio de ganhar a subsistência, senão porque o
indivíduo é educado totalmente para esse propósito (…), então a destreza produz
invariavelmente certo sentimento de poder, de arrogância e vaidade. (Idem, pág. 214)
A quem chamamos cientistas? Aos que trabalham em laboratórios e que, fora de tal
atividade, são seres humanos como nós, com preconceitos (…), com igual cupidez,
ambição e crueldade. Salvarão eles o mundo? Estão salvando o mundo? Não se estão
utilizando do conhecimento técnico mais para destruir do que para curar? Em seus
laboratórios podem estar buscando conhecimento e compreensão, mas não o fazem
movidos pelo “eu”, pelo espírito de competição, pelas paixões (…)?
(Autoconhecimento, Correto Pensar - Felicidade, pág. 166)
(…) Atuando como cientista, artista, padre, advogado, técnico ou fazendeiro, o cérebro
é essencialmente produto da especialização. Incapaz de transcender os próprios
limites, de sua atividade emanam o status social, os privilégios, o poder e o prestígio,
que ele, o cérebro, cria para proteger-se. Incapaz de ver o todo, a mente
especializada, com seu desejo de fama e poder, é a origem de todo conflito social.
(Diário de Krishnamurti, pág. 102)
(…) O cientista utiliza o seu saber para alimentar a vaidade, assim também o
professor, (…) os pais, (…) os gurus - todos querem ser alguém no mundo. (…) Que
sabem eles? Só sabem o que está nos livros (…) ou o que experimentaram, sendo
que suas experiências dependem do seu fundo de condicionamento. Os mais de nós,
pois, estamos cheios de palavras, de conhecimentos, a que damos o nome de saber;
e sem esse saber vemo-nos perdidos. O que existe, pois, é o temor, oculto logo atrás
da cortina das palavras e dos conhecimentos; (…). (Novos Roteiros em Educação,
pág. 114)
Assim, onde há temor, não há amor; e o saber sem o amor é destrutivo. É o que está
acontecendo no mundo, atualmente. Por exemplo, sabe-se como é possível alimentar
todos os seres humanos do mundo, mas não se começa a pôr isso em prática. (…) Se
se desejasse realmente pôr fim à guerra, haveria possibilidade de fazê-lo, mas nada
se faz, pelas mesmas razões. Assim, pois, o saber sem o amor não tem significação
alguma. (…) (Idem, pág. 114)
(…) Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos, (…) e tudo que
se especializa logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de
adaptabilidade. Só o que é capaz de adaptação, de flexibilidade, pode subsistir. (…) (A
Arte da Libertação, pág. 134)
(…) Você não pode dividir a vida em vida tecnológica e vida não tecnológica. É o que
vocês têm feito, e é por isso que levam uma dupla vida. Então nos perguntamos: “É
possível viver tão plenamente que a parte esteja incluída no todo? (…) Atualmente
levamos uma dupla vida; (…). É assim que vocês dividem a vida e, portanto, ela é um
conflito entre as partes. E nós nos referimos a algo por completo diferente, a um modo
de viver no qual não haja divisão nenhuma. (…) (Idem, pág. 79)
Vede, em primeiro lugar, como a mente acumula saber e por que o faz; vede onde o
saber é necessário, e onde ele se torna um empecilho à liberdade. É óbvio que, para
fazermos qualquer coisa - conduzir um carro, falar uma língua, executar um trabalho
técnico - precisamos do saber. Precisamos de grande abundância de saber; quanto
mais eficaz, (…) mais objetivo, (…) mais impessoal, melhor; mas nós nos estamos
referindo àquele saber que condiciona psicologicamente. (Fora da Violência, pág. 133)
Cabe-nos descobrir por nós mesmos (…). O conhecimento, com efeito, tem muita
importância e significação. Se desejais ir à Lua, necessitais de extraordinários
conhecimentos tecnológicos; (…). Mas, esse próprio saber se torna sério empecilho
quando queremos descobrir uma maneira de viver totalmente harmoniosa (…). O
saber é o passado, e, se vivemos de acordo com o passado, então, é óbvio, surge
uma contradição: o passado em conflito com o presente. (…) (O Novo Ente Humano,
pág. 24)
Há, pois, uma ação que vem quando a mente está vazia de todo movimento de
pensamento, exceto aquele movimento que é necessário quando o pensamento deve
funcionar. A mente é então capaz de dar atenção aos fatos da vida diária. Mas, é ela
capaz de funcionar dessa maneira se sois muçulmano, budista, hinduísta, e estais
condicionado por esse fundo? Não o é, evidentemente. (…) Porque, se a psique não
for transformada, continuareis a fazer, exteriormente, as mesmas coisas - modificadas,
talvez, mas sempre segundo o velho padrão. (Idem, pág. 27)
A criação, pois, é algo que, não estando sujeito às limitações da mente ordinária, não
é continuo. (…) Mas uma mente que seja capaz de ficar silenciosa conhecerá aquele
estado que é eternamente criador; e essa é a função da mente (…). A função da
mente não consiste apenas em sua parte mecânica, (…) de coordenar as coisas, (…)
de destruir e tornar a coordenar. Tudo isso constitui a nossa mente ordinária, a mente
comum, que recebe sugestões (…) do inconsciente, mas (…) na rede do tempo. (…)
(Poder e Realização, pág. 85)
(…) Essa mente é produto da técnica; e quanto mais se cultivar a técnica, o “como”, o
método, o sistema, tanto menos se conhecerá “a outra coisa”, o estado criador.
Entretanto, temos necessidade da técnica (…). Mas quando essa mente mecânica, a
mente que está ligada à memória, à experiência, ao conhecimento, quando essa
mente existe só e funciona sozinha, sem a outra parte, é óbvio que ela só pode
conduzir à destruição. (…) (Idem, pág. 85-86)
(…) A técnica pode trazer-nos essa liberdade em que está ausente o “eu”? Só quando
o “eu” está ausente, há o poder de criar; a técnica, pelo contrário, dá apenas mais
força ao “eu”, ou o distrai, modificando-o ou expandindo-o – e isso por certo não nos
dá o poder criador. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 131)
O saber é uma outra forma de propriedade, e o homem que possui saber está
satisfeito com ele; para ele, o saber é um fim em si. Tem ele a convicção (…) de que o
saber resolverá (…) os problemas (…). É muito mais difícil, para o homem de saber,
livrar-se de suas posses, do que para o homem de dinheiro. É extraordinária a
facilidade com que o saber toma o lugar da compreensão e da sabedoria. (…)
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 227-228)
(…) A humildade é importante, porque a mente sem humildade não pode aprender.
Poderá acumular conhecimentos, reunir mais e mais informações, mas (…) são coisas
superficiais. Não sei por que tanto nos orgulhamos do nosso saber. Tudo se encontra
em qualquer enciclopédia, e é tolice acumular conhecimentos para satisfação do
orgulho e da arrogância pessoal. (Idem, 1ª ed., pág. 213)
(…) A mente que está abarrotada de fatos, de conhecimentos, será capaz de receber
qualquer coisa nova, inesperada, espontânea? Se a vossa mente está repleta do
conhecido, haverá espaço para receber alguma coisa procedente do desconhecido?
Não há dúvida de que o saber se refere sempre ao conhecido e com o conhecido
tentamos compreender o desconhecido, essa coisa que ultrapassa todas as medidas.
(A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 151)
(…) O que é eterno não pode ser procurado; (…). Ele se apresenta quando a mente
está tranqüila; e a mente só pode estar tranqüila quando é simples, quando já não está
armazenando, condenando, julgando, pensando. Apenas a mente simples pode
compreender o Real, e não a mente repleta de palavras, de conhecimentos, de
ilustração. A mente que analisa, que calcula, não é uma mente simples. (Percepção
Criadora, pág. 106-107)
Mente Computadora, Memória, Programação,
Repetição
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:44
Nas coisas de que necessitamos para viver, a memória deve funcionar com o máximo
de eficiência, qual um cérebro eletrônico. Este é capaz de coisas as mais
extraordinárias: pintar, escrever poemas, traduzir, e até dirigir uma orquestra. Mas
esse cérebro eletrônico só pode funcionar com os dados que lhe são fornecidos, por
associação, etc. (Idem, pág. 151)
E, quando se faz uma pergunta ao cérebro eletrônico, devem-se usar termos precisos;
senão, ele não responderá. Por isso mesmo, há hoje todo um conjunto de cientistas
empenhados em investigar a questão da ação na linguagem; mas não é este o
assunto que nos interessa no momento. (Idem, pág. 152)
Pode-se ver (…) que nossa mente, nosso intelecto, se tornou mecânico. Somos
influenciados em todos os sentidos. Tudo o que lemos deixa-nos sua impressão, e
toda propaganda, sua marca. O pensamento é sempre convencional e, assim, o
intelecto e a mente se tornaram mecânicos, como uma máquina. Exercemos
mecanicamente nossas ocupações, mecânicas são nossas mútuas relações, e nossos
valores são simplesmente tradicionais. (…) (O Passo Decisivo, pág. 201)
É então muito importante que lancemos uma olhada em nossas relações; não só nas
relações íntimas, senão também na relação que estabelecemos com o resto do
mundo. (…) Eu posso ser um muçulmano e você (…) um hindu. Minha tradição diz:
“Eu sou muçulmano” – tenho sido programado como um computador para repetir “Eu
sou muçulmano” – e você repete “Eu sou hindu”. (…) (La Llama de la Atención, pág.
18)
Se não formos capazes disso, o computador, que é muito mais capaz, rápido e exato,
irá assumir o comando das atividades do cérebro. Isso não é uma coisa casual; este é
um assunto por demais sério, desesperadamente sério. O computador pode inventar
uma nova religião. Ele poderia ser programado por um douto especialista (…). E nós,
se não estivermos cônscios do que está acontecendo, seguiremos essa nova estrutura
produzida pelo computador. (…) (Idem, pág. 18)
O nosso ego, (…) personalidade (…) é inteiramente formada pela memória (…) Não
há nenhum lugar ou espaço onde haja claridade (…). Vocês podem investigar isto: se
estiverem indagando seriamente, verão que o “eu”, o ego, é todo memória,
lembranças. (…) Nós funcionamos, (…) vivemos da memória. E, para nós, a morte é o
fim dessa memória. (A Rede do Pensamento, pág. 104)
Há, por conseguinte, as imagens que eu formei acerca de vós e as imagens que a
meu respeito formastes. Essas memórias se conservam e se acrescentam
continuamente. Essas memórias é que irão reagir. Por conseguinte, o pensamento,
sendo resultado da memória, é sempre velho; nunca é novo e, portanto, nunca é livre.
(…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 176)
Será bem formada a mente que repete, como um gramofone, tudo o que lhe foi dito?
Nisto tem consistido a nossa educação. Conhecer fatos, datas, citá-los uma vez por
ano, na ocasião dos exames. Podemos chamar isso de cultivo de uma mentalidade
criadora? (…) Mas o simples acúmulo de conhecimentos, sinônimo de
desenvolvimento da memória, é apenas um processo aditivo. Ele não forma um
espírito lúcido, criterioso (…). (Ensinar e Aprender, pág. 111)
Entretanto, uma boa memória tem o seu valor, não só para a lembrança de certas
coisas, mas para o preparo técnico ou especializado. Então, em que ponto a memória
interfere com uma mente sã, apta a explanar, investigar, descobrir? Que relação existe
entre a memória e a autêntica liberdade? (Idem, pág. 111)
O atemporal só pode ter existência quando cessa a memória, que é o “eu” e o “meu”.
Se percebeis a verdade aí contida – isto é, que através do tempo não se pode
compreender ou captar o atemporal – podemos então entrar no problema da memória.
A memória de coisas técnicas é essencial; mas a memória psicológica, a que mantém
o “eu” e o “meu”, a que dá identificação e continuidade pessoal, essa é de todo
prejudicial à vida e à realidade. (…) (Idem, pág. 114)
Quando não há acumulação, não existe o “eu”. Uma mente oprimida pela acumulação
é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, (…) de uma vigilância profunda
e flexível. (Idem, pág. 249-250)
Desse modo, você está cônscio da extensão em que seu cérebro está sendo
programado? (…) Se está ciente de que está programado, condicionado, você
pergunta: “Foi o conhecimento que me condicionou?” Aparentemente foi. Então por
que é que a estrutura da psique é essencialmente baseada no conhecimento? Você
entende? A psique, o “mim”, o “eu”, é essencialmente um movimento do
conhecimento, (…) que é uma série de memórias. (The World of Peace, pág. 20-22)
(…) Porque a intelectualidade, sem aquela força criadora da realidade, não tem
significação alguma; só leva à guerra, a mais misérias e sofrimentos. É possível, pois,
a existência daquele estado criador, ao mesmo tempo em que está funcionando a
mente mecânica, a mente técnica? Uma coisa exclui a outra? (Poder e Realização,
pág. 86)
(…) A mente ordinária, então, estará também numa revolta contínua contra a técnica,
o “como”. Conseqüentemente, ela não mais pedirá o “como” e não mais se preocupará
com a virtude. A mente silenciosa, (…) que se acha num estado de completa
tranqüilidade, (…) que é o desconhecido, a força criadora do real, essa mente não
necessita de virtude. Porque, nesse estado, nunca há luta. Só a mente que luta para
“vir a ser” necessita de virtude. (Idem, pág. 86)
(…) Ser apenas prendado ou talentoso em alguma área, isso, evidentemente, não
indica capacidade de criar. Acho que a ação criadora nasce da capacidade de ver a
vida como uma totalidade e não fragmentariamente, de pensar e sentir como um ente
humano completamente integrado. (…) (Visão da Realidade, pág. 74)
A paz não é uma idéia oposta à guerra. A paz é um modo de vida; (…) porque só
haverá paz quando compreendermos o viver de cada dia. (…) O culto do intelecto, em
oposição à vida, conduziu-nos à atual frustração, com suas inumeráveis vias de fuga.
Essas vias de fuga se tornaram muito mais importantes do que a compreensão do
próprio problema. (A Arte da Libertação, pág. 248)
A presente crise nasceu do culto do intelecto, e foi o intelecto que dividiu a vida numa
série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação
que é o amor. (Idem, pág. 248)
O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com as coisas da mente; e só
quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar, é capaz de se transcender a si
mesma; só então haverá o enriquecimento do coração. Só o incorruptível
enriquecimento do coração pode trazer paz a este mundo louco e cheio de lutas.
(Idem, pág. 248)
Pergunta: É verdade que não podemos servir-nos da razão para descobrir o que é
verdadeiro?
Embora haja atualmente tanto saber, em tão variados campos, isso não fez cessar a
brutalidade do homem para com o homem, mesmo entre membros do mesmo grupo,
nação ou religião. É possível que o saber nos esteja tornando cegos para um outro
fator, que bem pode representar a solução real de toda esta confusão e miséria.
(Idem, pág. 227)
A paixão pelo saber é como outra paixão qualquer; oferece uma fuga aos terrores do
vazio, da solidão, da frustração, do ser nada. A luz do saber é um manto suntuoso,
debaixo do qual está a escuridão (…). A mente tem pavor a esse desconhecido e, por
essa razão, foge para o saber, (…) as teorias, as esperanças, a imaginação; e
justamente esse saber constitui obstáculo à compreensão do desconhecido. (…) A
compreensão do “eu” é a libertação das prisões do saber. (Comentários sobre o Viver,
pág. 24)
Assim, pois, a mente que quer descobrir o que é verdadeiro, tem de estar livre do
saber. Se observardes, porém, vereis que vossa mente está sempre a acumular
conhecimentos, a armazenar conhecimentos (…) Nossas mentes nunca estão livres
para serem tranqüilas, porque estão repletas de conhecimentos, de saber. Sabemos
demais, mas na verdade nada sabemos sobre coisa alguma, e com essa imensa
carga às costas queremos ser livres. (Idem, pág. 15-16)
Mas o fato é que não estamos cônscios disso; e (…) resistimos, por acharmos que o
saber é essencial à libertação. Ora, por certo, o saber é um empecilho, um obstáculo
ao descobrimento do que é verdadeiro. A Verdade tem de ser uma coisa viva,
totalmente nova a cada segundo; e como pode a mente que acumula saber,
conhecimento, compreender o que é desconhecido? Chamai-o Deus, (…) Verdade
(…). (Idem, pág. 16)
Ser poeta implica a capacidade de receber coisas novas, ter sensibilidade para o que
é novo, original. Mas, para a maioria de nós, o saber, a erudição, se tornou devoção, e
julgamos que com o saber seremos criadores. Uma mente abarrotada de fatos e saber
é capaz de receber o que é novo, súbito, espontâneo? Se vossa mente está repleta do
conhecido, haverá nela espaço para receber o que vem do desconhecido? Certo, o
saber vem-nos sempre do conhecido; e com o conhecido queremos compreender o
desconhecido, o imensurável. (Idem, pág. 25)
(…) Mas aquele homem dava muita importância à erudição; estava carregado de
saber, e o erguia bem alto. Começou logo falando em sânscrito e ficou muito surpreso
e até um pouco chocado, ao ver que o sânscrito não era entendido. (…) (Idem, pág.
166)
Aquele homem se considerava vastamente erudito e, para ele, o saber era a própria
essência da vida. A vida sem o saber era pior do que a morte. Seu saber não se cingia
a uma ou duas matérias, mas abarcava muitos aspectos da vida; (…). Tinha um
orgulho extraordinário de seu saber e, como bom exibicionista, usava-o para
impressionar; diante dele, os outros se calavam, respeitosos. Como nos espanta o
saber, e que reverente respeito tributamos ao homem que sabe! (…) (Comentários
sobre o Viver, 1ª ed., pág. 203-204).
O saber condiciona. O saber não dá liberdade. (…) O saber não é fator criador, pois o
saber é contínuo, e o que tem continuidade nunca pode levar ao implícito, ao
imponderável, ao desconhecido. O saber é um empecilho ao manifesto, ao
desconhecido. O desconhecido não pode ser vestido com o conhecido. (…) (Idem,
pág. 204)
Há descobrimento, não quando a mente está repleta de saber, mas quando o saber
está ausente; só então há quietude e espaço, e nesse estado é que se realiza a
compreensão, o descobrimento. Não há dúvida de que o saber é útil, no seu nível
próprio; noutro nível, porém, ele é positivamente nocivo. Quando o saber é utilizado
como meio de autoglorificação, para nos encher de vento, ele é então danoso,
gerando divisão e inimizade. A expansão do “eu” (…) é desintegração. (…) (Idem, pág.
204)
Pergunta: Por que será que quase todos os seres humanos, salvo seus talentos e
capacidades, são medíocres? Eu sei que sou medíocre (…)
Krishnamurti: Você está cônscio de que é medíocre? (…) Os grandes pintores, (…)
músicos, (…) arquitetos, têm capacidade e talentos extraordinários, mas em sua vida
quotidiana são como você e eu, como qualquer outra pessoa. (…) (Perguntas e
Respostas, pág. 118)
(…) Se você está cônscio de que é medíocre, o que isso significa? Você pode ter
grande talento como escritor, escultor, músico, professor, mas isso tudo é um adorno
exterior, uma aparência exterior, que esconde uma pobreza interior. Sendo pobres
interiormente, estamos sempre nos esforçando por ser algo mais nobre. (Idem, pág.
118)
(…) As tentativas de preencher essa insuficiência (…), tudo isso é um ato de
mediocridade. A sensação de mediocridade aparece como respeitabilidade exterior. E
existe outro tipo de revolta contra a mediocridade: os hippies, os cabeludos, os
barbudos, os últimos marginais. O mecanismo é o mesmo. (…) (Perguntas e
Respostas, pág. 118)
(…) Ou você se integra numa comunidade, pois interiormente não há nada em você;
integrando-se, você se torna importante, e há ação. Quando você está cônscio dessa
mediocridade, dessa total sensação de insuficiência, dessa sensação de frustrante
solidão profunda, você percebe que ela está oculta em todo tipo de atividades. (…)
(Idem, pág. 118-119)
Essa mediocridade, que todos nós parecemos ter, pode ser rompida quando não há
sensação de comparação, de mensuração. Isso lhe dá uma liberdade imensa. Quando
há liberdade psicológica completa, não há sensação de mediocridade. Você está
inteiramente fora dessa classe - existe então um estado mental totalmente diferente.
(Perguntas e respostas, pág. 119)
O talento pode tornar-se uma maldição. O “eu” pode servir-se de nossas capacidades
para sua proteção própria, e o talento se torna então o meio de glorificação do “eu”. O
homem bem dotado poderá oferecer os seus dotes a Deus, conhecendo o perigo que
eles representam; mas esse homem está cônscio dos seus dotes, pois do contrário
não iria oferecê-los, e é essa consciência de ser ou de ter alguma coisa que precisa
ser compreendida. A oferenda do que uma pessoa é ou tem, com o propósito de ser
humilde, é vaidade. (Reflexões sobre a Vida, pág. 224)
Pergunta: Sou inventor, e acontece que inventei várias coisas que foram utilizadas
nesta guerra. Considero-me infenso ao assassínio, mas que fazer de minha
capacidade? (…) O espírito inventivo me impulsiona.
Krishnamurti: Qual dos dois problemas - segundo o vosso pensar-sentir - é mais
importante (…): o poder de matar ou a capacidade inventiva? (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 88-89)
(…) Se só vos interessa o inventar, a mera expressão do vosso talento, deveis então
descobrir por que lhe atribuís tanta importância. A vossa capacidade não vos
proporciona uma via de fuga da vida, da realidade? Não é então o vosso talento uma
barreira às relações com os semelhantes? (Idem, pág. 89)
Ser é estar em relação, e nada pode existir no isolamento. Assim, pois, sem
autoconhecimento, a vossa capacidade inventiva torna-se perigosa para o próximo e
para vós mesmo. (Idem, pág. 89)
(…) A mente medíocre é incompleta. Não falo agora da mente que quer ser mais; mais
inteligente(…); da mente que não é criadora e por isso luta para ser criadora: escrever
poemas (…). Estou falando da mente que é medíocre. Agora, vereis (…) que a mente
pede logo uma definição: “que é medíocre”? De posse da definição, refletireis de
acordo com ela e a aceitais ou rejeitais. (…) (Idem, pág. 39-40)
Quando a mente compara - porque, em razão do seu temor ou seu desejo de certeza,
ou de mais segurança econômica, ela deseja “vir a ser” - não está aí a mente
medíocre, vale dizer, a mente medrosa? Enquanto houver temor, tem de haver
comparação, (…) o processo de “vir a ser”, da imitação, do ajustamento. Não é, pois, a
mediocridade o estado próprio da mente que (…) encontra aí um modo fácil de
apaziguar o seu descontentamento? (Idem, pág. 42-43)
Não é, pois, medíocre a mente que sempre se está esforçando por “vir a ser”, não só
neste mundo aquisitivo, mas também no chamado mundo espiritual, que subentende o
princípio hierárquico? - “Vós sabeis e eu não sei; vós sois o guru que me guia (…)”.
Todo esse processo mental denota um espírito medíocre. O “vir a ser”, fora do que é -
“Sou pequeno; sou ignorante; sou isto e quero tornar-me aquilo, (…) o mais excelente”
(…); esse perene vir-a-ser, no desejo de mais, (…) não é a causa de todo
descontentamento? (…) (Idem, pág. 43)
(…) Vosso próprio desejo de transformar a vossa mente medíocre numa coisa
superior, vos está impedindo de ser criador - não a criação que consiste em escrever
poemas, por mais geniais e mais maravilhosos que sejam. Aquela criação que é
atemporal, não ligada a nenhum (…) grupo, (…) religião; que é a Verdade, (…) Deus,
(…) aquela criação não pode ser alcançada pela mente medíocre. A criação, porém,
só vem quando a mente está frente a frente com o fato, e quieta. (Idem, pág. 44)
A mente que tem um motivo, que persegue o ideal, a coisa que ela acha deveria ser, a
mente que se está disciplinando, controlando, moldando, que está lutando para ser
diferente do que é - essa mente não é medíocre? (…) Reconhecendo-se medíocre,
estúpida, obtusa, ávida, invejosa, ambiciosa, cruel, etc., a mente diz: “Preciso tornar-
me não medíocre”; e esse esforço (…) não é a essência mesma da mediocridade?
(Idem, p. 223)
(…) No esforço para se tornar alguma coisa, a mente foge do fato real para o ideal
(…). Estais a perseguir, a adorar o ideal que “projetastes”. Por essa razão, nunca há
(…) riqueza criadora, (…) vossa energia está sendo dissipada constantemente na luta
para vos preencherdes, chegardes a ser alguma coisa. (Idem, pág. 223-224)
(…) Mas se, ao contrário, puderdes viver com isso que percebeis que é estúpido, e
compreendê-lo, penetrá-lo completamente, sem o julgardes nem condenardes, vereis,
então, que há de surgir um estado completamente diferente; isso, porém, exige
atenção total, e não a distração que é o esforço de “vir a ser alguma coisa”. (Idem,
pág. 225)
Quando a mente está livre do “conhecido”, ela é uma mente nova, uma mente
“inocente”. Acha-se num estado de criação, imensurável, inominável, fora do tempo.
(…) Ele não pode ser “chamado”, porque uma mente medíocre não pode chamar a si
a imensidade. Toda mediocridade deve acabar, e existirá então “outro estado”. A
mente não pode imaginar aquele estado de imensidade. (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 229-230)
(…) Para mim o gênio é a pessoa que distingue a sua meta, cujo entusiasmo está
sempre vivo, que marcha firmemente para o seu alvo, que luta incessantemente para
conservar clara a Visão, que nunca se deixa abater pelas coisas insignificantes da
vida, por perturbações mundanas ou familiares, mas que durante todo o tempo está
empurrando essas coisas para o lado e tentando conservar a Visão sempre diante de
si clara e pura. Ao passo que o homem ordinário, burguês, é asfixiado pelo mundo; ele
não vê a Visão, mas, ao contrário, sucumbe à influência do meio (…). (O Reino da
Felicidade, pág. 15)
Classes, Isolamento, Complexo, Auto-imagem do
Ego
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:49
Agora, se atentardes bem, vereis que esta sociedade está baseada no espírito de
classe, que é, ainda, espírito de segurança. (…) Assim como as crenças separam as
pessoas, limitam-nas, conservando-as divididas, assim também a possessividade,
expressando-se sob a forma de espírito de classe e transformando-se em
nacionalismo, separa as pessoas. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág.20)
O apetite de ganho, que é a base de nossa atual civilização, dividiu o homem contra o
homem. Em nosso desejo de possuir, de dominar as idéias, os sentimentos e o
trabalho alheios, fizemos uma separação de nós mesmos em classes, governos de
classe, lutas de classe, guerras de classe, (…). (Idem, pág. 19)
(…) Ao verdes que a distinção de classe é coisa falsa, que ela cria conflito, sofrimento,
divisão entre pessoas - ao perceberdes essa verdade, ela própria vos liberta. A
percepção mesma dessa verdade é transformação (…). (O que te fará Feliz?, pág.
128)
Devemos tomar o conteúdo de nossa consciência e olhá-lo. A quase todos nós nos
recalcam desde a infância (…). E quando o indivíduo se sente ferido, constrói um muro
ao redor de si mesmo. E a conseqüência disso é que nos isolamos mais e mais (…).
As ações que procedem desse trauma psicológico são obviamente neuróticas. (…)
Quando digo: “Estou ferido” - não fisicamente, senão internamente, psicologicamente,
na psique - que é que se sente magoado? Não é por acaso a imagem, a
representação (conceito) que o indivíduo tem de si mesmo? (…) (La Llama de la
Atención, pág. 16)
(…) Todos temos uma imagem de nós mesmos: um vê-se como grande homem, ou
como homem muito humilde; outro acha-se um grande político, com todo o orgulho, a
vaidade, o poder, a posição; e isso cria a imagem (…) de si mesmo. Se possuímos um
título de doutor ou somos dona-de-casa, temos a correspondente imagem de nós
mesmos. Cada um tem uma imagem de si mesmo (…). O pensamento criou essa
imagem e é ela que fica magoada. É possível, então, não ter nenhuma imagem de si
mesmo? (Idem, pág. 16)
Por conseguinte, muito depende de considerar o problema (…). Cada um de nós tem
uma imagem de si mesmo, em geral uma imagem algo lisonjeira, e dessa base é que
olhamos a coisa que nos causa dor ou prazer. (O Descobrimento do Amor, pág. 94)
Tendes, pois, uma imagem de vós mesmos - como sois, ou como deveríeis ser ou
deveis ser - e dessa imagem olhais a coisa que se chama “problema”. Há, pois, a
imagem e o problema, e procurais então “aproximar” a imagem ao problema, ou
interpretais o problema de conformidade com o padrão estabelecido por essa imagem.
(…) (Idem, pág. 94-95)
Pois bem. O problema nunca será resolvido enquanto a imagem existir - a imagem do
que deveríeis ser, ou a imagem de si própria que a mente criou, graças a seu saber, à
história, à tradição de família, a todas as formas de experiência. Estais cônscio, não da
imagem, porém do problema, enquanto o que aqui estamos tentando fazer não é
resolver o problema, porém, sim, (…) a estrutura da imagem; porque, se nenhuma
imagem tivermos de nós mesmos, podemos resolver o problema. (Idem, pág. 95)
Quando somos inferiores, temos o impulso de sentir-nos superiores; (…). Quer dizer:
por mim mesmo, sou insignificante, vazio, superficial, e por isso desejo máscaras: (…)
a máscara da superioridade e da nobreza, (…) da seriedade, (…) a máscara com a
qual afirmamos procurar a Deus. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 209-210)
(…) Um homem que é feliz, que ama, não ambiciona posses, não se entusiasma pelo
bom êxito, pelo poder, pela posição ou pela autoridade. Os infelizes, os aflitos, é que
buscam o poder e o bom êxito como refúgios de sua própria insuficiência. (…) (Que
Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 131)
Portanto, é extremamente difícil sermos o que somos. (…) Mas, para que procedamos
assim, para que deixemos de ser alguém, é preciso desvendar a nossa face oculta,
expô-la sem medo, a fim de a compreendermos. A compreensão de nossas ânsias e
desejos ocultos vem da plena consciência deles (…); dessa forma, o puro ato de ver
destrói aquela estrutura psicológica, libertando-nos do sofrimento e do desejo de ser
alguém. (…) (Idem, pág. 166)
Agora, o interrogante deseja saber (…). Servimo-nos das coisas, das posses, não
como meras necessidades, mas como meios de satisfazer uma necessidade
psicológica (…). Isto é, a propriedade se torna um meio de engrandecimento próprio. A
maioria de nós aspira a títulos, posição, posses, terras, virtudes, fama; e tudo isso
implica (…) uma necessidade psicológica (…) (Que estamos Buscando?, 1ª ed., pág.
128)
Como dizia, o saber é essencial em certos níveis da vida, para podermos viver. Mas,
afora isso, qual é a natureza do saber? Que queremos dizer quando afirmamos que o
saber é necessário para acharmos a Deus, ou que o saber é necessário para nos
conhecermos a nós mesmos (…)? Aqui, entendemos o saber como “experiência”. (…).
Esse saber não é utilizado pelo “ego”, pelo “eu” para se fortalecer a si próprio? (…)
(Novos Roteiros em Educação, pág. 113)
(…) O cientista utiliza o saber para alimentar a vaidade; assim também o professor;
(…) os pais, (…) os gurus - todos querem ser alguém no mundo. (…) (Novos Roteiros
em Educação, pág. 114)
Que sabem eles? Só sabem o que está nos livros; ou (…) o que experimentaram,
sendo que suas experiências dependem do seu fundo de condicionamento. Os mais
de nós, pois, estamos cheios de palavras, de conhecimentos, a que damos o nome de
saber; e, sem esse saber, vemo-nos perdidos. (…) (Idem, pág. 114)
Desse modo, onde há temor, não há amor; e o saber sem amor é destrutivo. É o que
está acontecendo no mundo atualmente. (…) (Idem, pág. 114)
Se quisermos criar uma sociedade sã e feliz, precisamos principiar por nós (…). Em
lugar de conferirmos importância a nomes, rótulos e termos, geradores de confusão,
devemos desembaraçar a mente de tudo isso e observar-nos sem paixão. (…) Vemos,
em torno de nós e em nós próprios, desejos e ações exclusivistas a redundarem no
empobrecimento das relações. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág.
19)
Por conseguinte, cumpre descobrir, não se há algo maior do que o conhecido, que nos
impele para o desconhecido e, sim, perceber o que existe em nós que está criando
confusão, guerras, diferenças de classe, esnobismo, desejo de fugir, através da
música, da arte, e de muitos outros modos. Importa, sem dúvida, que as coisas sejam
vistas como são (…) para nos vermos exatamente como somos. (…) (A Primeira e
Última Liberdade, 1ª ed., pág. 251)
Distinções, Respeitabilidade, Títulos, Ignorância
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:51
O marajá gosta de mostrar que é algo, ostentando seus carros, seus títulos, sua
posição, suas riquezas. O professor, o pundit convenceu-se de que é alguma coisa,
em virtude do seu saber. Desejais também mostrar que sois “alguma coisa” entre
vossos colegas de classe. (…) (Debates sobre Educação, pág. 126)
Se quisermos criar uma sociedade sã e feliz, precisamos principiar por nós, (…). Em
lugar de conferirmos importâncias a nomes, rótulos e termos, geradores de confusão,
devemos desembaraçar a mente de tudo isso (…). (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 19)
Senhores, os títulos, sejam títulos espirituais, sejam títulos mundanos, são meios de
explorar os outros. (…) É só isso que fazeis; não percebeis que sois, vós mesmos,
explorados e que portanto criais o explorador (…). Vivemos sob a influência de títulos,
de palavras, de frases, destituídos de significação; eis porque interiormente estamos
vazios e sofremos. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 45)
(…) Aquele que busca a verdade é um homem religioso e não tem necessidade de
etiquetas, tais como “hinduísta”, “muçulmano”, “cristão”. (…) Se tivéssemos amor, (…)
caridade em nossos corações, não faríamos o menor caso de títulos (…). Porque os
nossos corações estão vazios, enchem-se de coisas pueris (…). Francamente, isso é
falta de maturidade. (…) (A Arte da Libertação, pág. 19-20)
(…) Um homem sensato não pertence a grupo algum, não ambiciona posição na
sociedade, pois isso só produz guerra. Se fôsseis realmente sensatos, pouco vos
importaria o nome que vos dessem; não veneraríeis os rótulos. Mas rótulos, palavras,
se tornam coisas importantes quando o coração está vazio. (…) (Idem, pág. 20)
Esta é a opinião (…). Todos quereis ser alguém no Estado, ou ter o título de “Sir” ou
de “Lord” ou algo semelhante, e isto se baseia no espírito de posse, nas possessões;
e isto se tornou moral, verdadeiro, (…) (Palestras em Auck1and, 1934, pág. 18)
Reflitamos juntos. Por que desejam as pessoas ser famosas? Em primeiro lugar,
porque é vantajoso (…); e, também, porque proporciona muito prazer, (…). Se sois
conhecido em todo o mundo, vos sentis importante, (…) imortalizado. Desejais ser
famoso, conhecido e falado no mundo inteiro, porque interiormente não sois ninguém.
(…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 48)
(…) Interiormente, nenhuma riqueza tendes, (…) e, por isso, desejais ser conhecido no
mundo exterior. Mas, se sois rico interiormente, então pouco vos importa serdes
conhecido ou desconhecido. (Idem, pág. 48)
(…) Minha mente, percebendo a sua própria insuficiência, sua pobreza, põe-se a
adquirir posses, diplomas, títulos (…); e desse modo se fortalece no “eu”. Sendo o
centro do “eu”, a mente diz: “Preciso transformar-me” - e põe-se a criar incentivos para
si. (…) (Claridade na Ação, pág. 107)
Podeis ter todos os graus acadêmicos do mundo, mas, se não conheceis a vós
mesmos, sois extremamente estúpido. (…) Sem autoconhecimento, o cuidar
meramente de colecionar fatos (…) é uma maneira muito estúpida de existir. (…) (A
Cultura e o Problema Humano, pág. 117)
(…) Podeis ser capaz de citar o Bhagavad Gita, o Upanishads, o Alcorão e a Bíblia,
mas, se não conheceis a vós mesmo, sois tal qual um papagaio a repetir palavras. (…)
(Idem, pág. 117)
Vós sois nada. Podeis ter vosso nome e vosso título, propriedades e depósitos nos
bancos, podeis ter poder e fama; todavia, apesar de todas estas defesas, sois o
mesmo que nada. Podeis não estar perfeitamente cônscio deste vazio, deste nada, ou
podeis simplesmente não desejar estar cônscio dele; ele existe, entretanto, não
importa o que façais para evitá-lo. (…) (Comentários sobre o Viver, pág.89)
Uma das camadas ou seções deste fundo é a ignorância. A ignorância não deve ser
confundida com a mera falta de informação. A ignorância é a falta de compreensão de
si próprio. (…) A ignorância existirá enquanto a mente não desvendar o processo
mediante o qual cria suas próprias limitações, e bem assim o processo da ação auto-
induzida. (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 26)
Ignorância é uma coisa, e o “estado de não saber” outra coisa muito diferente; as duas
nenhuma relação têm entre si. Uma pessoa pode ser muito ilustrada, muito hábil,
muito eficiente e talentosa e, apesar disso, ser ignorante. Há ignorância quando não
existe autoconhecimento. O homem ignorante é aquele que não se conhece, que não
conhece suas próprias ilusões, vaidades, invejas, etc. (…) (Diálogos sobre a Vida, 1ª
ed., pág. 182)
A paixão pelo saber é como outra paixão qualquer; oferece uma fuga aos terrores do
vazio, da solidão, da frustração do ser nada. A luz do saber é um manto suntuoso,
debaixo do qual está uma escuridão que a mente não pode penetrar. A mente tem
pavor a este desconhecido e por esta razão foge para o saber, para as teorias, as
esperanças, a imaginação; e justamente este saber constitui um obstáculo à
compreensão do desconhecido. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 24)
(…) Mas, não é fácil pôr de parte o saber. Ser ignorante não é ser destituído de saber.
A ignorância é falta de autopercebimento; e o saber é ignorância quando não há
compreensão das atividades do “eu”. A compreensão do “eu” é a libertação das
prisões do saber. (Idem, pág. 24)
Não só existe essa espécie de sofrimento, mas há também (…) o sofrimento causado
pela ignorância. Há ignorância, mesmo quando somos bem ilustrados, dotados de
vasta cultura e experiência, das aptidões com que se ganha fama, notoriedade,
dinheiro. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 138)
Não precisamos procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que está muito longe
de nós. Ela é a verdade da mente, a verdade das suas atividades, momento a
momento. Se estamos cônscios dessa verdade, (…) tal percebimento liberta a
consciência ou a energia que é inteligência, amor. Enquanto a mente se servir da
consciência como atividade do “eu”, o tempo tem de existir, com todas as suas
tribulações, (…) conflitos, (…) malefícios e (…) ilusões (…); só quando a mente,
compreendendo esse processo total, cessa de existir, pode haver o amor. (…) (A
Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 127)
O que é conhecido não é o Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante
busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego”
busca, por força de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela
afirmação. (…) Podeis ler sobre o Real, o que é de lamentar, podeis palrar a seu
respeito, o que é desperdício de tempo, mas não é isso o Real. Quando dizeis que,
pensando na verdade, estais mais capacitados para solucionar vossos problemas e
sofrimentos, significa isso que vos estais servindo de uma suposta verdade, (…); como
(…) qualquer entorpecente, não tarda a resultar, daí, o sono e a insensibilidade. (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 264-265)
O importante, pois, é que se compreenda por que razão a mente está sujeita a ser
perturbada. Que é esta perturbação? (…) Sem começarmos com o que está perto,
queremos chegar longe; mas só podemos ir longe, se começarmos com o que está
muito perto de nós. E começar com o que está perto significa estar livre da ambição,
do desejo de ser algo, do desejo de ser bem sucedido na vida, célebre, famoso (…),
tudo isso denunciando o “eu”, o “ego”. (Viver sem Temor, pág. 58)
(…) Para chegar longe, precisamos começar com o que está perto. Isso não requer
nenhuma renúncia extraordinária, mas um estado de elevada sensibilidade; (…) e só
nesse estado de sensibilidade pode-se receber a verdade - a qual não é para os
insensíveis, os indolentes, os desatentos. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 28-
29)
Mas o homem que começa com o que está perto, que está cônscio dos seus gestos,
sua fala, sua maneira de comer, de falar, sua conduta - para este há a sensibilidade de
penetrar muito extensamente, muito amplamente nas causas do conflito. (Idem, pág.
29)
Não podeis subir muito se não começais por baixo: não quereis ser simples, não
quereis ser humildes. (…) Assim, um homem que realmente desejasse achar,
conhecer a verdade, (…) estar aberto para a verdade, teria de começar muito perto de
si, deveria avivar a própria sensibilidade, mediante vigilância, tornando sua mente
apurada, clara e simples. Uma mente assim não anda em busca dos seus próprios
desejos. (…). Só assim é possível a paz; porque essa mente descobre o imensurável.
(Idem, pág. 29)
A verdade não pode ser acumulada. O que se acumula é sempre destruído, (…). A
verdade nunca fenece, porque só pode ser encontrada de momento a momento, em
cada pensamento, cada relação, cada palavra, cada gesto, num sorriso, numa lágrima.
E se vós e eu pudermos achá-la, e vivê-la - o próprio viver é o descobrimento dela -
não seremos então propagandistas, mas entes humanos criadores; (…). (Poder e
Realização, pág. 42)
(…) A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento a momento. O que é
acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque
a memória é produto do tempo (…). O que tem duração não é eterno. A eternidade
está no agora. (…) (O que te fará Feliz? pág. 129)
A mente desejosa de transformação futura (…) nunca poderá achar a verdade. Porque
a verdade é uma coisa que deve vir momento a momento; que precisa ser descoberta
de novo; (…). Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do velho? É
só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. (…) (Idem, pág. 129)
(…) A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não
a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não
quando nos preparamos para recebê-la. (…) Assim, pois, uma mente que está presa
na rede de palavras, não pode compreender a verdade. (Idem, pág. 108)
(…) Não vos choqueis, não vos sintais desapontados - a verdade nem sempre é
aprazível. A verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a verdade é
amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. (…) (Que
o Entendimento seja Lei, pág. 4)
A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e
existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da
mente. (…) E ela só pode vir quando a mente está vazia, quando a mente desiste de
criar. Ela virá, então, sem a chamardes. Virá veloz como o vento, sem ser pressentida.
A verdade vem no escuro e não quando estamos à sua espreita, desejando-a. Ela
surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o
coração estar cheio e a mente, vazia. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 79)
A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem
continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e
esquecida - “esquecida”, no sentido de que não a levamos conosco como lembrança
da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a
qualquer instante (…) a Verdade reaparecerá. (Experimente um Novo Caminho, pág.
107)
Ora, a verdade tem um lugar permanente? A verdade ocupa um ponto fixo? A verdade
tem morada, ou é uma coisa dinâmica, viva, e portanto sem pouso certo? A verdade
está em movimento constante; mas se dizeis que ela é um ponto fixo, tereis então de
achar um guru que vos leve a esse ponto, e o guru se tornará necessário para vos
apontar o caminho. (…) (A Arte da Libertação, pág. 121)
(…) Por outras palavras, quando procurais o guru não estais em busca a verdade,
buscais segurança num nível diferente, (…). Mas é a verdade permanência? Não
sabeis, (…). Mas não ousais declarar que não sabeis, porque o reconhecer que não
sabemos é uma experiência verdadeiramente devastadora. (Idem, pág. 123)
Mas, sem dúvida, tendes de sofrer uma devastação antes de descobrirdes a verdade;
precisais achar-vos naquele estado de incerteza, de total frustração, sem possibilidade
de fuga; tendes de ser posto frente a frente com o vácuo, o vazio, sem nenhuma
passagem por onde fugir. Só então achareis o que é verdade. Mas especular sobre a
verdade, pensar na verdade, é negar a verdade. (Idem, p. 123)
(…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho - só
para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho,
para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais
que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru, é
porque não sois aventuroso, estais apenas à procura (…) de segurança. (…) (A Arte
da Libertação, pág. 123-124)
(…) Essa realidade é um ser eterno no presente, e não no futuro; ela está no agora
imediato, não no futuro remoto. Para compreender esse agora, essa eternidade, a
mente deve estar livre do tempo, o pensamento deve cessar. Todavia, tudo que estais
fazendo atualmente só serve para cultivar o pensamento, condicionar a mente, e por
isso nunca há para vós o novo, (…). (Idem, pág. 124)
Enquanto existe o processo de pensamento, não pode existir a verdade (…). Não
podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento
a parar. Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o
pensamento; só então a verdade libertará o pensamento de seu próprio processo.
(Idem, pág. 124)
Nasce a verdade quando a mente está de todo tranqüila, numa tranqüilidade não
artificial, não “feita”; surge essa tranqüilidade só quando há compreensão; e essa
compreensão não é difícil, mas exige toda a vossa atenção. É negada a atenção
quando viveis apenas no cérebro, e não com todo o vosso ser. (Idem, pág. 125)
A verdade, portanto, não é para as pessoas respeitáveis, nem para os que desejam a
expansão, o preenchimento do seu próprio “eu”. A verdade não é para os que buscam
segurança e permanência; porque a permanência que buscam é meramente o oposto
da impermanência. Presos que estão na rede do tempo, buscam aquilo que é
permanente; (…) Por conseguinte, o homem que deseja descobrir a realidade tem de
sustar a busca - o que não significa que deva contentar-se com o que é. (Idem, pág.
214)
A verdade vem a todo aquele que está livre do tempo, que não se está servindo do
tempo como meio de auto-expansão. O tempo significa memória, (…). Enquanto existe
o “ego”, o eu”, o “meu”, em qualquer nível (…), ele está sempre dentro da esfera do
pensamento. Onde está o pensamento está o oposto, porque o pensamento cria o
oposto; e enquanto existe o oposto não pode existir a verdade. (…) (Idem, pág. 125)
(…) Mas a Realidade é algo que se conhece? E se a conhecemos, isso é o Real? Por
certo, a Realidade é algo que se manifesta momento a momento, e que só se pode
encontrar no silêncio da mente. Não há caminho para a verdade (…), porque a
Realidade é o incognoscível, o inominável, o impensável. (…) (Poder e Realização,
pág. 93)
(…) O que podeis pensar a respeito da verdade é produto de vosso fundo mental,
vossa tradição, vosso saber. Mas a verdade nada tem em comum com o saber, (…) a
memória, (…) a experiência. Se a mente pode criar um Deus - como de fato cria - isso
por certo não é Deus, (…). (Idem, pág. 93-94)
Não há caminho para a Verdade. A Verdade tem de ser descoberta, mas nenhuma
fórmula existe para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Tendes
de lançar-vos ao mar desconhecido, e este mar desconhecido sois vós mesmos.
Tendes de pôr-vos a caminho, para o descobrimento de vós mesmos, mas não de
acordo com algum plano ou padrão, (…). O descobrimento traz alegria - não a alegria
que é lembrada, que é comparada, mas a alegria que é sempre nova. O
autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se
encontra o Imensurável. (Comentários sobre o Viver, pág. 95)
(…) A mente limitada, ainda a mais instruída e apta a discutir eruditamente, é incapaz
de buscar algo totalmente novo. O que pode fazer é apenas “projetar” suas próprias
idéias ou provocar um estado “devocional” ou estático. Estamos, portanto, entrando
num mar desconhecido, e cada um tem de ser seu próprio capitão, piloto e marujo.
(…) Não há guia, e esta é a beleza da existência. (…) Essa viagem é um “processo”
de autoconhecimento (…) (O Homem Livre, pág. 95)
Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um
caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do
coração, mas um preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a
verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e esta é a primeira
ilusão a que estais presos. Nisso há imitação, deformação. (…) Digo que cada um
deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um
deva delinear um caminho para si próprio, (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934,
pág. 111-112)
É só quando o pensamento está libertado dos valores materiais criados pela mão ou
pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade.
Tendes de navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A realidade não pode
ser comunicada a outro; porquanto, o que se comunica é o que já se sabe, e o que é
sabido não é o Real. (…) (O Caminho da Vida, pág. 10)
Sinto que ninguém pode guiar outrem à verdade, porque a verdade é infinita; é uma
terra sem caminhos, e ninguém pode dizer-vos como encontrá-la. Ninguém pode
ensinar-vos a ser artista; alguém poderá apenas dar-vos os pincéis e a tela e mostrar-
vos as cores a usar. (…) Só quando estais absolutamente desnudo, livre de todas as
técnicas, livre de todos os instrutores, é que descobris. (Palestras na Itália e Noruega,
1933, pág. 42)
(…) Precisais buscar a verdade por vós mesmos, como indivíduos, visto que ela mora
em vós, não no exterior. Quando o indivíduo se houver compreendido a si mesmo,
viverá num ambiente de perfeita harmonia e não contribuirá para a desordem do
mundo. (Coletânea de Palestras, 1930-1934, pág. 22)
Ora bem, quereis que eu vos diga o que é a Realidade. Mas pode o indescritível ser
expresso em palavras? Pode-se medir o imensurável? Pode-se aprisionar o vento
numa mão fechada? (…) No momento em que traduzis o incognoscível no que
conheceis, não é mais o incognoscível o que traduzistes (…) (Idem, pág. 116)
(…) Conseqüentemente, em vez de procurardes aquele homem que alcançou a
Realidade, ou perguntardes o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção
à percepção do “que é”? Encontrareis, então, o desconhecido, ou, antes, o
desconhecido virá ao vosso encontro. (…) (Idem, pág. 117)
(…) Não pode a realidade manifestar-se àquele que quer “vir a ser”, àquele que luta;
ela só pode manifestar-se àquele em que há o “ser” (…) que compreende o “que é”.
Assim como a solução de um problema está contida no próprio problema, assim
também a realidade está contida no “que é”, e se formos capazes de compreender o
“que é”, compreenderemos a Verdade. (…) (Idem, pág. 117)
(…) Assim, pois, não está longe de nós a Realidade, mas nós a distanciamos, (…). A
Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o
atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está
preso na rede o tempo. (…) Essa libertação só é possível mediante meditação correta,
que significa ação completa. (…) (Idem, pág. 117)
Busca da Verdade; Meios de Fuga, Busca sem
Motivo
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 21:57
Vejamos, pois, se nos é possível examinar juntos este problema real da busca, (…).
Pela busca, é possível achar algo novo? Por que buscamos, e que é que buscamos?
Qual o motivo, o processo psicológico que nos impele a buscar? (…). Sem a
compreensão desse estímulo, a mera busca será muito pouco significativa, (…). Mas,
se pudermos descobrir todo o mecanismo desse processo de busca, então é bem
possível que cheguemos a um ponto em que não há mais busca - e talvez seja esse o
estado necessário para o aparecimento de algo novo. (Da Solidão à Plenitude
Humana, pág. 21-22)
(…) Por certo, aquilo que é novo não pode ser reconhecido. O reconhecimento só
ocorre através da memória, da experiência acumulada a que denominamos saber. Se
reconhecemos uma coisa, essa coisa não é nova, (…) tudo o que achamos é coisa já
experimentada, procedendo portanto do “fundo”, da memória. (…) Deus, a verdade,
(…) não é reconhecível, deve ser algo totalmente novo; (…). (Idem, pág. 23)
Não vos parece importante investigarmos o que é que estamos buscando, e por que
buscamos alguma coisa? Por que existe em nós esta extraordinária ânsia de procurar
e achar, e por que desperdiçamos tanta energia nesta luta? (…). É bem provável que
a mente só possa descobrir o que se acha além das medidas do tempo, quando não
está mais a buscar - mas isso não significa deva ela estar contentada, satisfeita. (…)
(Visão da Realidade, pág. 215)
(…) E por que é que buscamos? É por nos sentirmos muito perturbados, muito
descontentes com o que somos? Se somos feios, queremos ser belos; se somos
ambiciosos, queremos preencher a nossa ambição; se temos talento, queremos tornar
esse talento mais vigoroso; (…) se somos medíocres, queremos brilhar; se somos
intelectuais, queremos dar significação à vida; se somos religiosos, queremos achar o
que reside além da mente, indagando, rogando, rezando, sacrificando, cultivando,
disciplinando, etc. (…). (Idem, pág. 218)
Esse esforço intenso, esse processo de ajustamento é a nossa vida, (…). Nossa vida
é um perpétuo campo de batalha, de manhã à noite, e, ignorando a significação dessa
luta, recorremos a outra pessoa, (…). Entregamo-nos às crenças, aos livros, aos guias
(…).(Visão da Realidade, pág. 218-219)
Assim, pois, que é que desejamos? Vendo-nos atribulados, queremos paz, vendo-nos
em conflito, queremos acabar com o conflito. (…) Lutamos para obter uma coisa, e,
depois de obtê-la, seguimos avante, querendo mais. Nossa vida é uma série de
exigências de conforto, de segurança, posição, preenchimento, felicidade,
reconhecimento, e temos também raros momentos em que desejamos descobrir o que
é a verdade, o que é Deus. (…) (Idem, pág. 219)
(…) Andamos de um padrão para outro, de uma gaiola para outra, de uma filosofia ou
sociedade para outra, esperando encontrar a felicidade, (…) nas relações com
pessoas, (…) de um retiro tranqüilo (…). E achamos que, se não buscarmos, iremos
deteriorar-nos, estagnar-nos (…). (Idem, pág. 219-220)
Ora, não vos parece de todo fútil essa busca? Estar cativo na gaiola de dada
disciplina, o ser impelido de uma gaiola, de um sistema, de uma disciplina para outra,
isso, evidentemente, não tem significação alguma. Assim sendo, devemos investigar
(…) por que buscamos. (…) (Idem, pág. 220)
Percebestes, por vós mesmos, a futilidade desta eterna busca com um “motivo” e, por
conseguinte, a vossa mente está silenciosa, quieta, não há movimento algum de
busca; e essa total tranqüilidade da mente pode ser o estado em que se torna
existente o atemporal. (Idem, pág. 222)
Comecemos pelo que está perto, para irmos longe. Que entendeis por “busca”? Estais
em busca da Verdade? E ela pode ser achada pela busca? (…) Busca implica
conhecimento prévio, implica algo que já se sentiu e conheceu. (…) A verdade é algo
que podemos conhecer, apanhar e guardar? O conhecimento que dela temos, não é
uma “projeção” do passado e portanto (…) simples lembrança? (…) E a mente não
deve estar tranqüila para que a Realidade possa existir? A busca é esforço para
ganhar o mais ou o menos (…); e enquanto a mente for o ponto de concentração, o
foco do esforço, do conflito, pode ela estar tranqüila alguma vez? Pode a mente tornar-
se tranqüila por meio de esforço? (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 76-77)
A verdade não é uma coisa que se possa experimentar. A verdade não pode ser
buscada e achada. Está fora do tempo. E o pensamento, que é tempo, nenhuma
possibilidade tem de buscá-la e “pegá-la”. (…) Quando a mente está a buscar uma
experiência, por mais maravilhosa que seja, isso significa que o “eu” a está buscando -
o “eu”, que é o passado, com todas as suas frustrações, aflições, esperanças. (A
Questão do Impossível, pág. 72)
(…) Esse estado psicológico que cessa de buscar a experiência não significa paralisia
mental; ao contrário, é a mente aditiva, acumulativa, que começa a definhar. Acumular
é um ato mecânico, repetitivo; tanto a renúncia quanto a mera aquisição são atos
mecânicos de imitação. Torna-se livre a mente que destrói este mecanismo de
acumulação e defesa; dessa maneira ela se torna indiferente ao ato de experimentar.
(Diário de Krishnamurti, pág. 51)
Enquanto existir uma entidade a buscar e uma coisa a ser buscada, tem de existir o
experimentador, aquele que reconhece e que constitui o núcleo (…) egocêntrico.
Desse centro se originam todas as atividades, nobres e ignóbeis: desejo de riquezas e
poder, (…) impulso de buscar a Deus, (…). (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 46)
Quando a mente detém a busca por ter compreendido o total significado da busca, não
cairão por si mesmas as limitações que ela a si própria impôs? E ela não se torna
então o Imensurável, o Desconhecido? (Idem, pág. 47)
Vós sois simples e ignorante? Se realmente o fôsseis, encontraríeis um grande deleite
no iniciar a verdadeira busca; (…) A sabedoria e a verdade vêm ao homem que diz,
verdadeiramente: “Sou ignorante, não sei”. São os simples, os inocentes, e não os que
estão repletos de saber, que verão a luz, porque eles são humildes. (Reflexões Sobre
a Vida, pág. 140)
Sabedoria, Não se Aprende de Outros nem de
Livros
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 22:00
Krishnamurti: - Que é saber? Por certo, o saber é o princípio acumulador que existe
em todos nós, e que é a memória. (…) Saber é um processo de verbalização; e tudo
aquilo que foi acumulado, e que é experiência, memória, ou saber, nunca trará
verdade. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 79)
Digo que a sabedoria não pode ser comprada. A sabedoria não se encontra no
processo de,acumulação; não é o resultado de inúmeras experiências; nem é
adquirida pelo estudo. A sabedoria, a vida mesma, só pode ser entendida quando a
mente estiver livre desse senso de busca, dessa procura de conforto, dessa imitação,
pois estes são apenas meios de fuga (…). (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág.
163-164)
(…) A sabedoria não é uma coisa que venha por meio de orientação, do seguir, por
meio da leitura de livros. Não podeis aprender a sabedoria de segunda mão;
entretanto, é isto o que estais tentando fazer. Assim, dizeis: “guiai-me, auxilai-me,
libertai-me”. (…) (Idem, 1933, pág.194)
(…) O conhecimento nada tem que ver com a sabedoria. A sabedoria não pode ser
comprada; é natural, espontânea, livre. Não é mercadoria que possais comprar de
vosso guru, instrutor, ao preço de disciplinas. (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-
1934, pág. 101-102)
Ora, confiamos demais no saber. O homem que escreve um livro sobre a mente ou
que disserta a respeito da mente, aceitamo-lo como autoridade. Damos um nome ao
seu pensamento, e o esposamos. Nunca nos pomos a investigar o inteiro processo do
nosso pensar, para descobrirmos por nós mesmos. E é por isso que temos tantos
líderes, cada um fazendo valer a sua autoridade, e nos dominando. E pode alguém
lançar fora tudo isso e descobrir as coisas por si mesmo? Porque (…) o saber é um
obstáculo à compreensão. (Viver sem Temor, pág. 14)
Se um homem deseja construir uma ponte, para isso ele necessita, naturalmente, de
saber, (…) de uma certa capacidade técnica. Mas, pode-se ter de antemão o
conhecimento, isto é, a compreensão, de uma coisa viva? O que chamais “eu” é uma
coisa viva, da qual não se pode ter conhecimento prévio. Pode-se ter experiências a
ele relativas, ou conhecer o que outros disseram a seu respeito, mas se um de nós se
põe a examinar a si mesmo, com um conhecimento prévio, nunca descobrirá o que é
realmente. (…) (Idem, pág.14)
Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o
amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-
nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria
não pode ser substituída pela erudição, (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª
ed, pág. 78)
(…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas se a mente e o
coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte
com uma explicação, a vida se toma vazia e sem sentido. (…) (Idem, pág. 78)
(…) Sabeis, a maioria de nós deseja adquirir sabedoria ou verdade por meio de
outrem, mediante algo vindo do exterior. Ninguém vos poderá transformar num artista;
só vós próprios podereis fazê-lo. É isto que desejo dizer: posso dar-vos tinta, pinceis e
tela, mas vós próprios tendes de vos tornar o artista, o pintor. (…) (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 40-41)
Imaginais que qualquer sociedade ou livro vos pode dar sabedoria? Livros e
sociedades podem fornecer-vos noções; (…). Se a sabedoria pudesse ser adquirida
por meio de uma seita ou sociedade religiosa, todos seríamos sábios, (…). A
sabedoria, porém, não se adquire por essa forma. A sabedoria é a compreensão do
fluxo contínuo da vida ou da realidade, e somente é aprendida quando a mente está
aberta e vulnerável, isto é, quando a mente não está mais embaraçada pelos seus
próprios desejos de auto-proteção, reações e ilusões. (…) (Palestras no Brasil, pág.
48)
Vamos averiguar o que entendeis por sabedoria, (…). Podeis conhecer, ou adquirir a
sabedoria, ou só é possível conhecer fatos, e adquirir sapiência? Por certo, sapiência
e sabedoria são duas coisas diferentes. Podeis saber tudo a respeito de uma coisa;
mas será isso sabedoria? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed, pág. 84-85)
A sabedoria terá de ser adquirida aos poucos, em vidas consecutivas? Sabedoria será
acumulação de experiência? Aquisição implica acumulação; experiência implica
resíduo. (…) Esse processo de acumulação será sabedoria (…) Pode o homem que
sabe ser sábio? O homem que sabe não é sábio, e o que não sabe é sábio. (Idem,
pág. 85)
A verdade não pode ser acumulada. Ela não é experiência. Ela é “experimentar” - em
que não há experimentador nem experiência. Conhecimento implica alguém que
acumula, que junta; (…) A sabedoria é como o amor; e, privados desse amor,
queremos cultivar a sabedoria, (…) (Idem, pág. 86)
Uma vida primitiva não é uma vida espiritual. O primitivo tem tanto medo como o
chamado civilizado, e a diferença é só que seus temores são mais rudimentares, mais
superficiais. Mas, em certo sentido, é necessário que o indivíduo “sofisticado”,
eminentemente culto, muito sabedor se torne primitivo. Precisa tornar-se novo,
“inocente”, morrer para todo o saber que acumulou. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed, pág. 59)
(…) A sabedoria não tem autoridade; ela vem à existência quando a mente começa a
compreender as profundezas e amplidões da sua própria natureza, sobre as quais não
é possível especular. (…) (Claridade na Ação, pág. 147)
Vede, (…). Não interpreteis “sem conhecimento” como um estado de ignorância. Ser
“sem conhecimento” é possuir a sabedoria; porque o conhecimento tem continuidade,
e a sabedoria não tem. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 29)
(…) A mente silenciosa - mas não silenciada - só ela pode perceber o Imensurável. A
solução do problema (…) está na compreensão das relações; por conseguinte a
meditação é o começo do autoconhecimento e o autoconhecimento é o começo da
sabedoria. (…) Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que
está tranqüila encontrará o Atemporal, que é o Imensurável, surgido na existência. (…)
A mente tem de ser induzida a recebê-lo de maneira nova, de cada vez; e a mente que
acumula saber, virtude, é incapaz de receber o eterno (Nosso Único Problema, pág.
77)
Originalidade Espiritual; Mente de Segunda Mão
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 22:05
Quer-me parecer que muito raramente fazemos a nós mesmos uma pergunta
fundamental; e, quando a fazemos, em geral a ela respondemos em conformidade
com nosso gosto particular, nossa fantasia ou crença, e, conseqüentemente, a
pergunta original - a pergunta essencial, fundamental - fica sem resposta. (…) E eu
penso que não só devemos fazer perguntas fundamentais, mas também procurar
descobrir as respostas verdadeiras, originais. (O Descobrimento do Amor, pág. 139)
Nesta manhã desejo falar sobre o processo de ajustamento; isto é, desejo averiguar
se existe alguma coisa de original, (…) completamente isenta de ajustamento e que
não seja mera abstração, uma simples idéia, porém fato tão real como qualquer fato
da vida diária. Assim sendo, a pergunta fundamental que fazemos a nós mesmos é
esta: até onde é possível eliminar o ajustamento? É possível eliminar inteiramente o
ajustamento e, desse modo, permitir a existência do original? (…) (Idem, pág. 139)
Por certo, só livres do ajustamento poderemos descobrir por nós mesmos o que é
original, essencial, verdadeiro; e, a menos que nós próprios o descubramos,
viveremos sempre uma vida “falsificada”, (…) de “segunda mão”, de imitação. (…)
(Idem, pág. 140)
Em geral, nossa vida é sem originalidade. Não sabemos, por nós mesmos, o que é
original, nem mesmo se existe algo que se possa chamar “original”. A meu ver, a
palavra “original” é de ordinário mal empregada. Falamos, muitas vezes, sobre
literatura “original”, um quadro “original”, uma maneira “original” de pensar ou de
expressar-nos; (…). Não me parece adequado o emprego da palavra “original” em tais
casos. Há certa coisa original que as religiões de todo o mundo (…) sempre andaram
buscando. (…) (Idem, pág. 140)
Agora, antes de tudo mais, estamos totalmente cônscios desse processo de
ajustamento que se verifica em cada um de nós. (…) É bem evidente que, quanto mais
esforços fazemos, tanto maiores se tornam o conflito e a confusão e, por conseguinte,
(…) nossa aflição e dor. Cabe-nos, pois, averiguar se é possível vivermos sem
esforços, isto é, vivermos originalmente e, por conseguinte, livres de todo ajustamento.
(Idem, pág. 141)
Ora, para se alcançar esse ponto, devemos primeiramente estar cônscios (…) da
natureza da mente que se ajusta. (…) Todo ajustamento implica esforço, não? E
quando há esforço (…) não há verdadeiras relações. Se me esforço para ser bondoso,
afetuoso ou cortês para convosco, isso nada significa. A bondade, a delicadeza, a
afeição emanam de um estado mental em que não existe esforço algum; (…) (Idem,
pág. 141 142)
Assim, para a mente que leva essa carga constituída pelo medo, o ajustamento, o
pensador, não é possível a compreensão daquilo que se pode chamar o original. (…)
Quando a mente humana está livre de todo temor, não está então - em seu desejo de
saber o que é original - em busca de prazer para si própria, nem de nenhuma via de
fuga e, por conseguinte, em sua investigação já não existe autoridade alguma. (…)
(Idem, pág. 148)
(…) Só então a mente tem a possibilidade de descobrir, por si própria, o que é original
- descobri-lo não como mente individual, porém como ente humano. Não existe mente
“individual”, absolutamente. Somos totalmente relacionados. Compreendei isso, (…). A
mente não é uma coisa separada; é uma totalidade. Todos vivemos a ajustar-nos,
todos temos medo, todos estamos a fugir. E, para compreendermos, cada um de nós -
não como indivíduo, porém como ente humano total - o que é o original, precisamos
compreender a totalidade do sofrimento humano. (…) (O Descobrimento do Amor,
pág. 148)
(…) Do contrário, somos entes humanos “de segunda mão”; e porque somos
imitações, entes humanos falsificados, o sofrimento nunca tem fim. Assim, pois, o
findar do sofrimento é, em essência, o começo do original. (…) (Idem, pág. 148)
Conforme o dicionário, a palavra “autoridade” deriva de “autor”: “aquele que lança uma
idéia original, que cria alguma coisa inteiramente nova”. Esse homem estabelece um
padrão, um sistema baseado em suas idéias; (…). O seguidor aceita a “autoridade”, a
fim de alcançar o que promete o seu sistema de filosofia ou de idéias; a esse sistema
se apega, dele fica dependente (…). O seguidor, pois, é um ente humano sem
originalidade; assim é a maioria das pessoas. (…) (A Questão do Impossível, pág. 22)
Poderão pensar que têm idéias originais, na pintura, na literatura, etc., mas,
essencialmente, já que estão condicionados para seguir, imitar, ajustar-se, tornaram-
se entes humanos de “segunda mão, (…). Esse é um dos aspectos da natureza
destrutiva da autoridade. (Idem, pág. 22)
Senhores, (…). Já experimentastes alguma vez reunir toda a vossa energia - física,
emocional, mental, visual, (…) e “com ela ficar”, completamente, tranqüilamente? (…)
Se a energia tem algum movimento em qualquer direção (…) está sendo dissipada.
Mas, quando toda a nossa energia fica completamente imóvel, inicia-se um movimento
que é original e, por conseqüência, “explosivo”. (…) (Idem, pág. 149)
Experimentai o, uma ocasião, e vede se sois capaz disso. Mas, para tanto, requer-se
uma grande soma de inteligência, extraordinária vigilância; (…). Se puderdes reunir
toda a vossa energia, sem esforço, vossa mente estará então transbordante de
energia, sem atrito de espécie alguma. Verifica se, então, uma “explosão” - e, dessa
explosão, surge o original. (Idem, pág. 149)
Vós não estais habituados a investigar, (…) a observar-vos; costumais ler o que outras
pessoas dizem, a citar Sankara, Buda (…). Bom seria que nunca dissésseis uma
palavra que não represente um descobrimento feito por vós mesmos, (…) que vós
mesmos não conheçais. Isso significa lançar para o lado todos os gurus, todos os
livros sagrados ou religiosos, todas as teorias, tudo o que disseram os filósofos -
embora tenhais de conservar os vossos livros técnicos e científicos. (O Novo Ente
Humano, pág. 63)
Nunca digais nada que não compreendais, que vós mesmos não tenhais descoberto.
Vereis, então, como a atividade da mente sofrerá uma extraordinária transformação.
Ora, nós, entes humanos “de segunda mão”, queremos descobrir uma maneira de
viver realmente livre do tempo, porque o pensamento é tempo, e o tempo forma as
coisas gradualmente. Gradualidade implica tempo. (Idem, pág. 63-64)
(…) Sois capazes de citar uma dúzia de livros, mas não conheceis a vós mesmos.
Sois entes humanos “de segunda mão”, e os problemas exigem uma mente de
“primeira mão”, que esteja diretamente em contacto com o problema, não uma mente
(…) embotada. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 24)
Para esse homem que total e completamente rejeita a palavra, o símbolo e sua
influência condicionadora, a Verdade não é uma coisa de segunda mão. Se o tivésseis
escutado realmente, senhor, saberíeis (…) que a aceitação da autoridade é a negação
mesma da Verdade, (…) que devemos ficar fora de toda cultura, tradição e moralidade
social. (…) Ele rejeita totalmente o passado, seus instrutores, seus intérpretes, suas
teorias e fórmulas. (A Outra Margem do Caminho, pág. 12)
Vede, senhor, (…). Cada um tem de descobrir a Verdade por si próprio. A Verdade
não é uma coisa “de segunda mão”. Não podeis adquiri-la por intermédio de um guru,
de um livro. Para conhecê-la, tendes de aprender; (…). E a beleza do aprender é o
“não saber”. (…) A Verdade não é uma coisa “de segunda mão”; para descobrirdes,
precisais de paixão, de “intensidade”. Inteligente, pois, é a mente que está
aprendendo, e não aquela que repete o que aprendeu. (…) (O Novo Ente Humano,
pág. 160)
(…) Compreendemos a vida, se temos a mente cheia de coisas ditas por outras
pessoas, se seguimos a experiência, o saber alheio? Ou só vem a compreensão
quando a mente está quieta? - mas não quando foi aquietada, (…). Com o indagar,
procurar, perscrutar, a mente se torna, inevitavelmente, tranqüila, e então o problema
revela todo o seu significado; (…). (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 190)
Para a maioria de nós, isso é de segunda mão, porque somos gente de segunda mão
(…). Todo nosso conhecimento é de segunda mão, como o são nossas tradições, (…).
Vemos então que se trata de nossa própria percepção direta e não um conhecimento
de segunda mão, aprendido de outro? Se foi aprendido de outro, então deve ser
descartado em sua totalidade, (…). Se desprezaram o que outros - incluindo o que
lhes fala - hão dito, então realmente estão aprendendo, não é verdade? (Idem, pág.
109-110)
Que é para vocês o pensar? (…) Quase todos nós temos nos tornado pessoas de
segunda mão; lemos muitíssimo, vamos a uma universidade e acumulamos uma
grande quantidade de conhecimentos, de informação que se deriva do que outras
pessoas pensam ou do que outros têm feito. E nós citamos esse conhecimento que
temos adquirido e o comparamos com o que se está dizendo. Não há nada original, só
repetimos, repetimos, repetimos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 14)
(…) Quando tendes esse desejo, essa capacidade de vos encher com o Seu gênio,
com a Sua força, com a Sua nobreza, então vós próprios vos enobreceis e aprendeis a
refletir a Sua divina originalidade, todas as fontes de beleza, todas as fontes de
criação; e as tentativas de ser original, belo, criador, são de pouco proveito se não
tivermos a compreensão e a capacidade de alcançar a fonte das coisas. (…) (O Reino
da Felicidade, pág. 28)
Deus, Nomes, Atributos: Absoluto, Supremo,
Inefável
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 22:09
Ides a um templo. Lá vedes uma imagem suave, enfeitada de flores, e fazeis puja
diante dela. Podeis ir mais além e criar uma imagem na vossa mente, uma idéia
nascida da vossa tradição, do vosso fundo; e a essa imagem chamais vosso Deus.
(…) Isso é Deus? Ou Deus é algo inimaginável, imensurável pela mente? (Idem, pág.
137)
Deus é algo completa e totalmente insondável por nós, e Ele se manifesta quando
está quieta a nossa mente, sem projetar, sem lutar. Quando a mente está tranqüila,
tem-se então a possibilidade de saber o que é Deus. (Idem, pág. 137-138)
O Deus por vós inventado não é Deus. A coisa feita pela mão, a imagem do templo,
não é Deus, e também a coisa “feita” por vosso pensamento não é Deus. E é disso
que viveis: da imagem feita pela mão ou pela mente. (O Novo Ente Humano, pág. 151)
Mas, se realmente desejais investigar se existe ou não uma realidade atemporal, fora
do campo do pensamento, cumpre-vos, então, compreender a natureza do
pensamento. Mas, se meramente perguntais: “posso achar Deus?”, podeis achá-lo,
(…) mas não será a Verdade, (…) o Real. (Idem, pág. 151)
Minha doutrina difere (…). Eu nunca disse que não há Deus. O que eu disse é que só
existe Deus conforme se manifesta em cada um de nós, e que, quando houverdes
purificado aquilo que está dentro de vós mesmos, achareis a Verdade. É claro que
Deus existe; mas não vou empregar a palavra Deus, porquanto ela assumiu um
significado muito especial e estreito.
Para uns ela sugere um punho possante (…); para outros, um ser de longas barbas;
para outros, uma Inteligência Onipotente, Onisciente e Suprema. Isso eu prefiro
chamar Vida, porque nos aproxima mais da Verdade. (…) (Que o Entendimento seja
Lei, pág. 11)
Pergunta: Que pretendeis ao dizer que não há Deus?
Krishnamurti: Eu nunca disse que não há Deus. Tenho dito muito claramente. Para
descobrir se há ou não há Deus, é necessário abolir, apagar da mente todo e qualquer
conceito relativo a Deus. (…) precisais apagar da mente todas as “informações” que
tendes a respeito de Deus. (A Mutação Interior, pág. 69)
As pessoas que vos deram tais “informações” podem estar muito enganadas; tendes
de descobrir tudo por vós mesmo. E, para o descobrirdes por vós mesmo, deveis
livrar-vos de todas as autoridades, compreender a estrutura total (…) (Idem, pág. 69)
Se não há compreensão de tudo isso, a mera busca daquilo que chamais Deus nada
significa. Deus é algo extraordinário, não imaginável por nenhuma espécie de crença.
Vós tendes de descobri-lo. (…) Para descobrirdes, deveis primeiramente estar livre
(Idem, pág. 69-70)
Krishnamurti: Que entende você por Deus? Eu jamais emprego a palavra “Deus” para
indicar algo que não seja Deus. O que o pensamento tem inventado não é Deus. Se
isso tem sido inventado pelo pensamento, segue dentro do campo do tempo, (…) do
material. (Tradición y Revolución, pág. 291)
Krishnamurti: Porém ele pode inventar Deus devido a que não poder ir mais longe. O
pensamento conhece suas limitações, por isso trata de inventar o ilimitado a que
chama Deus. Essa é a situação. (Idem, pág. 291)
Entretanto, toda igreja, toda organização religiosa, toda seita está sempre a falar de
Deus; e os que crêem em Deus têm visões que fortalecem a sua crença. Ora, o que
podemos reconhecer é sempre coisa já conhecida e, portanto, não pode ser o
verdadeiro. O que é verdadeiro nunca foi anteriormente conhecido e, por conseguinte,
a mente deve compreendê-lo de maneira nova, como coisa nova; (…) (Idem, pág. 42-
43)
(…) Afinal, o atemporal, a eternidade, o inefável é isto: quando a própria mente é o
desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de ontem, do
saber, de experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais
chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Idem, pág. 44)
Senhores, Deus não é uma coisa que se pode adquirir como se adquire (…) uma
virtude. É algo incomparável, atemporal, inimaginável, inefável: não podeis ir a Ele. Ele
deve vir a vós, e tão somente quando o vosso espírito não mais está buscando. (…)
Quando a mente já não compara, não adquire - só a essa mente que está tranqüila
pode a Realidade manifestar-se; (…). Tereis (…) a mente que já não compara, já não
adquire, a mente que ingressou num “estado de ser” - e nesse ser a Realidade
penetra. (O Problema da Revolução Total, pág. 48)
Krishnamurti: Como sabeis que atingi o real? Para sabê-lo, seria necessário que vós
também o tivésseis alcançado. (…) Ora, por certo, meu atingimento da realidade nada
tem que ver com o que estou dizendo, e o homem que venera outro homem, por ter
esse outro alcançado a realidade, está, em verdade, rendendo culto à autoridade e,
por conseguinte, nunca encontrará a verdade. (…) (A Primeira e Última Liberdade,
pág. 257)
Desejais que eu vos diga o que é a realidade. Pode o indescritível ser posto em
palavras? Pode-se medir o imensurável? (…) Se o formulais, é o real? Naturalmente
que não, (…). No momento em que traduzis o incognoscível no conhecido, ele deixa
de ser o incognoscível. Entretanto, é isso o que buscamos, (…) (Idem, pág. 258)
A Realidade, ou Deus, (…) não se alcança por meio de conflito. Pelo contrário, é
imprescindível a extinção do “eu”, do centro de acumulação de conhecimentos, de
virtude, de experiência (…). Só então, sem dúvida, é possível surgir aquele estado de
Realidade. (A Renovação da Mente, pág. 25-26)
(…) Esta é a nossa vida: um vão processo de mentir, enganar, tentar tornar-nos algo
importante, lutar para dominar, reprimir. E pensais que essa vida tem alguma relação
com a Realidade, a Bondade, a Beleza, Deus, com algo que não é de procedência
humana? Entretanto (…) queremos trazer para ela aquela Realidade e tratamos de
freqüentar o templo, de ler livros sagrados, (…). Queremos trazer aquela imensidão,
aquela imensurabilidade para dentro do “mensurável”. E tal coisa é possível? (O
Homem Livre, pág. 182)
Vedes como a mente engana a si própria? Podeis trazer o desconhecido, aquilo que
não pode ser experimentado, para dentro do “condicionado”, para o reino do
conhecido? Claro que não. (…) O mais que podeis fazer é observar o funcionamento
de vossa própria mente, que é o campo do conflito, da angústia, do sofrimento, da
ambição, do preenchimento, da frustração. Isso vós podeis compreender, e suas
estreitas fronteiras podem ser derrubadas. (…) Quereis “capturar” Deus e prendê-lo na
gaiola do “conhecido” - a gaiola que chamais “o templo”, “o livro”, “o guru”, “o sistema”,
e com isso vos satisfazeis. Assim agindo pensais que vos estais tornando muito
religiosos. (…) (Idem, pág. 182)
Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? (…) A criação liberta a mente
da mediocridade e da deterioração. E se é este o estado que procuro, necessito de
visão muito clara, a fim de não criar ilusão e de libertar a mente para o verdadeiro
descobrir; o que significa que ela, a mente, deve achar-se totalmente tranqüila, para
descobrir. Porque o estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus
não pode ser chamado: ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. (…) (Poder
e Realização, pág. 39-40)
Para mim há Deus, uma vivente, eterna realidade. Mas essa realidade não pode ser
descrita; cada um precisa realizá-la por si. Quem quer que procure imaginar o que é
Deus, (…) a verdade, apenas está procurando uma fuga, um abrigo da rotina diária do
conflito. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 96)
Muitos dentre nós sentem que há uma vida verdadeira, algo de eterno, mas são tão
raros os momentos em que sentimos isso, que esse algo de eterno se vai retraindo
mais e mais e nos parecendo menos real. (Coletânea de Palestras, pág. 43-44)
Mas, para mim, há realidade; há uma realidade eterna e vivente à qual podeis chamar
Deus, imortalidade, eternidade (…). Há alguma coisa viva, criadora, que não pode ser
descrita, porque a realidade frustra toda descrição. (…) Não podeis saber o que seja
amor pela descrição de outrem; para conhecerdes o amor é preciso que vós mesmos
o experimenteis. (…) (Idem, pág. 44)
Digo-vos que não posso descrever, não posso exprimir em palavras essa vivente
realidade que está além de toda idéia de progresso, (…) de crescimento. Cuidado com
o homem que tenta descrever essa vivente realidade; ela não pode ser descrita, tem
de ser experimentada, vivida. (Idem, pág. 44)
Para mim, existe uma realidade, uma verdade viva e imensa; e para compreendê-la é
necessária absoluta simplicidade do pensamento. O que é simples é infinitamente
sutil, o que é simples é extremamente delicado. (…) (A Luta do Homem, pág. 136)
Afirmo que existe essa realidade viva, chamai-a Deus, ou como quiserdes, e que ela
não pode ser encontrada nem sentida pela busca. Tudo que implica busca, implica
contraste e dualidade. (…) (Idem, pág. 137)
(…) Digo que existe uma realidade viva; chamai-a Deus, Verdade ou o que quiserdes,
(…) - mas, para compreender isto, é preciso haver suprema inteligência e, portanto,
não pode haver conformidade, (…) mas sim o exame ou a dúvida de todas as coisas,
falsas e verdadeiras, nas quais a mente está presa. (…) (Palestras em Auckland,
1934, pág. 15)
David Bohm: Contudo, penso que as pessoas achavam que Deus era uma base que
não era indiferente à humanidade. Veja, elas podem tê-la inventado, mas era nisso
que elas acreditavam (…)
(…) Nessa liberdade, nessa solidão, há uma compreensão que transcende todas as
criações da mente. Não indaguemos se a mente pode jamais ficar livre do
condicionamento, da influência; averiguaremos isso à medida que formos avançando
no autoconhecimento e na compreensão. O pensamento, que é um resultado, não é
capaz de compreender o Incausado. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249)
Várias vezes tenho explicado (…). Para compreender o incriado, o não artificial, o
pensamento-sentimento deve transcender aquilo que foi criado, o resultado do “eu”;
(…). E só com essa libertação, só quando o observador e o observado desaparecem,
há o Imensurável. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 127)
O que foi criado não pode pensar no Incriado. Pode pensar somente nas próprias
criações, que não são o Real. (…) Podeis especular acerca do incognoscível, mas não
podeis pensar a seu respeito. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 251)
(…) A realidade não é o Incriado? Não deve, pois, a mente desistir de criar, de
formular, para que possa compreender o Incriado? Não deve a mente-coração ficar
absolutamente quieta e silenciosa para conhecer o Real? (Idem, pág. 54)
No fim de tudo, para compreender a Vida, Deus, o Desconhecido, (…) têm a mente e
o coração de estar não preparados, inseguros. Na vitalidade da insegurança reside o
Eterno. (Palestras em New York City, 1935, pág. 39)
Compreender a imortalidade, a Vida, é coisa que exige grande inteligência (…). Isso
exige um incessante discernimento que só pode existir quando houver constante
penetração, o demolir das paredes da tradição, da aquisitividade e das reações
autoprotetoras. Podeis fugir para alguma ilusão a que chamais paz, imortalidade,
Deus, porém isso não terá realidade. (…) (Idem, 1935, pág. 44)
Assim, aquela realidade imensurável, inominável, que nenhuma palavra tem, aquela
realidade só se manifesta quando a mente está toda livre e silenciosa, num estado de
criação. O estado de criação não é um simples estado alcoólico, estimulado; mas
quando uma pessoa compreendeu e passou por esse processo de autoconhecimento,
e se acha livre de todas as reações de inveja, ambição e avidez, ver-se-á, então, que
a criação é sempre nova e, por conseguinte, sempre destrutiva. (O Passo Decisivo,
pág. 178)
(…) Essa ação criadora pode ser a Realidade, o Altíssimo, o Sublime, e enquanto a
mente não tiver conhecimento desse estado criador, todo o seu pensar só haverá de
produzir novos sofrimentos. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 19)
Digo que a Vida é uma só, embora as expressões da Vida sejam múltiplas. (…) (Que o
Entendimento seja Lei, pág. 9)
(…) A Verdade, tal como a Vida, é como o raio do sol; se sois sensato, abrir-lhe-eis as
janelas; se não (…) descereis as cortinas. Se estivésseis enamorados da Verdade,
essas imagens não teriam mais valor (…). (Idem, pág. 11)
E para julgar segundo a Verdade, é preciso que estejais apaixonados pela Vida; mas,
então, nunca julgareis, em circunstância alguma. (…) (Idem, pág. 12)
(…) A Verdade, que é a vida, nada tem com pessoa alguma nem com organização
alguma. (…) Não me interessam sociedades, religiões, dogmas; o que me interessa é
a Vida, porque eu sou a Vida. Não almejais a Vida e o preenchimento da Vida, que é a
Verdade; (…). (Idem, pág. 14)
A vida está a todo momento em um estado de nascença, de surgir, de vir a ser. Nesse
surgir,(…) vir a ser por si mesmo, não há continuidade, nada que se possa identificar
como sendo permanente. A vida está em constante movimento, em ação; cada
momento dessa ação jamais existiu anteriormente e jamais existirá de novo. Cada
novo momento, porém, forma uma continuidade de movimento. (Palestras em Ojai,
Califórnia, 1936, pág. 89-90)
O movimento da vida não tem continuidade. Está a cada momento surgindo, vindo à
existência, estando, portanto, num estado de ação, de fluxo perpétuo. (…) (Idem, pág.
90)
Afinal, que é a vida? É uma coisa sempre nova, (…). Uma coisa que se está sempre
transformando, sempre criando um sentimento novo. Hoje jamais é igual a ontem, e
esta é a beleza da vida. Podemos, vós e eu, enfrentar cada problema de maneira
nova? (…) Nunca podereis, se estais carregado das lembranças de ontem. (…) (A
Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 262)
Existe um movimento, um processo de vida, sem fim, que pode ser chamado infinito.
Pela autoridade e imitação, nascidas do medo, cria a mente para si própria múltiplas
falsas reações, e por meio delas limita-se a si própria. (Palestras em Ojai, Califórnia,
1936, pág. 19-20)
(…) Quando já houverdes reconhecido essa Lei, que é universal, a Vida una em todas
as coisas, então vivereis em verdadeira amizade e afeição a todos. (O Reino da
Felicidade, pág. 69)
Mas, primeiramente, (…) tendes de tornar esse templo, que é o corpo físico, perfeito,
forte e realmente belo. Cada gesto, cada movimento, cada ação (…) deve ser apurado
e belo, e deve representar o templo em que habita a Eternidade (…). (O Reino da
Felicidade, pág. 25)
(…) Mas, para que compreendam o eterno, precisam eles saber que a Verdade é uma
só, que a Vida é uma só, embora essa Vida se expresse de muitas maneiras. (A
Finalidade da Vida, pág. 5)
Livre é o homem que vive no Eterno/ Porque a Vida é. (A Canção da Vida, 4ª ed.,
1982 VI, 11, pág.13)
Ali está a unidade de toda a Vida/ Ali está a silenciosa Fonte/ que nutre os vertiginosos
mundos. (Idem, X, 2, pág. 20)
Dessa Vida, imortal e livre/ Eu sou a eterna fonte/ Eis a Vida que eu canto. (Idem, VII,
8, pág. 17)
Desconhecido, Conhecido, Atemporal; Real,
Eterno
Enviado por ick em sex, 15/08/2008 - 22:14
Tenho sustentado, (…) que a mente precisa ser livre do conhecido para achar algo
que pode ser chamado “o desconhecido”. (…) Ora, pode a mente ser libertada de
todas as suas suposições, crenças, dogmas, hábitos de pensamento? Expressando-o
diferentemente: Pode a mente tornar se simples, para ser capaz de uma experiência
completamente nova - e não uma experiência baseada em coisas velhas, (…)
projetada? Pode a mente estar aberta para o Desconhecido (…), e estar cônscia ao
mesmo tempo do conhecido, como fato presente? (…) (Palestras na Austrália e
Holanda, 1955, pág. 59)
Temos de estar livres de toda crença, o que quer dizer de todo medo, para sabermos
se existe uma Realidade, um estado Atemporal. Para descobrir é preciso estar liberto -
liberto do medo, da avidez, da ambição, da inveja, da competição, da desumanidade;
só então a mente estará lúcida, sem obstáculos, sem conflito nenhum. Só uma mente
assim é serena e apenas a mente serena pode descobrir se existe o eterno, o
inominável. (O Mundo Somos Nós, pág. 50)
O Eterno é sempre o desconhecido para a mente que acumula. O que se acumula são
lembranças - e a memória é sempre o passado, sempre presa ao tempo. O que
resultou do tempo não pode compreender o Atemporal, o Desconhecido. (O Egoísmo
e o Problema da Paz, pág. 222)
Para estarmos cônscios de algo que não seja parte da projeção do conhecido, torna-
se necessária a eliminação, por meio da compreensão, do processo do conhecido. Por
que a mente está sempre apegada ao conhecido? Não é porque a mente está sempre
em busca da certeza, da segurança? Sua natureza intrínseca é o conhecido, o tempo.
Como pode esta mente, que está alicerçada justamente no tempo, no passado,
conhecer o atemporal? Ela pode conceber, formular, imaginar o desconhecido, mas
tudo isso é absurdo. O desconhecido só pode se manifestar quando o conhecido é
compreendido, dissolvido, abandonado. (A Primeira e Ultima Liberdade, 1ª ed., pág.
152)
Ora, a única liberdade verdadeira é a que consiste em estar livre do “conhecido”. (…)
O conhecido tem seu lugar próprio, (…). Preciso conhecer certas coisas para que
possa “funcionar” na vida de cada dia. Se eu não soubesse onde resido, perder-me-ia.
E há o saber acumulado das ciências, da medicina e de várias tecnologias, o qual se
vai acrescentando constantemente. (Experimente um Novo Caminho, pág. 39-40)
Tudo isso está contido no campo do “conhecido”, e tem seu lugar próprio. Mas o
“conhecido” é sempre mecânico. Toda experiência que tivestes, seja do passado
remoto, seja apenas de ontem, está no campo do “conhecido”, e daí, desse fundo,
reconheceis toda experiência ulterior.
(…) Dentro desse campo, pode-se produzir, (…) inventar, (…) pintar quadros, fazer as
coisas mais extraordinárias (…); nada disso, porém, é criação. Essa perene busca de
grandes feitos e de expressão pessoal é de todo em todo pueril, pelo menos para mim.
(Idem, pág. 41)
Ora, estar livre de tudo isso é estar livre do “conhecido”; é o estado da mente que diz:
“Não sei” - e que não está procurando resposta. Essa mente se acha, toda ela, num
estado de “não procura”, de “não expectativa”; e só nesse estado pode-se dizer
“compreendo”. É o único estado em que a mente é livre, e desse estado podeis olhar
as coisas conhecidas (…). Do conhecido não tendes possibilidade de ver o
desconhecido; (…). (Idem, pág. 41)
A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o
atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está
preso na rede do tempo. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117)
Ora, o que continua não tem renovação. (…) Mas é esse findar que nos apavora, não
percebendo que só no findar pode haver renovação, criação, o desconhecido (…).
É só quando morremos em cada dia para tudo o que é velho, é que pode haver o
novo. Não pode existir o novo onde existe a continuidade - pois o novo, o criador, o
desconhecido, o eterno, Deus, (…). (Viver sem Confusão, pág. 31)
Mas é possível à mente pôr de lado todo o seu saber, (…) experiências, (…)
lembranças, (…) achar-se naquele estado de desconhecimento? Esse é o mistério
(…). Não pode a mente tornar-se, ela própria, o desconhecido, ser o desconhecido?
(…) (Poder e Realização, pág. 77)
Isso requer (…) uma liberdade extraordinária das prisões do conhecido. A mente está
sempre tentando, com a carga do conhecido, apoderar-se do desconhecido. Mas
quando a mente está liberta do passado (…) - da experiência, (…) memória , (…)
conhecimento - ela é então o desconhecido, e para essa mente não existe a morte.
(Idem, pág. 77)
Pois bem (…). Afinal, o atemporal, a eternidade inefável é isto: quando a própria
mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de
ontem, do saber, de experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente
jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Percepção Criadora, pág. 44)
Para que o desconhecido venha à existência, a mente precisa estar completamente
vazia; não pode haver o experimentar da realidade, porque o experimentador é o “eu”,
com todas as suas lembranças acumuladas, tanto conscientes como inconscientes. O
“eu”, que é o resíduo de tudo isso, diz: “Estou experimentando”; mas aquilo que ele
pode experimentar é apenas a sua própria projeção. O “eu” não pode experimentar o
desconhecido; só lhe é possível experimentar o conhecido, o que foi projetado de si
mesmo, (…) criação do pensamento como reação do passado. (…) (Por que não te
Satisfaz a Vida?, pág. 35-36)
Senhores (…). Ora, um caminho só pode conduzir a algo que já é conhecido, e o que
é conhecido não é a verdade. Quando conheceis alguma coisa, deixa ela de ser a
verdade, porque é coisa do passado, (…) estacionária. Por essa razão, o que é
conhecido está enredado no tempo, e por conseguinte não é a verdade, (…) o real.
(…) Mas a realidade é o imensurável, o desconhecido. (…) (Uma Nova Maneira de
Viver, pág. 92)
(…) Assim, pois, para se encontrar o que é real, o que é Deus, deve haver liberdade -
precisamos estar livres do temor, (…) do desejo de segurança interior, (…) do medo
do desconhecido. E só então, por certo, estaremos aptos a “experimentar” o
desconhecido (…), e saberemos se existe Deus. (…) (Nós Somos o Problema, pág.
38)
Conceitos, Preliminares II
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:25
Krishnamurti: Que entendemos por experiência? (…) Quando é que dizemos: “Tive
uma experiência?” Dizemo-lo apenas quando reconhecemos a experiência, isto é,
quando existe um experimentador separado da experiência. Isso significa que o nosso
experimentar é um processo de reconhecimento e acumulação. (…) (Por que não te
Satisfaz a Vida?, pág. 34)
Só uma mente livre pode conhecer “o que é” - essa coisa indescritível, que não pode
ser expressa em palavras. (…) Descrevê-la significa cultivo da memória; significa
verbalizá-la, situá-la no tempo; e o que é do tempo nunca pode ser o atemporal (Idem,
pág. 36)
O que importa, pois, não é o que credes ou o que descredes, mas, sim, o
compreender o processo integral, o conteúdo total de vós mesmos; (…). Quando a
mente está de todo tranqüila, quieta, sem senso de aceitação ou rejeição, (…)
acumulação, quando existe esse estado de tranqüilidade, no qual o experimentador
não existe - só então sentimos aquilo a que podemos chamar Deus (…) e há, nesse
momento, um estado de criação, que não é expressão do “eu”. (Idem, pág. 36)
O que é conhecido não é Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante
busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego”
busca , por força de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela
afirmação. Como pode a mente que está em busca de certeza, de estímulo, de
animação, pensar naquilo que não tem limites? (…) (Idem, pág. 264)
(…) Quando o “eu” já não está lutando, consciente ou inconscientemente, para tornar-
se algo, quando o “eu” está de todo inconsciente de si mesmo, nesse momento se
verifica aquele estado de devoção, (…) de Realidade. Nesse momento, a mente é o
Real, é Deus. (Idem, pág. 71)
Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? (…) A criação liberta a mente
da mediocridade (…). E, se é este o estado que procuro, necessito de visão muito
clara, (…) significa que ela, a mente, deve achar-se totalmente tranqüila, para
descobrir. Porque o estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus
não pode ser chamado; ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. (…) (Idem,
pág. 39-40)
(…) Assim, Deus, ou a Verdade, (…) é uma coisa que vem à existência momento a
momento, e que só acontece num estado de liberdade e espontaneidade, (…). Deus
não é coisa da mente, não se manifesta por meio de autoprojeções; só vem quando há
virtude, que é liberdade. Virtude é ver diretamente o fato como ele é, e o ver o fato é
um estado de felicidade. Só quando a mente transborda de felicidade, quando está
tranqüila, sem nenhum movimento próprio, (…) projeção do pensamento, consciente
ou inconsciente - só então desponta na existência o eterno. (Que Estamos Buscando?,
1ª ed., pág. 184)
Agora, que é a realidade, (…) Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a coisa.
Para conhecer aquilo que é imensurável, que não é do tempo, a mente deve estar livre
do tempo, (…) de todo pensamento, (…) de todas as idéias relativas a Deus. Que
sabeis de Deus ou da Verdade? Nada sabeis (…). Só conheceis palavras,
experiências alheias, ou alguns momentos de experiências, um tanto vagas, de vós
mesmos. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 183)
(…) O desconhecido não é algo que possa ser “experimentando” pela mente; só o
silêncio pode ser “experimentado”, e nada mais (…). Se a mente “experimentar”
qualquer coisa, menos o silêncio, está ela apenas projetando os seus próprios
desejos, e essa mente não está silenciosa; (…) (Idem, pág. 184)
(…) Assim, pois, para se encontrar o que é real, o que é Deus, (…) deve haver
liberdade - precisamos estar livres do temor, (…) do desejo de segurança interior, (…)
do medo ao desconhecido. E só então (…) estaremos aptos a “experimentar” o
desconhecido, (…) e sabermos se existe Deus. Mas, se o homem que crê em Deus ou
(…) não crê em Deus se atém a essa conclusão, fica (…) cativo da ilusão. Só posso
conhecer aquela “coisa”, (…) compreendê-la, experimentá-la diretamente, quando não
sou egocêntrico, (…) não estou condicionado pela crença, pelo temor, pela avidez,
pela inveja, etc. (Nós Somos o Problema, pág. 38-39)
O pensamento pode colocar-se, e com efeito se coloca, em níveis diferentes: o
estúpido e o profundo, o nobre e o gentil e o ignóbil; mas isto é sempre pensamento
(…). O Deus do pensamento é sempre um Deus da mente, da palavra. O pensar em
Deus não é Deus, e sim mera reação da memória. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª
ed., pág. 168)
A mente que desejar achar-se num estado em que possa manifestar se o novo - seja
Deus, seja a Verdade, (…) essa mente, sem dúvida, deve cessar de adquirir, de
acumular, deve pôr de parte todo o seu saber (…) (A Renovação da Mente, pág. 24)
A Realidade, ou Deus, (…) não se alcança por meio de conflito. Pelo contrário, é
imprescindível a extinção do “eu”, do centro de acumulação, (…). (Idem, pág. 25)
Dizeis, porventura, que desejais modificar-vos, mas alguma coisa há que impede a
transformação. Explicações não alteram coisa alguma. Dizer que o “ego” é um
obstáculo, é simples explicação, (…). Desejais que eu descreva a maneira de vencer
os obstáculos; mas precisamos achar um meio de saltar a barreira; se possível,
precisamos lançar-nos à corrente, ousadamente, aventurosamente, em vez de
ficarmos sentados na margem a especular. (Que Estamos Buscando?, pág. 93)
Que nos está impedindo de dar o salto? O que no-lo impede é a tradição, que é
memória, que é experiência (…). Tanto nos satisfazemos com palavras, com
explicações, que não damos o salto, mesmo percebendo a necessidade de saltar.
Alvitra-se que não ousamos lançar-nos à corrente porque temos medo do
desconhecido. Mas, é-me possível saber o que acontecerá, é-me possível conhecer o
desconhecido? Se eu o conhecesse, não haveria então temor algum - e não seria o
desconhecido. Nunca me será dado conhecer o desconhecido, se não me aventuro.
(Idem, pág. 93-94)
Será o temor que nos está impedindo de lançar-nos à aventura? Que é temor? Só
pode haver temor em relação com alguma coisa, ele não existe em isolamento. Como
posso temer a morte, (…) uma coisa que desconheço? Só posso temer o que
conheço. Quando digo que temo a morte, estarei mesmo com medo do desconhecido,
ou estou com medo de perder o que me é conhecido? (…) (Idem, pág. 94)
Alma, Sentimento, Intelecto, Vida, Desejo,
Temporal
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:34
Krishnamurti: (…) Pois bem; existe alma? A alma como entidade espiritual, não? - ou
como caráter? Senhores, que entendeis por “alma” (…)? Referis-vos à psique?
Estamos perguntando (…) se a alma, a entidade psicológica, existe. Existe,
evidentemente, (…). (O que te Fará Feliz, pág. 56- 57)
Portanto, (…) Será realidade ou ilusão aquilo que se denomina alma, e será ela única?
Existe ela separadamente e exerce a sua influência sobre o ser fisiológico ou
psicológico? Chegaremos nós, pelo estudo dos tecidos e fluidos orgânicos, a saber o
que é o pensamento, (…) a mente, a saber o que é essa consciência que jaz oculta na
matéria viva? (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 12)
Por essa razão deveis despertar, deveis abrir todas as janelas e portas de vossas
almas e partir em busca da única Realidade da vida; e não vos deveis perder em
tentativas febris e vãs, em corredores e becos escuros. (…) (O Reino da Felicidade,
pág. 62)
(…) Que temos em vista, quando falamos a respeito da alma? Referimo-nos a uma
consciência limitada. Para mim, há somente a vida eterna - em contraste com essa
consciência limitada que chamamos o “eu”. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933,
pág. 122)
(…) Qual o interesse que pomos em descobrir a verdade acerca da natureza e das
atividades do “ego”, da personalidade? A meditação, a disciplina espiritual nenhum
significado tem se em primeiro lugar não estiver bem claro para nós esse ponto. (…)
(Idem, pág. 195)
Pergunta: Quereis dizer que inteligência e consciência individual são palavras
sinônimas?
O amor, é evidente, não é sentimento. Ser sentimental, ser emotivo, não significa ter
amor, porque o sentimentalismo e a emoção são meras sensações. O indivíduo
religioso que chora por causa de Jesus ou de Krishna (…) é apenas sentimental,
emotivo. Está entregue à sensação, que é um processo do pensamento. (…)
(…) Ficai cônscios do sentimento de vir a ser; com o sentimento vem a sensibilidade, a
qual começa a revelar tudo quanto se contém no vir a ser. O sentimento é endurecido
pelo intelecto e pelas numerosas e sutis racionalizações, (…). (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 43)
O tempo, pois, é uma ilusão (…) O desejo tem tempo, a sensação tem tempo, mas o
amor nada tem que ver com o tempo. O amor é um “estado de ser”. (…) (Visão da
Realidade, pág. 230)
(…) O essencial é sabermos se essa inteligência que foi cultivada na expansão do “eu”
é capaz de perceber ou descobrir a verdade; (…) Para descobrir-se a verdade, é
necessário que estejamos livres da inteligência que está ligada à expansão do “ego”,
porquanto esta é sempre (…) limitante. (Idem, pág. 201)
Ora, que é a mente? Ela não é apenas uma série de reações aos desafios que estão
sempre a assaltar-nos, mas também uma série de lembranças, conscientes ou
inconscientes, as quais estão constantemente moldando o presente em conformidade
com o condicionamento. (…) Observai e vereis que vossa mente é uma série de
desejos, mais o impulso a preenchê-los (…) (O Homem Livre, pág. 41)
(…) Há uma atividade diferente que não procede do “ego” e que cumpre ser
encontrada. Uma inteligência diferente é necessária para compreender-se o
Atemporal, pois é só este que nos pode libertar de nossas lutas e sofrimentos
incessantes. A inteligência que agora possuímos é produto do desejo de satisfação e
segurança, material e espiritual, é resultado da cupidez, (…) da auto-identificação. Tal
inteligência é incapaz de compreender o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
215-216)
Ora, dividimos a mente em pensamento, razão, intelecto; mas (…) a mente é, para
mim, inteligência, inteligência que se cria, mas obscurecida pela memória; a mente,
que é inteligência, está (…) confundida com aquela consciência do “eu”, resultado do
ambiente. (…) (A Luta do Homem, pág. 65)
(…) A vida, por certo, implica ação diária, pensamento diário, sentimento diário (…).
Implica as lutas, as dores, as ânsias, os enganos, as tribulações, a rotina do escritório,
dos negócios, (…). Por “vida” entendemos não uma só esfera ou camada da
consciência, mas o processo total da existência, que é a nossa relação com as coisas,
com as pessoas, com as idéias. É isso o que entendemos por vida - e não uma coisa
abstrata. (Novo Acesso à Vida, pág. 49)
Que é “desejo”? E por que separamos o desejo da mente? (…) Em primeiro lugar,
precisamos saber o que é o desejo, para podermos examiná-lo com mais
profundidade. (…) “Experimentai” realmente a coisa sobre que estamos falando, e,
desse modo, as palavras terão significação. (Realização sem Esforço, pág. 14-15)
Como se origina o desejo? Pode-se dizer com segurança que ele nasce do perceber
ou ver, do contato, da sensação - depois o desejo. (…) Primeiro vedes um automóvel,
depois vem o contato, a sensação, e, por fim, o desejo de possuir o carro, conduzi-lo.
(…) A seguir (…) há conflito. Nessas condições, na própria realização do desejo há
conflito, dor, sofrimento, alegria, (…). A entidade criada pelo desejo (…) está
identificada com o prazer (…). O desejo, que nasce da percepção-contato-sensação,
está identificado com aquele “eu” que deseja apegar-se ao que é agradável e afastar
de si o que é doloroso. (…) (Idem, pág. 15)
Vamos, pois, investigar, descobrir o que é desejo. Com a compreensão do desejo vem
a disciplina - disciplina não imposta por ninguém, que não é ajustamento nem
repressão, porém uma disciplina inerente à própria compreensão do desejo. Como
disse, desejo é apetite, aspiração, ânsia não preenchida. E, ou cedemos a essa ânsia,
(…) desejo, ou o reprimimos, porque a sociedade nos diz que devemos reprimi-lo,
porque as religiões organizadas preceituam que devemos transmutá-lo, etc. (…) (A
Suprema Realização, pág. 43)
Temos desejo, que é, na realidade, reação a um apetite. Desejo ser uma coisa, e
“reajo”. Essa reação depende da intensidade de meu sentimento. Se é intenso o
sentimento, imperiosa a emoção, o preenchimento é então quase imediato, seja em
pensamento, seja em ato. (…) (A Suprema Realização, pág. 44)
O desejo, reação a uma sensação a que se deu continuidade pelo pensamento, busca
seu preenchimento; e, nas várias formas de preenchimento, há sempre contradição.
Dessa contradição vem o conflito; e onde há conflito há esforço. O desejo, pois, gera o
esforço, se não compreendemos o seu “processo” total. (Idem, pág. 44)
Tendes um prazer, sexual ou trivial, e pensais nele; criais em vossa mente imagens,
símbolos, palavras. E, quanto mais pensais nesse prazer, tanto mais intenso ele se
torna. E essa intensidade exige preenchimento. Mas nesse preenchimento há uma
contradição, pois desejais também preencher-vos em outros sentidos.
(…) Por conseguinte, para fugirdes à contradição, à dor causada pelo conflito, dizeis
ser necessário reprimir o desejo. Mas, não é importante reprimir o desejo, moldá-lo,
sublimá-lo, porém, sim, compreendê-lo, compreender o que lhe dá substância,
intensidade, urgência de preenchimento. Compreendido isso, tem o desejo
significação completamente diferente. (Idem, pág. 45)
(…) A mente, que é também vontade, é a fonte do esforço, das intenções, dos motivos
conscientes e inconscientes - o centro do “eu” e do “meu” e (…), por mais longe que
tente alcançar, pode esse centro produzir uma transformação fundamental em si
mesmo? (Claridade na Ação, pág. 27)
(…) Só pode haver revolução quando a mente cessa de funcionar no campo do tempo,
porque então se torna possível a existência de um elemento novo, independente do
tempo. (…) Podeis chamar esse elemento “Deus” ou “a Verdade”. (…) (Idem, pág. 28)
Ora, não há vontade divina, mas apenas a vontade simples, comum, do desejo: a
vontade de obter sucesso, de estar satisfeito, de ser. Essa vontade é uma resistência,
e é fruto do medo que guia, escolhe, justifica, disciplina. Essa vontade não é divina.
Ela não está em conflito com a chamada vontade divina, mas, (…) é uma fonte de
tristeza e de conflito, porque é a vontade do medo. Não pode haver conflito entre a luz
e a treva; onde existe uma, não existe a outra. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-
1938, pág. 103)
Nota: Conforme fontes orientais e ocidentais, incluindo Escrituras, a alma e seu campo
abrange sentimento, emoção, paixão; mente concreta, temporal, intelecto,
correspondente inteligência; vida, prana, princípio vital; e desejo-vontade, kâma,
vinculado ao Id da psicanálise. Aqui foram incluídos textos correspondentes, de
Krishnamurti.
O “Eu”; Natureza Psicológica, Atividades
Abrangidas
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:36
Pode-se ver que o pensamento tem fabricado o “eu”, o “eu” que se tornou
independente, o “eu” que tem adquirido conhecimentos, o “eu” que é o observador, o
“eu” que é passado, o passado que atravessa o presente e se projeta a si mesmo.
Este é ainda o “eu” produzido pelo pensamento, e esse “eu” se tem tornado
independente do pensamento (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 231)
(…) Esse “eu” tem um nome, uma forma. Tem uma etiqueta chamada X ou Y ou João.
Identifica-se com o corpo, com o rosto; há a identificação do “eu” com o nome e com a
forma, ( … ) e com o ideal que quer seguir. Também com o desejo de mudar o “eu” por
alguma outra forma de “eu”, por outro nome. Este “eu” é produto do tempo e do
pensamento. O “eu” é a palavra: elimino a palavra e que é o “eu”? (Idem, pág. 131)
E esse “eu” sofre. O “eu” que sofre é você. O “eu”, em sua grande ansiedade, é a
grande ansiedade de você. (…) De modo que esse “eu” se move na corrente da
cobiça, (…) do egoísmo, do temor, da ansiedade, etc. (…) Enquanto vivemos, estamos
envolvidos nessa corrente; (…). Essa corrente é o “egocentrismo” (…); essa
expressão inclui todas as descrições do “eu” que acabamos de fazer. E, quando
morremos, o organismo morre, porém a corrente egocêntrica continua. (Idem, pág.
232)
(…) O “eu” é, apenas, reação, e, por conseguinte, o findar da reação é o findar do “eu”.
Eis por que importa se compreenda todo o processo do “eu”, (…) do pensar. (…) O
“eu” é mecânico e, por conseguinte, só pode reagir mecanicamente; e para se passar
além necessita-se de auto-conhecimento completo. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª
ed., pág. 214)
Posso, pois, estar cônscio da minha avidez, (…) inveja, momento a momento? Estes
sentimentos são expressões do “eu”, do “ego” (…). O “ego” é sempre o “ego”, em
qualquer nível que o coloquemos. Seja “superior”, seja “inferior”, o “eu” está sempre
compreendido na esfera do pensamento. (…) (Percepção Criadora, pág. 109)
Sabeis o que entendo por “eu”? Com essa palavra quero significar a idéia, a memória,
a conclusão, a experiência, as várias formas de intenções, confessáveis e
inconfessáveis, o esforço consciente para ser ou para não ser, a memória acumulada
do inconsciente, da raça, do grupo, do indivíduo, da tribo, etc., tudo isso, quer
projetado exteriormente como ação, quer projetado espiritualmente como virtude; a
luta que daí resulta é o “eu”. (…) A totalidade desse processo constitui o “eu”; (…).
(Quando o Pensamento Cessa, pág. 75)
O “eu” é egotista, suas atividades, por mais nobres que sejam, são separativas e
geram isolamento. (…) Conhecemos também aqueles momentos extraordinários em
que o “eu” é inexistente, em que não há tendência para esforço ou luta, e que ocorrem
quando existe o amor. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 75)
O que entendemos por “eu”? (…) “São todos os meus sentidos, (…) sentimentos, (…)
imaginação (…) exigências românticas, (…) posses, (…) marido, (…) esposa, (…)
qualidades, (…) lutas, (…) conquistas, ambições, (…) aspirações, (…) infelicidade, (…)
alegrias” - tudo isso seria o “eu”. Você pode acrescentar mais palavras, mas a
essência dele é o centro, o “eu”, meus impulsos (…). A partir desse centro, ocorre toda
ação; (…) as nossas aspirações, (…) ambições, desavenças, (…) desacordos, (…)
opiniões, julgamentos, experiências, estão centrados nisso. (…) (Perguntas e
Respostas, pág. 9)
(…) Mas existe o “eu” que não é meu corpo, o “eu” que é minha compreensão
acumulada, (…) as riquezas que juntei - não o “eu” físico, mas o “eu” psicológico, que
é memória e que desejo continue a existir, que não quero que finde. Em verdade, não
é a morte que tememos, mas esse findar. Desejamos continuidade. (…) (Arte da
Libertação, pág. 128)
Que é o “eu”? Se uma pessoa observa realmente a si própria, observa que o “eu” é
uma massa de experiências acumuladas, de mágoas, de prazeres, de idéias,
conceitos, palavras. É o que somos: um feixe de memórias (lembranças). (O Homem e
seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 169)
Nunca percebemos (…) por que existem em nós diversas entidades, que gravitam
todas em torno do “eu”. O “eu” é constituído dessas entidades, que são meros
desejos, sob várias formas. Desse conglomerado de desejos surge a figura central, o
“pensador”, a vontade do “eu” (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág.
67)
Existe essa entidade complexa chamada “ego”, com todas as suas agonias, seu
sofrer, suas ânsias, seu desejo de preenchimento, de “vir a ser”, de domínio, de
posição, de segurança, seu desejo de ser alguém, de “expressar-se” de diferentes
maneiras. (…) Com esse “ego” vou olhando as coisas e, de acordo com ele,
traduzindo-as; conseqüentemente, é muito natural pensar-se que nada existe de novo,
uma vez que tudo está sendo contaminado pelo passado. (Experimente um Novo
Caminho, pág. 64)
Que centro é esse? Sem dúvida, é o “eu”, o “ego”, a mente, (…) tão sensível,
sobremodo hábil e capaz de compreender uma tão grande variedade de experiências,
de armazenar inúmeras lembranças, que pode inventar, que sabe planear um avião
(…). Esse centro, máquina complexa, de potencialidades ilimitadas, está circunscrito
pela idéia do “eu”: meu prazer, minha segurança, minhas vaidades, minhas posses,
meu progresso, meu preenchimento. (Percepção Criadora, pág. 52-53)
Quero, pois, averiguar o que é esse centro e ver se é realmente possível dissolvê-lo,
transformá-lo, desarraigá-lo. Que é o “eu” da maioria de nós? É um centro de desejo,
que se manifesta sob várias formas de continuidade (…). É o desejo de ser mais, de
perpetuar a experiência, de enriquecimento por meio da aquisição, lembranças,
sensações, símbolos, nomes, palavras. (Claridade na Ação, pág. 103)
Se observardes bem, vereis que não existe nenhum “eu” permanente, mas só
memórias - a memória do que eu fui, do que eu sou e do que deveria ser; vereis que
ele é o desejo de “mais”, o desejo de um saber maior, de uma experiência maior,
desejo de uma identidade contínua, identidade com a casa, com o país, com idéias,
com pessoas. Esse processo se desenvolve não só consciente, mas também nas
camadas mais profundas, nas camadas inconscientes da mente, e, por conseguinte,
esse centro, que é o “eu”, é mantido e nutrido pelo tempo. (Idem, pág. 103)
Tudo isso, pois, constitui o “eu” , (…) - o “eu” que está sempre a desejar “mais”,
sempre insatisfeito, sempre lutando por mais experiência, mais sensações, cultivando
a virtude a fim de reforçar-se em seu centro; por essa razão, ele nunca é virtude, mas
tão somente expansão de si próprio, sob o disfarce de virtude. Aí tendes o que é o
“eu”, ele é o nome, a forma, o sentimento que se oculta atrás do símbolo, (…) luta para
adquirir, reter, expandir-se ou diminuir-se, cria uma sociedade aquisitiva, cheia de
conflito, competição, crueldade, guerra, etc. (Idem, pág. 104)
(…) O centro é o “eu”, que tanto é físico como emocional e intelectual. O “eu” cria o
espaço que o circunda, porque o centro existe. E, já que o centro existe e cria o
espaço, e se este é o único espaço que o homem tem possibilidade de conhecer,
nesse caso não há liberdade nenhuma. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág.
136)
Ora, a inocência é algo não contaminado, algo totalmente novo, fresco; é um “estado
de descobrimento”, no qual a mente é sempre jovem. Para averiguardes isso, (…) não
podeis continuar a transportar essa carga do passado. O passado (…) tem de findar,
para que a mente possa descobrir aquela “coisa nova”; e ele deve chegar a seu fim,
sem que seja necessário esforço, disciplina, controle ou repressão. O “velho” não pode
achar “o novo”, (…). (Experimente um Novo Caminho, pág. 64)
Compreendeis o problema? Essa entidade, o ego, é produto do tempo, (…) de um
milhar de experiências, (…) de contradições, batalhas, ansiedades, (…) da “culpa”
(sentimento de culpa), do sofrimento, da aflição, do prazer. É o resíduo do passado,
(…) nenhuma possibilidade tem de descobrir o novo. O novo não pode ser posto em
palavras; é algo imensurável, energia sem causa, sem fim, sem começo; e, para que a
mente possa encontrar-se neste estado de criação, o velho, o ego, deve findar. Mas
como fazê-lo findar? (Idem, pág. 64-65)
(…) Assim sendo, o que me parece importante é essa investigação do “eu”, de “mim”,
para se conhecer o “eu” tal qual é, com suas ambições, invejas, exigências agressivas,
falácias, divisão em “superior” e “inferior” - de tal maneira que não só seja revelada a
mente consciente, mas também a inconsciente, o repositório da antiga tradição (…). O
conhecimento da totalidade do “eu” significa o seu fim. (…) (Transformação
Fundamental, pág. 60)
Consciência, Unidade, Ego, Superego, conforme o
Autor
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:38
O outro ponto é: “Não é necessário despejarmos tudo o que está oculto nos labirintos
do subconsciente para nos descondicionarmos?” Como disse, a consciência é
constituída de diferentes camadas. Primeiro, temos a camada superficial, e abaixo
desta a memória, porque sem memória não há ação.
Imediatamente abaixo está o desejo de ser, de “vir a ser”, o desejo de realizar. Se vos
aprofundardes mais, encontrareis um estado de completa negação, de incerteza, de
vazio. Esse total constitui a consciência. (…) (A Arte da Libertação, pág. 117)
Ora, sabemos que existe a mente consciente e a mente inconsciente, mas a maioria
de nós funciona apenas no nível consciente, na camada superficial da mente, e toda a
nossa vida (…) se limita a isso. Vivemos na chamada mente consciente e nunca
damos atenção à mente inconsciente, mais profunda, da qual nos vem ocasionalmente
uma mensagem, uma sugestão; mas essa sugestão não é atendida, ou é adulterada.
(…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 174)
Nosso problema (…) é este; existe, de fato, um estado único, e não dois estados,
como sejam o consciente e o inconsciente; só há um “estado de ser”, que é a
consciência, embora gostemos de dividi-la em consciente e inconsciente. Mas a
consciência é sempre do passado, nunca do presente; (…). Nunca estamos
conscientes do agora. (…) Observai os vossos corações e as vossas mentes, e vereis
que a consciência funciona sempre entre o passado e o futuro, sendo o presente mera
passagem do passado para o futuro. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 175)
A mente consciente está claramente procurando uma saída do problema, e essa saída
é uma conclusão satisfatória. Não é a mente consciente, ela própria, constituída de
conclusões, positivas ou negativas, e será capaz de procurar algo diferente? (…) Não
há dúvida de que a mente consciente é constituída do passado, está fundada no
passado, (…). Ela é incapaz de examinar o problema sem a cortina protetora de suas
conclusões; é incapaz de estudar, de estar silenciosamente cônscia do próprio
problema. Conhece, apenas, conclusões agradáveis ou desagradáveis, e só é capaz
de acrescentar, a si própria, mais conclusões, mais idéias, mais fixações. (…)
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 134)
Nossa consciência (…) está ocupada com os próprios conceitos e conclusões, assim
como com as idéias de outra gente; está cheia de temores, ansiedades e prazeres, e,
junto a ocasionais expressões de alegria, está a dor. Essa é nossa consciência. Esse
é o padrão da existência que levamos. (La Totalidad de la Vida, pág. 192)
Ora, pode uma pessoa tomar conhecimento dessa consciência total que é o “eu”, com
seus desejos, suas ânsias, seus temores, seus impulsos, sua luta constante para
aperfeiçoar-se, sua ânsia de preenchimento - (…) sem fortalecer a atividade do “eu”?
E pode todo esse processo do “eu” terminar? Por certo, ele não pode extinguir-se por
um ato de volição, (…) de nenhum artifício, nem pela repetição de frases, (…). (Idem,
pág. 57-58)
Tende (…) e vereis que a ação criadora é uma coisa que nasce quando a mente está
tranqüila, quando o “eu” está totalmente ausente. A atividade criadora que
conhecemos ocasionalmente, resultante de agitação, não é a mesma coisa que a ação
criadora livre do centro. A ação criadora livre do centro não é temporal, porque não é
invenção da mente; (…). Mas a criação a que me refiro não é para dar-nos satisfação,
é algo totalmente desconhecido, (…) e virá apenas quando a mente, perfeitamente
cônscia do processo do “eu”, compreende a significação deste e, por conseguinte, não
mais o nutre de experiência. (Percepção Criadora, pág. 60)
(…) Como indivíduos, tendes que compreender o processo da consciência por meio
do discernimento direto, sem escolha. A autoridade do ideal e do desejo impede e
perverte o verdadeiro discernimento. Quando há carência, quando a mente está cativa
dos opostos, não pode haver discernimento. As reações psicológicas impedem o
verdadeiro discernimento. Se dependermos da escolha, do conflito dos opostos,
criaremos sempre a dualidade em nossas ações, (…). (Palestras em Ommen,
Holanda, 1936, pág. 13-14)
(…) Descobrimos, assim, uma coisa muito interessante, ou seja, que todo
conhecimento é o passado, todo conhecimento tecnológico vem dele, e esse passado
se “projeta”, modificado pelo presente, no futuro. Assim, vós como entidade sois o
passado, (…) vossas “memórias”, (…) tradições, (…) experiência. Acabamos de ver,
pois, que o “vós”, o “eu”, o “ego”, o “superego”, tudo é passado. (…) (O Novo Ente
Humano, pág. 141)
(…) Queremos que esse “eu” subsista e se torne perfeito, e, por conseguinte, dizemos
que além do “eu” está um “super-eu”, um “eu” mais alto, uma entidade espiritual
atemporal. Mas, visto que a pensamos (…) está ainda dentro da esfera do tempo, (…).
(Claridade na Ação, pág. 142)
Mas, em primeiro lugar, não estais cônscios da existência de uma entidade diferente, o
“eu” superior, que controla o inferior? Há em cada um de nós uma coisa que existe
separadamente, e que guia, molda, observa cada pensamento. (…) Como nasceu esta
entidade separada? Não é ela um resultado da mente, (…) do pensamento? É,
evidentemente; (…). Se eu não a tivesse pensado, ela não poderia existir; (…)
(…) Podeis situar o “eu” num nível qualquer, podeis chamá-lo “eu superior” ou “eu
inferior”, mas isso representa ainda o processo do pensar; e, se não se compreende o
pensamento, o seu pensar (…) continua sendo um processo de fuga. (Por que não te
Satisfaz a Vida, pág. 74)
Que é essa ânsia extraordinária de subsistir, que tem cada um de nós? E o que é que
subsiste, (…)? Certo, o que continua é o nome, a forma, a experiência, o
conhecimento, e várias lembranças. (…) O dividirdes a vós mesmos em “eu superior”
e “eu inferior” não tem aqui cabimento, porque sois e continuais a ser (…) a soma de
todas aquelas coisas. (…) (Idem, pág. 82)
Estive mostrando quanto é trivial o consciente, com suas atividades superficiais, sua
perene tagarelice, etc.; e o inconsciente é também muito trivial. O inconsciente, como
o consciente, só se torna importante quando o pensamento lhe dá continuidade. O
pensamento tem seu lugar próprio, sua utilidade (…) em assuntos técnicos, etc., mas
o pensamento é de todo fútil, quando se trata de operar aquela radical transformação.
Quando percebo que é o pensamento que dá continuidade, está terminada a
continuidade do pensador. (A Mente Sem Medo, 1ª ed., pág. 51)
Uma vez que haja percepção e compreensão dos poderes e capacidade das muitas
camadas da mente oculta, os detalhes poderão concatenar-se sábia e
inteligentemente. O importante é a compreensão da mente oculta, e não a mera
educação da mente superficial no sentido de adquirir conhecimento, conquanto este
seja necessário. Essa compreensão da mente oculta liberta a mente total de conflito, e
só então haverá inteligência. (Idem, pág. 24)
Não sei quantos de nós estão cônscios de que existe um subconsciente, de que há
diferentes camadas em nossa consciência. Parece-me que a maioria de nós só está
cônscia da mente superficial, das atividades diárias, (…). Não temos percebimento da
profundeza, da importância, da significação das camadas ocultas; e às vezes, graças
a um sonho, uma mensagem, ficamos cônscios de que há outros “estados de ser” (…)
(A Arte da Libertação, pág. 116)
A mente oculta, inexplorada e não compreendida, com sua parte sua parte superficial
que foi “educada”, entra em contacto com os desafios e exigências do presente
imediato. A superficial pode reagir adequadamente ao desafio; mas, por haver uma
contradição entre a mente superficial e a oculta, qualquer experiência da mente
superficial só fará aumentar o conflito entre ela e a oculta. (…) A mente superficial,
experimentando o externo sem compreender o interno, o oculto, só produz um conflito
mais profundo e mais amplo. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 24)
O inconsciente, embora essa palavra sugira algo oculto, de que não temos
percebimento, faz também parte do conhecido; ele é o passado. Podeis desconhecer
o inteiro conteúdo do inconsciente, (…) não o terdes examinado, observado, mas
provavelmente tendes sonhos, comunicações procedentes daquela vasta região
subterrânea da mente. Ela existe, e é o conhecido, porque é o passado. Nela nada
existe de novo; (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 39)
Não sei se já notastes que, no momento em que se vê algo sem o pensamento, não
há observador, só há observação. Quando olhais para uma nuvem, sem vossas
lembranças acumuladas relativas às nuvens, estais apenas observando. Da mesma
maneira temos de observar o inconsciente; e quando observais assim, negativamente,
existe inconsciente? Não apagastes completamente o inconsciente com todo o seu
conteúdo? Há, pois, um percebimento imediato da totalidade da consciência. (…) (O
Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 69)
A mente oculta é muito mais potente que a superficial, por mais que esta seja instruída
e capaz de se ajustar; e isso não é algo tão inexplicável. A mente oculta ou
inconsciente é o repositório das memórias raciais. A religião, a superstição, o símbolo,
as tradições (…) de uma raça, a influência, tanto da literatura sagrada como da
profana, de aspirações, frustrações, maneirismos e variedades de alimento - tudo isso
está enraizado no inconsciente. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 23)
A mente oculta não é nada de sagrado, (…) a ser temido, nem requer um especialista
para expô-1a à mente superficial. Mas, graças à enorme potência da mente oculta, a
mente superficial não pode haver-se com ela como desejaria. A mente superficial é em
grande parte impotente em relação à sua própria parte oculta. Por mais que procure
dominar, dar forma ou controlar a mente oculta, devido às suas exigências e objetivos
sociais imediatos, a mente superficial só consegue arranhar a superfície da mente
oculta; e então há um hiato de contradição entre ambas. Procuramos vencer essa
divisão através da disciplina, (…) várias práticas, sanções, etc.; mas não conseguimos
(Idem, pág. 23)
(…) Podemos tentar compreender o inconsciente por meio de exame e análise, mas
isso obviamente não produzirá revolução. Podeis modificar, reformar; mas (…) não é
revolução, não é completa libertação do passado. Necessita-se de uma mente jovem,
nova, “inocente”, e essa mente só pode existir quando nos libertamos
psicologicamente do passado. (Idem, pág. 92)
(…) Descobrireis, assim, por vós mesmos, que não é esse o caminho que deveis
seguir; (…) que a única maneira de olhardes a vós mesmos é fazê-lo totalmente,
imediatamente, fora do tempo; e só podeis ver a totalidade de vós mesmos quando a
mente não está fragmentada. O que vedes em sua totalidade é a verdade. (Idem, pág.
27)
Necessitamos de mudança social (…). Quer conscientes, quer inconscientes, todas
nossas ações produzem conflito em nossa existência. O consciente é racional, sua
atividade, deliberada. O inconsciente é muito mais forte do que o consciente. Olhai
para dentro de vós mesmos, profundamente, não de acordo com Freud ou outro -
olhai-vos realmente. E, para olhardes, deveis estar livres para olhar. Se dizeis: “Isto é
correto” ou “Isto é errado”, “Isto é bom” ou “Isto é mau” (…), nesse caso não estais
livres para olhar, (…) observar, para penetrar neste imenso campo da consciência.
O inconsciente, como já disse, é muito forte. Ele é o repositório racial, coletivo, e nos
governa muito mais do que a mente consciente; e, também, tem seus próprios
motivos, impulsos, alvos. Envia-nos mensagens através de sonhos (…). Assim, a
menos que se opere aquela revolução radical, fundamental, o conflito humano durará
infinitamente. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 115-116)
Se não pode achar uma conclusão satisfatória, a mente consciente desiste da busca e
torna-se quieta; e nessa mente superficial, agora tranqüila, o inconsciente faz surgir,
subitamente, uma solução. Ora, a mente inconsciente, a mais profunda, é diversa
(…)? O inconsciente não é também constituído de conclusões e memórias raciais,
grupais e sociais? Certo, o inconsciente é também o resultado do passado, do desejo,
e a diferença consiste, apenas, em estar submerso, e à espera; e, quando solicitado,
envia à superfície as suas próprias conclusões ocultas. Se forem satisfatórias, a mente
superficial as adota; se não, fica (…) esperando encontrar por milagre uma solução.
Se nenhuma solução encontra, reconcilia-se, exausta, com o problema, (…).
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 134-135)
Inconsciente Coletivo; Consciência da
Humanidade
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:44
Estamos tentando olhar a totalidade da vida; e a vida é imensa, não são simplesmente
as camadas superficiais de nossa existência diária. A vida é infinita,
extraordinariamente sutil, fluida, móvel, sem posição estática; e não é possível
compreender a totalidade desse extraordinário movimento da vida com a mente
consciente, com todas as suas crenças, conceitos, idiossincrasias, seu ponto de vista
fragmentário, porque tal ponto de vista não pode dar percebimento total. (…) (O
Descobrimento do Amor, pág. 86)
(…) Percebemos, pois, o fato de que o nosso pensar é condicionado pelo passado, o
qual se projeta para o futuro; (…) porque não há dois estados tais como o passado e o
futuro, mas só um estado que inclui todo o passado - o consciente e o inconsciente, o
coletivo e o individual. O passado coletivo e o individual, reagindo ao presente,
produzem certas reações que criam a consciência individual; (…). E no momento em
que temos o passado, temos inevitavelmente o futuro, porque o futuro não passa de
continuidade do passado, modificado, (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 176-
177)
O inconsciente tem um papel muito importante em nossa vida. A maioria de nós não
conhece o inconsciente, a não ser através de sonhos, (…) de ocasionais sugestões ou
mensagens relativas a coisas que estão ocultas. (…) (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 67)
(…) O indivíduo não é um processo isolado, separado do todo, mas, sim, o “processo
total da humanidade”; por conseqüência, os que sentem verdadeiro interesse e
desejam realizar uma revolução de valores, radical e fundamental, esses devem
começar por si mesmos. (A Arte da Libertação, pág. 28)
Portanto, primeiro temos de olhar nossa consciência, ver de que está composta, qual é
o seu conteúdo. Devemos perguntar-nos se esse conteúdo da consciência (…) é de
fato uma consciência individual. Ou se essa consciência individual, que cada um de
nós sustenta como separada de outras consciências, não é individual em absoluto?
Ou é a consciência da humanidade? (La Llama de la Atención, pág. 82)
Por favor, escutem (…). Somente observem (…) o que estamos dizendo: a
consciência com que nos temos identificado como indivíduos é em absoluto individual?
Ou é a consciência da humanidade? Ou seja, que a consciência, com todo o seu
conteúdo de angústia, recordação, dor, atitudes nacionalistas, crenças, cultos, etc., é
invariável em todo o mundo. Onde se encontre o homem, está sofrendo, competindo,
lutando; está ansioso, cheio de incerteza, soçobro, desespero, desalento, crendo em
supersticiosos disparates. Isso é comum a toda a humanidade, quer seja na Ásia, aqui
ou na Europa. (Idem, pág. 82-83)
De modo que nossa consciência, com a qual nos temos identificado como nossa
consciência “individual”, é uma ilusão. É a consciência do resto da humanidade. O ser
é o mundo, e o mundo é cada um de nós. (…) Toda a vida têm lutado como
indivíduos, como algo separado do resto da humanidade; e quando descobrem que a
consciência de cada um de vocês é a consciência do resto da humanidade, isso
significa que cada um de vocês é a humanidade, não um indivíduo separado, (…) (La
Llama de la Atención, pág. 83)
Espírito-mente, Atemporal, Vida, Amor, Vontade
(Eterna)
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:47
Se, quando escutais (…), fazeis algum esforço, isto é ainda resultado do conhecido.
(…) Notai que todo conhecimento, toda experiência fortalece a vontade, o conhecido,
o “eu”, o “ego”, e que essa vontade, esse “eu” nunca pode perceber claramente o que
é verdadeiro, jamais achar a Deus (…) porque seu Deus é o conhecido. (Viver sem
Temor, pág. 17)
Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não
implica um estado imortal fora do tempo que é eterno? Se ele é eterno, então não tem
crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (…) (Palestras em
Ojai e Sarobia, 1940, pág. 95)
(…) E, todavia, esta mente está em busca de alguma realidade que evidentemente
deve achar-se fora do tempo; (…) Sendo a mente o único instrumento com que
podemos sentir, experimentar, é fora de dúvida que, no movimento de experimentar a
Realidade, a mente é da mesma qualidade que a Verdade, o Atemporal, não achais?
(Poder e Realização, pág. 70)
(…) Onde estais, aí está Ele, e onde estou, aqui Ele está; e quando alguém tem vivido
o gozado nesse Reino, está com Ele. Porque tereis encontrado a vós mesmos, tereis
encontrado o verdadeiro “Eu”; e uma vez que o tenhais encontrado, podereis sempre
voltar à Fonte. (O Reino da Felicidade, pág. 83-84)
Tendes então a chave de todo o conhecimento, tendes sempre o poder de ser parte
da Eterna Compaixão, da Fonte Eterna de todas as coisas.(…) (Idem, pág. 84)
(…) Tal força, tal poder para a luta, tal poder de dar energia para a criação, é o Reino
da Felicidade. Se um homem encontrar tal força e ao mesmo tempo tal alegria, tal luta
e ao mesmo tempo tal êxtase na vida, tal crescimento e ao mesmo tempo a forma
perfeita - tal homem descobrirá que tem dentro de si um Companheiro Eterno, (…)
(Idem, pág. 91)
(…) Sois o templo externo, e ardendo dentro de vós está o Eterno, o Santo dos
Santos, no qual podereis entrar e adorar à vontade, longe do mundo, (…) de todos os
tumultos e perturbações. (O Reino da Felicidade, pág. 25)
(…) Mas todos são feitos pelas mesmas mãos, (…) com a mesma argila, (…) produto
da mesma roda que gira e gira. Na essência nós somos iguais, mas no mundo da
forma somos diferentes; e de acordo com essas diferenças varia a nossa
compreensão da Verdade. Quanto maiores fordes, quanto mais houverdes sofrido,
(…) mais houverdes gozado, mais próximos estareis da unidade com essa Essência.
(…) (Idem, pág. 65)
(…) Já expliquei o que entendo por individualidade: o estado em que a ação se realiza
com entendimento, libertada de todos os padrões - sociais, econômicos ou espirituais.
É a isso que chamo verdadeira individualidade, por ser ação nascida da plenitude do
entendimento (…). (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 52)
Todos vós deveis entrar nesse Reino da Felicidade. (…) Aquele a quem adoramos é o
nosso Altar, (…) a Fonte de todas as coisas. Ele está acima de argumentos, (…) de
discussões, de ambições pessoais, de lutas pessoais; Ele é o nosso “Eu”. (…) (O
Reino da Felicidade, pág. 70)
Enquanto puderdes (…) só podeis refletir a pureza desse Reino quando houverdes
encontrado o vosso verdadeiro Ser (Self), quando viverdes eternamente nesse Reino
e O tiverdes como Eterno Companheiro. Então tereis em vós essa paz que dá imensa
força e poder (…) Aquela Voz que está sempre chamando, (…) (Idem, pág. 89)
(…) Ó Amado,/ O Ser do qual tu és o todo,/ Marcha para o centro de todas as coisas.
(Idem, III, 3, pág. 10)
Ó amigo!/ Procura o Amado,/ Nos secretos recessos do teu coração./ (…) (Idem, XXI,
3, pág. 35)
Inteligência, para mim, não é o conhecimento tirado dos livros. Podeis ser mui eruditos
e, apesar disso, estúpidos. Podeis haver lido muitas filosofias e, apesar disso,
desconhecer a beatitude do pensamento criativo, o qual somente pode existir (…) pelo
constante apercebimento das coisas estúpidas do passado e das que estiverem sendo
criadas. Somente então virá à existência o êxtase do que é verdadeiro. (Palestras em
New York City, 1935, pág. 21)
(…) Tendes pois de estar enamorados da Vida. Isso exige grande inteligência, não
informações ou conhecimentos, porém essa grande inteligência que desperta quando
defrontais a Vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração
estiverem por completo vulneráveis em face da Vida. (Idem, 1935, pág. 60)
Assim, pois, depende da mente que a Verdade seja absoluta ou eterna. (…) Mas a
mente que está cônscia de tudo o que se passa interiormente, e percebe a verdade aí
contida, essa mente é atemporal; só essa mente pode saber o que existe para além
das palavras, dos nomes, do permanente e do transitório. (Novos Roteiros em
Educação, pág. 142-143)
(…) Quando o “eu” já não está lutando, consciente ou inconscientemente, para tornar-
se algo, quando o “eu” está de todo inconsciente de si mesmo, nesse momento se
verifica aquele estado de devoção, aquele estado de Realidade. Nesse momento, a
mente é o Real, é Deus. (…) (Poder e Realização, pág. 71)
(…) Não há então, no centro, uma revolução, uma transformação fundamental? (…)
Então, não há mais temor. A mente, em si mesma, é o desconhecido; é o novo, “o não
contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível, independente do tempo.
(Idem, pág. 73)
(…) A mente, porém, que só quer “vir a ser” não pode compreender o “ser”. É a
compreensão do “ser”, (…) daquilo que somos, que produz uma extraordinária
exaltação, a libertação do pensamento criador, da vida criadora. (Debates sobre
Educação, pág. 97)
Eu vos asseguro que, quando houver completa nudez, completa falta de esperança,
então num momento assim, de vital insegurança, nascerá a chama da suprema
inteligência, a beatitude da verdade. (Palestras em New York City, 1935, pág. 24)
O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem
o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações
autoprotetoras (…). Tendes pois de estar enamorados da vida. Isto exige grande
inteligência, (…) (Palestras em New York City, 1935, pág. 60)
(…) Não há respostas para a vida; a vida é uma “coisa viva”, de momento a momento,
e o homem que busca uma resposta para a vida está buscando a estagnação da
mediocridade. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 44)
A vida é como o rio - fluente, célere, fugitiva, sempre em movimento. Ides ao encontro
da vida com o pesado fardo da memória, da experiência; e por isso, naturalmente,
nunca tendes contato com a vida. Vosso contato (…)e, gradualmente, o saber e a
experiência se tornam os fatos mais destrutivos da vida. (Novos Roteiros em
Educação, pág. 149-150)
(…) Por certo, uma vida que tem significação, que contém as riquezas da verdadeira
felicidade, não pertence ao tempo. Como o amor, a vida é atemporal; (…) (A Arte da
Libertação, pág. 160)
(…) A vida, o amor, a realidade são sempre novos e são necessários mente e coração
viçosos para compreendê-los. O amor é sempre novo, mas esse frescor é estragado
pelo intelecto mecânico, com as suas complexidades, ansiedades, ciúmes e assim por
diante. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 112-113)
O amor não pertence ao tempo, não é alcançável por meio de esforço consciente, (…)
de disciplina, de identificação, pois tudo isso faz parte do processo do tempo. A mente,
que só conhece o processo do tempo, não pode reconhecer o amor. O amor é a única
coisa eternamente nova. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 126)
Nossa questão (…). Onde há ação do “eu” há amor. O amor não é do tempo, não
podeis praticar o amor, pois isso seria uma atividade consciente do “eu”, que espera,
por meio do amor, alcançar um resultado. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 211)
(…) Uma vez que os mais de nós temos cultivado a mente, (…) não sabemos o que é
o amor. Falamos a respeito do amor; (…) mas, no momento em que estou consciente
de que amo, entrou em atividade o “eu” e, conseqüentemente, o amor deixou de
existir. (Idem, pág. 211-212)
O amor não pode ser cultivado. Só encontrareis o amor nas relações; (…) quando
existe o amor, que é a sua própria eternidade, não há então a busca de Deus, porque
o amor é Deus. (A Arte da Libertação, pág. 195)
Ora, não há vontade divina, mas apenas a vontade simples, comum, do desejo: a
vontade de obter sucesso, de estar satisfeito, de ser. Essa vontade é uma resistência,
e é fruto do medo, que guia, escolhe, justifica, disciplina. Essa vontade não é divina.
Ela não está em conflito com a chamada vontade divina, mas (…) é uma fonte de
tristeza e de conflito, porque é a vontade do medo. Não pode haver conflito entre a luz
e a treva; onde existe uma, não existe a outra. (…) (Palestras em Ommen, Holanda,
1937-1938, pág. 103)
(…) Quando começardes a discernir, por meio da experiência, como a ação nascida
da carência cria sua própria limitação, então haverá mutação de vontade. Até então há
apenas mudança na vontade. É a atividade automantenedora da ignorância (…). A
mudança fundamental de vontade é inteligência. (Palestras em Ommem, Holanda,
1936, pág. 17)
Krishnamurti: (…) A maioria das pessoas se satisfaz com uma definição do que é
inteligência. (…) A mente inteligente é aquela que investiga, (…) observa, aprende,
estuda. E isso significa o quê? Que só há inteligência quando não há medo, quando
estais disposto a rebelar-vos contra toda a estrutura social, a fim de descobrir o que é
Deus, (…) a verdade relativa a qualquer coisa. (A Cultura e o Problema Humano, pág.
19)
Inteligência não é sapiência. Se pudésseis ler todos os livros do mundo, isso não vos
daria inteligência. A inteligência é coisa muito sutil; ela não tem ancoradouro. Surge
quando compreendeis o processo total da mente (…). A inteligência, pois, surge com a
compreensão de vós mesmos; e só podeis compreender-vos em relação com o mundo
das pessoas, das coisas, e das idéias. Inteligência não é coisa adquirível, como a
sapiência; ela surge (…) quando não há medo; quando há sentimento de amor, (…).
(Idem, pág. 19)
A inteligência tem uma causa? O pensamento tem uma causa. Um indivíduo pensa
porque possui experiências passadas, informação e conhecimento acumulado através
do tempo. Esse conhecimento nunca é completo, tem de andar junto com a
ignorância, (…). O pensamento, por força, tem de ser parcial, limitado, fragmentado,
porque é o produto do conhecimento, (…). O pensamento criou as guerras e os
instrumentos da guerra (…). O pensamento criou todo o mundo tecnológico. (…)
(Idem, pág. 113-114)
Não desejo ser parcialmente inteligente, mas inteligente de maneira integral. Quase
todos nós somos inteligentes “em camadas”, vós provavelmente num sentido, e eu em
outro. Alguns de vós sois inteligentes nas atividades comerciais, outros nas (…) de
escritório, etc. As pessoas são inteligentes de diferentes maneiras, mas não somos
integralmente inteligentes. Ser integralmente inteligente significa existir sem o “eu”.
(…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 78)
Que é inteligência? Um homem que está assustado e ansioso; que é invejoso e ávido;
cuja mente está copiando, imitando, cheia de saber e da experiência de outros; cuja
mente é limitada, controlada, moldada pela sociedade, pelo ambiente - esse homem é
inteligente? Vós o chamais inteligente, mas não o é, (…). (Novos Roteiros em
Educação, pág. 152)
(…) Estar consciente de tudo isso, sem opção, sem ser tragado pela complexidade
das questões vitais, sem resistir ao fluxo avassalador da vida, é ser inteligente. Implica
também não depender das circunstâncias e, portanto, estar apto a compreender e a
libertar-se da influência e das condições ambientais. (…) Mas, a inteligência supera
todas as barreiras, livre de qualquer objetivo de ganho individual ou coletivo. (…) A
capacidade de destruir o passado psicológico é a essência da inteligência, (…). O
sofrimento é a negação da inteligência. (Diário de Krishnamurti, pág. 81)
Tem o amor uma causa? Dissemos que a inteligência não tem causa - é inteligência,
(…) é luz. Quando há luz, não é minha luz ou a luz de vocês. O sol não é o sol de
vocês ou meu sol; é a claridade da luz. Tem o amor uma causa? Se não tem, então o
amor e a inteligência caminham juntos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 120)
Devemos discutir também a natureza da inteligência. A compaixão tem sua própria
inteligência, o amor tem sua inerente inteligência. Vamos investigar o que é
inteligência. Certamente, não pode ser ela encontrada em livros. Conhecimento não é
inteligência. Onde há amor, compaixão, há a beleza de sua própria inteligência. A
compaixão não pode existir se você é hindu, católico, protestante, budista ou marxista.
Inteligência, para mim, não é o conhecimento tirado dos livros. Podeis ser mui eruditos
e, apesar disso, estúpidos. Podeis haver lido muitas filosofias e, apesar disso,
desconhecer a beatitude do pensamento criativo, o qual somente pode existir quando
a mente e o coração começarem a se libertar (…) pelo constante apercebimento das
coisas estúpidas (…). Somente então virá à existência o êxtase do que é verdadeiro.
(Palestras em New York City, 1935, pág. 21)
(…) A inteligência pode e deve encontrar por si mesma a Verdade, deve aprender a
viver sua própria vida no Reino da Felicidade. Sem um espírito cultivado e uma
inteligência inata, não vos será possível aproximar-vos do alvo. (…) (Idem, pág. 56)
Porém, se se acham atentos a todas essas coisas e estão insatisfeitos (…) A chama
do descontentamento, devido a não haver saída, (…) não haver um objeto no qual
satisfazer-se, se converte em uma grande paixão.
(…) Visto que a compaixão está relacionada com a inteligência, não há inteligência
sem compaixão. E só pode haver compaixão quando houver amor, o que é
completamente livre de todas as recordações, ciúmes pessoais e assim por diante. (O
Futuro da Humanidade, pág. 70)
A paixão existe per se, por si mesma (…). Assim, se tem que descobrir (…) como se
aproximar dessa paixão, que não é luxúria nem tem nenhum motivo. Há tal paixão?
(…) Quando o sofrimento chega ao fim, há amor e compaixão. E quando há
compaixão, (…) então essa compaixão tem sua própria quintessência e inteligência.
Isto é, não pertence ao tempo nem a teoria alguma, a nenhuma tecnologia, a ninguém;
tal inteligência não é pessoal nem universal, nem as palavras a exprimem. (Last Talks
at Saanen, 1985, pág. 138-139)
(…) Inteligência é a atividade do todo da vida, e essa inteligência não é sua nem
minha. Não pertence a nenhum país ou povo, como o amor não é cristão ou hindu,
etc. Portanto, (…) pesquisem sobre tudo isto, porque nossas vidas dependem disso.
Somos pessoas desafortunadas e miseráveis, sempre em conflito. (…) Temos
aceitado isso como parte da vida. Mas se investigarmos tudo isso, dá-se o despertar
daquela inteligência, e, quando ela se acha em operação, ação, só então há correta
ação. (Mind Without Measure, pág. 59)
A compreensão não reside nos livros. Podeis ser estudiosos de livros (…), mas, se
não souberdes como viver, todo o vosso conhecimento fenece; não tem substância
nem valor. Enquanto que, um momento de pleno apercebimento, de pleno
entendimento consciente, produz uma paz real, perene; não uma coisa estática, mas
esta paz que está continuamente em movimento, que é ilimitada. (Palestras em
Auckland, 1934, pág. 72)
Eu vos asseguro que, quando houver completa nudez, (…) falta de esperança, então,
num momento assim, de vital insegurança, nascerá a chama da suprema inteligência,
a beatitude da verdade. (New York City, 1935, pág. 24)
Como disse (…), inteligência é a solução única que produzirá a harmonia neste mundo
de conflito, harmonia entre a mente e o coração, na ação. (…) Vós próprios, mediante
o vosso apercebimento, (…) é que podereis discernir o verdadeiro significado destas
múltiplas barreiras limitadoras. Só isso produzirá a inteligência perdurável, que vos há
de revelar a imortalidade. (Idem, pág. 27)
Isto é, se estiverdes plenamente despertos, apercebidos de uma ação que exija o
vosso ser inteiro, então percebereis que todas essas perversões ocultas,
inconscientes, virão à tona e vos impedirão de agir plenamente, de modo completo.
Será essa a ocasião, então, de lhes fazer frente e, se a chama do apercebimento for
intensa, essa chama consumirá as causas limitadoras. (Idem, pág. 32)
(…) A compreensão surge somente pelo discernimento do processo do “eu”, com sua
ignorância, suas tendências e temores. Onde houver profunda e criadora inteligência,
haverá reta educação, reta ação e relações retas com o ambiente. (Palestras em
Ommen, Holanda, 1936, pág. 60)
A ação é vital, porém não (…) as opiniões e conclusões lógicas. (…) A autoridade do
ideal e do desejo impede e perverte o verdadeiro discernimento. Quando há carência,
quando a mente está cativa dos opostos, não pode haver discernimento. (…)
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 13-14)
Assim como um sentimento pode ser interpretado, assim também é possível darmos a
qualquer sentimento a aparência de Realidade. A tradução depende do intérprete e, se
este for influenciado por preconceitos, se é ignorante, se tiver sido moldado por um
padrão de pensamento, a sua compreensão corresponderá a esse condicionamento.
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 54)
(…) O sentimento de terdes conseguido algo, de serdes mais hábil que outro, (…) de
vos terdes tornado um homem bem sucedido, respeitado, considerado, um exemplo
para outros - que indica tudo isso? Naturalmente, esse sentimento é acompanhado de
orgulho (…). E, assim, quando existe esse sentimento da importância do “eu”, há o
conflito, a luta, o esforço para manter esse estado ininterruptamente. (Novos Roteiros
em Educação, pág. 104-105)
Que entendeis por “emoção”? Sensação, reação, “resposta” dos sentidos? Ódio, amor,
o sentimento de amor ou simpatia por outra pessoa: são emoções. A umas, como o
amor e a simpatia, chamamos positivas, enquanto a outras, como o ódio, chamamos
negativas, (…). (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 57)
A sensação e a reação têm de gerar sempre conflito, e o próprio conflito é uma nova
sensação. (…) A atividade da mente, em todos os seus diferentes níveis, é favorecer a
sensação; (…). (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 237)
A sensação é uma coisa, e a felicidade, outra. A sensação está sempre buscando
mais sensação, em círculos cada vez mais largos. Não há fim para os prazeres da
sensação; (…) há sempre o desejo do mais, e a exigência do mais nunca tem fim. A
sensação e a insatisfação são inseparáveis, porque o desejo do mais liga uma à outra
(…) e, quando são contrariadas, há cóleras, há ciúme, há ódio. (…) (Idem, pág. 237)
A mente não pode conhecer a felicidade. A felicidade não é uma coisa que se pode
procurar e achar, como a sensação. (…) Felicidade lembrada é apenas sensação,
(…). O que se acabou não é a felicidade; a experiência da felicidade que se apagou é
sensação, porque lembrança é o passado (…). (Idem, pág. 238)
Temos, não raro, emoções religiosas, vagas, às vezes, outras bem precisas. São
emoções que nos infundem intensa devoção e alegria, que nos requintam a
sensibilidade, que nos dão um fugaz sentimento de união com todas as coisas.
Procuramos, depois, com a ajuda dessas inspirações, resolver os nossos problemas e
afeições. São numerosas tais revelações, mas o pensamento, cativo do tempo, da
confusão e da dor, procura servir-se delas como estimulantes que o ajudem a vencer
os conflitos. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 231)
(…) Qualquer tipo de sensação, por mais requintada ou vulgar que seja, cria a
resistência, (…). Ser sensível é morrer para cada resíduo da sensação; ser sensível,
de maneira absoluta e contundente, a uma flor, a uma pessoa ou a um sorriso, é estar
livre das marcas da memória, responsáveis pela destruição da sensibilidade. Estar
consciente de todo o processo das sensações, dos sentimentos e das demais
manifestações do pensamento, impede a formação de marcas e cicatrizes. As
sensações, os sentimentos e os pensamentos são sempre fragmentados, parciais e,
portanto, de efeito destruidor. A sensibilidade é a síntese do corpo, da mente e do
coração. (Diário de Krishnamurti, pág. 149)
Ter sensibilidade significa ser sensível a tudo o que nos cerca - às plantas, aos
animais, às árvores, ao céu, às águas do rio, aos pássaros; e também ao estado de
humor das pessoas que nos cercam, e dos estranhos pelos quais passamos. Essa
sensibilidade acarreta a qualidade de ação não calculada, não egoísta, que é a
verdadeira moral (…) e conduta. Sendo sensível, a criança será franca, não será
retraída em sua conduta; portanto, uma simples sugestão por parte do professor será
aceita com facilidade, sem resistência nem atrito. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág.
13)
Em todo o mundo, (…) o aprender exige sensibilidade. Se não sois sensível a vós
mesmo, a vosso ambiente, a vossas relações, (…) ao que se está passando em
derredor de vós, (…) então, por mais que vos disciplineis, vos ireis tornando cada vez
mais insensível, (…) mais egocêntrico - e isso gera problemas (…). (A Luz que não se
Apaga, pág. 76)
Por que sou eu ou por que sois vós tão insensíveis ao sofrimento de outro homem?
Por que somos indiferentes para com o carregador que transporta uma pesada carga,
para com a mulher que tem nos braços o seu filho? (…) Não há dúvida de que é o
sofrimento que nos torna insensíveis; por não compreendermos o sofrimento, tornamo-
nos indiferentes a ele. Se compreendo o sofrimento, torno-me sensível. (…) (Novo
Acesso à Vida, pág. 111)
(…) Se existe falta de sensibilidade para a fealdade, para a tristeza, deverá existir
também uma profunda insensibilidade para a beleza, para a alegria (…). (Palestras em
Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 42)
Assim, intelectualmente, estais sendo tolhido, sufocado, controlado, moldado (…), não
há (…) libertação. Tampouco a há do ponto de vista emocional - mas não deis à
palavra “emocional” o sentido de sentimental. Um ente sentimental é perigoso, pode
tornar-se cruel, estúpido, insensível. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 122)
Para se ver a beleza do rosto de uma pessoa, (…) de um rio, de uma folha caída, (…)
de um sorriso, (…) de uma ave a voar, necessita-se (…) de alta sensibilidade, (…).
(Idem, pág. 122)
Não havendo sensibilidade, não pode haver afeto; o amor próprio não indica
sensibilidade; podemos ter sensibilidade em relação às nossas famílias, (…)
realizações, (…) nível social e (…) talento, mas isso não quer dizer que sejamos
sensíveis. Trata-se de estreita e limitada reação, (…). Ser sensível não é ter bom
gosto, pois este é uma qualidade pessoal, e a percepção da beleza está justamente no
libertar-se de toda reação. Se não soubermos apreciar e sentir a beleza, não
poderemos amar. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 168)
(…) Sentir a natureza, o rio, o céu, as pessoas, a estrada imunda, faz parte da afeição,
cuja essência é a própria sensibilidade. Mas, a maioria das pessoas teme a
sensibilidade, e isso porque não querem sofrer; para evitar o sofrimento, preferem
embrutecer-se, mas nem assim ele desaparece. (…) Amar é romper com essa cadeia
interminável de reações individuais; não há barreiras para o amor; ele não se limita a
um ou vários objetos (…). Ao tomarmos consciência do fato, libertamo-nos da
servidão; é justamente o medo do fato que nos aprisiona. (…) (Idem, pág. 168)
(…) Compreendeis o que entendo por “sensibilidade”? A maioria de nós deseja ser
sensível ao belo - à boa música, aos belos quadros, etc. - mas não desejamos ser
sensíveis às coisas feias, barulhentas, (…). (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 147)
Para poderdes ser sensível num sentido, deveis ser sensível em ambos os sentidos.
Não há verdadeira sensibilidade se sois sensível a uma coisa e insensível a outra. A
pessoa que é insensível a qualquer coisa na vida, não é totalmente sensível, (…),
(Idem, pág. 147)
Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir
profundamente, não é necessário um coração aberto? (…) Embrutecemos nossa
mente, nosso sentimento, nosso corpo, com as crenças e a malevolência, com
estimulantes poderosos e insensibilizantes. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 17)
(…) Como podeis ser sensíveis, quando diariamente vos entregais a leituras ou
assistis a filmes em que se vos apresentam matanças de milhares de indivíduos -
carnificinas que vos são descritas como lances sensacionais de um torneio esportivo?
Talvez vos cause desgosto (…), mas a freqüente repetição dessas ferozes
brutalidades acabam por insensibilizar-vos a mente-coração, (…). (Idem, pág. 17)
A pessoa que “experimenta” um pôr-do-sol não é sensível. Poderá dizer: “Que beleza,
que maravilha” e ficar extasiada (…), mas essa pessoa não é sensível. Ser sensível
implica um estado mental em que só existe o fato, e não todas as vossas lembranças
relativas ao fato. Esse perceber, esse ver, esse escutar de cada momento tem na vida
uma ação extraordinária. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. l36)
Amor; Não é Emoção, Prazer, Sentimentalismo
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 15:54
Já refletiste sobre o que é amor? É ele essa tortura que conhecemos? Essa espécie
de amor poderá ser bela no começo - quando dizemos a alguém: “amo-te” - mas
depressa se deteriora, convertendo-se numa relação em que prepondera a posse, o
domínio, o ódio, o ciúme, a ansiedade, o medo. (A Libertação dos Condicionamentos,
pág. 48)
Agora, que é amor, (…) que é ele realmente, e não como gostaríamos que fosse? O
que gostaríamos que fosse o amor é uma mera idéia, um conceito. (…) Devemos
começar com o que é, e não com o que deveria ser. Devemos começar com o fato, e
não com as opiniões e conclusões. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 167)
Assim, vamos agora investigar, (…) Que é realmente o nosso amor? Nele há prazer,
dor, ansiedade, ciúme, apego, ânsia de posse, de domínio, e o medo de perdermos o
que possuímos. Há o amor existente nas relações entre duas pessoas, e há amor a
uma idéia, uma fórmula, uma utopia, ou a Deus. (…) Por essa razão, há o casamento
legal, instituído pela sociedade para a proteção da prole. (…) (Idem, pág. 167)
O amor que temos é o conhecido, com todos os seus sofrimentos e sua confusão;
nele, há a tortura do ciúme, os horrores e penas da violência, o prazer sexual. É isso
que conhecemos, (…) (Idem pág. 169)
A maioria de nós não sabe o que é amor. Conhecemos a dor e o prazer de amar (…);
assim, o amor é, para nós, algo desconhecido, tal como a morte. Mas, com a mente
livre do conhecido, apresenta-se-nos aquilo que não é cognoscível por meio de
palavras, de experiência, de visões (…). (Idem, pág. 172)
Para a maioria dos homens, amor é posse. Mas, havendo ciúme, inveja, existirá
também crueldade, ódio. O amor só existe e cresce na ausência do ódio, da inveja, da
ambição. Sem amor, a vida é como terra estéril, árida, dura, brutal. Porém, no
momento em que existe afeição, ela é como a terra que floresce com água, com
chuva, com beleza. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 55)
Você sabe, uma de nossas dificuldades é que associamos amor com prazer, com
sexo. Amor, para a maioria de nós, significa ciúme, ansiedade, possessividade, apego.
A isso chamamos amor. Mas o amor é apego? É o amor prazer? O amor é desejo? É
o amor o oposto do ódio? Se é oposto do ódio, então não há amor. Você pode
compreender isso? Quando alguém tenta se tornar corajoso, esta coragem é nascida
do medo. Portanto, o amor não pode conter o seu oposto. O amor existe onde não há
ciúme, agressividade, ódio. (The World of Peace pág. 96-98)
Que é amor? É prazer - prazer no reiterativo ato sexual, ao que geralmente se chama
amor? O amor da esposa, no qual há grande prazer, posse (…), com base no desejo,
é amor? Quando existe um possessivo apego em relação ao outro tem que haver
ciúme, temor, antagonismo. (…) Se não se compreende plenamente o significado do
apego, jamais se poderá descobrir a verdade do amor. (…) (La Totalidad de la Vida,
pág. 148)
(…) Esperamos amar o homem através do amor de Deus, mas se não soubermos
como amar o homem, como podemos amar a realidade? Amar o homem é amar a
realidade. Julgamos que amar a outrem é tão doloroso, tantos problemas complexos
estão envolvidos nisso, que consideramos ser mais fácil e mais satisfatório amarmos
um ideal, o que é emocionalismo intelectual, não amor. (Idem, pág. 41)
Você sabe, para descobrir o que é, você deve negar totalmente o que não é. Através
da negação do que não é, se chega ao que é. Deve-se descobrir se o prazer é amor.
O amor é desejo? O amor está associado ao sexo, e o sexo se tornou
extraordinariamente importante, não é? Você o vê em todos os lugares; pega qualquer
revista, caminha em qualquer rua, infindavelmente vê este “amor”. Por que o sexo se
tomou colossalmente importante, como ele está associado ao que chamamos “amor”?
Por quê? Você alguma vez fez essa pergunta? (…) (Talks and Dialogues, Sidney,
Austrália, 1970, pág. 45)
Sem dúvida, o amor é estado de espírito em que o “eu” perdeu toda a sua importância.
Amar é ser amistoso. (…) Quando amais, não tendes inimizade e não causais
inimizade. E vós causais inimizade ao pertencerdes a religiões, nações, partidos
políticos. Se possuís muitas terras, imensas riquezas, enquanto outro pouco ou nada
tem, causais inimizade, ainda que freqüenteis os templos, ou mandeis construir
templos com vossas riquezas. Não tendes afabilidade quando estais em busca de
posição, poder, prestígio. (O Homem Livre, pág. 181)
O amor não é sensação. A sensação faz nascer o pensamento, por meio das palavras
e dos símbolos. As sensações e o pensamento tomam o lugar do amor, tornam-se um
substituto do amor. As sensações são produtos da mente, como o são também os
apetites sexuais. A mente gera o apetite, a paixão, através da lembrança, e recebe
dessa fonte sensações. (…) As sensações são agradáveis e desagradáveis, e a mente
se prende às agradáveis, tornando-se escrava delas.(…) A mente é o fabricante dos
problemas e, portanto, não pode resolvê-los. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed.,
pág. 99-100)
O pensamento não é amor; mas o pensamento, como prazer, aprisiona o amor e traz
a dor para dentro dessa prisão. Na negação do que não é, fica o que é. Na negação
do que não é amor, surge o amor, no qual cessa o “eu” e o “não eu”. (A Outra Margem
do Caminho, pág. 98)
Onde há amor não existe problema de sexo. Isso só se torna um problema quando o
amor é substituído pela sensação. Portanto, a questão realmente é: como controlar a
sensação. Se existisse a chama vital do amor, o problema do sexo cessaria.
Atualmente o sexo tomou-se um problema devido à sensação, ao hábito e ao
estímulo, (…). A literatura, os anúncios, a conversa, o vestir - tudo isso estimula a
sensação e intensifica o conflito. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 72)
Todos nós possuímos capacidade para um amor profundo e abrangente, porém, pelo
conflito e pelas falsas relações, pela sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza.
(…) Não podemos manter a chama artificialmente acesa, mas podemos despertar a
inteligência, o amor, pelo constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações
que presentemente dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser. (Idem, pág.
72)
(…) Porque, em suma, quando realmente amamos alguém, nesse amor existe a
isenção do sentimento de posse. Temos, em dadas ocasiões, raras, aliás, esse
sentimento de intensa afeição em que não existe a ânsia de possuir, de conquistar. E
isso nos reconduz ao que disse (…), isto é, que existirá ânsia de possuir enquanto
houver insuficiência, falta de riqueza interior. E essa riqueza interior se encontra, não
com acumulações, mas na inteligência, na ação vigilante em presença do conflito
causado pela falta de compreensão do ambiente. (A Luta do Homem, pág. 88)
(…) Podemos amar alguém em particular, mas não conhecemos aquele “estado de
ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o amor. A maioria de nós tem muito
pouco amor no coração, (…). Por não termos amor, encontramos em geral um meio
de aliviar-nos, seguindo uma certa via de “autopreenchimento”, que pode ser sexual,
intelectual, ou de ordem neurótica; de maneira que nossos problemas crescem e se
tornam mais e mais agudos. (Experimente um Novo Caminho, pág. 114)
(…) O amor é um modo de ser e, nesse estado, o “eu”, com as suas identificações,
(…) angústias e (…) posses, está ausente. Não pode existir amor, enquanto as
atividades do “eu”, tanto as conscientes como as inconscientes, subsistirem. Eis por
que importa compreender o processo do “eu”, o centro do reconhecimento (…). (Idem,
pág. 54)
A mente que está livre do tempo - tempo que é pensamento, que é desejo - essa
mente conhece o amor. Para a maioria de nós, o amor é sensual. Observai-o em vós
mesmos. Para a maioria de nós, amor é ciúme - uma contradição composta de ódio e
amor. Não sabemos, com efeito, o que é amor. Conhecemos a comiseração, a
piedade, (…). (A Suprema Realização, pág. 51)
Ora, como alcançar o amor? (…) Vós necessitais do amor, assim como necessitais de
água quando sentis sede. Como alcançá-lo? Por meio do tempo? (…) O tempo poderá
dar-vos aquele amor que é desvelo, (…) beleza? O amor e a beleza andam juntos,
nunca estão separados. Infelizmente, para a maioria de nós, beleza significa
sensualidade, sexualidade. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 155)
O amor não é uma coisa da mente; o amor não é idéia. O amor só pode existir depois
de extinta a atividade do “eu”. Vós, porém, chamais essa atividade do “eu” positiva;
(…) leva à destruição, à separação, à aflição, à confusão, (…). E, todavia, todos nós
falamos de cooperação, de fraternidade. Basicamente, o que desejamos é ficar
apegados às nossas atividades egocêntricas. (Quando o Pensamento Cessa, pág.
221)
Não sabeis que, quando amais, cooperais, não estais pensando em vós mesmos?
Essa é a mais alta forma de inteligência (…). Onde houver direitos adquiridos, não
pode haver amor; só há processo de exploração, que culmina no temor. O amor só
pode começar a existir, quando a mente não existe. (…) (Quando o Pensamento
Cessa, pág. 99-100)
(…) Amamos com a mente, e não com o coração; a mente pode modificar-se, o amor
não; a mente pode fazer-se vulnerável, o amor não pode; a mente sempre pode
retrair-se, tornar-se exclusiva, pessoal ou impessoal, o amor não pode ser comparado
nem delimitado. (…) Pode a mente, cuja essência mesma é o tempo, captar o amor,
que é sua própria eternidade? (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 39)
Enquanto existir a atividade da mente, não pode, por certo, haver amor. Quando
houver amor, não teremos mais problemas sociais. Mas o amor não é coisa adquirível.
Pode a mente esforçar-se por adquiri-lo, como uma nova idéia (…); mas a mente não
pode achar-se num “estado de amor” (…). (A Renovação da Mente, pág. 12-13)
Assim, se puderdes ver tudo isso, compreendereis que é na realidade a mente que se
opõe à existência do estado criador. Uma vez cônscia do seu próprio movimento, a
mente cessa. Só então pode realizar-se o estado criador; esse estado criador é a
única salvação, porque ele é amor. O amor nada tem em comum com o
sentimentalismo; (…) com a sensação; (…) não pode ser fabricado pela mente. A
mente só é capaz de criar imagens de sensação, de experiência; e imagens não são o
amor. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 175-176)
Desejais saber o que é o amor de Deus, (…). Porque não sabeis o que é amor,
adorais a Deus. (…) Mas, amor a Deus é amor ao homem; temos de começar pelo
amor ao homem; mas como não conhecemos este amor, voltamo-nos para certa coisa
misteriosa que chamamos “Deus” e procuramos descobrir o que é amor. (…) (O
Problema da Revolução Total, pág. 93-94)
(…) Você ama alguém? Este amor contém ciúme posse, dominação, apego? Então
não é amor. É apenas uma forma de prazer, entretenimento. Quando há sofrimento,
não pode haver amor e, portanto, nenhuma inteligência. O amor tem sua própria
inteligência.
A compaixão possui sua qualidade de pura e não adulterada inteligência. Quando ela
existe, opera no mundo. Esta inteligência não é resultado do pensamento; o
pensamento é apenas uma pequena ocupação dela. Quando você ouve isto, vê a
verdade de tudo isto - se você assim procede - o perfume, o sentimento de estar
amando completamente surge, ou você volta para a velha rotina? (Mind Without
Measure, pág. 28-29)
(…) Para o homem feliz, o homem que ama, não há divisões; ele não é brâmane, nem
inglês, (…). Para esse homem não há divisões de “altos” e “baixos”. (…) Quando
amais, tendes um sentimento de riqueza que vos perfuma a vida e estais pronto a
dividir o vosso coração com outro. Quando está cheio o coração, as coisas da mente
fenecem. (A Arte da Libertação, pág. 36)
Ora, que se entende por beleza, (…) por verdade? (…) Senhores, essa confiança se
chama amor, afeição; e, quando amais alguém, não há diferenças, não há alto nem
baixo. Quando há amor, essa chama extraordinária, então ele é a própria eternidade.
(Novo Acesso à Vida, pág. 84)
Senhores, não conheceis aquele “estado de ser” íntimo, aquela interior tranqüilidade,
em que floresce o amor, a bondade, a generosidade, a piedade? Aquele estado de
ser, obviamente, é a essência mesma da beleza, e, sem ele, o simples decorar de nós
mesmos significa dar realce aos valores (…) dos sentidos; (…) (Idem, pág. 84-85)
Ora, a velha reação procede do pensamento. (…) Porque, sem nos libertarmos do
resíduo da experiência não é possível a recepção do novo. (…) Como é então possível
o novo? Só é possível, quando não há mais resíduo de memória, e há resíduo quando
a experiência não é completada, concluída (…) Quando a experiência é completa, não
deixa resíduo algum; esta é a beleza da vida. O amor não é resíduo, o amor não é
experiência - é um “estado de ser”. O amor é eternamente novo. (…) (Da Insatisfação
à Felicidade, pág. 72-73)
Como pode haver verdadeira fraternidade quando o instinto possessivo é tão profundo
e, por isso, necessariamente, deve conduzir a guerras, pois está baseando no
nacionalismo, no patriotismo. (…) Um homem que é realmente fraternal, afetuoso, não
fala de fraternidade; vós não falais de fraternidade à vossa irmã ou à vossa esposa,
porque já existe um afeto natural. E como pode haver fraternidade, verdadeira unidade
humana, quando existe exploração? (…) (Idem, pág. 82)
(…) Dizer que pelo nacionalismo seremos, no devido tempo, internacionais, teremos a
fraternidade, é um processo de pensamento muito errôneo. Só depois de quebrardes
os estreitos limites da mente e do coração, podereis passar além; e quando as
paredes estiverem por terra, se descortinará a vastidão do horizonte da vida. (A Arte
da Libertação, pág. 104)
A dificuldade é ser fraternal, ser bom, ser benevolente, ser generoso; e isso é
impossível, enquanto só pensarmos em nós mesmos. Estais pensando em vós
mesmos quando atribuís a máxima importância (…) como meio de vos proporcionar
felicidade, (…) conservar vosso nome, vossa religião, vossas perspectivas, vossa
autoridade, vossa conta no banco, vossas jóias. (A Arte da Libertação, pág. 104)
Quando um homem está interessado só em si mesmo e no prolongamento de si
mesmo, como pode ele ter amor no coração, como pode ter boa vontade? (…) O
homem que não pensa em si criará por certo um mundo novo, uma nova ordem, e é
para esse homem que devemos volver os olhos (…) A boa vontade, a felicidade, a
bem-aventurança, só virá quando houver a busca do real. O real está perto, não
distante. (…) (Idem, pág. 104-105)
(…) O amor não é suscetível de pensar-se, não pode ser cultivado (…) A prática do
amor, (…) da fraternidade está sempre no terreno da mente (…) Porque não sabemos
amar a um só, o nosso amor à humanidade é fictício. Quando amais, não há um só
nem muitos, só há amor. (…) (A Arte da Libertação, pág. 182)
(…) O amor é “extensivo” e por isso é possível amar ao que é particular. Mas a maioria
de nós, não tendo esse amor “extensivo”, volta-se para o particular, e o particular
destrói. (A Arte da Libertação, pág. 214)
Que é amor? Que é compaixão? A palavra “compaixão” significa paixão por todos,
afeição para com todos os seres - inclusive os animais que matais para comer. (…)
Sabemos o que significa amar, ou só conhecemos o prazer e o desejo, chamando-os
“amor”? É certo que o prazer e o desejo se acompanham também de ternura, desvelo,
afeição, etc., mas o amor é prazer, desejo? (…) Um homem depende de sua esposa,
ama sua esposa, mas se ela olha para outro homem, fica enraivecido (…) frustrado,
infeliz (…) É isso que chamais “amor” (…) (Fora da Violência, pág. 36)
Sois responsáveis pelas misérias e pelos desastres que ocorrem no mundo, pois na
vossa vida diária sois cruéis, opressores, ávidos e ambiciosos. (…) Abrigai em vossos
corações a paz e a compaixão, e aclarar-se-ão as vossas dúvidas. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 16) (…)
Para produzir ordem, vós mesmo deveis ter consideração e compaixão para com
outrem. A ação nascida do ódio só pode criar futuros ódios. A raiva em todas as
circunstâncias é a ausência de compreensão e amor. (…) (Palestras em Ojai e
Saróbia, 1940, pág. 46)
Como dissemos (…) o amor nada tem em comum com o tempo, nem com a memória.
E essa excelência que chamamos amor é compaixão, a qual inclui a ternura, a
bondade, a generosidade, etc. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 61)
Acho, pois, necessário que a mente humana compreenda totalmente essa questão - o
que é a bondade. A palavra “bondade' não é o fato, (…) não é a coisa (…) A bondade
só pode desabrochar, florir, na liberdade. A liberdade não é uma reação, (…) e
tampouco é uma resistência ou revolta contra alguma coisa. É um estado de espírito; e
esse estado de espírito (…) não pode ser compreendido se não há espaço. A
liberdade exige espaço. (O Descobrimento do Amor, pág. 117)
Aí está a razão por que importa descobrir se uma pessoa pode ser boa, (…) sem se
esforçar para ser boa, sem lutar para libertar-se da inveja, da ambição, da crueldade
(…) Pode haver bondade, sem se fazer esforço para “ser bom”? Acho que só haverá,
se cada um de nós escutar, ficar atento. (…) Esquecei todos os livros que lestes, tudo
o que vos têm ensinado, e prestai atenção à asserção de que não pode haver virtude,
enquanto houver esforço para ser virtuoso. (…) (Realização sem Esforço, pág. 38-39)
(…) Qual é a relação entre amor e compaixão, ou são eles o mesmo movimento?
Quando usamos a palavra “relação”, ela implica dualidade, separação, mas estamos
perguntando que lugar tem o amor na compaixão, ou é o amor a mais alta expressão
da compaixão? Como pode ter compaixão se você pertence a alguma religião, segue
algum guru, crê em alguma coisa, em escrituras, etc., se estiver apegado a uma
conclusão?
Estamos tentando descobrir se é possível viver neste mundo sem nenhum medo,
conflito, com um enorme senso de compaixão, o que exige grande soma de
inteligência. Você não pode ter compaixão sem inteligência. E essa inteligência não é
atividade do pensamento. Você não pode ser compassivo se está ligado a
determinada ideologia, a um particular tribalismo estreito, ou a algum conceito
religioso, porque tudo isso é limitação. A compaixão só pode surgir, despertar, quando
há o fim do ressentimento, o que representa o fim do movimento egocêntrico. (The
World of Peace, pág. 86)
E essa inteligência não pode existir sem compaixão, amor e morte. Isso não é um
processo de meditação, mas de profunda investigação. Inquirir com grande silêncio,
não “eu estou investigando”. Grande silêncio, grande espaço. O que é essencialmente
amor, compaixão e morte é a aludida inteligência, que é criação. Criação existe
quando estes outros dois existem: amor e morte. Tudo o mais é invenção. (Last Talks
at Saanen, 1985, pág. 127)
A compaixão não é sua nem minha, da mesma forma que o pensamento não é seu
nem meu. Quando há inteligência, não há eu e você. E a inteligência não fica em seu
coração ou em sua mente. Tal inteligência, que é suprema, está em toda parte. Ela é a
inteligência que move a terra e os céus, as estrelas, porque ela é compaixão. (Mind
Without Measure, pág. 97)
(…) O amor ultrapassa e sobreleva tudo isso; ele transcende o plano dos sentidos. É
em si mesmo eterno e independente, e não um resultado. Nele há misericórdia e
generosidade, perdão e compaixão. Com o amor, surge a humildade e a brandura (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 90)
O amor não é oposto de coisa alguma. Não é o oposto do ódio ou da violência (…)
Para o homem que ama não há erro; ou, se há, sabe corrigi-lo imediatamente. O
homem que ama não tem ciúme, (…) remorsos. Para ele não existe o perdão, porque
nunca surge uma ocasião em que haja algo para perdoar. Tudo isso exige profunda
investigação (…) (Fora da Violência, pág. 37)
Vossa comiseração, pois, não é amor. E é amor o perdão? Que está implicado no
perdão? Vós me insultais e eu fico ressentido e guardo isso na lembrança; depois (…)
digo: “perdôo-vos”. (…) Um homem que ama não guarda inimizade, sendo indiferente
a todas essas coisas, (…) Enquanto a mente é o árbitro, não há amor; porque a mente
só arbitra segundo o interesse de posse (…) A mente só pode corromper o amor, não
pode dar beleza. (A Arte da Libertação, pág. 180-181)
Chama sem Fumaça, Virtudes (Amor), Paixão sem
Causa
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:01
Será de fato difícil a transformação do indivíduo? É difícil ser bondoso, amar alguém?
Afinal, é esta a essência de uma transformação radical. (…) Estamos de tal maneira
entranhados nos impulsos que incitam ao ódio, à antipatia, que perdemos a chama
pura, ficou-nos só fumo; (…) Não possuímos mais (…) a chama da criação; tomamos
o fumo pela chama. (…) (Que Estamos Buscando, pág. 91)
(…) A revolução só poderá realizar-se quando houver amor, e não antes. O amor é a
única chama sem fumo; mas, infelizmente, enchemos os nossos corações com as
coisas da mente, e por isso os corações estão vazios e as mentes cheias. (Que
Estamos Buscando, pág. 31)
(…) Quando amais a um, amais a outros, há cordialidade para com todos. Sois então
sensível, flexível. (…) O amor não é coisa para ser cultivada; ele nasce, pronta e
imediatamente, quando não é impedido pelas coisas da mente. Estão vazios os
nossos corações, e é por isso que não existe comunhão (…) Quando há amor -
cordialidade, generosidade, afabilidade, compaixão - não se necessita de filosofia
alguma nem de instrutores; porque o amor é a própria verdade. (Idem, pág. 38)
(…) O amor é algo novo, eterno, de momento a momento. Nunca é o mesmo, nunca é
como foi antes; e sem o seu perfume, (…) sua beleza, (…) sua bondade, procurar com
a ajuda de um guru aquilo que podeis achar por vós mesmo é de todo inútil. (Da
Insatisfação à Felicidade, pág. 91)
Não é assim o amor. Ele é como aquele bosque do outro lado da estrada: sempre a
renovar-se porque está sempre a morrer. Não existe nele a permanência que o
pensamento busca (…) A consciência do pensamento e a consciência do amor são
duas coisas diferentes: uma leva à escravidão, e a outra, à floração da bondade. (…)
O amor é anônimo (…) Sem ele, não se pode encontrar a bem-aventurança da
verdade. (A Outra Margem do Caminho, pág. 133)
(…) Para o homem feliz, o homem que ama, não há divisões; ele não é brâmane, nem
inglês, nem alemão, nem hindu. Para esse homem não há divisões de “altos” e
“baixos”. (…) Quando amais, tendes um sentimento de riqueza que vos perfuma a vida
e estais pronto a dividir o vosso coração com outrem. Quando está cheio o coração, as
coisas da mente fenecem. (A Arte da Libertação, pág. 36)
(…) O problema da desigualdade só poderá ser resolvido quando existir o amor (…) O
homem que ama não está interessado em quem é superior nem inferior; para ele não
existe igualdade nem desigualdade; só há um “estado de ser”, que é amor. (…) (Visão
da Realidade, pág. 196)
(…) Quando estais naquele “estado de amor”, não existe repugnância. Ele é como
uma flor que exala o seu perfume (…) Um homem que ama está todo entregue ao seu
amor, não lhe importando se as pessoas têm “rostos inexpressivos” (…) (Novo Acesso
à Vida, pág. 133)
(…) Quando há amor, isso é de somenos importância. Embora observeis os fatos, (…)
não vos repugnam. Não é o amor, mas, sim, o coração vazio, o espírito árido, o
intelecto endurecido, que é repelido ou atraído. E quando uma pessoa ama, não há
escravização. Há sempre uma renovação, uma fresca vitalidade, uma alegria não no
falar, mas naquele próprio estado. (…) (Idem, pág. 133)
(…) O amor não tem códigos de moral, (…) não é reforma. Quando o amor se torna
prazer, a dor é inevitável. O amor não é pensamento, e é o pensamento que dá prazer
- prazer sexual, (…) do sucesso. (…) O pensamento, pelo pensar nesse prazer, dá-lhe
vitalidade (…) Essa exigência de prazer é o que chamamos sexo (…) Ele se
acompanha de uma grande abundância de afeição, ternura, desvelo, companheirismo,
etc. (…) (A Outra Margem do Caminho, pág. 57)
Não sabeis que, quando amais, cooperais, não estais pensando em vós mesmos?
Esta é a mais elevada forma de inteligência - e não quando amamos como uma
entidade superior, ou quando nos achamos em boa situação, o que nada mais é que
temor. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 116)
(…) Sabemos o que o amor significa? O amor não pede nada a outrem. (…) O amor
não reclama nada da esposa, do marido, nada reclama dos outros, nem física nem
emocional nem intelectualmente. Não segue a outrem, não tem um conceito para logo
seguir esse conceito. Porque o amor não é ciúme (…) O amor não busca posição,
status, prestígio. Porém possui sua própria capacidade, destreza, inteligência. (La
Llama de la Atención, pág. 49-50)
(…) Quando amais alguém, não pensais no que ireis ganhar dessa pessoa. Não amais
a pessoa porque ele ou ela vos dá dinheiro, ou posição, ou outra espécie de
satisfação. Simplesmente, amais - se tal amor realmente existe. Ora, se amo
verdadeiramente o que estou fazendo, não há ambição. Não me comparo com
ninguém (…) Amo o meu trabalho e, portanto, a minha mente, o meu coração, o meu
ser inteiro está nele. (…) (Idem, pág. 220)
Deseja também saber (…) Ora, amar é ser livre. No amor, são livres ambas as partes.
Se existe a possibilidade de sofrimento, não se trata então de amor, mas, sim,
puramente, de uma forma sutil do instinto de posse, (…) de aquisição. Se amais, se
realmente amais alguém, não há possibilidade de lhe causardes dor (…) (A Luta do
Homem, pág. 53-54)
(…) Mas, o estar cônscio de ser nada significa ser alguma coisa. Ser nada (…) não
pode ser provocado; esse estado só se conhece havendo amor. Mas o amor não é
uma coisa que possa ser procurada; ele vem quando há em nós uma revolução
interior, quando o “eu” já não é importante, já não é o centro da nossa existência.
(Claridade na Ação, pág. 98)
(…) A mente que está quieta conhecerá o ser, o amor. O amor não é pessoal nem
impessoal. Amor é amor, e a mente não o pode definir ou descrever como inclusivo ou
exclusivo. O amor é a própria eternidade; ele é o real, o supremo, o imensurável. (O
que te Fará Feliz? pág. 97-98)
Assim, sem se morrer não há amor, porque o amor é sempre novo e não uma rotina
de sexo e prazer. Para a maior parte de nós, por todo o mundo, o sexo tornou-se um
problema enorme, (…) de que retiramos prazer (…) Até parece que o sexo acaba de
ser descoberto pela primeira vez, sendo-lhe dado lugar em todas as revistas (…) (O
Mundo Somos Nós, pág. 132)
Se não sabeis o que é amor, morreis como um lastimável ente humano, sem conhecer
aquela imensidade que se chama “vida”. E, no conhecer a plenitude da vida, encontra-
se a plenitude do “desconhecido”. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 66)
(…) A ação não deve ter motivo, (…) não deve ser a busca de um fim; e a ação que
não busca um fim só pode vir quando há o amor. O amor não é coisa difícil. Só há
amor quando o intelecto compreende a si mesmo, (…) quando o processo de
pensamento, com suas hábeis manobras, seus ajustamentos, (…) busca de
segurança, deixa de funcionar, descobrireis então que vosso coração é rico, cheio,
abundante de felicidade, porque descobriu aquilo que é eterno. (A Arte da Libertação,
pág. 105)
Que significa amar? Será algo ideal, (…) distante, inatingível? Ter a qualidade da
simpatia, da compreensão, de ajudar os outros naturalmente, sem motivo algum, ser
espontaneamente bom, ter consideração por uma planta ou por um animal, sentir-se
solidário com os camponeses, generoso com o amigo, (…) o próximo - não é isso o
que entendemos por amor? Não é o amor um estado em que não há ressentimento,
mas eterno perdão? E não será possível senti-lo? (O Verdadeiro Objetivo da Vida,
pág. 95)
O problema é: o que é o amor sem motivo? Pode acaso haver amor sem nenhum
incentivo, sem que se deseje tirar algum proveito dele? Pode haver amor em que não
haja mágoa por ele não ser retribuído? Se eu lhe ofereço a minha amizade e você a
recusa, não ficarei ferido? Esse sentimento de mágoa é o resultado de amizade, de
generosidade, de simpatia? Certamente, enquanto eu me sinto magoado, enquanto
houver em mim medo, (…) ou o ajudar esperando que você me ajude - o que se
chama serviço - não haverá amor. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 97)
Ora, a menos que compreendamos a paixão, acho que não seremos capazes de
compreender o sofrimento. A paixão é algo que mui poucos de nós realmente já
experimentaram. Poderemos ter experimentado entusiasmo, (…) num estado
emocional (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 179)
(…) Nossa paixão é sempre por alguma coisa: pela música, pela pintura, pela
literatura, (…) por uma mulher ou um homem; é sempre o efeito de uma causa. (Idem,
pág. 179)
Quando vos apaixonais por alguém, sempre ficais num estado de grande emoção, o
qual é o efeito daquela causa; e a paixão de que falo é paixão sem causa. É estar
apaixonado por tudo, e não simplesmente por uma certa coisa (…) (Idem, pág. 179)
Só quando temos liberdade, temos paixão. Não me refiro à paixão carnal, a qual tem
seu lugar próprio; refiro-me a um estado de liberdade em que existe intensa energia e
paixão. (…) A paixão está sempre no presente; não é algo já passado ou que teremos
amanhã, pois esta é a paixão criada pelo pensamento. (…) Ora, há diferença entre a
paixão do prazer e a paixão que nasce quando estamos completamente libertos da
confusão, quando há claridade total. (A Importância da Transformação, pág. 38)
No estado de “paixão sem causa” há uma intensidade livre de todo apego; mas,
quando a paixão tem causa, há apego, e apego é o começo do sofrimento. Em geral,
temos apego - a uma pessoa, um país, uma crença, uma idéia - e quando o objeto de
nosso apego nos é retirado ou, ainda, quando perde o seu significado, vemo-nos
vazios, incompletos. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 179-180)
(…) E o auto-abandono de que falo é aquele estado de beleza sem causa, o qual, por
essa razão, é um estado de paixão. E pode-se transcender tudo o que é resultado da
causa? (Idem, pág.182).
O problema agora é este: Que é o amor sem “motivo”? Pode haver amor sem “motivo”,
sem incentivo algum, sem tirarmos dele nenhum proveito para nós mesmos? Pode
haver amor sem ressentimento, em que não haja sentimento de mágoa quando o
nosso amor não é correspondido? Pode haver amor em que damos e não recebemos?
Quando dais não sentis mágoa, se a pessoa não retribuir? (…) Assim, pois, enquanto
houver ressentimento, (…) temor, (…) vereis que o vosso incentivo não é o amor. Se
compreendestes, aí tendes a resposta. (Novos Roteiros em Educação, pág. 121)
Ora, que se entende por beleza, e que se entende por verdade? A beleza, de certo,
não é um ornamento (…) Senhores, não conheceis aquele “estado de ser” íntimo,
aquela interior tranqüilidade, em que floresce o amor, a bondade, a generosidade, a
piedade? Aquele estado de ser, obviamente, é a essência mesma da beleza (…)
(Novo Acesso à Vida, pág. 84-85)
(…) Cada um de nós tem um templo, mas precisamos criar a imagem, o ídolo, a
Beleza, em torno da qual possamos desenvolver o nosso amor e nossa devoção;
porque, se conservarmos o templo vazio, não poderemos criar. (O Reino da
Felicidade, pág. 24)
É pela adoração, pelo amor, pela devoção, que criamos, que damos vida ao templo.
Para mim esse templo é o coração. Se puserdes Aquele que é a encarnação do Amor
e da Verdade em vosso coração, se ali o criardes com as vossas próprias mãos, (…)
mente, (…) emoções, esse coração, em vez de frio e abstrato e deserto, se torna real
e vivo e radiante. Tal é a Verdade. (O Reino da Felicidade, pág. 24-25)
O amor, para a maioria de nós, é paixão, concupiscência (…) A fumaça (…) - o ciúme,
o ódio, a inveja, a avidez - destrói a chama. Mas onde está o amor, aí está a beleza e
a paixão. Deveis ter paixão, mas não traduzais prontamente essa palavra em “paixão
sexual”. Por “paixão” entendo a “paixão da intensidade”, essa energia que de pronto
percebe as coisas, claramente, ardentemente. Sem paixão, não há austeridade. (…) A
austeridade vem com o desprendimento, e no desprendimento há paixão e, por
conseguinte, beleza. Não a beleza criada pelo homem; não a beleza artística (…) Mas
refiro-me a uma beleza que transcende o pensamento e o sentimento. E esta só pode
surgir quando há alta sensibilidade (…) (O Passo Decisivo, pág. 276)
Paixão, para a maioria de nós, significa apenas satisfação mental ou física, a qual
depressa declina e tem de ser sempre renovada. Em geral, as paixões são
despertadas por circunstâncias externas ou por nosso especial temperamento, (…)
idiossincrasias e apetites. (…) Isso poderá, com efeito, proporcionar (…) um certo
ardor, (…) mas referimo-nos a uma paixão mais difícil de alcançar, porque a paixão
que se requer para qualquer ação deve ser sem motivo. (…) Pode haver alguma
ocasião rara em que a mente funcione sem “motivo”, sem desejo de satisfação (…) (A
Importância da Transformação, pág. 114-115)
O que é importante (…) A raiz da palavra “paixão” significa “sofrimento”. Mas não
estamos a usar essa palavra no sentido de sofrimento, ou da energia que se manifesta
por meio da cólera, do ódio, da resistência. Estamos a usá-la no sentido daquela
paixão que vem naturalmente e sem esforço, quando há amor. (O Mundo Somos Nós,
pág. 75)
Sem amor, vivemos no sofrimento, na aflição, em conflito perene. E o amor, por certo,
é sem conflito. (…) Nasce o amor ao começarmos a compreender realmente a
totalidade de nosso próprio ser. (…) Na mutação da ação há paixão, que é energia; e,
com essa energia, que faz parte do amor, (…) da criação, tem a mente a possibilidade
de ingressar num estado jamais concebido ou formulado por ela própria, num estado
desconhecido. (Experimente um Novo Caminho, pág. 115-116)
Qual é, pois, o problema? Como ter essa criadora alegria de viver, ser sem limitações
no sentir, amplo no pensar, e ao mesmo tempo preciso, claro, ordenado, no viver?
Creio que a maioria não é assim, porque nunca sentimos nada intensamente, nunca
aplicamos completamente a coisa alguma nosso coração e nossa mente. (…) Mas vós
e eu nunca conheceremos essa alegria, se não sentirmos as coisas profundamente,
se não houver paixão em nossa vida - paixão (…) no sentido de sentirmos as coisas
com toda a força; (…) quando houver uma revolução total em nosso pensar, em todo o
nosso ser. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 61)
Pensamento, Sentimento, Ação; Harmonia, Ação
Integrada
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:03
Exatamente: o pensar e o sentir são uma só coisa; sempre, desde o começo, foram
uma só coisa, e é isso, precisamente, o que estou dizendo. Nosso problema, por
conseguinte, não é a integração dos diferentes fragmentos, mas, sim, a compreensão
dessa mente e desse coração que são uma só coisa. (…) (Idem, pág. 102)
Afinal, sentir é pensar, não? As duas coisas são inseparáveis. (…) O sentimento
sempre acompanha o pensamento. E sentimento é percepção-sensação-contato, etc.
Sentir é ser sensível; (…) (O Passo Decisivo, pág. 65)
Achais mesmo muito importante que a mente e o coração se unam? (…) Por que
procurar uni-los? Essa preocupação é ainda do intelecto e não oriunda (…) de vossa
sensibilidade, que faz parte de vós. Dividistes a vida em intelecto e coração;
intelectualmente observais o emurchecer do coração e, verbalmente, vos preocupais
com isso. (A Outra Margem do Caminho, pág. 21-22)
(…) Aquilo a que vos opondes é a periculosidade do intelecto, que endeusais. Essa
periculosidade cria uma multidão de problemas. Vedes provavelmente os efeitos das
atividades intelectuais, no mundo - as guerras, a competição, a arrogância do poder -
e talvez tenhais medo do que está para acontecer, do desespero do homem. (Idem,
pág. 22)
Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir
profundamente, não é necessário um coração aberto? Não se requer um corpo sadio
para que as suas reações sejam prontas e adequadas? Embrutecemos nossa mente,
nosso sentimento, nosso corpo, com as crenças e a malevolência, com estimulantes
poderosos e insensibilizantes. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 17)
O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com coisas da mente; e só
quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar é capaz de transcender a si
mesma, e só então haverá enriquecimento do coração. Só o (…) enriquecimento do
coração pode trazer a paz a este mundo louco e cheio de lutas. (Idem, pág. 248)
Com essa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o
amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-
nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria
não pode ser substituída pela erudição (…) (A Educação e o Significado da Vida, 1ª
ed.,pág. 78)
(…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas, se a mente e o
coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte
com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. (…) (Idem, pág. 78)
Que quer dizer “razão”? Pode a razão separar-se do sentimento? Vós os separastes,
porque desenvolvestes o intelecto e nada mais. E tendes, assim, uma espécie de tripé,
com uma perna muito mais longa que as outras duas e que por isso não pode ficar em
equilíbrio. É o que aconteceu. Somos altamente intelectuais. (…) E temo-nos servido
do intelecto como meio para encontrarmos a Realidade. (Uma Nova Maneira de Viver,
pág. 139)
(…) Entendo por pensamento, não o mero raciocínio intelectual, que é somente
cinzas, mas o equilíbrio entre os sentimentos e a razão, entre os afetos e o
pensamento; e esse equilíbrio não é influenciado nem atingido pelo conflito dos
opostos. (…) (A Luta do Homem, pág. 147-148)
(…) E a mente e o coração, que são para mim a mesma coisa (…) se debilitam e
obscurecem pela memória (…) Mas, se fordes ao encontro do ambiente sempre
renovados, sem a carga dessa memória do passado, (…) vereis então surgir a
compreensão de todas as coisas (…) (A Luta do Homem, pág. 113)
Assim, a própria ação destrói as ilusões, não a disciplina auto-imposta. (…) Isso abre
imensas avenidas à mente e ao coração (…) Mas só podereis viver completamente
quando tiverdes percepção direta e a percepção direta não se atinge por meio de
escolha (…) de esforço (…) Ela está na chama do apercebimento, que é a harmonia
da mente e do coração na ação. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 162-163)
Agora, já expliquei que o conflito não produz o pensar criador. Para se ser criador,
para se produzir qualquer coisa, a mente precisa estar em paz, o coração cheio. (…)
(A Arte da Libertação, pág. 219)
(…) Cumpre compreender esse anseio logo que se revele no nosso pensar-sentir-agir.
Pela auto-vigilância constante, é possível compreender e transcender as tendências
do anseio, do vir-a-ser pessoal. Não dependais do tempo, mas buscai com ardor o
autoconhecimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143-144)
Mas, que é ação? Bem considerada, ela é aquilo que pensamos e sentimos. E
enquanto não tiverdes percepção de vosso pensamento, de vossos sentimentos, tem
de haver insuficiência (…) (A Luta do Homem, pág. 81-82)
A ação é esse movimento que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa ação
é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Pois bem: se esse movimento do
pensamento for claro, simples, direto, espontâneo, profundo, não existirá então conflito
no indivíduo, contra a sociedade, porque a ação é, nesse caso, a própria expressão
desse movimento vivo e criador. (A Luta do Homem, pág. 153)
Nessas condições, (…) Não há técnica de pensar, mas somente a espontânea ação
criadora da inteligência, a qual é a harmonia da razão, do sentimento e da ação, não
separadas ou divorciadas entre si. (Idem, pág. 153)
Visto que a todos nós interessa a ação e que, sem ação, não se pode viver, é de toda
necessidade entrarmos a fundo na questão e procurarmos compreendê-la
plenamente. É uma questão difícil, porque vivemos, em geral, uma vida desintegrada,
seccionada (…) Assim, (…) precisamos verificar o que é atividade e o que é ação. (…)
Há uma vasta diferença entre atividade e ação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 39)
(…) Nessas condições, o homem sincero não deve deixar-se envolver na atividade,
mas, sim compreender as relações, pelo processo do autoconhecimento. A
compreensão do processo do “eu”, do “meu”, na sua inteireza, traz a “ação integrada”,
e essa ação é completa, não criará conflito. (Idem, pág. 41-42)
Existe uma ação que não seja resultado do movimento do pensar, (…) não
condicionada por ideologias (…) criada pelo pensamento? Existe uma ação que esteja
totalmente livre do pensamento? Uma ação semelhante seria então completa, total,
íntegra - não fragmentária, não contraditória. Uma ação assim seria uma ação total, na
qual não haveria arrependimento, nenhum sentido de “Eu houvera desejado não fazer
isso”, ou “Tratarei de fazer aquilo”. A desordem surge quando opera o movimento do
pensar; o pensamento mesmo é fragmentário e, quando opera, tudo tem de ser
fragmentário (…) Qual é uma ação sem pensamento? (La Totalidad de la Vida, pág.
196)
(…) Ação significa fazer agora, não fazer amanhã ou haver feito no passado. Como o
amor, essa ação não é do tempo. O amor e a compaixão estão mais além do intelecto,
(…) da memória; são um estado da mente que assim atua [N.Revisor: há um erro
gramatical aqui; examinar o texto em inglês], porque o amor e a compaixão são
supremamente inteligentes - e a inteligência atua. Onde há espaço há ordem, que é a
ação da inteligência; esta não é minha nem de vocês, é inteligência que nasce do
amor e da compaixão. O espaço na mente implica que esta não se encontra ocupada;
(…) (La Totalidad de la Vida, pág. 196-197)
Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente
compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e
conhecer o momento em que cessou a ocupação. Vereis, então, que a ação resultante
desses momentos de desocupação é a única ação “integrada”. Quando não está
ocupada, a mente não está contaminada pela sociedade, não é produto de
inumeráveis influências, não é hinduísta nem cristã, nem comunista, nem capitalista.
Por conseguinte, ela própria é uma totalidade de ação, com que não tereis de ocupar-
vos e em que não precisais pensar. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 78)
A ação é esse movimento, que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa
ação é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Ela é conduta, trabalho, cooperação,
que chamamos preenchimento. Isto é, quando a mente atua sem visar a uma
culminância ou objetivo, e é portanto criador o seu pensar, esse pensar é ação (…) (A
Luta do Homem, pág. 153)
Estamos tratando de descobrir que é a ação total, não fragmentária, a ação que não
se acha presa no movimento do tempo, que não é tradicional e, portanto, não é
mecânica. Quer o indivíduo viver uma vida sem conflito, viver em uma sociedade que
não destrua a liberdade e, assim, sobreviver, (…) (Idem, pág. 74)
Como disse (…), a inteligência é a solução única que produzirá a harmonia neste
mundo de conflito, a harmonia entre a mente e o coração, na ação. (…) (Palestras em
New York City, 1935, pág. 27)
(…) E deve também ter um coração - não excitação, não sentimentalismo, nem
emocionalismo, nem entusiasmo, senão esse sentido de plenitude, de profundidade,
de qualidade e energia que só pode existir quando há amor. E deve ter uma mente
com um espaço imenso. Então há harmonia. (Idem, pág. 174-175)
Pois bem, (…) Como dissemos, quando há harmonia há silêncio. Quando a mente, o
coração e o organismo estão em harmonia completa, há silêncio; porém, quando um
dos três se deforma, se perverte, o que há é ruído. (…) Porém quando vocês vêem a
verdade disso - a verdade, não o que “deveria ser” - quando vêem que isso é o real,
então é a inteligência que o vê. Portanto, é a operação da inteligência a que produzirá
esse estado. (Idem, pág. 175)
Krishnamurti: Que quer dizer integração? Não significa completar-se, viver sem conflito
nem sofrimento? Em geral tentamos a integração nas camadas superficiais da
consciência; procuramos Integrar-nos a fim de funcionarmos normalmente dentro do
padrão da sociedade; desejamos ajustar-nos a um ambiente, que aceitamos como
normal; mas não impugnamos o valor da estrutura social que nos circunda. A
aquiescência a um padrão é considerado integração; a educação e a religião
organizada facilitam-nos essa aquiescência. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
132-133)
Verifica-se a integração quando estamos livres do anseio. Não é ela um fim, em si,
mas se buscardes o autoconhecimento, sempre com profundeza, tornar-se-á a
integração o caminho por onde alcançareis a Realidade. (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 134)
Ora, a inteligência, sem dúvida, só pode surgir quando sois livres para pesquisar,
livres para pensar, livres para impugnar todas as tradições, para que nossa mente se
torne muito ativa, muito lúcida e sejais, como indivíduo, uma entidade “integrada”,
plenamente eficaz, - e não uma entidade assustada que nunca sabe o que lhe cumpre
fazer e, por isso, obedece, sentindo intensamente uma coisa e sendo obrigada a
ajustar-se a outra exteriormente. (…) Por isso, interiormente, há um conflito constante.
(Novos Roteiros em Educação, pág. 33)
Ora, por certo, quando o falso é percebido como falso, o verdadeiro existe. Quando se
está cônscio dos fatores da degeneração, não apenas verbalmente, mas
profundamente, não há integração? (…) A integração não é um alvo, um fim, mas um
estado de ser; é uma coisa viva, e como pode uma coisa viva ser alvo, objetivo? (…)
Quando não há conflito, há integração. A integração é um estado de completa
atenção. Não pode haver atenção completa quando há esforço, conflito, resistência,
concentração. (Reflexões sobre a Vida, pág. 61
Intuição (Insight); Verdadeira, Falsa, Impulso
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:05
Pergunta: “Insight” não é intuição? O senhor poderia discutir essa súbita clareza que
algumas pessoas têm? (…)
Essa palavra, “intuição”, é, pode-se dizer, uma palavra ardilosa, que muitos usam. A
realidade da intuição pode ser resultado do desejo. Uma pessoa pode desejar algo e,
então, após alguns dias, ter uma intuição sobre isso. (…) Fica-se então em dúvida
quanto a essa palavra, especialmente quando é usada por pessoas um tanto
românticas, imaginativas, sentimentais e que buscam algo. (Idem, pág. 20-21)
Como pode o indivíduo despertar essa inteligência, essa intuição criadora que
compreende o significado da realidade sem o processo da análise e da lógica? Por
intuição não quero dizer preenchimento do desejo, como faz a maioria das pessoas.
Se a moral, que significa relações mútuas, for baseada na inteligência e na intuição,
então haverá riqueza, plenitude e uma constante beleza na vida. (Palestras em
Ommen, Holanda, 1936, pág. 31)
Para que possa vir à existência essa intuição criadora, todo anseio com seus temores
deve cessar. A cessação da carência não é resultado da abstenção. Nem por meio da
análise cuidadosa pode o desejo ser racionalmente afastado. A libertação da carência,
de seus temores e ilusões, vem por meio da percepção silenciosa e persistente, sem a
escolha deliberada da volição (…) (Idem, pág. 31-32)
Ora, quando é que compreendeis (…) Não sei se já notastes que só há compreensão
quando a mente está muito quieta (…); dá-se o lampejo da compreensão quando não
há verbalização do pensamento. Experimentai-o e vereis que tendes o clarão da
compreensão, aquela extraordinária rapidez da intuição, quando a mente está muito
tranqüila, quando o pensamento está ausente (…) (O Que te Fará Feliz? pág. 107)
É preciso muito cuidado com esta palavra “intuição”; nela se encerra muita ilusão,
porquanto a intuição pode ser ditada por nossas próprias esperanças, temores,
amarguras, desejos, etc. Procuramos uma solução de ordem intelectual ou emocional,
como se o intelecto fosse coisa separada da emoção, e a emoção, da reação física. (A
Questão do Impossível, pág. 41)
Não estou negando que haja intuição, porém o que a pessoa mediana, vulgar,
denomina intuição, não é a verdadeira (Palestras em Auckland, 1934, pág. 76-79)
A palavra “intuição” (…) é perigosa em extremo. Desejo uma certa coisa muito
profundamente; sinto que é um desejo justo, e chamo-o “intuição”. (…) Só de uma
coisa sabemos: que nossa mente, tal como os macacos, está sempre inquieta, a fazer
algazarra, a saltar de um lado para outro, a mexer-se incessantemente, a pensar, a
afligir-se. (…) Dizemos então: “Como exercitá-la para quietar-se?”. Passamos anos e
anos a exercitá-la para quietar-se e, ao cabo desse tempo, ela se torna um macaco de
outra espécie. (O Mistério da Compreensão, pág. 81)
Krishnamurti: Quando falamos de intuição, voz interior, que quer dizer isso? Essa voz
interior pode ser completamente falsa. (…) Estou procurando averiguar se a intuição é
verdadeira ou falsa. Ora, sem dúvida, enquanto não compreendemos o processo do
desejo, consciente (…) e inconsciente, não podemos fiar-nos na intuição, porque o
desejo pode conduzir-nos a certos “fatos” que não são fatos absolutamente. (…)
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 37)
O importante ,pois, é que se perceba a verdade num súbito clarão, que se esteja
sensível num tão alto grau, que o fato revele instantaneamente a verdade. Mas isso
requer muita humildade; (Visão da Realidade, pág. 239)
(…) Se nesse momento entenderdes com todo o vosso ser, se nesse momento
ficardes consciente da futilidade da escolha, então brotará daí a flor da Intuição, a flor
do discernimento. A ação que daí nasce é infinita; então a ação é a própria vida.
(Palestra na Itália e Noruega, 1933, pág. 35)
Para cultivar essa Voz até se tornar o único Tirano, a única Voz a que obedecemos,
temos de descobrir o nosso alvo e trabalhar incessantemente para atingi-lo. (…) A
primeira coisa essencial é o fortalecimento dessa Voz que de vez em quando se
afirma por si mesma em cada um de nós. E ao cultivarmos e enobrecermos a Intuição,
devemos aprender a pensar e a agir por nós mesmos. O culto dessa Voz da Intuição
quer dizer uma vida de acordo com os seus éditos. (O Reino da Felicidade, pág. 6)
(…) Quando tendes esse desejo, essa capacidade de vos encher com o Seu gênio,
com a Sua força, com a Sua nobreza, então vós próprios vos enobreceis e aprendeis a
refletir a Sua divina originalidade, todas as fontes de beleza, de criação; e as tentativas
de ser original, belo, criador, são de pouco proveito se não tivermos a compreensão e
a capacidade de alcançar a fonte das coisas. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 28)
A única autoridade que reconheceis, o único comando que admitis, deve ser a Voz
dessa Intuição, que é inalterável, que coisa alguma no mundo pode abalar. Desse
modo desenvolvereis gradualmente esse senso de beleza, que é vossa própria criação
(…) (O Reino da Felicidade, pág. 39)
Deveis viver lá vossa própria vida, obedecer à vossa própria Voz, achar vosso próprio
Mestre (…) Não podeis ser felizes enquanto não fizerdes a felicidade de outros, e só
podeis tornar outros felizes, se houverdes entrado nesse Reino, se houverdes colhidos
os murmúrios daquela Voz que é Eterna (…) (O Reino da Felicidade, pág. 58-59)
E, como disse antes, deve vir um tempo, virá um tempo, em que aquela Voz, aquele
Tirano, vos dirá que renuncies a tudo e a sigais; e para esse tempo deveis estar
preparados. Deveis ter o vosso jardim bem sachado e cultivado, e as suas flores
prontas a serem colhidas. Então podereis dar da vossa devoção, da vossa inteligência,
com maior certeza, com maior conhecimento de que elas serão aproveitadas, porque
as exercitastes, porque as cultivastes, porque conheceis a capacidade delas; (…) (O
Reino da Felicidade, pág. 76)
Enquanto marchardes com visão clara, enquanto ouvirdes essa Voz que é universal e
a ela obedecerdes, não importa o que diga quem quer que seja no mundo; porque
estareis com a razão, quando estiverdes obedecendo ao Altíssimo. (…) (O Reino da
Felicidade, pág. 19)
Como, porém, posso ter essa visão intuitiva? O que devo fazer, ou não fazer, para ter
essa visão intuitiva instantânea, que não pertence ao tempo, (…) à memória, que não
possui nenhuma causa (…)? Portanto, como a mente tem essa visão intuitiva? (…)
Essa visão intuitiva torna-se possível se a sua mente estiver liberta do tempo. (A
Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 77)
(…) Antes, a ação estava baseada no pensamento. Agora, quando existe visão
intuitiva, há somente ação. (…) Porque a visão intuitiva é racional, a ação é racional. A
ação se torna irracional quando atua a partir do pensamento. Portanto, a visão intuitiva
não usa o pensamento. (Idem, pág. 86)
É possível termos uma visão intuitiva total, o que representa o fim de “mim”, porque o
“mim” é o tempo? O “mim”, meu ego, minha resistência, minhas mágoas, tudo isso.
Esse “mim” pode acabar? É somente quando ele acaba que ocorre a visão intuitiva
total; foi isso que descobrimos. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 91)
Porque se você possui essa visão intuitiva, ela é uma paixão, e não apenas uma hábil
visão intuitiva; ela é uma paixão que não permitirá que fique parado; terá de se mover,
dar seja lá o que for. (…) Você possui a paixão dessa visão intuitiva; e essa paixão é
como um rio com um grande volume de água que transborda; ela tem de avançar da
mesma maneira. (Idem, pág. 105-106)
Sim, estamos dizendo a mesma coisa. (Idem, pág. 139) [N.Revisor: Este parágrafo
não acrescenta coisa alguma à obra. Sugiro eliminá-lo.]
Uma coisa acaba de surgir na minha mente. O amor não tem nenhuma causa. O ódio
tem uma causa. A visão não tem nenhuma causa. O processo material, como o
pensamento, tem uma causa. Certo? (Idem, pág. 143)
Uma vez que a visão intuitiva não possui causa, ela tem um efeito preciso sobre aquilo
que tem causa. (Idem, pág. 143)
É um lampejo, naturalmente, e esse lampejo altera todo o padrão, opera sobre ele;
usa o padrão, no sentido de que eu argumento, raciocino, uso a lógica, e tudo isso.
(…) (Idem, pág. 144)
O processo material está trabalhando na escuridão, no tempo, no conhecimento, na
ignorância. Quando, surge a visão intuitiva, ocorre a eliminação daquela escuridão.
Isso é tudo que estamos dizendo. A visão intuitiva elimina aquela escuridão (…)
Conseqüentemente, essa luz alterou, digo, ela pôs fim à ignorância. (A Eliminação do
Tempo Psicológico, pág. 147)
(…) Essa escuridão existe enquanto o “eu” (self) está ali; ele é o criador dessa
escuridão, mas a luz dissipa exatamente o centro da escuridão. Isso é tudo. (…)
(Idem, pág. 149)
Não está ligada ao tempo. Dissemos que a visão intuitiva é a eliminação da escuridão,
que é o próprio centro do “eu” (self) (…) A visão intuitiva dissipa exatamente esse
centro. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 160)
Naquela base não há escuridão como escuridão, ou luz como luz. Naquela base não
há divisão. Nada tem origem na vontade, no tempo, ou no pensamento.
D.B. [N.Revisor: Essas iniciais não significam nada para os novos leitores. Precisamos
especificar que é o David Bohm]: Está dizendo que aquela luz e aquela escuridão não
estão divididos?
Krishnamurti: Exatamente.
D.B.: O que é a mesma coisa que dizer que não há nem uma nem outra coisa?
Krishnamurti: Nem uma nem outra; é isso mesmo. Há algo mais. Há uma percepção
de que existe um movimento diferente, que é “não-dualista” (A Eliminação do Tempo
Psicológico, pág. 171)
Quero me referir ao movimento, o movimento que não é tempo. Esse movimento não
cria divisão. Portanto, quero voltar, chegar à base. Se, nessa base, não há nem
escuridão nem luz, não há divisão - o que acontece então? (Idem, pág. 171)
Dissemos que o movimento é energia total. Essa visão intuitiva captou, viu, esse
extraordinário movimento, e ele é parte dessa energia. (Idem, pág. 179)
Progresso; Relativo na Alma, Não Ocorre no
Espírito
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:13
Pois bem, existe a possibilidade de vos tornardes mais sábio, mais belo, mais virtuoso,
mais aproximado da realidade, pelo processo do tempo? É o que queremos dizer,
quando falamos de evolução. Existe, obviamente, uma evolução fisiológica, (…) mas
existe um desenvolvimento psicológico, evolução psicológica, ou se trata apenas de
uma fantasia de nossa mente? (…) (Idem, pág. 134)
Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos (…) - e tudo o que se
especializa, logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de
adaptabilidade. (…) Isto é, o autoconhecimento é um processo de especialização? Se
é, então esse processo de especialização destrói o homem - e é isso o que está
acontecendo. (…) (Idem, pág. 134-135)
Disto surge a pergunta: Haverá crescimento, uma continuidade futura? Pode o “eu”
tornar-se onicompreensivo, perdurável? (Idem, pág. 82)
Aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. O que é perdurável está indo-a-ser.
Vós me perguntais se o “eu” evolui, se se torna glorioso, divino. (Idem, pág. 82)
(…) Com relação à continuidade, precisamos apreciar a idéia de que existe em nós
uma essência espiritual, a qual é contínua. (…) Tudo quanto é, em essência,
atemporal, eterno. Se assim é, então é evidente que o atemporal, o eterno, é algo que
transcende o nascer e o morrer. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 135)
Ora, que é isso que chamamos continuidade? Que é que continua? De duas coisas,
uma: ou é uma entidade espiritual e, por conseguinte, fora do tempo, ou é,
simplesmente, a memória, dando continuidade a si mesma, por meio do resíduo da
experiência. (…) Isto é, se sou uma entidade espiritual, então sou atemporal; logo, não
há continuidade. Porque o que é espiritualidade, verdade, divindade, está fora do
tempo (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 61)
Se isso que eu sou é uma entidade espiritual, ela deve ser sem continuidade, não
pode progredir, não pode crescer, não pode vir-a-ser (…) Então, a vida e a morte são
uma coisa só, há então atemporalidade, eternidade. (…) (Idem, pág. 61)
(…) O que continua não tem renovação, não tem frescor, não tem novidade, porque
está apenas continuando o que foi ontem, numa forma modificada. (…) Não há
renovação por meio da memória, (…) da continuidade; só ocorre renovação quando há
um término (…) quando há morte, quando a idéia cessa. Então, todos os dias há
renovação. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 63)
Krishnamurti: Não sei o que entendia por “evolução” nem (…) por “Deus”. Essa
questão me parece bastante importante (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955,
pág. 132)
Não pode haver preenchimento para o homem no progresso mecânico. (…) Quando
falamos de progresso, aplicado ao que chamamos crescimento individual, que
queremos dizer com isso? Queremos dizer a aquisição de mais conhecimento, de
maior virtude, que é preenchimento. (…) (Idem, pág. 151)
Vós adorais o sucesso. Vosso deus é o sucesso, que vos confere títulos, diplomas,
posição e autoridade. Há uma constante batalha dentro de vós mesmos - a luta por
alcançardes aquilo que desejais. Nunca tendes um momento tranqüilo, nunca existe
paz em vosso coração, porque estais sempre a esforçar-vos por vos tornardes alguma
coisa, por progredirdes. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 50)
Não vos deixeis seduzir pela palavra “progresso”. As coisas mecânicas progridem,
mas o pensamento humano nunca pode progredir senão no seu próprio “vir-a-ser”.
Move-se o pensamento do conhecido para o conhecido; mas isso não é crescimento,
não é evolução, não é liberdade. (Idem, pág. 50)
(…) Não entendemos por evolver o constante vir-a-ser do indivíduo, do seu “ego”, que
acumula e rejeita, que é ávido e quer ser não ávido - o movimento interminável do vir-
a-ser? A natureza mesma do “ego” é de criar contradição. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 100)
Entendemos também por progresso o constante expandir do desejo, do “ego” (…) Ora,
nesse processo de expansão, de vir-a-ser, podemos em algum tempo chegar ao fim
do conflito e da aflição? (…) Se é para a continuação das lutas e dos sofrimentos, que
valor tem o progresso, a evolução do desejo, a expansão do “ego”? (…) Mas, não é da
própria natureza do anseio criar e alimentar o conflito e o sofrimento? (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 141)
O “ego”, esse feixe de lembranças, é o resultado do passado, produto do tempo; e
esse “ego”, por mais que evolva, será capaz de conhecer o Atemporal? Pode o “eu”,
com o tornar-se maior e mais nobre, no correr do tempo, sentir o Real? (Idem, pág.
142)
Pergunta: Já dissestes que o esclarecimento jamais nos poderá vir pela expansão
pessoal; mas não vem ele com a expansão da consciência individual?
Essa idéia de crescer progressivamente é falsa, para mim, porque aquilo que cresce
não é eterno. Já se demonstrou alguma vez, que quanto mais tendes, mais entendeis?
(Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 32)
(…) Devemos pôr de lado todas essas coisas e chegar-nos ao problema central, que
é: Como dissolver o “eu”, que nos prende ao tempo, e no qual não existe nem amor
nem compaixão? Só é possível passarmos além, depois que a nossa mente não mais
se divida em pensador e pensamento, quando (…) pensador e pensamento são uma
só unidade, só então há silêncio, (…) não há fabricação de imagens, nem a
expectativa de “mais” experiência. Nesse silêncio não há nenhum experimentador
experimentando, e só então há uma revolução psicológica criadora. (Claridade na
Ação, pág. 145)
Uma vez cônscia de todo esse processo do “eu”, em sua atividade, que deve a mente
fazer? Só com a renovação, só com a revolução - não pela evolução, não com o “eu”
na atividade de vir-a-ser, mas sim pelo completo findar do eu”, há o novo. O processo
do tempo não pode trazer o novo; o tempo não é caminho da criação. (Quando o
Pensamento Cessa, pág. 220)
Assim (…) Dizeis: “eliminai, libertai a mente desta consciência de “mim mesmo”, como
um “eu”, e então o que é que permanece?” O que resta quando sois sumamente
felizes, criativos? O que permanece é essa felicidade. (…) Existe este admirável
sentimento de amor ou este êxtase. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 116)
(…) Digo-vos que não posso descrever (…) exprimir em palavras essa vivente
realidade que está além de toda idéia do progresso, de crescimento. (…) (Coletânea
de Palestras, 1930-1933, pág. 44)
Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas.
Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção à realidade é uma idéia
falsa. Não se pode progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não
se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se
libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. (Coletânea de
Palestras, 1930-1935, pág. 18)
Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não tem futuro
nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem
inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da
estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim, a realização desta
verdade é a finalidade do homem. (Idem, pág. 18)
Ordem, Desordem do Pensamento; Fatores,
Efeitos
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:50
O pensamento criou a desordem através do conflito entre o que “é” e “o que deveria
ser”, o real e o teórico. O pensamento olha para a forma real, de um limitado ponto de
vista e, portanto, sua ação deve inevitavelmente criar desordem. Você encara isso
como uma verdade, uma lei - ou apenas como uma idéia? Entende? Sou ambicioso,
ávido - isso é “o que é”. Mas o oposto - “o que deveria ser” - tem sido criado pelo ser
humano na tentativa de entender “o que é”, e também como um meio de escapar ao
“que é”. Mas só há “o que é”. E quando você percebe “o que é” sem o seu oposto,
então essa percepção traz a ordem. (Idem, pág. 90)
Pergunta: Espere, você não está respondendo à minha pergunta. (…) Estou
perguntando, como é que você fica consciente dessa desordem. Se é o centro que
está consciente da desordem, então é ainda desordem. (Exploration Into Insight, pág.
124)
Krishnamurti: Você percebe que, quando o centro está consciente de que isso é
desordem, então ele cria a dualidade de ordem e desordem. Desse modo, como você
observa a desordem, sem ou com o centro? Se é uma observação com o centro, há
divisão. Se não há observação do centro, então há somente desordem. (Idem, pág.
124)
Alguém vem e diz: Olhe, através de milênios o homem tem evoluído pelo
conhecimento e hoje você certamente é diferente dos grandes macacos. E diz: Olhe,
enquanto você está registrando, está vivendo uma vida fragmentária, porque o
conhecimento é fragmentário e o que quer que você faça a partir desse estado
fragmentário do cérebro, é incompleto. Portanto há dor, sofrimento. (Idéia, pág. 153)
Quando isso está claro, qual é, então, a causa da desordem? Esta tem muitas causas:
o desejo de realização pessoal, a ansiedade de não realizar-se, a vida contraditória
que se vive, dizendo uma coisa e fazendo algo por completo diferente (…) Porém,
poderia o indivíduo inquirir dentro de si mesmo e descobrir se existe uma causa
fundamental. (…) A raiz, a causa original, é o “eu”, o “meu”, o “ego”, a personalidade
gerada pelo pensamento, pela memória, pelas múltiplas experiências, (…) palavras,
(…) sentimento de separação e isolamento; essa é a causa original da desordem. O
“eu” é produzido pelo pensamento (…) (La Llama de la Atención, pág. 129)
Assim, (…) nossa vida é toda de desordem, tanto exterior como interiormente. Vemo-
nos em conflito, em contradição, exterior e interiormente. E a ordem não é possível
quando há conflito, ódio, inveja, avidez, competição, idéias brutais a respeito dos
“outros”. E nós necessitamos de ordem, numa escala infinita. (…) (A Suprema
Realização, pág. 176)
Só se pode criar a ordem negativamente. Isto é, a ordem não pode ser criada pela
imitação ou pelo ajustamento. Vivendo, como estais, à beira do abismo, tendes de
achar a solução correta. (…) (Idem, pág. 176)
(…) A ordem deve começar dentro de nós mesmos, para depois manifestar-se
exteriormente. Não se pode promover a ordem exteriormente, como o fazem os
políticos e os reformadores do mundo inteiro. Só pode haver ordem quando
interiormente impera a ordem. Então, toda ação, todo movimento da vida é conforme a
ordem, correta, racional. Assim, para encontrarmos a ordem, devemos proceder
negativamente. (…) (Idem, pág. 177)
A verdadeira ordem traz consigo um espaço imenso; espaço significa silêncio; desse
silêncio surge este extraordinário sentido do vazio. Não se assustem com essa palavra
“vazio”; quando existe esse vazio, então certas coisas podem ocorrer. (La Totalidad de
la Vida, pág. 197)
(…) A menos que a ordem seja estabelecida no mundo da realidade, não existem
bases para uma ulterior investigação. É possível conduzir-se ordenadamente no
mundo da realidade, não de acordo com um padrão estabelecido pelo pensamento - o
qual continua em desordem? (…) A ordem implica grande virtude; a virtude é a
essência da ordem, não o seguir um esquema de ordem, o qual se torna mecânico.
(…) (La Verdad y la Realidad, pág. 202)
(…) Quem é, então, que vai produzir ordem neste mundo da realidade? O homem tem
dito: “Deus trará a ordem. Crê em Deus.” Porém essa ordem se converte em algo
mecânico, porque nosso desejo é o de estar seguros, encontrar a forma mais fácil de
viver. (…) (Idem, pág. 202)
Agora investigaremos (…) Pode o indivíduo observar esta desordem em que vive - que
é conflito, contradição, desejos opostos, dor, sofrimento, medo, prazer, etc. - pode
observar toda essa estrutura da desordem sem o pensamento? (…) Porque se houver
qualquer movimento do pensar (…) este vai criar mais desordem (…) (Idem, pág. 203)
Vamos ver se o pensamento, como tempo, pode cessar. (…) Esta é a essência
mesma da meditação. Compreendem? (…) Só então há ordem e, portanto, virtude.
Não a virtude cultivada, que requer tempo e, por conseguinte, não é virtude (…) Isto
significa que devemos inquirir (…) o que é a liberdade. (…) Se o tempo cessa, isso
significa que o homem é profundamente livre. (…) Quando a liberdade não está atada
ao pensamento, então é absoluta. (…) (Idem, pág. 203-204)
(…) A ordem não pode ser criada pelo pensamento, através do tempo, num processo
gradual. A virtude não é uma coisa cultivável, não é um hábito. Tal virtude é produto
do tempo, (…) do pensamento e, por conseguinte, não é virtude. (…) Mas, quando se
compreende a natureza do pensamento e do tempo, surge daí a virtude com sua
disciplina própria. Porque disciplina é ordem, mas não a disciplina de imitação, de
ajustamento, de obediência. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 94)
Há uma espécie de disciplina quando fazemos uma coisa pelo gosto de fazê-la. Mas a
disciplina que é mero ajustamento a um padrão, nobre ou ignóbil, não é a verdadeira
disciplina, pois só gera desordem, caos. Mas, para compreender a ordem, que é
virtude, precisa-se compreender a natureza do pensar. E a compreensão do pensar
exige disciplina. Observar qualquer coisa bem de perto, observar, prestar atenção (…)
- esse observar, que só dura um instante, exige enorme disciplina, porque, do
contrário, sois incapaz de olhar. (Idem, pág. 94)
Estamos vendo, pois, que a ordem interior, a ordem na mente, em nosso ser, nunca
pode ser produto do pensamento. O pensamento pode criar hábitos, ajustamento,
obediência, e isso, é bem de ver, só leva a uma desordem maior (…) É necessário
compreender todo esse processo do pensamento: como pensamos, por que
pensamos, observando-o simplesmente. Se a ele dispensais atenção, não apenas
intelectual ou emocionalmente, porém totalmente, nessa atenção total há imediata
compreensão e, por conseguinte, ação imediata. E quando se compreende a natureza
do pensamento, começa-se a descobrir o que é o amor. (…) (A Essência da
Maturidade, pág. 94-95)
Já considerastes alguma vez (…) por que razão quase todos nós somos um tanto
negligentes (…) no vestir, nas maneiras, no pensar, no modo de fazermos as coisas?
Por que somos impontuais e (…) desatenciosos para com os outros? E que é que põe
ordem em todas as coisas, ordem no vestir, no pensar, no falar, na maneira de andar,
(…) de tratarmos os que são menos afortunados do que nós? Que é que produz essa
ordem singular, que não resulta de compulsão, de plano nenhum, de nenhuma
atividade mental deliberada? Já considerastes isso? (A Cultura e o Problema Humano,
pág. 60)
Sabeis o que entendo por “ordem”? É estar sentado e quieto, sem constrangimento,
comer com elegância, sem sofreguidão, ser calmo, descansado, mas ao mesmo
tempo exato, claro no pensar e, ainda, sem limitações. Que é que produz essa ordem
na vida? (Idem, pág. 60)
A ordem, por certo, só desponta com a virtude; porque, se não sois virtuoso, não
apenas nas pequenas, mas em todas as coisas, vossa vida se torna caótica (…) Ser
virtuoso, por si só, tem muito pouca significação; mas, quando sois virtuoso, há
precisão no vosso pensamento, ordem em todo o vosso viver, e essa é a função da
virtude. (Idem, pág. 60)
Mas, que acontece quando um homem se esforça para se tornar virtuoso, (…)
bondoso, eficiente, atencioso, (…) consome suas energias tentando estabelecer a
ordem (…)? (…) Seus esforços só o levam à respeitabilidade, causadora da
mediocridade mental; esse homem, por conseguinte, não é virtuoso. Já olhastes
atentamente para uma flor? Como é admiravelmente simétrica (…); há nela, também,
singular delicadeza, perfume, encanto. (…) Nosso problema, pois, é sermos precisos,
claros e sem limitações. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 60-61)
Vede, o esforço para ser ordeiro, cuidadoso, tem forte influência limitante. (…) Torno-
me “insuportável” para mim próprio e para os outros. (…) Essa pessoa poderá ser
muito ordeira, muito clara, poderá empregar as palavras com precisão, ser muito
atenta e atenciosa, mas perdeu a criadora alegria de viver. (Idem, pág. 61)
Ordem, apuro, clareza no pensar, não são em si muito importantes, mas tornam-se
importantes para o homem que é sensível, que sente profundamente, que se acha
num estado de perpétua revolução interior. Se sentis intensamente a sorte do infeliz,
do mendigo (…), se sois altamente receptivo, sensível a todas as coisas, então essa
própria sensibilidade traz ordem, virtude; (…) (Idem, pág. 62)
A ordem não é hábito; o hábito torna-se automático e perde toda a sua vitalidade,
quando (…) em estado mecânico. (…) Tem-se observado as pessoas que são muito
ordenadas; elas possuem certa rigidez, não são flexíveis, carecem de vitalidade; têm-
se tornado mais duras, excêntricas, porque seguem um padrão particular que, na
opinião delas, é ordem. E isso se converte gradualmente em um estado neurótico (…)
(El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 103)
De maneira que controle não é ordem. Nunca se pode ter ordem por meio de controle,
porque ordem significa funcionar claramente, ver de modo total, sem distorção alguma;
porém onde há conflito deve haver distorção. O controle também implica repressão,
conformidade, ajuste e divisão entre o observador e o observado. (…) (Idem, pág. 106)
Fragmentação da Consciência; Desvios, Neuroses
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 16:52
(…) No escritório somos uma coisa, em casa somos outra coisa; falais de democracia
e, no íntimo, sois autocrata; falais em amor ao próximo e, ao mesmo tempo, o estais
matando na competição; uma parte de vós está ativa, a olhar independentemente da
outra. Estais cônscios dessa existência fragmentária em vós mesmos? E será possível
ao cérebro (…) tomar-se cônscio do campo inteiro? É possível olharmos o todo da
consciência, completa e totalmente, o que significa sermos entes humanos totais?
(Liberte-se do Passado, pág. 27)
O homem é um ser fragmentário. Por que é que há tal divisão? Um fragmento se acha
tremendamente ativo, o outro não funciona em absoluto. Um fragmento é vulgar,
burguês, mesquinho. Quando se une esses dois fragmentos para se tornarem uma
energia harmônica, (…) não dividida? (Tradición y Revolución, pág. 53)
A principal dificuldade é esta, que o homem vive fragmentado, não só em seu interior,
mas também exteriormente: ele é cientista, médico, soldado, sacerdote, teólogo,
especialista desta ou daquela matéria. Interiormente, sua vida está fragmentada,
fracionada; sua mente, seu intelecto, é sutil e sagaz; por vezes, ele é brutal, agressivo,
enquanto outras vezes pode mostrar-se bondoso, manso, afetuoso; esforça-se por ser
um ente moral, embora a moralidade social seja de todo imoral, e seus inúmeros
desejos antagônicos são a causa dessa fragmentação existente por dentro e por fora,
dessa contradição interior e exterior. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 77)
A maioria das pessoas funciona apenas com um fragmento, uma parte muito pequena
do cérebro. Por isso, sua visão de vida é fragmentária. Somente uma parte do seu
cérebro está operando ativamente em suas vidas, de forma que o cérebro não está
funcionando totalmente. Portanto, você pode descobrir se o cérebro pode operar de
uma forma total, completa. (…) (The World of Peace, pág. 50)
É onde quero chegar, vejo que estou fragmentado: digo uma coisa e faço outra, penso
uma coisa e contradigo o que penso. E vejo claramente que não devo fazer disso um
problema. (The Future is Now, pág. 113)
(…) Se eu faço disso um problema, dizendo a mim mesmo que não devo ser
fragmentado, essa declaração surge da fragmentação. Alguma coisa surgida da
fragmentação é outra forma de fragmentação. Mas o meu cérebro é treinado para criar
problemas. Portanto, tenho de estar atento ao ciclo completo. Então o que devo fazer?
(Idem, pág. 113-114)
(…) Não se ponha nessa posição; você chegou a uma conclusão; portanto, conclusão
é outra fragmentação. Eu faço esta pergunta: Há uma maneira de viver não
fragmentária, na qual esteja envolvida a qualidade da mente religiosa, profunda
bondade, sem nenhuma dualidade? (Idem, pág. 114)
Como pode a mente, que inclui o cérebro, ver uma coisa totalmente? (…) Nós vemos
as coisas fragmentariamente, não é verdade? Trabalho, família, comunidade,
indivíduos, minha opinião, vossa opinião, meu Deus, vosso Deus - tudo vemos em
fragmentos. (…) Se vejo a vida em fragmentos, porque minha mente está
condicionada, é claro que não posso ver a totalidade (…) Se me separo, por causa de
minha ambição, de meus preconceitos pessoais, não posso ver o todo. (…) (A
Questão do Impossível, pág. 122)
Apresenta-se, assim, a questão: Como pode a mente, tão enredada que está nesse
hábito de ver e agir fragmentariamente, ver o todo? Claro que não pode. Se estou todo
interessado em meu próprio preenchimento, na realização de minha ambição, no
competir e no meu desejo de sucesso, não posso ver a humanidade no seu todo. (…)
Enquanto a mente continuar a operar nesse campo da fragmentação, é óbvio, não
poderá ver o todo. (…) (Idem, pág. 122)
Assim, para observar realmente o que é, ver o seu inteiro significado, a mente deve
estar nova, clara, não dividida. E isso leva-nos a outro problema: Como olhar sem a
divisão em “eu” e “não eu”, “nós” e “eles”. (Fora da Violência, pág. 93)
Como dissemos, (…) Como é que escutais e observais outra pessoa, (…) a vós
mesmo? A chave dessa observação se encontra em ver as coisas sem divisão. (…)
Nossa existência está toda fragmentada. Em nós mesmos estamos divididos, em
contradição. Vivemos fragmentariamente.(…) (Idem, pág. 93)
Senhor, (…) Agora prosseguiremos: como posso eu, que vivo em fragmentos, muitos
fragmentos (…) “isto é bom, aquilo é mal”, “isto é sagrado, aquilo não é”, “a
tecnologia”, tudo isso carece realmente de importância, porém ir a um templo é
infinitamente importante; como se pode viver sem fragmentação? (El Despertar de la
Inteligencia, II, pág. 81)
Pergunta: Você vê, sinto-me de todo sem saída nesta situação. O fato é que há
conflito, e a atuação do “eu” leva a maior conflito. Vendo a natureza disso, pode a
mente compreender que está totalmente em conflito? (Exploration into Insight, pág. 61)
No presente não somos sensíveis; há imagens neste campo que são sensíveis
quando nossa particular personalidade, (…) idiossincrasias, (…) prazeres são negados
e então há uma luta. Somos sensíveis em fragmentos, em marcas, mas não somos
sensíveis completamente. Portanto, a pergunta é: Como pode o fragmento, que é
parte do todo, que está se tomando estúpido cada dia repetidamente, como pode essa
parte tornar-se também sensível da mesma forma que é o todo? (…) (The Awakening
of Intelligence, pág. 190-191)
Compreendo. Olho, posso ver parte de meu condicionamento; ver que estou
condicionado como comunista ou muçulmano, mas há outras partes. Posso investigar
conscientemente os vários fragmentos que compõem o “eu”, o conteúdo de minha
consciência? Posso conscientemente olhá-lo? (The Future is Now, pág. 390)
Pergunta: Você diz que esse centro é tempo-espaço, também parece postular a
possibilidade de ir além do campo do tempo-espaço. O espaço é aquilo que opera. Ele
não é capaz de ir mais longe. Se pudesse, o tempo-espaço deixaria de ser conteúdo
da consciência.
Uma insatisfação de tal natureza não nos torna neuróticos nem produz desequilíbrio.
Existe desequilíbrio somente quando a insatisfação se transfere a algo, ou fica presa
em perturbação de uma ou outra classe; então há distorção, há todo gênero de lutas
internas. (La Totalidade de la Vida, pág. 178)
Estamos sempre contra a corrente; (…) Podemos mover-nos, viver, ser, funcionar de
maneira tal que não tenhamos de lutar contra nenhuma corrente? Quanto mais conflito
existe, tanto mais tensão. Da tensão resultam neuroses e psicoses de toda espécie.
(Encontro com o Eterno, pág. 74)
Vós não sabeis quando sois neurótico? Alguém precisa dizer-vos que sois? (…)
Sempre que há “exageração” de qualquer fragmento, há neurose. Se sois
superiormente intelectual, isso é uma forma de neurose, embora os indivíduos
intelectuais sejam tidos em elevada conta. Estar apegado a certa crença (…) é uma
forma de neurose. (…) Qualquer espécie de medo é uma forma de neurose, todo
ajustamento é uma forma de neurose e qualquer comparação de vós mesmo com
outra pessoa é de fundo neurótico. (A Questão do Impossível, pág. 153-154)
Logo, sois neurótico! (…) Deste nosso exame alguma coisa já aprendemos: toda
“exageração” de qualquer fragmento da consciência (pois a vemos toda fragmentada),
todo empenho em realçar um dado fragmento, é uma forma de neurose. (…) (Idem,
pág. 154)
O que devemos fazer? Como saber, num mundo que é de certa forma neurótico, no
qual os amigos e parentes são ligeiramente desequilibrados (…)? Não se pode
recorrer a ninguém; portanto, o que acontece na mente de uma pessoa, agora que ela
não depende mais de outras pessoas, de livros, de psicólogos, de autoridades?
(Perguntas e Respostas, pág. 33)
Mas veja que o próprio estado de dependência de outrem pode ser a causa de uma
neurose psicológica profunda. Quando se quebra esse padrão, o que acontece? A
pessoa sara! Precisamos estar sãos para descobrir o que é a verdade. A dependência
veio da infância (…) Não depender de nada, significa que estamos sozinhos, inteiros,
íntegros - isso é saúde, (…) que produz racionalidade, clareza, integridade. (Perguntas
e Respostas, pág. 33-34)
(…) Significa uma mente em que não há divisão de espécie alguma; uma mente total,
portanto, sã. Só o indivíduo neurótico é obrigado a controlar-se; e, quando chega ao
ponto de estabelecer o controle total de si próprio, está completamente neurótico,
impossibilitado de mover-se livremente. (Fora da Violência, pág. 96)
Visão Global, Holística, da Consciência, da Vida
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 17:00
Nossas vidas acham-se fragmentadas, divididas, jamais somos algo total; nunca
temos uma observação holística. Observamos sempre de um ponto de vista particular.
Estamos tão divididos internamente, que nossas vidas são em si mesmas
contraditórias e, portanto, existe um constante conflito. Nunca olhamos a vida como
uma totalidade completa e indivisível. (La Llama de la Atención, pág. 69)
A observação holística é uma percepção sã, cordata, racional, lógica e total - total
(whole) implica sagrada (holy). É possível para um ser humano como qualquer de nós,
que é um leigo, não é um especialista, é possível para ele olhar a contraditória e
confusa consciência, olhá-la como uma totalidade? Ou deve olhar cada parte dela
separadamente? (…) (La Llama de la Atención, pág. 107)
Parece que jamais encaramos o movimento total da vida. Assim (…) podemos encarar
a vida holisticamente, como um movimento total desde o princípio até o fim, sem
fragmentação nem desvio nem ilusão alguma. É importante compreender como a
mente cria ilusões de auto-importância e todos os múltiplos tipos de ilusão (…)
Olhamos algo com uma idéia ou crença preconcebida, de maneira que nunca o vemos
realmente, como um fato. (La Totalidad de la Vida, pág. 208)
A ordem implica harmonia na vida diária. A harmonia não é uma idéia. Nós nos
achamos encerrados na prisão das idéias, e nisso não há harmonia. A harmonia e a
claridade implicam ver as coisas holisticamente, observar a vida como um movimento
unitário total - não “Eu sou um homem de negócio no escritório e uma pessoa diferente
em minha casa;” não “Eu sou um artista e por isso posso fazer as coisas mais
excêntricas e absurdas”; não esse despedaçar ou fragmentar a vida em múltiplas
categorias, a elite e a não elite, (…) o intelectual e o romântico, o que constitui nosso
normal modo de viver.
Vejam o importante, que é encarar a vida como movimento total, no qual tudo está
incluído, (…) não há divisões como o bem e o mal, o céu e o inferno. Vejam
holisticamente, (…) observem o amigo, a esposa ou o esposo, numa visão total. (La
Totalidad de la Vida, pág. 209)
Pode-se viver uma vida que seja total, não fragmentada? - uma vida em que o
pensamento não se fragmente como família, escritório, igreja, isto ou aquilo? Uma vida
em que a morte tenha sido tão separada que, quando chega, estamos espantados
com ela, incapazes de enfrentá-la, porque não temos uma vida total. (La Totalidad de
la Vida, pág. 190)
O conhecimento é o “eu”, e quer o coloquemos no mais alto, quer no mais ínfimo nível,
ele é sempre “eu” - experiência acumulada (…) O “eu” é incapaz de perceber a
totalidade dessa coisa extraordinária que chamamos de “vida”, e por essa razão é que
fragmentamos o mundo (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 101)
Para pordes fim (…), deveis olhar todo o campo da existência; não apenas uma parte
dele, sua totalidade. Em nosso estado atual, somos incapazes de observar o campo
inteiro - o todo - porque dividimos a vida em vida de negócios, vida de família, vida
religiosa, etc; e, como cada uma dessas frações tem sua própria energia ativa, cada
fragmento está oposto aos outros fragmentos e, assim, essas energias fragmentárias
estão dissipando nossa energia total. (O Novo Ente Humano, pág. 75)
Pode-se olhar o campo inteiro (…) Para percebê-lo totalmente, necessitamos de uma
mente não fragmentada. Como consegui-la? Como pode a mente fragmentada sacudir
todos os fragmentos, para ter uma percepção total? (…) Não posso vê-lo, porque o
intelecto é um fragmento e não posso servir-me de um fragmento para compreender o
todo. Deve haver uma diferente espécie de percepção e essa espécie de percepção
só existe quando o observador está ausente, sem nenhuma imagem, (…) (Idem, pág.
75)
(…) Essas imagens são produzidas pelo observador (…) Assim, ao verdes a verdade
de que há conflito sempre que há observador - e o observador é o produtor de
imagens, é tradição, é a entidade condicionada, é o censor - ao verdes essa verdade,
estareis então observando sem observador e vendo a totalidade da existência. Tem a
mente, então, uma energia tremenda, porque sua energia não está sendo dissipada.
(…) (Idem, pág. 75)
Interlocutor: (…) Porém nesses momentos ocorre com freqüência que o indivíduo não
quer desprender-se do conflito.
Veja, senhor. Pode você dar-se conta de seu fragmento? Dar-se conta de que você é
um norte-americano, (…) eu sou um hindu, um judeu, um comunista (…) - de que o
indivíduo vive somente nesse estado? (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 10)
Pode então dar-se conta realmente dos diversos fragmentos? De que eu sou um
hindu, (…) um judeu, um árabe, (…) um comunista, um católico, um homem de
negócios (…); de que eu sou um artista, (…) um cientista - entende? Toda essa
fragmentação sociológica. (Idem, pág. 10)
Podemos, pois, (…) dar-nos conta de que um indivíduo é isso? Eu sou um fragmento
e, portanto, estou criando mais fragmentos, mais conflito, (…) infelicidade, confusão,
sofrimento; porque, quando há sofrimento, este afeta tudo. (Idem, pág. 10-11)
Pode a mente observar seu conteúdo sem nenhuma escolha quanto a esse conteúdo -
não escolhendo nenhuma parte do conteúdo, (…) o conjunto, mas observando
totalmente? Ora, como é possível observar totalmente? Quando o olho para o mapa
da França, vindo da Inglaterra e cruzando o Canal, vejo a estrada que conduz a
Gstaad. Posso citar as milhas percorridas, (…) ver a direção, e isso é muito simples,
porque está marcado no mapa e eu sigo. Ao fazê-lo, não olho nenhuma outra parte do
mapa, porque conheço a direção na qual desejo ir, e, por isso, essa direção exclui
todas as outras. Da mesma forma, uma mente que está se orientando numa direção,
não vê o todo. (Talks in Saanen, 1974-1975, pág. 14)
Se quero encontrar algo, (…) que penso ser real, então a direção é determinada e eu
sigo naquela direção, e minha mente se torna incapaz de ver a totalidade. Pois bem,
quando eu olho o conteúdo de minha consciência - que é o mesmo da de vocês -
estabeleço uma direção além da qual devo ir. Um movimento numa particular direção,
atendendo a certo prazer, não desejando isto ou aquilo, torna o indivíduo incapaz de
ver o todo. Se sou um cientista, só vejo numa única direção. Se um artista, da mesma
forma, se tenho certo talento ou dote natural, olho igualmente só uma direção. (…)
(Idem, pág. 14)
Mas estou falando de uma mente que entende a natureza da direção e assim é capaz
de ver globalmente. Quando ela vê o todo, pode então operar numa direção.
Compreenderam? Se tenho todo o quadro da mente, posso tê-lo nos detalhes; mas,
se minha mente apenas funciona nos detalhes, então não posso dimensioná-la no
todo. Se estou envolvido em minhas opiniões, (…) ansiedades, no que desejo fazer,
(…) no que devo fazer, não posso ver o todo, obviamente. (Idem, pág. 14-15)
Se venho da Índia com meus preconceitos, superstições e tradições, não posso ver
totalmente. Dessa forma, minha pergunta é: Pode a mente estar livre de direção ? - o
que não significa que esteja sem direção. Quando ela opera totalmente, a direção se
torna clara, muito forte e efetiva. Mas quando a mente só opera num sentido, de
acordo com um padrão por ela estabelecido, então não pode ver o todo. (Talks in
Saanen, 1974-1975, pág. 15)
Pode sua mente olhar seu conteúdo quando você fala com alguém através dos seus
gestos, da maneira como anda (…) senta e come, de seu comportamento? O
comportamento indica o conteúdo de sua consciência - se você está indo de acordo
com o prazer, com a recompensa ou a dor, que são partes de sua consciência. (…)
(Talks in Saanen, 1974-1975, pág. 15)
Esses fragmentos que compõem a nossa consciência - de onde emana toda ação -
produzirão inevitavelmente contradição e aflição. (…) Não tem sentido dizermos para
nós mesmos que todos esses fragmentos devem ser reunidos ou “integrados”, porque
então aparece o problema relativo a quem tem a possibilidade de integrá-los (…)
Assim, deve haver uma maneira de olhar todo esse conjunto de fragmentos com uma
mente não fragmentária. (A Questão do Impossível, pág. 165)
Percebo que minha mente - que também compreende o cérebro e todas as reações
nervosas e psicológicas - percebo que a totalidade dessa consciência está
fragmentada, fracionada, pela cultura em que vivemos, (…) criada pelas gerações
passadas e continuada pela atual. E toda ação, ou o predomínio de um fragmento
sobre os outros, levará inevitavelmente a uma enorme confusão. (Idem, pág. 165)
Assim, pergunta-se: “Há uma ação que não seja fragmentária e não possa contradizer
outra ação que irá verificar-se daqui a um minuto?”. Vemos que o pensamento
desempenha um papel muito importante nessa consciência. O pensamento não só é a
reação do passado, mas também a reação de todo o nosso sentir. Todas as nossas
reações nervosas, esperanças, temores, prazeres, sofrimentos, estão nele contidos.
(…) (A Questão do Impossível, pág. 165)
Esta é uma questão muito séria (…) Temos de devotar nossa energia e paixão, e
nossa vida, a compreendê-la (…) Quando se vê a vida como um todo, não há mais
problema algum. Só a mente e o coração que se acham fragmentados criam
problemas. O centro do fragmento é o “eu”. O “eu” é criado pelo pensamento (…) O
“eu” - “minha” casa, “minha” desilusão, “meu” desejo de tornar-se importante - esse
“eu” é produto do pensamento, que divide. (…) (A Questão do Impossível, pág. 44)
Assim, pergunta-se: Pode a mente, o cérebro, o coração, o ser inteiro, observar sem o
“eu”? O “eu” vem do passado; não existe “eu” do presente. O presente não pertence
ao tempo. Pode a mente libertar-se do “eu”, para olhar toda a vastidão da vida? Pode,
sim, e de maneira completa, total, quando se compreendeu fundamentalmente, com
todo o ser, a natureza do pensar. (…) Se não fordes capaz de observar sem o “eu”, os
problemas continuarão existentes - cada problema em oposição a outro. (Idem, pág.
44)
(…) O que estamos procurando fazer é juntar esses fragmentos de contradição, para
com eles constituir uma totalidade, algo de inteiriço. Compreendeis? Vemos que nossa
vida está dividida em fragmentos e, portanto, tratamos de integrar esses fragmentos,
de juntá-los num todo! Ora, isso é impossível. Porque um fragmento será sempre um
fragmento, ainda que lhe sejam acrescentados outros fragmentos. O estado de não
contradição só é possível quando a mente funciona como um todo. (A Suprema
Realização, pág. 201)
Vendo-se isso claramente, ou seja, as parcelas de desejo, nesta nossa vida tão
dividida e fragmentada, jamais poderão ser unidas, integradas, porque a própria
entidade, o (…) observador que está tentando ajuntá-las, faz parte da fragmentação -
(…) torna-se óbvio que deve haver um diverso modo de proceder, e ele consiste em
ver a contradição, os fragmentos, as exigências e desejos contrários, observá-los,
para ver se há possibilidade de ultrapassá-los, de transcendê-los. É esse transcender
que constitui a revolução radical. (Palestras com os Estudantes Americanos, pág. 77)
A questão não é como integrar os diversos fragmentos, senão como é possível viver
sem fragmentação. (Tradición y Revolución, pág. 116)
Que relação tem tudo isso com o amor? Qual é a relação que há entre mim, você e o
artista? Penso que o amor é o núcleo essencial da relação. O amor tem sido rebaixado
ao sexo e toda a moralidade que o rodeia. Se não houver amor, a fragmentação
haverá de continuar. (Idem, pág. 123)
Processos Psicológicos
Enviado por ick em sab, 16/08/2008 - 17:13
Ora, todo pensar é mecânico, porquanto todo pensar constitui uma reação de nosso
background de experiência (…) de memória. E, sendo mecânico, o pensar nunca pode
ser livre. Poderá ser razoável, sensato, lógico, conforme o seu background, sua
educação, seu condicionamento; (…) (O Passo Decisivo, pág. 174)
Quando não me conheço a mim mesmo, e não sei que fazer ou que pensar,
naturalmente estou envolvido no torvelinho da confusão. Mas quando me conheço a
mim mesmo (…) então, dessa compreensão, nasce a claridade, resulta a conduta
correta. A compreensão de si mesmo traz amor(…) ordem. (…) (A Arte da Libertação,
pág. 78)
Krishnamurti: Ser como o resto dos homens; com as mesmas aflições, a mesma
corrupção, violência, brutalidade, indiferença, insensibilidade. Querer uma colocação,
apegar-se a ela, quer sejamos competentes, quer não, morrer no emprego.
Eis o que se chama “ser vulgar” - nada ter de novo, original, nenhuma alegria na vida;
não ter curiosidade, não ser “intenso”, apaixonado, não procurar esclarecer-se, mas
meramente conformar-se. É isso que entendo por “ser vulgar”, “ser burguês”. Uma
maneira mecânica de viver, uma rotina, tédio. (Ensinar e Aprender, pág. 14)
Essa mente vulgar pode ser muito engenhosa, erudita, possuir uma grande
capacidade técnica e analítica, entretanto permanece vulgar, superficial, desprezível,
quer dizer, essencialmente “burguesa”. (…) Essa mente - a mente da maneira de nós -
com sua pesada carga de condicionamento, é um tanto limitada, achando-se bem
firmada na tradição, na experiência, no ajustamento às diárias exigências de sua vida
(…) (A Essência da Maturidade, pág. 99)
Em primeiro lugar, como dissemos, toda investigação exige paixão. Pode-se investigar
acidentalmente ou por curiosidade ou, ainda, investigar com um motivo. Se investigais
com um motivo, ou por curiosidade, ou acidental e passageiramente, jamais tereis a
paixão necessária para indagar e prosseguir indagando até o fim. E, para terdes
paixão, necessitais de energia. Como temos dito, o prazer e o entusiasmo não
significam paixão. A paixão implica uma energia constante, persistente, não limitada
ao campo de vossa mente insignificante. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág.
134)
Ora, como investigar a verdade relativa a qualquer coisa? Por certo, um dos fatores
essenciais em qualquer espécie de investigação, de indagação, é não pressupor nem
postular coisa alguma, não pensar partindo de uma conclusão (…) O pensamento que
parte de uma idéia preestabelecida não é pensar, porém simples repetição. (O Homem
Livre, pág. 75)
Se, investigando esta questão, a estais investigando como cristão, budista, (…) vos
vereis completamente confusos. E se, para essa investigação, trouxerdes o resíduo de
vossas numerosas experiências, o conhecimento adquirido dos livros e de outras
pessoas, também assim não só ficareis desapontados, mas também algo confuso. (…)
(Experimente um Novo Caminho, pág. 88)
Vejamos (…) se nossa mente está entregue a dada experiência, (…) conclusão ou
crença, que nos está tornando obstinados, inflexíveis, no sentido profundo. (…) Lemos
o Gita, a Bíblia, o Upanishads, (…) o qual deu certa tendência à nossa mente, (…) a
que ela ficou amarrada. Uma mente em tais condições é capaz de investigar? (…) (Da
solidão à Plenitude Humana, pág. 26-27)
Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de
poderem descobrir qualquer coisa nova (…) O homem sério, sem dúvida, é aquele que
é capaz de abandonar as suas conclusões, porque percebe que só assim estará
capacitado para investigar. (Idem, pág. 27)
Antes (…) seja-me permitido salientar (…) que o importante é cada um descobrir a
verdade por si mesmo. Isto é, vós e eu vamos investigar a verdade contida em cada
problema, descobri-la por nós mesmos, experimentá-la por nós mesmos; do contrário,
ficaremos apenas no nível verbal (…) Se pudermos experimentar a verdade de cada
questão, (…) talvez o problema se resolva completamente (…) (Viver sem Confusão,
pág. 37)
O investigar requer mente equilibrada, sã, que não se deixe persuadir por opiniões,
próprias ou alheias e, portanto, seja capaz de ver as coisas com toda clareza, em cada
minuto de seu movimento. (…) (A Suprema Realização, pág. 14)
Como disse, acho sobremodo importante ser sério. (…) Investigar o real até o fim e
descobrir a essência das coisas, isso, afinal, é seriedade. Gostamos de discutir, de
argumentar, de estar em contato com idéias, mas parece-me que as idéias não nos
levam a parte alguma, porquanto são muito mais superficiais, meros símbolos (…) (O
Passo Decisivo, pág. 137)
(…) É árdua tarefa abandonar ou seguir idéias e, ao mesmo tempo, nos mantermos
em contato com o que é, o estado real de nossa mente, nosso coração; e, para mim,
penetrar aí muito profundamente, completamente, isso é que constitui seriedade. Por
esse processo de “ir até o fim” verifica-se o descobrimento da essência (…), a
experiência da totalidade; e tem então os nossos problemas significado todo diferente.
(Idem, pág. 137)
Não sei se já observastes por vós mesmos as três fases sugeridas, ao tentardes
resolver um problema psicológico. Os mais de nós podemos estar cônscios da causa e
do efeito (…), de seu conflito dualista (…) a última (…) que o pensador e o
pensamento são um só (…) Referi-me a três estados ou fases apenas por
conveniência de linguagem: elas se confundem (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 144-145)
Estais, pois, percebendo que, para termos paixão, precisamos de energia; e essa
energia deve ser inteiramente livre e não devemos pervertê-la. A mente torturada pelo
conflito não é, de certo, uma mente livre; sua energia está sendo sempre deformada,
pervertida, condicionada, reprimida. E, em tais condições, como pode a mente
investigar? Qualquer investigação exige muita vitalidade, vigor, energia. E
desperdiçamos toda a energia em conflito: o conflito da dualidade; o bom e o mau, isto
é certo e aquilo é errado (…) Tendes, pois, (…) de compreender essa dualidade (…)
(Viagem Por um Mar Desconhecido, pág. 135)
Estamos acompanhando um ao outro? Não estamos tentando convencê-lo de coisa
alguma; pelo contrário, você deve ter dúvida, ceticismo. Deve questionar, não apenas
o que o orador está dizendo, mas sua própria vida (…) suas crenças. Se você começa
a duvidar, isso dá certa clareza. Não lhe dá um grande sentimento de auto-
importância. A dúvida é necessária em sua indagação sobre o problema total da
existência. Torna são, claro, e com tal cérebro pesquisa. (The World of Peace, pág.
16)
(…) Para o entendimento, o primeiro requisito é a dúvida; dúvida não somente com
relação ao que digo, mas, primordialmente, com relação às idéias a que vós próprios
vos apegais. Porém, haveis feito da dúvida um (…) mal que se deve banir, afastar (…)
(Palestra em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 154)
Ora, ser capaz de criticar, (…) de inquirir, é o primeiro e essencial requisito para todo
homem que pensa, para que ele comece a descobrir o que é falso e o que é
verdadeiro (…), e desse pensamento surge, assim, a ação e não a mera aceitação
(Palestra em Auckland, 1934, pág. 8)
Inquirir é justo, porém fomos acostumados a não perguntar, a não criticar; fomos
cuidadosamente adestrados a nos opor. Por exemplo, se eu vos disser coisa que vos
desgoste, começareis, naturalmente, a vos opor, porque a oposição é mais fácil do
que averiguar se o que estou dizendo tem algum valor. (Idem, pág. 8)
(…) Isto é, se algo do que estou dizendo não vos agrada, levantais os vossos
preconceitos profundamente arraigados e fazeis obstrução; (…) tomais abrigo por
detrás desses preconceitos, dessas tradições, desse fundo de idéias de onde reagis, e
a essa reação denominais crítica. Para mim, isso não é crítica. É simplesmente hábil
oposição que não tem valor. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 9)
Se quiserdes compreender (…), ser crítico exige uma grande dose de inteligência.
Criticismo não é cepticismo nem aceitação; essas coisas seriam igualmente
insensatas. (…) Ao passo que a verdadeira crítica consiste, não em atribuir valores,
porém, em procurar descobrir os verdadeiros valores. (…) (Idem, pág. 9-10)
Para ouvir como convém, é preciso não haver oposição nem antagonismo. A maioria
das pessoas possui um certo fundo de tradição, de preconceito, de esperança e de
temor, que usam como defesa; e a isso, que nada mais é que oposição, chamam
crítica. (…) (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 9-10)
(…) Existe, contudo, uma forma ativa de crítica que exige mente esclarecida e aberta,
isto é, a consciência dos nossos preconceitos, de nossas limitações, e que nos
esforcemos, ao mesmo tempo, por descobrir o valor intrínseco do que o orador tem a
dizer. (…) (Idem, pág. 10)
Assim, quando falo de crítica, peço-vos não tomar partido. (…) Peço-vos (…)
seguirdes com a mente aberta o que eu disser (…) Procurai não vos inclinardes para o
lado do grupo particular a que agora pertenceis, e tampouco procureis tomar o meu
lado. Tudo o que tendes que fazer (…) é examinar, ser crítico, duvidar, verificar,
pesquisar, aprofundar-vos nos problemas existentes diante de vós. (Palestras em
Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 9)
(…) Em outras palavras, tendes certas crenças, (…) dogmas, (…) princípios com que
vos oporeis a qualquer situação nova e de conflito, e imaginais que estais pensando,
que sois críticos, criadores. (…) Se fordes verdadeiramente crítico, criador, nunca vos
oporeis sistematicamente; então estareis interessados em realidades. (Idem, pág. 10)
Para mim, pois, a verdadeira crítica consiste em procurar descobrir o valor intrínseco
da própria coisa, e não em atribuir-lhe qualidade. (…) Isto, porém, destrói a verdadeira
crítica. Vosso desejo está pervertido (…) não podeis ver claramente. (…) (Idem, pág.
11)
Há três condições da mente: “sei”, “acredito” e “não sei”. Ao dizerdes: “sei”, isso
significa que sabeis por experiência própria e (…) vos tornais certos e convencidos de
uma idéia, (…) uma crença. Porém, essa certeza, essa convicção pode estar baseada
na imaginação, num preenchimento do desejo que para vós gradualmente se torna um
fato, e por isso dizeis: “eu sei”. (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 77)
(…) E se não disserdes: “eu sei”, então dizeis: “acredito na reencarnação porque ela
explica as desigualdades da vida.” Mais uma vez, essa crença, que dizeis fundada na
intuição, é o resultado de uma esperança oculta, de um desejo de continuidade.
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 78)
Assim, pois, tanto o “sei”, como o “acredito” são inseguros e incertos, para que neles
se confie. Se, porém, puderdes dizer “não sei”, compreendendo plenamente o
significado disso, então há para vós uma possibilidade de perceberdes aquilo “que é”.
Permanecer num estado de “não saber”, exige grande desnudamento e um estrênuo
esforço, porém não é um estado negativo; é um estado vitalíssimo e ardente para a
mente-coração que não se apega a explicações e afirmações. (Idem, pág. 78)
Interlocutor: Pois bem, essa questão está relacionada com a questão da mente e do
cérebro. O cérebro é uma atividade no tempo, enquanto processo físico e químico
complexo.
Interlocutor: Sim, (…) Mas veja, se cérebro não é livre, significa que ele não é livre
para pesquisar de um modo imparcial.
Krishnamurti: (…) Examinemos o que é liberdade. Liberdade para pesquisar (…) para
investigar. Somente em liberdade pode haver um discernimento profundo. (O Futuro
da Humanidade, pág. 65)
Krishnamurti: Desse modo, visto que o cérebro é condicionado, sua conexão com a
mente é limitada.
Krishnamurti: Não, ela não tem nada a ver com o corpo ou com o cérebro. (Idem, pág.
66)
Interlocutor: Ela tem alguma coisa a ver com o espaço ou com o tempo?
Krishnamurti: Ela tem a ver com o espaço e com o silêncio. Estes são os dois fatores
(…)
Interlocutor: Mas não tem nada a ver com o tempo?
Krishnamurti: (…) Assim sendo, será que o cérebro, com todas as suas células
condicionadas, será que essas células podem sofrer alguma mudança radical?
Interlocutor: (…) Não se tem certeza de que todas as células estejam condicionadas.
Por exemplo, algumas pessoas acham que apenas uma parte ou uma pequena parte
das células está sendo utilizada, e que as outras estão inativas, em estado latente.
Interlocutor: (…) Mas as células que estão condicionadas, seja qual for a sua
quantidade, é evidente que dominam a consciência neste momento.
Interlocutor: Podem.
Interlocutor: (…) O que impede o cérebro de operar numa área mais ampla, numa área
ilimitada?
Krishnamurti: O pensamento.
Interlocutor: Sim, entendo que temos aqui duas coisas que, de certo modo, podem ser
independentes. Há o cérebro e a mente, embora estejam em contato. Dizemos então
que a inteligência e a compaixão têm sua origem fora do cérebro. (…)
Krishnamurti: Ali! O contato entre a mente e o cérebro só pode ocorrer quando o
cérebro está tranqüilo. (O Futuro da Humanidade, pág. 71)
Interlocutor: E desse modo, se o cérebro ficar quieto, ele poderia ouvir algo mais
profundo?
Krishnamurti: Isso mesmo. Portanto, se ele está quieto, entra em contato com a
mente. Nesse caso, a mente pode então funcionar através do cérebro. (Idem, pág. 71-
72)
Interlocutor: Ou seja, essa atenção verdadeira entra em contato com o cérebro quando
o cérebro está em silêncio.
Krishnamurti: Em silêncio e tem espaço. O cérebro não tem espaço agora, porque está
preocupado consigo mesmo, está programado, é egocêntrico e limitado. (O Futuro da
Humanidade, pág. 81-82)
Interlocutor: Mas quando o pensamento está ausente, o cérebro tem seu espaço?
Interlocutor: Ilimitado?
O que aconteceu ao cérebro que está para agir? Dissemos que a inteligência nasce da
compaixão e do amor. Essa inteligência atua quando o cérebro está quieto. (Idem,
pág. 82)
Tudo se registra nas células cerebrais. Cada incidente, cada impressão se grava no
cérebro; pode-se observar em nós próprios vasto número de impressões. Perguntamo-
nos como é possível irmos além e fazermos que se aquietem as células cerebrais.
(Tradición y Revolución, pág. 199)
(…) O intelecto só pode conhecer a liberdade dentro do campo, como o homem que
conhece a liberdade dentro de uma prisão. (…) Assim o homem jamais pode ser livre.
(Idem, pág. 206)
Qual é o material sobre o qual deixa sua marca a experiência? Obviamente se trata do
cérebro. De fato, as células são o material sobre o qual cada incidente, cada
experiência - consciente ou inconsciente - deixa sua pegada. (…) (Idem, pág. 222)
Se o cérebro não desenvolve sua capacidade máxima, não é capaz de ser livre.
Porque a mente embotada, superficial, estreita, vulgar, só é capaz de reagir ao
ambiente e, em virtude dessa reação, se torna escrava desse ambiente. Daí nasce o
problema de nos libertarmos do ambiente, de deixarmos de ser escravos de toda sorte
de influências, diretrizes, impulsos. Assim, o que é importante é sentir-nos totalmente
livres. (Idem, pág. 121)
Antes de tudo, você admite que está condicionado? Está consciente - cônscio sem
escolha - de que o seu cérebro está condicionado? Ou você aceita o que alguém diz e
por isso simplesmente repete: “Meu cérebro está condicionado”? Vê a diferença? Se
estou consciente de que meu cérebro está condicionado, tem isso um valor
completamente diferente.
Mas se imagino que estou condicionado, meramente porque você mo diz, então esse
conceito é muito superficial. Portanto, você está cônscio de que está condicionado -
pela nacionalidade, por sua experiência, cultura, tradição, pelo meio ambiente, por
toda a propaganda religiosa do cristianismo, budismo ou hinduísmo? (The World of
Peace, pág. 18-20)
Mas o conhecimento também condiciona seu cérebro (…) como tradição, programado
como você é por jornais, revistas, pela constante repetição de que você é inglês (…)
Ou quando você vai à França, à Índia ou outro lugar qualquer, ocorre a mesma coisa,
essa constante repetição de sua nacionalidade. Por isso, o cérebro se torna estúpido,
repetitivo, mecânico. (…) (Idem, pág. 20)
Para sondar alguma coisa totalmente desconhecida, não preconcebida, não enredada
em alguma ilusão sentimental ou romântica, deve haver uma qualidade do cérebro que
seja completamente livre; livre de todos os seus conhecimentos, programações, de
todo tipo de influência e, portanto, um cérebro que seja altamente sensível e
tremendamente ativo.
É isso possível? Você possui um cérebro assim, ou ele é lento, preguiçoso e vive em
seus próprios autoconceitos? Como é ele? Porque vamos pesquisar algo que exige
uma mente, um cérebro, que esteja extraordinariamente vivo, não aprisionado em
nenhuma forma de rotina, não mecânico. Você tem tal cérebro sem medo, livre de
auto-interesse, não autocentralizado, ativamente? (The World of Peace, pág. 84) [Nota
Revisor: ativamente o quê?]
Mas, como, de que maneira e em que nível irá realizar-se essa revolução? (…) E
observa-se, também, que a mente, o próprio cérebro se tornou mecânico e, por
conseguinte, repetitivo: ensine-lhe certo padrão de comportamento, certas normas de
conduta, certas atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro
desse canal, desse padrão. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90-91)
Pode-se, por conseguinte, ver que a própria natureza do cérebro deve passar por uma
tremenda revolução - revolução que vos interessa, não na qualidade de indivíduo
unicamente interessado em seu pequenino cérebro, porém na qualidade de ente
humano. (…) (Idem, pág. 91)
Agora espere, talvez o senhor esteja certo. Quando o velho cérebro vê que nunca
pode entender o que é liberdade; quando vê que é incapaz de descobrir algo novo,
essa verdadeira percepção é a semente da inteligência, não é? (…) Pensei que
pudesse fazer muitas coisas, e posso, em uma certa direção, mas em uma totalmente
nova direção nada posso fazer. A descoberta disso é inteligência, obviamente. (La
Verdad y la Realidad, pág. 411)
Agora, qual é a relação dessa inteligência com a outra? Obviamente, o velho cérebro,
em todos estes séculos, pensou que pudesse ter seu Deus, sua liberdade, (…) fazer
tudo que desejasse. E subitamente descobre que qualquer movimento do velho
cérebro é ainda parte do velho; portanto, inteligência é o entendimento de que ele só
pode funcionar dentro do campo do conhecido. O descobrimento disso é inteligência,
dizemos. Agora, o que é esta inteligência? Qual é a sua relação com a vida, com a
dimensão que o velho cérebro não conhece? (Idem, pág. 411-412)
Você vê, a inteligência não é pessoal, não é resultado de argumento, crença, opinião
ou razão. A inteligência manifesta-se no ser quando o cérebro descobre sua
falibilidade, quando descobre do que é capaz e do que não é. Agora, qual é a relação
dessa inteligência com aquela dimensão? Prefiro não usar a palavra “relação” (Idem,
pág. 49)
Pergunta: Você está dizendo que o cérebro não funciona completamente, mas
somente em uma direção?
K.: O cérebro global não está ativo, e penso que este é o fator de deterioração. Você
pergunta, qual é o fator de deterioração, não se a mente é capaz de ver ou não
totalmente. Tenho observado, nestes muitos anos, que a mente que segue certo curso
de ação, desconsiderando a totalidade da ação, se deteriora. (Idem, pág. 66)
A ênfase dada à compreensão da consciência individual não deve ser tomada como
mais um encorajamento do egocentrismo (…) É somente por meio da compreensão do
processo da consciência individual que pode dar-se a ação espontânea e verdadeira,
sem criar ou aumentar ainda mais a tristeza e o conflito. (…) Portanto, devemos
compreender profundamente o processo da individualidade (ente individualizado) com
sua consciência. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 10)
Portanto, deve haver profunda percepção, isenta de escolha, para compreender o
processo da consciência. Essa necessidade surge apenas quando há sofrimento. Para
descobrir a causa do sofrimento, a mente deve ser aguda, plástica, sem escolha (…)
Se não houver discernimento do processo da consciência individual, então a ação
criará sempre confusão, limitação, e, portanto, produzirá sofrimento e conflito. (…)
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 14)
(…) não podemos descartar o nosso saber, nossas experiências e lembranças, pois
essas coisas têm existência. (…) O homem que está observando o perpassar das
suas experiências, lembranças, conhecimentos, sem a essas coisas se prender, esse
homem não aspira à virtude, não está acumulando. E quando a mente já não está
acumulando, quando a mente está desperta para todo o processo da consciência, com
todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, todos os impulsos de
gerações, de séculos, deixando tudo isso passar por ela sem a prender - não se acha
então a mente fora do tempo? (Poder e Realização, pág. 72)
Vós, homens, como indivíduos, desenvolveis vossos sentidos pela luta social, pela
autopreservação, e dais início, assim, à consciência da separação. Desde a infância
vos foi incutida a idéia de que sois uma entidade separada; e dessa ilusão provém a
divisão entre “vosso” e “meu”, no que pensais e no que sentis, no que possuís e em
todas as coisas. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág.18)
Nossa principal preocupação deverá ser, então, descobrir de que modo cada um
poderá ficar cônscio desse eterno, dessa viva realidade que sustenta, nutre e eleva
todas as coisas e que se acha em nós mesmos. (…) (Coletânea de Palestras, 1930-
1935, pág. 21)
Antes que vos possais tornar plenamente conscientes, e, dessa forma, perder a
autoconsciência, há três condições a passar, relativas à consciência. Na primeira
delas, o indivíduo é escravo dos sentidos e de seus anelos. Para satisfazê-los, torna-
se ele simplesmente egoísta, dependendo, inteiramente, para sua felicidade, das
coisas exteriores, das sensações e excitações, (…) emaranhado na tristeza e na dor.
(…) (Idem, pág. 24-25)
Toma cada vez maiores responsabilidades sobre si e torna-se, por essa forma, um
simples escravo da ação. Tal homem não tem tempo nem inclinação para a quietação
do pensamento, para a reflexão, para o exame. Pois a verdadeira reflexão cria a
dúvida, as investigações levam ao isolamento, ao afastamento, o que ele
cuidadosamente evita. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 25)
Depois, vem o segundo estádio, em que o homem se apercebe de suas faltas, de seus
defeitos, de suas ilusões, de suas crueldades. Tornando-se, assim, consciente de sua
própria natureza, tenta desembaraçar-se, livrar-se do domínio dos sentidos e começa
a libertar a mente e o coração. (Idem, pág. 25)
Começa ele, então, a libertar-se do medo e das ilusões que ele próprio cria. Uma vez
que estejais libertos das ilusões, do temor, de todas as outras qualidades, haverá para
vós um como retiro interior nascido da alegria, retiro nascido não do tédio, nem do
retraimento, nem do intuito de fugir a este mundo de conflito, porém um retiro interno
de alegria em meio da ação. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 26)
Quando tal acontecer, a reflexão e a análise virão dar lugar a uma concentração
tremenda; não a concentração sobre um objeto, mas a concentração em que não há
sujeito nem objeto, o pleno conhecimento em que não há mais contrastes. (Idem, pág.
26)
Quando existe essa harmonia, não mais se inquire a respeito do futuro e do passado.
(…) O passado, com suas faltas e tristezas, desaparece, e o futuro, com suas
esperanças, anseios e antecipações, desaparece também; oriunda desses dois
termos, nasce a harmonia do presente, a qual é a realização dessa inteireza que
existe em todas as coisas. Quando ela for realizada, haverá tranqüilidade, haverá a
realidade viva da felicidade. (Idem, pág. 27)
Desde que encontrei a felicidade - (…) visto que descobri a Verdade (…) - quisera
mostrar-vos a senda. O caminho para a felicidade acha-se em vosso coração e em
vossa mente, e em sua purificação reside a consecução. Não há dependência de
auxílio externo para vos apoiar. (…) Para compreender a Vida, tendes de purificar
vossa mente e vosso coração e estabelecer harmonia dentro de vós próprios. (…)
(Uma Visão da Vida, em “A Estrela”, de março-abril de 1929, pág. 4)
Para poderdes alcançar a felicidade, precisais pôr de lado aquelas coisas que não são
essenciais e olhar para a Vida nos campos abertos, a fim de vos guiardes. Somente
com essa visão da Vida podereis crescer, ser sustentados e nutridos. Se fordes
alimentados por coisas não essenciais, dar-se-á a fadiga do coração e a corrupção da
mente. Deveis cultuar aquilo que é incorruptível, deveis dar o vosso amor àquilo que
se acha para além da estagnação. (Idem, pág. 4)
Um rio que corre rápida e constantemente, procura caminho para os mares abertos,
muitas vezes forma, às margens, poças de água estagnada que permanecem o ano
inteiro, até que a estação chuvosa venha e leve as águas paradas para a corrente
principal. A Vida, para mim, é semelhante a esse rio, e sustento que é mais rápido e
fácil entrar no mar aberto da libertação e da felicidade nadando na corrente principal
da Vida, do que permanecendo nas águas estagnadas, retardadas, onde a vida não
existe, onde se criam crenças e executam ritos (O Rio da Vida, em “A Estrela”, de
março-abril de 1992, pág. 11)
É possível estarmos totalmente atentos ao todo da vida, não apenas aos fragmentos,
às partes, porém à sua totalidade? Examinai o que se está dizendo e, por vós
mesmos, senti, tomai conhecimento dessa ação fragmentária, para não considerardes
sério aquilo que não é sério, e descobrirdes o que é uma mente realmente séria, que
não funciona por fragmentos, porém considera a todo. Esta, de certo, é a mente séria;
a mente que está cônscia do processo total da vida, não em fragmentos, mas como
um todo indiviso. (Encontro com o Eterno, pág. 20-21)
Krishnamurti: Existe um movimento, um processo de vida, sem fim, que pode ser
chamado infinito. Pela autoridade e imitação, nascidas do medo, cria a mente para si
própria múltiplas falsas reações, e por meio delas limita-se a si própria. Identificar-se
com essa limitação, é incapaz de acompanhar o movimento rápido da vida. (…) [Nota
Revisor: Este último parágrafo está aleijado. O sentido não seria este: Ao identificar-se
com essa limitação, fica-se incapaz….?]
Devemos ter freqüentemente nos perguntado se porventura existe algo dentro de nós
que tenha continuidade, um princípio algo vivo que tenha permanência, uma qualidade
que seja perdurável, uma realidade que persista através de toda esta transitoriedade
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 89)
Portanto, é realmente esse atrito que procura perpetuar-se a si mesmo. Aquilo que
intensamente desejamos que continue nada mais é que o atrito, a tensão entre as
várias formas do anseio e seus agentes provocadores. Esse atrito, essa tensão é essa
consciência que sustenta a individualidade (ente individualizado) (Palestras em Ojai,
Califórnia, 1936, pág. 90)
O movimento da vida não tem continuidade. Está a cada momento surgindo, vindo à
existência, estando, portanto, num estado de ação, de fluxo perpétuos. Quando o
indivíduo anseia pela própria imortalidade, precisa discernir qual o profundo significado
desse anseio e o que é que deseja que continue. A continuidade é o processo
automantenedor da consciência, do qual surge a individualidade (ente individualizado)
por meio da ignorância, que é resultado da carência, do anseio; daí provém o atrito e o
conflito nas relações mútuas, na moral e na ação. (Idem, pág. 90-91)
Para entender aquilo que é, deverá a compreensão principiar pela de nós mesmos. O
mundo é uma série de processos indefinidos, variados, que não podem ser
plenamente compreendidos, pois cada força é única em si mesma e não pode ser
verdadeiramente perceptível em sua totalidade. O processo integral da vida, da
existência no mundo (…) só podereis compreender por meio desse processo que se
acha focalizado no indivíduo sob a forma de consciência (Palestras em Ojai, 1936,
pág. 115)
Ora, a ação é esse atrito, essa tensão que se dá entre a ignorância, o anseio e o
objeto de seu desejo. Tal ação sustenta-se a si própria e é isso que dá continuidade
ao processo do “eu”. Portanto, a ignorância, pelas suas atividades auto-sustentadoras,
perpetua-se sob a forma de consciência, que é o processo do “eu”. (Idem, pág. 117)
(…) Não é, pois, importante que aquele que indaga da finalidade da vida descubra
primeiro se o seu instrumento de pesquisa é capaz de penetrar o processo da vida, as
complexidades do seu próprio ser? Porque é só isso que temos: um instrumento
psicológico modelado de acordo com as nossas próprias necessidades (Novo Acesso
à Vida, pág. 52)
O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem
o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações
autoprotetoras. Tal se dá quando vos achais enamorados. Tendes, pois, de estar
enamorados da vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou
conhecimentos, porém sim essa grande inteligência que desperta quando defrontais a
vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por
completo vulneráveis em face da vida. (Palestras em New York City, 1935, pág. 60)
Como há de o indivíduo viver de modo que a ação seja preenchimento? Como pode o
indivíduo enamorar-se da vida? Para enamorar-se da vida (…) obter o preenchimento,
é preciso ter a mente livre, mediante a compreensão profunda das limitações que a
deturpam e frustram (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 58-59)
Mecanismo do “Eu”; Anseio, Ilusão, Temor, Auto-
sustentação
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 12:28
(…) O processo do “eu” é, assim, auto-ativo. Isto é, não somente ele próprio se
expande mediante seus voluntários desejos e ações, como se mantém por sua
ignorância, tendências, carências e anseios. A chama sustenta-se pelo seu próprio
calor, sendo que esse mesmo calor é a chama. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936,
pág. 59-60)
Quando se der o entendimento do seu significado, então terá lugar uma nova
compreensão, algo de novo que não está embaraçado pela carência, pela ânsia, pela
ignorância. Então podereis viver neste mundo inteligentemente, de maneira sã, em
plenitude profunda, e, apesar disso, não serdes do mundo. (…) (Idem, pág. 61-62)
Então virá à existência esse algo extraordinário, uma plenitude, uma bem-
aventurança. Antes, porém, (…) é preciso que haja entendimento profundo do
processo do “eu”. A não ser que haja essa compreensão, o processo do “eu” estará
sempre criando a qualidade em si próprio, por meio do desejo. (Palestras em Ojai,
Califórnia, 1936, pág. 62)
O processo do “eu”, que busca perpetuar-se, nada mais é que acúmulo de anseios.
Esse acúmulo e suas lembranças constituem a individualidade (entidade
individualizada) a que nos aferramos e que ansiamos por imortalizar. As múltiplas
camadas de lembranças, tendências e carências acumuladas constituem o processo
do “eu”; e nós desejamos saber se esse “eu” pode viver para sempre, se pode ser
tornado imortal.
(…) O “eu” nada mais é que o resultado das lembranças acumuladas, que ocasiona
atrito entre ele próprio e o movimento da vida, entre os valores definidos e os
indefinidos. Esse mesmo atrito é o processo do “eu”, e este não pode ser tornado o
eterno. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 94)
Desse processo surge também o conflito entre os opostos e, portanto, a luta constante
entre o essencial e o não essencial, entre a seleção e a não seleção. E desse
processo surgem várias paredes autoprotetoras de limitação, que impedem a
verdadeira compreensão dos valores indefinidos. Ora, se nos apercebermos desse
processo, e de que havemos desenvolvido uma vontade em virtude do desejo de
adquirir, de possuir, e que essa vontade está criando conflito, sofrimento e dor
contínuas, então dar-se-á, sem esforço consciente, a compreensão da realidade, que
pode ser chamada permanente. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 95)
Discernir que a carência está presente onde existir ignorância, e, portanto, produz
sofrimento, e apesar disso não permitir à mente adestrar-se a não querer, é tarefa
ingente e difícil. Podemos discernir que o possuir, o adquirir, cria sofrimento e
perpetua a ignorância, que o movimento do anseio impede o discernimento nítido. Se
refletirdes a respeito, percebereis que é assim. Quando não mais existir carência nem
não-carência, dar-se-á a compreensão daquilo que é permanente. É um estado sutil e
dificílimo de compreender; não ser aprisionado entre os opostos, entre o renunciar e o
aceitar, exige um esforço vigoroso e reto. (Idem, pág. 95)
(…) A mente procura uma definição para com ela fazer um molde para si mesma, a fim
de escapar àquelas reações da vida que determinam atrito e dor. Nisso não há
compreensão. (…) Internamente, o processo do “eu”, com suas solicitações, seus
anelos, suas vaidades e crueldade, persiste e continua. Na compreensão desse
processo reside a verdadeira e esclarecida ação. (Idem, pág. 99)
Qual é a causa do medo? Como é engendrado o temor? (…) Haverá medo enquanto
existir o processo do “eu”, a consciência da carência, que limita a ação. Toda ação
nascida da limitação da carência, cria apenas mais limitações. Essa contínua de
carência, com suas múltiplas atividades, não liberta a mente do temor; dá apenas ao
processo do “eu” identidade e continuidade. A ação nascida da carência tem sempre
de criar temor e assim embaraçar a inteligência e dificultar o ajustamento espontâneo
à vida. (Palestras em Ommen, Holanda, l936, pág. 64-65)
A ignorância não tem começo, mas pode-se-lhe pôr termo. A própria compreensão de
que a ignorância se sustenta a si própria, acaba com esse processo. Isto é, vós
mesmos observais como, por meio de vossas atividades, estais sustentando a
ignorância; como, por meio do anseio, que gera o medo, a ignorância é mantida; e
como isso dá continuidade ao processo do “eu”, à consciência. Essa ignorância, esse
processo do “eu”, mantém-se pelas próprias atividades volitivas nascidas da carência,
do anseio. Com a cessação da autonutrição, o processo do “eu” termina. (Palestras
em Ommen, Holanda, 1936, pág. 16)
Assim, direis agora: “se eliminardes esta concepção do “eu”, qual será o ponto focal da
vida?” (…) Dizeis: “eliminai, libertai a mente dessa consciência de si mesma, como um
“eu”, e, então, o que permanece?” O que resta quando sois supremamente felizes,
criativos? O que permanece é esta felicidade. Existe este admirável sentimento de
amor ou este êxtase. Digo que isto é real. Tudo o mais é falso. (Palestras em
Auckland, 1934, pág.116)
Pensador, Observador e Pensamento, Coisa
Observada
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 12:32
A liberdade não é uma idéia, uma filosofia. A liberdade não existe quando a mente
está aprisionada no pensamento. (…) O pensamento é a resposta da memória, do
conhecimento e da experiência, é sempre produto do passado e não pode criar
liberdade (…)(O Mundo Somos Nós, pág. 15)
Será o “observador” - o centro a partir do qual se olha, se vê, se ouve - uma entidade
conceptual que se separa a si mesma do “observador”? Quando se diz que se está
encolerizado, será a cólera diferente da entidade que sabe que está encolerizada?
Estará essa violência separada do “observador”? A violência não faz parte do
“observador”? (…) (Idem, pág. 18)
Se você está prestando atenção, o que ocorre? Não há o “você” prestando atenção.
Não há um centro que diga: “Estou prestando atenção”. (…) Se você está sério e
prestando atenção, logo descobrirá que todos os seus problemas se foram, pelo
menos no momento. Resolver problemas é prestar atenção. (…) (Perguntas e
Respostas, pág. 67)
Digo: “Eu penso”. O pensamento é diverso da entidade que diz: “estou pensando”?
Dizemos que as duas coisas são separadas, que o “eu” pensa ser diferente do
pensamento. Presumimos que o “eu” vem em primeiro lugar; o “eu”, o “ego” é o
pensador; primeiro este, depois o pensamento, a mente. Separamos, pois, o “eu” e a
mente. Mas, isso é um fato? (…) (As Ilusões da Mente, pág. 114)
Análise implica divisão - o analista e a coisa a analisar. Não importa se sois vós
mesmo que vos analisais, ou se é um especialista quem o faz - de qualquer maneira
há divisão e, por conseguinte, já temos o começo do conflito. (…) Eis por que tanto
importa compreender o “processo” da análise, a que a mente humana está apegada
há tantos séculos. (A Questão do Impossível, pág. 32)
Dentre os numerosos fragmentos em que nos achamos divididos, um assume a
função de “analista”; a coisa que se vai analisar é outro fragmento. Esse analista se
torna o “censor”; com seus conhecimentos acumulados, avalia o bom e o mau, o certo
e o errado, o que deve ou não deve ser reprimido, etc. Outrossim, o analista tem o
dever de fazer análises completas (…) (Idem, pág. 32)
Como se pode observar sem o “observador”, sendo este o passado, a imagem? (…) O
“fabricante” de imagens é o observador, e perguntamos se podeis observar vossa
esposa, a árvore, vosso marido, sem a imagem, sem o “observador”. Para se saber a
resposta, impende descobrir o mecanismo formador de imagens. Que é que cria as
imagens? Se o descobrirdes, jamais criareis imagens e podereis observar sem o
“observador”. (O Novo Ente Humano, pág. 115)
Vós me injuriais; se, nesse momento, houver “percepção total”, não haverá registro,
não tenho vontade de bater-vos ou de xingar-vos, estou passivamente cônscio do
insulto e, por conseguinte, não há formação de imagem. A primeira vez (…) ficai
totalmente cônscio, e vereis como a velha estrutura do cérebro se torna quieta (…) O
“registrador” não faz nenhum registro (…) O ver dessa maneira é o verdadeiro estado
de uma relação. Por conseguinte, a mente capaz de observar com clareza é também
capaz de observar o que é a Verdade. (Idem, pág. 115-116)
Esse modo de vida difere totalmente do outro: não é o oposto do outro, nem uma
reação a ele; é diferente. Nele, há liberdade infinita, abundante energia e paixão. Ele é
observação total, ação completa. (…) (Idem, pág. 34)
Existe, pois, em cada um de nós, esse processo dualista, contraditório. Esse processo
é um desperdício de energia. (…) Por que existe esse esforço constante: o que é e o
que deveria ser? (…) O observador é sempre o passado: nunca é novo. A coisa
observada pode ser nova, mas o observador a traduz sempre de acordo com o
“velho”, o passado, e, assim, o pensamento nunca poderá ser novo e, portanto, livre.
(Idem, pág. 90-91)
Ora, pode-se perceber muito bem que o pensador é resultado do pensamento; porque
não existe pensador se não existir pensamento, não há experimentador quando não
há experimentar. O experimentador, o observar, o pensar, produz o experimentador, o
observador, o pensador. O experimentador não está separado da experiência, (…) do
pensamento. (…) O pensamento criou o pensador, como entidade separada, porque o
pensamento está sempre a modificar-se, transformar-se, e reconhece a própria
impermanência. Sendo transitório, o pensamento deseja a permanência, e cria assim
o pensador, como entidade permanente, fora da rede do tempo. (Viver sem Confusão,
pág. 23)
Se percebemos a verdade desse fato - isto é, que o pensador é pensamento, que não
existe pensador separado do pensamento, mas apenas o processo do pensar - o que
acontece? (…) Até aqui, sabemos que o pensador está operando sobre o
pensamento, e isso gera conflito entre o pensador e o pensamento; mas, se
percebemos a verdade de (…) que o pensador é uma entidade arbitrária, artificial e
inteiramente fictícia - que acontece? Não é então afastado o processo do conflito? (…)
(Idem, pág. 23-24)
Quando uma pessoa diz que tem medo, é o observador que diz “tenho medo” e deseja
fazer alguma coisa a respeito do medo. (…) O observador é a coisa observada. O
observador, o centro, com seu pensamento, suas lembranças aprazíveis e dolorosas,
criou esse medo e o colocou fora de si próprio. Há conflito entre o observador, o centro
que diz “devo ser diferente, estou irritado e devo livrar-me da irritação” e a coisa
observada. Há separação entre o observador e o objeto observado e, portanto,
conflito. (A Importância da Transformação, pág. 79-80)
Fator Tempo, Mecanismo; Cronológico,
Psicológico
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 12:36
Temo-nos ocupado de vários assuntos, (…) mas parece-me que uma das questões
mais importantes que devemos investigar e cuja significação devemos descobrir, é a
questão do tempo. (…) Assim, se me é permitido, desejo falar um pouco sobre o que é
o tempo; porque a beleza e o significado daquilo que é atemporal, verdadeiro, só
podem ser experimentados quando compreendemos, no seu todo, o processo do
tempo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 159)
O tempo é coisa que foi construída pelo cérebro, e este, a seu turno, é resultado do
tempo (…) Todo pensamento é resultado do tempo, reação da memória de ontem, das
ânsias, frustrações, fracassos, sofrimentos, iminentes perigos; e com esse fundo
consideramos a vida, todas as coisas. Se há Deus, se não há, a natureza das
relações, como superarmos ou ajustarmo-nos ao ciúme, à ansiedade, ao sentimento
de culpa, ao desespero, ao sofrimento - todas essas questões consideramos com
aquele fundo temporal. (Idem, pág. 89)
Ora, o que quer que consideremos com esse fundo, se desfigura; e quando é muito
grande a crise que nos exige atenção, e a olhamos com os olhos do passado,
atuamos neuroticamente, como o faz a maioria de nós, ou construímos para nós
mesmos uma muralha de resistência a ela (à crise) (…) (Idem, pág. 89-90)
Pergunta: (…) Por que repetis sempre que no presente está o Eterno?
Krishnamurti: O presente é conflito e sofrimento, com um lampejo ocasional de fugaz
alegria. O presente se entretece com o passado e com o futuro, num vaivém
incessante, e, por isso, está o presente em constante agitação. (…) Como podeis
compreender o passado, a não ser pelo seu resultado, o presente? (…) (O Egoísmo e
o Problema da Paz, pág. 66)
(…) Segundo a maneira como considerais o presente (…) no qual vossa mente está
condicionada, revelar-se-vos-á o processo do passado (…) Quando vos
compreenderdes como agora sois, abrir-se-vos-á o rolo do passado. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 67)
O tempo é um fenômeno muito estranho. Espaço e tempo são uma só coisa; um não
existe sem o outro. (…) O tempo quase não tem significação para o selvagem, mas,
para o homem civilizado, é de imensa significação. O selvagem esquece-se de um dia
para outro dia (…) Para o cientista, o tempo é uma coisa, para o leigo, outra. Para o
historiador, o tempo é o estudo do passado (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 228)
Causa-efeito não é um processo único? Não há intervalo entre a causa e o efeito. Hoje
é o efeito de ontem e a causa de amanhã; é um só movimento, um fluir contínuo. Não
há separação, não há uma linha distinta entre a causa e o efeito; mas, interiormente,
nós os separamos com o fim de vir-a-ser, alcançar nossos objetivos. Sou isto e me
tornarei aquilo. Para me tornar aquilo, preciso de tempo - o tempo cronológico usado
para fins psicológicos! (Idem, pág. 229)
Que entendemos por continuidade? Que é que causa a continuidade? Que é que
prende um momento a outro momento, como (…) as contas de um colar? O momento
é o novo, mas “o novo” se absorve no velho e forma-se, assim, a cadeia da
continuidade. (…)
O velho só pode reconhecer sua própria “projeção”; pode chamá-la “o novo”, mas não
é o novo. O novo não é reconhecível; é um estado de não-reconhecimento, não
associação. (…)O “experimentar” do novo só acontece na ausência do “velho”. A
experiência e sua expressão é pensamento, idéia; o pensamento traduz “o novo” em
termos de “velho”. É o velho que dá continuidade; o velho é a memória, a palavra, ou
seja, tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 121)
(…) Todo movimento da mente, sendo temporal, impede a criação. O atemporal não
pode coexistir com a memória temporal. O ilimitado não pode ser medido pela
memória, (…) experiência. O Inefável, o Inominável só pode ter existência depois de
cessar completamente a experiência, o conhecimento. Só a verdade liberta a mente
do cativeiro em que mantém a si própria. (Idem, pág. 122)
Estamos, pois, examinando o tempo. (…) A mente que está em ação pode existir sem
o tempo. (…) A mente que está em ação com uma idéia, um motivo, uma finalidade,
uma fórmula, está enredada no tempo; sua ação, por conseguinte, não se completa e,
portanto, dá continuidade ao tempo. Como sabeis, o tempo, para nós, é não só
duração psicológica, mas também continuidade da existência. (O Despertar da
Sensibilidade, pág. 149)
Serei isso futuramente - amanhã ou no próximo ano. Esse “ser futuramente” está
condicionado não só ao ambiente, à sociedade, mas também à reação a tal
condicionamento (…) Quando uma pessoa diz: “Se hoje não sou feliz, se não sou rico
interiormente, profunda, ampla, inexaurivelmente rico, eu o serei” - essa pessoa está
na armadilha do tempo. (…) (Idem, pág. 149)
(…) Podeis usar palavras, que pertencem ao passado, expressar o original, mas o
original não pertence ao tempo. Por conseguinte, para descobrir o original, deve a
mente estar inteiramente livre do tempo - do tempo psicológico; da duração; da idéia
de “serei”, “alcançarei”, “tornar-me-ei”. (Idem, pág. 150)
Assim, por havermos dividido a ação do tempo em passado, presente e futuro, por não
ser a ação, para nós, completa em si mesma, mas por ser antes algo impulsionado por
motivos, por medo, guias, recompensa ou castigo, nossas mentes são incapazes de
compreender o contínuo todo. (…) Sempre que a ação nasce da plenitude e não da
divisão do tempo, é ela harmoniosa e livre das malhas da sociedade, com suas
classes, raças, religiões e posses. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 45)
Nessas condições, o presente é utilizado pelo passado como uma passagem para o
futuro. (…) O futuro é sempre um “vir-a-ser”; e, nessas condições, o presente, no qual
tão somente pode haver compreensão, nunca é aprendido por nós. Enquanto há “vir-
a-ser”, há conflito. E o “vir-a-ser” é sempre o passado a servir-se do presente, para
ser, para alcançar seus fins. No processo desse “vir-a-ser”, fica o pensamento
aprisionado na rede do tempo. E o tempo não é solução para os nossos problemas.
(…) (O que te Fará Feliz?, pág. 103)
O tempo é uma ilusão, mas não o tempo cronológico, que é uma realidade. Por
depender do tempo para efetivar a transformação interior, o pensamento enreda-se
num círculo vicioso, porque, então, realmente não ocorre transformação nenhuma, já
que (…) é apenas continuidade modificada do que existiu. (…) O tempo deve
simplesmente findar para que ocorra mutação. Ela só se realiza ao negarmos o hábito,
a tradição, as reformas, os ideais e todas as coisas transitórias. (…) (Diário de
Krishnamurti, pág. 125)
No momento em que tendes o tempo, que acontece? Não estais enfrentando o desafio
real e concreto, que está à vossa frente, a exigir ação imediata. Só atuais
imediatamente ao sentirdes dor ou prazer intenso. (…) E a maioria de nós é incapaz
de ver os fatos como são - o que é. O que é é o fato, ao qual nos chegamos com
diferentes opiniões, idéias, juízos. Isto é, com o passado, nos abeiramos do fato
presente; por conseguinte, criamos a contradição, ou falta de compreensão do fato. (A
Suprema Realização, pág. 49-50)
(…) Ambição implica “mais”; “mais” implica tempo; e tempo significa “chegar”,
“alcançar”. Negar o tempo é estar livre da ambição. Não me refiro ao tempo
cronológico; esse não se pode negar, porque, se o fizermos, podemos perder o
ônibus. Mas o tempo psicológico, que criamos para nós mesmos, a fim de nos
tornarmos algo, interiormente - esse pode-se negar. E isso significa, realmente, morrer
para o amanhã, sem desesperar. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
17)
Pois bem, para verificar se existe essa coisa - o eterno - é preciso compreender o que
é o tempo. O tempo é uma coisa verdadeiramente extraordinária (…) Refiro-me ao
tempo como continuidade psicológica. É possível vivermos sem essa continuidade? O
que dá a continuidade? O que dá a continuidade é, obviamente, o pensamento. (A
Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 114)
O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno: a eternidade não é
continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade está no momento
presente. A eternidade está no agora. O agora não é reflexo do passado. (O que te
Fará Feliz?, pág. 129)
(…) E compete a todos libertarem-se, não aos poucos, do processo do tempo, que é o
processo de acumulação (…) o desejo de “mais”. Tal só é possível quando
compreendemos todas as tendências da mente, como está ela constantemente em
busca de segurança, de permanência, quer nas crenças, (…) quer no saber. (…) É
então que começa a liberdade, pois a mente já não adquire, já não acumula. (A
Renovação da Mente, pág. 30)
Uma vez cônscia da totalidade desse processo do “eu”, na sua atividade, que deve a
mente fazer? Só com a renovação, (…) a revolução - não pela evolução, (…) não pelo
“vir-a-ser” do “eu”, mas pela completa extinção do “eu” - só assim o novo se apresenta.
O processo do tempo não pode trazer-nos o novo, pois o tempo não é o caminho da
criação. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)
Consideramos o tempo como um meio de vir-a-ser; esse vir-a-ser é infinito, mas não é
Eterno, não é o Atemporal. O vir-a-ser é conflito incessante, conducente à ilusão. Na
tranqüilidade do presente está o Eterno. (Idem, pág. 45-46)
É o presente da máxima importância; por trágico e doloroso que seja, é a única porta
para a Realidade. O futuro é a continuação do passado, através do presente. Quando
se compreende o presente, transforma-se o futuro. O presente é a única ocasião
propícia à compreensão, porquanto ele se estende para o passado e para o futuro. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 67-68)
Estamos sempre voltando a essa questão (…) Pode a mente, a consciência do “eu”,
que é produto do tempo, compreender ou sentir o Atemporal? Quando a mente
procura, encontrará a Realidade, Deus? Quando a mente afirma ser necessário estar
aberta para a Realidade, é ela capaz de estar aberta? (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 242)
(…) Assim como um lago fica sereno quando cessam os ventos, assim também fica a
mente tranqüila depois de cessarem os seus problemas. A mente não pode induzir a si
própria a ficar quieta, plácida; o lago não está calmo enquanto não param os ventos.
Enquanto não cessarem os problemas criados pelo “eu”, não pode haver tranqüilidade.
A mente deve compreender a si própria e não procurar refúgio em ilusões (…) (Idem,
pág. 242-243)
(…) A beatitude está sempre no presente. Jamais pode estar no futuro. Mesmo no
futuro há sempre o presente. Se não podeis compreender o presente, não o
compreendereis no futuro. (…) A paz está sempre no presente (…) O pensamento
precisa libertar-se do passado, presente e futuro contínuos; nessa libertação, aquilo
que é, é imortal, fora do tempo. (…) (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 91)
(…) O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a
verdade; porque a memória é produto do tempo - do passado, do presente e do futuro.
O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno; a eternidade não é
continuidade. (…) A eternidade está no momento presente. A eternidade está no
agora. (…) (O que te Fará Feliz? pág. 129)
(…) Assim, pois, para descobrir o novo, o eterno, no presente, momento a momento,
necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta, (…) que não vise a um
resultado (…) não interessada em “vir-a-ser”. A mente empenhada em “vir-a-ser” não
conhecerá jamais a perfeita e suprema felicidade do contentamento; (…) o
contentamento que se manifesta quando a mente percebe a verdade no “que é”, e o
falso no “que é”. (…) (Idem, pág. 129-130)
(…) Porque, afinal, para alcançar o “estado criador” - não a mera capacidade de
escrever ou pintar um quadro, mas a ação criadora, livre do tempo, que não é
invenção da mente, (…) não é mera capacidade ou talento, mas força criadora que se
renova incessantemente; para alcançar esse estado criador, não deve a mente ser
capaz de investigação entusiástica e persistente? (Poder e Realização, pág. 38)
Cumpre averiguar se é possível viver tão completamente que não haja ontem, nem
hoje, nem amanhã. Para compreender isso, e vivê-lo, temos de examinar a estrutura
da memória, do pensamento. (…) Mas, é possível viver, dia a dia, livre do tempo
psicológico, entendido como ontem, hoje e amanhã? Isso não significa viver no
momento presente? (…) O importante é viver o agora. O agora é o resultado de
ontem: o que pensamos, o que sentimos, nossas lembranças, esperanças, temores,
tudo o que se acumulou. Se tudo isso não for compreendido e dissolvido, não
poderemos viver no agora. (A Importância da Transformação, pág. 51-52)
(…) Se tiverdes observado vossa própria mente, não apenas a consciente, mas
também a inconsciente, sabeis que ela é o passado, que nela nada existe de novo,
nada que não esteja corrompido pelo passado, pelo tempo. E há aquilo que
chamamos de “presente”. Existe um presente não continuado pelo passado? Existe
presente que não condicione o futuro? (Experimente um Novo Caminho, pág. 90)
Ora, é possível viver no presente sem trazer para ele o tempo, que é o passado? De
certo, só podeis viver nessa totalidade do presente quando compreendeis a totalidade
do passado. Morrer para o tempo é viver no presente; e só se pode viver no presente
após compreender-se o passado - o que significa que devemos compreender nossa
própria mente, não apenas a mente consciente, que freqüenta diariamente o escritório,
que acumula conhecimentos e experiência, que tem reações superficiais, mas também
a mente inconsciente, na qual estão sepultadas as tradições acumuladas da família,
do grupo, da raça. Sepultado no inconsciente se acha também o imenso sofrer do
homem e o medo à morte. (…) (Idem, pág. 90-91)
Eu, porém, digo que a mente pode libertar-se do passado e do passado ambiente, dos
impedimentos passados e, portanto, podeis vós também libertar-vos do futuro, pois
então estareis vivendo dinamicamente, intensamente, supremamente, no presente.
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1934, pág. 25)
(…) A mente não pode formular o atemporal, moldá-lo para os seus fins; o atemporal
não pode ser utilizado. A vida só tem significação quando há o atemporal; doutro
modo, ela é sofrimento, conflito e dor. O pensamento não pode resolver nenhum
problema humano, pois o próprio pensamento é o problema. O findar do saber é o
começo da sabedoria. A sabedoria não é do tempo, não é continuação da experiência,
do saber. A vida no tempo é confusão e sofrimento; mas, quando “o que é” é o
atemporal, há a felicidade suprema. (Idem, pág. 230-231)
A mente, pois, só é livre quando capaz de enfrentar o fato - o que é. Quando ides ao
encontro do fato sem nenhuma opinião, juízo, avaliação, estais vivendo
completamente no presente. Para a mente, então, não há tempo, de modo que ela
pode agir. Porque o próprio fato exige ação urgente - e não as vossas opiniões,
desejos e ideais. (A Suprema Realização, pág. 50)
Estai, pois, cônscio do presente, quer triste, quer agradável; ele se desdobrará, então,
como um processo temporal e, se for capaz, o pensamento-sentimento, de seguir as
suas tendências sutis e erradias, e de transcendê-las, essa própria percepção
extensiva será o presente eterno, atemporal. Dai atenção ao presente, somente; não
vos preocupeis do passado, nem do futuro - porque o amor é o presente, o Eterno. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 68-69)
O conflito e a dor são necessários para que haja potência criadora? (…) O estado de
potência criadora não significa estar livre de conflito, (…) de acumulações? (…) Só há
vir-a-ser e evolver no plano horizontal da existência, mas conduz isso ao Atemporal?
(…) Por meio do tempo não se pode conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 99)
Você diria que o pensamento é o processo do tempo? Isso porque o pensamento está
baseado na experiência, no conhecimento, na memória e na resposta, que englobam
a totalidade do tempo. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 26)
Espere. (…) O final é o início - certo? Veja bem, no final disse tudo - (…) no término do
tempo há um novo começo. Por que isso? (…) Sou todo energia, (…) e o tempo
findou. (…) (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 32)
A luta não se acha num único nível da existência, mas em todos os níveis. O processo
de vir-a-ser é luta, conflito. O funcionário que luta para se tornar gerente, o vigário que
luta para ser bispo, o discípulo que luta para transformar-se em Mestre - esse vir-a-ser
psicológico é esforço, conflito. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 192)
(…) A existência pode exigir esforço, mas só estamos considerando o processo de vir-
a-ser, o impulso psicológico para ser melhor, vir-a-ser alguma coisa, lutar por
transformar o que é no seu oposto. Esse vir-a-ser psicológico pode ser o fator que
torna doloroso, cheio de competição e de conflito, o nosso viver de cada dia. (…) Eu
sou isto e quero tornar-me aquilo. (…) Depois de me tornar aquilo, aparece outro
aquilo, e assim por diante, infinitamente. (Idem, pág. 193)
(…) Vós sois isto, de que não gostais, e quereis ser aquilo, de que gostais. O ideal é
uma autoprojeção; o oposto é um prolongamento do que é (…) A projeção provém da
vontade do “eu”, e conflito é a luta para alcançar a projeção. (…) Esse conflito é o que
é, em luta para vir-a-ser o que não é; e o que é, é o ideal, a autoprojeção. Estais
lutando para vos tornardes uma coisa, e essa coisa é uma parte de vós mesmo. (…)
(Idem, pág. 194)
(…) Estamos cônscios, em nossa vida, do dualismo e seu conflito constante: desejar e
não desejar, céu e inferno, Estado e cidadão, luz e treva. Não surgirá o dualismo do
próprio desejo? A vontade de vir-a-ser, de ser, não encerra também a vontade de não-
vir-a-ser? No desejo positivo existe também negação e, assim, o pensamento-
sentimento se vê envolvido no conflito dos opostos. (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 35)
A completa integração do pensador com o seu pensamento não poderá dar-se se não
existir compreensão do processo de “vir-a-ser” e do conflito dos opostos. Esse conflito
não pode ser transcendido por ato de vontade, só o podendo ser depois de cessar a
escolha. Problema algum pode ser resolvido no seu próprio nível; só pode ser
resolvido duradouramente depois de o pensador desistir de vir-a-ser. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 94)
Pois bem; tentamos achar a verdade disso. Não nos será possível sairmos do tempo;
não será isso possível, a todos nós aqui, não por algum meio de auto-hipnose, mas de
fato? (…) Enquanto pensardes em termos de “vir-a-ser” - “serei bom”, “serei nobre”,
“serei amanhã algo que não sou hoje” - nesse “vir-a-ser” está implicado o processo do
tempo e há confusão. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 69-70)
Mas, em vez de “vir-a-ser”, podeis ser? - pois esse é o único estado em que pode
haver transformação (…) radical. Vir-a-ser é um processo do tempo; o “ser” está livre
do tempo. E como já expliquei antes, só no “ser” pode haver transformação, e não no
vir-a-ser; só no terminar há renovação, e não na continuidade. Continuidade é “vir-a-
ser”. Quando terminais alguma coisa, há um “estado de ser”, e é só no “ser” que pode
haver transformação fundamental, radical. (Idem, pág. 70)
Nosso problema, pois, é o de pôr fim ao vir-a-ser - não o vir-a-ser cronológico, como o
ontem “veio a ser” hoje, e hoje “virá a ser” amanhã - mas o “vir-a-ser” psicológico.
Podeis dar um fim instantâneo a esse “vir-a-ser”? Essa é a única maneira nova de
tratar o problema (…) Todas as outras maneiras são velhas. (Da Insatisfação à
Felicidade, pág. 70)
Ora, para se compreender o “estado de ser” em que não há luta, aquele estado de
existência criadora, precisamos naturalmente investigar a fundo o problema do
esforço. Isto é, vivemos no presente com esforço, toda a nossa existência é uma série
de lutas, com nossos amigos íntimos, (…) nossos vizinhos (…) (A Arte da Libertação,
pág. 107)
Existe um modo diferente de encarar a vida, não do ponto de vista dos opostos, da fé
e da ciência, do temor e da mecanização (…) Isto é, cada um tem de discernir o
processo de vir-a-ser e o de cessação aparente, o processo de nascer e de morrer.
(Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 34)
(…) Isto é, (…) vós o fazeis quando vos encontrais frente a frente com um problema
novo. Ora, este é um problema novo: como pôr fim ao tempo. Sendo novo, precisais
estar completamente novos em face do mesmo. Porque se pensais em termos do que
é velho, estais então traduzindo o novo problema no velho, (…) interpretando-o
erroneamente. Quando tendes um problema novo, deveis tratá-lo de modo novo; e o
que é novo não está no tempo. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 70-71)
A questão, pois, é seguinte: (…) Podeis estar cônscios daquele estado de ser em que
não existe o tempo? Se estais cônscios, (…) vereis que há uma tremenda revolução, a
qual se verifica instantaneamente, porque o pensador deixou de existir. É o pensador
que produz o processo de “vir-a-ser” (…) Porque o findar do pensamento é o começo
da meditação real; e só então há uma revolução, uma maneira fundamentalmente
nova de considerar a existência. (Idem, pág. 71)
A nova maneira de tratar o problema é fazer findar o tempo; e eu digo que isso pode
fazer-se instantaneamente, quando há verdadeiro interesse. Podeis sair do rio para a
margem, em qualquer ponto. O rio do “vir-a-ser” se acaba quando compreendeis o
processo do tempo; para compreendê-lo, precisais aplicar-vos com toda a vossa
mente e todo o vosso coração. (…) (Idem, pág. 71)
Devemos (…) compreender o processo de “vir-a-ser” e tudo o que nele está implícito,
antes de podermos compreender o que é “ser”. (…) Julgamos que a Realidade ou
Deus pode ser alcançado com o tempo, com o vir-a-ser. (…) (Idem, pág. 175-176)
(…) Nosso pensamento-sentimento está colhido no processo horizontal do “vir-a-ser”;
o que vem a ser está sempre acumulando, (…) adquirindo, (…) a expandir-se. O “ego”,
o que vem a ser, o criador do tempo, jamais pode conhecer o Atemporal. O “ego”, que
quer vir-a-ser, é causa do conflito e do sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 176)
Porém, dizeis: “que devo fazer com todas as memórias que tenho?” Não as podeis
repelir. Mas o que podeis fazer é defrontar a vossa próxima experiência
completamente; então vereis como as memórias passadas entram em ação, e é essa
a ocasião de defrontá-las e dissolvê-las. (Idem, pág. 128)
Mas, que acontece quando a mente está tranqüila, (…) quieta, (…) não mais está
empenhada em “vir-a-ser”, (…) já não “anda à procura de um fim, (…) está
extraordinariamente vigilante, passiva? Nesse silêncio, há um movimento, um
“experimentar” no qual não existe o tempo. É um estado no qual não existe nem
passado, nem presente, nem futuro. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 97)
Esse Ser escapa ao nosso raciocínio, ultrapassa a nossa imaginação; se nos pomos a
pensar a seu respeito, esse mesmo pensar torna-se um empecilho ao conhecimento.
O que o pensamento pode fazer é somente estar cônscio de seu vir-a-ser, tão
complexo e sutil, e estar cônscio de sua engenhosa inteligência e vontade. Com o
autoconhecimento vem-nos o pensar verdadeiro, a base da verdadeira meditação.
(Idem, pág. 271-272)
(…) Esse estado de ser, de criação, surge só quando a mente está em completo
silêncio. (…) não está à procura de recompensa. Há então paz permanente; e porque
não sabemos como se chega a esse estado, buscamos a satisfação (A Arte da
Libertação, pág. 197)
(…) Por mais pobre que sejais, por mais vazio ou estúpido, se puderdes ver a coisa tal
como é, isso começará a transformar-vos. A mente, porém, que só quer “vir-a-ser” não
pode compreender o “ser”. É a compreensão do “ser”, (…) daquilo que somos, que
produz uma extraordinária exaltação, a libertação do pensamento criador, da vida
criadora. (Debates sobre Educação, pág. 97)
Aquele que busca está sempre impondo a si mesmo aquela ilusão; ninguém lha pode
impor; é ele próprio que a impõe. Criamos a ilusão e depois nos tornamos seus
escravos. Assim, o fator fundamental da automistificação é esse desejo constante de
ser alguma coisa, neste mundo e no outro. (…) (Idem, pág. 188-189)
Vemos que começamos a enganar a nós mesmos no momento em que existe esse
impulso para ser, para vir-a-ser, conseguir. (…) É possível viver neste mundo e não
ser nada? Porque é só assim que podemos estar livres de todas as ilusões; só assim a
mente não fica a procurar um resultado (…) (Idem, pág. 189)
Por certo, enquanto vivermos a enganar a nós mesmos, de alguma forma, não poderá
existir o amor. Enquanto a mente for capaz de criar e impor a si mesma uma ilusão,
ela terá, evidentemente, de separar-se da compreensão coletiva ou integrada. Essa é
uma das nossas dificuldades; não sabemos cooperar; o que sabemos é só trabalhar
em conjunto visando a um fim que nós mesmos criamos. (Idem, pág. 189-190)
“O que é”, “Não é”, “Deveria ser”; Fato Real, Ideal
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 15:57
Por outras palavras, a maioria de nós está consciente de que sentimos solidão; e, para
escapar a essa solidão, ligamos o rádio, lemos um livro, apegamo-nos a uma pessoa.
(…) Essa fuga do “que é” proporciona várias experiências; (…) Então a propriedade, o
nome, a posição, o prestígio, passam a ter grande importância. (…) Assim também, a
instrução, como meio de fugirmos a nós mesmos, torna-se extraordinariamente
importante. (Nós Somos o Problema, pág. 64)
Viver sem idéia é coisa muito diferente daquilo com que em geral estamos
acostumados. Vivemos habitualmente com idéias, vivemos com os nossos
pensamentos, nossos conceitos, nossas formulações; (…) essa não é a verdadeira
maneira de viver, porquanto cria conflito, sofrimento, confusão. Para viver totalmente,
completamente, deve a mente estar livre de toda ideação, a fim de ser capaz de
enfrentar o fato - o que é - momento a momento, sem interpretar esse fato. Mas nós
estamos pesada e profundamente condicionados (…) Vivemos no mundo
ideologicamente, (…) com idéias, com heróis, com exemplos, com padrões; buscamos
o que deveríamos ser. (Idem, pág. 143)
Temos, pois, a questão de como observar “o que é”. Como sabeis, “o que deveria ser”
cria a autoridade. A mente que se libertou do que “deveria ser”, não depende de
nenhuma autoridade; está, portanto, livre de qualquer suposição que possa gerar a
autoridade, livre para observar realmente “o que é” (…) (O Novo Ente Humano, pág.
16)
A compreensão de o que é, só se torna possível quando o ideal, o que deveria ser, foi
apagado da mente; isto é, quando o falso foi percebido como falso (…) O que deveria
ser é também o que não deveria ser. (…) Para se compreender o real, é preciso estar
em comunhão direta com ele; não pode existir relação com ele através da cortina do
ideal ou (…) do passado, da tradição, da experiência. (…) Isto significa, com efeito,
que se precisa compreender o condicionamento, que é a mente. O problema é a
própria mente, e não os problemas que ela cria (…) (Reflexões sobre a Vida, 1ª ed.,
pág. 96-97)
(…) Os mais de nós nos servimos da vida de relação como meio de fuga de nós
mesmos, de nossa solidão, (…) incerteza e pobreza interior (…) Mas se, em vez de
fugirmos através da vida de relação, procurarmos considerá-la como um espelho e
(…) perceber com toda clareza e sem preconceito (…) “o que é”, então, esse próprio
percebimento torna possível uma transformação do que é, sem o mínimo de esforço.
(…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 78)
Por que estais lutando contra o que é? (…) De nada serve rebelar-se contra o que é,
contra o real. (…) Quando me submeto ao que é, vem-me não só a sua compreensão,
mas também certa tranqüilidade da superfície da minha mente. Se a mente superficial
não está tranqüila, começa a entregar-se a obsessões, reais ou imaginárias; deixa-se
empolgar por certas idéias (…) É só quando está quieta a mente superficial, que o
oculto pode revelar-se. O oculto tem de ser trazido à luz (…) (Comentários sobre o
Viver, 1ª ed., pág. 112-113)
Vede como é importante estarmos cônscios do que é, sem nos deixarmos dominar por
aquilo que gostaríamos que fosse. É fácil criar uma ilusão e nela viver. (…) O viver no
passado, por mais agradável e (…) edificante que tenha sido, impede o experimentar
de o que é. O que é, é sempre novo (…) (Reflexões sobre Vida, pág. 145)
Pode-se ver muito claramente quanto é contraditória e confusa a nossa vida diária (…)
Podem-se inventar significados para ela; os intelectuais inventam uma significação e
nós outros nos pomos a segui-la (…) Mas, se só nos interessa “o que é”, e não (…)
teorias e ideologias; se estamos sobremodo vigilantes - nossa mente é então capaz de
enfrentar “o que é” (…) (Fora da Violência, pág. 32-33)
Estamos descontentes por causa da comparação (…) porque desejamos alterar o que
é; (…) não sabemos o que fazer com o que é. E, em virtude desse desconhecimento,
criamos a idéia do que deveria ser, o ideal, a utopia, os deuses. (…) Estou
descontente com o que é, e desejo ser uma coisa diferente do que é. Essa coisa
diferente é uma idéia, racional ou irracional (…) (A Importância da Transformação,
pág. 155)
Dá-se o conflito entre o que é e o que deveria ser. E, quanto maior a tensão entre o
que é e o que deveria ser, maior a neurose; e (…) se tenho a necessária capacidade,
tanto mais forte o impulso a expressar verbalmente esse conflito: no teatro, na música,
na arte, na literatura (…) É dessa maneira que fugimos do que é. (Idem, pág. 155)
Mas pode-se transformar radicalmente o que é? Eis a busca real (…) Para investigar
essa questão de promover uma total revolução em o que é, necessitamos de
extraordinária capacidade de percebimento. (…) Entretanto, quando estamos cônscios
do que é, desejamos alterá-lo, mantendo-nos em incessante atividade em torno dele.
(A Importância da Transformação, pág. 155-156)
Aí é que começa o sofrimento. Ora, no findar do sofrimento está o começo da
sabedoria; e o fim do sofrimento é a compreensão de o que é. Mas, a compreensão de
o que é só vem quando o observamos, dele estamos cônscios e a mente é incapaz de
alterá-lo (o que não significa estar satisfeita com o que é). (Idem, pág. 156)
Reconhecer “o que é”, é compreender “o que é”. Mas é difícil reconhecer “o que é”,
porquanto a mente se recusa a ver, a observar, a aceitar “o que é”. O ver “o que é”, o
observar “o que é”, exige ação; e qualquer ideal ou processo de vir-a-ser é uma fuga à
ação (…) Quanto mais penetrais em “o que é”, tanto melhor podeis ver a camada mais
profunda da consciência, ou seja, a vida, em diferentes níveis. Nisso existe a liberdade
(…) que a verdade, como virtude, nos traz (…) (O que te Fará Feliz?, pág. 105)
Pois bem; como somos interiormente pobres, procuramos fugir dessa pobreza,
recorrendo ao trabalho, ao conhecimento, ao amor (…) Escutamos o rádio, lemos o
livro (…), cultivamos uma idéia ou uma virtude, adotamos uma crença - tudo fazemos
para fugir de nós mesmos. Nosso pensar é um processo de fuga ao que é (…) A
verdade a esse respeito só pode ser conhecida se não fugirmos (…) (Por que não te
Satisfazer a Vida?, pág. 59)
(…) Todas as fugas, desde a fuga pela embriaguez até à fuga para Deus, são iguais,
porque estamos fugindo do que é (…) É só quando realmente deixamos de fugir, só
quando ficamos frente a frente com o problema da solidão, da insuficiência interior (…)
só então temos a possibilidade de compreendê-lo, e, portanto, de dissolvê-lo. (Idem,
pág. 59-60)
Viver sem comparação é tirar uma carga tremenda. Se vocês se desfazem da carga
constituída pela comparação, pela imitação, pela conformidade, pelo ajustamento, pela
modificação, então hão ficado com “o que é”. O conflito surge unicamente quando
tratam de fazer algo com “o que é”, (…) tentam transformá-lo, modificá-lo, mudá-lo,
reprimi-lo ou (…) escapar dele. Porém, se têm discernimento sobre “o que é”, o
conflito cessa e permanecem com “o que é”. (La Totalidad de la Vida, pág. 180)
E que ocorre com “o que é”? Qual é o estado da mente quando se está olhando “o que
é”? Qual é o estado (…) quando não se foge (…) não se trata de transformar ou
deformar “o que é”? Qual é o estado da mente que está olhando e tem discernimento?
A mente que tem discernimento se acha totalmente vazia. Está livre de fugas, (…) de
repressões, análises, etc. Quando todas essas cargas são eliminadas - porque se
percebe o absurdo que implicam, (…) há liberdade. Liberdade significa vazio para
observar. Esse vazio dá ao indivíduo discernimento da violência, não das diversas
formas de violência, mas da total natureza e estrutura da violência. Portanto, há uma
ação imediata com relação à violência, a qual consiste em estar livre por completo de
toda violência. (La Totalidad de la Vida, pág. 180)
Que é o conflito? Quando não aceitamos os fatos, o que realmente é, quando fugimos
para algo que chamamos de ideal - o oposto de “o que é” - então o conflito é
inevitável. Quando se é incapaz de olhar e observar o que realmente se está fazendo
e pensando, então se foge do que é, e se projeta um ideal; em conseqüência, há
conflito entre “o que é” e “o que deveria ser”. (La Llama de la Atención, pág. 54)
Porque se nega “o que é” e se cria o ideal de “o que deveria ser”, há conflito. Porém,
observar o que realmente é significa que não se tem opostos, só “o que é”. Se vocês
observam a violência e usam a palavra violência, sempre há conflito, a palavra mesma
já está deformada (…) existe a violência e existe o oposto, a não-violência. O oposto
existe porque vocês conhecem a violência; o oposto tem sua raiz na violência. (…) (La
Totalidad de la Vida, pág. 206)
O pensar, sem dúvida, é uma reação. Se vos faço uma pergunta, a essa pergunta vós
reagis; reagis de acordo com vossa memória, vossos preconceitos, vossa educação,
(…) o clima, (…) o fundo do vosso condicionamento; (…) em conformidade com isso
pensais. Se sois cristão, comunista, hinduísta, (…) esse fundo é que reage; e é esse
condicionamento, evidentemente, que cria o problema. O centro desse fundo é o “eu”
com sua atividade. (Idem, pág. 10-11)
Enquanto não for compreendido esse fundo, (…) e pusermos fim a esse processo de
pensamento, esse “eu”, que cria o problema, havemos inevitavelmente de ter conflitos,
interior e exteriormente, no pensamento, no sentimento, na ação. (…) E, ao
percebermos esse fato, (…) como o pensamento surge e a fonte de onde brota,
perguntamo-nos, então: Pode o pensamento terminar? (Idem, pág. 11)
(…) Há, portanto, duas facetas da memória - a psicológica e a factual. Elas estão
sempre inter-relacionadas, não se separam nitidamente. Sabemos que a memória
factual é essencial para a manutenção de nossa subsistência. Mas é essencial a
memória psicológica? (…) Que é que vos faz lembrar psicologicamente o insulto e a
lisonja? (A Arte da Libertação, pág. 111)
Por que conservamos certas lembranças e rejeitamos outras? (…) O desafio é sempre
novo, nossa reação sempre velha, porque produto do passado. Assim, experimentar
sem a memória é um estado, e experimentar com a memória, outro estado. (…) Só
quando há compreensão completa de uma coisa, essa coisa não deixa cicatriz da
memória. (Idem, pág. 111)
(…) Se confiais na memória, como um guia de conduta, essa memória deverá entravar
a vossa ação, a vossa conduta, porque, então, essa ação ou conduta será meramente
o resultado do cálculo, não tendo, portanto, espontaneidade nem riqueza, nem
plenitude de vida. (…) (A Luta do Homem, pág.139)
Assim, a reação da memória, que é o processo do pensamento, cria uma idéia; por
conseguinte, a idéia é sempre condicionada - e é importante compreender isso. Isto é,
a idéia é resultado do processo do pensamento, o processo do pensamento é reação
da memória, e a memória é sempre condicionada. A memória está sempre no
passado, e essa memória é vivificada no presente por um estímulo. (…) E toda
lembrança, quer latente quer ativa, é condicionada (…) (Novo Acesso à Vida, pág.
101)
Continuemos: Pode haver ação sem memória? (…) A única coisa que é
constantemente revolucionária é a ação isenta da cortina da memória. (…) Nossa
questão, pois, é se pode haver ação livre do processo do pensamento, o qual cria a
idéia, que, por sua vez, controla a ação.
Eu digo que pode, e que ela pode realizar-se imediatamente, tão logo percebamos que
a idéia não é uma libertação, porém um obstáculo à mesma. Se percebo isso, minha
ação não será baseada em idéia alguma, e por isso fico em estado de completa
revolução; (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 106)
(…) Só nos libertamos da memória que acumula quando cada pensamento, cada
sentimento é completado, pensado até o fim. Isto é, quando cada pensamento e cada
sentimento se completa, se conclui, há um fim; entre esse findar e o pensamento
seguinte há um espaço. Nesse espaço de silêncio encontramos renovação, uma nova
força criadora. Ora, isso não é teórico (…) Se tentardes completar cada pensamento e
cada sentimento, descobrireis que isso é extraordinariamente praticável na vossa vida
diária; porque então sereis novo, e o que é novo é eterno, imorredouro. Ser novo é ter
força criadora, e ter força criadora é ser feliz; e um homem feliz não se preocupa com
se é rico ou pobre (…) Não tem guias (…) não tem disputas nem inimizades. (Da
Insatisfação à Fé , pág. 73-74)
Estamos vendo, pois, que a ordem interior, a ordem na mente, em nosso ser, nunca
pode ser produto do pensamento. O pensamento pode criar hábitos, ajustamento,
obediência, e isso, é bem de ver, só leva a uma desordem maior, a maior confusão e
angústia. É necessário compreender todo esse processo do pensamento: como
pensamos, por que pensamos, observando-o simplesmente. (…) (A Essência da
Maturidade, pág. 94-95)
Esse intervalo é o que chamamos pensar. E esse pensar depende de vossa raça,
família, do conhecimento, da memória, das marcas do tempo, de vossas experiências,
dores e sofrimentos, das inumeráveis pressões e agonias da vida - ou seja, de vosso
fundo. De acordo com ele “reagis” ou respondeis. Por conseguinte, a reação ao
desafio é sempre inadequada. (…) (A Suprema Realização, pág. 46)
(…) Vê-se, pois, que o pensamento inventa o tempo; que o pensamento é tempo. E o
homem que compreende esse processo do desejo, pensamento e tempo é um ente
humano que está vivendo plenamente no presente. (…) (A Suprema Realização, pág.
49)
A pessoa pode ser muito inteligente e erudita; mas, para descobrir uma maneira de
agir totalmente diferente, que traga felicidade à sua vida, ela deve compreender o
inteiro mecanismo do pensar. E, pela própria compreensão do que é positivo - o
pensamento - a pessoa entra numa dimensão diferente, de ação, a qual é,
essencialmente, amor. Quer dizer: Para investigar a pessoa deve ser livre; do
contrário, não pode investigar (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 152)
Agora, se observardes com muito cuidado, vereis que, embora a reação, o movimento
do pensamento pareça tão célere, existem vãos, existem intervalos entre os
pensamentos. Entre dois pensamentos há um período de silêncio não relacionado com
o “processo” do pensamento. Se observardes, vereis que esse período de silêncio,
esse intervalo, não é de tempo; e o descobrimento desse intervalo, o completo
“experimentar” do mesmo, vos liberta do condicionamento. Assim, a compreensão do
processo do pensar é meditação. (Idem, pág. 179-180)
(…) A compreensão não vem pela escolha; não vem pela comparação, nem pela
crítica, nem pela justificação. Só vem a compreensão quando a mente, tendo ficado
inteiramente cônscia de todo o processo de si mesma, se tornou tranqüila. Quando a
mente está de toda silenciosa, sem exigência alguma - só nessa tranqüilidade existe a
compreensão, (…) a possibilidade de experimentar o que transcende o tempo. (Viver
sem Confusão, pág. 37)
O “como” implica que alguém pode dar-vos um método. (…) Pode a compreensão ser
produzida por um método? Compreensão significa amor e sanidade mental. E o amor
não pode ser praticado nem ensinado. A sanidade mental só é possível quando há
claro percebimento, quando se vêem as coisas tais como são, sem emocionalismo
nem sentimentalismo. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 31)
É óbvio que todos os problemas exigem, não solução, conclusão, porém compreensão
do próprio problema. Porque a resposta, a solução do problema, está contida no
problema; e, para compreender o problema, qualquer que ele seja - pessoal ou social,
ou geral - é essencial haver certa tranqüilidade, certa qualidade de não-identificação
com o problema. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 21)
(…) Essas três coisas são essenciais, quando se está em presença de um problema
imenso. Não se deixe guiar pelas próprias inclinações, por mais agradáveis (…) - eis a
primeira coisa. (…) Em segundo lugar, não permita que suas atividades, sua vida seja
moldada por seu temperamento, (…) seja intelectual ou emotivo, e (…) suas
idiossincrasias. E, em terceiro lugar, não se deixe impelir pelas circunstâncias.
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 156-157)
Observa-se no mundo (…) a deterioração que está invadindo todos os níveis de nossa
existência. E, observando esse fenômeno, somos naturalmente levados a investigar se
não existirá um caminho diferente, (…) uma revolução que projete todo o processo do
pensar numa dimensão inteiramente nova. Em primeiro lugar, acho bem clara a
necessidade de uma mudança profunda, radical, no comportamento humano, nas
relações humanas e, por conseguinte, no pensar humano. (Uma Nova Maneira de
Agir, 1ª ed., pág. 90)
Dualidade, Opostos do Pensar-Sentir, Contradição
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 16:06
Ninguém pode ensinar-vos a verdade, de modo que não precisais seguir ninguém. A
única coisa que se pode fazer é compreender, pela observação cuidadosa, o intricado
movimento do pensamento: como ele se divide, como cria seus próprios contrários e,
por esse modo, traz contradição e conflito. (O Começo do Aprendizado, pág. 206)
Se não compreendemos o que é que gera esse dualismo, essa oposição instintiva,
não compreenderemos a significação do conflito que sentimos em nós. Estamos
cônscios, em nossa vida, do dualismo e seu conflito constante; desejar e não desejar,
céu e inferno, Estado e cidadão, luz e treva. Não surgirá o dualismo do próprio desejo?
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 35)
Foram todas essas entidades contraditórias que constituem o “ego”, que também
fizeram nascer o outro “eu”, o observador, o analista. Para compreender a mim
mesmo, cumpre-me compreender as várias partes de que sou constituído, inclusive o
“eu” que se tornou o observador, o “eu” que compreende. (…) (Idem, pág. 154-155)
E, agora, que entendemos por “processo dual”? Sabemos que existe um processo
dual, o bem e o mal, o ódio e o amor, etc. (…) E por que criamos esse processo dual?
Existe realmente ou é uma invenção do intelecto, a fim de fugir ao fato? Sou violento
(…) ou ciumento, e isso me incomoda. Não gosto desse estado; digo, portanto, que
não devo ser ciumento, violento - e isso é uma fuga ao fato, não achais?
O ideal é uma invenção do intelecto, que quer fugir ao que é; por isso existe dualidade.
Mas, se enfrento integralmente o fato de que sou ciumento, então já não há dualidade.
Enfrentar o fato significa penetrar completamente o problema da violência e do ciúme;
e então, ou descubro que isso me agrada (…) e nesse caso o conflito continua
necessariamente; ou, ainda, percebo tudo o que o problema implica e fico livre do
conflito. (O Passo Decisivo, pág. 206)
(…) Não é possível a integração dos opostos, da avidez e da não avidez. Quem é
ávido e procura tornar-se não ávido, continua a ser ávido. Não achais necessário que
se abandone tanto a avidez como a não avidez, para nos furtarmos à influência de
uma e outra? Todo “vir-a-ser” implica “não-vir-a-ser”, e enquanto existir vir-a-ser
existirá dualidade, com o seu conflito infindável. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 23)
A escolha entre desejos opostos faz somente prosseguir o conflito; escolha implica
dualidade; na escolha não há liberdade, porquanto a vontade continua a produzir
conflitos. Como poderá, então, o pensamento transcender o padrão da dualidade? É
só compreendendo o mecanismo do ansiar, do desejo de satisfação própria, que
podemos transcender (…) o conflito dos opostos. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 42)
(…) Mas, se desejamos achar a verdade contida num problema, nada significa a
tradição e a autoridade. Pelo contrário, tornam-se um obstáculo (…) A verdade não se
encontra no oposto, porque um oposto é sempre o prolongamento do seu próprio
oposto. A antítese é o prolongamento da tese, sob forma diferente. (…) Precisamos
observá-la e perceber o seu significado integral. (Da Insatisfação à Felicidade, pág.
83-84)
Seria, por acaso, verdadeiro dizer que necessitais odiar para amar? (…) Amais, e
porque no vosso amor há espírito de posse, surgem o malogro, o ciúme e o temor.
Esse processo desperta o ódio. Começa então o conflito dos opostos. (…) Todos os
opostos devem criar conflito por serem essencialmente ininteligentes. O homem
medroso desenvolve a bravura. Esse processo de desenvolver a coragem é,
realmente, uma evasão ao medo; se, porém, ele discernir a causa do medo, este
cessará naturalmente. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 12)
Pode a mente existir, sem raiz alguma? (…) Senhor, só a mente que não tem raiz
pode conhecer o Real. (…) A mente, tal como é, está cheia de tradição, do tempo, de
lembranças, ódio, ciúme. Pode-se compreender essa mente sem condenação - isto é,
sem se criar o oposto? No momento em que condenamos “o que é” não o
compreendemos. A compreensão do que é só pode ocorrer quando não há
condenação; só então se pode estar livre do que é. (As Ilusões da Mente, pág. 85)
Quando estamos conscientes, ficamos apercebidos de um processo que se opera em
nós - querer e não querer, desejos expansivos e desejos reprimidos. A concentração
sobre os desejos expansivos, e sua ação, cria um mundo de competição e divisão em
mundanismo, amor possessivo e ansiedade pela continuidade pessoal. (Palestras em
Ojai e Saróbia, 1940, pág. 102)
(…) Os opostos não se podem fundir; eles devem ser ultrapassados pela dissolução
do desejo. É preciso meditar e sentir plenamente cada um dos opostos, (…) porquanto
será assim que despertaremos uma nova compreensão não resultante do anseio ou
do tempo. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 63)
Existe um modo diferente de encarar a vida, não do ponto de vista dos opostos, da fé
e da ciência, do temor e da mecanização; (…) Isto é, cada um tem de discernir o
processo de vir-a-ser e o da cessação aparente, o processo de nascer e de morrer.
Esse processo só é integralmente perceptível pelo indivíduo como consciência.
(Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 34)
(…) A realidade deve ser compreendida somente mediante o processo do “eu” como
consciência, da qual surge a individualidade (ente individualizado). Isto é, o indivíduo
tem de compreender o processo do seu próprio vir-a-ser, que implica inteligência. (…)
(Idem, pág. 34)
Pertencer a qualquer dos dois grupos oponentes de pensamentos que mencionei, só
conduzirá, por último, a maior confusão e miséria. Todos os opostos impedem o
discernimento. Para o indivíduo discernir aquilo que é, precisa compreender a si
próprio e, para efetuar isto, tem de atravessar todos os estorvos e limitações
produzidos pela visão mecânica da vida ou pela fé; (…) (Idem, pág. 35)
A ação é vital, porém não o são as opiniões e conclusões lógicas. Como indivíduos,
tendes de compreender o processo da consciência por meio do discernimento direto,
sem escolha. A autoridade do ideal e do desejo impede e perverte o verdadeiro
discernimento. Quando há carência, quando a mente está cativa dos opostos, não
pode haver discernimento. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 13-14)
(…) Enquanto houver um censor, uma entidade a traduzir o que vê, por meio de seu
condicionamento - que é o passado - enquanto houver interpretação do que observais,
do que vedes, do que escutais, haverá necessariamente o centro, o objeto que cria
espaço em torno de si e, portanto, uma dualidade. E, uma vez estabelecida a
dualidade, está declarado o conflito. Mas, se ficardes a observar simplesmente, vereis
que existe espaço sem o objeto. (A Suprema Realização, pág. 74)
O oposto é dissimilar do que é? Como nasce o oposto? Não é ele uma projeção
modificada do que é? A antítese não contém os elementos da própria tese? Uma não
é completamente dissimilar da outra, e a síntese é ainda a tese, modificada. (…) A
atual sociedade está baseada na ganância individual; e o seu oposto é o que chamais
a nova sociedade. Na vossa nova sociedade, a ganância individual opõe-se à
ganância do Estado. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 37)
Enquanto escolherdes entre opostos, não há discernimento, e por isso deve haver
esforço, esforço incessante, continuamente opostos e dualidade.(…) A vossa ação é
sempre finita, sempre visando conseguimento, por isso existirá sempre essa
vacuidade que sentis. Mas, se a mente estiver livre da escolha, se ela possuir a
capacidade de discernir, então a ação é infinita. (Palestras na Itália e Noruega, 1933,
pág. 32-33)
Ora, é possível ação sem conflito de espécie alguma? Sem dúvida, tal ação só é
possível quando amamos aquilo que fazemos; (…) Não sei se já notastes que, quando
gostais de fazer certa coisa, não há conflito nenhum, a ação está completamente livre
de elementos contraditórios (…) (Visão da Realidade, pág. 172)
Pois bem, esse conflito de desejos traz compreensão? O problema é: Como surge a
compreensão? Porque, existindo compreensão, não existe mais luta. O que
compreendemos, disso ficamos livres. (Nós Somos o Problema, pág. 68)
(…) Por “compreensão” entendo aquele estado sem esforço, no qual a mente está de
todo cônscia, livre de obstáculos, (…) de tendências, sem nenhuma luta para
compreender (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 166)
Assim, é possível que o ser humano seja totalmente sério, descobrir se pode viver
num estado de não-dualidade - não ideologicamente ou teoricamente, mas realmente,
tanto na forma como na essência? É possível, para mim e você, vivermos uma vida na
qual este senso de dualidade cesse completamente, não apenas no nível verbal, mas
também nos mais profundos depósitos e recessos da própria mente? Sinto que, se
isso não for possível, haveremos de continuar em guerra com os outros - você com
sua opinião particular, crenças, dogmas e conclusões, e eu com as minhas. Então não
pode haver comunicação ou contato real. (Idem, pág. 7-8)
Se vos aperceberdes de que a vossa escolha originada nos opostos somente cria
outro oposto, então percebeis o que é verdadeiro. (…) Na libertação dos opostos a
ação já não é um conseguimento, mas preenchimento; ela nasce do discernimento,
que é infinito. Então, a ação brota de vossa própria plenitude (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 33)
Só podeis verificar isto quando realmente estiverdes atravessando uma crise. Não o
podeis verificar intelectualmente, quando sentado a gosto e imaginando (…) Se nesse
momento entenderdes com todo o vosso ser, (…) fordes consciente da futilidade da
escolha, então brotará daí a flor da intuição, (…) do discernimento. A ação que daí
nasce é infinita; então a ação é a própria vida. (…) (Idem, pág. 35)
Causa e efeito são inseparáveis: na causa está contido o efeito. O estar cônscio da
causa-efeito de um problema depende de certa flexibilidade e agilidade da mente-
coração, porquanto a causa-efeito modifica-se constantemente. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 145)
Estamos dizendo que, onde há uma causa, ao efeito se pode pôr um fim, com a
cessação da causa. (…) Toda a nossa vida é um movimento de causa e efeito; (…)
Você me diz algo desagradável, eu o odeio. Em todo esse movimento há causa e
efeito (…) E nos perguntamos: Há uma vida, uma forma de viver na qual não exista
causalidade? (…) Para investigar isto bem a fundo, deve-se compreender o conflito
dos opostos, da dualidade. (La Llama de la Atención, pág. 115-116)
Existe, assim, uma contradição em nós. Vivemos neste mundo de avidez, inveja e
apetites sexuais, pressões emocionais, mecanização, e ao mesmo tempo desejamos
encontrar algo superior à mera satisfação física. Existe ânsia de encontrar Deus e
também de viver mundanamente. Queremos trazer aquela Realidade para este
mundo. (…) (O Homem Livre, pág. 133)
Pois bem; que é que produz contradição em cada um de nós? Por certo, é o desejo de
vir-a-ser alguma coisa (…) Todos nós queremos tornar-nos alguma coisa; ter bom
êxito no mundo, e, interiormente, desejamos alcançar um resultado. Assim, enquanto
pensarmos em termos de tempo, (…) de posição, tem de haver contradição. (…) (Por
que não te Satisfaz a Vida, pág. 37)
A contradição surge apenas quando a mente tem um ponto fixo de desejo, isto é,
quando a mente não considera todos os desejos como passageiros, transitórios, mas
se apega a certo desejo e lhe dá caráter de permanência; só então, ao surgirem outros
desejos, há contradição. (…) A mente, porém, estabelece um ponto fixo, por que
considera todas as coisas como meios de alcançar seus objetivos, meios de ganho;
(…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 70)
Mas já estamos tão acostumados com o conflito! Conflito com o mundo, com o nosso
semelhante, com os filhos, a mulher, conflito no emprego, (…) entre grupos, (…)
famílias, sociedades, comunidades, nações; e o conflito entre desejos divergentes,
contraditórios, entre as compulsões, os impulsos(…) (O Despertar da Sensibilidade,
pág. 100)
Ao perceberdes esse conflito, desejais sair dele; não desejais compreendê-lo, não vos
deixais ficar com ele, não cuidais (…) da compreensão do conflito; (…) não olhais o
conflito com afeição, em lugar do impulso para vos livrardes dele. (Idem, pág. 100)
Agora, uma coisa é necessário perceber (…), que o conflito da vida deve ser
compreendido instantaneamente, e não a cada conflito. Porque não há tempo para
analisardes prontamente cada conflito que surja, penetrá-lo, descobrir-lhe a causa.
(…) Entender todos os conflitos, um a um, significa mera fragmentação, e não se pode
juntar vários fragmentos de contradição para constituírem um todo. (…) (Idem, pág.
101)
Assim, o conflito só se torna existente quando há desatenção. (…) Vós não podeis
exercitar-vos para estar atento. Mas podeis ficar cônscio de estar desatento. E quando
estais cônscio de estar desatento, estais atento. Assim, o que nos interessa é
promover a mudança sem conflito nenhum - conflito na mente consciente ou nos
níveis inferiores da consciência (…)(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 105)
Antes de podermos compreender, necessitamos tornar-nos conscientes da espécie de
esforço que fazemos “agora”. Não consiste, de fato, (…) na tentativa constante de nos
tornarmos alguma coisa, em fugirmos de um oposto para outro? Vivemos em uma
série de conflitos de ação e reação, de querer e não querer. Consumimos esforço
nesse intento simultâneo de vir e de não vir-a-ser. Permanecemos, assim, num estado
dual. Como surge a dualidade? (…)
Como surge em nós esse doloroso conflito entre o bem e o mal, a esperança e o
medo, o amor e o ódio, o “eu” e o “não-eu”? Não é ele criado pelo desejo de chegar a
ser isto ou aquilo? Esse desejo se expressa na sensualidade ou na busca de fama
pessoal ou na imortalidade. Procurando tornar-nos algo, não criamos o oposto? (…)
Cumpre, portanto, usar meios próprios para transcender esse conflito. (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 19-20)
Os mais de nós achamo-nos colhidos numa série infinita de conflitos interiores, sem a
solução dos quais é inútil e vazia a nossa existência. Temos percepção de dois pólos
opostos do desejo: o desejo positivo e o desejo negativo - o querer e o não querer. O
conflito entre a compreensão e a ignorância (…) O conflito não nos leva à
compreensão. Leva-nos (…) à apatia, à ilusão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, 1ª
ed., pág. 40-41)
O conflito, a luta pelo vir-a-ser e pelo não-vir-a-ser, não leva ao egotismo? Pois não
gera ele o sentimento da personalidade, do “eu”? E a própria natureza do “eu” não é
de conflito e dor? Quando tendes consciência de vosso “eu”? Quando existe
antagonismo. No momento da alegria, a consciência do “eu” é inexistente; (…) (Idem,
pág. 41)
A escolha entre desejos opostos faz somente prosseguir o conflito; escolha implica
dualidade; na escolha não há liberdade, porquanto a vontade continua a produzir
conflitos. Como poderá, então, o pensamento transcender o padrão da dualidade? É
só compreendendo o mecanismo do ansiar, do desejo de satisfação, do interminável
conflito dos opostos. Estamos sempre a produzir o prazer e a evitar o sofrimento; o
desejo constante de vir-a-ser endurece a mente-coração, produzindo luta e dor. (…)
Aí, renunciar significa adquirir, e a aquisição é a semente do conflito. Esse processo
de renunciar e adquirir, de vir-a-ser e não-vir-a-ser, é uma cadeia contínua de
sofrimentos. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 42)
(…) Para transcender o conflito, o desejo de vir-a-ser deve ser conhecido intimamente
e compreendido. O desejo de vir-a-ser é complexo e sutil (…) Ficai intensamente
cônscios do desejo de vir-a-ser. Ficai cônscios do sentimento de vir-a-ser; com o
sentimento vem a sensibilidade, a qual começa a revelar tudo quanto se contém no
vir-a-ser. O sentimento é endurecido pelo intelecto e pelas suas numerosas e sutis
racionalizações (…) Podeis compreender tudo isso, verbalmente exposto, mas de
pouca importância será; somente o conhecimento e o sentimento podem produzir a
centelha criadora da compreensão. (Idem, pág. 43)
Não condeneis o vir-a-ser, mas observai a sua causa e efeitos em vós. A reprovação,
o julgamento e a comparação não trazem a compreensão; ao contrário, suprimem-na.
(…) Observai, em silêncio e quietude, o vir-a-ser; experimentai essa percepção
tranqüila. “Estar tranqüilo” e “pôr-se tranqüilo” são dois estados diferentes. (…) É só no
estado de quietude que se transcende o conflito. (Idem, pág. 43-44)
O que impede essa tranqüilidade da mente é, sem dúvida, o conflito. Quase todos
vivemos cheios de agitação (…) E é essencial (…) para a perfeita compreensão de um
problema, que se tenha uma mente silenciosa, (…) sem preconceito, (…) capaz de
libertação tranqüila e que permita ao problema revelar-se, descobrir-se. E uma mente
assim quieta é uma coisa impossível, quando há conflito. (Idem, pág. 44)
Pois bem, qual é a causa do conflito? Por que vivemos nesse conflito, cada um de
nós, e por isso também a sociedade (…)? Por que? De onde surge o conflito?
Cessando o conflito, é possível, evidentemente, haver uma mente serena; (…) E, no
desejo de tranqüilidade, de uma certa sensação de paz, procuramos fugir do conflito
por todas as maneiras concebíveis (…) Mas é uma coisa evidente que toda fuga
conduz à ilusão e a novo conflito.
Afinal, o conflito surge (…) do desejo de sermos alguma coisa, de sermos diferentes
do “que é”. Esse desejo constante (…) é um dos fatores de conflito: o que não significa
que devamos estar satisfeitos com “o que é” - pois nunca o estamos. Mas, para
compreendermos “o que é”, precisamos compreender esse desejo de sermos
diferentes do que é. Eu sou uma coisa - feio, ganancioso, invejoso - e desejo ser outra
coisa, o oposto daquilo que sou. Tal é, por certo, uma das causas de conflito - esses
desejos opostos e contraditórios, de que somos constituídos. (Nós Somos o Problema,
pág. 46)
Penso que o simples fato de encarar o conflito, de tomar consciência de seu processo,
já é, em si, libertação. Isto é, se estamos conscientes, sem atrito algum, sem escolha,
(…) simplesmente conscientes do “que é”; e se estamos igualmente conscientes do
desejo de fugir do “que é” (…); se estamos simplesmente conscientes de tudo isso,
então essa própria consciência produzirá a tranqüilidade da mente. Podeis, aí, dar
atenção ao que é; tendes a possibilidade de compreender “o que é” (Idem, pág. 46)
Por certo, o conflito é muito mais significativo do que o mero atrito dos opostos. Surge
o conflito (…) quando queremos aproximar a ação de uma idéia. Estamos sempre
procurando ligar nossos atos a uma crença, um ideal, uma idéia. Tenho uma idéia
sobre como eu deveria ser, ou como o Estado deveria ser (…) É a idéia mais
verdadeira que a ação? E, contudo, (…) as nossas ações estão baseadas em idéias.
Temos primeiro a idéia, depois vem a ação. Só raramente surge uma ação
espontânea, livre, não circunscrita por uma idéia. (Idem, pág. 46-47)
É, possível agir sem idéia? Deveria haver só ação, e não idéia; assim, o indivíduo
estaria vivendo ativamente no presente. Isso exige vigilância, ação não fragmentária e,
por conseguinte, ausência de contradição. Onde há contradição tem de haver esforço;
(…) Assim, toda a nossa vida gravita em torno dessas três coisas: idéia, ação e
contradição. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 28)
O conflito em todas as suas formas; entre marido e mulher, grupos de indivíduos com
idéias opostas, entre o que é e a tradição, entre o que é e o ideal, o que deveria ser, o
futuro. O conflito é luta interior e luta exterior. (…) A compreensão exige certo estado
de paz. A criação só pode ocorrer quando há paz e felicidade, e não por meio de
conflito, de luta. Nossa luta constante é travada entre o que é e o que devia ser, entre
a tese e a antítese. (Reflexões sobre a Vida, pág. 59)
Aceitamos esse conflito como inevitável, embora possa ser falso. Pode o que é, ser
transformado pelo conflito com seu oposto? Eu sou isto e luto para ser aquilo - o
oposto; (…) O oposto, a antítese, não é uma “projeção modificada” de o que é? O
oposto não contém sempre os elementos do respectivo oposto? Pela comparação,
pode haver compreensão de o que é? (…) Se desejais compreender uma coisa, não
deveis observá-la, estudá-la? Podeis estudá-la, se tendes algum preconceito contra
ela ou a favor dela? (…) Por certo, se estais em conflito com vosso filho, não há
compreensão dele. (Idem, pág. 59-60)
O conflito, em qualquer esfera que seja, produz a compreensão? Não há uma cadeia
contínua de conflito, no esforço, na vontade de ser, de vir-a-ser, positiva ou
negativamente? A causa do conflito não se torna efeito, e este por sua vez não se
torna causa? Não há libertação do conflito, sem compreensão de o que é. O que é não
pode ser compreendido através da cortina da idéia; tem de ser apreciado de maneira
nova. (…) Pela sua própria natureza, conflito é fator de separação, como o é toda
oposição; e a exclusão, a separação, não é fator de desintegração? (Reflexões sobre
a Vida, pág. 60)
Ora, por certo, quando o falso é percebido como falso, o verdadeiro existe. Quando se
está cônscio dos fatores de degeneração, (…) não há integração? (…) A integração
não é alvo, um fim, mas “estado de ser”; é uma coisa viva (…) A integração é um
estado de completa atenção. Não pode haver atenção completa quando há esforço,
conflito, resistência, concentração. A concentração é uma fixação; (…) (Idem, pág. 61)
Para discernir a realidade, a mente deve ser infinitamente plástica. (…) Para
compreender a realidade, a mente deve compreender suas próprias criações, (…)
limitações. Para discernir o processo da consciência (…) tem de haver pensamento
integral. O pensamento integral não é resultado de treinamento, de controle ou de
imitação. A mente que não é dividida em opostos, que é capaz de perceber
diretamente, não pode ser resultante de treinamento. (Palestras em Ommen, Holanda,
1936, pág. 67)
Nessas condições, para se compreender o conflito, muito importa (…) que se conheça,
na íntegra, o nosso processo de pensar, e que estejamos cônscios de que, na vida
diária, estamos sempre querendo ligar a ação à idéia. Ora, pode-se viver sem idéia?
Pode-se viver sem o “eu”? (…) Creio que a isso podemos responder praticamente, não
teoricamente, quando compreendemos o processo do “eu”, aquilo que forma o “eu”.
(…) Desse modo, quando nos conhecemos totalmente (…) quando estamos
conscientes disso, dá-se a libertação do “eu”; e só então é possível à mente ficar
silenciosa. (Nós Somos o Problema, pág. 49-50)
Pergunta: Se não devemos ter ideais, se devemos nos libertar do desejo de nos
melhorarmos, qual é então o propósito de viver? (…)
Antes de agir, precisamos saber pensar. Não há ação sem pensamento. A maioria de
nós, porém, age sem pensar, e o agir sem pensar nos trouxe a esta confusão. Por
conseguinte, precisamos descobrir como pensar antes de saber como agir. Vós e eu
precisamos encontrar a maneira correta de pensar. Se nos limitamos a citar o
Bhagavad Gita, a Bíblia ou o Alcorão, isso não tem significação; citar o que outra
pessoa disse não tem valor algum. (A Arte da Libertação, pág. 13)
Assim, só nas relações podemos descobrir o que é pensar. Isto é, (…) descobrir como
pensamos, momento a momento, quais são as nossas reações, e proceder assim,
passo a passo, ao desenvolvimento do pensar correto. Isso não é uma coisa abstrata
ou difícil, i.e, o observar com exatidão o que está ocorrendo em nossas relações, quais
são as nossas reações, e assim descobrir a verdade contida em cada pensamento,
em cada sentimento. (…) (Nosso Único Problema, pág. 18)
O pensar justo vem no fluir constante da autovigilância, vigilância tanto das ações
mundanas como das atividades meditativas. A potência de criar e o êxtase que a
acompanha surgem na liberdade, no estar livre do anseio. E isso é virtude. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 53)
Provém o pensar exato do conflito dos opostos, ou surge quando a causa dos opostos
- o desejo - é compreendida mediante um pensar e sentir completo? Só podemos
libertar-nos dos opostos se o pensamento-sentimento for capaz de observar sem
aceitar, sem recusar ou comparar suas ações e reações. Dessa percepção surge um
novo sentimento, uma nova compreensão livre dos opostos. Preso à dualidade, o
pensamento-sentimento não pode compreender o infinito (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 36-37)
(…) O homem que deseja compreender a verdade deve aplicar-lhe toda a sua
atenção, e essa atenção integral só vem quando não há escolha e, portanto, nenhuma
idéia de distração. Não há essa coisa chamada distração, porque a vida é um
movimento, e temos de compreender esse movimento na sua totalidade, sem o dividir
em interesses e distrações. (…) Ao perceberdes a verdade disso, ela libertará a vossa
consciência do passado. (A Arte da Libertação, pág. 120)
Como suscitar o estado de atenção? Ele não pode ser cultivado por meio de
persuasão, de comparação, de recompensas ou castigos (…) A eliminação do medo é
o começo da atenção. O medo tem de existir enquanto houver impulso para ser ou vir-
a-ser, que é o móvel do sucesso, com todas as suas decepções e tortuosas
contradições. Você pode ensinar a concentração, mas a atenção não pode ser
ensinada (…) Assim, a atenção surge espontaneamente, tem a consciência da ação
desinteressada que vem com o amor. (…)(O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 18)
Atenção não é concentração; nela não há distração; na atenção, não há conflito, não
há busca de um fim; o intelecto, portanto, está atento, o que significa que não tem
fronteiras; está tranqüilo. Atenção é o estado mental em que desapareceu todo o
conhecimento, e só há investigação. (O Passo Decisivo, pág. 176)
Havendo atenção não há esforço. Compreendei esse fato tão simples. Uma vez
compreendido, tudo o mais se esclarecerá. Onde há atenção, aí não há esforço. Só a
falta de atenção produz esforço. Assim, quando estais totalmente atento à vossa vida -
com aflições, conflitos, desejos, prazeres, lembranças, pensamentos, atividades -
quando estais totalmente vigilante, podeis ver cada fato como fato, em vez de traduzi-
los em prazer ou dor, de dar-lhe continuidade como prazer. (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 128)
(…) O que traz a liberdade é a atenção, que significa olhar o fato face-a-face, de
dentro do vazio, e ver como as coisas são, sem nenhuma desfiguração. Nesse estado
de atenção, apresenta-se uma “inocência” que é virtude, que é humildade. (O Homem
e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 28)
Ora, quando se verifica a atenção completa? Por certo, só quando há amor. Havendo
amor, há atenção completa. Não há necessidade de nenhum “motivo”, nenhum
objetivo, nenhuma compulsão: ama-se, simplesmente isso. (…) (O Homem Livre, pág.
89)
No cultivo da mente, nossa ênfase não deve estar na concentração, mas na atenção.
A concentração é um processo de forçar a mente a focalizar-se num ponto, ao passo
que a atenção não tem fronteiras. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 17)
Acho que é importante compreender que só há “ser” quando não existe mais o
pensador, e que no “ser” pode haver radical transformação. (…) Só pode haver
revolução radical quando o pensador chega a uma pausa, quando o pensador deixa
de existir. Quando é que tendes momentos criadores, um sentimento de alegria, um
sentimento de beleza? Certamente, apenas quando o pensador está ausente, quando
o processo do pensamento se suspende por um segundo, por um minuto, por um
período de tempo; então, nesse espaço, há alegria criadora. (…) (Da Insatisfação à
Felicidade, pág. 65)
E existe um momento em que a morte deixa de causar medo e a vida já não seja uma
batalha? E pode haver tal momento de parada do tempo e total suspensão do
pensamento? Esse momento existe: é o amor. (…) (A Essência da Maturidade, pág.
96)
Já vos sucedeu alguma vez encontrar-vos naturalmente num estado de total ausência
de pensamento? Nesse estado, estais cônscios de vós mesmo como pensador,
observador, e experimentador? O pensamento é reação da memória, e o feixe de
lembranças é o pensador. Quando não há pensamento, existe o “eu” (…)? Não nos
referimos a uma pessoa em estado de amnésia, ou a sonhar acordada, ou a controlar
o pensamento a fim de silenciá-lo, mas sim à mente que está totalmente desperta,
atenta. Quando não há pensamento nem palavra, não está a mente numa dimensão
de todo diferente? (A Outra Margem do Caminho, pág. 32)
Assim, uma mente tranqüila é essencial para a percepção do todo; e só está tranqüila
a mente quando compreende cada pensamento e cada sentimento que surge. (…)
Resistir, levantar uma muralha de isolamento e viver nesse isolamento, isso não é
tranqüilidade. A tranqüilidade que é cultivada, disciplinada, forçada,(…) é ilusória (…)
(Idem, pág. 47)
Agora, para um homem que deseja encontrar a Realidade ou a compreensão que lhe
revelará a Realidade, para esse homem o pensamento deve cessar - pensamento no
sentido de totalidade do tempo. E como pode cessar o pensamento? - mas não por
meio de nenhuma espécie de exercício, disciplina, controle, repressão (…)(O Homem
Livre, pág. 149)
Vê-se, pois, que o pensador e o pensamento são um só todo; sem pensamento não há
pensador. E quando não há pensador e só há pensamento, há então um estado de
percebimento sem pensamento; o pensamento desaparece. (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 119)
O relevante, pois, é que a mente (…) comece a investigar a si mesma (…) Se bem
compreenderdes isso, vereis que a mente se torna sobremodo tranqüila, não apenas a
mente consciente, mas também a mente inconsciente (…) Mas só se verifica essa
tranqüilidade total da mente quando há a tremenda energia do autoconhecimento. É o
conhecimento que traz essa energia (…) (O Homem Livre, pág.151)
O que impede essa tranqüilidade é, sem dúvida, o conflito. Quase todos vivemos
cheios de agitação (…) E é essencial (…), para a perfeita compreensão de um
problema, que se tenha uma mente silenciosa, sem preconceito, capaz de libertação,
tranqüila e que permita ao problema revelar-se, desdobrar-se. E uma mente assim
quieta (…) é impossível quando há conflito. (Nós somos o Problema, pág. 44)
(…) Mas, uma mente que está tranqüila, que não é posta tranqüila, que não é forçada
ao silêncio; uma mente que está tranqüila porque tem verdadeiro interesse, porque
divisou a verdade, porque a verdade veio a ela, é inteligente e se liberta do conflito. (O
que te fará Feliz?, pág. 96)
Ora, pode-se compreender alguma coisa por meio de esforço? Para compreender, não
há dúvida de que a mente tem de estar tranqüila, e ela não pode estar tranqüila se se
acha num estado de esforço. (…) (Visão da Realidade, pág. 75)
Assim sendo, não pode a mente que busca alimento para sua satisfação, viver num
estado atemporal de não-aquisição, de modo que não esteja mais lutando e se
encontre, por essa razão, extraordinariamente tranqüila. Porque, nessa tranqüilidade,
talvez possa surgir aquilo que é criador, que é atemporal. (Poder e Realização, pág.
29)
Desejo falar sobre o que se entende por “viver”. Sei que muitos de nós só indagam do
significado do viver quando (…) aflitos, quando, não percebendo no viver nenhuma
finalidade, se sentem desesperados, profundamente frustrados. (…) (Encontro com o
Eterno, pág. 120)
Para descobrirmos a sua realidade, o seu real significado, sua profundidade, sua
beleza e plenitude, temos de investigar muitas coisas. Primeiramente, (…) o que é
liberdade; em seguida, descobrir a natureza do tempo e também o que se entende por
“espaço”. (…) O viver, por certo, está sempre no presente ativo; a palavra “viver”
significa “agora”. Não significa viver no passado ou no futuro, porém no presente. (…)
(Idem, pág. 121)
(…) Assim, perguntamos a nós mesmos: “Há meio de pôr fim ao tempo?” Se estamos
sempre a funcionar na esfera do tempo, (…) não há nesse “processo” liberdade
alguma; seremos sempre escravos do ontem, do hoje e do amanhã. Nisso não há
liberdade. A isso estamos presos, porque vivemos nessa divisão do tempo; tal a nossa
vida: é isso que chamamos “viver”. (Idem, pág. 123)
Estais achando isso difícil ou abstrato demais? Há, em todo ente humano, um centro;
esse centro cria um espaço em torno de si, assim como estas quatro paredes criam
um espaço em seu interior. Este salão, por causa das paredes, criou um espaço (…) O
centro, que é o “ego”, criou espaço ao redor de si, e, nesse espaço, que é a
consciência, ele vive, funciona, opera, modifica-se e, por conseguinte, nunca é livre.
(Idem, pág. 124)
Esta questão merece sério exame, porquanto a liberdade só pode existir onde há
espaço, espaço não criado por um objeto. Se o espaço é criado pelo “ego”, na
qualidade de pensador, este continua a criar paredes ao redor de si, entre as quais
pensa ser livre. Não importa o que ele faça dentro desse espaço criado pelo centro,
não há liberdade. É como um homem condenado a prisão perpétua. Poderá alterar as
decorações, proporcionar-se (…) conforto, pintar as paredes, (…) mas, dentro dessas
paredes físicas, ele nunca é livre. (Idem, pág. 124-125)
É só quando a mente, a consciência, não está a dar nomes, a armazenar mas apenas
experimentando - é só então que há liberdade, libertação, (…) O processo da
consciência está experimentando, nomeando e guardando ou registrando; e, enquanto
esse processo for mantido integral, não haverá liberdade. A liberdade, a libertação só
pode vir quando o pensante cessa - sendo o pensamento o produto da memória. (…)
A liberdade só é possível quando há um percebimento completo, tranqüilo, de tudo o
que se passa em redor e dentro de nós. (…) (A Arte da Libertação, pág. 54-55)
Ora, para sermos livres necessitamos de imensa energia. A liberdade e a paz não são
meros conceitos intelectuais ou ideais que deverão ser alcançados com esforço e luta.
O esforço e a luta para alcançar alguma coisa exigem também uma certa energia, (…)
disciplina, controle, imitação; mas a liberdade a que nos estamos referindo não
depende de resolução, volição ou determinação. Ela se representa quando em nós
mesmos existe clareza, quando estamos perfeitamente lúcidos. Achando-se confusos
e em contradição, as atividades resultantes (…) só podem causar maior confusão,
mais contradições e falta de clareza. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 18-19)
Estamos falando de uma libertação que não é reação. A mente livre a nada está
escravizada, a nenhuma circunstância, (…) a rotina; embora especializada para
exercer uma certa função, não está escravizada a essa função, não está presa na sua
rotina; embora viva em sociedade, não faz parte da sociedade. E a mente que de
contínuo se esvazia de todas as acumulações e reações diárias - só essa mente é
livre. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 121)
A liberdade requer a total cessação de toda autoridade interna. Desse estado mental
resulta uma liberdade externa toda diferente da reação de oposição ou de resistência.
(…) A mente, o cérebro está condicionado por causa da autoridade, da limitação, da
obediência: eis o fato. O homem realmente livre não reconhece nenhuma autoridade
interior; esse homem sabe o que é amar e meditar. (A Questão do Impossível, pág.
23)
Por certo, investigar se a mente pode ser livre é como fazer sozinho uma jornada pelo
desconhecido. Porque, obviamente, a Verdade, a Realidade, Deus, ou o nome que
quiserdes, é o Desconhecido; (…) Deveis chegar-vos a ele completamente sós, deveis
empreender a viagem sem companheiro, sem Sankara, sem Buda ou Cristo. Só então
descobrireis o que é verdadeiro. (…) (O Homem Livre, pág. 83)
Ora, se o indivíduo não é livre, não vejo como possa ser criador. Não estou
empregando a palavra “criador” no estreito sentido de “homem que pinta quadros,
escreve poesias ou inventa máquinas”. Tais indivíduos, para mim, não são criadores,
absolutamente. Poderão ter momentânea inspiração; mas, criação é coisa muito
diferente. Só pode haver criação quando há liberdade total. Nesse estado de
liberdade, há plenitude, e, então, o escrever uma poesia, pintar um quadro, ou esculpir
uma pedra, tem sentido completamente diferente. Já não é mera expressão da
personalidade. (Experimente um Novo caminho, pág. 36)
Isto é, enquanto existir um centro que cria espaço em volta de si, enquanto não houver
outro espaço, senão aquele que o objeto cria em redor de si, não haverá liberdade
para o homem. (…) O centro é o “eu”, que tanto é físico como emocional e intelectual.
O “eu” cria o espaço que circunda, e se este é o único espaço que o homem tem
possibilidade de conhecer, neste caso não há liberdade nenhuma. (…) Só é possível a
liberdade, quando há espaço sem o centro, sem o objeto. (Uma Nova Maneira de Agir,
1ª ed., pág. 136)
Investiguemos, pois, este problema do “espaço sem objeto”. Porque só nesse espaço
há liberdade; o “espaço sem objeto” é liberdade. Na investigação do espaço e da
liberdade, descobriremos também, por nós mesmos, o que é o amor. (Uma Nova
Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 137)
Estamos, pois, investigando essa coisa extraordinária, que é o “espaço sem objeto”. E
este espaço tem de existir, do contrário, não pode haver liberdade nem amor. E é só
quando se vê o falso como falso, e a verdade no falso, que se está começando a
esvaziar a mente - melhor, a mente está então a esvaziar a si própria. Percebereis
então a verdade na falsa idéia de que a experiência irá libertar-vos. (Uma Nova
Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 140)
Que é espaço? O espaço é criado pelo objeto. (…) Aqui está este microfone - o objeto.
Por causa do objeto existe espaço ao redor dele; e o objeto existe por causa desse
espaço. (…) Dentro de nós há espaço porque existe um centro. Esse centro é o
observador, o censor, o sujeito que busca, a entidade que diz “Eu fui”, “Eu sou”, “Eu
serei”. Esse centro cria espaço em redor de si; do contrário, ele não poderia existir.
(Viagem por um Mar desconhecido, pág. 139-140)
Ora, pode haver espaço sem aquele centro? só se pode responder a esta pergunta
sem “verbalização”, sem argumentação, sem se apresentar tal ou tal opinião. Só há
possibilidade de resposta sem o centro. E, se o centro existe e está a criar espaço,
não há nesse espaço liberdade nenhuma; a pessoa está para sempre escravizada.
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 140)
A libertação, por conseguinte, requer que cada um descubra por si próprio o que é o
“espaço sem centro”. Onde existe o centro, o objeto, este está criando espaço, em
redor de si; e, visto que ele existe e só pode existir no espaço que o cerca, não tem
liberdade de espécie alguma. Conseqüentemente, enquanto existir um centro - isto é,
o observador, a entidade que busca - não há liberdade, pois só pode haver liberdade
quando há espaço absoluto e não um espaço encerrado entre os limites da mente.
(Idem, pág. 140)
Um cérebro deve ter espaço. Então o que é espaço? Não apenas o espaço daqui até
lá. Espaço indica “sem centro”. Certo? Se você tem um centro e se move do centro
para a periferia, seja ela longa ou ampla, é ainda limitada. Assim, espaço indica que
não há centro nem periferia e, portanto, que não há fronteiras? Tem você um cérebro
que não é parte de nada, não está ligado a nada - a suas experiências, conclusões,
esperanças, idéias? (The World of Peace, pág. 84)
Espaço indica vacuidade, inexistência. E este espaço, porque nada existe nele
colocado pelo pensamento, tem uma energia tremenda. Isto é o que o cientista
também está dizendo, sendo esta apenas sua conclusão teórica, não sua vivência;
porque ele, como todo ser humano, é ganancioso, presunçoso, ambicioso ou
representa um governo. É exatamente como qualquer pessoa, excetuando-se a
conquista de uma extraordinária capacidade de acumular conhecimento numa certa
área. (Idem, pág. 86)
Eu não sei se alguma vez hão pensado acerca do espaço. Onde há silêncio, há
espaço. Não o espaço criado pelo pensamento, senão o espaço que não tem
fronteiras em absoluto, um espaço que não é mensurável, que não pode ser
alcançado pelo pensamento, (…) inimaginável. Porque, quando o homem tem espaço,
(…) verdadeiro, extensão e profundidade, e um imensurável sentido de extensão,
quando existe essa classe de espaço, então há absoluto silêncio. (El Despertar de la
Inteligencia, II, pág. 168)
(…) Pode-se reunir ambas as coisas? - a liberdade em que existe silêncio total e,
portanto, espaço imenso, e os muros de resistência criados pelo pensamento com seu
mesquinho e pequeno espaço. Podem ambos reunir-se, fluir juntos? Este tem sido
sempre o problema religioso do homem que indaga com grande profundidade. Posso
aferrar-me a meu pequeno ego. (…) espaço, às coisas que tenho acumulado, a meu
conhecimento, experiência, esperanças e prazeres, e com isso mover-me em uma
dimensão diferente onde um e outro possam operar? (…) (idem, pág. 170)
Olha sempre as coisas em conformidade com sua própria limitação. (…) Estamos
repletos de barulhos, tagarelices, incontáveis memórias, símbolos, opiniões,
conhecimentos (…) Não há espaço nenhum em nossa mente e, por conseguinte, não
há liberdade. E, se não há esse espaço sem limites, a mente é incapaz de descobrir,
de encontrar aquela realidade imensurável. (A Essência da Maturidade, pág. 116)
Uma vez livre dos problemas, das tensões, de todo controle, haverá espaço - espaço
infinito - tanto na mente como no coração; só nesse espaço infinito é possível a
criação. Porque, então, o sofrimento, o amor, a morte e a criação constituirão a
substância dessa mente. Ela estará livre do sofrimento, (…) do tempo e, portanto, num
“estado de amor”. E quando há amor há beleza. Nesse sentimento de beleza, nesse
espaço vasto, infinito, ocorre a criação. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 158)
Por conseguinte, para que possa terminar o conflito, necessita-se de espaço interior, e
nós perguntamos “Por que não existe esse espaço? Por que nunca está a mente vazia
e, portanto, cheia de espaço e de beleza nele existente?” (…) O isolamento cria seu
espaço próprio. Isolamento é uma forma de resistência, e, onde há resistência, o
espaço é ilimitado. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 35)
Necessitais de mutação, de uma mente completamente nova, que não seja produto do
ambiente, da sociedade, de reação do conhecimento, da experiência; nada disso traz
a inocência, a liberdade; nada disso cria aquele vasto espaço de que a mente
necessita. Só nesse espaço pode verificar-se o movimento da mutação. E só essa
mutação, pode salvar o homem, porque é ela que faz nascer o indivíduo. (O Despertar
da sensibilidade, pág. 178)
O espaço implica também o vazio, um silêncio que possui uma energia imensa. (…)
Se hão perguntado alguma vez o que resulta de ter uma mente que, de maneira
natural, permaneça totalmente quieta, sem um só movimento, e que não registre
senão aquelas coisas que são necessárias, de modo que nossa psique, (…) a
natureza interna se torne absolutamente silenciosa? (La Llama de la Atencion, pág.
33)
Devido a que há espaço, existe o vazio e o silêncio total - não o silêncio induzido, (…)
que se pratica; estes são meramente o movimento do pensar e, portanto, carecem em
absoluto de valor. Quando vocês tenham passado por tudo isto (…) então nesse total
silêncio há um movimento que é atemporal, que não está medido pelo pensamento
(…) então existe algo que é totalmente sagrado,que não pertence ao tempo. (La
Totalidad de la Vida, pág. 170)
(…) Há o silêncio da mente, nunca perturbado por barulho algum, por nenhum
pensamento, ou pela lufada passageira da experiência. Esse silêncio é que é
“inocente” e, por conseguinte, Infinito. Quando na mente existe esse silêncio, dele
brota a ação, ação jamais causadora de confusão e sofrimento. (A Outra Margem do
Caminho, pág. 30)
(…) De outro modo, o conhecimento se torna um fim em si, e produz caos, (…) O
pensamento, que é resposta da memória, dos conhecimentos, da experiência e do
tempo, constitui o conteúdo da consciência; ele deve funcionar no terreno do
conhecimento, porém só pode fazê-lo com a mais alta inteligência, quando há espaço
e silêncio - quando o pensamento funciona desde ali. (Idem, pág. 171)
Vereis, então, que o amor altera imediatamente todas as ações da vida. É ele o único
“catalisador”, só ele e nada mais promoverá a mutação total da mente. Nós
necessitamos dessa mutação, (Idem, pág. 76)
Vazio Mental, Sentido; Criação Atemporal, Beleza
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 16:17
E agora - se a mente percorreu toda esta distância (e isso faz parte da meditação) -
apresenta-se um fato que não se pode expressar por meio de palavras. (…) O fato
“amor” não é a palavra. Mas, para podermos viver nesse estado de amor e de beleza,
necessita-se de espaço, de vazio e de silêncio. Do silêncio vem a ação; (…) Nenhuma
ação é então geradora de conflito. Então a vida, o viver neste mundo, (…) se torna
uma alegria, uma bem-aventurança que não é prazer, um êxtase não oriundo do
tempo. (…) (Idem, pág. 141)
(…) Só quando a mente se acha nesse estado vazio, em que não há conhecimento,
em que não há mais o experimentador, aprendendo, acumulando - só então existe
aquele esforço criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem
causar mais sofrimento. (Visão da Realidade, pág. 204)
A virtude, afinal, é ordem. A verdade real é uma coisa pura, mas não constitui um fim
em si. (…) Por conseguinte, o cultivo da mente ou do desenvolvimento da virtude não
é importante, pois não constitui o esvaziamento da mente, necessário para o
recebimento do Eterno. A mente precisa estar vazia, para receber o Eterno. (As
Ilusões da Mente, pág. 78)
Também, só a mente religiosa sabe o que é o vazio mental. A “mente vazia” não se
acha num estado de vacuidade, de inanidade: está extraordinariamente vigilante,
atenta, sensível; nenhum centro tem e, por conseguinte, cria espaço. Só a mente que
nenhum centro tem, que tem o espaço da imensidade, só essa é a mente religiosa; e
só a mente religiosa é criadora. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 87-88)
Mas, a mente de todo vazia - vazia, porque se acha num estado de observação, de
silêncio, por conseguinte, de amor, e compreensão da morte - a mente totalmente
vazia é criadora. A mente criadora está sempre vazia; desse vazio provém a sua ação,
as palavras que pronuncia. Por conseguinte, essa mente é sempre verdadeira, (…)
jamais criará ilusões dentro de si mesma. Só essa mente religiosa pode resolver os
problemas e aflições deste mundo. (A Suprema Realização, pág. 91)
(…) Só quando a mente está vazia, quando a mente está tranqüila, quando não tem
problema algum, quando está vigilantemente passiva - só nesse vazio há criação. A
criação só pode verificar-se na negação, a qual não é o oposto da asserção positiva.
“Ser nada” não é a antítese de “ser alguma coisa”; “ser nada” não tem relação com
“ser algo”. Quando o “ser algo” cessa completamente, há o nada. (…) Quando a mente
está a observar em silêncio e portanto está passiva, surge o estado criador, e o estado
criador é uma renovação constante. Ele não é continuidade, é um “estado de ser”
atemporal. Só nesse estado pode haver (…) revolução. (Da Insatisfação à Felicidade,
pág. 223)
Pode um ente humano viver num estado mental tão ativo que seja vazio? Um tambor
perfeitamente ajustado está sempre vazio e, quando o percutimos, dá o som
adequado, Pode a mente ficar, qual tambor, totalmente vazia? (…) É só “de dentro do
vazio” que se pode ver a beleza da vida, (…) de uma árvore. Não a vereis, se não
estiverdes vazio - livre de padrões, sempre a aprender e nunca acumulando, sempre a
observar, desperto, cônscio sem escolha e, portanto, dando ao que vedes
extraordinária atenção. Já notastes que, quando estais completamente atento, com
vossos nervos, vossa mente, vosso coração, vossos ouvidos, que então
compreendeis? Naquela atenção intensa não há pensar. É só quando estais desatento
que começa o jogo do pensamento. (O Mistério da Compreensão, pág. 58)
Ora, quando a mente está verdadeiramente tranqüila, portanto, ativa e livre, e não se
está importando com a comunicação, a expressão, a realização - é então que há
criação. Essa criação não é uma visão. Os cristãos têm visões do Cristo; e os
hinduístas (…) de seus pequenos (…) e grandes deuses. Estão reagindo de acordo
com seu condicionamento; (…) (O Passo Decisivo, pág. 177-178)
(…) Mas a mente atenta e silenciosa não tem visões, porque se libertou de todo o seu
condicionamento. Destarte, essa mente sabe o que é a criação - que é coisa bem
diferente da chamada “ação criadora” do músico, do pintor, do poeta. (Idem, pág. 178)
A criação não é um estado de memória, (…) Não é um estado em que a mente está
ativa. A criação é um estado mental, do qual o pensamento está ausente; enquanto o
pensamento funciona, não pode haver criação. O pensamento é contínuo, é o
resultado da continuidade, e para o que tem continuidade não pode haver criação,
renovação; o que é contínuo só pode mover-se do conhecido para o conhecido, e, por
conseguinte, nunca pode ser o desconhecido. (Viver sem Confusão, p,15)
O problema, por conseguinte, é este: Pode essa mente inquieta, volúvel, essa mente
que vagueia em todas as direções, que acumula, que rejeita (…), pode essa mente
findar instantaneamente e tornar-se silenciosa? (Poder e Realização, pág. 84)
Parece-me, pois, que apenas nos estamos tornando cada vez mais atilados (…) mais
instruídos. Somos criados com palavras, (…) idéias, teorias, conhecimentos, e resta
muito pouco espaço vago na mente, de onde se possa ver alguma coisa com clareza.
Só a mente vazia pode ver com clareza, e não a mente abarrotada de informações e
conhecimentos, não a mente que está incessantemente ativa, no afã de buscar,
alcançar, exigir. Mas a mente vazia não está “em branco”. (…) E só nesse vazio há
compreensão; há criação. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 18)
(…) Ora, para descobrir se, além da mente, existe algo, não devo afastar de mim todo
e qualquer desejo de estado contínuo? Porque, afinal, para alcançar o “estado criador”
- não a mera capacidade de escrever um poema ou pintar um quadro, mas a ação
criadora, livre do tempo, que não é invenção da mente, (…) não é mera capacidade ou
talento, for a criadora que se renova incessantemente; para alcançar esse estado
criador, não deve a mente ser capaz de investigação entusiástica e persistente?
(Poder e Realização, pág. 38)
Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? Porque esse é o único fator
que renova todas as coisas. Embora eu habite com a morte, esta tem significação
inteiramente diferente quando há criação. A criação liberta a mente da mediocridade e
da deterioração. E se é este o estado que procuro, necessito de visão muito clara, (…)
Porque o estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus não pode
ser chamado; ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. Mas essa liberdade
não é produto de disciplina. (Idem, pág. 39-40)
Nós não sabemos o que é ser criador. Somos capazes de inventar (…) - uma máquina
nova, (…) - mas não pode haver criação quando não se compreende o amor. O amor,
a morte e a criação andam “de mãos dadas”. O amor não é memória; não é uma idéia,
não é um conceito. (…) E o amor não pode existir se não houver a morte de “ontem” e
do minuto passado porque, nesse caso, ele é apenas uma continuidade do que foi.
(Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed, pág. 88)
Ora, que entendemos por capacidade criadora? A expressão de um sentimento, a
realização de uma descoberta, o escrever um livro ou poema, o pintar um quadro -
qualquer dessas coisas é necessariamente criação? Ou é a criação coisa inteiramente
diversa, independente da expressão? (…) Ou é a criação algo que em absoluto não
provém da mente? (Viver sem Confusão, pág. 38)
Afinal de contas, quando a mente exige, ela encontrará uma solução. Mas sua solução
será a solução criadora? Ou, só há criação quando a mente está de todo silenciosa -
quando não pode, não exige, não investiga? (Idem, pág. 38-39)
Está visto, pois, que muito impende descobrir o que é ser criador; e a capacidade
criadora só pode ser descoberta e compreendida, (…) quando compreendo o processo
total de mim mesmo. Enquanto houver uma projeção da mente, (…) não pode haver
um estado criador. Só quando cada movimento do pensamento é compreendido e, por
conseguinte, cessa - só então existe a ação criadora. (Idem, pág. 40)
Nosso problema, pois, não é de como agir, mas de como fazer surgir aquele estado de
criação que é a verdadeira individualidade. Aquele estado, obviamente, não se baseia
em idéia alguma, porque a criação nunca pode ser uma ideação. A ideação tem de
cessar, para que surja a ação criadora. Não pode haver ação criadora enquanto existir
um padrão, uma idéia; (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 142)
(…) Criação, para a maioria das pessoas, significa edificar casas, pintar quadros,
escrever poesias. Isto não é verdadeira criação, (…) é somente criação do “eu” na
limitação. A verdadeira criação é resultante dessa harmonia que é perfeição, o
delicado equilíbrio da razão e do amor. A própria vida é criação; a vida, mesma, é o
maior dos artistas. (…) (Boletim Internacional da Estrela, jan. de 1930, pág. 29)
(…) Por conseguinte, a ação da vontade não pode encontrar nunca o que é real. Notai
que todo conhecimento, toda experiência fortalece a vontade, o conhecido; o “eu”, o
“ego”, e (…) nunca pode perceber claramente o que é verdadeiro, jamais achar Deus,
(…) Só quando o espírito se encontra num estado de correspondência com o
desconhecido, só então há possibilidade de criação, que é a Verdade. (Viver sem
Temor, pág. 17)
Espero que me esteja fazendo claro, (…) Dela depende a verdadeira liberdade, que é
estar livre do “eu” - pois, quando não há mais uma entidade que acumula,
encontramos o estado criador. A acumulação não é criadora. (…) Só a mente livre é
criadora, e nenhuma liberdade pode haver quando armazenamos cada experiência,
porque aquilo que se acumula torna-se o centro do “eu”, (Viver sem Temor, pág. 66-
67)
(…) Mas a criação a que me refiro não é para dar-nos satisfação, é algo totalmente
desconhecido, (…) E virá apenas quando a mente, perfeitamente cônscia do processo
total do “eu”, compreende a significação deste e, por conseguinte, não mais o nutre de
experiência. Percepção Criadora, pág. 60) ~, Por outras palavras: quando há ímpeto
criador, sentimento criador, não há luta, o que significa que o “eu”, com todos os seus
preconceitos (…), condicionamentos, está ausente. Nesse estado de ausência do “eu”,
manifesta-se a capacidade de criação. (Nós Somos o Problema, pág. 47)
Ora, esse movimento do pensar criador não busca, na sua expressão, nem resultado,
nem realização. (…) Ele jamais atinge culminância ou objetivo, porque é eterno o seu
movimento. A maioria das mentes visa a uma culminância, um. objetivo, uma
realização, moldando-se pela idéia de sucesso, e por isso tal pensamento, está a
limitar-se continuamente. (…) (A Luta do Homem, pág. 152)
Isto é, o pensar criador cessa quando a mente se debilitou pelo ajustamento, a que a
impele a influência, ou, quando ela funciona numa tradição (…) Enquanto existir tal
limitação, tal ajustamento, não haverá pensar criador, haverá inteligência, que, só ela,
é liberdade. (Idem, pág. 152)
(…) É só quando o “eu” desiste de vir a ser, que se apresenta o Real. Para estarmos
livres para descobrir, é necessário extinguir-se a memória do passado; é o que
trazemos do passado que nos dá continuidade, e continuidade é aquiescência. Não
aquiesçais para serdes livres, (…) é só na liberdade que há criação. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 137)
Assim, pois, depende da mente que a verdade seja absoluta ou eterna. … Mas a
mente que está cônscia de tudo o que se passa internamente, e percebe a verdade aí
contida, essa mente é atemporal; só 'essa mente pode saber o que existe além das
palavras, dos nomes, do permanente e do transitório. (Novos Roteiros em Educação,
pág. 142-143)
(…) A quietação da mente é, com efeito, uma coisa muito simples; e só nesse estado
de quietude pode perceber-se a beleza (…) E, sem beleza, jamais achareis a Verdade,
jamais vereis a Verdade. (O Novo Ente Humano, pág. 172-173)
O conflito e a dor são necessários para que haja potência criadora? (…) Não é
inevitável o conflito quando há vir a ser, (…) expansão do “ego”? O estado de potência
criadora não significa estar livre do conflito, (…) da existência de acumulações? (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 99)
(…) A acumulação, em qualquer degrau que seja da escala do vir a ser, traz-nos a
potência criadora? Só há vir a ser e evolver no plano horizontal da existência, mas
conduz, isso, ao Atemporal? A potência criadora só pode ser conhecida depois de
abandonado o plano horizontal. (…) (Idem, pág. 99)
Entendo por “criação” o “estado de ser” libertado do tempo, porque é só neste estado
que se pode produzir a correta transformação social e o bem estar total do homem.
(Da Solidão à Plenitude Humana, 154)
(…) É quando a mente já não está acumulando, está desperta para todo o processo
da consciência, com todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, (…)
deixando tudo isso passar por ela sem a prender não se acha então a mente fora do
tempo? A mente já não está livre da rede do tempo? (Poder e Realização pág. 72)
… ) A mente silenciosa mas não silenciada só ela pode perceber o imensurável. (…)
Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que está tranqüila
encontrará o atemporal. (…) A mente (…) que acumula saber, virtude, é incapaz de
receber o eterno. (Nosso Único Problema, pág. 77)
(…) O atemporal só pode ter existência quando cessa a memória, que é o “eu” e o
“meu”. Se percebeis a verdade aí contida isto é, que através do tempo não se pode
compreender ou captar o atemporal podemos então entrar no problema da
memória?..) (A Arte da Libertação, pág. 114)
D.B.: O senhor disse que a mente é universal e não está localizada em nosso espaço
habitual, não é separada (…) Krish.: Isso mesmo. Só podemos entrar em contato com
ela quando o “eu” não existe. Para expressar isso de um modo bastante simples,
quando o “eu” não existe,.há beleza, silêncio, espaço; então _~ inteligência, que nasce
da compaixão, opera através do cérebro. E muito simples. (O Futuro da Humanidade,
pág. 92)
Percepção Livre, Simples, Clara, Instantânea,
Direta
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 16:19
Krish.,. Pois bem vamos falar então da percepção. Só pode haver percepção quando
ela não está impregnada de pensamento. Quando não há nenhuma interferência
oriunda do movimento do pensamento há percepção, que é uma compreensão
imediata de um problema ou das complexidades humanas. (O Futuro da Humanidade,
pág. 84)
Em primeiro lugar, (…) quando se trata de investigar, por nossos próprios meios, como
pensar de maneira simples e direta, as definições, e explicações são verdadeiramente
prejudiciais. (…) Parece-me, pois, que devemos estar bem cônscios de nossa
escravização às palavras, sem perdermos de vista, entretanto, que as palavras são
necessárias para as comunicações. (…) (O Passo Decisivo, pág. 163)
Krish.: Portanto, é possível ver sem observador. (…)A possibilidade torna-se uma
teoria,(…) o observador é o resíduo do passado e por Isso não pode ver. (…)Se há de
haver percepção, o observador deve estar ausente. É isso possível? (Idem, pág. 181)
(…) Quase todos os homens são meros seguidores: consideram autoridade o criador
de qualquer coisa e, através da propaganda, das influências, da literatura, imprimem
na delicada estrutura cerebral a necessidade de obediência. Que acontece a vocês
quando obedecem? Param de pensar. Porque sentem que as autoridades sabem
muito, são poderosos, de grandes recursos,(…) (Ensinar e Aprender, pág. 35-36)
É possível olhar, ver, sem essa atividade mental? A atividade mental é sempre
pensamento, na forma de idéia, de memória; por conseguinte, não há percepção
direta. Não sei se já observastes vosso amigo, (…) esposa ou marido, olhando-o
simplesmente. Sempre olhais ou escutais a outrem com todas as lembranças de
infortúnios, insultos, etc. (…) (A Importância da Transformação, pág. 13)
Agora, o que estamos tentando averiguar (…) é se pode haver experiência direta,
destituída de todo e qualquer conhecimento, toda instrução, de modo que essa
experiência seja verdadeira, e não mera reação de nosso condicionamento como
hinduísta,(…) budista, (…) cristão, (…) (Idem, pág. 9)
(…) Mas, tudo o que nos interessa aqui (…)é descobrir se a mente pode, de pronto,
despojar-se desta crença, …) condicionamento, a fim de surja o percebimento direto.
Podemos viver mil vidas, praticando auto-disciplina, sacrificando, subjugando,
meditando, mas por este meio nunca seremos levados ao direto percebimento, o qual
só é realizável em plena liberdade, (…); e só pode aparecer a liberdade, quando a
mente se torna cônscia, de pronto, de seu condicionamento, pois então se verifica a
cessação desse condicionamento. (Da Solidão a Plenitude Humana, pág. 10)
Isso é difícil para a maioria de nós, porque pensamos que a compreensão é questão
de tempo, de comparação, de acumulação de mais informações, mais conhecimento.
Mas a compreensão nada disso exige. Só uma coisa ela exige, que é o percebimento
direto, o ver diretamente, sem interpretação ou comparação. Assim, não havendo
compreensão do medo, os nossos problemas crescem, invariavelmente. (O Passo
Decisivo, pág. 181)
K: Veja, senhor, algo muito interessante surge disto. Você está aprendendo ou está
tendo uma visão direta (insight) disso? Aprender implica autoridade. Você está
aprendendo e agindo a partir do aprendizado? (…) Então o conhecimento se torna a
autoridade, seja autoridade do doutor, do cientista, do arquiteto ou seja a do guru que
diz “eu sei”. (…)
Agora vem uma pessoa e diz: “Olhe, agir de acordo com o conhecimento é uma
prisão; você nunca será livre; não pode elevar-se através do conhecimento.” E alguém
como K. diz: “Olhe para isso diferentemente, olhe para a ação com a visão direta
(insight)- não acumule conhecimento para agir mas olhe com visão direta (Insight) e
aja. Nisso não há autoridade. (Exploration into Insight, pág. 23-24)
Krish.: Portanto, o problema é estar desperto, atento, alerta. Existe um método para
isso? (…) Não, porque aí está implícita a rotina, a aceitação da autoridade, a
repetição, e tudo isso me embota pouco a pouco. De maneira que recuso o estar
alerta como “prática” e digo que só na relação posso compreender a dor, e que a
compreensão vem unicamente a partir do estado de percepção alerta. (El Despertar
de la Inteligência, II, pág. 199)
Como enfrentar as coisas de maneira nova? (…)Ao apresentar-vos esta questão, qual
é vossa reação? Se vossa reação é também nova, estais então passivamente cônscio,
alertado, vigilante. Esse estado é atemporal. Nesse estado, (…) com passiva
vigilância, percebimento, não existe o tempo; dá-se uma experiência direta, o estímulo
é compreendido diretamente; por conseguinte, há liberdade de pensar. E essa
liberdade é eterna; ela existe agora, e não amanhã. (Da Insatisfação à Felicidade, pág.
27)
(…) Quando desejo compreender, examinar uma coisa, não tenho necessidade de
pensar: contemplo-a. No momento em que começo a pensar, a ter idéias e opiniões a
respeito da coisa, já me encontro num estado de distração que me desvia da coisa
que desejo compreender. (…) Mas, sem dúvida, uma mente que está muito tranqüila,
(…)que não está sendo distraída pelo seu próprio pensar, (…) que se acha aberta,
pode olhar para o problema de maneira muito direta e muito simples. (…) (A
Renovação da Mente, pág.13-14)
(…) Pois bem: se for esse movimento do pensamento claro, simples, direto,
espontâneo, profundo, não existirá então conflito no indivíduo, contra a sociedade,
porque a ação é, nesse caso, a própria expressão desse movimento vivo e criador. (A
Luta do Homem, pág. 153)
Nessa condições, não há, para mim, arte de pensar, só há pensar criador. Não há
técnica de pensar, mas somente a espontânea ação criadora da inteligência, a qual é
a harmonia da razão, do sentimento e da ação, não separados ou divorciados uns dos
outros. (Idem, pág. 153)
É maravilhoso uma pessoa descobrir por si mesma o que significa compreender uma
coisa imediatamente, sem necessidade de palavreados; ver um fato como fato,
completamente, sem argumentação. Desse ato de perceber pode-se passar à
argüição, à discussão, ao exame das minúcias; mas é necessário ter, primeiramente,
essa extraordinária intensidade de percebimento - percebimento sem pensamento que
produz a transformação.(…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 14)
Que é desejo? Como surge ele? Vejo, lá fora, um carro, (…)reluzente, bonito, de
linhas elegantes, (…) Há o ato de ver e, em seguida, a sensação resultante desse ato.
Em seguida, o contacto com o objeto que vimos e, em seguida a esse contacto, a
sensação; essa sensação é o desejo. (…) Percepção, contacto, sensação e desejo;
isso está sucedendo a cada instante, em nossa vida. (A Suprema Realização, pág.
204) Por conseguinte, urge compreender o que é “ajustamento” e o que é “desejo”.
Desejo é apetite não satisfeito. O desejo é isto - um apetite a que se não soltaram as
rédeas. E a sociedade diz que deveis conter, reprimir , guiar, controlar ou sublimar o
desejo. O lado religioso da sociedade diz; “Praticai várias formas de disciplina reprimi-
vos a fim de achardes Deus (…). Dessa maneira implanta-se na psique, no ente
humano, essa contradição(…) (A Suprema Realização, pág. 33)
Que é, pois, desejo? Vedes uma bonita casa, ou um belo carro ou um homem
poderoso - gostaríeis de possuir aquela casa, de ser aquele homem de posição, ou de
conduzir aquele carro sob os olhares admirados da multidão. Como aparece esse
desejo? (…) (Idem, pág. 35)
Há, pois, o ver, o perceber, que cria a sensação; em seguida, vem o contato, depois o
desejo - o desejo de possuir - que dá continuidade àquela sensação. Isto é muito
simples. Vejo uma bela mulher ou um belo homem. Há então o prazer do ver, e todo
prazer exige continuidade. Por conseguinte, penso nesse prazer, e, quanto mais
penso nele, tanto mais favoreço a sua continuidade. E (…) entra em cena o “eu”
quero, não quero.(…) (A Suprema Realização, pág. 35)
Estamos vendo, pois, como nasce o desejo. Percepção, contato, sensação; depois,
dá-se continuidade à sensação, e essa continuidade da sensação é o desejo. Mas, o
desejo se torna muito complicado quando se apresenta uma contradição, não no
próprio desejo, porém no objeto por meio do qual ele busca preenchimento. (…)
Apresenta-se, assim, a contradição, isto é, devo ajustar-me aos padrões da sociedade,
competindo, batalhando com meus semelhantes, a fim de subir mais alto que eles, (…)
(Idem, pág. 35-36)
Que é desejo, e como continua? Vê-se como surge o desejo: percepção, visão,
contacto, sensação. Mas, que é que dá continuidade ao desejo? Eis o problema. (…)
Ora, não há dúvida de que o pensamento dá continuidade ao desejo. Isto é, gosto de
uma certa coisa, dá-me grande prazer contemplar o por do sol, ou ver um belo rosto,
ou um homem de posição, prestígio,(…) Penso. Gosto de vosso rosto; tendes um
bonito sorriso,(…) Penso nisso, e, quanto mais penso, tanto mais força dou ao desejo,
que busca seu preenchimento em vossa pessoa - ou numa certa idéia ou objeto. (A
Suprema Realização, pág. 44-45)
Tendes um prazer, sexual ou trivial, e pensais nele; criais em vossa mente imagens,
símbolos, palavras. E, quanto mais pensais nesse prazer, tanto mais intenso ele se
torna. E essa intensidade exige preenchimento. Mas nesse preenchimento há uma
contradição, pois desejais também preencher-vos em outros sentidos. (…) Por
conseguinte, para fugirdes à contradição, à dor causada pelo conflito, dizeis ser
necessário reprimir o desejo. Mas, não é importante reprimir o desejo, moldá-lo,
sublimá-lo, porém, sim, compreendê-lo; compreender o que lhe dá substância,
intensidade, urgência de preenchimento. Compreendido isso, tem o desejo significado
completamente diferente. (A Suprema Realização, pág. 45)
Pode-se ver de maneira muito simples como o desejo surge e como se lhe dá
vitalidade, continuidade. O desejo, por certo, começa com o ver, ou sentir, ou provar, e
a sensação resultante desse contato. Depois, o pensamento intervém e diz que “isso”
é bem agradável ou desagradável (…) Assim, o pensamento, dando continuidade à
sensação, fortalece o desejo. (…) Vemos um belo rosto, um belo carro, (…) Ver -
sensação: entra em cena o pensamento e diz: “preciso conservar isso” (…) O mesmo
acontece em relação ao sexo, e a todas as outras formas de prazer. O pensamento dá
continuidade ao prazer, tornando-o desejo. (A Essência da Maturidade, pág. 34)
Pode-se ver como nasce o desejo. Não é uma coisa muito complexa. Primeiro,
percebe-se diretamente com os olhos; daí vem certo prazer, se a coisa é bela. Há
primeiro a percepção, em seguida a sensação, depois o contacto e, como resultado
desse contacto, o desejo. Vedes um belo carro - essa é a percepção, o ver, e vem em
seguida a sensação, o contacto e o desejo. Começa então o pensamento a nutrir, a
sustentar e a dar continuidade a esse desejo. E o desejo se torna então prazer. Tudo
isso ocorre instantaneamente. (…) Pode-se ver muito bem como nasce o desejo; vem
então o pensamento e me faz dizer: “Eu o quero. Quero possuí-lo, quero que isso
continue”. Assim, o pensamento não só dá nutrição, sustento, ao desejo, mas também,
pelo pensar repetidamente nele, lhe dá continuidade. (…) (A Essência da Maturidade,
pág. 103)
Posso dissolver esse centro do desejo - não determinado desejo, determinado apetite
ou ânsia, mas toda a estrutura do desejo, do ansiar, do esperar, em que há sempre o
medo da frustração? Quanto mais frustrado me vejo, tanto mais força dou ao “eu”.
Enquanto houver esse esperar, esse ansiar, haverá aquele fundo de temor, que, por
sua vez, fortifica o centro. E a revolução só é possível no centro, e não na superfície
(…) (Claridade na Ação, pág. 117-118)
(…) O desejar “mais”, o cultivo de símbolos, palavras, imagens, com suas respectivas
sensações - tudo isso precisa acabar. Só então será possível a mente ficar naquele
estado de criação em que o novo possa realizar-se constantemente. Se souberdes
escutar sem vos deixardes hipnotizar por palavras, hábitos, idéias, (…) então, quiçá,
compreendereis o processo do desejo (…) (Idem, pág. 122)
A observação tem de ser livre, sem tendência ou motivo algum (…) O desejo origina-
se na sensação. A sensação é contato, é o ver. Depois, o pensamento cria uma
imagem dessa sensação; esse movimento do pensar é o começo do desejo. (…) A
atividade dos sentidos tem de existir. Quando surge a sensação do ver ou do tocar, o
pensamento constrói a imagem (…) Tão logo o pensamento cria a imagem, nasce o
desejo. (La Llama de la Atención, pág. 92)
Pergunta: Todas as nossas tribulações parecem provir do desejo, mas podemos ficar
livres do desejo? (…)
Krishnamurti: Que é “desejo”? E por que separamos o desejo da mente? (…) Temos
de compreender o que é o desejo, em vez de perguntar como livrar-nos do desejo por
ele nos trazer tribulações, ou se o desejo é produto da mente. (…) Como nasce o
desejo? (…) (Realização sem Esforço, pág. 14-15)
Como se origina o desejo? Pode-se dizer com segurança que ele nasce de perceber
ou ver, do contato, da sensação - depois, o desejo (…) Primeiro, vedes um automóvel,
depois vem o contato, a sensação e, por fim, o desejo de possuir o carro, conduzi-lo.
(…) A seguir, ao procurardes adquirir o carro, que é a manifestação do desejo, há
conflito, há dor, sofrimento, alegria, e cada um deseja manter o prazer e livrar-se da
dor. (…) Queremos reter o prazer e livrar-nos da dor; mas é o desejo que cria as duas
coisas. O desejo, que nasce da percepção, contato-sensação, está identificado com
aquele “eu” que deseja apegar-se ao que é agradável e afastar de si o que é doloroso.
(…) (Idem, pág. 15)
O desejo cria a contradição, e a mente que é vigilante, muito ou pouco, não gosta de
viver em contradição, e por isso tenta livrar-se do desejo. Mas, se a mente puder
compreender o desejo, sem tentar afastá-lo de si, (…) se puder conhecer todo o
campo do desejo, sem rejeitar, nem escolher, nem condenar, ver-se-á, então, que a
mente é desejo, não está separada do desejo. Se compreenderdes realmente isso, a
mente se tornará muito tranqüila; os desejos surgirão, mas não terão mais “poder de
choque”, já não terão muita significação. (…) Eis por que é importante
compreendamos, no seu todo, o processo do desejo, processo em que quase todos
estamos aprisionados. (Idem, pág. 16-17)
Presos nesse processo, sentimos a contradição, a dor infinita que ele causa, e,
portanto, lutamos contra o desejo, e essa luta cria dualidade. Mas, se, por outro lado,
pudermos dar atenção ao desejo, sem julgamento, sem avaliação ou condenação,
veremos que, então, ele não cria mais raízes na mente. A mente que faculta terreno
propício aos problemas nunca encontrará o que é Real. A questão, por conseguinte,
não é de como dissolver o desejo, mas, sim, de compreendê-lo (…) Só a mente que
não está ocupada pelo desejo, pode compreender o desejo. (Idem, pág. 17)
Eis a primeira coisa que importa compreender: o desejo não é em si contraditório; há,
porém, contradição entre os objetos de seu preenchimento. Entendeis? Satisfaço o
meu desejo numa certa direção, mais tarde desejo satisfazê-lo noutra direção. Essas
duas direções, ou estados, é que são contraditórios. Desejo ser um homem rico e ao
mesmo tempo viver santamente (…) Muito mais difícil, porém, porque requer
extraordinária inteligência e compreensão, é investigar o desejo e libertar-se do
conflito que os objetos do desejo provocam. A compreensão do “processo” do desejo
requer muita inteligência. (Idem, pág. 43-44)
Temos desejo, que é, na realidade, reação a um apetite. Desejo ser uma coisa e
“reajo”. Essa reação depende da intensidade do meu sentimento. Se é intenso o
sentimento, imperiosa a emoção, o preenchimento é então quase imediato, seja em
pensamento, seja em ato. (…) (A Suprema Realização, pág. 44)
O desejo, reação a uma sensação a que se deu continuidade pelo pensamento, busca
preenchimento; e, nas várias formas de preenchimento, há sempre contradição. Dessa
contradição vem o conflito; e, onde há conflito, há esforço. O desejo, pois, gera o
esforço, se não compreendemos o seu “processo” total. (Idem, pág. 44)
O que vamos, pois, fazer (…) é descobrir por nós mesmos a natureza do prazer, o que
lhe dá continuidade e, por conseguinte, quando há prazer, há sempre a
correspondente contradição ou não prazer e, daí, sofrimento. E a essência mesma
desse sofrimento é o sentimento de solidão, em que nenhum prazer existe. E para
podermos descobrir o que é o desejo, devemos observar-nos em ação. (…) Porque
pensamos que o desejo gera perturbações, ansiedades de toda ordem; que o desejo
acarreta desperdício de energia, é algo que devemos afastar de nós. A compreensão
do desejo, por conseguinte, requer clareza. (…) (A Suprema Realização, pág. 203-
204)
Assim, tanto a resistência à dor como a busca do prazer dão continuidade ao desejo.
E, uma vez compreendido isso, não cuido mais de reprimir o desejo, porque, quando o
reprimimos, ele inevitavelmente causa outros conflitos - como acontece quando se
reprime uma doença. Não se pode reprimir uma doença; temos de deixá-la declarar-
se, dar atenção a ela, fazer tudo o que seja necessário. Se a reprimimos, ela
aumentará em potência, tornar-se-á mais forte, e mais tarde nos atacará. (…) Mas isso
não significa que devamos entregar-nos ao desejo. Porque, se cedemos ao desejo, ele
traz a dor ou o prazer que lhe são próprios (…) (A Suprema Realização, pág. 111)
Examinemos com vagar este problema do desejo. O desejo, afinal, é energia dirigida
para o exterior, e, sendo o desejo positivo, dominador, potente, a sociedade procura
controlá-lo e moldá-lo. A sociedade é produto desse mesmo desejo, o qual procura
ajustar-se, (…) e funcionar dentro dos limites da moral social. (…) (Idem, pág. l55)
Nessas condições, aquela energia dirigida para o exterior esbarra numa muralha de
moralidade social, de suposta religião, etc., e volta para dentro, ao seu ponto de
partida. Esse retrocesso não é um movimento livre: é simples reação. (…) Superficial
ou profundo, esse movimento para dentro é sempre uma regressão, e todo esse
“processo”, esse movimento da energia “para fora” e “para dentro”, é o movimento do
“eu”, do “ego”. (…) (Visão da Realidade, pág. 156-157)
(…) Quando o pensamento diz: Preciso reprimir, moldar, disciplinar o desejo, canalizar
a energia (…), nesse mesmo processo a energia é diminuída e destruída; e nós
necessitamos de uma espantosa soma de energia livre, energia não disciplinada, para
descobrirmos o que é verdadeiro, o que é Deus. Releva, pois, não reprimir, sublimar
ou controlar o desejo, mas, sim, que esse movimento “para dentro” e “para fora” do
desejo finde totalmente. (Idem, pág. 157)
Que estamos fazendo, presentemente? Há uma energia dirigida para fora, a qual é
desejo, pensamento; e, no seu movimento para o exterior, essa energia é obstada; daí
resulta frustração, dor, sofrimento. Por conseguinte, o desejo se recolhe e busca
interiormente um estado em que não haja dor, um permanente estado de paz. Essa
introversão da mente (…) é uma simples reação; e, destarte, criam-se os opostos. (…)
(Visão da Realidade, pág. 158)
(…) Mas, se essa energia que está permanentemente a dirigir-se para o exterior ou a
recolher-se no interior, puder imobilizar-se, sob nenhuma compulsão, puder ficar
quieta, livre de qualquer movimento para o exterior ou para o interior, vereis então que,
qual um rio, essa energia cria sua ação própria, porque está livre do “eu”. Estando
imóvel, a energia percebe o que é - a verdade; então, a própria energia é a verdade, e
essa verdade cria seu movimento peculiar, que não é movimento para fora nem para
dentro. (Idem, pág. 160)
Se isso tiver sido bem compreendido, então a disciplina terá uma significação de todo
diversa; mas atualmente a disciplina é mero conflito, ajustamento, (…) está destruindo
a energia. (…) A tal ponto nos temos ajustado, que já não nos resta nenhuma energia
criadora, (…) iniciativa; e só o homem que tem essa energia criadora, essa
descomunal iniciativa, só tal homem descobre o que é verdade; e não aquele que
ajusta, disciplina e amolda os seus desejos. (Visão da Realidade, pág. 160-161)
O que estou expondo é um fato e não uma teoria ou mera idéia (…) Só há resolução
quando aquele movimento de vaivém, do desejo, terminou, sem o emprego de
compulsão. (…) Só quando cessa o movimento, apresenta-se uma tranqüilidade cheia
de riqueza, plenitude, vitalidade, e, nessa placidez, há abundância de energia e não
diminuição de energia. (…) (Idem, pág. 161)
Por que somos torturados pelo desejo? Por que fazemos do desejo um instrumento de
tortura? Há desejo de poder, desejo de posição, desejo de fama, desejo sexual, desejo
de dinheiro, desejo de carro, etc. (…) (O Homem Livre, pág. 140)
(…) Reprimir o desejo, ou a ele ceder, é a mesma coisa, porque o desejo continua
ainda existente. Podeis reprimir o desejo de uma mulher, de um carro, de uma
posição; mas o próprio estímulo a não ter essas coisas é, em si, uma forma de desejo.
Assim, ao vos verdes presos na rede do desejo, deveis compreendê-lo, em vez de
dizer que ele é correto ou errado, justo ou injusto. (Idem, pág. 141)
(…) Mas temos de ir bem mais longe. Porque a vida é um movimento e, para poderdes
acompanhar esse movimento, precisais de energia - energia que não conhece
ajustamento; energia que não produz conflito, energia que não é produto do
pensamento, com todas as sua resistências, contradições; energia que não é escrava
do tempo, que é “gradualidade” (…) (A Suprema Realização, pág. 39)
Esclarecerei em resumo o que tenho dito (…) Cada um de vós sois consciente de um
grande vazio, uma vacuidade interna, e, sendo consciente dessa vacuidade, tentais
preenchê-la ou escapar-lhe; ambas as ações significam a mesma coisa. Escolheis
com o que preencher essa vacuidade, e a essa escolha chamais progresso ou
experiência. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 90)
Onde há escolha tem de haver conflito, porque a escolha tem por base a ansiedade, o
desejo de completar o vosso vazio interno ou dele escapar. (… ) Mas, digo, descobri
qual a causa do vosso sofrimento. Essa causa é, como verificareis, o constante
querer, o contínuo ansiar que obscurece o discernimento. Se compreenderdes isso
(…) então a vossa ação estará livre da limitação da escolha; então estareis realmente
vivendo, vivendo naturalmente, harmoniosamente (…) Se viverdes plenamente, a
vossa vida não produzirá discórdia porque a vossa ação surgirá da plenitude e não da
carência. (Idem, pág. 91-92)
Quase todos estamos conscientes disso, mas não nos agrada encará-lo de frente, (…)
compreendê-lo; procuramos fugir a esse estado de vazio, (…) de aniquilamento,
apegando-nos à propriedade, ou ao nome, à família, ao saber. A essa fuga de nós
mesmos chamamos de experiência; (…) Os meios de fuga (…) oferecem felicidade e,
por isso, a experiência se transforma num obstáculo à compreensão do “que é” (Idem,
pág. 64)
Enchemos, pois, esse vazio, essa solidão, com instrução, relações e haveres; e por
isso as posses, as relações e a instrução se tornam extraordinariamente importantes -
já que sem elas nos sentimos perdidos. Sem elas, ficamos face a face com nós
mesmos, tais como somos; e, para fugir a isso, recorremos a todos os meios e
acabamos ficando presos nas experiências dessas fugas. (Idem, pág. 64-65)
Utilizamos tais experiências como padrões (…) para encobrir a realidade. Mas a
realidade, ou Deus, é o desconhecido; não pode ser medida por nossa experiência,
(…) condicionamento; e, para atingi-la, temos de afastar todas as fugas e enfrentar “o
que é” - nossa solidão, nosso extraordinário senso de sermos nada. (…) (Idem, pág.
65)
Ora, há em nós uma carência perpétua e um lutar perene pela satisfação a que
chamamos “realidade”. Esforçamo-nos por nos amoldarmos à conformidade de um
padrão, de acordo com um sistema particular de conduta, de comportamento, que
promete dar-nos o entendimento e a satisfação decorrentes (…) (Palestras em Ojai,
Califórnia, 1936, pág. 58)
Vedes algo, algo de atraente, e vós o quereis e o possuís. Está assim firmado esse
processo de percepção, de carência e de aquisição. Esse processo é sempre auto-
sustentador. Existe uma percepção voluntária, atração ou repulsão, apegar-se ou
rejeitar. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 59)
Isso que está de contínuo ansiando é a consciência que se tornou perceptível sob a
forma de indivíduo. Isto é, existe um “eu” que carece (…) Vedes algo (…) o processo
do “eu” é assim auto-ativo. Isto é, não somente ele próprio se expande, mediante seus
(…) desejos e ações, como se mantém pela ignorância, pelas tendências, carências e
anseios. (…) (Idem, pág. 59)
Por que motivo ansiamos possuir ou dominar? Não é pelo temor à insuficiência? Por
sermos tímidos, ansiamos por segurança; sentimental e mentalmente desejamos estar
abrigados e firmemente ancorados nas coisas, nas pessoas, nas idéias. (O Egoísmo e
o Problema da Paz, pág. 132)
Enquanto o anseio, nas suas diferentes formas, não for compreendido, haverá conflito
e sofrimento. (…) A solução definitiva se encontra no libertar-nos do anseio; (…) A
batalha incessante que se trava dentro de todos nós, e à qual chamamos vida, não
terá desfecho enquanto não compreendermos e transcendermos o anseio. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 166-167)
Dessa idéia de a vida ser uma escola, surge o constante desejo de conseguimento, de
sucesso, e, em conseqüência, a procura de um fim, o desejo de encontrar a verdade
última, Deus, a perfeição final que vos dará (…) certeza, e daí as tentativas de
contínuo ajustamento a certas condições sociais, a exigências éticas e morais, ao
desenvolvimento do caráter e ao cultivo de virtudes. Esses padrões e exigências, se
neles realmente pensais, são apenas abrigos donde agimos, abrigos desenvolvidos
pela nossa resistência. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 133)
(…) Dissemos que a ansiedade se exterioriza de três modos: pelo mundanismo, amor
possessivo e desejo de imortalidade pessoal. (…) Naturalmente, há muitos problemas
envolvidos nisso, tais como ganhar a vida. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940,
pág. 67)
Não tem o nosso pensamento sua fonte na ansiedade? Pela percepção, contato,
sensação e reflexão, o pensamento se divide em gosto e desgosto, ódio e afeição, dor
e prazer, mérito e demérito - a série dos opostos, o processo do conflito. (…) (Idem,
pág. 71)
Como disse, a experiência é, para a maioria de nós, “o caminho da vida”, e por quanto
mais experiências passamos, mais desejamos (…) Para a maioria de nós, não há fim
para a experiência. Mas vemos que ela é “acumulativa”, e que o fundo de experiências
acumuladas condiciona. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 118)
Temos, pois, essa carga acumulada de passadas experiências, tanto individuais como
coletivas. (…) Esse fundo está sempre ditando nossas ulteriores experiências,
moldando os nossos pensamentos. Não vemos possibilidade desse findar (…) Mas é o
fundo de experiência que gera a ansiedade, o sentimento de desespero, o medo de
não “chegar”, não realizar. Há sempre o sentimento de não completamento, de
insuficiência e, por isso, queremos mais e mais experiência (…) (Idem, pág. 118)
Todos nós aspiramos a tornar-nos algo neste mundo ou no outro (…) interior ou
exteriormente; e nosso propósito é bem definido, porquanto nossos desejos nos estão
sempre impelindo para determinado fim, a que chamamos de “preenchimento”. Se não
compreendermos esses desejos, e, se eles são contrariados, há conflito, sofrimento,
dor e, por conseguinte, uma busca perene de preenchimento. Mas, se começamos a
compreender todas as características do desejo, (…) impulsos, conscientes e
inconscientes, não há mais a questão do preenchimento. É o ” eu”, o “ego” que está
sempre ansiando por preenchimento, quer no sentido de sermos as pessoas mais
importantes (…) ou de nos preenchermos interiormente (…) (Debates sobre
Educação, pág. 234-235)
Buscar preenchimento é atrair a frustração. Não há preenchimento do “eu”, mas tão
somente o seu fortalecimento pela posse daquilo que ele cobiça. A posse (…) faz o
“eu” sentir-se poderoso, exuberante, ativo, e essa sensação é chamada
preenchimento; todavia, como acontece com todas as sensações, ela breve se apaga,
para ser substituída por outra satisfação. (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 79)
Por que existe essa idéia de posse? Não nasce ela da insuficiência, da falta de
plenitude? E por causa dessa insuficiência assumem grande relevância os problemas
do sexo e outros (…) Na plenitude, que é a própria inteligência, não existe
anormalidade. Mas, sendo insuficientes, incompletos, conhecendo a pobreza, a
vacuidade, a absoluta superficialidade de nossos pensamentos e sentimentos,
dependemos de outras pessoas, dos livros, da literatura, das idéias, da filosofia, para
enriquecer nossas vidas, e começamos, assim, a adquirir, a armazenar. (…) (A Luta
do Homem, pág. 115-116)
Mas, que é ação? Bem considerada, ela é aquilo que pensamos e sentimos. E
enquanto não tiverdes percepção de vosso pensamento, de vossos sentimentos, tem
de haver insuficiência, e por maior que seja a vossa atividade exterior, não
conseguireis o preenchimento. Isto é, só a inteligência pode eliminar aquela
vacuidade, não a acumulação; e a inteligência, como já frisei, é a harmonia perfeita da
mente e do coração. (A Luta do Homem, pág. 81-82)
Nessas condições, onde existe plenitude não pode existir compulsão. Mas a
desarmonia, a insuficiência promove separação entre a mente e o coração. (…) Mas,
para mim, pensar e sentir são a mesma coisa. Assim, pois, envoltos em conflito e
desarmonia, e tendo separado a mente dos sentimentos, efetuamos nova divisão,
separando a mente da inteligência - da inteligência que, para mim, é verdade, beleza,
amor. (…) (A Luta do Homem, pág. 82)
(…) Estamos sempre lutando para ganhar uma recompensa, realizar boas obras, viver
vida nobre, progredir, concretizar nossa aspirações. Não importa, pois, verificarmos o
que é esse “eu” que quer tornar-se maior, aperfeiçoar-se? (Claridade na Ação, pág.
101)
(…) Minha mente, percebendo a sua própria insuficiência, sua pobreza, põe-se a
adquirir posses, diplomas, títulos, (…) e, desse modo, se fortalece o “eu”. Sendo o
centro do “eu”, a mente diz: “Preciso transformar-me” - e põe-se a criar incentivos para
si, buscando o bom e rejeitando o mau. (Idem, pág. 107)
(…) Sempre que há desejo de preenchimento, em qualquer grau ou (…) nível que
seja, há de fato luta. O desejo de preenchimento é o motivo, a força impulsora do
esforço. Seja o diretor de (…) empresa, ou a (…) dona-de-casa, ou o mendigo, em
todos há essa batalha por “vir-a-ser”, realizar, continuar. (A Arte da Libertação, pág.
108)
Ora, por que existe esse desejo de nos preenchermos? Como é óbvio, o desejo de
preenchimento, (…) de nos tornarmos alguma coisa, surge quando temos a
consciência de não ser nada. Porque não sou nada, porque sou insuficiente, vazio,
interiormente pobre, luto por tornar-me alguma coisa; exterior ou interiormente, luto
para me preencher - com uma pessoa, um objeto, uma idéia. (Idem, pág. 108)
(…) Vemos, pois, que a luta por “vir-a-ser” só se manifesta quando há insuficiência,
(…) consciência de um vácuo, de um vazio, em nós mesmos. (…) O encher esse vazio
constitui todo o processo de nossa existência. Cônscios de que somos vazios, (…)
pobres, interiormente, entramos em luta, ou para acumular coisas exteriores ou para
cultivar riquezas interiores. (A Arte da Libertação, pág. 108-109)
Quando somos inferiores, temos o impulso a sentir-nos superiores; (…) Quer dizer: por
mim mesmo, sou insignificante, vazio, superficial, e por isso desejo máscaras, para
usar em diferentes ocasiões: a máscara da superioridade e da nobreza, da seriedade,
a máscara com a qual afirmamos procurar Deus, e assim por diante. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 209-210)
Estamos, pois, em busca de algo com que preencher nosso vazio; esse algo (…)
chama-se conhecimento (…) Julgamos que, achando o que nos enriqueça a pobreza
interior, estará finda a nossa busca. Uns tratarão de fugir dele por meio de atividades,
de estímulos, de ideologias, etc; outros estão conscientes desse vazio, mas não
acharam um meio de o encobrir. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 239-240)
Bem, é esta a condição atual de nossas vidas - respeitabilidade, posses e vazio (…)
Como haveremos de transcender essa solidão, esse vazio, essa insuficiência, essa
pobreza interior? (…) Estamos satisfeitos com o que somos; dá muito trabalho
procurar uma coisa nova (…) Nessas condições, não desejamos (…) sair do
“processo” de auto-enclausuramento; o que procuramos é só substituição (…) Só
muito poucos indivíduos se dispõem a romper e a ver o que existe fora dessa coisa
que chamamos vazio, solidão. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 124)
Assim, digo, não procureis um caminho, um método. Não há método nem caminho
para a verdade. (…) Então, nessa chama de apercebimento, todos esses obstáculos
desmoronam porque os penetrastes. Então podereis perceber diretamente, sem
escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será assim oriunda da plenitude e não
da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do
coração, está a realização do eterno. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 27-28)
Para a maioria de nós, a idéia de evolução implica uma série de consecuções, isto é,
consecuções surgidas da contínua escolha entre o que chamamos não-essencial e
essencial. (…) A essa série de consecuções contínuas, resultantes da escolha,
chamamos evolução. Toda a estrutura do nosso pensar está baseada nessa idéia do
progredir e do atingir espiritual, na idéia de penetrar mais e mais no essencial como
resultado da escolha constante. (Idem, pág. 29-30)
A maior beatitude - e isso para mim não é mera teoria - é viver sem esforço. (…) Para
a maioria de vós, esforço é apenas escolha. (…) Mas, por que escolheis? (…) Digo
que essa necessidade de escolha existe enquanto se está consciente da vacuidade ou
do isolamento interno; essa insuficiência força-nos a escolher, a fazer um esforço.
(Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 31)
Ora, a questão não é saber como preencher esse vácuo, mas antes verificar qual a
sua causa. (…) A vacuidade aparece quando a ação se origina de escolha. E quando
há vacuidade, surgem as perguntas: “Como posso preencher esse vazio? Como posso
desembaraçar-me desta solidão, deste sentimento de insuficiência? Para mim, não se
trata de preencher o vazio, pois nunca o podeis preencher. (Idem, pág. 31)
Como há de o indivíduo viver de modo que a ação seja preenchimento? Como pode o
indivíduo enamorar-se da vida? Para enamorar-se da vida, (…) obter o preenchimento,
é preciso ter a mente livre, mediante a compreensão profunda das limitações que a
deturpam e frustram (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 58-59)
O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem
o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações
autoprotetoras, tal como se dá quando vos achais enamorados. Tendes, pois, de estar
enamorados da vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou
conhecimentos, porém sim essa grande inteligência que desperta quando defrontais a
vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por
completo vulneráveis em face da vida. (Palestras em New York City, 1935, pág. 60)
Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa
solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado
criador completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto
desejamos evitar o vazio interior; mas, se o olharmos bem, se o observarmos, se
aceitarmos o que é, sem nenhum desejo de evitá-lo, veremos surgir um “estado de
ser” no qual cessou toda a luta. Esse estado de ser é o estado criador, que não resulta
de luta alguma (A Arte da Libertação, pág. 109)
Mas quando há compreensão do que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior,
quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente,
surge a realidade criadora, a inteligência criadora, a única coisa que traz felicidade.
(Idem, pág. 109)
(…) Só quando estiverdes cônscios da insuficiência interior, e ficardes com ela, isto é,
não fugindo, mas aceitando-a integralmente, só então descobrireis uma tranqüilidade
extraordinária, (…) não produzida artificialmente, mas que vem com a compreensão
do “que é”. Só nesse estado de tranqüilidade, há vida criadora. (A Arte da Libertação,
pág. 110)
Assim, onde há escolha não pode haver discernimento. (…) Somente quando cessa a
escolha há libertação, plenitude, pujança de ação, que é a vida mesma. A criação é
sem escolha, como a vida é sem escolha, como o entendimento é sem escolha (…)
(Palestras na Itália e Noruega, pág. 50)
(…) Agora, será acaso a iluminação (…) uma questão de tempo? (…) Será um
processo gradual, isto é, (…) de tempo, (…) de evolução, a transformação gradual?
(…) As chamadas pessoas iluminadas não são iluminadas, pois no momento em que
dizem: “Estou iluminada”, não estão. Trata-se de uma vaidade delas. É como se
alguém dissesse: “Eu sou realmente humilde” (…) A verdadeira humildade não é o
oposto de vaidade. (…) Então você pergunta: o que é essa iluminação suprema? Uma
mente que não possui nenhum conflito, nenhuma sensação de luta, de atividade, de
movimento, de realização. (Perguntas e Respostas, pág. 103)
Agora, que acontece quando afastais isso e escolheis aquilo? Estais buscando o
vosso agir simplesmente na atração ou repulsão, e, por esse modo, criais opostos.
(…) Enquanto escolherdes, (…) tem de haver dualidade. Podeis pensar ter escolhido o
essencial; mas (…) no querer e no temor, ela meramente cria outro não-essencial.
(Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 32)
Enquanto escolherdes entre os opostos não há discernimento, e por isso deve haver
esforço, esforço, incessante, continuamente oposto e dualidade. (…) A vossa ação é
sempre finita, sempre visando conseguimento, e por isso existirá sempre essa
vacuidade que sentis. Mas se a mente estiver livre da escolha, se ela possuir a
capacidade de discernir, então a ação é infinita. (Idem, pág. 32-33)
Se vos aperceberdes de que a vossa escolha originada nos opostos somente cria
outro oposto, então percebeis o que é verdadeiro. (…) Nesta libertação dos opostos, a
ação já não é conseguimento, mas preenchimento; ela nasce do discernimento, que é
infinito. Então, a ação brota de vossa própria plenitude e em tal ação não há escolha e,
portanto, nenhum esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 33)
Só podeis verificar isso quando realmente estiverdes atravessando uma crise. (…)
Podeis conhecer a verdade disso somente quando estiverdes frente a frente com uma
insistente necessidade de escolha, quando tiverdes de tomar uma decisão (…) (Idem,
pág. 35)
(…) Se nesse momento entenderdes com todo o vosso ser, (…) fordes consciente da
futilidade da escolha, então brotará daí a flor da intuição, a flor do discernimento. A
ação que daí nasce é infinita; então a ação é a própria vida. (…) (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 35)
(…) Enquanto a mente está ativa, formulando, fabricando, inventando, criticando, não
pode haver criação; e eu vos asseguro que a criação vem silenciosamente, com
extraordinária rapidez, sem compulsão, ao compreenderdes a verdade de que a mente
precisa estar vazia, para que se realize a criação. Ao perceberdes a verdade disso,
então, instantaneamente, há criação. (A Arte da Libertação, pág. 177)
(…) A criação só se realiza quando a mente, com seus motivos e sua corrupção, deixa
de funcionar. (…) Assim, a única coisa necessária é que a mente, que é pensamento,
deixe de funcionar; e então, asseguro-vos, conhecereis a criação. Só há criação
quando a mente, compreendendo sua própria insuficiência, (…) pobreza, (…) solidão,
finda. Estando cônscia de si mesma, ela põe fim a si própria; então, aquilo que é
criador (…), imensurável, aparece, sutil e velozmente. (A Arte da Libertação, pág. 178)
(…) O que importa realmente é que essa vacuidade e essa solidão existem em vossa
mente e vosso coração, e que há um vazio imenso; e pensais poder sair dele, fugir
dele (…) Ao passo que, se libertardes a mente dessa consciência do “eu”, pela
descoberta dos retos valores do ambiente, (…) então, por vós próprios, conhecereis
esse preenchimento que é a verdade, (…) Deus (…) (Palestras em Auckland, 1934,
pág. 119)
Porque somos como mortos, tememos a morte; os que vivem não a temem. Os mortos
estão onerados do passado, da memória, do tempo, mas, para os que vivem, o
presente é eterno. O tempo não é um meio para se chegar a um fim - o Atemporal -
porque o fim está no começo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 173-174)
O “ego” tece a rede do tempo e o pensamento é colhido por ela. A insuficiência do
“ego”, a sua dolorosa vacuidade, causa o temor da morte e da vida. (…) Mortos que
estamos, procuramos a vida - mas a vida não está na continuidade do “ego”. O “ego”,
o criador do tempo, deve render-se ao Atemporal. (Idem, pág. 174)
(…) Procuramos vencer esse terror, esse vácuo; procuramos algo que cure a
pungente agonia de nossa insuficiência interior. (…) Quando para vós despontar a
verdade a respeito da fuga, persistireis em procurá-la? É claro que não. Aceitareis,
então, infalivelmente “o que é”, o que existe; é essa rendição completa ao “que é”, que
nos traz a Verdade libertadora, e não a consecução do objeto de nossa busca. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 240)
Não é a essência criadora da Realidade que é a norma? Apelais para outros, para vos
darem esperanças e orientação, porque sois vazios e pobres; apelais para os livros, os
quadros, os mestres, os “gurus”, os salvadores, buscando inspiração e força. (…) É só
na essência criadora da Realidade que se verifica o término do conflito e da aflição.
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 139)
Isto é, depois que a mente se despoja de toda ilusão e ignorância, é capaz de discernir
o infinito presente. É uma coisa que se não pode explicar, acerca da qual não se pode
raciocinar. Está para além de todos os argumentos. Tem de ser vivida. Exige grande
persistência e constante firmeza de propósito. (Palestras em New York City, 1935,
pág. 25)
(…) Porque sois, aí, vosso próprio instrutor e vosso próprio discípulo; a vida estará
aberta para vós e ireis ao seu encontro todos os dias, com plenitude, riqueza,
felicidade. Mas isso não é possível se há qualquer forma de acumulação. O ver o fato
simplesmente, sem avaliação, traz liberdade. (…) (Visão da Realidade, pág. 267)
(…) Quando fazeis algo, com todo o vosso ser, em que não há sentimento de
frustração ou medo, nenhuma limitação, nesse estado de ação sois vós próprio,
independente de qualquer condição exterior. Digo, se puderdes chegar a esse estado,
quando sois vós próprio na ação, então descobrireis o êxtase da realidade, Deus.
(Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 76)
Para libertar essa nascente que se transformará em torrente e por isso vos levará a
atingir a libertação que é a Verdade, que é o preenchimento da vida, deveis descobrir
o que é essencial para vossa compreensão e pôr de lado todas as coisas de
importância secundária. (Vida em Liberdade, VII, em Carta de Notícias da I.C.K., nº 1
a 6, de 1945, pág. 22)
(…) Quando rejeitais a autoridade e dela buscais libertar-vos, procurais apenas uma
antítese; ao passo que a verdadeira liberdade, o estado inteligente e desperto da
mente, está para além dos opostos. E essa tranqüilidade vibrante do pensamento
profundo, do apercebimento sem escolha, essa intuição criadora, que é a plenitude da
vida. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 69)
(…) O êxtase da Realidade encontra-se pela inteligência desperta e no mais alto grau
de intensidade. Inteligência não significa cultivo da memória ou da razão, mas, sim,
uma percepção da qual é banida a identificação e a escolha. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 199)
Consideremos um hábito muito simples, que muita gente tem: o hábito de fumar. Se
fumais e desejais abandonar o hábito, a idéia de abandoná-lo cria uma resistência
contra o fumar. Agora, pelo conflito ou pela resistência, podeis quebrar um hábito, mas
isso não liberta vossa mente do processo formador de hábitos; o mecanismo criador
dos hábitos não deixou de existir. (…) (Idem, pág. 155-156)
Temos hábitos de pensamento, hábitos sexuais - uma infinidade de hábitos, que tanto
podem ser conscientes como inconscientes; e é sobretudo difícil ficarmos cônscios
dos hábitos inconscientes. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
156-157)
Mas, como, de que maneira e em que nível irá realizar-se essa revolução? (…) E
observa-se, também, que a mente, o próprio cérebro se tornou mecânico e, por
conseguinte, repetitivo: ensine-se-lhe certo padrão de comportamento, certas normas
de conduta, atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro desse
canal, desse padrão. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90-91)
O problema, pois, consiste no seguinte: Meu pensamento está condicionado, fixado
num padrão; e a qualquer estímulo, que é sempre novo, o meu pensamento só pode
reagir de acordo com o seu condicionamento, transformando o novo no velho,
modificado. Dessa maneira, o meu pensamento nunca pode ser livre. Meu
pensamento, que é o produto de ontem, só é capaz de reagir nas mesmas condições
de ontem. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 26)
Ora, essa mente, até onde posso ver, funciona tão só como atividade egocêntrica;
quer meditando em Deus, quer buscando satisfação sexual, praticando o ideal da
“não-violência”, lançando-se a reformas sociais. (…) E é possível a mente libertar-se
dessa atividade egocêntrica, sem compulsão, sem a disciplina do ajustamento a um
padrão? (O Homem Livre, pág. 146)
O estado criador não exige, por certo, luta alguma; pelo contrário, sempre que há luta
não há estado criador. Quando o “eu” está totalmente ausente, dá-se então a
possibilidade de se manifestar esse estado criador. E enquanto a idéia predomina, tem
de haver luta, (…) conflito. Isto é, o moldar a ação de conformidade com uma idéia
gera, necessariamente, o conflito. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 48)
A maior parte das pessoas está sempre empenhada em viver de acordo com uma
idéia. Primeiro surge a idéia - ser nobre, ser bom, ser espiritual, etc., etc. - e
procuramos daí por diante viver de acordo com essa idéia. (…) Por que isso? Todo o
processo de ideação não é produto do “eu”? (…) O “eu” cria o padrão. O “eu” é uma
idéia, e, em conformidade com essa idéia, nós vivemos e tentamos proceder. (Idem,
pág. 48)
A transformação, para a maioria de nós, implica esforço. Sou isto e, para me tornar
aquilo, preciso fazer esforço. Na escola, depois de adultos (…) nos é inculcado esse
“processo do esforço” consciente; estamos condicionados por essa idéia. (…) Dizemos
que se necessita um esforço correto, constante exercício, controle, disciplina, um
constante moldar da mente com palavras, explicações, diretrizes; (…) (Idem, pág. 81-
82)
Não sei se já notastes que, quando fazeis uma coisa com facilidade, com presteza,
não existe esforço, mas, sim, completa ausência de luta; mas como as nossas vidas,
em geral, são uma série de batalhas, conflitos e lutas, somos incapazes de imaginar
uma vida, um “estado de ser”, no qual tenha cessado toda luta. (Idem, pág. 107)
Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa
solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado
criador, completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto
desejamos evitar o vazio interior. (…) (Idem, pág. 109)
Mas quando há compreensão do que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior,
quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente,
surge a realidade criadora, a inteligência criadora, a única coisa que traz felicidade.
(Idem, pág. 109)
(…) Todo esforço não significa luta por transformar a coisa “que é” naquilo que ela não
é, ou naquilo que deveria ser ou deveria “vir-a-ser”? Isto é, vivemos a lutar para não
olhar de frente “o que é”, ou procuramos fugir a ele, ou transformá-lo, ou modificá-lo. O
homem que sente o verdadeiro contentamento é o homem que compreende o “que é”
e atribui-lhe a sua significação própria. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 122)
O esforço, pois, representa uma distração que nos afasta do que é. (…) No momento
em que aceito o que é, cessa a luta. Toda forma de luta ou de esforço denota
distração, e a distração, que é esforço, existirá necessariamente enquanto eu desejar
transformar a coisa “que é” no que ela “não é”. (…) (Idem, pág. 123)
Assim, desejo considerar (…) como poderemos realizar uma revolução, uma revolução
psicológica, sem esforço. Estou empregando a palavra “esforço” no sentido de lutar,
tentar alcançar ou vir-a-ser algo; emprego-a em referência à mente que, vendo-se
envolvida em contradição, luta para superar, disciplinar, adaptar, ajustar, produzir uma
modificação em si própria - estou empregando a palavra “esforço” em referência a
tudo isso. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 13)
Ora, é possível efetuar uma revolução total sem esforço, não apenas na mente
consciente, mas também nas camadas profundas, no inconsciente? Porque, quando
fazemos esforço para promover em nós mesmos uma revolução psicológica, isso
implica pressão, influência, motivo, direção, e tudo isso é resultado de nosso
condicionamento. (Idem, pág. 13)
Pode-se ver que a ação da vontade produz de fato certo resultado. Se desejo algo
muito ardentemente, se o persigo pacientemente, tê-lo-ei. Mas isso implica o
funcionamento da vontade, e a vontade é essencialmente um “processo” de
resistência, e a mente cuja disciplina é puramente processo de resistência não pode
de modo nenhum compreender a outra espécie de disciplina. (O Homem Livre, pág.
145)
Já que o medo não vos permite ser vós próprio, como, então, se pode dominar esse
medo - medo de todos os tipos, não de um tipo particular? (…) Se estais inconsciente
do medo, tornai-vos consciente dele; (…) O processo mecânico ou da vontade pode
apenas ocultá-lo (…) guardá-lo e (…) restringi-lo, permitindo apenas as reações da
moralidade controlada. Sob esse padrão de comportamento controlado, o medo
sempre continua. Esse é o resultado inevitável do processo mecânico da vontade, com
suas disciplinas, desejos (…) (Idem, pág. 82-83)
A ação da vontade é o “eu”; e, seja qual for a roupagem, a transformação que o “eu”
deseja, sejam quais forem suas esperanças, insucessos, pesares - estamos sempre
na esfera do “eu”. Nessa esfera não pode haver revolução, visto ser o “eu” a ação da
vontade. Quando o 'eu” diz: “Não devo ser ambicioso, não devo ser invejoso”, a
vontade (…) está desejando ser outra coisa, positiva ou negativamente. Por
conseguinte, aí está presente o “eu”. Se tiverdes realmente compreendido, quer dizer,
se estais realmente escutando - vereis que a “vontade de ação” termina; e com esse
terminar há uma transformação radical; não mais vos preocupa, então, a
transformação do “eu”. (O Problema da Revolução Total, pág. 87-88)
Há sempre guerra entre o espontâneo e o mecânico. Para mim, o que estou dizendo é
vitalmente novo e não pode ser torcido para se adaptar aos vossos preconceitos
particulares do “eu” superior e inferior, do transitório e do permanente, do “eu” e do
“não-eu”. (…) A maioria de nós, infelizmente, quase destruiu essa espontaneidade,
essa alegria criativa do desconhecido, a única de que pode resultar ação sábia. (…)
(Idem, pág. 79-80)
Portanto, qual é a condição interna necessária para sermos nós mesmos, para sermos
espontâneos? A primeira condição interna necessária, é que o mecanismo formador
de hábitos deve cessar. Qual é a força motriz atrás desse mecanismo? (Palestras em
Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 87-88)
Se existe esse hábito (da vaidade), quando dele vos tornardes conscientes, ele
desaparecerá se realmente amais todo esse processo de viver. (…) Mas aqueles de
vós que se acham profundamente interessados, (…) observai como este ou qualquer
outro hábito cria uma cadeia de memórias que se tornam cada vez mais fortes, até
que somente permanece o “eu”, o “mim”. Esse mecanismo é o “eu”, e, enquanto existir
esse processo, não pode haver o êxtase do amor, da verdade. (Idem, pág. 93-94)
(…) Ninguém pode, por modo algum, forçar a espontaneidade. Nenhum método vos
dará a espontaneidade. Todos os métodos apenas criam reações mecânicas.
Nenhuma disciplina produz a alegria espontânea do desconhecido. Quanto mais vos
esforçardes para ser espontâneo, tanto mais a espontaneidade se afasta e se torna
oculta e obscura, e menos pode ser compreendida. (…) Tendes de vos aproximar dela
negativamente, não com a intenção de capturar o desconhecido, o real. (Palestras em
Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 81)
O ciúme, em quase todos nós, tornou-se um hábito e, como todo hábito, tem
continuidade. Quebrar o hábito significa, meramente, estar cônscio do hábito. (…)
Estar cônscio de um hábito significa não o condenar, porém, simplesmente, observá-
lo. (…) Nesse estado de total percebimento (…) descobrireis terdes eliminado
completamente aquele sentimento habitualmente identificado com a palavra “ciúme”
(O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 151)
É só a mente embotada, sonolenta, que cria o hábito e a ele se apega. A mente que
está atenta momento a momento - atenta para o que ela própria está dizendo, atenta
para o movimento de suas mãos, de seus pensamentos, de seus sentimentos -
descobrirá que se terá acabado a formação de hábitos. (…) A mente que se limita a
freqüentar a igreja, a recitar orações, que está apegada a dogmas ou que abandona
uma seita para ingressar noutra, não é uma mente religiosa. (…) Religiosa é a mente
livre, num estado de constante “explosão”. (…) (Idem, pág. 158)
E, então, que acontece? Não estais procurando modificar o hábito, não estais tentando
quebrá-lo. Estais simplesmente em presença do fato de que vossa mente funciona na
rotina do hábito. (…) Se não tentardes alterá-lo, o próprio fato vos dará uma
extraordinária energia, com a qual podeis quebrá-lo completamente. Compreendeis?
(…) Por conseguinte, vossa atenção é completa, toda a vossa energia se concentrou,
e essa energia destroça totalmente o fato. (Idem, pág. 176)
Não sei se já vos observastes no ato de fumar. Com “observar-vos” quero dizer
“estardes cônscio de cada movimento que fazeis”: como a vossa mão vai ao bolso,
retira um cigarro, coloca-o na boca, volta ao bolso para apanhar os fósforos, acende o
cigarro, e como, então, “puxais umas fumaças” e atirais fora o fósforo. O importante é
dar-vos conta de todo esse processo, sem resistir-lhe, sem rejeitá-lo, sem desejardes
ficar livre dele - estando, apenas, totalmente cônscio de cada movimento inerente ao
hábito. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155-156)
O nosso pensar não é, na maior parte, “habitual”? Desde crianças, nos têm ensinado a
pensar numa certa direção, como cristãos, comunistas (…) e não ousamos desviar-
nos dessa direção, porque qualquer desvio, em si, representa temor. Assim, o nosso
pensar é basicamente “habitual”, condicionado; nossa mente está funcionando dentro
de rotinas fixas, e naturalmente temos também hábitos superficiais, que procuramos
suprimir. (Idem, pág. 68-69)
(…) Se estais agora investigando, procurando descobrir se vossa mente pensa sob a
influência dos hábitos, (…) então qualquer hábito, como, por exemplo, o de fumar, terá
significação toda diferente. Isto é, se vos interessa investigar o processo do hábito,
que se acha num nível mais profundo, sabereis atender ao hábito de fumar de um
modo completamente diferente. (Idem, pág. 69)
Estando bem claro para vós, interiormente, que desejais pôr fim não só ao hábito de
fumar, mas ao inteiro processo de pensar pela rotina dos hábitos, já não lutais contra o
movimento automático de apanhar o cigarro, etc., pois sabeis que, quanto mais
combatemos um hábito, mais vitalidade lhe damos. Mas, se estais atento e bem
cônscio desse hábito, sem combatê-lo, vereis que ele desaparecerá por si, no tempo
próprio; a mente não está mais ocupada com ele. (…) (Realização sem Esforço, pág.
69)
(…) A questão não é de acabar com o hábito, porém, antes, de ver totalmente a
estrutura do hábito. Deveis observar como se formam os hábitos e como, pela rejeição
de um hábito ou pela resistência a ele, outro hábito se forma. O relevante é estardes
totalmente cônscio do hábito; porque então, como vós mesmos vereis, já não há
formação de hábitos. O resistir ao hábito, o combatê-lo, ou rejeitá-lo, só pode dar
continuidade ao hábito. (…) Mas, se ficais simplesmente cônscio de toda a estrutura
do hábito, sem resistência nenhuma, vereis então que estareis livre do hábito e que,
nessa liberdade, ocorre uma coisa nova. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 158)
Podem-se quebrar hábitos, sem se criar outro hábito? Meu problema, por certo, não se
refere à possibilidade de abandonar um hábito doloroso, ou de conservar um hábito
aprazível, mas sim à possibilidade de me tornar livre de todo o mecanismo formador
de hábitos. (…) Isto é, posso quebrar, abandonar o pensamento, o padrão que se
formou, que se criou através de séculos, sem criar um novo padrão? É isso o que, em
geral, gostamos de fazer. (…) Se sou hinduísta, quebro esse padrão e me torno
comunista. (…) (Poder e Realização, pág. 73)
(…) Por conseguinte, para eu poder ser livre de todos os padrões, torna-se necessária
uma revolta isenta de qualquer incentivo e de qualquer idéia nova. Tal revolta é
criadora; esse estado é o “estado de criação”, é o estado puro, não adulterado, não
corrompido; porque, aí, não há (…) esperança, (…) oposição, sujeição a nenhum
padrão. (Idem, pág. 75)
A formação da idéia a que a mente se apega, a adesão a uma crença, um hábito, um
prazer - tudo isso cria, (…) forma o molde em que a mente se aprisiona. (…) O
pensamento é o criador do padrão; o pensamento é sempre condicionado; (…) porque
o que penso é resultado do meu acervo mental, e todo pensar é reação a esse fundo.
A questão, pois, não é de saber “como libertar-me de um padrão ou hábito de
pensamento”, mas, sim, “se a mente pode ficar livre da criação de idéias.” (…) Só
então há possibilidade de quebrar o padrão e ficar inteiramente livre de todos os
padrões. (Poder e Realização, pág. 75)
Em geral, não estamos nada cônscios de nossos hábitos e, por isso, eles se tornaram
inconscientes. No momento em que vos tornais cônscio de um hábito, vós o
“arrancastes” do inconsciente (…) Mas, no momento em que me torno plenamente
cônscio desse hábito e não lhe resisto, mas me limito a observá-lo, então foi ele
“arrancado” do inconsciente. (O Homem e seus Desejos em Conflito, lª ed., pág. 162-
163)
Ora, é porque quase todos os nossos hábitos são inconscientes, que nós não os
despedaçamos, não os “dinamitamos”. (…) A questão, pois, é de como estarmos
cônscios, plenamente cônscios de todos os hábitos “animalescos”. (Idem, pág. 163)
Forma Positiva, Negativa, de Pensar; Negação
Global
Enviado por ick em seg, 18/08/2008 - 16:36
Deveis ter notado que o intelecto está constantemente muito ativo, constantemente
reagindo; o intelecto tem de reagir, senão morre. E, no seu reagir, ele cria “processos”
positivos a que chama “pensar”; e todos esses processos são defensivos, mecânicos.
(…) (O Passo Decisivo, pág. 173)
Quando há atenção completa, nunca considerais coisa alguma com distração. (…) É
no movimento positivo da mente que existe a distração, a fragmentação; mas quando
a mente nenhum movimento tem e, por conseguinte, é negativa (…) a vida não se
fragmenta. (…) Mas só se pode compreender essa totalidade quando cessa todo
movimento positivo da mente. (A Mente sem Medo, pág. 73)
(…) Assim como amor não é o oposto de ódio, assim também esse “negativo” não é o
oposto de “positivo”, que é exame, análise, esforço para alterar o padrão existente ou
para ajustar-se a um padrão diferente. Tudo isso consideramos “positivo”; e o
“negativo” de que falamos não é o oposto disso. Não é, tampouco, uma síntese.
Síntese implica reunião dos opostos, mas isso produz novo conjunto de opostos. O
“negativo” de que falamos é a total rejeição dos opostos. (…) e só nesse estado de
negação a mente pode ser “inocente”. Essa é a mente verdadeiramente religiosa. (…)
(O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 93-94)
Estamos, pois, conscientes desse processo positivo (…) Percebemos esse fato
distintamente (…); e começamos, assim, a compreender a beleza do movimento
negativo - o movimento negativo da mente, que não é o oposto de positivo, porém se
torna existente quando a mente compreendeu o significado do movimento positivo. (A
Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 71)
Nossa mente, pois, já não está presa ao movimento positivo e se acha, por
conseguinte, num estado de negação. Isto é, percebendo - não fragmentariamente,
porém completamente - o significado do movimento positivo, a mente já não está
agindo, atuando; por conseguinte, encontra-se num estado que se pode denominar
“negativo” (…) (Idem, pág. 71)
Que é “negativo” e que é “positivo”? (…) Ser guiado parece positivo, construtivo, e,
aos que foram condicionados para seguir, a verdade de que seguir é uma coisa má,
parece negativa, destrutiva. A verdade é a negação do falso e não do oposto do falso.
A verdade é de todo diferente do “positivo” e do “negativo”, e a mente que pensa em
termos de opostos nunca será capaz de percebê-la. (Reflexões sobre a Vida, pág.
204)
Ora, eu sinto que existe uma maneira negativa de proceder, a qual não é reação, nem
o oposto do método positivo. (…) Para mim, tal maneira de proceder (formas de fuga)
não nos ajuda a libertar-nos do conflito. E eu acho que existe uma maneira que não é
a maneira positiva, (…) porém, antes, um processo negativo de compreensão, e não
de reação. (…) (O Passo Decisivo, pág. 71)
O exame dessa questão requer não só o ato de escutar, mas também o ato de
perceber, de ver. (…) Para ver uma coisa mui claramente, ver uma rosa, uma árvore
ou seus problemas pessoais, a pessoa deve olhar negativamente. “Olhar
negativamente” uma coisa significa olhá-la sem permitir que seja deformada pelo
preconceito, pela opinião, a experiência, o saber - pois tudo isso impede-nos o olhar.
(Encontro com o Eterno, pág. 36)
A capacidade de ver o todo deriva do ato de negar. Este não é o oposto do pensar
positivo, visto que todo oposto contém o seu contrário. Portanto, o ato de negar não
admite oposto. Ao negar, o cérebro torna-se apto a perceber o todo e cessa de
interferir, com suas condenações e resistências (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 103)
Mas, como é importante negar; negar sem desejar recompensa, negar sem alimentar
a amargura e a esperança, nascidas da experiência e do saber. Negar é ficar só, sem
ocupar-se com o amanhã. Da destruidora revolta surge a inocência do ser. É
fundamental ficarmos sós, livres de qualquer padrão, (…) método, (…) experiência,
único meio capaz de libertar a consciência do jugo do tempo. Nesse estado, se
eliminam, pela compreensão, todas as formas de influência, fazendo-se cessar o
movimento temporal do pensamento. A negação do tempo é a essência da eternidade.
(Diário de Krishnamurti, pág. 67)
Assim, que se deve fazer? Dissemos que a reação do “velho cérebro” é imitativa, que
nada do que ele faz constitui solução. E a essa reação do passado é que chamamos
de atividade positiva da vida - a qual só gera mais confusão e mais conflito. (…) Em
conseqüência, toda ação positiva tem de cessar de todo; isso significa que o velho
cérebro tem de ficar num estado completamente negativo, quer dizer, completamente
quieto. (…) O velho cérebro só pode quietar-se observando suas atividades à luz de
seu próprio percebimento. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 49)
Após investigar (…) Ora, quando a mente se acha num estado de completa negação,
podeis abeirar-vos de todos os vossos problemas de maneira nova, e ver que podem
ser resolvidos total e completamente; porque foi a própria mente que esteve criando o
problema. Esteve tratando de cada problema separadamente, fragmentariamente (…)
Mas, quando a mente está toda quieta, negativamente vigilante, não tem problemas de
espécie alguma. (O Descobrimento do Amor, pág. 135-136)
E o novo só pode surgir da negação e não da asserção positiva do que foi. E só pode
tornar-se existente o novo quando há aquele vazio total, que é o amor real.
Descobrireis então, por vós, mesmo, o que é ação isenta de conflito (…); essa é a
renovação de que a mente necessita. Só quando a mente se tiver renovado por meio
do amor, o qual é a total negação (isenta de sentimentalismo, devoção ou obediência)
da maneira de vida ditada pelo pensamento positivo, só então poderá ela construir um
novo mundo, um novo estado de relação. E só então estará capacitada para
ultrapassar todas as limitações e ingressar numa dimensão totalmente diferente.
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 152)
Estar cônscio de uma coisa negativamente - como, por exemplo, o agitar-se daquela
cortina ou o murmúrio daquele ribeiro - é olhá-la e escutá-la sem resistência, sem
condenação, sem rejeição. Do mesmo modo, é possível ficarmos cônscio, “sem
escolha”, da totalidade do inconsciente - e esse é o percebimento negativo. Mas esse
estado de negação não é o oposto do “positivo”; nada tem que ver com o positivo,
porquanto não é uma reação. (Idem, pág. 131)
É devastadora a negação; ela não mede conseqüências, nem exprime uma reação,
não sendo, assim, o oposto da afirmação. Asseverar, no sentido positivo ou negativo,
ainda é reação, que não significa negar. Na contestação não há escolha e, portanto,
ela não surge do conflito. A libertação do conhecido decorre da completa negação do
pensamento, da idéia e da palavra. Nasce o amor da total recusa à sentimentalidade e
à emoção. O amor transcende o pensamento e o sentimento. (O Diário de
Krishnamurti, pág. 68)
Nossa mente está condicionada pela moderna educação, pela sociedade, pela
religião, pelos conhecimentos e pelas inúmeras experiências que temos acumulado;
foi moldada não só pelo ambiente, mas também pelas nossas reações a esse
ambiente e a várias formas de relação. (Visão da Realidade, pág. 140)
(…) Se uma pessoa está cônscia, por pouco que seja, do seu próprio pensar, poderá
ver que a mente condicionada, por mais esforços que faça, só poderá modificar-se
dentro do seu próprio condicionamento, e tal modificação, evidentemente, não é
revolução. (…) Todo desafio é necessariamente novo e, enquanto a mente está
condicionada, só corresponde ao desafio em conformidade com o seu
condicionamento; dessa maneira, nunca pode haver uma reação adequada. (Idem,
pág. 140)
Pois bem. Todos sabemos que há atualmente uma grave crise no mundo - pobreza
inaudita e constante ameaça de guerra. (…) Nosso pensar é obviamente
condicionado; sempre reagimos a qualquer desafio como hinduístas, maometanos,
comunistas, socialistas, cristãos, etc., e tal reação é, fundamentalmente, inadequada;
daí vem o conflito, não só individual, mas também entre grupos, raças e nações. (…)
(Idem, pág. 140-141)
(…) Os entes humanos estão condicionados; seus padrões de conduta, seus pontos
de vista, suas atividades, sua agressividade, seus contraditórios estados mentais -
ódio e amor, prazer e dor, desespero e esperança - a batalha constante (…) no campo
da consciência, a invenção de deuses, crenças, seitas - tudo isso é produto da mente
condicionada. Nossas nacionalidades, as divisões entre pessoas, raças, etc., tudo isso
é resultado da educação que recebemos e da influência da sociedade. (…) (A
Libertação dos Condicionamentos, pág. 38)
Nós como seres humanos vivemos nesta bela terra, que está sendo aos poucos
destruída, (…) - não indiana, não britânica ou americana - temos de viver
inteligentemente, com felicidade; mas isso aparentemente não é possível, porque
estamos condicionados. Esse condicionamento é como um computador; estamos
programados. Estamos programados para ser hindus, muçulmanos, cristãos, católicos,
protestantes. (…)
(…) Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do que é velho? É só
pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. Assim, pois, para
descobrir o novo, o eterno (…), necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta,
(…) que não vise a um resultado (…) não interessada em “vir-a-ser”. (…) (O Que te
fará Feliz, pág. 129)
A palavra “apegar-se” significa pegar, agarrar, ter a sensação de que você pertence a
alguém e de que alguém pertence a você. Cultivar o desapego dá origem à falta de
afeição, à frieza, (…) desenvolve o sentimento oposto (…) O desapego é um não-fato,
enquanto o apego é um fato. (…) Quando há apego, cultivar o desapego e um
movimento rumo à ilusão e você se torna frio, duro (…) (Perguntas e Respostas, pág.
120)
Você pode estar apegado a uma experiência, a um incidente, uma grande sensação
de orgulho, (…) de poder, (…), de segurança (…) Se você percebe tudo isso, sem que
ninguém lho diga, sem nenhum motivo, (…) então você verá que o insight revela a
coisa toda como num mapa. Havendo esse insight, a coisa desaparece
completamente e você não está mais apegado. (Idem, pág. 121)
Por que somos tão apegados a alguma coisa, nossos haveres, pessoas, idéias,
crenças? (…) Não há um sentimento de temor, se não estamos apegados a alguma
coisa? Se não estou apegado a meu amigo, a uma idéia, uma experiência, um filho,
irmão, mãe, esposa morta? (…) (Transformação Fundamental, pág. 14-15)
Vede, (…) eu sou apegado; meu apego resulta de temor, de variadas formas de
solidão, de vazio, etc. (…) Quando a mente está assim vigilante, cônscia, pode então
perceber o inteiro significado do apego. Mas, não se pode discernir todo o significado
interior do apego, se há qualquer forma de condenação, comparação, julgamento,
avaliação. (Idem, pág. 15)
(…) O sexo, a bebida, a fama, a idolatria, com toda a sua complexidade; o desejo de
autopreenchimento seguido da inevitável ambição e frustração; busca de Deus, da
imortalidade. Todas essas formas de íntimas exigências geram o apego, que é a
origem do medo, do sofrimento e da dor da solidão. (…) (Diário de Krishnamurti, pág.
65)
É possível liberta-se do “eu”? (…) Em outras palavras: é possível ser totalmente livre
de apegos - o que é um dos atributos, uma das qualidades do “eu”? As pessoas são
apegadas à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. (…) Se
você quer realmente libertar-se do “eu”; isso significa ausência de laços; o que não
quer dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível (…) (Perguntas e
Respostas, pág. 11)
Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não
só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade
do “eu” que está causando males e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais
como em nossa existência como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo
isso se compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (…) (Claridade na
Ação, pág. 46)
São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é afirmação do “eu”, tal como o
é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar o indivíduo uma muralha ao redor de
si mesmo (…) Uma mente oprimida pela acumulação é incapaz de acompanhar o
célere movimento da vida, incapaz de uma vigilância profunda e flexível. (O Egoísmo e
o Problema da Paz, pág. 249-250)
O “eu” que busca a prosperidade, riqueza, posição, prazer, o “eu” que está sempre
evitando a dor, que se esforça (…) para aumentar, vir-a-ser - essa entidade não é
mais do que uma idéia, um desejo que se identificou com dada forma de pensamento.
(…) (Percepção Criadora, pág. 117)
Permiti-me (…) Não é certo que, por muitas de nossas ações, estimulamos, de
maneira positiva, a expansão do “ego”? Nossa tradição, nossa educação, nosso
condicionamento social, tudo isso sustenta (…) as atividades do “ego”. Essa atividade
positiva pode assumir forma negativa: não ser coisa alguma. Nossa atuação é, pois,
sempre uma atividade positiva ou negativa do “ego”. (…) (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 188)
O ansiar não é a raiz do “ego”? Como pode o pensamento, que se tornou o veículo da
expansão pessoal, agir sem alimentar o “ego”, a causa do conflito e da dor? (…)
Nutrimos o “ego” por muitas maneiras e, (…) devemos compreender o seu significado.
(…) Servimo-nos da religião e da filosofia como instrumentos da expansão do “ego”;
nossa estrutura social está baseada no engrandecimento do “ego” (…) (Idem, pág.
189-190)
Nessas condições, essa atividade expansiva do “ego”, essa inteligência, por mais
atenta, por mais capaz e diligente que seja, não pode ultrapassar a própria escuridão e
alcançar a Realidade. Essa inteligência não pode, em tempo algum, resolver os seus
conflitos e tribulações, porquanto estes resultam da atividade dela própria. É incapaz
essa inteligência de descobrir a Verdade (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
259)
O que é conhecido não é o Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante
busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego”
busca, por força de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela
afirmação. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 264)
(…) Você diz que o instrumento se aperfeiçoa por meio do pensamento. Para mim o
enfoque tradicional de aperfeiçoar o instrumento pelo ato de pensar e assim ir mais
além do pensamento, e o ato de cultivar a inteligência e ir mais além do tempo, tudo
isso continua na área do pensamento. (…) Portanto, nesse mesmo pensamento está o
pensador. (…) (Tradición y Revolución, pág. 36)
(…) Se aprendo com o fim de adquirir conhecimentos com base nos quais vou atuar,
essa ação se torna mecânica. Porém, quando aprendo sem acumular - o que significa
perceber, escutar sem adquirir - a mente está sempre vazia (…) (Tradición y
Revolución, pág. 48)
Pode a mente vazia estar alguma vez condicionada, e, se é assim, por que se
condiciona? Uma mente que na verdade está escutando, pode alguma vez ser
condicionada? Sempre está aprendendo, sempre se acha em movimento. (…) Esse
movimento não pode ter um começo e um fim. É algo vivo, jamais condicionado. Uma
mente que adquire conhecimento para funcionar é uma mente condicionada por seu
próprio conhecimento. (Idem, pág. 48)
E o que nós dizemos é por completo diferente; dizemos que esse condicionamento
pode ser totalmente erradicado para que o homem seja livre. (…) Vamos ver se esse
condicionamento - que está tão profundamente enraizado nos esconderijos da mente,
e que também está ativo na superfície - pode ser compreendido de tal modo que o
homem se liberte de toda dor e ansiedade. (La Llama de la Atención, pág. 82)