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A solidão do voto único

A solidão é um dos temas mais antigos da literatura. Poetas, romancistas, cronistas


já se debruçaram sobre ele, já esmiuçaram seus dentros e foras, já compuseram
cantilenas, réquiens, tratados épicos sobre a solidão, esse algo indefinido, opaco que nos
afeta desde sempre. Alguns mais, outros menos. Alguns controlam a solidão com
remédios cujas caixas vem com aquela faixa negra, como se fosse um luto, um aviso da
morte que nos leva a cada dia. Outros atacam a solidão nas redes sociais, acumulando
amigos imaginários, pois dificilmente um dos 3000 contatos do facebook aceitaria receber
aquela ligação extremada as 4 horas da manhã. Outros abraçam a solidão, fazem dela
companhia, estágio, escada, corpo próximo todo dia. Não se incomodam com os
adjetivos: recluso, ermitão, forever alone e afins.
Eu mesmo, um solitário contumaz, já escrevi aqui, há alguns anos, sobre alguém
que procurava o lugar ideal para guardar a solidão que o acompanhava, depois de
encontrar diversos locais possíveis, meu personagem deixa a sua solidão num sapato
abandonado na rua, para mim uma das representações mais cruéis da solidão. Aquela
sapato sozinho, que jamais encontrará seu par novamente era um lugar ideal para se
deixar a solidão. Trata-se de uma imagem poética, por certo, mas pouco humana, pouco
achegada à solidão real, fruto de algum desacerto que concerne a determinadas pessoas
em relação a outras, ou seja àquelas que pouco conseguem conviver em grupo. Acredito
que achei outra representação mais intensa, mais aguda da solidão: os candidatos a
vereador que só receberam 1 voto. Diferente daqueles que não receberam nenhum voto,
porque, provavelmente, tiveram algum problema no diferimento da candidatura ou outro
problema burocrático ou judicial, há aqueles que receberam apenas 1 voto. Em Joinville
foram 4 candidatos, conforme a lista publicada no site do A Notícia.
Quem são essas pessoas? Por que apenas elas votaram nelas mesmas? Por que
não conseguiram nem convencer um parente mais próximo, alguém de suas relações
amorosas ou de amizade. Em que tipo de solidão se meteram essas pessoas que não
conseguiram convencer ninguém, além delas mesmas, a lhes dar um voto de confiança?
Desconheço os meandros da política, não sei por que se candidataram, não sei por que
enfrentam isso, como encaram seus nomes na lista com apenas um voto? Claro que a
solidão dos menos votados é imensa também, se pensarmos naqueles outros quatro que
receberam dois votos, temos aí um grupo de oito pessoas, considerando ainda os quatro
eleitores diferentes, temos então 12 pessoas. Já é um começo para que a solidão
extrema desses tão pouco votados possa se desvanecer. Eles poderiam se encontrar
num bar, comemorar esse recorde inverso, rir dessa pequena e breve desgraça que lhes
acometeu, espezinhar a solidão que esse cronista acredita existir sobre seus nomes no
fim da lista. Se isso acontecer, me convidem. Gostaria de compartilhar um pouco de
solidão com vocês.

Rubens da Cunha

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