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O desenvolvimento sustentável é um oximoro

“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”


Victor Hugo

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da ONU, se baseiam na


ideia de implementar o tripé de um desenvolvimento economicamente inclusivo, socialmente
justo e ambientalmente sustentável

Porém, a inclusão econômica ainda é uma meta distante pois existem bilhões de pessoas
vivendo com menos de US$ 5 por dia, outros bilhões vivendo no desemprego ou subemprego e
uma grande crise migratória, com milhões de pessoas vivendo em condições precárias em
campos de refugiados como na Líbia, no Quênia e os Rohingya expulsos de Myanmar e
amontoados em Bangladesh. Até mesmo um país premiado em jazidas de petróleo, como a
Venezuela (que já foi um dos países mais ricos da América Latina), tem gerado uma crise
humanitária na América do Sul.

A meta de uma sociedade justa está cada vez mais distante. Embora o mundo tenha conseguido
reduzir a extrema pobreza e diminuir as taxas de mortalidade infantil nos últimos 200 anos, a
apropriação da riqueza tem acontecido de maneira cada vez mais desigual. O relatório sobre a
riqueza global 2017, do banco Credit Suisse, mostra que 8,6% dos adultos do topo da pirâmide
de riqueza detêm 86% do patrimônio global. Segundo a Oxfam, os oito homens mais ricos do
mundo possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade.

Assim, a exclusão econômica e a injustiça social ameaçam implodir a arquitetura do modelo de


acumulação de capital que aumenta a distância entre os poucos privilegiados do topo da
pirâmide e os muitos desamparados da base da estrutura piramidal iníqua.

Mas o maior prejudicado pelo avanço do desenvolvimento da produção em massa de bens e


serviços é, sem dúvida, o meio ambiente. O enriquecimento da desigual civilização humana
(todos os humanos se beneficiaram dos últimos 200 anos de desenvolvimento, embora alguns
bem mais do que tantos outros) ocorreu paralelamente ao empobrecimento dos ecossistemas

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e da redução da biodiversidade. Enquanto a humanidade aumentou a esperança de vida ao
nascer de cerca de 25 anos em 1800 para mais de 70 anos em 2017, as demais espécies vivas do
Planeta entraram em uma espiral de declínio e estão a caminho da 6ª extinção em massa.

O pesquisador Clóvis Cavalcanti(2012), com base nos princípios da economia ecológica,


caracteriza o atual modelo hegemônico de desenvolvimento como “Extrai-Produz-Descarta”. Ele
explica como funciona o modelo: “O que a economia moderna faz, na verdade, em última
análise, é cavar um buraco eterno que não para de aumentar (extração de matéria e energia de
baixa entropia). Cumprido o processo do transumo, os recursos terão virado inevitavelmente
dejetos – matéria neutra, detritos, poeira, cinzas, sucata, energia dissipada – que não servem
para quase absolutamente nada (matéria e energia de alta entropia). Amontoam-se formando
um lixão, também eterno, que não para de crescer. Assim, a extração de recursos e a deposição
de lixo deixam como legado uma pegada ecológica cada vez maior” (p. 40).

O sistema produtivo (throughput ou transumo) gera um fluxo metabólico entrópico. Quanto


maior a entropia, maior é a insustentabilidade. O grave da situação atual é que o crescimento
exponencial da população e da economia, nos últimos dois séculos, fez com que a base do bem-
estar antrópico ultrapassasse a capacidade de carga da Terra. Desde os anos de 1970, a pegada
ecológica superou a biocapacidade do Planeta e o déficit ecológico cresce a cada ano.

O desenvolvimento tem acontecido de maneira cada vez mais insustentável. A queima de


combustíveis fósseis acelerou o aquecimento global que ameaça tornar o Planeta um espaço
inabitável, diante das ondas mortais de calor e do degelo dos polos e dos glaciares que provocam
a elevação do nível dos mares e devem inundar boa parte das cidades litorâneas e dos deltas de
todos os rios do mundo. A acidificação dos solos, dos rios e dos oceanos ameaçam a vida
terrestre e marinha. Na segunda metade do século XXI deve haver mais acúmulo de plástico do
que peixes nos oceanos. O constante e crescente uso de fosfatos e nitratos, para a produção de
alimentos, tem provocado a eutrofização (acúmulo de matéria orgânica em decomposição).

A humanidade já destruiu a metade de todas as árvores do Planeta e a destruição continua (El


País, 02/09/2015). A grave situação indica que as atividades antrópicas estão destruindo 15
bilhões de árvores por ano, enquanto o aparecimento de novas árvores e o reflorestamento é
de somente 5 bilhões de exemplares. Ou seja, a natureza está perdendo 10 bilhões de árvores
por ano e pode perder todo o estoque de 3 trilhões de árvores em 300 anos. O desmatamento
provoca defaunação. O desaparecimento das abelhas e dos insetos ameaça a produção de
comida, pois sem polinizadores não há como gerar alimentos para a crescente população
mundial. No ritmo atual, a humanidade vai provocar um ecocídio de abrangência homérica e,
consequentemente, a civilização caminha para o colapso.

O que fazer?

A Agenda 2030 da ONU planeja enfrentar todos estes problemas com a noção de
desenvolvimento sustentável, que significa aumentar ainda mais a produção de bens e serviços
(para resolver os problemas de inclusão econômica e de injustiça social), só que fazendo o
desacoplamento entre o crescimento econômico e a demanda por recursos naturais e uma
menor poluição. Os ODS querem viabilizar o crescimento econômico desacoplado do aumento
do uso de recursos. Querem produzir “mais com menos”, reciclar e diminuir as emissões de
gases de efeito estufa. Mas há diversas indicações que o desenvolvimento sustentável é um
oximoro.

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Por exemplo, o artigo “Is Decoupling GDP Growth from Environmental Impact Possible?” mostra
que, embora a sociedade esteja ficando cada vez mais eficiente na produção de bens e serviços,
não está perto de conseguir a meta do crescimento econômico sem o uso crescente de recursos
(WARD et. al. 2017). Nas conclusões os autores deixam claro a impossibilidade de um
desacoplamento absoluto:

“O crescimento do PIB, em última análise, não pode ser desacoplado do crescimento do uso de
materiais e energia. Por conseguinte, é enganador desenvolver uma política orientada para o
crescimento em torno da expectativa de que a dissociação seja possível. Observamos também
que o PIB é cada vez mais visto como uma fraca procuração para o bem-estar social. O
crescimento do PIB é, portanto, um objetivo social questionável. A sociedade pode melhorar de
forma sustentável o bem-estar, incluindo o bem-estar de seus recursos naturais, mas apenas
descartando o crescimento do PIB como objetivo em favor de medidas mais abrangentes de
bem-estar social” (p. 12).

Ou seja, o desenvolvimento sustentável é incompatível com o contínuo e persistente


crescimento do PIB e da ampliação do modelo “Extrai-Produz-Descarta”. Somente o
decrescimento demoeconômico, de longo prazo, será capaz de garantir o bem-estar de uma
população e de uma economia menor, com maior recuperação dos ecossistemas e ampliação
da biodiversidade.

A sustentabilidade exige menores áreas ecúmenas e maiores áreas anecúmenas. A humanidade


só será salva se salvar o meio ambiente e as demais espécies que compartilham a nossa morada
comum. A pegada ecológica precisa ficar abaixo da biocapacidade. Para tanto, é preciso dizer
não ao egoísmo e sim ao altruísmo. Só haverá sustentabilidade, de fato, com mais ECOlogia e
menos ECOnomia.

Referências:
ALVES, JED. O trilema da sustentabilidade e o decrescimento demoeconômico, 22º Congresso
Brasileiro de Economia, BH, 08/09/2017
https://pt.scribd.com/document/358390999/O-trilema-da-sustentabilidade-e-decrescimento-
demoeconomico
MARTINE, G. ALVES, JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema
da sustentabilidade? R. bras. Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015 (português e inglês)
http://www.scielo.br/pdf/rbepop/2015nahead/0102-3098-rbepop-S0102-
3098201500000027P.pdf
CAVALCANTI, Clóvis. Sustentabilidade: mantra ou escolha moral? Uma abordagem ecológico-
econômica. SP, Estudos avançados 26 (74), 2012
http://www.scielo.br/pdf/ea/v26n74/a04v26n74.pdf
Nuño Domínguez. A humanidade já destruiu a metade de todas as árvores do planeta, El País,
02/09/2015 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/02/ciencia/1441206399_772262.html
WARD, J.D. et. al. Is Decoupling GDP Growth from Environmental Impact Possible? Plos One,
October, 2016 http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0164733

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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