Professores:
Celso Luiz Pereira Rodrigues e Denise Dantas Muniz
João Pessoa
2016
CAPÍTULO 1
1.1. Introdução.
O ser humano, mesmo que só para sobreviver, necessita de vários bens materi-
ais que, na maioria, não se encontram prontos para consumo na Natureza. Para obtê-los, o ho-
mem precisa operar uma série de processos de trabalho, nos quais as matérias-primas são trans-
formadas com o emprego de máquinas, ferramentas, etc (os meios-de-trabalho) e da força-de-
trabalho.
Como qualquer produto um pouco mais complexo requer que outros produtos se-
jam gerados antes, nenhum processo de trabalho ocorre isolado no espaço nem no tempo: para
se construir uma casa, por exemplo, é necessário que se tenha produzido antes cimento, tijolos,
telhas, etc. Na verdade, cada processo isolado é apenas um átomo, um componente de um sis-
tema de produção encarregado de produzir o conjunto de bens consumido por um grupo social.
Desta forma, qualquer evento que implique num desgaste improdutivo de insu-
mos (materiais, meios-de-trabalho ou mão-de-obra) é, a princípio, um evento socialmente inde-
sejável. É fácil perceber que um tipo de evento desta natureza é o Acidente do Trabalho (mais
adiante, ao se apresentar a definição de acidente, isto ficará ainda mais visível).
Assim sendo, a EST é uma ferramenta que foi desenvolvida (como será visto no
histórico a seguir) tanto para preservar a saúde dos trabalhadores quanto para elevar a efici-
ência das atividades produtivas.
Pelo que se tem notícia, a preocupação com o estudo das relações entre trabalho e
saúde surgiu na Grécia Antiga, quando Hipócrates (tido como o Pai da Medicina) fez algumas
referências aos efeitos do chumbo na saúde humana. Posteriormente, outros estudiosos, como
Plínio (o Velho) e Galeno, descreveriam algumas doenças a que estavam sujeitas as pessoas que
trabalhavam com o enxofre, o zinco e o chumbo.
Cronologicamente, a primeira destas teorias foi a Teoria da Culpa que -em linhas
gerais- entende o AT como um crime qualquer. Assim, ela preconiza a existência de dois gru-
pos de causas de acidentes: (a) atos culposos cometidos pelo próprio empregado acidentado
ou algum de seus colegas (os chamados “atos inseguros”); ou (b) atos culposos cometidos pe-
lo empregador, seja por ação ou por omissão (as chamadas “condições inseguras”). Segundo
esta teoria, o pagamento de indenizações pelas lesões decorrentes de acidentes deveria ficar a
cargo do elemento considerado culpado, o que demandava sempre uma ação judicial.
Esta Teoria foi mais tarde substituída pela do Risco Social, que introduziu uma
mudança sutil: os AT passaram a ser encarados como decorrências de processos produtivos
necessários à reprodução/bem-estar de toda a coletividade, e não apenas de interesse para algum
grupo empresarial. Assim sendo, as indenizações continuaram a ser independentes de ações ju-
diciais, mas o pagamento destas indenizações passou a ser encargo de um sistema previdenciário
que reúne três grupos contribuintes compulsórios: os empregadores, os empregados e o Estado.
A Teoria do Risco Social é a base da atual legislação brasileira sobre acidentes do trabalho.
Entretanto, vem se tornando cada vez mais frequente o fato de que pessoas aci-
dentadas têm buscado -e conseguido- na Justiça comum uma indenização adicional à percebida
junto à Previdência Social, graças ao conceito de Responsabilidade Objetiva presente no Direito
Civil. De uma forma geral, este conceito coloca a empresa como civilmente responsável por to-
dos os acidentes ali ocorridos, já que estes eventos são uma prova concreta de que, ativa ou pas-
sivamente, a empresa não cumpriu com o que preceitua a Constituição (proteção à saúde do tra-
balhador). Cabe adicionar que em várias das ações acima referidas o ônus da reparação financei-
ra ao acidentado ficou a cargo do responsável pelo Setor de Segurança do Trabalho, por ser este
profissional o preposto da direção da empresa para os assuntos de Segurança.
Criada para fazer frente a tão grave problema quanto o dos AT, a EST apresenta
algumas características que devem ser logo comentadas, para evitar erros ou problemas no futu-
ro.
Num contexto como este, cresce a importância de que este profissional compre-
enda a estrutura existente em sua empresa -para poder melhor se encaixar neste sistema- e domi-
nar algumas técnicas de comunicação, não dando margens a interpretações equivocadas de sua
intervenções.
Feito este esclarecimento, pode-se agora dizer que a idéia básica do modelo mos-
trado é a de que o combate aos AT seja feito, em última análise, dentro das próprias empresas
onde eles ocorrem, ficando tal responsabilidade distribuída entre três grupos sociais: os empre-
gadores, os empregados e o Governo, embora procure-se mobilizar a coletividade em torno des-
te ponto.
Dificuldades à parte, o esquema apresentado permite que seja montada uma rede
de contatos geradora de subsídios para a ação prevencionista. Todas as instituições citadas (e
outras mais que podem vir a ser identificadas pelo próprio interessado) podem/devem ser fre-
quentemente utilizadas para consultas. Recomenda-se, assim, que o engenheiro de segurança
procure manter uma agenda na qual ele anote as entidades, com os seus respectivos ende-
reços, que possam vir a lhe serem úteis no futuro.
CAPÍTULO 2
O ACIDENTE DO TRABALHO.
2.1. Definições.
Definição legal
Segundo a legislação trabalhista brasileira (ver Lei 8.213/91, Art. 19), AT é o que
decorre do exercício do trabalho a serviço da empresa1 [...], provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte, ou a perda ou redução, permanente ou temporária,
da capacidade para o trabalho.
Tipos de acidentes
Ainda segundo esta legislação, existem três tipos de AT:
a) Acidentes típicos. São os que provocam lesões imediatas (a capacidade para o trabalho se
reduz logo após o acidente), tais como cortes, fraturas, queimaduras, etc.;
b) Doenças profissionais. São doenças como a silicose e o saturnismo, inerentes a determinado
ramo de atividade, paulatinamente contraídas em função da exposição continuada (ou seja,
são lesões mediatas) a algum agente agressor presente no local de trabalho;
c) Acidente de trajeto. São os acidentes sofridos pelo empregado ainda que fora do local e ho-
rário de trabalho, como os ocorridos no percurso da residência para o trabalho ou deste para
aquele.
Tal definição é questionável por exigir que haja uma lesão para que se caracte-
rize o AT. Aqui deve-se registrar que vários estudos -como os realizados por Heinrich- com-
provam que os acidentes com vítimas são apenas a ponta de um iceberg: um número muito mai-
or de casos (cerca de 300 vezes, para alguns autores) ocorre gerando apenas perda de tempo e
de materiais. Como estes casos não cobertos pela legislação provocam também perdas e con-
tém vários dos elementos causadores de acidentes com vítima, é mais interessante trabalhar com
outro conceito de AT.
1
A lei ainda abriga algumas atividades rurais, ver a disciplina Legislação e Normas Técnicas.
Definição prevencionista
Para a Engenharia de Segurança, é mais interessante encarar o acidente do traba-
lho como todo o evento inesperado e indesejável que interrompe a rotina normal de traba-
lho, podendo gerar perdas pessoais, de materiais, ou pelo menos de tempo.
Neste sentido, as causas dos acidentes devem ser buscadas nas disfunções, que
podem ser introduzidas num sistema de diversas formas, não excluentes entre si. É possível, por
exemplo, que tenha ocorrido uma falha de planejamento, criadora da expectativa de uma deter-
minada meta de produção que seja inatingível: isto pode acontecer por não se empregar (ou
fazê-lo incorretamente) as técnicas da Engenharia de Métodos e da Ergonomia que permi-
tem a estimativa do tempo padrão de uma operação, sendo os erros mais usuais a sub-
estimação dos tempos normais de operação e a não observação de tolerância para necessi-
dades fisiológicas, pausas, etc. Nestes casos, como o trabalho prescrito seria irreal, os atrasos
seriam uma constante, impondo ritmos mais acelerados que os recomendados ou deslocamentos
de pessoal entre seções para recuperar atrasos, etc; de qualquer forma, o sistema já está desestru-
turado.
Por envolver uma vasta gama de possíveis agentes geradores de disfunções, esta
concepção tende a fazer com que o processo de identificação destes agentes seja demorado. Em
alguns casos -como frequentemente se verifica na construção civil- estas características (grande
precisão às custas de um longo tempo de investigação) podem ser desinteressantes.
Assim sendo, podem existir contextos em que seja interessante adotar, emergen-
cialmente, as concepções mais antigas -e difundidas- na área da EST, que tendem a reunir as
causas dos AT em dois grandes grupos, conceituando que estas seriam (i) as condições insegu-
ras e (ii) os atos inseguros.
Por fim, cabe aqui registrar que há uma diferença entre o agente do acidente (ou
seja, o que provoca o acidente) e a fonte da lesão (ou seja, o que provoca o ferimento). Por
exemplo, imagine que você esteja carregando uma panela com água fervendo, leve um escorre-
gão e derrame um pouco do líquido em sua perna, queimando-a; neste caso, a fonte da lesão seria
uma única -a água quente- mas outros elementos podem ser identificados como agentes do aci-
dente (como o piso escorregadio), ampliando-se as chances de se obter soluções eficazes e viá-
veis.
É fácil se perceber que cada um destes tipos de acidentes irá gerar a necessida-
de de investigações diferentes não só para identificar as suas causas como para gerar soluções
ao problema. Nos dois primeiros tipos, por exemplo, a atenção será muito mais concentrada
no interior do estabelecimento, ao contrário do que ocorre com o terceiro tipo.
Assim sendo, as considerações metodológicas que serão feitas a seguir devem ser a-
daptadas ao caso específico que se esteja analisando, já que cada agente ou causa de acidentes
tem o seu meio próprio de manifestar a sua nocividade ou, em outras palavras, gera um tipo
de risco.
Cabe aqui registrar que a expressão “risco de acidente” pode ter pelo menos duas
interpretações distintas. É possível (e freqüente na literatura) encarar risco de acidente como uma
probabilidade, como a chance de que algo (o acidente) venha a acontecer. Neste sentido, cabe
dizer (por exemplo) que nas cidades existem ruas em cujos cruzamentos o risco de acidente é
maior do que em outros locais.
Optou-se pela classificação aqui apresentada por ser a que, a nosso ver, melhor
distingue fatores causais distintos, além de já considerar elementos que se fazem presentes nos
ambientes de trabalho mas ainda não são legalmente reconhecidos.
São os riscos gerados pelos agentes que demandam o contato físico direto com
a vítima para manifestar a sua nocividade. Por exemplo, a existência de uma gilete sobre
uma mesa de escritório (para ser usada em atividades como apontar lápis ou cortar papéis) in-
troduz no ambiente de trabalho um risco do tipo aqui estudado. Afinal, ao se utilizar tal instru-
mento há o risco de que o fio da lâmina entre em contato com alguma parte do corpo (dedo, por
exemplo), podendo assim provocar cortes.
São os riscos gerados pelos agentes que têm capacidade de modificar as caracte-
rísticas físicas do meio ambiente. Por exemplo, a existência de um tear numa tecelagem intro-
duz no ambiente um risco do tipo aqui estudado, já que tal máquina gera ruídos, isto é, ondas so-
noras que irão alterar a pressão acústica que incide sobre os ouvidos dos operários.
Alguns exemplos de riscos físicos: ruídos (que podem gerar danos ao aparelho
auditivo, como a surdez, além de outras complicações sistêmicas); iluminação (que pode pro-
vocar lesões oculares), calor, vibrações, radiações ionizantes (como os Raios-X) ou não-
ionizantes (como a radiação ultra-violeta), pressões anormais, etc.
Vale aqui destacar que a gravidade (e até mesmo a existência) de riscos deste
tipo depende de sua concentração no ambiente de trabalho. Uma fonte de ruídos, por exemplo,
pode não se constituir num problema (e, por vezes, é até solução contra inconvenientes como
a monotonia), mas pode vir a se constituir numa fonte geradora de uma surdez progressiva, e
até mesmo de uma surdez instantânea (por exemplo, um ruído de impacto que perfure o tímpa-
no): tudo depende da intensidade e demais características físicas do ruído por ela gerado.
São os riscos gerados por agentes que modificam a composição química do meio
ambiente. Por exemplo, a utilização de tintas à base de chumbo introduz no processo de tra-
balho um risco do tipo aqui enfocado, já que a simples inalação de tal substância pode vir a
ocasionar doenças como o saturnismo.
Tal como os riscos físicos, os riscos químicos podem atingir também pessoas
que não estejam em contato direto com a fonte do risco, e em geral provocam lesões medi-
atas (doenças). No entanto, eles não necessariamente demandam a existência de um meio
para a propagação de sua nocividade, já que algumas substâncias são nocivas por contato direto.
O emprego de turnos de trabalho alternados entre equipes (de forma que uma
pessoa trabalhe na primeira semana no horário das 22 às 6 horas; na segunda, das 6 às 14 horas;
e na terceira, das 14 às 22 horas, por exemplo) irá trazer problemas para estes trabalhadores,
não só de natureza fisiológica (por incompatibilidade com os seus ciclos circadianos), mas tam-
bém psíquico-sociais, já que as suas relações sociais (com familiares,
amigos, etc) serão significativamente afetadas.
Antes de seguir adiante, cabe aqui inicialmente salientar que a evolução tecnoló-
gica recente tem feito com que os riscos gerados nos ambientes industriais estejam ampliando os
seus raios de alcance, em parte pelo uso cada vez mais intenso de substâncias químicas e de for-
mas energéticas mais concentradas, gerando os problemas de poluição ambiental já conhecidos.
Além disso, os sistemas produtivos se tornam cada vez mais integrados, o que eleva, por um la-
do, as chances de que se tenha interferências destrutivas de uma empresa sobre outra e, por ou-
tro lado, a área potencialmente atingível por problemas criados pelas empresas. Em função disto
alguns autores já propõem uma distinção entre "acidentes normais" e "catástrofes", como as que
ocorreram em Bophal, Tchernobyll, etc. É possível, assim, que no futuro exista um sétimo tipo
de risco (ecológico).
Concorre para criar este tipo de expectativa o fato de que as próprias empresas
vêm cada vez mais se apercebendo da similaridade existente no trato de questões como a Gestão
da Qualidade Total (objeto da série ISO9000), a Gestão Ambiental (série ISO14000) e, mais re-
centemente, a Gestão das Condições de Segurança (tema da série BS8000, e que alguns autores
consideram o embrião da série ISO18000).
Por fim, cumpre destacar que a tipologia acima apresentada visa simplesmente
mostrar as diversas formas segundo as quais o trabalho pode gerar prejuízos à saúde das pessoas,
para com isto facilitar o processo de identificação de riscos nas situações reais de trabalho: o
“nome” que venha a ser dado a este risco é de menor importância.
CAPÍTULO 3
Várias são as formas de se proceder a este levantamento, mas elas podem ser a-
grupadas em dois grandes blocos: os métodos retrospectivos e os métodos prospectivos.
O primeiro grupo é composto pelos métodos em que o ponto de partida são os fa-
tos já ocorridos, os quais têm os seus processos analisados, de forma a identificar as suas cau-
sas. A idéia básica é a de que se um determinado elemento do processo de trabalho já provocou
algum acidente e se este elemento continua presente na empresa, existe a possibilidade de
que novos acidentes venham a ocorrer provocados por este elemento.
2
Mattos, Ubirajara. In: Engenharia de Segurança do Trabalho. Coppe/ufrj, 1987.
c) da gravidade da situação: se na empresa existem riscos sérios e evidentes, o principal é dar
logo início à intervenção concreta, e os métodos retrospectivos são mais indicados.
De uma forma geral, recomenda-se que seja feita uma combinação de métodos,
incorporando no planejamento não só a realização de inspeções periódicas como a análise, sis-
temática e documentada, de todos os acidentes.
Nesta fase do estudo, faz-se necessário ter alguns elementos que permitam a
comparação entre os fatos díspares, ocorridos em diferentes locais.
FA = N * 1.000.000 / HH
onde: N = Número de acidentes ocorridos no período analisando.
HH = Número de homens-hora de exposição ao risco.
3
Ribeiro Filho, Leonídio. In: Anais do XVIII CONPAT, FUNDACENTRO, 1979.
superáveis: segundo a ótica da freqüência pura e simples, ambos os casos seriam idênticos, o que
é uma simplificação exagerada.
G = DP * 1.000.000 / HH
IAG = DP / N
onde N e HH têm o mesmo significado acima (ver FA) e DP significa o número de dias
perdidos em função dos acidentes registrados, que é igual à soma (i) dos dias de afastamento
dos acidentados que ficaram temporariamente incapacitados com (ii) os dias debitados em fun-
ção de incapacidades permanentes. A tabela de dias debitados consta em anexo da NR-5 da por-
taria 3.214, e atribui o valor de 6.000 dias para cada caso fatal (o que equivale a cerca de
25 anos de trabalho).
Identificado o ponto crítico, ou seja , o risco a ser inicialmente atacado, uma nova
rodada de coletas de dados e de análises se faz necessária, envolvendo agora procedimentos
específicos para o risco citado, o que será abordado nas várias disciplinas que se seguem. Su-
pondo, p.ex., que o principal problema seja o ruído, será necessário fazer o mapeamento do
nível de intensidade sonora, nos moldes previstos na disciplina "Ruidos e Vibrações".
Vencidas as quatro etapas iniciais, atinge-se o ponto em que deverão ser apre-
sentadas soluções alternativas para o problema, ou seja, a fase de geração de alternativas.
Para possibilitar uma busca mais sistemática de soluções, podemos dizer que
estas podem ser classificadas em :
a) Quanto ao tipo de elemento preventivo: Físicas ou Organizacionais;
b) Quanto ao ponto de inserção: na Fonte, no Meio ou no Receptor.
c) Quanto ao momento de utilização: Preventivas ou Corretivas.
Deve-se registrar aqui que existem profundas diferenças entre estas opções.
Do ponto de vista técnico, as ações sobre a fonte de risco tendem a ser mais eficientes do que
as sobre o meio de propagação e, principalmente, sobre o receptor: afinal, nestes dois últi-
mos casos o risco continuará presente no local de trabalho. Além disso, há que se registrar
que existem EPI's que não atendem às especificações de proteção e/ou que provocam novos
problemas. À guisa de exemplos, temos protetores auriculares que provocam dermatites de
contato, e luvas que reduzem a habilidade no manejo de ferramentas.
Já no terceiro caso, a idéia é a de que nem sempre se poderá garantir que as me-
didas preventivas implantadas terão êxito, sendo assim necessário pensar também em solu-
ções que evitem a propagação dos danos. Técnicas ligadas aos campos dos Primeiros Socorros
e do combate a incêndios são exemplos típicos
de soluções corretivas.
No que diz respeito à fase de seleção, o que se pretende é alertar para o fato de
que aqui se encontram envolvidos aspectos técnicos, econômicos e sociais, nenhum dos quais
pode ser ignorado sob pena de se implantar soluções inócuas. O ideal seria que a solução tec-
nicamente mais eficaz fosse a economicamente mais viável, e socialmente aceita, porém
nem sempre as coisas acontecem desta maneira. Existe, por exemplo, a possibilidade de que a
solução tecnicamente ideal seja impraticável em termos financeiros naquele momento da vida
da empresa, ou de que ela gere resistências no seio da comunidade trabalhadora. Apenas para
se ter um caso concreto, pode-se lembrar que vários trabalhadores resistem à idéia de utilizar
o EPI, por razões que vão desde as preconceituosas ( tipo "ferimento da sua masculinidade")
até as mais lógicas (tipo interferência na agilidade e criação de riscos secundários). Assim,
se a análise apontasse no sentido de usar o EPI como técnica preventiva, esta decisão deve-
ria se fazer acompanhar de outras, tal como uma campanha educativa que minimizasse as resis-
tências.
Espera-se que estas breves notas tenham dado uma visão geral não só do curso
que se seguirá, mas também do que se pode esperar do exercício desta nobre profissão de enge-
nheiro de segurança, que daqui a pouco nossos leitores assumirão.
Mais especificamente, espera-se que esta disciplina tenha servido para facilitar
o encadeamento dos assuntos que se seguirão, na perspectiva de capacitar o futuro profissional
para atuar diretamente na produção, funcionando como um elemento que melhore as condições
de trabalho e, assim, permita a obtenção de produtos com melhor qualidade e produtividade.
Enfim, que torne o processo produtivo mais eficiente.
Por fim, espera-se que esta disciplina tenha contribuído para destacar a postura
ética que o engenheiro de segurança deve adotar, desde a sua própria formação. Há que se ter
em mente que o mais importante, neste momento, não é "obter um canudo" que credencie à dis-
puta de uma vaga/emprego como engenheiro de segurança, mas sim a qualificação profissional
em si; e que, uma vez formado e colocado no mercado, o mais importante é atuar concretamen-
te na Prevenção de Acidentes dentro da planta produtiva, recusando-se a desempenhar um pa-
pel decorativo, atendendo burocraticamente às exigências legais, Esta forma de se inserir na
empresa, através em geral de seu Departamento de Pessoal, significa abdicar de seu papel de
engenheiro/arquiteto.
I. ATOS INSEGUROS:
1. Trabalhar sem estar autorizado, sem proteger ou sem advertir: a) Colocar em marcha,
parar, utilizar, deslocar, etc, um material sem autorização; b) Colocar em marcha, parar, etc, sem
dar o aviso ou sinais convencionais; c) Deixar de fechar, bloquear, etc, veículos, válvulas, ele-
mentos sob pressão, etc, o que poderá causar movimentações inesperadas, passagem de corrente
elétrica, vapor, etc; d) Deixar uma máquina funcionando depois de concluído o seu uso; e) Soltar
ou movimentar cargas sem avisar; f) Deixar de colocar sinais de advertência, símbolos, rótulos,
etc; g) Deixar de colocar avisos de perigo em depósitos de combustíveis ou explosivos; h) Deixar
de sinalizar com cores diferentes tipos de gases engarrafados ou armazenados; i) Deixar de esta-
belecer código de sinalização para manobras; j) Utilizar saídas não autorizadas ou circular por
lugares proibidos; k) Deixar de escorar e colocar suportes, não sanear em trabalhos mineiros,
construção de túneis, etc; l) Outros não classificados.
8. Distrair, molestar, insultar, assustar, brincar, etc: a) Chamar, fazer ruídos inúteis ou
distrair outros trabalhadores; b) Jogar objetos; c) Molestar, insultar, assustar, brincar; d) Fazer
algazarra; e) Discutir ou brigar; f) Empurrar; g) Outros não classificados.
4. Instalações mal projetadas ou mal construídas: a) Instalações que produzem riscos de-
vido a erros no projeto; b) Arquitetura, desenho ou projeto defeituoso; c) Construção ou monta-
gem defeituosas de origem; d) Passagens ou saídas de largura ou altura insuficientes; e) Instala-
ções demasiadamente reduzidas; f) Superfícies deslizantes; g) Construções com ângulos vivos;
h) Perigo de desabamentos, deslocamentos de massas de terra, pedras, etc; i) Falta de locais des-
tinados ao estacionamento de veículos, carretas, etc; j) Falta de saídas de emergência; k) Portas,
janelas, etc, mal projetadas ou perigosas; l) Comandos mal projetados, mal colocados, que obri-
gam a posições perigosas; m) Grifos mal situados ao longo dos condutores; n) Outras não classi-
ficadas.
Apresentação
O roteiro a seguir apresentado (de uma forma resumida) foi proposto, em 1987,
por Ubirajara Mattos (publicado na apostila “Engenharia de Segurança do Trabalho”, editada
pela COPPE/UFRJ). O que se procurará mostrar é (i) a estrutura geral do roteiro e (ii) o tipo de
informação a ser buscada ao longo do trabalho. Assim sendo, não se entrará em detalhes como as
tabelas sugeridas pelos autores como forma de sistematização dos dados coletados: caso alguém
tenha interesse em aprofundar tal assunto, recomenda-se a leitura do trabalho em sua íntegra.
As etapas do roteiro
1ª Etapa: Levantamento e sistematização do processo de produção
Esta etapa visa o levantamento de informações relativas à unidade de produção ,
sistematizando-as na forma de documentos a serem analisados nas etapas seguintes. Nesta etapa
o projetista deve apenas descrever a situação, sem procurar analisá-la.
Os documentos a serem aqui elaborados são:
1.1. Identificação da unidade de produção.
1.2. Características gerais da região.
1.3. Processo de produção.
1.4. Organização do trabalho.
1.5. Assistência e serviços de pessoal.
1.6. Organização dos serviços de saúde ocupacional.
1.7. Equipamentos de proteção existentes.
Documento 1.1.
Informações a reunir:
- Gênero e grupo, segundo classificação do IBGE;
- Forma jurídica (Sociedade anônima, responsabilidade limitada, etc)
- Ano de fundação;
- Linha de produtos;
- Tipo de produção (seriada, por encomenda, etc);
- Volume de produção e vendas (série histórica);
- Organograma funcional;
- Número de funcionários na administração e na produção (distribuídos por sexo, faixa etária,
grau de instrução e nível de remuneração);
- Último balanço e demonstração de lucros e perdas;
- Principais mudanças ocorridas.
Documento 1.2.
Informações a reunir:
1.2.1. Clima da região:
- Tipo de clima (superúmido, úmido, semiúmido, semiárido, árido);
- Temperatura (máxima, média e mínima) da região;
- Umidade do ar (máxima, média e mínima);
- Regime de ventos (intensidade e direção dos ventos);
- Índices pluviométricos.
1.2.2. Localização da unidade produtiva:
- Área da fábrica;
- Ruas e vias de acesso;
- Utilização dos terrenos vizinhos;
- Direção dos ventos e do Sol;
- Fluxos de entrada e saída de pessoas, materiais, veículos;
- Meios de transporte existentes.
Documento 1.3.
Informações a reunir:
1.3.1. Seções da fábrica:
- Lista de seções da fábrica e suas funções.
1.3.2. Fluxograma de fabricação e montagem:
- Para cada ítem da linha de produtos, construir o seu fluxograma detalhado de fabricação e mon-
tagem, incluindo os resíduos, e identificando as diversas estações de trabalho.
1.3.3. Equipamentos:
- Listagem dos equipamentos existentes na unidade de produção (ligados à produção, à prestação
de serviços auxiliares, à prestação de serviços pessoas, à administração, etc).
- Localização e quantidade de cada tipo de equipamento;
- Características dos equipamentos: origem, ano de fabricação, dimensões, forma de uso e de
manutenção, dispositivos de proteção existentes, etc.
1.3.4. Edifícios:
- Listagem dos prédios existentes.
- Características gerais dos prédios: projetista, ano de construção, utilização, estado de conserva-
ção.
- Características técnico-construtivas: pé direito, portas, janelas, pisos, coberturas, tapamentos
laterais; aproveitamento da ventilação e da iluminação naturais.
1.3.5. Instalações:
- Listagem das instalações existentes (luz, força, esgoto, água potável, óleo, gás, vapor, etc).
- Projetista, ano de instalação e estado de conservação de cada uma.
- Características técnicas: localização, capacidade, consumo, materiais utilizados, etc.
1.3.6. Materiais:
- Listagem das matérias-primas principais e auxiliares, com os seguintes dados: origem, quanti-
dade, forma de embalagem, local e processo de armazenagem, método de transporte, caracte-
rísticas físico-químicas;
- Listagem dos produtos em processo: quantidade, local e período de espera; método de transpor-
te; características físico-químicas;
- Listagem dos produtos acabados: quantidades, forma de embalagem, local de armazenagem,
destino, características físico-químicas, riscos à saúde na utilização destes produtos.
- Listagem dos resíduos industriais: fonte, quantidade, características físico- químicas, formas de
tratamento, despejo e controle.
1.3.7. Layout da fábrica.
Documento 1.4:
Informações a reunir:
1.4.1. Distribuição da mão-de-obra:
- Jornada de trabalho semanal;
- Horário de trabalho diário;
- Horas-extras;
- Turnos (troca de turnos);
- Rotatividade e absenteísmo;
- Esquema de trabalho (composição das equipes de trabalho).
1.4.2. Remuneração do pessoal:
- Forma de pagamento (diário, semanal, quinzenal, mensal);
- Níveis salariais;
- Adicionais de produtividade.
1.4.3. Controle do trabalho:
- Entrada e saída de pessoal
- Sistema de emissão de ordens
- Normas de trabalho
1.4.4. Admissão, demissão e férias:
- Rotina de admissão: documentos exigidos, requisitos necessários, exames admissionais.
- Treinamento: conteúdo, periodicidade, duração
- Escala de férias
- Rotina de demissão, incluindo exames demissionais.
1.4.5. Relações institucionais:
- Relação da empresa com seu sindicato, com os sindicatos dos seus trabalhadores, DRT, FUN-
DACENTRO, SESI, SENAI, etc.
- Relação dos trabalhadores com seus sindicatos (nº de sindicalizados)
Documento 1.5.
Informações a reunir:
1.5.1. Facilidades oferecidas:
- Listagem das facilidades oferecidas pela empresa (transporte, moradia, alimentação, planos de
saúde, etc), indicando a taxa paga pela empresa e a coberta pelo trabalhador.
1.5.2. Instalações sanitárias:
- Listar, por sexo, os banheiros existentes (indicando a quantidade de lavatórios, vasos sanitários,
mictórios, etc)
- Idem para os vestiários
- Bebedouros: listar e localizar os bebedouros existentes.
1.5.3. Assistência social:
- Esquema de funcionamento e infraestrutura (instalações, pessoal, horário e equipamentos)
- Projetos e estudos desenvolvidos
- Posição do serviço no organograma e sua relação com a direção, com as seções produtivas e
com os serviços de saúde ocupacional
Documento 1.6:
Informações a reunir:
1.6.1. CIPA:
- Composição atual
- Esquema de funcionamento (horário, instalações, equipamentos, etc)
- Treinamentos recebidos pelos seus membros
- Realização da SIPAT
- Preenchimento dos Anexos da NR-5
- Livro de ata e sua fiscalização pela DRT
- Estatísticas de acidentes e doenças dos últimos três anos, com as análises feitas pela CIPA so-
bre os mesmos
- Critérios adotados para a seleção de EPI’s
- Elaboração do mapa de riscos
- Estudos realizados pela CIPA nos últimos três anos
- Posição da CIPA na empresa e sua relação com a direção, com os setores de projetos, compras,
manutenção, planejamento.
1.6.2. SESMT:
- Idem à CIPA
1.6.3. Assistência médico-odontológica:
- Esquema de funcionamento (instalações, pessoal, equipamentos, horários)
- Exames periódicos realizados
- Primeiros Socorros: materiais existentes; treinamentos oferecidos.
Documento 1.7:
Informações a reunir:
1.7.1. Equipamentos de proteção contra incêndios:
- Listagem das instalações existentes, indicando: capacidade dos reservatórios, características das
instalações, localização, vazão, comprimento das mangueiras, estado de conservação, etc
- Sistemas de alarme existentes
- Sistemas de detecção e combate automático
- Brigadas de incêndio
- Rede de extintores, indicando tipo, capacidade, localização e treinamento dos operários.
1.7.2. Equipamentos de proteção coletiva:
- Listar os equipamentos existentes especificando suas características, distribuindo por seção,
indicando as quantidades existentes e o seu estado de conservação.
1.7.3. Equipamentos de proteção individual:
- Listar os EPI’s utilizados, indicando as suas características, quantidades disponíveis, locais on-
de o uso é exigido, pessoas a quem se destina, o estado de conservação dos EPI’s, a forma de
aquisição, distribuição e controle dos EPI’s, o Certificado de Aprovação, etc.