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Rugas: Rusgas

A pele do rosto está seca. No canto dos olhos, rugas. Rusgas com a idade.
Nada demais, lhe diz a razão. Cinquenta, o que são cinquenta anos para uma
pessoa nos dias de hoje? Tratamentos, cirurgias, receitas, a juventude vem em
cápsulas. Cinquenta anos não é nada. O futuro está todo pela frente, dizem as
propagandas, as revistas, a televisão. O mundo lhe diz isso diariamente, porém
pela boca de gente cada vez mais jovem. Olha ao redor: as peles esticadas de
algumas conhecidas, os implantes capilares de alguns conhecidos, o botox, o
silicone, a academia, a dureza falsa das carnes, a felicidade comprada e
exposta em cremes redutores de rugas e celulites. As tentações são muitas, a
vida exige um lustre na casca, na aparência. Dinheiro pouco. Trabalhou
demais, mas não dá para uma semana num spá. Como conseguiria um amor
trinta anos mais jovem? Igual vê todo dia nas revistas. E não são apenas os
artistas que estão fazendo essa viagem de retorno à juventude pelo corpo do
outro. Quase todos os seus conhecidos estão fazendo isso: homens e
mulheres rejuvenescendo-se nas carnes duras de ex-adolescentes. É uma
experiência, se tivesse coragem, se tivesse menos culpa e menos pensamento.
Se tivesse mais dinheiro, arrumava-se. Só a andadinha no final de semana não
está adiantando, pois, além disso, tem que enfrentar a gula. Seu pecado maior.
Não tivesse mãe que lhe desse tanto torresmo, tanta carne gorda, na infância,
não teria agora tantos problemas para se livrar disso. Tem que comer saladas,
verduras, legumes, o prato tem que ser colorido, dizem os aconselhadores na
televisão. Com que tristeza come mato e comida fria. Mas olha os corpos das
modelos nas capas. Olha o corpo da atriz que tem a sua idade, olha o corpo da
vizinha que é cinco anos mais velha, olha a saúde dos outros e mastiga com
força e vontade o alface e a rúcula sem qualquer tipo de molho. Saudade da
mãe e sua bacia de torresmo. Tenta esquecer um pouco a ditadura do belo.
Trabalho ainda tem. Os filhos crescidos, mas não tanto. O marido alheio a tudo.
Tanta coisa pra resolver. Se fosse à igreja? Se convertesse a uma religião
qualquer? Lembra-se de quando fez isso e percebeu que mesmo na igreja o
vestido mais bonito chegava mais perto do altar, o cabelo mais arrumado é que
ganhava as benesses de Deus. Desistiu. “A vida segue para frente”, novamente
a mãe lhe falando, “a gente tem que se contentar com o que tem”. Mas como?
Se tudo ao redor insiste em fazer as pessoas descontentes. Se a roupa que se
compra ontem é tão pior do que aquela que a loja colocou hoje na vitrine? Se
tudo é magreza e juventude, conseguida naturalmente ou mandada fabricar
numa mesa de cirurgia ou num laboratório qualquer? Está se irritando consigo
mesma. Sabe disse quando começa a pensar demais e não encontra
respostas. Também não consegue se aceitar. Aceitar seus cinquenta, aceitar as
pequenas vitórias, felicidades, que esse corpo cansado carrega e carregará
nos próximos cinquenta anos, que apesar da ditadura da juventude, não é
pessoa de morrer antes dos cem.

Rubens da Cunha

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