Natal/RN
2010
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
Reitoria
Sâmela Soraya Gomes de Oliveira
I. Silva, José Romerito. II. Sá, Edna Maria Rangel. III. Silva,
Celia Maria Barbosa de Medeiros.
Natal/RN
2010
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS
Organização
Luciana Lopes Xavier
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Ilustração do Mascote
Lucio Masaaki Matsuno
Coordenação de Editoração
Charlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira
Coordenação Pedagógica
Margarete Lazzaris Kleis
Ilustrações
Alexandre Beck
Diagramação
Leniza Wallbach e Silva
CONHECENDO O AUTOR
SÍLVIO LUÍS DA SILVA
Olá! Meu nome é Sílvio Luís da Silva, um dos autores deste livro-texto.
Como estaremos “juntos” nesta jornada, gostaria de me apresentar. Sou
bacharel em Letras – Português e Inglês, pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) e licenciado em Português e Inglês pela Faculdade de
Educação (FE), ambas da Universidade de São Paulo (USP). Estudei sobre o Campo
da Comunicação e as Teorias do Discurso na Escola de Comunicação e Artes
da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e sou mestre em Língua Portuguesa,
Leitura e Redação, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP). Fui professor substituto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atualmente, sou professor da graduação na Universidade Potiguar
(UnP) e coordeno a pós-graduação em Língua Inglesa da mesma instituição.
Como vai? Sou José Romerito Silva, também autor deste livro-texto.
Assim, gostaria de me apresentar a você. Sou licenciado em Letras pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), desde 1981, e em
Pedagogia pela UFRN, desde 1990. Sou mestre em Estudos da Linguagem,
área de concentração Linguística Aplicada, pelo Programa de Pós-graduação
em Estudos da Linguagem (PPgEL), do curso de Letras da UFRN (2000), doutor
em Estudos da Linguagem – Linguística Aplicada, pelo PPgEL (2008), professor
adjunto da UFRN, onde leciono na Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) e no
PPgEL, e membro do Grupo de Pesquisa Discurso & Gramática, do PPgEL, no
qual desenvolvo pesquisas na linha teórica da Linguística Cognitivo-funcional.
Meu nome é Edna Maria Rangel de Sá. Sou formada em Letras pela
UFRN, mestre em Literatura Comparada e doutora em Educação, pela UFRN.
Trabalhei doze anos como professora da UnP, atuando nos cursos de Letras,
Pedagogia, Medicina, Engenharia Civil, Arquitetura, Psicologia e Nutrição. Fui
diretora adjunta do Curso de Letras, e tenho 33 anos de experiência como
docente. Atualmente, sou professora adjunta da UFRN, na Escola de Ciências
e Tecnologia, onde trabalho com Práticas de Leitura e Escrita (PLE).
Olá! É um prazer estar com você nesta jornada! Meu nome é Célia
Maria Medeiros Barbosa da Silva. Sou graduada em Letras com habilitação
em Português e Inglês e respectivas literaturas pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, desde 1986, mestre em Letras pela UFRN (2002) e
doutora em Letras pela UFRN (2010). Trabalho como professora do Curso de
Letras da Universidade Potiguar, onde, atualmente, exerço também a função
de diretora do curso. Tenho experiência na área de Língua Portuguesa,
Linguística, Linguística Aplicada, Ensino e Aprendizagem de Língua Materna
e Estrangeira, Políticas Públicas para o Ensino de Línguas e Livro Didático.
CONHECENDO A DISCIPLINA
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
PLANO DE ENSINO
CURSO: NEaD - DISCIPLINAS DE GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
PROF. AUTOR: SILVIO LUIS DA SILVA, JOSÉ ROMERITO SILVA, EDNA MARIA
RANGEL DE SÁ GOMES e CÉLIA MARIA MEDEIROS BARBOSA DA SILVA
MODALIDADE: A DISTÂNCIA
2 EMENTA
Leitura e produção de texto. Relações de significação e construção de
sentido. Os gêneros textuais e a interação entre autor, texto e leitor. A
textualidade e suas relações com o processo de construção discursiva.
3 OBJETIVOS
4 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
5 VALORES E ATITUDES
6 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
UNIDADE I UNIDADE II
8 ATIVIDADES DISCENTES
• Pontualidade e assiduidade na entrega das atividades propostas no material
didático impresso (livro-texto) e solicitadas pelo tutor, no Ambiente Virtual de
Aprendizagem.
9 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação ocorrerá em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem
considerando:
10 BIBLIOGRAFIA
SUMÁRIO
1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 13
1.2 Conhecendo a teoria..................................................................................................... 14
1.2.1 As concepções de linguagem ......................................................................... 15
1.2.2 O que é, então, a língua? ................................................................................... 19
1.2.3 Gramática................................................................................................................ 25
1.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 27
1.4 Para saber mais ............................................................................................................... 30
1.5 Relembrando ................................................................................................................... 30
1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 31
Onde encontrar ...................................................................................................................... 33
Referências ....................................................................................................................203
CAPÍTULO 1
DESMISTIFICANDO LINGUAGEM,
LÍNGUA E GRAMÁTICA
1.1 Contextualizando
Você lembra quando estudou na escola os conceitos de língua e
gramática? Bem, neste capítulo você verificará que tanto a língua como a
gramática são vistas no ensino regular de forma um tanto equivocada.
Diante disso, estamos certos de que você já percebeu que não falamos
sempre do mesmo modo em todas as situações. Em casa, no contato com
nossa família, e também na rua, com os amigos mais íntimos, não estamos
preocupados se vamos seguir ou não a gramática normativa. Simplesmente
falamos e nos comunicamos, pronto. Mas, se vamos fazer uma entrevista de
emprego, se vamos falar com alguém que acreditamos ser mais importante
ou ter mais conhecimentos do que nós, fazemos o quê? Buscamos as palavras
mais “chiques”, escolhemos formas mais densas para nos expressar, e até nossa
postura muda.
Pois bem, isso significa que, embora todos nós, brasileiros, falemos a
mesma língua, ela não é igual, não apresenta sempre as mesmas características
nos vários contextos sociais em que somos inseridos, e há contextos específicos
em que nos tornamos, conscientemente, sujeitos a obedecer a uma determinada
regra e em outros, não.
Por isso, este capítulo torna-se tão relevante para sua formação, pois
compreender as implicações da linguagem, da língua e da gramática na
comunicação é importante para que você seja mais bem compreendido pelos
outros, se expresse como quer e atinja seus objetivos.
Linguagem
Língua
Gramática
BIOGRAFIA
Ferdinand de Saussure (1857-1913) nasceu em
Genebra, na Suíça, e estudou Física e Química
em Leipzig, ao mesmo tempo em que estudava
Linguística com cursos de gramática grega e latina.
Ingressou na Sociedade Linguística de Paris e,
ainda como estudante, publicou, em 1879, aos 21
anos, um estudo sobre o sistema das vogais indo-
europeias. Em 1906, começou a lecionar Linguística
Geral na universidade de Genebra. Passou, então, a
realizar conferências que apresentaram conceitos que mudaram a forma
de os estudiosos verem a Linguística. O livro que reúne seu pensamento,
Curso de Linguística Geral, porém, foi publicado após sua morte, a partir
das anotações de dois de seus alunos, Charles Bally e Albert Séchehaye.
Esse livro é considerado um marco nos estudos linguísticos.
Podemos dizer, então, que não é difícil de entender também que a língua,
nessa proposta, é estudada apenas em seus aspectos internos (isto é,
estruturais), desvinculada do uso, o que significa dizer que não se leva
em conta o contexto sociodiscursivo da produção textual. Além disso,
ignoram-se as características dos interlocutores (idade, sexo, posição
social), a situação enunciativa (uma entrevista, um professor em sala de
aula, um diálogo com parentes ou colegas) e as determinações que cada
uma das situações impõe aos usuários.
REFLEXÃO
Isso nos leva a concluir que a linguagem, de acordo com essa perspectiva,
não independe dos usuários nem do contexto de interação. Ao contrário, ela
mantém relação intrínseca com o uso, e é moldada conforme as condições de
produção do discurso.
TEXTO 1
Maria Gulora
Fonte: CARVALHO, G. P. poeta pássaro do Assaré. Fortaleza: Omni Ed. Associados Ltda, 2002. p. 42.
DESAFIO
a) Pelos aspectos linguísticos do texto, em qual
das teorias que vimos você acredita que o
autor se baseou para escrever o texto?
b) Ainda pelos aspectos linguísticos, como você
descreveria o autor?
c) Quais elementos do texto contribuíram para
você identificar o autor?
d) Reescreva o trecho do poema seguindo as
regras da gramática normativa.
CONCEITO
Um signo é a união de um componente de
expressão (falado, escrito, gestual, audiovisual
etc.) com um conceito (ou significado). Contudo,
sua significação não é dada em si mesmo, mas
depende de quem o utiliza, da situação e da
finalidade. Assim, o signo é contextualmente
(sociocultural e historicamente) determinado.
• Signos orais: são aqueles realizados pela fala (ou língua falada).
Exemplos disso são as conversas informais (face a face ou ao telefone),
as conferências, as aulas expositivas, as transmissões de rádio etc. Veja os
exemplos que se seguem:
Saul Godilho ESMTG
• Signos escritos: são aqueles expressos por meio de caracteres gráficos (ou
língua escrita). Como exemplos deles, temos os livros, os jornais, as revistas,
as correspondências, dentre outros. Observe os seguintes exemplos:
Beck
Figura 9 - Cartaz
Fonte: <www.greenpeace.org>.
PRATICANDO
1.2.3 Gramática
Uma das primeiras coisas que precisamos saber é que aquela gramática que
vemos na escola se chama Gramática Normativa, e não é a única existente. Na verdade,
há várias gramáticas além dessa, como a descritiva, a internalizada, a implícita, a
explícita, a reflexiva, a contrastiva ou transferencial, a geral, a universal, a histórica e
a comparada. Por certo, não vamos aqui nos alongar em todas elas, apenas nas três
mais importantes, para que possamos entender as gramáticas que nos ajudam a usar
a língua adequadamente: a Normativa, a Descritiva e a Internalizada.
Pois bem, entendemos que a gramática que tanto nos assustava nada
mais é do que a sistematização do uso da língua em suas mais variadas situações
enunciativas ou ocorrências em estado normal de comunicação. Podemos
entender, a partir disso, que existe uma gramática que rege as comunicações
familiares, outra que rege as comunicações empresariais, outra que rege as
cartas comerciais e assim por diante. A gramática, então, não é nossa inimiga,
ao contrário, é com ela que nos fazemos entender.
REFLEXÃO
d) Para sua sorte, a entrevista é hoje. Você se arruma, sai, chega à recepção
da empresa e o chefe de recursos humanos da empresa lhe atende.
Como é seu comportamento linguístico nessa situação? Quais aspectos
não-verbais você põe em prática para conseguir a vaga?
e) Para sua sorte, você conseguiu a vaga! Pronto, você vai começar a trabalhar na
quarta-feira! Você está tão feliz, e não vê a hora de chegar a sua casa e contar
para todo mundo. No caminho, encontra um velho colega, aquele amigão
do peito. Como você conta para ele essa sua segunda-feira maravilhosa?
Quais são os recursos que você usa para expressar sua felicidade?
linguagem mais próxima de o que vimos até aqui como Gramática Normativa,
porque ela estabelece o que é a:
Quando eu chegar para fazer a entrevista, vou ter de mostrar que eu sei
me comunicar bem, então, meu comportamento linguístico vai ser parecido com
o que usei ao telefone. Como a situação agora é face a face, emposto minha
voz para oferecer segurança ao que eu falo e me aproximo da linguagem culta,
emprego as regras da gramática normativa sem exageros, mas sempre tentando
manter as coisas mais importantes, como a concordância. Afinal, eu estou usando
a língua como “uma ação orientada para uma finalidade específica [...] que se
realiza nas práticas sociais existentes” (BRASIL, 1998, p.20). A prática social é a
entrevista, e meu objetivo específico é conseguir o emprego.
1.5 Relembrando
Onde encontrar
2.1 Contextualizando
Você deve ter percebido, no capítulo anterior, que há alguns mitos a
respeito do funcionamento da língua e de algumas coisas que aprendemos, as
quais são, na verdade, formas de se entender o processo de comunicação. Já
percebemos que não há apenas uma forma de se compreender a gramática e
que a Gramática Normativa é apenas uma dessas formas.
Já imaginou como você se sentiria? Não teria vergonha de ter-lhe dito “Cê”?
Você não acha que seu amigo é esnobe demais? Quem estava mais adequado
ao se expressar nessa situação? Você, que se mostrou próximo, descontraído,
camarada, ou seu amigo, que se pautou pela Gramática Normativa para se
comunicar consigo em uma situação extremamente informal?
Neste capítulo, vamos descobrir que os iguais não são tão iguais assim
e que, para se comunicar corretamente, oralidade e escrita, embora possam
se imiscuir uma na outra de vez em quando, não são comutáveis sem critérios
específicos. Assim, não se pode usar uma em lugar de outra, sem que isso seja
um procedimento realizado sob critérios que atendam a um propósito. Ao
final desta etapa, você será capaz de:
Como vimos, língua falada não é língua escrita. Ambas têm funções
sociais distintas e podem ser entendidas como duas formas específicas de
se utilizar a língua. Cada qual, então, deve ter suas características. Vejamos,
agora, como ambas são entendidas e estudadas.
Nosso alfabeto, o romano, tem suas origens por volta do século VII a.C.,
quando Roma se valia de 21 símbolos dos 26 símbolos etruscos e escrevia
da direita para a esquerda. Só algum tempo depois se passou a escrever da
esquerda para a direita e, na Roma Antiga, as letras Y e Z passaram a fazer
parte do sistema de escrita para representar sons gregos. Porém, a abstração
alfabética, ou seja, a representação de um som por uma letra, como hoje
fazemos, é atribuída aos fenícios, por volta de 1000 a.C., e sua popularização
se deu em razão de que esse povo, o fenício, era comerciante e navegador,
o que facilitou que seu sistema de representação escrita ganhasse o mundo e
influenciasse o idioma hebraico, o copta, o árabe, o grego e o latim.
Mesmo nos dias atuais, sabemos que a forma mais comum de o ser
humano externar seus pensamentos e suas concepções de mundo é por meio
da oralidade, pois conversamos muito mais do que escrevemos, aprendemos a
falar antes de aprender a escrever etc. Por isso a comunicação oral é o maior
veículo de comunicação entre os homens, mesmo que a comunicação escrita
receba reconhecimento maior entre os povos.
REFLEXÃO
CONCEITO
A oralidade seria “uma prática social interativa
para fins comunicativos que se apresenta sob
várias formas ou gêneros textuais fundados na
realidade sonora: ela vai desde uma realização
mais informal a mais formal nos vários contextos
de uso” (MARCUSCHI, 2001, p.21).
SAIBA QUE
Oralidade não é a mesma coisa que linguagem
verbal, que foi vista no primeiro capítulo,
mas traços e características de textos orais,
falados. Os textos escritos podem ser dotados
de oralidade e, também, os textos orais podem
ter algumas características da escrita. Quanto
mais formal for uma situação, mais aspectos da
escrita ela conterá, e vice-versa.
PRATICANDO
Discuta com um amigo os problemas da fome no
Brasil. Anote as observações de seu amigo e as
suas a respeito do tema. Em seguida, escreva um
texto jornalístico, uma reportagem, a respeito
disso. Observe as diferenças que ocorreram em
ambas as situações.
Lucas Ribeiro
SAIBA QUE
Gênero Textual é um termo que designa o jeito
com que se usam as palavras em um texto falado
ou escrito. Assim, são exemplos de gêneros
escritos a carta comercial, o artigo de opinião,
a receita, a notícia etc., e de gêneros orais o
diálogo, a entrevista, o debate, a aula etc. Eles
são assim definidos porque têm características
específicas que os diferem dos outros.
Vimos que Platão achava melhor o discurso oral do que o escrito, pelo
fato de o escrito poder ser lido por outras pessoas, inclusive, pessoas que o
autor do texto nunca vira na vida, o que acabaria por tirar o direcionamento
do texto. Entretanto, é essa a função principal da escrita, é esse o motivo
pelo qual ela foi criada. Por meio da escrita, a humanidade pode perpetuar
conhecimento, pode acumular ideias e se desenvolver, como vimos no
primeiro item.
REFLEXÃO
A gente às vezes discrimina uma determinada
forma de falar. Como você costuma reagir
quando ouve expressões como: “Arrenti fumo
pra praia”; “Cheguêmu gurinha mes”; e “Que
o macho lá dexô ela, dexô ela lá na rua...”?
Você, em seu dia-a-dia, reafirma a exacerbada
importância da escrita e perpetua o preconceito
contra a oralidade?
Mas ele não é o único, muitas pessoas marcam a sua identidade pelo
modo como falam, pelas palavras que escolhem e, também, pelo tom que
usam ao falar. Quem de nós não conhece alguém que fala como alguém do
campo? Pois bem, eles falam assim porque ao falar representam toda a cultura
da comunidade.
TEXTO 1
Fonte: Carvalho, G. P. poeta pássaro do Assaré. Fortaleza: Omni Ed. Associados Ltda,
2002. p. 42.
Pois bem, percebemos que não existe uma briga entre o discurso oral e o
escrito. Eles se complementam e se enriquecem mutuamente e conservam suas
peculiaridades. Vejamos, a seguir, essas particularidades.
[...] há uma voz coletiva que denota fala nas produções escritas
de nossos vestibulandos, uma voz que denota seres amplamente
dominados por um senso comum moldado, em maior ou menor
proporção, pela mídia, pela família, pela própria escola.
Todo mundo sabe falar, mas nem todos sabem escrever. Aprender
a escrever é parte de um processo educacional que tem implicações
socioeconômicas, por isso, a escrita é mais restrita, afinal:
[...] todos necessitam de um modo ou de outro saber ler certas coisas, mas
o número cai enormemente quando se conta quem necessita produzir
a escrita na proporção do que lê. Muitas pessoas podem até ler jornais
todos os dias, mas escrevem muito raramente (CAGLIARI, 1989, p.102).
Quanto maior for o poder econômico de uma pessoa, mais propensa a ter
maior contato com a escrita ela será. Toda cultura, letrada ou não, vale-se da oralidade
como principal forma de comunicação, todavia, quanto mais complexa a cultura é,
mais a escrita é necessária para essa sociedade. Marcuschi (1997, p.39) diz que:
A despeito do fato de que “a escrita tem sido vista como de estrutura complexa,
formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou desestruturada,
informal, concreta e dependente do contexto” (FÁVERO, 2005, p.09), já sabemos
que a história não é bem assim. É preciso conhecer ambas melhor para se discutir a
questão com propriedade. Vejamos, então, as peculiaridades de cada uma:
a) Quanto à forma
b) Quanto ao uso
c) Quanto à produção
PRATICANDO
Em uma conversa com um colega, preste atenção
no que ele diz e, em seguida, apenas para verificar
o que dissemos aqui, peça-lhe para repetir
exatamente o que ele disse. Note que, quanto
mais longo tiver sido o texto oral de seu colega,
mais alterações ele fará ao tentar repeti-lo.
TEXTO 2
Tô Só
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e
fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo
brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival
de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com
beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque
a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida
pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os
humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas
babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no
céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas
e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser
poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais
ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.
TEXTO 3
REFLEXÃO
Como bem vimos no capítulo 1, a Gramática
Normativa foi feita para servir de guia para a
escrita formal, então, é certo, do ponto de vista
da oralidade como comunicação entre sujeitos
de determinada sociedade, que se queira
“forçar” os falantes do português a falar como
as regras e os padrões da Gramática Tradicional?
Vamos pensar juntos? Bom... primeiro, já sei que o texto escrito e o texto
falado têm suas regras e suas especificidades, por isso, não estranho meu chefe
cometer uns errinhos de gramática ao me dar uma ordem, afinal, ele está falando
comigo. Depois, ele nem fala tudo o que precisa dizer para eu entender o que
tenho de fazer. Sua fala não diz quando, nem onde será a feira. Essa informação
eu recolho do panfleto que ele me entregou. Depois, eu não posso escrever
“amanhã” no memorando, porque preciso ser claro e dar todas as informações
para meu interlocutor me entender, já que eu não vou estar presente quando
ele ler o memorando. Afinal, “cada modalidade (fala e escrita) [determina] o
contínuo das características que produzem as variações das estruturas textuais
discursivas, seleções lexicais, estilo, grau de formalidade etc.” (MARCUSCHI,
2001, p.34-35), que deverão ser utilizados nas situações de comunicações.
É por isso que também não posso dizer simplesmente que é importante
“pra gente”, preciso dizer os porquês. Também não posso deixar de dizer se
ele vai de avião, de trem ou de jegue, porque vou ter de pedir para que eles
comprem a passagem e reservem um hotel etc.
Ao final, vou ter de refazer tudo o que ele disse, nos moldes mais
formais, explicar tudo, não deixar lacuna nenhuma de interpretação e, claro,
vou caprichar no vocabulário, para mostrar que sei as diferenças e sei adequar
o texto à situação de comunicação. Além disso, quem vai assinar é o chefe... e
eu não posso perder esse emprego!
2.5 Relembrando
• a língua escrita mantém contato indireto com quem a lê, o que possibilita
a reescrita e a reelaboração das ideias, sem deixar marcas disso no texto;
TEXTO 4
O Analista de Bagé
Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão,
possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vêm
de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta.
Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o
próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando
bem, ele não poderia vir de outro lugar.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego.
Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.
— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro
ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder
tempo nem dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
— E o senhor acha...
— Eu acho uma pôca vergonha.
—Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
Fonte: VERÍSSIMO, L. F. In: Todas as Histórias do Analista de Bagé. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
a) Cartas comerciais;
b) Diálogos;
c) Entrevistas de emprego;
d) Comerciais televisivos;
e) Sentenças judiciais.
Onde encontrar
3.1 Contextualizando
Você percebeu, nas atividades que já fizemos juntos nos capítulos anteriores,
que não nos comportamos da mesma maneira em todas as situações que nos são
apresentadas cotidianamente. Lembra-se, por exemplo, de quando estávamos
procurando um emprego e, ao acordar, não achamos o jornal? Naquela situação,
praticamos nossa fala de acordo com a situação em que estávamos: em casa,
nem nos preocupamos com a forma com que falamos – afinal, somos íntimos
do povo de casa! –, mas, na hora da entrevista, bem... na hora da entrevista nós
fomos mais certinhos, falamos mais bonitinho, caprichamos, mesmo, né?
Só de ler o parágrafo anterior, você percebe que a forma com que falamos
interfere no significado do que dizemos e nos situa socialmente. Muitas das
formas com que nos comunicamos nos identificam, nos colocam em uma
posição social e nos situam em um contexto regional da produção linguística.
Não é muito comum, por exemplo, vermos um homem falar: “Oi, lindo, como
você está?”, nem uma mulher dizer: “Diga aí, macho, tudo bem?”. A escolha
lexical, a organização sintática e o sotaque, por exemplo, nos dão indícios do
sexo do falante, de sua posição social, sua idade, de onde mora etc.
Outro aspecto muito comum e que podemos elencar é a escolha das palavras
para designar as coisas. Os termos mandioca, usado no sudeste, e macaxeira,
usado no nordeste não tratam de itens diferentes. Para quem sabe bem sobre
o assunto, há, sim uma diferença, que vamos aqui explicar, apenas a título de
ilustração. A palavra mandioca designa o tubérculo usado na produção de farinha
que, em tese, não serviria para a alimentação, se fosse cozido ou frito, ao passo
que a macaxeira não serve para a produção de farinha e é usada na alimentação
cozida ou frita e como ingrediente de bolos, de salgadinhos, de nhoque etc. Esse
é um detalhe que as pessoas que não são especialistas em tubérculos não sabem.
Aliás, nem precisam saber, pois, se chegarem a um lugar e pedirem mandioca
frita ou macaxeira frita, o que querem é que venha o tubérculo comestível. Ele
virá, por certo. Como se não bastasse, o mesmo tubérculo, no Rio de Janeiro, que
faz parte da região sudeste, nem é macaxeira, nem é mandioca, é aipim.
Esses aspectos de que estamos tratando são tão incrustados nas pessoas, que
elas sequer percebem o que estão fazendo com a língua no momento em que a
usam. Observe o exemplo a seguir do uso da língua em momento de descontração:
Beck
Por isso, devemos tomar esse aspecto como base para perceber que há
características intrínsecas dos falantes, adquiridas por razões diversas como
discutimos acima. É preciso, também que entendamos que o processo de uso da
língua nos identifica como seres de determinado sexo, de determinada idade,
de determinada posição social e de determinada região.
LEMBRETE
Entendidos como uma variação ligada a
fatores psicológicos e emocionais, os graus
de formalismo adotados pelo falante são
denominados variação diafásica, também
relacionada à circunstância da fala. Esses graus
podem ser divididos em dois grandes grupos:
SAIBA QUE
O termo dialeto, mais conhecido, é um termo
mais genérico, que representa o conjunto das
variações linguísticas naturais. Assim, podemos
entender dialeto como uma palavra que se
refere às diferentes variedades linguísticas
originadas de aspectos regionais ou territoriais,
das diferenças de idade, sexo, grupo social e até
mesmo da evolução da língua.
a) Plano lexical
b) Plano fonético
c) Plano morfológico
d) Plano sintático
e) Plano semântico
seria considerado uma ofensa, pois esse termo tem conotação extremamente
negativa. Em Portugal, alguém dizer que “pegou uma tremenda bicha”, será
interpretado que “enfrentou uma fila imensa”. Aqui, no Brasil, no entanto,
esse mesmo enunciado teria uma conotação sexual, exatamente por causa do
sentido do termo “bicha” para nós, brasileiros.
Por esse motivo, não nos expressamos sempre do mesmo modo. Se, por
exemplo, conversamos com nosso(s) colega(s) no intervalo das aulas, utilizamos
palavras e expressões que, certamente, não empregaríamos, caso tivéssemos
de dar um aviso ou apresentar um trabalho acadêmico para essas mesmas
pessoas durante uma aula. Até mesmo um indivíduo com baixo nível escolar ou
sem qualquer escolaridade procura se expressar “melhor”, se estiver diante de
alguém que considera socialmente superior ou em um ambiente comunicativo
que julga exigir dele comportamento mais formal.
TEXTO 1
Nós percebemos que muitos dos termos utilizados pelo poeta são marcados
historicamente por seu uso. Hoje, uma pessoa dificilmente chamaria um avião
de “aeroplano”, por exemplo, e isso é um aspecto da história da língua.
Note que uma escolha lexical, o uso dos pronomes tu e você, e a escolha
sintática, “está fazendo” ou “estás a fazer”, caracterizam a fala e registram
a origem regional desse texto. No Brasil, o uso do infinitivo “a fazer” em
sentenças ocorre pouco, mesmo se tratando de um país continental. Já em
Portugal, o uso do gerúndio “fazendo” nessa mesma situação é igualmente
raro. Além disso, o jeito de falar é diferente, o sotaque e o ritmo do português
de Portugal não é igual ao nosso. Todos nós sabemos disso.
PRATICANDO
Observe, nas conversas que você mantém em
ambiente virtual, como o Messenger, o Twitter, o
Orkut etc., as diferenças na forma de se expressar
das pessoas. Anote pelo menos cinco delas e
compare com sua forma de dizer as mesmas coisas.
LEMBRETE
Quanto aos fatores sociais, verificamos que
a situação e o contexto de fala também
influenciam o comportamento da língua e são,
portanto, variações diastráticas, como em nossa
atividade do “Aplicando a Teoria na Prática”,
do capítulo 2, em que estávamos em nosso novo
emprego e mudamos nosso texto para atender
a uma determinada situação de comunicação.
SAIBA QUE
Um dos grandes marcos dessa variação é o uso das gírias pelos jovens, que
fazem largo uso de termos do grupo de mesma idade. Os exemplos são inúmeros,
e independem da classe social, como “Êi, boy”, “Fala, mano!”, “Tá ligado?”.
Beck
CURIOSIDADE
Quando a gíria está ligada à profissão, recebe o
nome de jargão. Os economistas, por exemplo,
têm uma linguagem própria que lhes identifica,
como o uso dos termos “participação nos lucros”,
“dividendos”, royalites, para tratar da transferência
de renda do produtor para quem financia.
Pelo exemplo anterior, percebemos que até a escolha lexical é um item que
faz a diferença na variação linguística quanto ao sexo. As palavras mais rudes
(ou chulas) são mais presentes no aparato léxico masculino do que no feminino.
Da mesma forma, o uso de diminutivo não é presente no falar masculino, mas
aparece com grande frequência na voz das mulheres, como em “Oi, bonitinho.” ou
“cheirosinho”. Já pensou no efeito que essas palavras têm no discurso masculino?
Como a gente sempre faz junto a atividade desta seção, vamos começar...
Se os outros funcionários estão tendo certo preconceito com o comportamento
linguístico do novo funcionário, isso se dá porque somos parte de um grupo, e
os grupos são identificados por sua forma de usar o idioma.
Também vou esclarecer aos colegas que o novo funcionário não fala
como fala porque quer, simplesmente, mas porque carrega em si aspectos
da comunidade de fala que o originou e, também, que ele próprio tem suas
formas de enxergar o idioma e sofre, ainda, das questões físicas, de modo que
seu sotaque, por exemplo, é o resultado de um costume de realizar este ou
aquele som de determinado jeito. Aí, para que eles entendam e saibam que
eu não estou falando achismos, mas que isso é o que dizem os estudiosos, vou
buscar referência no professor Câmara Jr., para quem:
Bem... depois de ter dito aos outros colegas que o novo funcionário não
é um alienígena, vou conversar com ele. Vou, primeiro, mostrar a ele o quanto
é interessante sermos de lugares tão diferentes e, ainda assim, conseguir
nos comunicar de maneira geral. Vou, também, perguntar se ele não acha
estranhas algumas coisas que a gente fala e ele não.
Depois que ele me responder, vou perguntar como ele diria uma
expressão nossa e perguntar como ele diz a mesma coisa. Vou, também
apontar as peculiaridades e dizer a ele que, felizmente, temos essa variação
e que, com o contato que estamos tendo, tanto eu quanto ele estamos nos
enriquecendo, porque estamos conhecendo não só novas palavras e jeitos de
dizer coisas, mas estamos entendendo como nos identificamos por meio da
manifestação de nossa língua.
3.5 Relembrando
• a língua não tem erros, mas variações, que são causadas por
fenômenos socioculturais. Essas variações não comprometem o
entendimento do texto, muito pelo contrário, pois um texto pode
ser mais bem entendido por uma pessoa ou por uma comunidade
quando é escrito ou falado segundo a variação mais comum para
o(s) interlocutor(es);
TEXTO 2
2) Das alternativas abaixo, quais você julga verdadeiras e quais seriam falsas?
Onde encontrar
4.1 Contextualizando
Depois de aprendermos a importância da linguagem utilizada pelo sujeito
na comunicação, chegou o momento de perceber as nuances dos elementos
constitutivos do texto, como objeto material da produção de sentido, e de
outros elementos, como o contexto, que dá suporte ao texto na produção
de sua significação. Ainda, vamos ver como os elementos autor/falante e
receptor/ouvinte participam da efetiva construção do sentido, da significação,
do significado de uma produção comunicativa.
Pois bem, esse é nosso cenário neste capítulo. Esse é o cenário que compõe
mais um de nossos momentos de interação, assim, eu e você produzimos
sentido, em um processo dialógico.
construção de significados, seja por parte do autor, seja por parte do leitor, aqui
entendidos como produtores que partilham de conhecimentos que possibilitam
a comunicação efetiva. Mas o discurso não é, como pode parecer em uma
análise superficial, a relação do texto com seu contexto apenas. Destaca-se,
nesse ínterim, que os estudos atuais a respeito do texto o entendem como
indissociável de seu contexto de produção, ou seja, uma produção textual é
uma produção de sentidos e, com isso:
DESAFIO
LEMBRETE
Vamos supor uma interação entre pai e filho: o sujeito que exerce o papel
social de pai pode assumir a posição do discurso tradicional autoritário ou se
posicionar discursivamente alinhado com a visão progressista mais liberal. Isso pode
se dar quanto à interação patrão-empregado, que pode ser marcada pelo discurso
capitalista ameaçador ou pelo discurso também capitalista, mas conquistador.
[...] um texto faz sentido não por sua relação com o contexto, ou em
decorrência de conhecimentos que o leitor tenha estocado ou que
rememora e coloca em funcionamento ao ler/ouvir [...] Ou seja, não
há propriamente texto, concebido como uma unidade; o que há são
linearizações concretas (materiais) de discursos (POSSENTI, 2004, p.365).
A coerência, por sua vez, diz respeito à estruturação lógica e semântica que
possibilita que o leitor/ouvinte compreenda o texto e lhe dê significado, portanto,
é o resultado das articulações das ideias que compõem o que se pretende dizer.
LEMBRETE
No capítulo 6, entraremos em maiores detalhes
quanto aos elementos de coerência e coesão,
ao tratarmos dos fatores de textualidade. Por
ora, basta-nos saber que o texto, elemento
constitutivo do discurso, vale-se de vários
recursos para construir significados.
a) A linguagem figurada
SAIBA QUE
PRATICANDO
Compare agora os sentidos atribuídos a “coração”,
na amostra textual que se segue:
Sabe o que alimenta um coração?
um sorriso
um elogio
um abraço
[...]
Alimentar bem o coração é adotar hábitos saudáveis
no seu dia-a-dia, como praticar exercícios, evitar o
stress e, principalmente, ter uma dieta balanceada.
[...]
Nestlé Omega Plus. Leites e iogurtes para o seu
coração bater feliz. (grifos nossos)
Fonte: REVISTA VEJA, s.d. (reprod.)
Mesmo que sua interpretação seja diferente, veja que, na primeira linha,
“coração” é tomado como o centro das emoções, está, portanto, em sentido
figurado (aliás, esse sentido já é tradicionalmente conhecido em nossa cultura).
Na segunda menção, essa palavra tem conceito denotativo, uma vez que está
relacionada aos cuidados que devemos ter para preservar a saúde cardíaca. Já
na terceira citação, esses significados se superpõem, podendo-se atribuir-lhe
tanto uma noção literal como metafórica.
PRATICANDO
PRATICANDO
Considere o seguinte texto:
NOKIA 3320
O mundo todo só fala nele. (grifo nosso).
Fonte: REVISTA VEJA, 2001. p.19.
Por certo, você percebeu a ambiguidade que se dá no uso de “fala
nele”, não é? Então, explicite as possíveis interpretações.
PRATICANDO
Observe os exemplos a seguir e perceba a
ambiguidade presente em cada um deles:
c) As Informações Implícitas
• Pressuposto
Você entenderá isso com mais clareza, observando o exemplo logo a seguir:
Novo Focus
[...]
O que já era um Focus ficou ainda melhor
Com o motor mais potente da categoria. (grifos nossos).
[...]
Fonte: REVISTA VEJA, 2005. p.21-23.
• Subentendido
PRATICANDO
Suponha que você está lendo, por exemplo, um enunciado como o que
segue:
Veja:
• para uma pessoa que bate à porta, soa como um convite para entrar;
• pode ser uma advertência de perigo, sugerindo que a porta deve ser
fechada;
• pode ser uma afirmação literal após constatar que determinada porta
se encontra aberta, pressupondo que estivesse fechada.
Em seguida, saiu. Você percebeu que seu colega ficou assustado, sem
saber o que fazer exatamente. Nessa situação, o que você faria?
Você já sabe que fazemos essa resolução sempre juntos. Então, vamos
lá... Se ele ficou assustado e sem saber o que fazer, a culpa não é sua, não é?
Afinal, ele não sabe de que passagem se fala, ele é novo na empresa. O chefe,
portanto, produtor do texto, não lhe ofereceu os elementos necessários para
a compreensão e, por isso, a mensagem não se consolidou.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 2.ed. São Paulo:
Ática, 1997.
4.5 Relembrando
TEXTO 1
1) O verbo “chegar” foi empregado com o mesmo sentido nas linhas 8 e 14,
respectivamente?
2) Esclareça o que se pode inferir (ou seja, quais são as informações implícitas)
nos seguintes trechos:
Onde encontrar
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 6.ed. São
Paulo: Ática, 1998.
5.1 Contextualizando
No capítulo 4, Texto e discurso: a construção de sentidos, nós discutimos
as questões que envolvem o processo de significação no discurso e entendemos
o que é um texto. No capítulo 1, Conceitos de língua e gramática, vimos que
aquilo que queremos dizer é dito (ou escrito) sob a égide de uma gama de
fatores que influenciam o modo de produzir textos. Pois bem, se nos valemos
de vários aspectos de nosso conhecimento para “pôr em palavras” o que
queremos expressar, para explicitar nossas intenções, é chegado o momento
de vermos como são organizadas as palavras que representam nossas ideias,
seja na produção escrita, seja na produção oral.
5.2.1 Frase
Fogo!
Socorro, depressa!
5.2.2 Oração
Matei a barata!
Na terceira oração, porém, temos elementos que parecem não ser exigidos
pelo verbo. A especificação “para o remédio” não está ligada às exigências
do verbo, porque o verbo “precisar” tem apenas dois argumentos, “Maria” e
“dinheiro”, nesse caso. Assim, “para o remédio” liga-se ao termo “dinheiro”,
dando-lhe especificidade, complementando a mensagem a ser passada.
SAIBA QUE
Há orações sem sujeito (impessoais), em que
o predicado é a citação simples de um fato
qualquer. Essas orações acontecem, geralmente,
com verbos que designam elementos da natureza
como chover, nevar, trovejar, relampejar etc. Na
frase “Choveu muito ontem!”, os elementos
“muito” e “ontem” não são exigências do
verbo, mas da situação comunicativa.
EXEMPLOS DE ORAÇÃO
SUJEITO PREDICADO
d) venderam a casa.
SAIBA QUE
Uma locução verbal se dá com a junção de dois
(ou mais) verbos com valor de apenas um, ou
seja, um verbo auxiliar e um verbo principal. O
primeiro exerce as funções sintáticas, ou seja,
informa quem e quando, o outro verbo tem
função semântica, ou seja, informa o quê. Na
oração “João está estudando gramática”, o
primeiro verbo, “estar”, diz quando: no presente,
atualmente, agora; diz quem: ele – o João, porque está em terceira
pessoa do singular; e o segundo verbo, “estudar”, diz o quê, ou seja,
a ação praticada por João no momento presente.
CONCEITO
Entre os tipos de enunciado, há um conhecido
pelo nome de oração que, por sua estrutura,
representa o objeto mais propício à análise
gramatical, por melhor revelar as relações que
seus componentes mantêm entre si, sem apelar
fundamentalmente para o entorno (situação
e outros elementos extralinguísticos) em que
se acha inserido. É nesse tipo de enunciado
chamado oração que se alicerça, portanto, a
gramática (BECHARA, 2004, p.407, grifo nosso).
Por fim, precisamos saber que as frases (ou orações) além da classificação
que acabamos de ver, podem ser afirmativas ou negativas. Assim, podemos ter
uma optativa negativa, como em “Quero que você não volte nunca mais!”, ou
declarativa negativa, como em “O bandido não foi preso ainda!”.
5.2.3 Período
Sabemos, porém, que há, nos textos, divisões ainda maiores do que o
período. Essas divisões maiores têm suas especificidades e são chamadas de
parágrafos. Vejamos, então, mais essa etapa da produção textual.
5.2.4 Parágrafo
TEXTO 1
É importante estar alerta para evitar parágrafos mal desenvolvidos, que dispersam
e confundem o leitor. O escritor não deve hesitar em transferir um período de um
parágrafo para outro, se a sequência de ideias se tornar mais clara; precisa lembrar
que parágrafos são blocos coerentes, unidades substanciais do texto.
CURIOSIDADE
CURIOSIDADE
São várias as formas de se classificar as
características dos parágrafos, dependendo do
autor selecionado. Porém, em geral, a classificação
não diverge muito de o que está proposto em
nosso trabalho. A título de ilustração, vejamos o
que propõe o autor Abreu (1990):
PRATICANDO
Elabore um parágrafo médio a partir do tópico
frasal “O nordeste não é só seca”. Agregue a
essa ideia central períodos que a corroborem
e esclareçam o leitor dos benefícios que se
encontram nessa região do país. Lembre-se de
apresentar uma conclusão que justifique sua
proposta e que retome dados de que você se
utilizou no desenvolvimento.
PRATICANDO
Elabore um parágrafo dissertativo a partir do
tópico frasal: “Antigamente, os nordestinos
migravam para o sudeste por causa da ilusão de
uma vida melhor”. Lembre-se de que é preciso
expor sua opinião e dar elementos ao leitor que
o convençam de que sua opinião é a correta.
Por ora, para finalizar nossa proposta inicial neste capítulo, vale lembrar
que há elementos de coerência e coesão dentro do próprio parágrafo, que
dão indícios de sua boa organização. Evidentemente, não podemos elencar
todas as formas de fazer com que um parágrafo seja construído, mas podemos
dar algumas dicas para que façamos construções mais interessantes para nosso
leitor, com os chamados marcadores ou articuladores textuais, cuja função é
tornar as ideias mais bem conectadas. Vamos, então, a essas dicas:
Há, ainda, muitos outros aspectos que poderíamos explorar para dar conta de
detalhes dos elementos formadores de parágrafos bem construídos e claros para o
leitor. Neste capítulo, fizemos algumas escolhas para oferecer elementos suficientes
para que você entendesse o processo de construção e organização dos parágrafos,
mas não se contente apenas com o que estamos expondo. Afinal, um bom
parágrafo, assim como um bom texto, precisa ser feito com muita leitura e muita
prática. Não deixe de praticar o que propusemos aqui e busque mais informações
para esse assunto tão importante para sua formação e para seu sucesso profissional.
Ele deixou apenas um bilhete, e o deixou em sua mesa. Nele não tinha
muita coisa escrita, na verdade, era apenas um curto recado que deveria ser
transformado em um texto maior, em um documento (memorando) oficial,
que deveria ser encaminhado ao departamento competente, ou seja, o
departamento de compras. No bilhete dizia: “Pedir uma mesa nova para mim”.
Por meio de uma introdução, que vai situar o leitor, que é o responsável
pela autorização da compra da mesa, mostraremos o motivo pelo qual
mandamos aquele memorando. Por se tratar de um documento que exige
leitura mais rápida, passaremos logo a seguir para o desenvolvimento, em que
daremos explicações dos porquês, com a utilização dos períodos secundários
à ideia central. Nesse momento, discorreremos sobre a importância da troca
da mesa. Alegaremos que a mesa dele está velha, corre o risco de quebrar
a qualquer momento e que não é mais funcional, porque não tem mais o
tamanho adequado. Na conclusão, no parágrafo final, faremos períodos
curtos e diretos, que reiterem o pedido e a urgência da troca.
Manual de Redação Folha de S. Paulo. São Paulo: Editora Folha de S. Paulo, 2010.
5.5 Relembrando
• os períodos podem ser simples, quando contêm apenas uma oração (ou
frase) ou compostos, quando contêm mais de uma oração (ou frase);
2) Observe os enunciados a seguir e indique quais são orações e quais são frases.
a) Consegui!
b) Corram!
c) Cuidado!
d) Suba logo, o jogo já vai começar!
e) Socorro!
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com
a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás
com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia
assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Onde encontrar
6.1 Contextualizando
Muito de o que aprendemos na escola sobre o processo de construção de
textos bem formados diz respeito a sua forma de apresentação, aos elementos
que constituem essa apresentação e, ainda, sobre o que deve e não deve ser
escrito. Esses elementos que constituem os arranjos para formar um texto
inteligível são chamados de coerência e coesão.
Articular sobre ambos, estabelecer seus limites, não é tão simples como
se pode pensar. Coerência e coesão são elementos que se completam. Há
textos coesos e incoerentes e textos coerentes e não coesos. Mas como isso de
dá, efetivamente?
Assim, a coesão é aquilo que está presente no texto, são os elementos que
lemos, como os pronomes, as conjunções, os numerais, os advérbios, os adjetivos
etc., e que fazem as relações na superfície do texto. Já, no estabelecimento
da coerência, do sentido mais amplo do texto, outros aspectos, inclusive não
materializados no texto, são importantes, porque:
Veja, por exemplo, o que foi feito no exemplo I, qual relação se estabelece
ente o Serginho e a ambulância? Simplesmente não há relação alguma, não dessa
forma como o texto foi construído. A mesma situação acontece com o exemplo II,
pois não se vê nem a retomada do sujeito “brasileiros”, não é? Além disso, o que
é “não que sendo assídua” e “estamos cansada”? O que quer dizer o excerto do
exemplo III, “atitudes coniventes aos cargos obtidos pelos órgãos competentes”? Não
conseguimos, por mais que nos esforcemos, dar um sentido para isso, não é? Pois é,
o que falta em todos esses textos são elementos da articulação superficial do texto.
DESAFIO
Você percebeu que o simples encadeamento
das formas linguísticas não garante os nexos
significativos do texto e que seu resultado não passa
de mero ajuntamento de palavras sem sentido?
É por isso, só para citar um exemplo, que, em uma aula expositiva em que
determinado tema está sendo apresentado pela primeira vez, o(a) professor(a)
tende a se alongar em suas explicações. É assim exatamente porque ele(a) parte do
pressuposto de que seus alunos têm pouca ou nenhuma noção desse novo assunto.
Isso seria diferente, caso ele soubesse que a turma já tem razoável conhecimento
acerca do assunto tratado. Nesse caso, é provável que o tempo gasto com certos
esclarecimentos fosse menor ou até mesmo que eles fossem dispensados.
TEXTO 1
– Assim?
– É assim.
– Mais depressa?
– Não. Assim está bem. Um pouco mais par...
– Assim?
– Não, espere.
– Você disse que...
– Para o lado. Para o lado!
– Querido...
– Pronto.
– Não! Continue.
– Puxa, mas você...
– Deixa ver...
– Não, não. Mais para cima.
– Aqui?
– Mais. Agora para o lado.
– Assim?
– Para a esquerda. O lado esquerdo!
– Aqui?
– Isso! Agora coça.
TEXTO 2
Chapeuzinho Amarelo
INTERAGINDO
Encontre um texto que faça intertextualidade
com outros textos e explique quais são os
elementos de coerência que influenciam a
produção dos sentidos dos textos escolhidos. Em
seguida, discuta com seus colegas no Ambiente
Virtual de Aprendizagem o que encontrou.
A coesão referencial
a) Remissão Referencial
III. Naquela noite, Maria sentiu-se retesada de dor. A moça não queria
sofrer tanto, nem precisava. A mulher que nasceria no dia seguinte
não seria assim.
DESAFIO
• Você observou que, no exemplo I, o pronome
pessoal “ela” (co-referente) e o pronome
possessivo “seu” (co-referente) retomam o
substantivo “empresa”, dito anteriormente
(referente)?
• Você pode justificar por que denominamos
isso de remissão referencial por retomada e
por que todo termo que serve para retomar
outro é chamado de anafórico?
Em alguns casos, a remissão pode ser feita por elipse, ou seja, quando
ocorre o apagamento do referente ou de parte do texto, que podem ser
facilmente recuperados pelo contexto linguístico.
I. Afinal, se o sujeito não conhece seu político e (0) não sabe como
e onde ele atua, como (0) vai fiscalizá-lo?
Fonte: PARNAMIRIM NOTÍCIAS, 2002, p.2.
II. Somos autores de boa parte de nossas escolhas e (0) omissões, (0)
audácia ou (0) acomodação, (0) nossa esperança e (0) fraternidade
ou (0) nossa desconfiança. Sobretudo, devemos resolver como
empregamos e (0) saboreamos nosso tempo, que é afinal sempre
o tempo presente.
Fonte: LUFT, L. Perdas e ganhos. Rio de Janeiro: Record, 2003, p.16.
b) (Re)Ativação Associativa
Note que o exemplo faz uso de um universo conceitual que nos é muito
familiar: o da culinária. Assim, os termos bacon, carne, legumes, extrato de
tomate, alho e folha de louro nos levam à noção de um hiperônimo: comida.
Esse universo conceitual nos permite não estranhar a utilização desses
elementos em um mesmo parágrafo, para fazer as relações de que precisamos.
Note que o vinho tinto, embora não seja originalmente dessa mesma ordem,
também é inserido, porque podemos utilizá-lo como tempero. Os outros
termos, como panela e colher, também se relacionam à ideia central, de
alimentação, mas são, nesse campo, utensílios usados. Há também o emprego
dos verbos dourar e ferver, que são especificamente do campo que norteia o
parágrafo. Até mesmo o verbo levar, acrescido de “ao forno”, nos induz ao
verbo assar e, portanto, completa o quadro que delineamos como “universo
de alimentação”, ao ler o texto.
c) Sinalização Co-textual
d) Associação Analógica
e) Repetição Enfática
Exemplos:
• Ela tem tudo para ser uma pessoa feliz, mas não sabe viver.
b) Condicionalidade
Exemplo:
c) Disjunção
Exemplo:
d) Conjunção (Adição)
Exemplo:
e) Conclusão
PRATICANDO
Que argumentos justificam o uso do conectivo
de conclusão “por isso” no exemplo a seguir?
f) Explicação ou Justificativa
Exemplo:
g) Retificação ou Redefinição
Exemplo:
h) Inclusão
Exemplo:
i) Finalidade
Exemplo:
• Pense muito bem antes de agir, para que não venha lamentar depois.
j) Comprovação
Exemplo:
k) Comparação/Hierarquização
Exemplo:
l) Focalização
Exemplo:
m) Restrição
Exemplo:
n) Causa e Consequência
Exemplo:
o) Ordenação
PRATICANDO
Indique, no texto, a função dos sequenciadores
em destaque:
p) Sintetização
Exemplo:
q) Temporalidade
Exemplo:
r) Localização
Exemplo:
No exemplo II, temos “para” (dando noção de), “nem, nem” (adição),
”mas” (contrajunção) e “no mínimo” (sintetização). Juntos, também formam
as engrenagens da cadeia semântica desse enunciado.
SAIBA QUE
Também é possível a coesão sequencial feita por
justaposição, isto é, sem o auxílio de conectivos,
os quais ficam implícitos na relação entre os
enunciados do texto, como, por exemplo, em:
Agora que nós elaboramos um texto para comprar a mesa do chefe, que
nos deixou apenas um bilhete, sem nada que subsidiasse uma proposta para
a compra, ele se acostumou com sua eficiência em redigir e deixa a seu cargo
muitas atividades textuais, inclusive, ele tem pedido para que você revise o texto
de outros colegas. Dessa vez, seu chefe mandou seu colega de trabalho redigir
um novo pedido, agora mais volumoso do que os anteriores, e quando o recebeu
em sua mesa – nova, diga-se de passagem – ficou estarrecido. Então, pediu,
claro!, para você reescrever e consertar os problemas encontrados, porque seu
chefe tem de mandá-lo para outro departamento. Então, mãos à obra:
Caro Pedro,
Aguardo resposta.
Isso sem falar na pontuação, que está mal empregada em vários lugares,
como aquela vírgula depois do “em relação”. Sabemos que não se pode
colocar vírgula após essa expressão, porque a expressão é sempre “em relação
a alguma coisa”, e esses termos todos não são separáveis.
Enfim, como o texto está com muitos problemas, teremos de ir até seu
escritor e perguntar-lhe todos esses dados, para podermos reescrevê-lo e mandá-
lo ao departamento correto. Então, vamos aproveitar nossa capacidade de
escrever e nosso conhecimento sobre construção de textos coesos e coerentes
para ensinar nosso colega. Quem sabe, assim, ele passa a fazer textos melhores
e ajuda a desafogar nosso trabalho, que já não é pouco, não é?
6.5 Relembrando
a) remissão Referencial;
b) (re)Ativação Associativa;
c) sinalização Co-textual;
d) associação Analógica;
e) repetição Enfática.
1) Leia o Texto 3, a seguir, um texto teórico sobre retomada por palavra lexical,
em que há ausência de algumas palavras, indicada por lacunas. Utilize o banco
de palavras dado e preencha as lacunas, a fim de completar seu sentido.
muitas vezes – por exemplo – pois – mas – quando – por – porque – mas – o que – ou
TEXTO 3
Voltemos agora à questão da coesão por retomada com uma palavra lexical. No
exemplo, Lia muito, toda espécie de livro. Policiais, então, nem se fala, devorava, o
termo livro é retomado por um hipônimo, policiais.
É preciso manejar com muito cuidado a repetição de termos lexicais, (h) _____, se
ela não estiver a serviço da criação de um efeito de sentido de intensificação, (i)
_____________, é considerada uma falha de estilo. À repetição de palavras prefere-se
sempre sua retomada por sinônimos, hiperônimos e hipônimos. (j) ______________, a
repetição produz belos efeitos de sentido. [...]
Fonte: FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 2.ed. São Paulo: Ática, 1997, p.373.
TEXTO 4
A questão é a seguinte: onde se deve abrir novas escolas médicas? Melhor ainda:
por que abrir novas escolas médicas? O Conselho Regional de Medicina (Cremesp)
trabalha preservando a sociedade e os médicos por meio da prática da boa medicina
e de sua fiscalização e regulamentação. Essa cobertura não deve seguir a lógica do
mercado.
Fonte: PERES, J. A. Diálogo médico, Ano 29, n.5, out. 2003, p.16.
Onde encontrar
______. O texto e a construção dos sentidos. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2001.
(Col. Caminhos da Lingüística).
7.1 Contextualizando
Depois de tudo o que temos discutido em nosso trabalho, por certo, você
já percebeu que, com o desenvolvimento das sociedades, o homem passou
a perceber a importância da comunicação para sua própria sobrevivência.
Hoje, muito mais do que antes, diante da velocidade das informações
e da universalidade dos conhecimentos, o homem precisa ter domínio,
principalmente, das formas verbais de comunicação para conquistar seu espaço
em uma sociedade que, sabe-se, está cada vez mais competitiva e seletiva.
Ora, com você ocorre isso também. Seu pensamento se exterioriza pela
linguagem, e o que você diz, a linguagem utilizada por você, se materializa a
partir de seu pensamento. De maneira bem geral, isso quer dizer que devemos
“pensar” melhor nossa linguagem e “escrever” melhor nossos pensamentos.
Falar ou escrever bem é, em grande parte, saber argumentar, ou, ainda, saber
organizar em linguagem aquilo que pensamos. Se é assim, como utilizar de
maneira eficiente e a nosso favor a linguagem em nossa produção textual?
PRATICANDO
E agora? Será que já dá para você tentar fazer
sua própria definição de texto argumentativo?
Vamos tentar? Então, com suas palavras,
escreva o que você entende que seja um texto
argumentativo.
CURIOSIDADE
Traité de l’argumentation: na nouvelle rhétorique,
de Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca foi
publicado em 1958, na França, e chegou ao Brasil
em 1996, numa tradução de Maria Ermantina
Galvão, pela Editora Martins Fontes. Ele tornou-se
um clássico da filosofia e da lógica contemporâneas,
além de marcar o retorno da retórica aos estudos
acadêmicos e colocar em pauta os dados da
argumentação como forma de persuadir e
convencer, consciente ou inconscientemente.
LEMBRETE
A partir de agora, vamos ver o que dizem os
autores sobre a argumentação, de forma bem
específica. Apresentaremos o texto original,
para que você exerça sua capacidade de
interpretar, e, em seguida, exemplificaremos
com uma atividade prática, para fazermos um
raciocínio juntos. Vamos lá?
Para este trabalho, porém, interessa mais a distinção que os autores fazem
dos tipos de argumentos retóricos. Por isso, oferecemos uma compilação das
palavras dos autores, a fim de esboçar algumas definições que, embora possam
parecer vagas em uma primeira leitura, serão oportunamente recobradas,
exemplificadas e amiúde discutidas.
Veja bem... parece que essa teoria sobre argumentação é algo que nunca
usamos, porque se trata de uma análise profunda de tudo o que dissemos, mas
em uma simples notícia, muitos desses elementos estão presentes, e pensamos
que é apenas um “retrato da realidade”. Vamos agora a nossa atividade
prática, a fim de esclarecer o que vimos? Leia o Texto 1, uma notícia sobre uma
reunião que aconteceria em 03 e 04/10/2003, em Santa Catarina:
TEXTO 1
“Os hábitos de vida dos sulistas são semelhantes aos dos europeus, que também
notificam muitos casos de câncer de mama. A ingestão de gordura, o sedentarismo
e o uso do cigarro são fatores que contribuem para o aparecimento da doença.
Outro motivo da instalação do tumor nas mamas é a falta de preocupação com os
exames, que devem ser feitos regularmente”, observa a coordenadora estadual do
Programa Viva Mulher, Deise de Carvalho Dias.
Vamos começar por uma forma de argumentar que não tratamos nos
itens anteriores, para dar essa tacada inicial em nosso trabalho em conjunto.
Perelman & Olbrechts-Tyteca também tratam de um argumento chamado de
ad humanitatem, que serve para toda a humanidade racional. Veja, então,
o slogan da campanha, utilizado junto de uma imagem para noticiar do
encontro. Observe que a imagem é, também, um elemento argumentativo,
pois expõe um seio sendo apalpado pela própria mulher, ou seja, um exemplo
de como se faz o exame de toque. A junção dessa imagem com o próprio
título, “Câncer de Mama”, torna-se consenso para toda a humanidade, pois
todos sabemos da existência da doença, da necessidade de ela ser tratada e da
forma de sua detecção, a que se faz alusão.
Já com o título, “Câncer de mama mata cerca de 300 mulheres por ano
em Santa Catarina”, estabelece-se uma argumentação também baseada na
estrutura de uma realidade, a relação de coexistência, que se dá entre a
saúde e a doença, incitada pelo número de mulheres doentes no estado. É
uma argumentação pela quantidade, que se insere na oração e estabelece
parâmetro para convencer o leitor da importância do tema. Há, ainda, uma
relação estabelecida, que nos remete ao argumento da hierarquia dupla,
porque os vínculos entre saúde e doença se estabelecem inconscientemente
na mente do leitor. A importância da saúde sobre a doença é um recurso que
fomenta a argumentação do texto, já em seu início, sem mesmo mencionar os
dois elementos da realidade que sustentam esse recurso.
Note que o primeiro parágrafo reitera o que diz o título e a imagem de apoio,
e isso se reforça com um argumento que podemos dizer tratar-se de argumento
de autoridade, a Secretaria de Estado da Saúde (SES); que será reforçado com uma
utilização genérica no segundo parágrafo, “profissionais de renome nacional”; o
que vai se efetivar com a citação do Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas
(Cepon) do Instituto Nacional do Câncer (Inca); e com o recurso do discurso direto
da coordenadora estadual do Programa Viva Mulher, Deise de Carvalho Dias. Se
não bastasse, o argumento de autoridade é tão presente, que o parágrafo final
do texto se volta para mais instituições de renome que são marcos no tratamento
do câncer: “O encontro tem o apoio da Sociedade Catarinense de Mastologia,
da Escola Brasileira de Mastologia, da Sociedade Brasileira de Cancerologia e da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica”.
Uma visão simplista nos diria que se trata apenas de uma forma de
noticiar o encontro, mas já estamos percebendo que a notícia nos leva a
crer em algo, nos tenta convencer de algo, nesse caso, de que o encontro é
importante e que devemos dele participar ou apoiá-lo. Isso, já vimos, é uma
forma elaborada de proporcionar convencimento e, portanto, argumentar.
Também não imagine que, depois dos estudos sobre o assunto, você vai
sentar diante de um computador ou folha de papel e produzir um texto pronto,
acabado, sem defeitos. Pode até ser, mas não é o que acontece na maioria
das vezes. Nós mesmos fizemos e refizemos nossos textos, até acharmos que
ele estava o mais próximo de o que desejávamos. Também contamos com a
valiosa leitura dos revisores, que perceberam detalhes ou falta de detalhes,
que nós não tínhamos percebido.
Vamos ver, por meio de mais um texto, como são utilizados os recursos
argumentativos.
TEXTO 2
Bomba Atômica
PRATICANDO
Por isso, de agora em diante, vamos fazer o percurso inverso, o que não
deixa de ser uma forma de escolha argumentativa, para dizer o que não devemos
fazer. Nesse caminho, retomaremos o que já vimos, com mais profundidade ainda.
Para isso, vamos, com base em Fiorin e Savioli (1998), elencar alguns defeitos que
podem aparecer em seu texto e que, portanto, devem ser evitados ou corrigidos.
Veja bem, não é que não possamos utilizar esses termos em nossos textos,
apenas temos de ficar atentos para que eles sejam utilizados de forma a não
deixar margem para duplo entendimento, não possibilitar a nosso interlocutor
a criação de uma ideia diferente da que tentamos transmitir. Afinal, isso pode
deixar brechas para que o interlocutor, o cara que contra-argumenta, refute
nosso texto e, consequentemente, nossas ideias.
PRATICANDO
Nos enunciados a seguir, diga que noções são
expressas pelas palavras em negrito.
• A guerra contra o tráfico de drogas precisa
ser constante e envolver toda a população.
• A guerra no Iraque é constante e envolve
toda a população.
• A guerra entre os sexos tem separado e unido
gerações inteiras de homens e mulheres.
• A liberdade feminina tem conquistado
adesões mesmo entre os homens.
• Muitos homens estão cada vez mais tímidos
diante da liberdade feminina.
• Alguns homens se sentem inseguros e
até ofendidos diante de certas liberdades
femininas.
Viu como os argumentos mal formados por essa perspectiva são falhos
e facilmente refutáveis? Qualquer dos enunciados acima pode ser posto
em questão por qualquer pessoa que tenha um mínimo de bom senso e
conhecimento de mundo para saber que, por exemplo, no nordeste nem todas
as mulheres são trabalhadoras, tampouco pobres.
INTERAGINDO
Mais uma vez, vale salientar que não estamos dizendo para você não utilizar
esses termos, apenas alertamos para que você se certifique de que os está utilizando
corretamente e de acordo com o que realmente significam. Não é possível baratear
impunemente termos que estão ligados a conceitos complexos e que passam por
PRATICANDO
Como podemos notar, a partir da situação específica de uma menina que chora
ao ser inquirida pelo professor, chega-se a uma conclusão muito mais abrangente
de que “todas as mulheres agem assim diante de todas as situações difíceis”. Além
disso, são atribuídas a esse choro específico todas as diferenças existentes entre
homens e mulheres. Com um procedimento construído dessa forma, o argumento
é facilmente refutado. Note que o erro da argumentação pelo exemplo se deu por
um defeito no emprego de noções de totalidade indeterminada, ou seja, um erro
que pode se dar por outro erro, os defeitos estão interligados.
Então, vamos começar, não é? O que deveria ser dito numa carta como
essa? Acreditamos que devemos começar por lembrar que “a palavra humana
engloba esses três registros: exprimir, informar, convencer. Ela é fruto de uma
combinação original desses três elementos no interior da qual o convencer
poderia de fato desempenhar um papel preponderante” (BRETON, 1999,
p.24). Vamos começar expressando a nossa capacidade de trabalho. Na carta,
então, vamos começar dizendo que gostaríamos de fazer parte do grupo
de comunicação. Assim, já damos o nosso foco, já estabelecemos o nosso
interesse. Isso fazemos logo no primeiro parágrafo, para que seja clara a
nossa intenção e a nossa força de decisão. Não vamos titubear numa situação
dessas, não é mesmo?
Mesmo sendo indicado para o Ensino Médio, esse livro traz algumas
orientações básicas sobre produção textual. O 8.º capítulo trata particularmente
da “montagem” do texto argumentativo.
7.5 Relembrando
• a contradição e a incompatibilidade;
• a identidade e a definição;
• a transitividade;
• a inclusão da parte no todo; e
• a divisão do todo em partes.
• o argumento do desperdício; e
• o argumento pragmático.
• como exemplo;
• como ilustração; e
• como modelo (ou antimodelo).
8.1 Contextualizando
Nosso trabalho, até este momento, nos deu subsídios para entendermos como
funcionam os aspectos do texto e sua relação com o mundo que o cerca. Falamos
sobre gramática, oralidade, escrita, discurso e a construção de sentidos, estrutura
do parágrafo e período, fatores de textualidade e das estratégias argumentativas.
Então, voltamos à estaca zero, não vamos mais “ler” esse ônibus. Depois
de uns três verdes e dois amarelos lá vem outro azul. Recomeça o processo
automatizado de leitura, pois:
Logo após a entrada, você passa da posição de leitor para autor. É isso
mesmo. Ao dizer “bom dia!” ao motorista, você entra em um processo de
autoria, com propósitos específicos, com a produção efetiva de textos etc.
PRATICANDO
Observe em seu cotidiano uma situação em que
a leitura e a produção de textos efetivamente
aconteçam. Pense nessa concepção de o que
é leitura, para compreender perfeitamente o
caminho do leitor. Observe, em seus amigos,
sua vestimenta, sua forma de agir, sua postura,
e busque uma maneira de unir a leitura não-
verbal com a verbal, para a produção de sentido.
CONCEITO
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um
trabalho ativo de compreensão e interpretação
do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor,
de tudo o que sabe sobre linguagem etc. Não se
trata de extrair informação, decodificando letra
por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma
atividade que implica estratégias de seleção,
antecipação, inferência e verificação, sem as
quais não é possível proficiência.
Fonte: BRASIL. PCNs
PCNs: 3.° e 4.° ciclos do EF: Língua Portuguesa, 1998, p.69-70. (grifo nosso).
SAIBA QUE
Há inúmeros propósitos para se realizar a
leitura: buscar informação, atualizar-se das
ocorrências do mundo, divertir-se, fazer um
bolo, enfim, para quase tudo. Em todos eles,
quer queiramos quer não, somos invadidos
por novos conhecimentos e, com isso, temos a
possibilidade de enxergar um mundo diferente
daquele a que estamos acostumados.
Figura 1 - Texto 1
Fonte: FOLHA DE S. PAULO, 30 mai. 2010. Matéria de capa.
Pois bem, vamos, então, ao trabalho. Pelo título, Nordeste do país cresce
em ritmo de “Chináfrica”, a primeira inferência dada é de que o país é o Brasil,
o texto está em um jornal brasileiro e a omissão do país especificado é uma
forma de enxugar o texto. A confirmação dar-se-á com elementos extratextuais,
pois, na capa, há data, local etc. Se não está posto o nome do país é porque
se trata do Brasil. A foto, porém, não diz muito a respeito de o que o título
permite inferir. Vamos, então, ao processo de autocorreção, ou seja, provar que
a antecipação que fizemos faz sentido. Olhamos o jornal e, na legenda da foto,
vemos outro assunto, divergente de o que se pode depreender do título.
SAIBA QUE
Durante a leitura podemos exercer um relativo
controle consciente sobre as nossas atividades
mentais, disciplinando-as e submetendo-as aos
nossos interesses. Esse controle é essencial para
que a leitura seja produtiva. Ele não é espontâneo
e depende de treino e concentração. Por isso, é
necessário prestar bem atenção no que fazemos
enquanto lemos para termos mais domínios
sobre as nossas próprias habilidades de leitura.
Figura 2 - Texto 2
Fonte: FOLHA DE S. PAULO, 19 jun. 2010. Matéria de capa.
PRATICANDO
Observe o Texto 2 e, a partir dos conhecimentos
sobre as estratégias de leitura adquiridos até este
momento, explique como se dão a antecipação,
a inferência e a autorregulação (como fizemos
no Texto 1).
Por certo, você já notou que os textos não são iguais, que há características
que os diferem, como começamos a discutir no início deste capítulo. Chegamos
ao momento de ver mais profundamente como os textos são constituídos e
como eles são entendidos, segundo o gênero a que pertencem.
Por certo, você já deve ter ouvido falar em tipos e gêneros textuais, no
decorrer de sua aprendizagem formal. Os gêneros e os tipos, embora haja grande
discussão a respeito da terminologia adotada, são considerados os “formatos”
em que os textos se apresentam. Essa definição pode parecer-lhe meio bisonha,
por isso, vamos nos aprofundar na questão e compreender melhor o que são os
gêneros, cuja compreensão passa por muitos aspectos, pois apenas:
TEXTO 3 TEXTO 4
Exercícios propostos Cartas
1. Escreva com símbolos: Albert Einstein
4 pertence ao conjunto dos
Sinto-me privilegiada por ter acesso
números naturais pares
à reportagem especial “Einstein –
9 não pertence ao conjunto dos
100 anos das teorias que mudaram
números primos
nosso modo de ver o universo” (27 de
2. Escreva o conjunto expresso pela
julho). De modo muito característico,
propriedade:
a revista homenageou Albert Einstein,
x é uma número natural menor do que 8
relacionando suas idéias ao mundo
x é um número natural múltiplo de
moderno, e construiu uma imagem nova
5 e menor do que 31
e envolvente do cientista. Parabéns pela
3. Escreva o conjunto dado pelas
inovação e obrigada por propiciar-me
condições:
momentos agradáveis de leitura.
y é um número tal que y² - 5y + 6 = 0
y é um divisor de 16 tal que y³ = 8 Mariane Manso Musso
Baependi, MG
TEXTO 5 TEXTO 6
Letras louvando Pelé Sempre bem-vinda
Pelé, pelota, peleja. Bola, bolão, A sogra vai visitar a filha e o genro.
balaço. Pelé sai dando balõezinhos. Ela toca a campainha e o genro abre a
Vai, vira, voa, vara, quem viu, quem porta e exclama:
previu? GGGGoooolll.
— Sogrinha! Há quanto tempo a
Menino com três corações batendo nele, senhora não aparece! Quanto tempo
mina de ouro mineira. Garoto pobre sem vai ficar conosco desta vez?
saber que era tão rico. Riqueza de todos, a A sogra, querendo ser gentil:
todos doada na ponta do pé, na junta do — Oh, meu genro, até vocês ficaram
joelho, na perna do peito. cansados de mim!
O genro responde:
E dança. Bailado de ar, bola, beijada. — Sério? Não vai nem mesmo tomar
A boa bola, bólide, Brasil-brincando. um cafezinho?!
A trave não trava, trevo de quatro, de
Amanda J. L. Martins
quantas pétalas, em quantas provas que
Curitiba, PR
se contam? Mil e muitas. Mundo. [...]
Você deve ter percebido que cada um desses textos possui determinadas
propriedades que os distinguem dos outros. Mas que propriedades são essas?
Veja que cada texto aborda um tema diferente, tem uma forma de organização
particular e utiliza linguagem própria.
LEMBRETE
Ao tratar da estrutura do parágrafo, no
capítulo 5, vimos aspectos da tipologia textual.
Seria interessante você voltar às explicações lá
elencadas, para melhor compreender nosso
trabalho de agora.
Além disso, como você já sabe, cada um deles tem uso específico em
dado contexto de interação e se destina a determinada função sociodiscursiva.
Essas diversas formas de dizer são o que chamamos de gêneros discursivos,
e consubstanciam o que vimos acima como uma definição mais teórica do
termo, pois se constituem no interior de uma situação comunicativa, em que
interagem dois ou mais indivíduos engajados em uma atividade da vida social.
Assim, um dado gênero pode ser extremamente útil em uma certa tribo
indígena, mas não ter valor em uma cultura tecnologicamente mais avançada,
e vice-versa. Também, um determinado gênero poderia ser bastante funcional
em uma época de nossa história, como o telegrama, por exemplo, e hoje se
encontrar praticamente em desuso, dada a atual sofisticação ocorrida nos
meios de comunicação.
PRATICANDO
c) Os domínios discursivos
CURIOSIDADE
A perspectiva de se adotar os gêneros discursivos
como instrumento que norteia o ensino de
leitura e produção de textos tem sua base no
filósofo e estudioso da linguagem Mikhail
Bakhtin (1895-1975), que entende os gêneros
discursivos como sendo “tipos relativamente
estáveis de enunciados, presente em cada esfera da atividade
humana” (BAKHTIN, 2000, p.279), ou seja, são as formas típicas de
enunciados, sejam eles falados ou escritos, que se dão em situações
específicas e cujas finalidades determinam sua utilização nas mais
diferentes situações de comunicação e interação social. O autor
entende que os gêneros são divisíveis em primários, que acontecem
em situações cotidianas de comunicação, e os secundários, que
ocorrem em situações comunicativas mais complexas, como os da
esfera científica, artística, jurídica etc.
Obs.: Muitos desses gêneros discursivos são, ao mesmo tempo, falados e escritos, como é o
caso daqueles veiculados pela TV, por exemplo. Há também os que combinam linguagem
verbal e não-verbal, tais como a propaganda televisiva, outdoors, fôlderes, dentre outros.
REFLEXÃO
PRATICANDO
Vamos, então, verificar sua capacidade de
delimitar os gêneros textuais em seus mais diversos
contextos de uso. A partir do Texto 7 a seguir,
uma letra de música, portanto, pertencente ao
gênero música (ou canção), identifique os gêneros
textuais utilizados pelo autor para produzir os
efeitos de sentido que pretendia.
TEXTO 7
Os anjos
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa Lobos
Hoje não dá
Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar.
Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá.
Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
As dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça: antes de levar ao forno
Temperar com essência de espírito de porco,
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça.
Hoje não dá
Hoje não dá
Esta um dia tão bonito lá fora
E eu quero brincar
Mas hoje não dá
Hoje não dá
Vou consertar a minha asa quebrada
E descansar.
Gostaria de não saber desses crimes atrozes
É todo dia agora e o que vamos fazer?
Quero voar pra bem longe mas hoje não dá
Não sei o que pensar e nem o que dizer
Só nos sobrou do amor
A falta que ficou.
Todos nós, autores, somos gratos pela atenção que tivemos de você que
partilhou conosco essa caminhada. Esperamos ter, com nosso trabalho – o seu
e o nosso –, conseguido chegar aonde nos predispusemos inicialmente.
Por isso, o primeiro movimento que nosso cérebro faz, a partir de o que
lê, é o de antecipação e inferência, que acontecem quase simultaneamente.
Bem, se você é o Lucenilson, com certeza deve ter feito algo para merecer
“parabéns”, mas o quê? Já que o Genylson Kleython é, como você sabe pelo
seu conhecimento de mundo, o que chega primeiro, ele deve ser o autor da
faixa ou, pelo menos, o responsável por ela estar ali. É preciso confirmar, ou
melhor, fazer a autocorreção dessa antecipação/inferência, não é? Você olha
para os lados e vê que, além dele, tem alguém mais na sala, pois a bolsa da
secretária do Jurídico está na mesa dela. Temos, então, uma não-confirmação
de o que antecipamos e inferimos ou, pelo menos, a inferência é posta em
dúvida. Fazemos, então, uma autorregulação. Tudo bem, pode ter sido ele ou
ela. Mas o que resta, então, para se ler bem o texto oferecido?
propósitos especiais, pois os gêneros são mistos, mas obedecem a uma regra
de adequação, como vimos na atividade com a canção do Renato Russo, não
é? Nesse caso, então, temos de fazer uma autorregulação, para checar se o
gênero está adequado. Temos, ainda, de descobrir o que você fez para ser
parabenizado.
– Adeus, Lucenilson!
Suas pernas tremem. Está demitido. E agora? Toda aquela luta para
conseguir um novo emprego e tudo o mais. Fica triste. Vê? Nova inferência e,
a seguir, a autocorreção (que o chefe fez):
8.5 Relembrando
1) Produza um texto que pertença ao gênero de discurso com o qual você mais
se identifica ou que esteja relacionado a sua área acadêmica.
e) N.D.A.
a) Romance
b) Poema
c) Novela
d) Conto
e) N.D.A.
Onde encontrar
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 6.ed. São
Paulo: Ática, 1998.
______. O texto e a construção dos sentidos. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2001.
(Col. Caminhos da Lingüística).
PATATIVA DO ASSARÉ. Maria Gulora. In: CARVALHO, Gilmar de. Patativa poeta
pássaro do Assaré. Fortaleza: Omni Editora, 2002. p.42-43.