Rio de Janeiro
2017
Thársyla Glessa Lacerda da Cunha
A imprensa como instrumento político: uma análise sobre a atuação dos jornais
Tribuna da Imprensa e Última Hora no segundo governo de Getúlio Vargas
(1951-1954)
Rio de Janeiro
2017
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CCSA
CDU 981”1951/1954”
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que
citada a fonte
___________________________ _________________________
Assinatura Data
Thársyla Glessa Lacerda da Cunha
A imprensa como instrumento político: uma análise sobre a atuação dos jornais
Tribuna da Imprensa e Última Hora no segundo governo de Getúlio Vargas
(1951-1954)
________________________________________________
Prof. Dr. Oswaldo Munteal Filho (Orientador)
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - UERJ
________________________________________________
Prof.ª Dra. Tania Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - UERJ
________________________________________________
Prof.ª Dra. Jöelle Rachel Rouchou
Fundação Casa de Rui Barbosa
Rio de Janeiro
2017
RESUMO
CUNHA, Thársyla Glessa Lacerda da. A imprensa como instrumento político: uma
análise sobre a atuação dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora no segundo
governo de Getúlio Vargas (1951-1954). 2017. 140 f. Dissertação (Mestrado em
História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, 2017.
CUNHA, Thársyla Glessa Lacerda da. A imprensa como instrumento político: uma
análise sobre a atuação dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora no segundo
governo de Getúlio Vargas (1951-1954). 2017. 140 f. Dissertação (Mestrado em
História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, 2017.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
1 DE 1945 A 1950: TRANSIÇÃO PARA UM NOVO MOMENTO
POLÍTICO NO BRASIL ................................................................................................. 11
1.1 Imprensa, História e Política: novas perspectivas.................................................. 13
1.2 1950: novos destaques na imprensa .............................................................................. 20
1.3 De volta ao Catete! .............................................................................................................. 26
1.4 Tribuna da Imprensa e Última Hora: uma rivalidade da política
da política ............................................................................................................................... 36
2 UMA CRISE ANUNCIADA ........................................................................................... 49
2.1 A CPI da Última Hora ........................................................................................................ 59
2.2 1954: um ano decisivo ......................................................................................................... 71
2 UM MÊS DE DESGOSTO .............................................................................................. 78
3.1 A “gota d’água” .................................................................................................................... 82
3.2 Caçada aos assassinos! ....................................................................................................... 90
3.3 Apelo à Renúncia............................................................................................................... 104
3.4 A vitória disfarçada de derrota ................................................................................... 115
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 128
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 132
ANEXO ................................................................................................................................ 140
8
INTRODUÇÃO
1
CERTEAU, Michel. “A operação Historiográfica”. In: A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1982, p. 65-119.
2
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. “Batalhas em letras de forma: Chatô, Wainer e Lacerda.” In:
MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina. História da imprensa no Brasil. São Paulo:Contexto,2008
9
se dedicou em afastar Vargas de seu novo mandato. A ação opositora também foi
realizada de maneira bastante eficiente através da imprensa, o que se tornou uma
dificuldade para o presidente.
Ressaltamos que, durante seu primeiro mandato, especificamente no período do
Estado Novo (1937-1945), Vargas governou de forma autoritária, contando com total
controle dos meios de comunicação, que através do Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), passaram a censurar toda propagação contrária ao governo e a
exaltar o presidente e seus feitos, o que foi, em grande parte, responsável pela alta
popularidade que alcançou. Devido a isso, ele se viu diante de grande dificuldade, em
seu segundo mandato, ao se deparar com uma imprensa livre e engajada em exercer
oposição, como no caso da Tribuna da Imprensa. Diante dessa situação, buscou uma
tentativa de reação, através do jornal Última Hora que exerceu o papel de ponto de
apoio, no que se referia ao campo midiático.
O segundo governo de Vargas foi marcado pela instabilidade. A falta de apoio
por parte dos partidos permitiu que a oposição ganhasse bastante espaço para alcançar
seus interesses. Além disso, o governo passava também por dificuldades econômicas
desde seu início, geradas principalmente pelo descontrole da inflação e pela necessidade
de reestabelecer o crescimento econômico.
Dentro desse cenário, é importante considerar a importância do momento vivido
pela imprensa naquele período. Era uma época de inovações na forma de produzir o
jornalismo, havia profissionalismo, técnicas mais modernas, principalmente inspiradas
no modelo de jornalismo norte-americano, que buscava maior objetividade da notícia
em detrimento do jornalismo tradicional baseado no discurso emotivo, pautado na
opinião. Assim, entender o momento de modernização da imprensa brasileira na década
de 1950, relacionando esse processo à sua atuação política que influenciou diretamente
o governo de Vargas é fundamental em nossa pesquisa, no que se refere ao
entendimento da imprensa como um instrumento político.
Para desenvolvimento de nosso tema, no primeiro capítulo, faremos uma
reflexão sobre o papel político da imprensa, levando em consideração seu papel como
construtora dos acontecimentos. Ainda será observado como a historiografia vem
abordando o estudo da imprensa nos últimos anos, destacando a relevância deste tema
para a mesma. Apresentaremos o contexto em que se insere a imprensa brasileira na
10
década de 1950, destacando o momento de transição pelo qual ela passava, no sentido
de estar se baseando em novas formas de produzir o jornalismo. Dentro desse contexto,
será abordada a criação dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora, entendendo os
interesses de seus donos, Carlos Lacerda e Samuel Wainer, respectivamente, para com
eles. Abordaremos, também, o contexto das eleições de 1950, destacando os processos
que conduziram Vargas à vitória.
No segundo capítulo será realizada uma análise referente às propostas de Vargas
para seu segundo mandato, bem como as dificuldades enfrentadas por ele para realizá-
las. Neste capítulo enfatizaremos as relações entre ele e seus opositores, direcionando
maior observação ao papel exercido pela UDN no Congresso Nacional contra o
governo, principalmente no episódio da CPI da Última Hora (1953), em que a oposição
buscou atingir o presidente através de acusações ao jornal que lhe era favorável. O
objetivo deste capítulo será considerar a conjuntura em que Vargas governava, para
entender em que se baseavam as críticas feitas a ele no jornal de Lacerda.
No terceiro capítulo haverá um enfoque no mês de agosto de 1954, momento
mais intenso da crise vivida naquele ano. Através da análise comparativa das capas dos
jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora, será mostrado como eles estavam se
posicionando diante da crise apresentada. Neste contexto será dada atenção específica
aos dois fatos mais impactantes do mês de agosto, que são o atentado da Rua Toneleros,
realizado contra a vida de Lacerda e o suicídio do Vargas. O estudo das manchetes dos
jornais neste período nos possibilitará relacionar estes dois fatos ao contexto
apresentado, mostrando a imprensa como fator fundamental para o fim antecipado do
governo de Vargas.
Finalmente, analisaremos a repercussão causada pelo suicídio de Vargas e como
os veículos de imprensa aqui abordados lidaram com essa situação, bem como observar
os rumos que o país tomaria até as eleições, no fim de 1954.
11
Em 1945, Vargas viu o Estado Novo ruir, em outubro, com sua deposição. No
entanto, apesar do fim do governo, sua influência na política ainda era relevante. Tal
influência é perceptível quando observamos que os partidos políticos criados nesse
contexto estão intimamente ligados a ele: o Partido Social Democrático (PSD), o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e a União Democrática Nacional (UDN). Estes
foram fundamentais para as eleições de 1950, bem como para as principais articulações
políticas até 1964.
O PSD foi fundado em 17 de Julho de 1945. Sua formação começou a ser
articulada nos estados, através de lideranças regionais, como interventores, prefeitos,
além de proprietários rurais, industriais, comerciantes, entre outros. Todos fundadores
do partido eram pessoas que haviam colaborado com a administração do Estado Novo,
3
em sua maioria advogados, militares e industriais.
O PTB teve sua fundação, em 15 de maio de 1945, articulada dentro do
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e por toda estrutura do movimento
sindical. Reunia basicamente operários urbanos e sindicatos. Não possuía grandes
lideranças políticas nacionais ou estaduais, não se firmando como forte máquina
4
partidária. Segundo Ângela de Castro Gomes , o partido nasceu sob a sombra do
carisma de Vargas e cresceu tendo-o como sua própria face, por conta disso, o partido
teve maior abrangência no Rio Grande do Sul, sua terra natal, enquanto que suas bases
sindicais, em outras regiões do país, como o nordeste, eram bastante debilitadas.
5
Através da liderança do PTB, Vargas promovia a filosofia política do trabalhismo.
Segundo Marcelo Bodea, a missão do PTB seria “garantir a continuidade das conquistas
de 1930, principalmente a legislação trabalhista, que Vargas e seus seguidores
6
acreditavam ameaçadas pelas forças políticas liberais-conservadoras”.
3
http://www.tse.jus.br/hotSites/registro_partidário/.
4
GOMES, Angela de castro. “Trabalhismo e democracia: o PTB sem Vargas”. In: _____. Vargas e a
crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.p. 133-160.
5
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição, Rio de
janeiro - Paz e Terra, 2007.
6
Apud RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio
de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 246.
12
Outro partido, criado sob sua presença, foi a UDN, porém não devido à
proximidade, mas por se opor ferrenhamente a ele:
7
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 34)
8
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo: ambiguidades do liberalismo
brasileiro (1945-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. (coleção Estudos Brasileiros vol. 51). p. 23
9
Ibidem.
10
Apud RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio
de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001.p. 248
13
população ainda era muito relevante, de modo que seu sucessor não foi alguém da
oposição como esperava a UDN, mas alguém que partiu de suas ligações políticas. Ao
deixar a presidência Vargas não se afastou da política, se refugiou em sua terra natal,
São Borja, assumindo o cargo de senador pelo Rio Grande do Sul, de onde articularia
11
mais tarde sua volta ao Palácio do Catete.
11
D‟ARAUJO, Maria Celina S. (org.) O segundo governo Vargas 1951-1954: democracia, partidos e
crise política. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992. 206 p.
12
Ibidem.
13
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998 p. 99.
14
Apud CALONGA, Maurilio Dantielly. “O jornal e suas representações: objeto ou fonte da História?”
Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 79-87, nov
2012. p. 82.
14
Imprensa, rádio, imagens, não agem apenas como meios dos quais os
acontecimentos seriam relativamente independentes. Mas como a condição
de sua própria existência. A publicidade dá forma à própria produção dos
acontecimentos. Para que haja acontecimento é necessário que ele seja
conhecido. É por isso que as afinidades entre um tipo de acontecimento e um
meio de comunicação são muitas vezes tão intensas que eles nos parecem
15
inseparáveis.
15
ABREU, Alzira Alves; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. “Fechando o cerco: a imprensa e a crise
de agosto de 1954”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 1994. p.25.
16
LUCA, Tania Regina. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. IN: PINSKY, Carla (Org.). Fontes
históricas. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2008.
17
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. “História e análise de textos”. In: ______. (Org.).
Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 536-567.
18
Apud CALONGA, Maurilio Dantielly. “O jornal e suas representações: objeto ou fonte da História?”
Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 79-87, nov
2012.
19
SOSA, Derocina Alves Campos. “Imprensa e História”. Biblos, Rio Grande, 19: 109-125, 2006.
Disponível em: <http://www.seer.furg.br/biblos/article/view/258> acesso em 13 mai. 2015. p. 112.
20
Partimos do pensamento de que o Poder Simbólico, dado pelo propósito de fazer ver e fazer crer, age
com a equivalência do que seria conseguido pela força, porém com o reconhecimento e de certa forma,
permissão, de modo que ao ser reconhecido como legítimo, é ignorada a arbitrariedade de tal poder.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
15
O leitor é sempre, pensado pelo autor, pelo comentador, e pelo editor como
devendo ficar sujeito a um sentido único, a uma compreensão correta, a uma
leitura autorizada. Abordar a leitura é, portanto, considerar, conjuntamente, a
irredutível liberdade dos leitores e os condicionamentos que pretendem refreá-
26
la.
21
MOREL, Marco. “Em nome da opinião pública: a gênese de uma noção”. In: _____. As transformações
dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São
Paulo: Editora Hucitec, 2005. p. 200.
22
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983. p.
395.
23
SOSA, Derocina Alves Campos. “Imprensa e História”. Biblos, Rio Grande, 19: 109-125, 2006.
Disponível em: <http://www.seer.furg.br/biblos/article/view/258> acesso em 13 mai. 2015. p. 118.
24
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia das Letras,
1990.
25
CHARTIER, R. A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990. p. 16.
26
Ibidem, p. 123.
16
27
só o discurso, mas também a formalização da maneira de falar.” Daí nota-se como
recurso fundamental à imprensa o uso da retórica, pois é perceptível:
27
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
p. 153.
28
PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie.”Os âmbitos da argumentação”. In: Tratado da
argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 22.
29 Ibidem.
30
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. Tradução Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
31
CARVALHO, José Murilo. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi, Rio
de Janeiro, v. 1, p. 123-152, jan. 2000.
17
32
mobilizá-los para a escrita da História por meio da imprensa”. Vários fatores se dão
para isso, dentre eles o caráter tradicional dominante durante o século XIX e início do
XX, que tinha como ideal a busca da verdade, através de documentos marcados pela
objetividade, neutralidade e que estivesse num tempo distante do seu. Nessa
perspectiva, os jornais não eram adequados para a pesquisa histórica, uma vez que
trazem registros do cotidiano.
32
LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. IN: PINSKY, Carla (Org.). Fontes
históricas. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 112.
33
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Lisboa: Publicações Europa-América, 1983.
p. 97.
34
RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003.
35
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998.
36 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
18
37
de Marialva Barbosa de que, embora a obra de Sodré seja muito importante, e
devemos muito a ela, ficamos presos às limitações que o autor tivera enquanto a
produziu, então se vê a necessidade de novas abordagens teórico-metodológicas ao
propor uma relação entre imprensa e História.
As Novas perspectivas e abordagens da História Política se dedicaram a analisar
o poder por diversas perspectivas, não apenas pelos grandes acontecimentos, mas
entender também os micropoderes, as simbologias políticas, o imaginário político, e
nesse sentido houve a intenção de entender as relações de poder que perpassam a
produção de um jornal. O historiador da imprensa tem a possibilidade de refletir sobre
acontecimentos, atuações de certos grupos sociais e relacionar ao contexto em que
aparecem. Então, é notória a importância de ter o estudo dos periódicos como objeto de
38
pesquisas.
37
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007
38
CALONGA, Maurilio Dantielly. O jornal e suas representações: objeto ou fonte da História?
Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 79-87, nov
2012.
39
ABREU, Alzira Alves. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2008. p. 8.
40MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina. História da imprensa no Brasil. São
Paulo:Contexto,2008.
41
Ibidem, p. 8.
19
42
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Imprensa e História. Imprensa do Rio de Janeiro de 1950. Rio de
Janeiro: ECO- UFRJ, 2000. Tese de Doutorado.
43
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
44
CHARTIER, R. A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990
45
BARBOSA, Marialva. Como escrever uma história da imprensa? In: Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho, 2, 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis, abr.2004.
<www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/cd/grupos/jornalismo/trabalhos_selecionados/marialva_barbosa.doc>
acesso em 18 mai. 2015 p. 3.
20
Supremo Tribunal Federal entre 1912 e 1925, além de seus tios Fernando e Paulo de
48
Lacerda, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em depoimento Carlos
Lacerda afirmou: “fui criado num meio político. Ouvi falar de política em casa desde
49
que me entendo por gente”.
50
Figura 1: Sebastião de Lacerda com seus netos, Vera, Carlos e Mauricinho.
48
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998.
49
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 27.
50 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1992.
51
Ibidem.
52
Carlos Lacerda teve sua atuação política iniciada na Aliança Libertadora. A partir de então se
aproximou do PCB, até mesmo pela influência de seu pai e seus tios, participando de momentos
importantes da trajetória do Partido. Um exemplo disso foi ter sido escolhido para proferir o discurso de
lançamento de Prestes como presidente de honra da Aliança. No entanto, Lacerda nunca se filiou
efetivamente ao Partido. Dessa forma, sua expulsão está atrelada a um rompimento com a militância e
não uma desfiliação. LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
22
sua demissão dos Diários Associados, trabalhou no Correio da Manhã como free lancer
escrevendo uma coluna chamada Tribuna da Imprensa, que mais tarde seria o nome de
seu jornal.
Rejeitado pelos setores da esquerda, Lacerda se filiou à UDN, em 1945. Neste
partido estavam presentes representantes de diversos grupos políticos, visto que a
unidade ideológica não era a sua base, o que os unia era o desejo pelo fim do Estado
Novo, a volta da democracia e a repulsa a Getúlio Vargas. Desse modo, era possível
53
encontrar setores da direita e alguns dissidentes do PCB , entre os quais estava
Lacerda que se dedicou, naquele momento, em apoiar a candidatura de Eduardo Gomes.
A partir de então, sua principal bandeira a defender seria o antigetulismo.
Colocou-se em oposição ao trabalhismo e ao nacionalismo, não como uma ideologia
que seguisse, mas por ser uma forma de atingir Vargas. As principais características do
discurso de Lacerda eram o moralismo ascético na administração pública, o anti-
esquerdismo e a defesa da moral cristã. No campo econômico à medida que se
aproximou da ideologia e política liberais da UDN, se colocou junto àqueles que
defendiam a propriedade privada, a livre iniciativa e a aproximação do Brasil ao
54
ocidente capitalista. Desse modo ele passava a se dedicar ferrenhamente ao ataque a
Vargas e a tudo que se referia a ele.
Trabalhando no Correio da Manhã, de Paulo Bittencourt, Lacerda escreveu um
artigo se manifestando contra a concessão de refino de petróleo a dois grupos privados
nacionais: Soares Sampaio e Corrêa e Castro, enquanto defendia a participação do
capital estrangeiro na exploração petrolífera. Sua retórica devastadora para expressar
suas opiniões, que seriam sua marca como jornalista e político, incomodou o dono do
jornal por se referir contrariamente ao grupo Soares Sampaio, que era de propriedade de
amigos antigos de Paulo Bittencourt e este não permitiu a publicação do artigo de
Lacerda, fato que o fez solicitar sua demissão. Naquele momento, Lacerda se viu
convencido de que era a hora de montar seu jornal, e em conversa com Paulo
53
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
54 DELGADO, Márcio de Paiva. “O Golpismo Democrático: Carlos Lacerda e o Jornal Tribuna da
Imprensa na quebra da ilegalidade (1949-1964)”. Juiz de Fora, 2006. Disponível em: <
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2009/12/M%C3%A1rcio-de-Paiva-Delgado.pdf>.
23
Bittencourt, fez um pedido: “Me empresta o nome da Tribuna da Imprensa que eu vou
55
tentar fazer um jornal”.
Seu plano foi concretizado. A criação da Tribuna da Imprensa foi viabilizada
pela colaboração de empresas ligadas ao capital externo, que proporcionaram o
56
fornecimento dos recursos. “Com um capital de 12 mil Cruzeiros, nascia a Tribuna ”.
Assim, foi publicado o primeiro exemplar do vespertino, em 27 de dezembro de 1949.
Figura 2: Na Tribuna da Imprensa, preparações para a impressão do primeiro número. O líder da UDN,
57
Eduardo Gomes (na frente, de terno escuro), entre Carlos e Valter Cunto, repórter da Tribuna.
Quem lê esse jornal verá que não está mais sozinho. Chegamos para lhe fazer
companhia, dar-lhe a informação honrada; emprestar, também, à sua voz o
necessário eco. Gemer consigo as suas queixas, talvez guiá-lo nas horas de
vacilação, confortá-lo na dor, prepará-lo para reivindicação e para os dias de
58
vitória, afim de que, ao chegar, seja ela justa e bem aproveitada.
55
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 75.
56
Ibidem; O orçamento mínimo para o funcionamento do jornal, segundo Wilson Oliveira, secretário da
tribuna no período de sua criação, estimava despesas com instalação, com compras de máquinas, móveis
e outros equipamentos da ordem de 3 milhões e quinhentos mil cruzeiros. Isso sem contar os gastos com
pessoal, que somam cento e sessenta e quatro mil e oitocentos e quarenta cruzeiros, distribuídos entre
despesas com o pessoal administrativo (Cr$ 69.700,00) e com a redação (Cr$ 95.140,00). Com as oficinas
um gasto previsto de quase seis mil cruzeiros. BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa.
Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007 p. 166.
57 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1992.
58
Tribuna da Imprensa 27/12/1949.
24
bases sólidas para sua carreira política, agindo como defensor dos interesses burgueses
favoráveis ao capital estrangeiro.
60
Marina Gusmão Mendonça, em seu livro O demolidor de presidentes , defende
que além das divergências políticas, Lacerda se opunha cruelmente a Vargas com
intuito de fortalecer sua carreira política, por esse viés entende-se que a “liquidação de
Vargas se tornara a única possibilidade de vir a substituí-lo no imaginário popular”.
Vargas gozava de amplo prestígio por parte da população, e Lacerda estando do lado
oposto ao seu, não conseguiria alcançar tal prestígio à sombra de sua presença. Lacerda
buscou, então, fazer da imagem de Getúlio como se fosse a própria encarnação do
“demônio” culpando-o por todo mal que pudesse ocorrer no país. Assim, o jornal
representaria o interesse da oposição no pleito de 1950 e durante todo o segundo
mandato de Vargas.
Paralelo ao surgimento da Tribuna da Imprensa estava presente, a imagem
61
promissora de Samuel Wainer. Judeu, nascido na Bessarábia , no leste europeu, em 16
62
de janeiro de 1910 , veio para o Brasil, juntamente com seus pais Chaim (Jaime)
Wainer e Dvora (Dora Wainer), logo após o início da Primeira Guerra Mundial (1914).
59
DELGADO, Márcio de Paiva. Op. Cit. p. 76.
60
MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora Códex. 2002.
61
Sua nacionalidade mais tarde seria centro de grande conflito estimulado por Lacerda, que denunciou o
fato dele não ser brasileiro e possuir um jornal, coisa que a constituição não permitia, Wainer e seu irmão
José foram acusados de falsidade ideológica, rendendo a condenação de ambos.
62
No seu documento está datado de 1912, porém era comum na época atrasar os registros principalmente
em famílias de imigrantes e de poucas condições financeiras. LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Op. Cit.
25
63
Figura 3: Jaime e Dora Wainer com os filhos – Samuel Wainer é o segundo à esquerda.
Iniciou suas atividades jornalísticas na juventude, quando foi de São Paulo para
o Rio de Janeiro, colaborando com o jornal da Associação de Estudantes Israelitas. Em
1933, começou a trabalhar no Diário de Notícias, divulgando em sua coluna ideias da
colônia judaica no período de ascensão do nazismo. Trabalhou também na edição do
Almanaque Israelita e foi indicado por Wolf Klabin, de grande prestigio na colônia
judaica, para trabalhar na Revista Brasileira. Em 1935, Wainer juntamente com Caio
Prado Jr. lançou a Revista Contemporânea, que tinha como principal bandeira a luta
contra o fascismo e o antissemitismo. Em 1938 foi convidado por Antônio de Azevedo
Amaral, para lançar uma revista, Diretrizes, que foi criada graças ao apoio financeiro
conseguidos por Azevedo Amaral junto à Light. A revista fechou em 1944, e Wainer foi
trabalhar como correspondente do O Globo na Alemanha no fim da Segunda Guerra
Mundial e em 1947, foi trabalhar na redação de O Jornal, dos Diários Associados,
convidado por Assis Chateaubriand.
Foi enquanto trabalhava para Chateaubriand, que Wainer teve a grande
oportunidade para alavancar sua carreira. Em 1949, foi enviado ao Rio Grande do Sul
para fazer uma reportagem, onde aproveitou para tentar uma entrevista com Vargas. Foi
o início de uma grande parceria.
63
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1987.
26
Figura 4: Samuel Wainer durante entrevista com Getúlio Vargas para O Jornal de Assis Chateaubriand,
64
em 03/03/1949.
A entrevista ocorreu num momento bastante oportuno para ambos: para Getúlio,
que, às vésperas do período de eleições, tinha intenção de voltar como candidato e
devido ao pequeno período em que ficou “afastado” (1945-1950), precisava falar, ser
ouvido pela grande massa, a quem ele sempre se direcionou, e pelos adversários que o
queriam longe deste cenário. Já Wainer, com essa entrevista alcançou um prestígio
como jornalista, por ter conseguido obter de Vargas a declaração que muitos esperavam:
que ele disputaria as eleições de 1950. Além disso, iniciou uma jornada ao lado do ainda
ex- presidente, conseguindo o apoio necessário para viabilizar a criação de seu próprio
jornal, em 1951.
A participação destes dois jornalistas foi de grande importância para a
construção dos caminhos a serem seguidos durante as eleições e estariam no centro das
principais disputas políticas na década de 1950.
64
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998.
27
A essa altura, Vargas contava com a ajuda do jovem João Goulart, com quem
67
construíra grande amizade durante sua temporada em São Borja. Goulart passou a
atuar em favor de sua candidatura. Para ele, a parceria com Ademar de Barros não era
bem vista, pois não confiava nele, além de defender a ideia de que Vargas não precisava
desta parceria para vencer, já que havia apelo popular pela sua volta. Numa das cartas
que costumava enviar a ele, falava sobre o que pensava sobre as intenções de Ademar:
“na minha opinião, o que ele deseja no movimento é a criação de um ambiente de
68
confusão. [...] O mais provável é que o homem quer mesmo é agitação”. No entanto, a
experiência de Vargas o fez preferir o apoio de Ademar, pois embora fosse fundador do
PTB, acreditava que este partido, sozinho, não teria força para disputar uma eleição
69
presidencial.
Além do apoio partidário, também era necessário, sondar o apoio dos militares.
Em 1949, Vargas e Ademar buscaram saber de Góes Monteiro de que maneira os
militares reagiriam à sua candidatura. Foi assegurado por ele que não haveria no seio
das Forças Armadas, a intenção de impedir sua posse, caso fosse eleito. Diante das
condições analisadas, Ademar de Barros anunciou publicamente, a candidatura de
65
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição,
Rio de janeiro - Paz e Terra, 2007.
66
Ibidem, p. 104.
67
FERREIRA, Jorge. “Ao mestre com carinho, ao discípulo com carisma: as cartas de Jango a Getúlio”.
In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Escrita de si. Escrita da História. Rio de janeiro: Editora FGV,
2004.
68
Ibidem, p. 288.
69
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001.
28
Vargas, em Junho de 1950, pela aliança PTB/PSP, tendo como complemento da chapa,
a indicação de Café Filho para vice-presidente, vinda do PSP.
O nome de Cristiano Machado não foi capaz de unir o partido em seu favor e o
fracasso da unidade dentro do PSD pode ser atribuído à intransigência do General
Dutra, que rompeu com Vargas, não o aceitando como candidato. Diante disso, “o PSD
aderiu à cristianização: o candidato do partido foi abandonado à própria sorte, e sua
candidatura foi praticamente esvaziada, uma vez que os mais expressivos líderes
71
pessedistas aderiram a Getúlio Vargas”.
A UDN, por sua vez, apostou novamente no Brigadeiro Eduardo Gomes.
Embora o partido tivesse sido o primeiro a escolher um candidato, não havia
unanimidade entre os seus membros quanto sua candidatura, pois, uma vez que, o
Brigadeiro fora derrotado em 1945, “as chances de vitória udenista, que se pareciam tão
72
seguras na „redemocratização‟, eram, em 1950, praticamente nulas”. Julgava-se
necessário optar por um nome que tivesse maiores chances de vitória. Carlos Lacerda
foi um dos que ressaltaram essa necessidade, como consta em seu depoimento:
Foi quando eu sustentei que a UDN era um partido que não tinha vocação de
poder e que eu não tinha vocação para “derrotas gloriosas”. Que eu achava
que estava na hora de disputar o poder. É para isso que os partidos existem.
Que nós tínhamos de ter um candidato capaz de disputar o poder em
condições mínimas de vitória. Isso até um certo ponto. E chegou ao ponto em
70
RIBEIRO, José Augusto. Op. Cit.
71
HIPPOLITO, Lucia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. Anos 90. Porto Alegre, v. 11, n.
19/20, p. 21-47, jan./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.seer.ufrgs.br/index.php/anos90/article/view/6350> acesso em 05 mai. 2015. p. 28.
72
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo: ambiguidades do liberalismo
brasileiro (1945-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. (coleção Estudos Brasileiros vol. 51). p. 77.
29
Dr. Cristiano parece que o senhor vai ser candidato pelo PSD. E já está
lançada a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes. Isto significa a vitória
do Dr. Getúlio Vargas. Só há uma maneira, talvez, de se entenderem: ou é o
Brigadeiro desistir da candidatura dele em seu favor ou é o senhor desistir da
sua candidatura em favor do Brigadeiro. A segunda hipótese me parece
melhor, não por nenhum desapreço ao senhor, mas é porque é muito mais
fácil levar o seu eleitorado para o Brigadeiro do que trazer o do Brigadeiro
75
para o senhor.
É, nesse caso, nós vamos para a derrota, o senhor e nós! Com a diferença que
o senhor vem em terceiro lugar. [...] O senhor e o Brigadeiro, vão ficar com a
responsabilidade da volta de Getúlio ao poder. E, depois para tirar esse
homem vai custar muita coisa ao Brasil. Vai ser um negócio muito difícil.
76
Por eleição não se tira: ele já ganhou.
Diante desta fala, pode-se perceber uma ponta do desespero da oposição que
tinha consciência da popularidade de Vargas, e que por via eleitoral não seria possível
impedir sua volta, a partir de então, ela estabeleceu a meta de afastar Vargas do cenário
político a qualquer preço, como demonstra a fala de Lacerda: “O Sr. Getúlio Vargas
senador não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não
deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de
77
governar”.
Neste cenário, portanto, as candidaturas à presidência e vice-presidência da
República, de 1950, se configuraram da seguinte maneira:
Vargas não teve muito tempo para percorrer o país em sua campanha. Nos meses
de agosto e setembro, se dedicou em visitar todos os estados e as principais cidades do
país. Sua campanha não contou com o apoio da grande imprensa, naquele momento
contava apenas com o apoio de Samuel Wainer, que mais tarde seria seu amparo
midiático com o jornal Última Hora. Porém, sua candidatura foi muito bem recebida
76
Ibidem.
77 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1992 p. 135.
78
D‟ARAUJO, Maria Celina S. (org.). O segundo governo Vargas 1951-1954: democracia, partidos e
crise política. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 78
31
pelo povo, que mantinha viva, a imagem do presidente que lhes oferecera direitos e
melhores condições de trabalho.
João Goulart percorreu pelo Rio de Janeiro e São Paulo, buscando informações
quanto à popularidade de Vargas, concluindo que, embora ele tivesse que se preparar
para enfrentar uma campanha dura, teria como estratégia fazer com que:
No entanto, para Vargas, vencer as eleições não era o mais difícil, mas sim o que
viria após a vitória. Em julho de 1950, ele concedeu uma entrevista à Folha da Noite, de
São Paulo, onde apresentou os pontos básicos de sua candidatura e demonstrou suas
preocupações, que seriam confirmadas em 1954:
Conheço o meu povo e tenho confiança nele. Tenho plena certeza de que
serei eleito, mas sei também que pela segunda vez não chegarei ao fim do
meu governo. Terei de lutar. Até onde resistirei? Se não me matarem, até que
79
LEOPOLDI, Maria Antonieta. “O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no
segundo governo Vargas (1951-1954)”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos
50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p.162
80
FERREIRA, Jorge. “Ao mestre com carinho, ao discípulo com carisma: as cartas de Jango a Getúlio”.
In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Escrita de si. Escrita da História. Rio de janeiro: Editora FGV,
2004.p. 290.
32
ponto meus nervos poderão aguentar? Uma coisa digo: não poderei tolerar
81
humilhações.
Realmente Vargas pôde contar com o povo: venceu as eleições com 48,7% dos
votos, seguido pelo Brigadeiro Eduardo Gomes (29,7%), Cristiano Machado (21,5%) e
João Mangabeira (0,1%). Café Filho venceu para vice-presidência, consolidando a
82
vitória da união PTB/PSP. “Vargas se elegeu com quase 3.850.040 votos, num
83
eleitorado que atingia 8.254.989 votantes”. Naquele momento, o cenário era diferente
das eleições de 1930, onde se fraudavam os resultados facilmente. Em 1950 essa prática
havia se tornado mais difícil, pois o voto era secreto e contava com as garantias
previstas pela Justiça Eleitoral.
O fracasso da UDN foi atribuído, em parte, à falta de um projeto de governo
consistente, capaz de concorrer com toda experiência já mostrada por Vargas no seu
primeiro mandato. A fraqueza do programa foi demonstrada por Perseu Abramo, na
Folha Socialista, em Outubro de 1950:
81
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 312.
82
AURÉLIO, Daniel Rodrigues. Dossiê Getúlio Vargas. São Paulo: Universo dos Livros, 2009.
83
LEOPOLDI, Maria Antonieta. “O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no
segundo governo Vargas (1951-1954)”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos
50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 164.
84
Apud BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo: ambiguidades do liberalismo
brasileiro (1945-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. (coleção Estudos Brasileiros vol. 51). p. 79
85
Tribuna da Imprensa, 06/10/1950.
33
recorrer a algum modo de impedir seu governo. Assim que foi apresentado o resultado
das eleições, o partido argumentou que Vargas não poderia tomar posse por não ter
alcançado a maioria absoluta de votos. A campanha foi bem recebida e amplamente
divulgada por Lacerda, em seu jornal. No exemplar da Tribuna da Imprensa, em 06 de
Novembro de 1950, foi feita uma comparação entre a eleição de Hitler, em 1933 com a
de Vargas naquele ano, visto que a imagem de Vargas como ditador, era um trunfo nas
mãos dos opositores. Assim dizia:
Como Hitler, Getúlio Vargas teve agora maioria relativa, mas não maioria
absoluta nas eleições. Quer dizer: uma parte considerável do povo brasileiro julga
que Getúlio deve ser o presidente. Mas a maioria não julga assim. Prova: Getúlio
não teve a metade mais um dos votos apurados. [...] Getúlio teve também maioria
86
relativa. Vamos, por isso, repetir o erro da Alemanha?
Tão clara era a omissão da Constituição quanto a isso, que não havia nela
nenhuma menção ao que deveria ser feito diante da ausência de maioria absoluta.
Porém, uma vez que não estava clara a necessidade de obter metade dos votos mais um,
os advogados da UDN poderiam ter sanado esta dúvida antes das eleições, assim já
estaria definida tal exigência. No entanto, não o fizeram: primeiro por não acreditarem
86
Tribuna da Imprensa, 06/11/1950.
87
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm.
88
Tribuna da Imprensa, 06/11/1950.
34
na vitória de Vargas e também, para não prejudicar o Brigadeiro, caso não alcançasse a
maioria absoluta de votos.
Além de não conseguir êxito em relação à maioria absoluta, a UDN não pôde
contar com apoio do Exército para derrubar o novo presidente, pois a maioria dos
superiores decidiu se posicionar pela manutenção da legalidade. Dutra e o ministro da
Guerra, Canrobert Pereira, respeitaram a decisão do Tribunal Superior Eleitoral em
permitir a posse de Vargas. Para maior segurança, os generais, favoráveis ao presidente,
Estillac Leal e Zenóbio da Costa, declararam em reunião no Clube Militar que Vargas
estava eleito.
90
Lúcia Hipolitto salienta que, a partir da vitória de Vargas se iniciou um
processo político de grande dificuldade para os anos que se seguiram, pois a oposição
sofrida pela UDN, desde o período da sua candidatura se acirrou após sua eleição para
mais um mandato na presidência. A UDN tentando impedi-lo de governar, a imprensa
que não deu nenhuma cobertura à sua volta e a falta de um bloco partidário de apoio no
Congresso foram as principais dificuldades. Vargas sofreu:
89
BONFIM, João Bosco Bezerra. Palavra de presidente: os discursos presidenciais de posse, de
Deodoro a Lula. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/91988> acesso em 22 de abril
de 2016. pg 238-240
90
HIPPOLITO, Lucia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. Anos 90. Porto Alegre, v. 11,
n. 19/20, p. 21-47, jan./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.seer.ufrgs.br/index.php/anos90/article/view/6350> acesso em 05 mai. 2015.
35
91
ABREU, Alzira Alves; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. “Fechando o cerco: a imprensa e a crise
de agosto de 1954”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 1994. p. 24.
92
LEOPOLDI, Maria Antonieta. “O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no
segundo governo Vargas (1951-1954)”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos
50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 161-204.
93
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
36
Após tomar posse, pela segunda vez, como Presidente da República, Vargas já
sofria forte perseguição por parte da imprensa e agora, com um governo constituído era
necessário que tivesse algum amparo midiático. Para isso, podia continuar contando
com Samuel Wainer que lhe mostrou lealdade desde 1949. Assim, ele sugeriu a Wainer
94
que criasse um jornal, colaborando para que o projeto se realizasse. Para Wainer essa
era a grande oportunidade de sua vida, a chance de mostrar que um imigrante, judeu, de
origem pobre, havia vencido, então passou a se dedicar com afinco a este projeto. Assim
nascia a Última Hora, em 12 de Junho de 1951, e seria um periódico de grande sucesso.
95
Figura 5: Samuel Wainer assiste à impressão do primeiro número de Última Hora.
Figura 6: Nas oficinas de a Última Hora, na av. Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, Samuel Wainer e
96
equipe retiravam das rotativas o primeiro exemplar da Última Hora, em 12/6/1951.
94
WAINER, Samuel. Samuel Wainer I (depoimento, 1996). Rio de Janeiro, CPDOC/ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), 2010.
95
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1987.
37
Segundo a direção do jornal, o seu objetivo era “abrir espaço para o presidente e
sua equipe, e para classe média baixa urbana, que começava a ter força no jogo político
97
da época”. No exemplar de inauguração, Wainer apresentou um editorial
transcrevendo a carta enviada por Vargas, onde discorria sobre a importância do jornal e
suas expectativas para com ele. Acompanhando a carta, dizia:
Wainer esclarecia as metas do jornal, dizendo: “esta era a rota que traçamos para
99
este jornal, fazendo-o cada vez mais um jornal do povo para o governo”. O que era
publicado no jornal deveria estar em concordância com o presidente, pois ele
acompanhava minuciosamente o que era publicado e se irritava, inclusive, quando se
publicava algo contra ele ou quando se omitia algum acontecimento positivo a seu
100
respeito. Exemplo disso é o bilhete que Samuel Wainer escreveu a Vargas acerca de
101
um editorial intitulado “Um caso de frustração política”, em que o jornal se
pronunciava contra Odilon Braga, presidente da UDN. No bilhete Wainer dizia:
96
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998.
97
Ibidem, p. 53.
98
WAINER, Samuel. Coluna de Última Hora. Última Hora, 12 jun. 1951.
99
Última Hora, 13/06/1951.
100
GOMES, Angela de Castro (coordenadora). Getúlio escreve a Lourival: os bilhetes à Casa Civil da
Presidência da República (1951-1954). Aracaju: Edise, 2015.
101
Última Hora, 30/08/1952.
102
CPDOC ( GV c 1952.08.30/3).
38
Desse modo, percebe-se que o jornal seguia como um meio em que o presidente
buscava, realmente, propagar as ideias do governo, visto que era necessário para manter
o vínculo que construíra com o povo, por isso a preocupação em avaliar o que era
publicado. Durante o Estado Novo (1937-1945), o Departamento de Imprensa e
propaganda (DIP), realizou a tarefa de propagar a imagem de Vargas e as conquistas de
seu governo, fator esse, que contribuiu muito para a relação intensa de proximidade com
a classe trabalhadora. Agora, o presidente regendo um governo democrático, buscou
adequar a necessidade de um apoio midiático às liberdades de imprensa e isso ficou
notório através da forma como Wainer trabalhou com seu jornal, era a favor do
governo, assumiu um compromisso com ele, mas promoveu uma diversidade de
informações e técnicas na forma de produção jornalística, se destacando não só pelas
suas ideias políticas.
Última Hora representaria uma grande inovação para a imprensa brasileira,
reforçando o vínculo existente entre a população e o presidente, garantindo seu sucesso.
O jornal dizia que “a imprensa pode e deve estar ligada ao povo, ÚLTIMA HORA não
105
fugirá a essa obrigação”. Essa ligação era mantida, principalmente, na coluna
intitulada “O Dia do Presidente”, que trazia as principais ações do presidente no dia
anterior, informando as principais decisões tomadas por ele, uma espécie de boletim,
um diário em que a população estava sempre ciente das ações do presidente.
Diante do desenvolvimento de uma boa estrutura e do fato da Última Hora estar
em defesa de Vargas, indo pela contramão da maioria dos periódicos naquele momento,
103
GOMES, Angela de Castro (coordenadora). Getúlio escreve a Lourival: os bilhetes à Casa Civil da
Presidência da República (1951-1954). Aracaju: Edise, 2015. p. 117.
104
Ibidem, p. 151.
105
Última Hora, 13/06/1951.
39
o jornal atraiu inimigos, que se sentiam ameaçados com a popularidade conquistada tão
rápido, por ele. Nesse sentido, um de seus principais inimigos seria Carlos Lacerda,
através da Tribuna da Imprensa, por ser o inimigo mais aguerrido de Vargas e rival
ressentido de Wainer já a algum tempo, de modo que passou a destinar seus ataques a
este jornal visando destruir dois desafetos de uma só vez.
106
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. 8ªed. Rio de Janeiro:
Record,1987. p. 73-74; MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora
Códex. 2002.p. 127.
107
Ibidem, p. 148.
40
Com esse histórico, a imprensa brasileira tem a década de 1950 como um marco,
pois a partir desse momento ela passou por um processo de modernização, inovando a
112
sua forma de atuação. Para Marialva Barbosa esta década, pelo ponto de vista dos
atuantes da imprensa, foi o “momento mais singular de sua trajetória”.
108
MOREL, MARCO. “Os primeiros passos da palavra impressa”. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania
Regina. História da imprensa no Brasil. São Paulo:Contexto, 2008.
109
Ibidem, p .37.
110
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. “Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos
anos 1950”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 31, 2003. p. 147.
111
Ibidem, p. 148.
112
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007.
41
113
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Op. Cit. p. 148.
114
ABREU, Alzira Alves de. “Os suplementos literários: os intelectuais e a imprensa nos anos 50.” In:
ABREU, Alzira. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2008. p.16.
115
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007. p. 150.
116
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. “Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos
anos 1950”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 31, 2003. p. 149.
42
117 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova Fronteira, Rio
de Janeiro, 1992. p. 127.
118
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. O adiantado da Hora. A influência americana sobre o jornalismo
.
brasileiro. 2 ed. São Paulo: Summus, 1991.
119
Grupo de redatores, cuja função era revisar e, se necessário, reescrever as matérias para dar-lhes uma
unidade de estilo. Seu papel era essencialmente disciplinador: fiscalizava se os textos estavam de acordo com
as normas de redação. RIBEIRO, Ana Paula Goulart. “Jornalismo, literatura e política: a modernização da
imprensa carioca nos anos 1950”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 31, 2003. p.
151.
43
Podemos assim dizer, que por ser um processo de mudanças, além das rupturas,
também é possível observarmos, consequentemente, as continuidades. Embora os
jornais passassem a buscar maior neutralidade e objetividade, a carga opinativa não foi
abandonada por completo das publicações. Um exemplo disso foi a Tribuna da
Imprensa, que de início não demonstrava os aspectos inovadores esperados no momento
de modernização da imprensa.
A Tribuna da Imprensa viveu em suas páginas a ambiguidade daquele período
transitório, pois:
Não trazia nenhuma contribuição às artes gráficas e o próprio papel,
importação francesa, pouco encorpado, não ajudava a apresentação. O título
do jornal, encimado a página, em toda a extensão, quebrava o usual dos
120
ABREU, Alzira Alves de. “Os suplementos literários: os intelectuais e a imprensa nos anos 50.” In:
_____. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
p.16.
121
A criação, do ensino superior de jornalismo, em 1943 por Getúlio Vargas, foi fundamental para a
profissionalização dos jornalistas. Até então alguns jornalistas possuíam ensino superior, porém
geralmente nas faculdades de direito, mas grande parte não tinha concluído nem mesmo o equivalente ao
ensino médio. Ibidem, p. 152.
122
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007. p. 157.
44
123
OLIVEIRA,1966 apud BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2007 p. 165.
124 Apud DELGADO, Márcio de Paiva. O Golpismo Democrático: Carlos Lacerda e o Jornal Tribuna da
Imprensa na quebra da ilegalidade (1949-1964). Juiz de Fora, 2006. Disponível em: <
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2009/12/M%C3%A1rcio-de-Paiva-Delgado.pdf> p. 58.
125
BARBOSA, Marialva. BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007.
45
Esse foi um dos fatores que impulsionou Lacerda a direcionar seus ataques ao
jornal de Wainer, visto que “a Tribuna era um jornal pequeno e não possuía tiragem
127
suficiente para transformá-lo num jornal da grande imprensa”.
126
ABREU, Alzira Alves; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. “Fechando o cerco: a imprensa e a crise de
agosto de 1954”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1994 p. 29.
127
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007 p. 167.
128
ABREU, Alzira Alves; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. “Fechando o cerco: a imprensa e a crise de
agosto de 1954”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1994. p. 30.
46
129
Tiragem dos vespertinos cariocas
(em mil exemplares)
Jornais/ Ano 1951 1952 1953 1954 1955 1958 1960
Tribuna da 30 25 25 40 40 24 18
Imprensa
Somos sem dúvida um jornal que faz opinião. Uma linha publicada neste
jornal tem influência na opinião pública, bem acima do que poderia esperar
quem estritamente olhasse para o número de exemplares que o jornal vende,
e que vai de 20 a 25 mil exemplares por dia. (Somos, também, um jornal que
130
divulga francamente a sua tiragem.).
Nesse caso, “para Lacerda, ambicioso e vaidoso, o sucesso da Última Hora seria
de difícil aceitação, tanto mais que, sendo um vespertino, concorreria diretamente com a
Tribuna da Imprensa, muito pobre de vendagem”. Isso é demonstrado na virulência que
ele atacava o rival, que em parte se remetia ao incômodo com o seu sucesso. Pois, além
de todo sucesso comercial, representava a voz de seu maior inimigo.
Embora a Última Hora tivesse tiragem muito superior à da Tribuna, e seja até
hoje lembrada por muitos outros de seus aspectos especificamente jornalísticos,
independentemente de sua origem e razão de ser políticas, não há dúvida de que
o jornal de Wainer representava o outro ponto extremo do espectro
político/jornalístico da cobertura da crise, com seu apoio incondicional à figura
131
de Vargas.
129
BARBOSA, Marialva. Op. Cit .p. 155.
130
Tribuna da Imprensa, 27/12/1950.
131
ABREU, Alzira Alves; LATTMAN-WELTMAN, Fernando. “Fechando o cerco: a imprensa e a crise de agosto de
1954”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
p.31.
47
Ana Abreu Laurenza chama atenção para se perceber que, entre os periódicos
abordados:
A luta de fato era desigual em termos jornalísticos. A Tribuna da Imprensa era o
representante menor dos jornais da grande imprensa, cuja linha editorial cobria
os fatos na ótica dos proprietários da terra, dos bacharéis, dos originários do setor
exportador. [...] a Última Hora passa praticamente sozinha a historia do
jornalismo entre 1951 e 1954, como um órgão da grande imprensa que dava voz
133
aos grupos populares.
Nesse sentido, entender a atuação e rivalidade entre esses dois jornais nos remete
a observar que o embate entre eles, em especial a campanha da Tribuna da Imprensa
contra Vargas e Última Hora, contribuiu muito para a desestabilização do governo.
Assim, é visível que as questões políticas nunca desapareceram totalmente, sendo um
ponto fundamental na estrutura dos jornais, que jamais deixaram de prestar a função de
instrumento político.
135
BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa. Brasil 1900-200. Rio de Janeiro: Mauad X,
2007. p. 151.
49
136
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição, Rio de janeiro -
Paz e Terra, 2007. p. 133
137
Ibidem.
50
138
No entanto, como ressalta Benevides, não podemos definir a UDN como o
partido da classe média, devido à dificuldade em se estabelecer uma exata relação
partido/classe no Brasil. Na UDN, assim como no PSD, se viam representados grupos
da grande burguesia, nacional ou estrangeira, a pequena burguesia seja empresarial ou
profissional. A única representação nunca vista na UDN fora o povo, pois nunca foi e
nem houve interesse de sua parte ser um partido popular. Podemos atentar para a
existência de várias UDNs, se pensarmos que no Rio de Janeiro, por exemplo, ela estava
ligada à classe média, mas no norte e nordeste sua base era mais parecida com as bases
do PSD. Afonso Arinos definiu a UDN como: “o partido que tem a cabeça na cidade e o
corpo no campo.” No caso de São Paulo, Arrobas Martins ressaltou:
Se a UDN fosse realmente o partido da classe média ela teria uma expressão
muito forte em São Paulo. Quer dizer, nem mesmo a classe média estava na
UDN. A maioria dos udenistas pertencia à classe média, mas a maioria da
classe média não era udenista. A classe média estava muito dividida entre
139
PSD, PSP, UDN.
138
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo: ambiguidades do liberalismo
brasileiro (1945-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. (coleção Estudos Brasileiros vol. 51).
139
Ibidem. p. 213
140
HIPPOLITO, Lucia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. Anos 90. Porto Alegre, v. 11,
n. 19/20, p. 21-47, jan./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.seer.ufrgs.br/index.php/anos90/article/view/6350> acesso em 05 mai. 2015.p. 29.
141 D‟ARAUJO, Maria Celina S. O segundo governo Vargas 1951-1954: democracia, partidos e crise
política. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992. 206 p. 28.
142 HIPPOLITO, Lucia. Op. Cit.
51
143
não como líder de partidos e sim como líder de massas” . No primeiro Dia do
Trabalho, após sua eleição, o presidente ressaltou:
143
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1987.
144
GOMES, Ângela de Castro (Org.). Getúlio escreve a Lourival: os bilhetes à Casa Civil da
Presidência da República (1951-1954). Aracaju: Edise, 2015. p. 352.
145
D‟ARAUJO, Maria Celina S. Op. Cit. p. 25.
52
146
República”. Por conta disso, durante a primeira fase do governo (1951-1952), o
relacionamento com o PTB gaúcho foi frio e distante.
Vargas desejava encontrar um modo de conciliar a maior quantidade de setores
políticos possível, isso é perceptível diante do quão heterogêneo era seu ministério.
Ainda que durante seu governo tenha respeitado o Congresso como uma
importante agência decisória de representação partidária, Vargas não ligava a
presidência e sua figura a um ou mais partidos. Essa posição suprapartidária
era vista por ele como um trunfo para conciliar e montar acordos. Dessa
forma ele buscava encontrar, na conciliação interpartidária, o caminho do
147
meio que viabilizaria a arrancada desenvolvimentista a que se propunha.
Vargas tentou buscar o caminho do meio, porém não gozava de credibilidade por
parte dos setores políticos, pois sua imagem estava marcada pelo passado de ditador.
Havia uma crise de desconfiança em relação a um possível golpe de Vargas em seus
148
opositores. Com a intenção de amenizar tal desconfiança, ele buscou alguma
aproximação com a UDN, visando também atrair os olhares da classe média, que
crescia em número de votos, porém suas tentativas foram fracassadas e lhe trariam
consequências. A busca pelo consenso máximo foi prejudicial para os partidos e para
ele, pois a UDN não tinha o menor interesse em uma conciliação com o presidente, seu
objetivo era bem definido: tirá-lo do poder! Enquanto buscou conquistar um inimigo,
Vargas deixou de conquistar seus aliados, causando grande descontentamento nos
setores do PSD e PTB, contribuindo para ressaltar a fragilidade de seu governo.
146
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 321
147
LEOPOLDI, Maria Antonieta. “O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no
segundo governo Vargas (1951-1954)”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos
50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 161-204. pg 165.
148
D‟ARAUJO, Maria Celina S. (org.) As Instituições brasileiras da Era Vargas. Rio de Janeiro: Ed.
UERJ: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999. 212p.
53
154
LEOPOLDI, Maria Antonieta. “O difícil caminho do meio: Estado, burguesia e industrialização no
segundo governo Vargas (1951-1954)”. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Vargas e a crise dos anos
50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 161-204. p.165
55
Diante dessa posição, a UDN, viu que poderia prejudicar Vargas, pois com um
projeto tão criticado, seria tornado inviável, contribuindo para que o real interesse deste
partido fosse possível, já que a maioria da UDN apoiava o projeto do Estatuto do
Petróleo, que fora criado no governo Dutra, essencialmente “entreguista”. Por um
momento, estrategicamente, a UDN tentou ser mais nacionalista que o próprio Vargas.
156
A estratégia udenista pôde ser sentida na imprensa. A grande imprensa
brasileira era majoritariamente favorável à iniciativa privada, uma vez que estavam
comprometidas com uma economia liberal, seja através de grupos nacionais ou
estrangeiros. Última Hora e Tribuna da Imprensa defenderam o monopólio estatal,
porém com enfoque distinto em suas defesas.
Na Tribuna da Imprensa, apareceu em destaque a fala do deputado udenista
Aliomar Baleeiro, criticando o posicionamento do presidente no projeto:
A Tribuna acusava o governo de ser “entreguista”, e que estaria indo contra suas
promessas de defender uma economia nacional, o que demonstra uma inversão de
posição, pois o pensamento liberal era proveniente da UDN, então por que não apoiar
um empreendimento que contava com uma administração mista? Porque enfraquecer o
presidente para viabilizar o fim do seu mandato era mais importante, o que nos deixa
claro que, não havia trégua por parte da oposição.
Última Hora, por sua vez, buscava esclarecer à população sobre o que visava
este Projeto, rebatendo as críticas. No dia em que o documento foi enviado, pelo
presidente, ao Congresso, o periódico declarou que com o Projeto do Petróleo de
Vargas, o Brasil deixava a sua condição “humilhante e perigosa” de dependência
155
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p.366.
156
CARVALHO JR, Celso. A criação da Petrobras nas páginas dos jornais O Estado de S. Paulo e
Diário de Notícias. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências e Letras – Universidade
Estadual Paulista, Assis-SP, 2005, 180 f. : il.
157
Tribuna da Imprensa, 12/12/51.
56
internacional, como o presidente havia prometido durante sua campanha. Com isso, era
apresentado que o país estava diante de um grande avanço, que era a exploração do
petróleo em nosso território e, independente de ter ou não o monopólio estatal, o
importante era enxergar o progresso que a Petrobrás trazia para o Brasil. A principal
crítica do jornal era que a oposição, principalmente a Tribuna da Imprensa, estava
acusando o governo por questões particulares, não direcionando a atenção para o que
realmente tinha valor naquele momento, ou seja, para o Projeto de um modo geral. O
vespertino dizia que a criação da empresa Petróleo Brasileiro S.A. “era mais importante
158
do que Volta Redonda, de maior alcance do que a Companhia do Vale do São
159
Francisco, de relevância superior a Vale do Rio Doce”.
No exemplar de 12 de dezembro de 1951, a Última Hora fez uma defesa ao
governo, fazendo um breve “tutorial” de como funcionaria a empresa. Em primeiro
lugar mostrava que bastava ter um pouco de bom senso para perceber que o capital
misto não atrapalhava o nacionalismo, visto que 51% das ações seriam pertencentes ao
governo. Além disso, explicava como seria a organização da empresa, como seriam
escolhidos os membros do Conselho de Administração, ressaltando a seriedade e
qualidade do Projeto. Após explicar o funcionamento, reiterava: “dentro de tais normas
de Constituição do corpo diretor da “Petrobrás” não pode prevalecer outro interesse que
160
não o nacional”.
O posicionamento da oposição diante da questão do petróleo, nos deixa bem
claro o quanto foi intensa a perseguição a Vargas e mostra a que ponto chegou essa
rivalidade, pois tirar o presidente do poder, a qualquer custo, foi levado muito a sério, se
apresentando de uma forma exagerada, se assemelhando a uma birra infantil, como por
exemplo, os termos utilizados na Tribuna da Imprensa ao se referir ao presidente ou
seus aliados como: “bobo”, “palhaço”, “idiota”. Desse modo, a conjuntura exigia de
Vargas maior esforço para conseguir dar sequência aos seus planos e cumprir as
promessas feitas ao povo, durante sua campanha, afinal, este era seu maior objetivo
desde que decidiu pela Presidência novamente.
Os problemas não se encerraram com o fim do primeiro ano de governo, a partir
de 1952, aumentaram as dificuldades econômicas, principalmente devido à vitória do
158
Aqui se faz referencia à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), localizada em Volta Redonda, criada no
primeiro governo Vargas.
159
Última Hora, 7/12/1951.
160
Última Hora, 12/12/51.
57
Diante disso, o ano de 1953 se iniciou com a inflação em alta e com a queda dos
salários. Vargas não conseguiu manter a política de combate à inflação, principalmente,
devido à queda nos preços do café e a mudança no rumo da política externa, a partir do
162
resultado das eleições presidenciais norte-americanas.
161
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954,1955 e 1961. In: ______; DELGADO, Lucília de
Almeida Neves (org). O Brasil Republicano. O tempo da experiência democrática, da democratização de
1945 ao golpe civil-militar. Civilização Brasileira, RJ: 2003. p. 301-343.
162
MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora Códex. 2002.
163
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição, Rio de janeiro -
Paz e Terra, 2007. p. 145.
164
Diário do Congresso Nacional, 10/03/1953. p. 1623.
165
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora SENAC,
1998.
58
166
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 100.
167
Última Hora 28/03/1953.
168
Apud MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora Códex. 2002. p.
124.
59
aversão à violência e também, do ponto de vista político era mais vantajoso ser o
169
responsável por melhorias.
Lacerda, assim como todos os homens da grande imprensa, via a Última Hora
como grande rival comercial, visto que o periódico cada vez mais aumentava sua
tiragem e prestígio popular. Segundo ele, era “um jornal que pelo mesmo preço que a
gente vendia, fornecia um suplemento colorido diário, pagava os melhores salários da
169
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001.
170
Ibidem, p. 124.
60
171
praça e arrebanhou o que de melhor havia em colaboração e técnicos”. Além disso,
por ser um jornal a favor do presidente da República, causava ainda mais desconforto.
Lacerda, por sua vez, traz outra versão para o ocorrido. Segundo ele, um
repórter, do qual nem se lembrava do nome, publicou uma reportagem na Tribuna da
Imprensa, que também alegou não se lembrar do assunto, desmentindo-a depois, na
Última Hora, levando a entender que seu jornal publicou uma notícia falsa, sendo que o
171
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 125
172
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora SENAC,
1998.
61
autor da falsificação não fora o repórter, visto que ele quem estava denunciando. O
ocorrido foi interpretado por ele como uma possível armação de Wainer contra seu
jornal, já que alegou “que não tinha nada a ver com isso, tinha apenas publicado a
173
entrevista, confiando no repórter que a tinha feito”. Lacerda utilizou tal situação
como pretexto para disparar, com mais ênfase, a crítica aos recursos recebidos pela
Última Hora. Wainer entendia as motivações de Lacerda para o levantamento de
acusações:
Era preciso destruir meu jornal, sob o pretexto de que a Última Hora
representava uma ameaça à imprensa brasileira. Na linha de raciocínio de
Lacerda, era preciso provar que a Última Hora recebera irregularmente
dinheiro do governo, para liquidar o jornal e, em seguida, destruir Getúlio
174
Vargas.
173
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 126
174
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1987. p
140.
175
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
62
Wainer defendeu que instalar uma CPI seria um mecanismo para desarmar
Lacerda. Em correspondência a Vargas disse: “Vamos assistir de camarote o estouro da
boiada. Já liquidamos o Lacerda no campo jornalístico, agora pretendemos dar-lhe um
177
“nock-out” no campo parlamentar”. No entanto, ocorreu o contrário, pois a
investigação da CPI tornou-se o “palco” que ele precisava. Wainer pensava que a parte
favorável a Getulio, no Congresso, o defenderia, fato que não ocorreu, pois além de ter
poucos membros do Legislativo apoiando o governo, os poucos que apoiavam não
hesitavam em traí-lo, pois não eram unânimes em simpatia a Wainer. Nem mesmo
Vargas conseguiu ter esta percepção no momento em que se originou a ideia da CPI.
Não prever tais resultados, porém, não foi o maior erro de Wainer. Como ele
ressalta em suas memórias, confiou demais em si mesmo, sua ingenuidade ou vaidade,
fez com que optasse por se defender, durante a CPI, sem acompanhamento de um
advogado. Ele subestimou seus adversários, visto que a CPI não foi uma investigação
efêmera, ela se tornou uma opção real de destruir o jornal com foco em derrubar o
presidente. Deve ser ressaltado, que a UDN tinha em seus membros um grande número
de advogados com vasta habilidade retórica. Desse modo, Wainer e Vargas embarcaram
num caminho errado que traria fortes consequências, entre elas o fortalecimento da
UDN e Lacerda contra Vargas.
A CPI foi aberta em 03 de junho de 1953, pela Resolução nº 313, presidida pelo
deputado Carlos Castilho Cabral (PSP), tendo como objetivo, realizar a apuração dos
178
empréstimos cedidos à Última Hora, pelo Banco do Brasil. Foi escolhido como
relator o petebista Frota Aguiar, pois segundo o presidente do partido, Brochado da
Rocha, sua experiência em inquéritos, adquirida nos tempos em que fora delegado, seria
importante para a investigação. O PSD tinha a maioria dos membros da comissão, a
UDN estava em minoria, porém a “Banda de Música”, a ala mais aguerrida do partido,
176
WAINER, Samuel. Op. Cit. p. 177.
177
Arquivo CPDOC: GV c 1953.05.00/3.
178
MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora Códex. 2002.
63
Nota-se que, Bilac Pinto utilizou de sua ironia para se referir ao deputado
Euvaldo Lodi como “um homem honrado”, levando a entender que se Lodi fosse de fato
um homem honrado não compactuaria com a “farsa” da qual Wainer e Vargas estariam
supostamente envolvidos. Com isso, agia através de duas possíveis estratégias: fazer o
deputado se sentir “culpado” e acabar falando mais sobre o que realmente fora acordado
durante o financiamento ou deixar subentendido que o deputado teria caráter duvidoso
por participar de uma negociata que tinha o Presidente da República em seu comando.
Ainda provocando Lodi, Bilac Pinto buscou demonstrar falhas de seu depoimento na
Comissão de Inquérito, reproduzindo um diálogo entre ele e Aloísio Alves, este que
exercia a função de redator da Tribuna da Imprensa.
179
Diário do Congresso Nacional, 28/08/1953. p. 914.
64
Ele [Lodi] declarou a Aloísio Alves que antes de fazer o empréstimo, fora ao
Sr. Getúlio Vargas e fizera a seguinte consulta: V. Ex.ª tem interesse em que
esse empréstimo seja feito ao Sr. Samuel Wainer? E o Sr. Getúlio Vargas
180
respondeu afirmativamente.
Lodi o rebatia afirmando sempre que não havia nenhuma prática ilegal no
financiamento, porém, a habilidade do deputado Bilac Pinto, em seu discurso de
acusação, dificultava a defesa dos envolvidos no caso da Última Hora. A oposição
explorou bastante sua retórica para dar uma entonação de que o que estava acontecendo
era muito grave e precisava de punição.
Além da atuação na Comissão de Inquérito, a UDN levava sua denúncia à
opinião pública, tendo como espaço para isso a Tribuna da Imprensa que também se
dedicava a utilizar tonalidade exagerada em suas publicações, visando se aproveitar do
momento de fraqueza pelo qual seu adversário passava.
Para enfatizar a acusação, o jornal explorou o fato de Wainer não ter citado os
nomes de seus financiadores, abrindo, assim, um caminho para desconfianças. Em 07 de
Julho de 1953, o vespertino trazia uma matéria sobre Ricardo Jafet, dizendo: “era sócio
oculto de Wainer, o presidente do Banco do Brasil que emprestou milhões ao
182
aventureiro”.
Nessa matéria, Lacerda explorou a ideia de que Wainer estaria o tempo todo
guardando um segredo quanto às negociações, levantando suspeitas do tipo: “Mas que
segredo guarda Wainer?”. Nota-se na linguagem usada pelo jornal, as estratégias de
acusação: ao dizer que Jafet negociava com Wainer em oculto, denota a ideia de que era
algo errado, pois se é necessário ocultar é porque não é lícito. Além disso, ao se remeter
a Wainer como um aventureiro, transmitia sentido de irresponsabilidade, leviandade,
180
Diário do Congresso Nacional, 28/08/1953. p. 914
181 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova Fronteira, Rio
de Janeiro, 1992, p. 164.
182
Tribuna da Imprensa, 07/07/1953.
65
No dia seguinte, a Tribuna lançou uma nota informando que seria publicado o
discurso de Lacerda na Comissão, rebatendo as críticas feitas por Wainer, o que,
segundo o jornal, era uma “prestação de contas ao povo”. As batalhas travadas na
Comissão sendo estendidas à opinião pública fazia transparecer uma “lavagem de roupa
suja” pública, contribuindo para que o nome do presidente estivesse sempre em
evidência, na maioria das vezes em referência negativa.
Lacerda buscou também, nesse contexto, mais um motivo para afetar seu
adversário. Dessa vez a proposta foi intrigar Wainer com a Igreja e os setores moralistas
da sociedade. Havia na Última Hora, a publicação do folhetim “A vida como ela é”,
escrito por Nelson Rodrigues, cuja temática normalmente envolviam histórias de moças
do subúrbio com rapazes cafajestes ou senhoras casadas que surpreendiam a todos com
a revelação de um adultério. Tais histórias rendiam boas vendas ao jornal. Então
Lacerda rapidamente, aproveitou uma oportunidade de cercar mais seu inimigo,
alegando que o jornal de Wainer usava o dinheiro recebido do Banco do Brasil,
“dinheiro público” para contribuir com a degradação moral da família brasileira. A
opinião de Lacerda foi compartilhada pelo jornalista Genival Rabelo editor da Revista
Publicidade e Negócios, que era da mesma empresa que publicava o Anuário Brasileiro
de Imprensa, que concordava com a ideia de que a obra de Nelson Rodrigues era um
desserviço para o Brasil e um absurdo vindo de um jornal que servia ao governo. Ao
fazer apelo moral em suas críticas, Lacerda mostrava Wainer como um perigo para a
família brasileira, além de ter um jornal “comunista”, duas coisas que causavam
183
Última Hora, 03/7/1953.
66
profundo espanto na classe média, sendo suficiente para conseguir aliados para a
184
condenação de seu jornal e do presidente.
Em meados de Julho de 1953, a campanha contra a Última Hora alcançou seu
auge, pois Lacerda declarou, na televisão, que possuía provas de que Wainer não havia
nascido no Brasil, pois sua família chegara ao Brasil, quando ele já tinha dois anos. Tal
fato impedia que ele fosse proprietário de um órgão de comunicação, conforme previa a
Constituição. Lacerda alegou que soube da informação por telefonema anônimo, porém,
há indícios de que ele já sabia disso há muito tempo, visto que na juventude foi muito
próximo de Wainer e sua família. A essa altura, já sendo um desafeto de Wainer, usou
185
desta informação e lançou na Tribuna da Imprensa a revelação “bombástica”. A
revelação feita por Lacerda, nessas condições, chegou a parecer uma traição, pois
mesmo que não fosse mais amigo de Wainer, se esperava que o que se passou na
juventude fosse mantido, tanto que Dora Wainer, mãe de Samuel, após assistir à
apresentação dele na televisão, perguntou ao filho: “Por que ele te odeia tanto? Ele vivia
186
na nossa casa, era tão bonzinho”. Porém, os tempos eram outros, e o que tinha valor
eram os interesses de cada um.
A acusação caía sobre a Última Hora como uma bomba. Movidos cada um deles,
por razões diferentes, Lacerda, Assis Chateaubriand e a oposição udenista desencadearam
uma ofensiva irresistível contra Wainer. Para o dono dos Diários Associados, tratava-se de
eliminar, a qualquer custo, um concorrente que ousara desafiar seu monopólio na edição de
revistas semanais. Para a UDN, a questão principal era provar que a Última Hora recebera,
de fato, um tratamento privilegiado do Banco do
Brasil, o que lhe permitiria vincular Getúlio e todos os seus correligionários ao “mar de
lama”. Finalmente, para Lacerda essa era a grande oportunidade de se vingar,
187
simultaneamente, de dois grandes inimigos políticos.
dizer que Wainer tinha nascido no Brasil. Tal acusação rendeu a condenação de Wainer
e seu irmão a um ano de prisão, no entanto a pena não foi cumprida, e seriam absolvidos
no julgamento, em 1955. Diante dos escândalos envolvendo o jornal, houve a perda de
alguns anunciantes e, apesar de não interferir na tiragem do jornal, ter menos
publicidade desequilibrou as finanças colocando-o em dificuldades financeiras.
Cada dia que o governo perde, sem tomar as providências que a moral e o
dever estão a exigir, nova revelação surge, e com ela, mais se comprometem
os que pela condescendência facilitaram esse assalto que bem poderá, se não
for exemplarmente punido, constituir o símbolo de uma época, a marca
definitiva de um governo. E a opinião pública, tão exemplar na reação que
está correspondendo aos esforços de alguns brasileiros, em cujo número,
embora modestamente, eu me orgulho de figurar, ainda mais vigilante se
torna e mais afastada vai ficando daqueles que não correspondem aos seus
anseios moralizadores. [...] É lamentável que o honrado senhor Getúlio
Vargas, que poderá ter muitos defeitos, mas que é um homem a que não falta
acuidade política, não tenha se dado conta da gravidade do caso da “Última
Hora”, do que representaria para o seu governo o prolongamento da
imprensa, do rádio, da televisão, das conferências e comícios, desse
escândalo sem precedentes, em que alguns aventureiros sob o pretexto de dar
cobertura jornalística ao governo, acabaram envolvendo-o num episódio
tanto mais vergonhoso quanto é certo que houve da parte deles, desses
aventureiros o propósito deliberado de envolver a própria família do chefe da
188
Nação.
No meio das investigações, do caso que o deputado Heitor Beltrão definiu como:
189
“escândalo inominável, ignomioso”, as acusações se estenderam a Lutero Vargas,
filho do Presidente, que era deputado do PTB, pelo Distrito Federal. Lutero colaborou
com Wainer durante as negociações do financiamento com o Banco do Brasil, fator este
que propiciou que as denúncias ao Presidente, já pelo envolvimento com Wainer,
fossem mais exploradas ao ter o nome de seu filho neste caso. Uma das principais
denúncias sobre Lutero foi proferida pelo udenista Aliomar Baleeiro, alegando que
houve favorecimento do Banco do Brasil para o empréstimo para a Última Hora, uma
vez que Wainer não teria condições para conseguir um empréstimo de uma quantia tão
alta, através dos métodos normais do banco.
188
Diário do Congresso Nacional, 22/08/1953.
189
Diário do Congresso Nacional, 03/09/1953.
68
Só pelo fato de se tratar de título assinado pelo senhor Samuel Wainer, que
se declarou insolvável, porque o único bem que possuía era um apartamento
de 200 mil Cruzeiros, e pelo nobre Deputado Lutero Vargas que declarou não
ter forças econômicas para responder por 22 milhões de cruzeiros: - só o fato
de se tratar de um título assinado por duas pessoas - uma das quais, o
Deputado Lutero Vargas, é digna, mas a outra, talvez não seja – sem
idoneidade financeira; só esse fato de um título do vulto de 22 milhões de
cruzeiros ter sido assinado por pessoas sem idoneidade financeira era
suficiente para caracterizar uma diferenciação, uma discriminação que coloca
aquela operação dos Srs. Wainer e [Lutero] Vargas como destoante dos
padrões gerais e uniformes que devem seguir todos os negócios feitos por
190
congressistas perante as sucursais do Banco do Brasil.
Lutero justificou, ainda, que por ter nascido no Rio Grande do Sul herdou a
característica de seus conterrâneos, de saber ajudar aqueles que são seus amigos, e
também a capacidade de serem filhos independentes. Logo, segundo ele, a colaboração
dada a Wainer nada tinha a ver com seu pai, visto que já era homem adulto e
responsável por seus atos, não precisando do consentimento de seu pai para resolver
algo dessa natureza. Dizia ainda que:
Não houve, como se vê, quebra de rotina nas praxes do Banco do Brasil e,
muito menos discriminação para favorecimento de quaisquer interesses. Não
violei, portanto, Sr. Presidente, qualquer dispositivo constitucional, qualquer
dispositivo legal, e muito menos qualquer das normas de moral, privada ou
pública que devem nortear os homens de bem. (...) Na verdade, quem se quer
190
Diário do Congresso Nacional, 15/09/1953.
191
Diário do Congresso Nacional, 03/10/1953.
69
atingir, por meu intermédio, é a pessoa, por todos os títulos digna e honrada
192
do Sr. Getúlio Vargas.
Fazer o pagamento em cima do fim do prazo teria sido uma jogada de Wainer,
pois a Tribuna da Imprensa, que aguardava mais uma chance de atacar o inimigo, iria
publicar que a dívida não havia sido quitada, o que seria desmentido pela Última Hora,
192
Diário do Congresso Nacional, 03/10/1953.
70
193
desmoralizando Lacerda. No dia seguinte, a Última Hora buscou destacar o fato de
ter sanado suas dívidas como forma de se apresentar superior aos outros órgãos da
imprensa que também deviam à Instituição, dizendo: “quase todos os jornais devem ao
Banco do Brasil, mas somente ÚLTIMA HORA pagou integralmente os seus débitos
em tempo”. Assim, buscava calar os inimigos que julgavam o caráter de Wainer e o
andamento de suas empresas.
Na verdade, o crime de que Wainer fora acusado, era prática muito comum na
imprensa brasileira, a maioria dos jornais tomavam empréstimos do Banco do Brasil,
inclusive em maior valor que o seu. Até fevereiro de 1953, estava contabilizado CR$
277.088.115,10 em atraso nestes pagamentos, o que representava cerca de 50% do total.
Até mesmo a Tribuna da Imprensa contraiu empréstimos, como Lacerda contou em seu
depoimento:
Diante disso, torna-se mais evidente que tal campanha contrária à Última Hora,
estava ligada aos interesses de inimigos políticos e jornalísticos que queriam destruir
195
um jornal potente e favorável ao governo. Fernando Morais ressalta, em sua
biografia de Assis Chateaubriand, que este dizia que este jornal não podia permitir que
se mantivesse o crescimento de um concorrente tão perigoso, pois a grande cadeia dos
Diários Associados começou como a Última Hora, ou seja, se o vespertino de Wainer
continuasse assim, se tornaria também, um “império” dos jornais.
No relatório final da CPI, a referência ao presidente Vargas dizia que o único ato
pessoal do presidente em favor de Wainer e seu jornal, além das audiências que lhe
concedia, fora a carta que lhe enviara na data de abertura de seu jornal em 12 de junho
de 1951, em que fazia votos ao jornal. Não havendo assim, a real criminalização do
presidente como desejava a UDN.
193
LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda X Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: Editora
SENAC, 1998.
194
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 125.
195
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia
das Letras, 1994.
71
196
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p.518.
72
O memorial representou grande surpresa para Vargas, pois sempre esteve atento
às reivindicações do Exército, e quanto a isso, esteve incomodado com a atitude do
Ministro da Guerra que omitiu o descontentamento dos oficiais. O general Ciro do
Espírito Santo Cardoso, ao tomar conhecimento do documento dos coronéis teve reação
enérgica de providenciar a punição dos mesmos, porém após reunião com os generais
do Estado-Maior do Exército, percebeu que seria melhor não tomar esta atitude, para
evitar maiores complicações. Visto que a solução para o impasse com os oficiais seria
apenas o maior comprometimento do presidente, o Ministro declarou:
Na realidade, a intenção dos signatários, não era colaborar com o governo, como
o ministro tentou amenizar, mas sim, desestabilizar e derrubar o governo. Dessa forma o
general Cardoso preferiu não reagir ao memorial, e pediu demissão, já que, também,
estava “mal visto” pelo presidente. O Ministério da Guerra foi ocupado pelo General
Euclides Zenóbio da Costa, comandante da Zona Militar Leste, a mais importante de
todas. Conhecido por exercer franca oposição à infiltração comunista nas Forças
Armadas, ao assumir o cargo, declarou estar isento de interferências no caso do
memorial, alegava que: “A solução já foi dada pelo general Ciro do Espírito Santo
198
Cardoso. Para mim, a questão está superada”. Com a nomeação de Zenóbio, Vargas
esperava recuperar a autoridade sobre a oficialidade que o anterior havia perdido.
Junto à queda do general Cardoso, aconteceu a queda de Jango do Ministério do
Trabalho, que era o objetivo maior dos signatários do memorial. No dia 22 de fevereiro,
Jango apresentou a proposta do aumento de 100% do aumento do salário mínimo, nesta
mesma data foi a sua saída. Em seu pedido de demissão, escreveu ao presidente:
Acredito que tenha colaborado para dar um sentido mais social e mais cristão
à nossa democracia.... Tenho absoluta convicção de que agi com dignidade,
preferindo ficar do lado dos trabalhadores a pactuar com os inúmeros
advogados de interesses espúrios que muitas vezes bateram às portas do meu
gabinete, pretendendo especular com o sofrimento e a desgraça do povo. Não
197
Tribuna da Imprensa, 20/02/54.
198
Tribuna da Imprensa, 20/02/1954.
73
pretendo recuar do caminho que até agora venho seguindo. Continuo ao lado
199
dos trabalhadores. Apenas mudo de trincheira.
199
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 522.
200
Tribuna da Imprensa, 23/02/54.
201
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição, Rio de janeiro -
Paz e Terra, 2007, p. 169.
74
com o apoio do ex-ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, que
relatou a existência deste pacto, em uma entrevista cedida ao jornal O Globo. As
acusações do ex-ministro partiam de ressentimentos do período em que esteve em
exercício no ministério, por julgar não ter recebido apoio político durante sua gestão e
também discordava das orientações de restrições ao capital estrangeiro, seguidas pelo
governo. O antiamericanismo contido no “pacto” acendia a fúria daqueles antigetulistas
que buscavam acatar as expectativas das lideranças dos Estados Unidos no que diz
respeito à política externa.
João Neves sustentava sua acusação, afirmando que Perón, teria feito um
discurso na Escola Superior de Guerra da Argentina, se queixando de que Vargas não
estava cumprindo o acordo. O governo da Argentina negou esta versão, porém o alarde
já havia sido feito no Brasil. A Tribuna da Imprensa trazia, no dia 04 de abril de 1954, o
depoimento do ex-ministro e transcrevia parte do dito discurso em que Perón dizia ter
202
ido ao Chile, com a permissão de Vargas, para afirmar o acordo. O chefe de
gabinete da Casa Civil, Lourival Fontes, responderia a acusação, dizendo:
Com isso Lourival dizia que era absurda a afirmação da existência de um pacto
conspirador que seria tão amador se tratando de líderes de governos. Na verdade,
segundo ele, a única informação recebida por Vargas, em relação a isso, foi da parte do
Embaixador Luzardo, dizendo que o presidente argentino buscava melhorar as relações
com o Chile, um informe de caráter normal se tratando das funções de um Embaixador.
Porém, a capacidade da oposição em fazer coisas pequenas se tornarem um escândalo
falou mais alto. A Última Hora também se manifestou em relação ao depoimento do ex-
ministro, alegando que durante o tempo em que ele foi ministro, a política externa
adotada se caracterizou pelo pan-americanismo, logo se havia um pacto entre Vargas e
202
Tribuna da Imprensa, 04/04/1954.
203
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p.540.
75
Perón desde o início do mandato, porque Vargas convidaria um ministro que não
seguisse essa linha? Além disso, acusar a existência de uma traição por causa de cartas
trocadas entre os presidentes, sem passar pelo ministério das Relações Exteriores, não
fazia sentido, pois era prática comum a troca de correspondências, inclusive Vargas
trocou algumas com o presidente norte-americano e o próprio João Neves também
transmitia cartas ao presidente quando era embaixador em Portugal, assim como o
embaixador Luzardo enviou se referindo à Argentina.
Diante do depoimento de João Neves da Fontoura, a UDN aproveitou para
buscar êxito em seu objetivo de afastar o presidente, abrindo um processo de
impeachment no Congresso. Esse processo contou com o engajamento do deputado
Aliomar Baleeiro, que se posicionou sobre a acusação de João Neves:
Não foi surpresa para mim a publicação dos fatos contido no depoimento do
Sr. João neves porque sempre julguei o Sr. Getúlio Vargas, à base de sua
vida anterior, capaz de praticar qualquer ato que sirva às ambições. Não me
espantou, portanto que cometesse o que se chama de alta traição, a traição do
governante contra seu próprio país, e em benefício do estrangeiro. Para mim,
não era necessário esperar por isso para compreender que só o impeachment
livrará o Brasil dos perigos que pairam sobre a vida nacional enquanto
204
estiver no poder um inimigo.
204
Tribuna da Imprensa, 05/04/1954.
76
Para os aliados de Vargas estava claro que esta era mais uma manobra oriunda
da rivalidade da UDN com o presidente, que colocava sob ameaça, a democracia
brasileira. A edição da Última Hora do dia 04/04/1954, trazia o posicionamento do
deputado Lucio Bittencourt (PTB), denunciando que o impeachment era, na verdade,
um golpe, visto que não havia nenhum ato de traição confirmado, nenhum crime
cometido pessoalmente pelo presidente de modo que, o impedimento não tinha o menor
cabimento. Segundo o deputado:
205
GOMES, Ângela de Castro (Org.). Getúlio escreve a Lourival: os bilhetes à Casa Civil da Presidência
da República (1951-1954). Aracaju: Edise, 2015, p. 253.
206
Última Hora, 04/04/1954.
77
momento estavam sem partido. Dos deputados da UDN, seis votaram contra
207
o impeachment e 40 abstiveram-se de votar.
207
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, volume 2: 1950-1954: o segundo governo Vargas. Rio de
Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 564.
78
3 UM MÊS DE DESGOSTO
Conforme tratamos até aqui, a oposição exercida pela UDN foi amplamente
fortalecida pela imprensa, através de Carlos Lacerda, na sua Tribuna da Imprensa.
Além disso, Lacerda também conseguiu expandir seu campo de atuação, quando lhe foi
concedido espaço no rádio e na, recém-chegada, Televisão. Em contrapartida Samuel
Wainer atuava, em seu moderno jornal, em favor do presidente. A rivalidade pessoal
entre Wainer e Lacerda se tornava cada vez mais intensa, segundo Wainer:
Desde 1952, esse ódio agudo, visceral, vinha-se multiplicando e podia ser
captado em todo o país. Na Tribuna da Imprensa e nos Diários Associados,
reportagens, artigos e editoriais fustigavam-me diariamente. Graças a TV Tupi, a
figura de Lacerda tornara-se familiar a centenas de milhares de espectadores que
209
a cada noite ouviam mais acusações contra mim.
208
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 168.
209
WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1987. p.
181.
210
LACERDA, Carlos. Depoimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. p. 123.
79
Lacerda, por exemplo, ficou conhecido como “O Corvo” como a representação, dada
por Wainer, de ser uma figura de mau agouro.
211 DULLES, John W. F. Carlos Lacerda - A Vida de um Lutador (1914-1960) - editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1992. p. 169.
212
WAINER, Samuel.. Op. Cit. p. 181
213
DELGADO, Márcio de Paiva. O Golpismo Democrático: Carlos Lacerda e o Jornal Tribuna da
Imprensa na quebra da ilegalidade (1949-1964). Juiz de Fora, 2006.
80
Figura 7: O corvo vertendo lágrimas ao lado do caixão de Nestor Moreira. (Desenho de LAN na
214
Última Hora, 25 e 27 de maio de 1954).
Figura 8: O Corvo transmitindo pelo rádio. (Desenho de LAN na Última Hora, 3 de junho de
215
1954).
214
DULLES, John W.F. Op. Cit. p. 171.
215
DULLES, John W.F. Op. Cit. p. 172.
81
Essa estratégia nos parece ter sido compreendida por Lacerda, no seu trabalho
jornalístico, pois como o próprio nome do jornal demonstra, ele fazia deste veículo de
informação, uma tribuna, ou seja, o discurso do jornal era elaborado como se fosse
falado. Isso é demonstrado na entonação das publicações e nas palavras escolhidas para
produzir as manchetes.
A Última Hora, por sua vez, apresentava um tom mais moderado em suas
publicações, não se assemelhando a uma tribuna política como seu adversário. No
entanto, percebemos também, neste jornal, a preocupação em buscar as melhores
palavras para suas manchetes, visando levar ao seu público uma ideia positiva do
governo. Dessa forma, buscaremos compreender como a retórica foi utilizada para os
interesses destes periódicos durante a crise de agosto de 1954.
216
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. Tradução Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p. 14.
217
PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie.”Os âmbitos da argumentação”. In: Tratado da
argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 21.
82
Assunto Período
218
Tribuna da Imprensa, 02/08/1954.
83
Além dos crimes que cometeram nas negociatas da Última Hora, são reles
sonegadores de impostos. Foi isso que ficou provado, ontem, na Recebedoria
Federal de São Paulo, após o exame da denúncia do jornalista Amaral Netto,
219
presidente do “Clube da Lanterna”.
Já há algum tempo, era notório que Lacerda estava na “mira” de seus inimigos,
prova disso é que já havia sofrido algumas agressões, visto que seu programa na Rádio
Globo e na TV Tupi ampliavam sua visibilidade e aumentavam as possibilidades de
sofrer alguma retaliação, pois era muito comum acontecer violências contra jornalistas
naquele tempo. Por conta disso, alguns oficiais da Força Aérea Brasileira o
aconselharam a não andar desacompanhado, como conta em seu depoimento:
219
Tribuna da Imprensa, 03/08/1954.
220
LACERDA, Carlos. Op.cit. p. 128.
84
Lacerda avistou alguns homens do outro lado da rua e se dirigiu à porta principal
do edifício quando notou que havia esquecido as chaves. Mandou Sérgio pela entrada
de serviço, pedir ao garagista do prédio que os deixasse entrar pela garagem. Naquele
momento um dos homens começou a atirar contra ele, que teve apenas seu pé
221
atingido , ele ainda tentou se defender revidando os tiros com seu revólver calibre 38
e procurou afastar o filho do perigo. Enquanto isso, o major avistando a cena, desceu do
carro, desarmado, e tentou lutar com o homem que atirava, porém somente com golpes
222
não foi possível imobilizá-lo e o major acabou levando dois tiros fatais. A caminho
do hospital, Lacerda, ainda confuso e abalado, disse:
Acho que vou enlouquecer! Foi uma enorme desgraça o que acaba de acontecer.
Talvez eu mesmo tenha matado Vaz. Dei uns tiros a esmo, já sem óculos, e tenho
223
a impressão de que ele estava na minha frente. Que horror!
Para seu alívio, suas suspeitas não seriam confirmadas, pois a polícia concluiu
que o tiro teria sido de um calibre 45. Algumas pesquisas vieram a contestar a versão
oficial dada ao atentado, tratando este fato como um crime comum. Um dos adeptos
deste pensamento é Luiz Roberto Guimarães da Costa Jr., que dentre outras hipóteses,
sustenta que:
221
O fato de Lacerda ter sido ferido no pé causou algumas discordâncias, na época, pois segundo alguns
especialistas, se realmente ele tivesse sido atingido por uma bala do calibre 45, provavelmente teria
perdido seu pé, não apenas se machucado. Porém, durante as investigações, Lacerda sustentou a versão de
que fora atingido, mesmo que de leve.
222
DULLES, John W. F. Op. Cit. p. 177 e 178.
223
Ibidem, p. 178.
85
daquele ano, e não para matá-lo. A reação do major Vaz teria provocado os
224
tiros.
Ele estava certo, a repercussão do atentado foi grande. Wainer conta, em suas
memórias, que ao ser informado do atentado e certificar-se que Lacerda não havia
morrido, ficou em choque e pressentiu que começava “uma das maiores tempestades
227
políticas da história do Brasil.” . Wainer fez essa constatação, pois sabia que Lacerda
faria disso uma forte arma contra Vargas, como realmente ocorreu.
A mobilização da Tribuna da Imprensa em torno de buscar os responsáveis
pelo crime foi intensa, não hesitando em acusar diretamente o presidente. Última Hora,
por sua vez, buscaria, também, cobrir a investigação desse acontecimento, porém
realizaria essa tarefa com muita cautela para não prejudicar Vargas, dedicando-se a
rebater as acusações lançadas pela Tribuna da Imprensa.
Esses posicionamentos são claros, quando observamos as capas dos dois
periódicos no dia 05, mesmo dia em que ocorreu o atentado. Como uma das vítimas do
atentado fora o responsável pelo jornal, a Tribuna da Imprensa dedicou todo esse
espaço para noticiar o ocorrido naquela madrugada, trazendo em letras bem grandes, a
indignação: “A nação exige o nome dos assassinos”. Diante da gravidade do
acontecimento, Lacerda escreveu um editorial, que diferente do habitual, estava na
224
MENDONÇA, Marina Gusmão. Op. Cit. p. 150.
225
AURÉLIO, Daniel Rodrigues. Dossiê Getúlio Vargas. São Paulo: Universo dos Livros, 2009. p. 111.
226
DULLES, John W. F. Op. Cit. p. 179.
227
WAINER, Samuel. Op. Cit. p. 199.
86
228
Tribuna da Imprensa, 05/08/1954.
87
Assim, devido toda emoção envolvida pelo atentado, aumentada pelo fato de que
Lacerda estava completamente envolvido por ela, este deixou evidente que sua intenção
com as publicações era ir em busca da punição dos criminosos e fazer com que esse
fosse o sentimento dos seus leitores. Interessante é que, as manchetes que se referiam à
memória do major ou fotos dele, apareciam sempre próximas às manchetes que
acusavam Vargas, Lutero ou os membros de sua guarda, contribuindo para que o leitor,
88
comovido com a imagem do major, ficasse ainda mais indignado com o acontecimento
e exigisse a punição de todos.
O posicionamento da Última Hora sobre o atentado foi mais moderado, embora
não escondesse a surpresa e o lamento pelo o ocorrido. Wainer relatou que procurou
“apresentar o episódio sob um enfoque policial, embora soubesse que suas componentes
229
políticas não tardariam a monopolizar as atenções do país. ” .
A notícia do atentado não vinha em destaque, mas deixava clara a preocupação
do governo em mobilizar recursos para o esclarecimento do crime, além de ressaltar que
não era o momento para tentativas de golpes. Serenamente, próximo à foto do corpo do
major, narrava:
229
WAINER, Samuel. Op. Cit. p. 200.
230
Última Hora, 05/08/1954.
89
Durante todo o tempo, fiz o que pude para eximir de qualquer culpa a figura
do presidente, sustentando a tese de que, ainda que houvesse gente do Catete
envolvida no episódio, Getúlio de nada sabia. Tratava-se de um brasileiro
honrado, muito acima, de torpezas desse gênero. Lastimavelmente, o esforço
231
da Última Hora em defesa de Vargas resultaria inútil.
231
WAINER, Samuel. Op. Cit. p. 201.
232
WAINER, Samuel. Op. Cit. p. 201.
90
A partir de então teria início a uma forte campanha pela renúncia do presidente.
É interessante observar o engajamento que a aeronáutica teve em buscar a punição para
os assassinos do major, fator este que foi muito explorado por Lacerda, em seu jornal,
com a intenção de ampliar a gravidade do caso. Por outro lado, a Última Hora
reforçava, também, que o governo estava lutando e mobilizando todos os seus recursos
em prol de fazer justiça e a fim de que cessasse toda agitação em torno deste
acontecimento, para que o país voltasse a ter paz.
233
Última Hora, 11/08/1954.
234
Tribuna da Imprensa, 11/08/1954.
91
235
MENDONÇA, Marina Gusmão. O demolidor de presidentes. São Paulo: Editora Códex. 2002. p. 53.
236
Gregório nasceu em São Borja, era negro e de origem humilde. Era chefe da Guarda Pessoal de
Vargas. Em 1954, recebeu condecoração do Ministro da Guerra e recebeu de Mendes de Morais o título
de “Ministro da Defesa” do Brasil e a responsabilidade de evitar calamidades. Chamado pela imprensa
lacerdista de “o Anjo Negro do Palácio do Catete.”
92
Nome Função
*** O mandante
Gregório Fortunato Por ordem do mandante teria designado
Climério a organizar o atentado.
Climério de Almeida Solicitou a José Antonio Soares que
contratasse o pistoleiro.
José Antonio Soares Motorista de Climério que contratou
Alcino para realizar os disparos contra
Lacerda.
Alcino João do Nascimento Pistoleiro contratado que seria o
responsável pelo tiro que matou o
major.
Última Hora, por sua vez, trazia o depoimento do ministro da Justiça, Tancredo
Neves, que após ter se reunido com o presidente, disse: “O governo é o principal
interessado na apuração das responsabilidades”. Dessa forma, rebatia as acusações de
que o presidente teria algum envolvimento com o ocorrido e esclarecia que era
responsabilidade do poder Judiciário, a punição pelo crime, ou seja, o Poder Executivo
não teria nenhuma relação com o rumo das investigações. Assim, o jornal alertava que a
oposição não deveria tirar proveito eleitoral por causa do atentado.
Em busca de resultados das investigações, a Tribuna da Imprensa começou a
explorar o histórico dos criminosos, começando por Climério. No dia 09, destacava em
letras garrafais, a afirmação de Lacerda: “CLIMÉRIO ESTEVE COM LUTERO NA
AUDIÊNCIA DA 14ª VARA”, trazendo uma enorme foto de Climério, pedindo para o
encontrarem, visto que estava foragido, desde o atentado.
94
237
Tribuna da Imprensa, 09/08/1954.
238
Última Hora, 09/08/1954.
239
Última Hora, 09/08/1954.
96
jornal de Wainer transmitia era de que o governo via o crime como uma atrocidade,
deveria ser esclarecido e todos seus responsáveis deveriam ser punidos pela sua
covardia em realizar tal coisa.
Porém as investidas da oposição se mostravam cada vez mais pesadas. A
Tribuna da Imprensa publicou uma foto em que Gregório está penteando os cabelos do
presidente (Figura 11), em que a edição aproveitou para criticar a postura da Guarda.
Em relação a Gregório dizia:
O jornal seguia, denunciando que a Guarda Pessoal era ilegal, visto que a
segurança do presidente podia ser feita tranquilamente pela Polícia Militar ou Civil.
Alegava, também, que não havia nenhuma lei que permitisse a existência de uma
Guarda Pessoal. Dessa forma, concluía:
entender que a Guarda Pessoal era composta por criminosos que estariam à disposição
para realizar serviços ilegais.
Diante das investigações, envolvendo os membros de sua Guarda, o presidente
decidiu dissolvê-la. Com esse ato demonstrava que estava deixando livre o espaço para
o Inquérito, entendendo que, na condição de réus não poderiam continuar prestando
serviços oficiais. As intenções do presidente foram explicitadas na Última Hora, em
nota especial: “dissolvendo sua Guarda Pessoal, Vargas coloca uma vez mais a sua
243
consciência do dever acima de todas as continências sentimentais.”.
Foi apresentada, também, uma manchete sobre os criminosos investigados.
Sobre José Antonio Soares, dizia: “„Biografia‟ do assassino do major Vaz. Pistoleiro em
Caxias, chantagista no Rio e assassino em Minas!”. Junto a esta publicação, trazia uma
declaração da mãe de Climério sobre o filho: “meu filho parece que tem o diabo no
corpo”.
Um dos pontos altos da acusação de que Vargas estava envolvido com a fuga de
Climério, foi quando a Tribuna da Imprensa publicou uma manchete dizendo que ele
estaria escondido em São Borja. Cada vez mais Lacerda construía a imagem corrupta do
presidente de maneira, até mesmo desleal. Não se tinha prova ou indício de que ele
estaria lá, tal informação era apenas mais uma forma de influenciar a opinião pública
contra o presidente, visto que era quase impossível não associar o envolvimento do
presidente no crime se realmente Climério estivesse em São Borja, uma cidade que
ficou conhecida pelos brasileiros especialmente por ser a terra natal de Vargas.
A Tribuna ainda foi mais longe. Publicou um histórico de quatro crimes que
teriam sido cometidos por Vargas, onde o tom das acusações se tornou ainda mais
agressivo, como podemos ver a seguir:
243
Última Hora, 10/08/1954.
244
Tribuna da Imprensa, 10/08/1954.
98
Gregório depôs durante 5 horas – dormiu depois que soube do atentado –Os
capangas de Vargas custavam Cr$ 500 mil ao povo – Gregório vaiado pelo
245
povo ao sair do quartel do 2º Batalhão de Infantaria da PM.
Ao lado de uma grande foto de Gregório depondo, o jornal dizia que durante sua
fala ele permaneceu dando socos em uma das mãos, o que foi interpretado como uma
ameaça inconsciente de bater nos fotógrafos que cobriam o acontecimento. Essa
interpretação, bem explorada pelo jornal valorizava a imagem dele como um homem
violento, capaz de preparar um crime como o da Rua Toneleros. Gregório, no entanto,
se defendeu dizendo que era um hábito.
Seguia afirmando que os acusados do crime teriam recebido apoio do Catete
para fugir e chegou até repetir a notícia que os “capangas” de Vargas haviam cometido
assassinatos em São Borja. O jornal buscava fornecer todos os detalhes possíveis das
investigações, exemplo disso, foi a publicação da foto da arma do crime junto a foto de
pessoas que tinham interesse em negociar a arma usada no atentado.
Estava nítido que a prioridade era a cobertura do atentado, foi cedido todo
espaço necessário para publicar as novidades e em alguns momentos abriu mão de
outras notícias, como foi dito no exemplar do dia 13:
A partir de hoje o seu jornal não publicará a Página Feminina, toda vez que os
acontecimentos tumultuosos destes dias exigirem maior espaço para serem
noticiados. Estou certo de que nossas leitoras, de boa vontade, se privarão de sua
245
Tribuna da Imprensa, 11/08/1954.
99
Dizia ainda que, o subchefe da Guarda Pessoal preparou a fuga de Soares. Com
isso, acusava que o delegado Jorge Pastor e o ministro da Justiça estavam tentando
proteger a família de Vargas. A resposta de Lutero viria em destaque pela Última Hora.
O deputado se dispunha a abrir mão de todas suas imunidades que seu cargo lhe
permitia para responder as acusações como um simples cidadão. Um grande espaço da
capa da edição do dia 14 foi dedicado à sua defesa, dizendo:
Num gesto inédito da história do nosso Congresso, Lutero não quer ser tratado
pelas autoridades nem como deputado, nem como filho do Presidente da
República – “Estou disposto a ir até as últimas consequências para que a Câmara
atenda o meu apelo” – Durante dois dias Lutero lutou contra seus companheiros
de direção do PTB, que não concordavam com sua decisão – Getúlio Vargas
aprovou comovido a decisão do filho – Sereno e despreocupado Lutero mostra-
248
se ansioso por enfrentar seus detratores.
246
Tribuna da Imprensa, 13/08/1954.
247
Tribuna da Imprensa, 14/08/1954.
248
Última Hora, 14/08/1954.
100
relação dos criminosos com Vargas, tanto que até o fim da primeira quinzena do mês,
não vemos referência a Gregório neste jornal. Era necessário que a Última Hora
conseguisse fazer uma cobertura mais amena, pois o atentado em si já foi suficiente para
causar maiores complicações ao governo, principalmente tendo ampla exploração pela
imprensa oposicionista.
Nesse sentido, demonstrando preocupação com a investigação do crime, a
Última Hora se dedicou todo espaço da capa do dia 17 para a cobertura da grandiosa
captura de Climério. Cerca de 200 homens armados com metralhadoras e equipamentos
de guerra, fecharam o cerco ao criminoso, que se encontrava escondido num bananal em
Nova Iguaçu. A cobertura da Última Hora foi bem mais enfática do que a da Tribuna da
Imprensa, o que nos faz pensar que a preocupação dos dois, com a cobertura do crime,
era diferente. O jornal de Wainer buscava mostrar a eficiência do Inquérito e o apoio
que o governo estava dando para que os órgãos responsáveis tivessem liberdade para
agir, enquanto que para a Tribuna era mais interessante mostrar os depoimentos dos
acusados, explorar quem eram os réus para alcançar o objetivo de provar a culpa do
presidente. Exemplo disso, é que este jornal, em alguns momentos, repetia manchetes,
insistia em notas que já haviam publicado em dias anteriores, para reforçar a acusação.
Os dois jornais mostraram que a caça a Climério foi de uma proporção nunca
vista, no entanto, para a Última Hora, a grandiosidade da busca ressaltava a capacidade
da polícia, favorecendo a imagem do governo. Para a Tribuna da Imprensa, a
grandiosidade da busca ressaltava o quanto Climério era perigoso e sua associação ao
presidente, desejava mostrar que o país estava nas mãos de um bandido. Após todos os
acusados serem presos, ambos os jornais publicaram em destaque seus depoimentos.
Logo, somente a partir daquele momento que a Última Hora começou a falar de
Gregório como “peça” importante no atentado.
As publicações da Tribuna da Imprensa referentes aos depoimentos dos
criminosos direcionavam toda a culpa a Lutero Vargas como o mandante do crime,
porém há indícios de que a participação de Lutero era algo explorado por Lacerda para
que se tornasse mais fácil associar o presidente ao crime e não algo provado no
Inquérito. Isso teria sido reconhecido pelo próprio Lacerda, como mostra a publicação
da Última Hora, intitulada “espantosa confissão”:
103
Lacerda sabia que Lutero não era o mandante! Confessou, ontem, na Rádio
Globo que há vários dias já sabia que Lutero não era o mandante do atentado
da Rua Toneleros, mas continuou divulgando na Tribuna da Imprensa –
249
perdeu a cabeça diante da verdade dos fatos.
Essa versão, no entanto, não foi confirmada por Lacerda no seu jornal, pelo
contrário, continuou a mostrar os depoimentos onde Lutero era acusado de ser o
mandante, como na publicação da íntegra do depoimento de Alcino:
Lutero foi a força que armou o braço de Alcino. O pistoleiro afirma que o
dinheiro veio do filho do presidente. A longa preparação do crime, as duas
emboscadas que falharam; as promessas de dinheiro e emprego; a certeza da
250
impunidade e a proteção de Lutero Vargas.
A versão de que Lutero teria prometido proteção aos criminosos, seria contada,
também por Climério. O jornal publicou parte do depoimento dele, onde afirma que
Gregório lhe garantiu que Lutero não deixaria que nada lhe acontecesse. No entanto, o
Inquérito não chegou a um consenso de quem seria o mandante. Lacerda realizou um
ataque mais profundo, acusando Vargas de co-autor do crime. Já que nenhum dos
acusados tocou no nome do presidente, ele decidiu acusá-lo de forma indireta, pois os
envolvidos eram pessoas ligadas a ele, então ele de alguma forma seria culpado. Com
esse pensamento, publicou na Tribuna a ideia de que, como medida preventiva, o
presidente deveria ser preso, enquadrado no artigo 25 do Código Penal.
O jornal intensificou as acusações sobre Gregório para enfatizar a co-autoria de
Vargas, dizendo:
Todos criminosos sabiam que Lutero era o mandante. Gregório era o
verdadeiro Presidente da República, decidia sobre todos os assuntos,
arranjava casa, emprego e telefone, tirava o “barato” de todos,
principalmente bicheiros do Rio [...] Wainer oferecia-lhe charutos por
sugestão de Vargas – Escândalos estarrecedores nos arquivos secretos do
251
chefe da guarda Pessoal do presidente.
249
Última Hora, 20/08/1954.
250
Tribuna da Imprensa, 20/08/1954.
251
Tribuna da Imprensa, 18/08/1954.
104
agosto, a Tribuna e a Última Hora explicavam a seus leitores que depois de manterem
por tanto tempo o preço do jornal a Cr$ 1,00 era necessário aumentar para Cr$ 2,00,
alegando aumento dos custos na produção. Mesmo que este fosse um real motivo para
aumentar o preço, o fato é que o momento escolhido para fazer isso foi bem pensado,
pois o povo estava tão interessado em acompanhar a situação crítica do país, que o
aumento de 100% no preço não atrapalhou a tiragem dos jornais.
Diante desse cenário, conforme foram se intensificando as acusações sobre
Lutero e chegando ao ponto de sugerir a prisão do presidente, a estrutura do governo já
estava bastante comprometida, principalmente por estar em curso, paralela às
investigações, a campanha da Tribuna da Imprensa pela renúncia do presidente. Como
veremos a seguir, Vargas já não tinha mais chances de permanecer muito tempo no
poder.
Foi preciso que matassem este pai simples e de bom coração para que
Vargas dissolvesse o bando ilegal que chamava de sua guarda pessoal, e que
ao fim de quase 20 anos de promiscuidade com bandidos, Vargas
compreendesse que estava cercado de facínoras? “se no fundo da alma do
Sr. Getúlio Vargas houver uma sombra de patriotismo, ele compreenderá...
que a sua presença no governo neste momento constitui uma ameaça à
tranqüilidade da família brasileira, que a sua presença à frente do governo é
252
um desafio e uma afronta insuportável à consciência dos brasileiros.”.
(Carlos Lacerda)
252
DULLES, W.F. Op. Cit. p. 184.
253
Tribuna da Imprensa, 10/08/1954.
105
Na sequência, o jornal insistia pela renúncia, tendo como sua aliada para a
campanha, a comoção pela morte do major, visto que, no dia 11 completavam sete dias
de sua morte. A presença das pessoas na missa celebrada em sua homenagem permitiu
que a Tribuna associasse que esta comoção tinha como consequência o apelo do povo
pela renúncia do presidente. Para exercer maior pressão, foi publicado um apelo
bastante direto e agressivo, como era de se esperar deste jornal, para que o presidente se
retirasse do cargo, através das seguintes palavras:
254
Tribuna da Imprensa, 11/08/1954.
106
presidente. No exemplar do dia 6, no topo da página estava a nota: “na ordem do dia, o
aumento para os militares”. Poderia ser uma notícia normal, mas não deixa de ser
intrigante ver que essa notícia veio um dia após a morte de um major da Aeronáutica,
vítima de um atentado do qual o presidente estava sendo acusado. Ou seja, um aumento
de salário tentaria amenizar a revolta dos militares para com Vargas.
Além dessa estratégia, também favorecia ao presidente o fato da Última Hora
ser um jornal que se encaixou bem no processo de modernização da imprensa, de modo
que, não assumiu um caráter essencialmente opinativo em suas páginas, embora, como
falamos anteriormente, nunca tenha deixado de opinar. A questão é que por estar
interado às novas técnicas do jornalismo, naquele período, o jornal de Wainer conseguia
englobar vários assuntos na sua edição, deixando sua leitura um pouco mais “leve” em
relação à Tribuna que permaneceu com características dos moldes antigos, fixando a
atenção para a opinião.
Durante o período analisado, as capas da Tribuna da Imprensa se dedicam, em
algumas datas, a falar apenas sobre o atentado e sobre o apelo à saída de Vargas, chega
a ser repetitivo, como já mencionamos. Nas capas da Última Hora, no entanto, vemos
uma melhor distribuição dos assuntos, há notícia de esporte, coluna social, notícias
internacionais, notícias sobre música. E isso não refletia uma tentativa de fuga para não
falar da crise, mas qualidade na variedade de informação. Este era um fator que
favorecia a defesa do governo, pois como o adversário agia de maneira intensa, acabava
parecendo exagerada e não conseguia receptividade melhor que a da Última Hora.
O exagero da Tribuna da Imprensa foi uma das principais críticas da Última
Hora, naquele período, esta fazia um apelo para que a ordem do país não fosse abalada
por conta das acusações do adversário. Na condição de porta-voz do governo, a Última
Hora transmitia a posição do ministro da Guerra, Zenóbio da Costa:
Não procurem instigar o povo à violência – disposição para apurar o crime até o
fim – não se cogitou renúncia do Presidente da Republica – necessário pôr um
freio nas informações alarmistas que inquietam a população – as Forças Armadas
255
mantêm-se vigilante e garantirão o regime.
255
Última Hora, 12/08/1954.
107
trabalhadores. O país estava dividido: para alguns a paz só voltaria a estar presente no
país, se a Constituição fosse defendida e o mandato do presidente mantido. Para outros,
a paz viria com a renúncia do presidente, como defendia o ex-presidente General Dutra.
Os que defendiam a renúncia buscaram mobilizar a população para se
manifestar em favor disso, provocando alguns contratempos, que a Última Hora
chamou de “arruaças provocadas por um conhecido agitador profissional”,
subentendido ser Lacerda. Como recado aos causadores da desordem, foi publicado
parte do discurso de Vargas, proferido em Belo Horizonte:
Não permitirei que agentes da mentira levem o país ao caos. Sou o presidente
eleito e pretendo desempenhar meu mandato até o fim. Nem um minuto a
256
mais. Jamais pensei em renunciar.
De fato, o presidente não cogitava renunciar, porém, sua força para resistir aos
duros ataques que se estendiam, não era a mesma força que as palavras buscavam
transmitir. No entanto, a ação da Última Hora, conseguia mostrar a intenção do governo
de resistir. Foi publicada uma nota especial, no dia 13, onde estavam explícitos alguns
pontos fundamentais sobre o pensamento de Vargas diante daquela conjuntura:
256
Última Hora, 13/08/1954.
257
Última Hora, 13/08/1954.
108
Com esta manchete, o jornal conseguia alarmar ainda mais o país, que se via
diante de uma série de incertezas em relação aos rumos que se tomaria. Com isso, o
jornal era beneficiado com o aumento das vendas, a ponto de apresentar duas edições
numa segunda-feira, uma matinal e outra vespertina. Diante disso, a Última Hora
energicamente, em destaque, dizia: “o crime da Rua Toneleros não deve continuar a
envenenar o Brasil”. Junto a isso trazia depoimentos de pessoas de alto cargo das Forças
Armadas para mostrar que não havia espaço para um golpe. Ao mostrar que as forças
militares estavam em harmonia com o presidente, o governo buscava tranquilizar a
população.
A campanha contra Vargas tinha o apoio dos Estados Unidos, que desde que
Enseinhower assumiu a presidência, teve as relações com Vargas abaladas. Durante a
crise de agosto, a imprensa norte-americana, representado por um dos mais importantes
jornais desse país, o The New Yok Times, daria seu apoio também à campanha. Apoio
este, que a Tribuna fez questão de mostrar em destaque na edição do dia 17. O jornal
norte-americano dizia que o atentado da Rua Toneleros, deu mau nome ao governo,
declarando:
Getúlio Vargas tem constituído certamente, uma profunda desilusão desde
que foi eleito a 03/10/1950. O melhor que pode dizer dele é que não tem feito
nada. O pior é que tem posto frente grupos e indivíduos para atingir seus
próprios propósitos políticos tem permitido que definhe a economia do seu
rico país até chegar à crise atual, que se manifesta nas dificuldades de
109
Na mesma edição, após mostrar o posicionamento do The New York Times vinha
uma entrevista com o ex-presidente Arthur Bernardes, com o título: “saia Vargas”. O
jornal já havia publicado a fala de Dutra e agora a de outro ex-presidente, com isso
mostrava que pessoas experientes em presidir o país consideravam inviável a
permanência de Vargas.
Ainda fazendo comparações com presidentes anteriores, a Tribuna fez alusão ao
momento da renúncia de Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil.
A manchete dizia que “o bom exemplo vem de longe”, onde trazia um trecho do
discurso do marechal ao renunciar: “não quero aumentar o número de viúvas e órfãos
259
no meu país. Mandem chamar o Floriano, não sou mais Presidente da República”. A
comparação com Deodoro não foi feita apenas uma vez. No dia 21, foi publicado um
depoimento do neto dele, onde resaltava que: “Deodoro não quis ver o país incendiado
pela guerra civil”. Com essa lembrança, pretendia-se mostrar que um “presidente de
verdade” prefere deixar o cargo a ver o sofrimento de seu povo, insinuando que se
Vargas via as dificuldades do país e não renunciava era porque colocava a sua vontade
acima dos interesses do povo, sendo indigno do cargo.
Analisando as publicações dos jornais, podemos perceber como o ponto mais
alto da crise, o dia 23. A conjuntura complexa vivida desde a madrugada do dia 05
“explodiu” naquele dia, quando o país vivia um momento decisivo. De um lado a
oposição mais enérgica em definir a saída de Vargas em poucas horas. De outro, o
momento de decisão do presidente e das Forças Armadas para garantir a ordem no país.
A partir da análise das capas destes jornais, chegamos a ter a impressão de que os dois
jornais não estão falando do mesmo dia e do mesmo contexto, pois a forma de
transmitir o que estava ocorrendo foi muito diferente. A Tribuna da Imprensa resumia
os acontecimentos da seguinte forma:
258
Tribuna da Imprensa, 17/08/1954.
259
Tribuna da Imprensa, 18/08/1954.
260
Tribuna da Imprensa, 23/08/1954.
110
Destacando que o Brasil estava livre de uma guerra civil, garças a atuação do
Ministro da Guerra, demonstrava que não havia nenhuma agitação e, caso houvesse,
estaria sobre controle, como mostra a nota especial desta data:
Tranquilo o Catete:
Às 09 horas da manhã de hoje, o Presidente da República iniciou seus
despachos normais. O Palácio do Catete permanece com a mesma guarda que
para ali foi destacada desde o início da crise atual. Diversos governadores
comunicaram-se hoje com o presidente, informando-o da situação de
tranquilidade em seus Estados. As audiências e despachos ministeriais de
hoje foram mantidos. Todos os departamentos da Presidência da República
262
estão exercendo suas funções normais, sem qualquer alteração.
Nunca se mobilizou tanto o nome do povo como nessa hora que se pretende
liquidar nossa constituição. Quem ouve nas estações de rádio ou lê os jornais
tem a impressão de que o povo brasileiro está louco pela deposição de
Getúlio Vargas.
(...) vimos o que tem sido a agitação desses últimos 15 dias, não houve um
minuto do dia ou da noite que não se tentasse envenenar a opinião pública
com boatos os mais alarmantes, com notícias as mais mentirosas, tentando
263
fazer crer que o povo estava disposto a derrubar o governo.
Com essa crítica, o jornal mostrava que não era verdade que o povo estivesse de
fato ao lado da oposição. Prova disso, foi que ao ser convocado para ir às ruas pedir a
deposição de Vargas, o povo não correspondeu ao chamado. A saída de Vargas não era
um projeto popular, mas um projeto dos seus adversários. Era preciso alertar a
população quanto a isso, visto que Lacerda vinha falando em nome do povo, para
legitimar a pressão contra o governo. É notório que houve um grande esforço da parte
do jornal “governista” em amenizar o efeito da crise àquela altura, reforçando que a paz
261
Última Hora, 23/08/1954.
262
Última Hora, 23/08/1954.
263
Última Hora, 23/081954.
111
Na noite do dia 23, Vargas dirigiu uma reunião ministerial de emergência para
refletirem sobre qual seria a melhor saída diante de tal conjuntura: renúncia ou licença.
No entanto, a reunião não foi produtiva em chegar a um acordo, então Vargas declarou
sua decisão:
264
AURÉLIO, Daniel Rodrigues. Op. Cit. p. 114.
265
Idem.
113
266
advertia: “se vêm para me depor, encontrarão meu cadáver”. Havia muita tensão,
muita expectativa no ar. Porém, poucas horas depois recebeu a notícia de que os
267
generais não aceitavam sua licença: ou ele renunciava, ou seria deposto. Ele já havia
declarado que:
Com a sua morte, veio a público uma carta que havia deixado para ser lida ao
271
povo, sendo conhecida como Carta-Testamento. A carta foi encontrada por Ernani
Amaral Peixoto, governador do estado do Rio de Janeiro e genro de Getúlio, em cima
de uma mesinha-de-cabeceira do quarto presidencial. O documento foi lido em voz alta
266
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco. 1930-1945. 14ª edição, Rio de janeiro -
Paz e Terra, 2007. p. 179.
267
DELGADO, Márcio de Paiva. Op. Cit.
268
DULLES, W.F. Op. Cit. p. 188.
269
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954,1955 e 1961. In: ______; DELGADO, Lucília de
Almeida Neves (org). O Brasil Republicano. O tempo da experiência democrática, da
democratização de 1945 ao golpe civil-militar. Civilização Brasileira, RJ: 2003. p. 309.
270
CARVALHO, José Murilo. Vargas e os militares: aprendiz de feiticeiro. In: D‟ARAUJO, Maria
Celina S. (org.) As Instituições brasileiras da Era Vargas. Rio de Janeiro: Ed. UERJ: Ed. Fundação
Getulio Vargas, 1999. 212p.
271
Existem duas cartas. Uma manuscrita e outra, um pouco maior, datilografada, o que causa dúvidas,
ainda, sobre a veracidade da carta datilografada.
114
por Osvaldo Aranha, ministro da Fazenda, para um grupo de pessoas que se encontrava
no palácio do Catete e em seguida transmitido por telefone para a Rádio Nacional.
Antes das nove horas da manhã, a mensagem começou a ser irradiada para todo o
272
país , transmitindo as seguintes palavras:
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e
novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me
combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a
minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender,
como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino
que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos
econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e
venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social.
Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha
subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais
revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros
extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do
salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a
funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o
desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo
seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que
destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras
alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que
importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de
dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto.
Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a
nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a
mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante,
tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo,
para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso
dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém,
querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a
minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos
humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome
bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e
vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força
para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa
bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa
consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio
respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com
a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna.
Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu
sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu
resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do
povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não
abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha
morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da
273
eternidade e saio da vida para entrar na História.
272
CPDOC. Verbete: Carta Testamento.
273
http://www2.camara.leg.br/atividade-egislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/getulio-
vargas/carta-testamento-de-getulio-vargas.
115
Este documento trouxe um sentido ao seu ato, que ao invés de mostrar desespero
ou covardia, fez com que seu suicídio entrasse para a história como uma atitude de
alguém que se sacrificou pelo país.
274
Apud CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena: Propaganda política no varguismo e no peronismo.
2ª Ed. São Paulo: Unesp, 2009.
275
Raoul Girardet classificou quatro grandes conjuntos mitológicos identificáveis nas sociedades
contemporâneas, que são: a Conspiração, a Idade do ouro, o Salvador, a Unidade. Cf. GIRARDET, R..
“Para uma introdução ao imaginário político”. In: Mitos e mitologias políticas. São Paulo, Companhia das
Letras, 1987. p. 9-24.
276
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena: Propaganda política no varguismo e no
peronismo. 2ª Ed. São Paulo: Unesp, 2009.
116
277
LACERDA, Carlos. Op. Cit. p. 119.
278
RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas. livro 3: agosto de 1954: a crise e a morte do presidente. Rio de Janeiro:
Casa Jorge Editorial, 2001. p. 281.
117
A Última Hora destacou que Vargas fora “vitima da ignomia e das campanhas
de adversários rasteiros. ”. O apelo deste jornal, como era de se esperar, foi pela
memória de Vargas, lamentar juntamente com o povo a perda de seu presidente, como
explícito em sua publicação:
119
Cenas de profunda dor estão sendo assistidas na rua. Lê-se o pesar no rosto do
povo. O povo brasileiro chora a perda do seu presidente, por ele escolhido,
por ele eleito e que - na crise gerada por seus inimigos – só saiu do Catete
279
morto.
279
Última Hora, 25/08/1954.
280
FERREIRA, Jorge. “O carnaval da tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto. In: ______. O
imaginário trabalhista: getulismo, PTB e cultura política popular 1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2005.
281
FERREIRA, Jorge. Op. Cit. p. 177.
120
282
Figura 24: povo disputa edição de Última Hora do dia da morte de Getúlio Vargas.
282
WAINER, Samuel. Op. Cit.
121
A edição daquele dia teve poucas palavras escritas, mas muitos sentimentos
expressados. Sob o título: “último encontro do povo com o grande presidente morto! ”,
informava sobre o velório e notificava que estavam contabilizados mais de dois mil
desmaios, sendo um fatal e dois graves. O restante da página se resumia a uma foto de
Vargas no caixão sendo observado por um cidadão comum. A imagem conseguia
transmitir através do olhar daquele cidadão, a expressão de tristeza que se encontrava no
rosto de cada um dos brasileiros.
Infelizmente, o presidente não conseguiu evitar, por completo, que houvesse
derramamento de sangue. Durante o velório, cerca de 2.100 e 2.800 pessoas foram
atendidas pelo socorro médico, além de pessoas feridas e mortas nos confrontos que se
seguiram entre populares e soldados da Aeronáutica, no momento da partida do corpo
de Vargas para São Borja. As pessoas comovidas demonstraram revolta pela
Aeronáutica que esteve diretamente envolvida nos acontecimentos recentes. No entanto
o confronto era bastante desigual e provocou a morte de inocentes. “Foram 15 minutos
283
de tiroteio ininterrupto, com um saldo trágico para a multidão. ”.
Situações como essa não se resumiram apenas à capital, em todo o país,
principalmente nas grandes capitais como: São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte,
Recife e Fortaleza, eram vistas manifestações do povo e a tentativa das forças
antigetulistas de calar sua voz. Foram muitos os feridos, os que tiveram problemas de
saúde e os mortos, pela violência ou por não conter a emoção diante do ocorrido.
284
Apesar de ter havido repressão em todas as manifestações, Jorge Ferreira , nos chama
a atenção para observarmos que nenhuma delas fora tão violenta quanto à repressão no
distrito federal.
No dia 26, quando a Tribuna da Imprensa teve a oportunidade de colocar seus
exemplares a venda novamente, Lacerda aproveitou para se pronunciar em relação à
“culpa” pelo ato trágico do presidente.
283
FERREIRA, Jorge. Op. Cit. p. 185
284
Idem.
122
Vale ressaltar que este jornal não se importou em fazer a cobertura do velório de
Vargas, entendemos que o motivo tenha sido a intenção de minimizar as manifestações
populares, não era interessante reforçar uma situação, que para eles já fugia do controle.
Para sua defesa, escreveu um editorial de capa, intitulado “Pelo Brasil”. Nele,
dizia que se inclinava em respeito à morte de Vargas e suplicaria misericórdia a Deus
pelo seu ato de desespero. No entanto, alegava que:
Através dessas palavras, podemos notar que Lacerda reconhece Vargas como
vítima, contradizendo a postura mantida por ele antes do ocorrido, de que ele seria o
principal mandante do atentado, o que demonstra que o mais importava para ele era
alarmar a população contra Vargas do que realmente investigar sua participação no
crime. Ainda se defendendo, Lacerda dizia que nunca tinha usado de violência, sempre
o combateu com dignidade e lealdade, o que foi um exagero de sua parte, pois pode não
ter usado de violência, mas abriu mão da dignidade quando publicou notícias falsas
durante as investigações do atentado da Rua Toneleros, como no episódio em que
induziu uma confissão de Gregório Fortunato, como confessa em seu depoimento:
285
Tribuna da Imprensa, 26/08/1954.
123
A intenção dessa falsa reportagem era fazer com que Gregório, ao ver que seu
suposto cúmplice, o havia deixado sozinho diante daquela situação, se indignaria e
contaria o que até então estaria escondendo. Tal atitude mostra o quanto o inquérito foi
manipulado para se alcançar a acusação de que o presidente fora o mandante do crime,
logo a oposição não foi digna e leal.
Além disso, chamava atenção para que esse episódio devesse ser tomado como
exemplo, superado e que deveria seguir em frente com o novo governo. Encerrava
dizendo que: “o suicídio não foi um ato de um homem combatido, mas de um homem
traído. ”. Diante dos últimos acontecimentos, a necessidade de se explicar, o jornal
publicou mais um breve editorial, apresentando os motivos pelos quais não pôde
circular no dia 25, dizendo que desejaram evitar o ódio dos comovidos com a morte do
presidente, visto que houve tentativa de depredação nos órgãos de imprensa. Após a
explicação, mais uma vez ressaltava: “em vez de voltarmos às vistas para as cinzas do
passado recente, preferimos deitar os olhos no futuro do país. ”.
Com estas palavras, estava claro o posicionamento da oposição, especialmente o
posicionamento do jornal, em relação a como seguir adiante. Os últimos dias do mês de
agosto, nas páginas da Tribuna da Imprensa não foram apresentados da mesma maneira
que na Última Hora. O periódico de Lacerda abandonou toda a nostalgia que pairava
sobre o povo brasileiro e seguiu no propósito de mostrar apoio ao governo Café Filho e
minimizar o efeito das manifestações populares, normalmente utilizando palavras
pejorativas para se referir a elas, como: desordens, agitações, entre outras semelhantes.
Foi feita a cobertura completa e empolgada de cada novidade. Exemplo disso foi a
matéria publicada em destaque com as fotos de todos os ministros nomeados pelo novo
286
LACERDA, Carlos. Op. Cit. p. 138.
124
Vale ressaltar que os principais jornais que atuaram como oposição durante a
crise de agosto, adotaram posturas diferentes em ralação à cobertura do suicídio. De
287
acordo com a pesquisa realizada por Alzira Abreu e Fernando Lattman-Weltman , os
jornais que faziam oposição mais radical, como o Diário de Notícias e Diário Carioca,
não deram ênfase à noticia do suicídio, delegando a ela espaço em submanchetes. Já O
Globo, Correio da Manhã e O Jornal, que faziam a oposição mais moderada, deram
amplo destaque ao ocorrido. O discurso comum entre eles era se eximir da culpa pelo
suicídio do presidente, culpando também os criminosos do atentado da Rua Toneleros
por isso, e demonstrava grande medo pela repercussão da Carta - Testamento. A autora,
nos mostra que a repercussão do suicídio, provocou uma mudança de comportamento
em seus adversários na imprensa, que rapidamente começaram a retocar a imagem de
Vargas.
O perfil até então construído teve que ser refeito - não coincidia com os atos
que agora se revelavam. O homem tinha também grandeza, patriotismo,
honestidade, e para alguns era um estadista. Assim, com um intervalo de
algumas horas, um novo retrato de Vargas começava a ser apresentado ao
288
público.
pudessem de alguma forma se reconciliar com o povo. No entanto, não vemos esta
mudança de postura na Tribuna da Imprensa. Este jornal manteve-se fiel ao discurso
contrário a Vargas e à sua memória, continuando a representar o ponto extremo do
antigetulismo. Para Lacerda o suicídio era um fato a ser superado e não isentava Getúlio
de seus erros.
Na Última Hora, porém, onde o maior interesse era lutar pela preservação da
memória de Vargas, o mês de agosto teria um desfecho marcado pela tristeza. Foi
cedido amplo espaço para a cobertura do velório, sendo que foram duas cerimônias,
uma no Rio, no dia 25 e outra em São Borja, terra natal do presidente, onde foi
sepultado. Além de mostrar a comoção popular, trazia depoimentos da família de
Vargas, sendo um espaço para perpetuar o contato com o povo. Mostrando que a sua
morte não significava o fim de sua importância, pelo contrário: “Vargas estava mais
289
vivo do que nunca!” . Isso era o que mais de 500 mil pessoas demonstraram em seu
cortejo fúnebre.
A cobertura das manifestações de carinho ao presidente teve bastante destaque
até o dia 31, onde foram realizadas as homenagens devido aos sete dias completados de
sua morte.
289
Última Hora, 26/08/1954.
126
A importância de Vargas e sua relação tão próxima do povo eram tão intensas
que percebemos um fato interessante, quando analisamos as homenagens a ele: a
sociedade brasileira sempre possuiu um grande número de adeptos do catolicismo,
religião esta, que abomina a prática do suicídio, considerando que quem pratica tal ato
não receberá o perdão divino. No entanto, mesmo sendo próximo a essa cultura, nãos
vemos, com essas manifestações, algum julgamento sobre seu ato. Nem mesmo a Igreja
Católica se mostrou indignada, pelo contrário, os religiosos também demonstraram
tristeza e realizaram as missas e todas as cerimônias pertinentes. A Carta - Testamento e
a conjuntura em que o presidente se matou, reforçaram a imagem de que ele se
sacrificou pelo povo, retirando então a culpa ou imagem de covardia e fraqueza que
normalmente um suicídio delega a quem o praticou.
No que diz respeito às consequências políticas geradas pelo suicídio de Vargas,
percebemos que a atuação de um povo revoltado e amargurado foi, junto com o suicídio
de Vargas, um ponto importante para desarmar o golpe pretendido pelo movimento
oposicionista.
Com o tiro no peito, Getúlio Vargas jogou com sua própria imagem a longo
prazo. A vingança foi meticulosamente planejada: se seus inimigos o queriam
desmoralizado politicamente, ele foi muito além, jogando seu próprio
cadáver nos braços dos udenistas que, atônitos, não souberam o que fazer
290
com ele.
290
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954,1955 e 1961. In: ______; DELGADO, Lucília de
Almeida Neves (org). O Brasil Republicano. O tempo da experiência democrática, da democratização de
1945 ao golpe civil-militar. Civilização Brasileira, RJ: 2003. p. 310.
291
LACERDA, Carlos. Op. Cit. p. 147.
127
UDN e sua própria razão de existência, não passaria, dessa forma, de uma
vitória de pirro, pois na verdade, a radicalização popular impediu a quebra do
292
jogo constitucional.
292
MENDONÇA, Marina Gusmão. Op. Cit. p. 155.
293
SKIDMORE, Thomas. Op. Cit. p. 180.
128
CONCLUSÃO
294
Apud BARBOSA, Marialva. Op. Cit. p. 181.
132
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